Tumgik
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FINALIZAÇÃO OFICIAL DA FEST
É com muita demora e diversos problemas técnicos que encerramos a fanfic fest bem depois do tempo previsto. Agradeço de coração todos os que se esforçaram para escrever as fanfics e postarem, vocês são guerreiros de verdade e valeu muito a pena ler todas as fanfics de vocês. Quem não conseguiu concluir a fanfic, não fique triste, você tentou e isso também te faz um guerreiro. Agradeço imensamente as capistas espetaculares que fizeram todas as capas com muito amor e dedicação ficando cada uma mais linda que a outra (espero que tenham gostado também). Muito obrigada @diabolic e @mwimyn, vocês são umas lindas e o empenho de vocês foi maravilhoso. Sobre as postagens, vocês estão todos permitidos a postar as fanfics nas contas pessoais de vocês (podem utilizar a tag #baekficfest se for do desejo de vocês), as capas também são de vocês então podem usar! Não irei divulgar aqui qual fanfic pertence a cada autor que participou porque algumas pessoas assim pediram, além de estar fazendo tudo pelo celular (provavelmente a formatação desse texto vai estar estranha, mas ok) então por aqui só tem a possibilidade de fazer o texto corrido. Peço desculpas por todos os problemas e demora, eu tinha grandes projetos pra essa fanfic fest, quem me conhece sabe, mas não saiu nada como eu queria. Pediram uma segunda edição, mas não será possível, pois não estou e nem estarei envolvida em projetos do fandom (provavelmente nunca mais pra ser bem sincera) e as probabilidades de eu excluir esse Tumblr também são bem grandes. Foi uma grande jornada, mas ela chegou ao fim. Obrigada a todos, Baekhyun fanfic fest.
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#14 Vernonia (parte I)
Tumblr media
Título: Vernonia
Número do Plot: #89
Sinopse: Os dias de Baekhyun em Vernonia eram calmos e rotineiros. Nada de muito interessante acontecia por ali. E as coisas permaneceram daquela forma até o novo estudante, transferido para aquela cidade, chamar a atenção dele em uma das aulas da faculdade.
Após dias de observação e uma noite conturbada na aula, o comportamento silencioso e gosto por florestas, do outro, não lhe pareceram tão estranhos.
Havia algo muito pior, por trás de tudo.
Couple: Baekhyun!Centric, Baeksoo
                                                        VERNONIA
                                                                  I
                                                        KOMOREBI
Sete horas, vinte e cinco minutos
A janela estava aberta.
Essa foi a primeira coisa que os olhos sonolentos de Baekhyun registraram segundos após despertar. As cortinas brancas balançavam com o vento fresco da manhã. O tecido fino se estendia no ar, ondulando, numa visão quase fantasmagórica.
Por mais que o corpo magro debaixo dos cobertores estivesse quase febril, a pele do rosto estava gelada pela exposição. Aquela transição entre verão e outono era difícil para o jovem Baekhyun. Ainda que a luz amarelada do sol estivesse brilhando lá fora, já detestava a sensação do inverno que se aproximava.
O frio sempre trazia as memórias do antigo lar. E ele não gostava de lembrar tanto disso. Era mais fácil jogar tudo para debaixo do tapete, e só absorver o quão limpo as coisas estavam agora. A tranquilidade que tinha encontrado naquela cidade era algo que, anos atrás, seria apenas uma utopia. Ele estava feliz.
Após um longo suspiro, Baekhyun se revirou nas cobertas, gemendo e balançando as pernas no ar, como uma criança birrenta insistindo por um brinquedo novo. O dia anterior fora o fim das férias, e aquela manhã trazia consigo o início das aulas. A diferença de empolgação dos primeiros semestres e do atual era ridícula. Ela desaparecia com o passar dos dias, mas o mantra sobre escolhas próprias e controle trazia a motivação suficiente e jogava aquele tipo de pensamento num canto escuro da própria mente.
Os olhos inchados, menores ainda pelos resquícios da noite de sono pesado, fitaram o teto branco por alguns minutos. Aquele era o momento pós-despertar que ele gostava de usar para notar que a pequena mancha de mofo, que anos atrás estava bem tímida ao lado da lâmpada, já tinha andado mais alguns centímetros. Não sabia se estava se tornando uma flor negra ou uma estrela. Aquele pequeno teste de Rorschach matinal fazia o cérebro “funcionar”.
Os pés pousaram sobre a madeira do assoalho, sem fazer muito barulho. As paredes verde oceano tornando a visão do ambiente iluminado menos dolorosa. Baekhyun atravessou o pequeno quarto, até a cadeira da escrivaninha, e puxou a toalha de banho do encosto. O tecido felpudo fez cócegas na palma da mão pálida.
Eram oito horas da manhã.
E não tinha como adiar o inevitável.
                                               * * *
Ele gostava de como as coisas pareciam meio etéreas pela manhã.
Mesmo que o lado preguiçoso pesasse sobre os ombros magros.
Todas as ações rotineiras aconteciam em cadência, e ele só se dava conta que estava pronto para sair, quando se sentava no banco da bicicleta e apoiava as duas mãos no guidão, a mochila nas costas.
Baekhyun não repetia o caminho.
Era um para cada dia da semana.
A floricultura ficava a apenas vinte quarteirões de distância da casa. E por mais que o trajeto fosse mais rápido se seguisse pela avenida principal, ele evitava. Às quintas, ou seja, aquele mesmo dia, sempre passava pelo bosque que tinha do outro lado da rua.
O cheiro de grama molhada e a sensação úmida no ar, que a sombra das grandes copas das árvores traziam, tornava o ambiente mais refrescante e agradável. As pequenas brechas de luz do sol, que atravessava com dificuldade as folhas verdes, iluminavam o trajeto coberto de cascalhos.
Aquele leve momento bucólico trazia um estranho reconforto no jovem coração de Byun. E mesmo que adorasse pedalar com alguma música tocando nos headphones, o pequeno passeio até o trabalho era muito melhor acompanhado do estalar dos dois pneus estreitos sobre a trilha arenosa.
                                                     * * *
Estranho, no mínimo.
Naqueles dois anos em que esteve ali, nunca teve um cliente tão precoce na porta do estabelecimento.
A rotina que Baekhyun seguia, quando chegava ao seu local de trabalho, se mantinha desde a segunda semana inicial, na qual tinha sido oficialmente contratado. Selena Foster, dona da floricultura Bloom, havia o treinado o suficiente para as atividades que exerceria.
Baekhyun tinha um copo de latte, na mão esquerda, e uma caneta hidrocor verde, na direita. O jornal The Independent aberto no chão do apartamento ainda vazio. A cidade era tão pequena que a parte dos classificados não cobria mais do que meia página de papel. Por isso, foi na primeira coluna, no quinto quadradinho de palavras, que a vaga estava disposta.
Um círculo verde e torto selou o destino do garoto de dezenove anos.
Como de costume, o estudante apoiou a bicicleta na parede, do lado da porta dupla de vidro, a entrada da Bloom, e tirou o molho de chaves do bolso lateral da mochila lilás. Os ombros um pouco rígidos, pela forma como o homem parado a alguns metros de distância o encarava. Após girar a chave negra na fechadura, e o click indicar que estava aberta, ele empurrou as portas, e adentrou o local.
Estava tudo como ele havia deixado no dia anterior.
A ideia inicial que Baekhyun teve ao ver o anúncio no jornal, sobre trabalhar entre as flores, foi um pouco clichê. De alguma forma, aquela imagem de mangá shoujo rodopiou pela mente um pouco infantil do garoto.
O avental estava lá, junto das flores, papéis e laços de fita para buquês e dezenas de vasos coloridos para arranjos. Mas ele não contava que junto disso viesse as entregas com carrinhos de mão, lotado de sacos gigantes de terra fertilizada, adubo, sementes e pesados enfeites de cerâmica para jardim.
Meses depois, ele começou a detestar duendes e fontes.  
E, principalmente, o fato de não ter tirado a carteira de habilitação quando fez 18 anos.
Mesmo que Byun soubesse conduzir, a dona do local era sensata demais pra deixar a velha picape nas mãos do garoto. Então, nos primeiros dias de treinamento, ele andou por toda a cidade, empurrando um carrinho de mão carregado de terra fertilizada. A horta municipal estava iniciando o processo de preparo do solo para a nova plantação de legumes.
Vernonia nunca pareceu tão gigante aos olhos de alguém.
Mas a recompensa para todo aquele mês de dor nas costas e pernas veio com o primeiro pagamento. Aquele dinheiro estava visível na estante, cheia de livros, que decorava a sala de estar.
“São 15 dólares”, Baekhyun proferiu, quando o homem estranho pousou o vaso de violetas no balcão do caixa.
O sujeito caminhou por todas as prateleiras, onde ficavam os vasinhos prontos para levar. Os olhos corriam por entre as flores, que formavam um arco-íris de pétalas, e o jovem que estava pensativo, com os cotovelos no balcão e o queixo sobre a palma das mãos. Os passos lentos desde as gérberas vermelhas até as violetas, próximas de Byun.
Um nota de 20 dólares foi depositada sobre a madeira lustrada, e uma de 5, retornou para o mesmo lugar. Mas o homem de cabelos grisalhos não a pegou, apenas balançou a cabeça negativamente.
“Gorjeta”, a voz era grave e polida.
Baekhyun assentiu, e agradeceu, colocando a nota dobrada dentro do vidro de conserva, com uma etiqueta chamativa de ‘FÉRIAS’, do lado da registradora. Quando puxou uma caixa de plástico, transparente e com alça, para colocar o vaso marrom dentro, sem danificar as flores, sentiu a mão quente do homem sobre o pulso.
“Não precisa”, proferiu, soltando do toque repentino e segurou o vaso com as duas mãos. “Vou levar assim mesmo”, concluiu.
“Certo…”, o tom do jovem atendente saiu meio incerto. “Obrigado pela preferência. Volte sempre”, sorriu meio amarelo, a mão levantada no ar, num aceno.
Quando o tal cliente passou pela porta, quase esbarrou em Jongin, que vinha apressado. O ajudante estava um pouco atrasado para o expediente, como sempre. Ele tinha de estar ali meia hora mais cedo que o estudante de literatura. Antes que o colega de trabalho pudesse expressar o ‘Bom dia, B’ rotineiro, com um semblante risonho, o homem grisalho soltou uma frase que deixou Baekhyun perdido, sem saber como responder.
“Ele se foi há alguns anos”.
                                                        ***
“Nossa”, Jongin mastigou o pedaço de omelete e engoliu com uma careta. “Você esqueceu do sal”, concluiu, se esticando até o ketchup, na ponta da mesa, e jogando por cima da comida.
Baekhyun apenas balançou a cabeça, observando o colega comer outra parte do almoço, que tinha preparado, contradizendo a reclamação anterior. Jongin sabia ser folgado.
O moreno chegou à Bloom como um salvador.
Mesmo depois de seis meses de trabalho, Byun não tinha se acostumado com a rotina. Na verdade, mal conseguia dormir direito por causa das dores no corpo. Ele não estava acostumado com aquele tipo de coisa, porque aquele era o primeiro emprego que tinha conseguido na vida. E a jornada dupla, entre a floricultura e a faculdade, estava lhe destruindo a sanidade. Eram duas novas experiências.
Jongin apareceu, repentinamente, numa manhã chuvosa.
A maioria das pessoas apareciam do nada em Vernonia.
Por isso, com a população não passando de três mil habitantes, toda mão de obra que aparecia era bem-vinda. Selena soube aproveitar muito bem a oportunidade. Ela sabia que o garoto novo não conseguiria aguentar por muito tempo.
O novo morador da cidade sabia dirigir, era mais velho e, fisicamente, mais forte. Dessa forma, Baekhyun assumiu a posição de caixa e ajudante, e a Sra. Foster, que se ocupava dessas tarefas, teria mais tempo livre em casa, junto do marido e netos. Ela parecia vez ou outra, quando sentia falta daquele ambiente colorido e cheiroso, que tanto gostava. E ensinar um pouco mais sobre o cultivo das flores para Byun.
“É hoje que você volta para as aulas?”, Jongin questionou, o garfo parado a meio caminho da boca, esperando por uma resposta do colega de trabalho.
“Sim”, concordou. “Você pode fechar o expediente por mim?”, Baekhyun sorveu um gole do suco de laranja, e aguardou que o moreno mastigasse o último pedaço omelete ensopado de molho de tomate.
“Claro”, Jongin assentiu, afastando o prato. “Nem acredito que vou ver a minha chave depois de todo esse tempo”, riu, com toda a cara de pau que aquele momento exigia. O estudante apenas revirou os olhos, mal acreditando em como Jongin podia ser tão irresponsável naquela idade.
Entretanto, aquela frase sobre a chave era verdade.
Era função do Jongin chegar mais cedo, abrir a loja e colocar todas as ferramentas, enfeites, vasos e flores na frente da Bloom. Mas ele não tinha chegado uma única vez no horário certo. Na verdade, ele tinha cumprido o horário apenas durante o treinamento. Os dias que se seguiram após isso, ele sempre deixava Baekhyun esperando na frente da floricultura.
Depois de uma longa semana, de muito mau humor e uma série de palavrões e ameaças do garoto, e afim de evitar uma discussão e, possível, demissão, ambos os colegas combinaram de que a chave ficaria com Byun.
“Preciso ir ao mercado, antes de ir a faculdade”, o estudante comentou, desenroscando a chave preta do chaveiro dele. “O estoque de comida acabou durante as férias”, Jongin riu da cara desanimada do outro.
Porém, a feição de Baekhyun mudou em questão de segundos. Com o braço direito estendido, os lábios finos apertados e os olhos brilhantes fixos no mais velho, ofereceu a chave da porta principal.
“Se você chegar atrasado amanhã, nunca mais faço aqueles bolinhos de carne para o almoço”, o tom ameaçador, fez com que o moreno concordasse sem pensar muito.
Droga! O macarrão com molho branco e os bolinhos de carne fritos eram o melhor prato que ele fazia.  
                                                        ***
O supermercado principal era grande o suficiente para prover alimentos e produtos para cada morador. Mas com a pressa que corria pelo corpo magro de Baekhyun, aquele lugar parecia ter triplicado de tamanho.
Ele tinha apenas vinte minutos para comprar tudo o que precisava e chegar até a faculdade.
Por mais que soubesse que alguns minutos de atraso eram permitidos, e que aquilo não era tão grave, como quando estava no ensino médio, a educação que tinha recebido dos pais, não permitia que quebrasse aquele tipo de regra. Era uma das poucas coisas que não tinha aprendido a se livrar.
Costumes e trejeitos intrínsecos demais para se desapegar.
O estudante de literatura andou pelas várias seções do supermercado, puxando tudo o que precisava para dentro da cesta amarela de compras. Estava tão alheio que não notou que estava sendo atentamente observado, desde o momento que havia saído da floricultura até quando havia cadeado a velha bicicleta na vaga livre. E que agora, aquela pessoa, analisava a movimentação ágil do jovem pelos corredores.
Aquilo só parou, quando Byun passou pelo caixa do supermercado, pagou pelas compras e saiu de lá com duas sacolas plásticas azuis a tiracolo, e outra espremida na mochila.
Ele não tinha pressa alguma.
Se equilibrando sobre as duas rodas, o jovem de cabelos caramelos pedalou como podia, os joelhos batendo de vez em quando nas sacolas postas em ambos os lados do guidão. Ele não sabia se ria da situação ou se chorava de desespero.
A faculdade ficava a dez minutos dali, mas agora, ele tinha de fazer o trajeto todo pela metade. Ele sabia que cronometrar as coisas nunca dava muito certo. Os dez minutos de compra se tornaram quinze. A fila estava grande porque era o início da noite e todos saiam de seus locais de trabalho e passavam para fazer comprar de última hora, como ele mesmo.
Depois do caos que foi aquele trajeto, e com a lembrete mental de que não deixaria para fazer a compra quando não tivesse nem um tomate velho na geladeira, ele parou em frente e construção de madeira.
Não era um monumento de concreto, como a maioria das universidades da capital ou das metrópoles que a cercava. A Faculdade de Vernonia era simples. Não tinha mais que seis cursos para graduação. E a quantidade de estudantes era ridícula de tão pequena, porque a maioria dos adolescentes da cidade ainda estavam no ensino fundamental e médio. Mas ainda assim, era um bom lugar pra se estar, porque todos levavam a educação bem a sério.
Depois de encaixar a bicicleta na vaga dos alunos e cumprimentar a secretária, que estava ao telefone, na recepção, como que desembestado, Baekhyun correu pelo longo corredor.
O chão, também de madeira, fez com que os passos dele ecoassem pelas paredes. Com o cabelo bagunçado pelo vento, as duas sacolas pesadas em cada uma das mãos e a mochila batendo pesada nas costas, o jovem estudante chutou a porta, muito levemente, e subiu os degraus depressa, chamando a atenção de alguns alunos e do professor, um pedido de desculpas pelo atraso sendo proferido quase sem ar.
Assim, em meio a algumas risadinhas, ele caminhou até na quinta fileira, para o lugar que sempre sentava, a cada novo semestre.
IKTSUARPOK
Seis horas, três minutos
A princípio, a figura sentada a algumas cadeiras de distância não chamou a atenção de Baekhyun.
O jovem de cabelos cor de caramelo estava ocupado demais, fazendo anotações sobre a cultura francesa nas folhas amarelas do bloco de notas, espalhadas na extensa mesa de estudos. Apesar de ser o primeiro dia de aula, após as férias, o professor daquela disciplina não queria desperdiçar mais tempo.
Então, duas semanas se passaram.
Depois de quatorze dias, enquanto pensava sobre aquele homem velho de aparência estranha, que estava sempre parado nas redondezas da floricultura, e comprava um vaso de flor diferente nos últimos dias, deixou que os olhos pousassem sobre a nuca do estudante desconhecido a duas fileiras de distância dele.
Baekhyun se questionou, num sussurro, sobre como não tinha notado aquela pessoa. A cabeça com cabelos tão curtos, que quase pareciam não estar ali, se destacava entre os demais. E o fato de ele estar usando uma blusa grossa de moletom, no meio do outono, contrastava com a escolha do corte.
O sinal soou por alguns segundos, e despertou a linha de pensamentos curiosos que se instalou na mente de Byun. Silenciosamente, ele se levantou da cadeira onde estava sentado e recolheu as folhas onde tinha escrito as ideias do novo seminário, para entregar dentro de algumas semanas. Os olhos vagaram entre o que fazia e as ações do outro, que seguia a mesma coreografia de arrumar os materiais, porém dentro de uma pasta preta com zíper.
Os demais estudantes pareciam não notar aquela figura de estatura pequena e ombros estreitos, que descia os degraus até alcançar a porta de saída da sala, abraçado aos livros, cadernos e canetas.
Estavam ocupados demais em conversas aleatórias, em meio a vozes e risadas altas.
* * *
No dia anterior, e nos demais que se seguiram, com exceção do final de semana, o estudante de cabelos curtos não apareceu. Não era porque Baekhyun estava atento sobre isso, era apenas curiosidade. Nada de muito interessante acontecia naquela cidade.
Vernonia era um pequeno pedaço de terra habitada no meio do verde.
Ainda que muito raro, alguns estudantes de outras localidades, apareciam durante o início ou meio do semestre. Entretanto, eles frequentavam todas as aulas. E Byun não se lembrava de algum outro curso que tinha aquela disciplina, a nível de introdução, em comum. Com um sorriso nos lábios e um balançar de cabeça, ele percebeu que estava cada dia mais parecido com os habitantes mais velhos daquele lugar.
Levemente interessado na vida de desconhecidos.
Esse pensamento ficou suspenso na mente até a quinta-feira de Cultura Francesa.
Baekhyun chegou muito mais cedo que o normal naquele dia.
A sala de aula estaria quase vazia, se não fosse pelo único aluno presente. Em silêncio, sentado no mesmo lugar da primeira vez em que fora avistado, rabiscando alguma coisa no caderno que tinha à frente dele. A cabeça estava abaixada, deixando visível apenas as sobrancelhas grossas e o ponta do nariz arredondado.
Os pés do jovem estudante de literatura travaram, durante alguns segundos, pela surpresa do momento. Com a mochila pendurada no ombro esquerdo e a caneta apertada entre os dedos longos e magros, ele deu alguns passos, meio vacilantes até a mesa do professor, sem tirar os olhos daquele meio semblante.
Era o costume do Sr. Lewis, desde as disciplinas anteriores que ele havia lecionado naquele curso. A lista de presença era um folha A4 amarelada, da qual os estudantes tinham a liberdade de assinar, sempre abaixo da data de cada nova aula. O professor repetia a cada semestre que aquela simples tarefa ajudava a criar um senso de responsabilidade e compromisso.
Por isso, quando Baekhyun desviou o olhar pra escrever o próprio nome na folha, e notou que ela estava em branco, franziu o cenho e levantou a cabeça na direção do estudante, que permanecia na mesma posição.
“Olá!”, sem pensar muito, proferiu, numa tentativa de chamar a atenção para si. A voz não saiu muito clara, mas foi o suficiente para despertar o “desconhecido”.
Os olhos negros se fixaram aos de Baekhyun, atentos. Eram tão grandes e brilhantes que pareciam duas luas cheias num céu escuro. Byun perdeu o raciocínio e permaneceu mudo, encarando o rosto bronzeado. Os lábios rosados e fartos do outro se moveram, mas o estudante não conseguiu compreender. A mente estava nublada, num transe muito estranho.
“Oi”, foi como se tivessem tirado a cabeça dele debaixo da água. A voz baixa e grave, junto de um simples piscar de olhos rápidos, trouxe Baekhyun à tona.
“Você…”, tentou, mas parecia que o pensamento tinha se escondido. As sobrancelhas finas de Byun se juntaram, uma expressão de confusão estampada no rosto. “Você…”, repetiu, baixando o olhar e encarando a caneta vermelha que tinha na mão. “Não assinou a folha”, as palavras saltaram da boca, sem controle, como se uma alavanca tivesse sido acionada.
Qual era o problema?
Os dois se encararam outra vez, silenciosos. Dessa vez, as orbes do estudante desconhecido não tinham aquele brilho tão penetrante quanto antes. E o tempo parecia ter voltado ao normal. O modo como levantou a cabeça rápido demais, talvez tenha lhe tirado o equilíbro. Era o que Baekhyun deu como veredito.
A resposta do outro não veio de imediato.
“Ah”, e nem foi esclarecedora.
Foi apenas isso. O sujeito de cabelos curtos abaixou a cabeça e tornou a rabiscar o caderno, como se nada tivesse acontecido. Byun piscou algumas vezes, perdido por alguns segundos, antes de subir os degraus até o lugar onde sempre se sentava. Não insistiu no assunto.
E naquela noite, enquanto retornava para casa, pedalando devagar sobre as calçadas desertas do centro da cidade, Baekhyun se lembrou de que ele também não tinha assinado a lista de presença.
                                                       * * *
Minseok se sentou ao lado de Baekhyun na aula de Morfologia I.
Apenas porque Joonmyeon tinha faltado.
“E aí, tudo certo?”, a voz sempre soava mansa, doce. “Como vai o seminário?”, emendou outra pergunta, enquanto deslizava o zíper da bolsa carteiro marrom. Os olhos felinos atentos à resposta do colega de curso.
Ao ouvir aquilo, Byun inclinou a cabeça para o lado, franzindo o nariz pequeno e piscando um dos olhos, um sorriso travesso nos lábios finos. Era a típica careta brincalhona que usava pra se esquivar das coisas. Porque ele sequer tinha mexido nos próprios rascunhos. Os papéis estavam perdidos entre os livros da escrivaninha. Ainda estava indeciso entre a arte ou o folclore francês, que eram os temas restantes dados pelo professor.
Entretanto, aquele comentário de Minseok, fez com que a dúvida, que estava rondando a cabeça do jovem estudante desde o dia anterior, retornasse à superfície. Não sabia se perguntava despreocupado, ou se tentava chegar ao assunto sem parecer muito ansioso.
Decidiu pela primeira opção.
“De qual curso veio aquele aluno novo?”, indagou, enquanto deslizava a ponta da caneta sobre o papel, numa letra inclinada e rápida.
“Qual deles?”, havia mais de um? Em que planeta ele estava vivendo, ultimamente, que não tinha notado?
“Aquele bem quieto, de cabelo raspado”, a resposta foi rápida.
Minseok colocou o dedo indicador sobre o queixo e pensou por um tempo, o cenho franzido. As bochechas fartas ficaram mais evidentes, com a forma como ele pressionou os lábios pequenos. E com aquele mesmo semblante, ele olhou pra Baekhyun.
“Sabe que... Eu não tenho ideia”, concluiu, depois de alguns segundos. Por pouco Byun quase revirou os olhos, tamanho o suspense inútil que o Kim tinha criado. “Por que?”, rebateu.
Baekhyun não sabia, exatamente, o por quê. Apenas se sentia curioso. Então, com um balançar de cabeça, ele se desvencilhou da pergunta. E como Minseok não estava tão interessado naquele assunto, começou a dissertar sobre as dificuldades para finalizar o fatídico seminário, e como a internet não estava o ajudando a encontrar as imagens necessárias para a apresentação.
                                                          * * *
Aconteceu em uma noite bem rara.
Baekhyun estava sem sono.
O pequeno ritual de encher uma caneca com chá de camomila, mergulhar uma colherzinha prateada cheia de mel, rodopiá-la no líquido quente por dez vezes, só para observar o mini-redemoinho amarelado, enquanto caminhava da cozinha até o quarto, estava completo.
A janela do quarto estava aberta, deixando a luz da rua e o vento fresco entrar, as cortinas balançavam inquietas. Os olhos murchos de sono fitaram a pequena jardineira. O cacto estava se espalhando de uma forma incontrolável, quase tomando a parte das margaridas e das gérberas alaranjadas.
Com a mão esquerda apoiada na beirada de madeira, em meio ao terceiro gole de chá, ele notou uma silhueta que vinha do lado direito da rua. As mãos no bolso frontal do moletom e um capuz na cabeça, andava a passos lentos, despreocupado. O bairro estava tão silencioso naquela hora, que era possível ouvir o som dos sapatos contra o concreto da calçada.
Baekhyun permaneceu na mesma posição, a caneca a meio caminho dos lábios.Observou aquela pessoa sem pretensão alguma, com nenhum pensamento na cabeça. Ele só reconheceu o semblante daquele ser, quando a luz do poste incidiu sobre a pele queimada pelo sol. Aquela descoberta quase o fez se engasgar com o líquido quente que tomava.
Era, sem sombra de dúvidas, o colega de turma.
O rosto possuía uma feição tranquila, relaxada. E permaneceu daquela forma, até que o campo de visão de Byun não pudesse ter acesso. Mas foi por apenas alguns segundos. Os passos dele estacaram no chão, e cuidadoso, olhou por sobre os ombros, buscando por alguma testemunha, ou curioso. Os olhos maiores que o normal.
Não viu ninguém.
Nem mesmo Baekhyun que, agora, tinha o corpo todo escondido na lateral da janela, apenas a parte do rosto evidente para não ser flagrado.
Com um movimento rápido, ele baixou o zíper do moletom, revelando a lateral do corpo. Mesmo que a estatura fosse pequena, ele tinha o corpo muito forte. A barriga era magra, mas ondulada pelo abdômen marcado, e o peito firme, um pouco avantajado. E Baekhyun invejou o que viu, mesmo que por questão de segundos. Porque nem com todo aquele exercício físico, praticado na floricultura nos primeiros meses, ele não tinha chegado perto de ter um físico daqueles.
Cego pelos próprios pensamentos, a atitude do outro não pareceu tão estranha de imediato.
Apenas quando o colega de turma escorregou o moletom dos ombros, e deu as costas, bem trabalhadas, para o estudante de literatura, que o mesmo se deu conta de que entrar num bosque, à noite, e parcialmente despido, não era algo comum para se fazer.
A xícara de chá de camomila ficou esquecida na beira da janela, à mercê das formigas e abelhas.
Não era uma quinta-feira.
                                                * * *
“Em 1604, Jean Grenier, um garoto francês de 13 anos de idade, foi acusado de ser um lobisomem. Ele alegou que um homem misterioso, o Senhor da Floresta, tinha dado a ele uma pele de lobo mágica e uma pomada que o transformava em um lobo. Por três anos, ele correu pela floresta como um lobisomem comedor de homens.”
Baekhyun tinha optado pelo folclore francês.
Não era um tema fácil de encontrar, mas era diferente. E ele gostava das coisas não corriqueiras.
Depois de digitar as duas palavras no buscador da internet, a primeira opção de pesquisa que surgiu foi sobre Dame Blanches. Segundo o site, elas eram uma espécie de bruxa que ficavam próximas de pontes e pediam para os homens dançarem com elas. E como toda história, havia uma consequência se fossem ignoradas.  
E era apenas isso.
Não tinha encontrado nada mais sobre o assunto, além de dezenas de blogs, e outras fontes não confiáveis, reproduzindo a mesma coisa. O desespero começou a falar mais alto. Já não sabia raciocinar direito. Ele tinha apenas mais dois dias para finalizar a apresentação.
As aparições nas catacumbas de Paris faziam parte? Será que as histórias da capela de Châtelard podiam ser incluídas? Tinha a lenda de Melusine era boa, também. Será que tinha mais alguma coisa significativa na biblioteca? Nada daquilo parecia ser chamativo o suficiente, ou muito memorável.
Em meio ao pequeno surto de pesquisas, os dedos longos de Byun digitaram algumas palavras, uma tecla aleatória acionada e a pesquisa foi feita, sem querer. E foi assim que as três palavras surgiram na tela, em meio a muitas fotos.
Bête du Gévaudan.
Era um monstro em forma de lobo que assombrou as pessoas que viviam na França, em torno de 1764 e 1767. Muitos animais foram mortos, confundidos com a tal Besta. E quando um novo período de paz se instalava nas aldeias, um novo lobo retornava, junto de muitas vítimas. No fim, a tal Besta nunca foi encontrada.
Era interessante como a cultura francesa tinha muitas histórias com lobos. Aquele parágrafo sobre Jean era resultado disso.
O jovem estudante não se impressionou muito. Era engraçado notar como as pessoas, que viveram séculos atrás, se surpreendiam com animais e situações tão normais, atualmente. Não que é como se todos vissem um lobo enorme, que arranca cabeça de crianças ou qualquer humano, andando pelas ruas. Poderia ser um espécie maior que as outras, ou mesmo um pessoa, que não era tão sã. Ou mesmo um serial killer.
Ainda que, nos dias atuais, muitas pessoas avistem lobos com forma humana, andando sobre duas patas, em estradas, florestas e acampamentos, um ser humano se transformar, literalmente, em animal era meio estranho de se pensar.
Como e por que eles seriam assim? O que os tornavam tão especiais?
“Se é que existem”, Baekhyun sussurrou, colando uma imagem sob o título da apresentação.
Agora sim, o seminário seria concluído.
Ele tinha mais uma hora, até a hora do chá em frente a janela.
* * *
Depois daquela noite estranha, Baekhyun iniciou uma nova rotina.
Não era por mal.
Era ócio puro, por mais que a pilha de rascunhos para pesquisas e trabalhos tivesse aumentando sobre a escrivaninha dele.
O colega sem nome vinha sempre da mesma direção, no mesmo horário. As roupas variavam de estilo, assim como os calçados, mas tinham o mesmo tom. Preto. Parecia que ele queria se camuflar, mesmo que sempre seguisse o mesmo ritual de tirar a parte de cima, antes de entrar no bosque.
O estudante de literatura não negaria, caso perguntassem, se ele assistia ou procurava na internet por notícias sobre assassinatos, corpos desmembrados ou coisa do tipo pela região, todas as manhãs, antes de sair para o trabalho. Ele estava sendo drástico, mas não fazia sentido algum alguém se embrenhar num mar de coníferas por puro entretenimento. Aquele bosque tinha caminhos traçados para os habitantes se exercitarem, passearem de bicicleta num domingo ou ter um maior contato com a natureza.
Mas às duas da madrugada?
Por mais segura que a cidade fosse, era loucura se aventurar a noite por lá. Os trajetos era marcados, mas se alguém avançasse mais de cinco metros além do limite, era fácil de se perder e topar com um bicho. Baekhyun cogitou acrescentar um ‘restos de um homem devorado por animais selvagens’ na lista de busca.
Com o corpo coçando de curiosidade, em uma breve conversa com Jongin durante o almoço, ele questionou se o moreno sabia em que direção aquele bosque dava. Porque ele só sabia da imensidão de árvores até alcançar Keasey, a cidade vizinha. O colega de trabalho confirmou o que ele já sabia, e desconversou sobre o assunto, mostrando um desinteresse palpável.
* * *
Quinta-feira, dia do seminário.
Todos estavam ansiosos, e andavam de um lado para o outro, com laptops nas mesas, fichas nas mãos e pendrives rolando de uma lado para o outro. O professor não tinha chegado, provavelmente estava atrás do único retroprojetor que a faculdade tinha domínio.
“Eu esqueci a merda do pendrive em casa”, Jongdae gritou, revirando a mochila, jogando os livros e os caderno sobre a mesa. “Não é possível!”, balançava o objeto, com os bolsos todos abertos, como se magicamente o pendrive fosse cair no chão.
Baekhyun, que estava relendo as pautas, riscou o tópico em que tinha parado, e se aproximou.
“Chen, não está nos bolsos da sua calça?”, comentou, chamando a atenção do colega.
“Não está!”, a tom de voz estridente. “Você acha que eu não procurei nos meus bolsos”, retrucou, como se Byun fosse o culpado daquela situação, mas apalpou os jeans do mesmo jeito. Os olhos se arregalaram e ele desviou o olhar com uma típica cara de pastel. Estava no bolso lateral esquerdo.
“Você acha que eu não procurei, blá, blá, blá”, Baekhyun imitou o outro.
“Desculpa”, Jongdae começou, enquanto se sentava na cadeira e plugava o objeto no laptop. “Eu não quero ficar com a corda no pescoço com o Lewis como no semestre passado”, batucou as pontas dos dedos na mesa de madeira. “Esse velho é um saco. Nada do que eu faço é bom para ele”.
Jongdae e Joonmyeon eram os alunos que o professor mais implicava, desde o começo do curso. E para sorte dos dois, com muita ironia, Lewis sempre lecionava uma disciplina por semestre. Essa era a parte ruim da faculdade ser tão pequena.
“Relaxa, se ficar nervoso desse jeito, aí é que as coisas desandam”, era engraçado como Jongdae era o aluno mais falante da turma, mas era um seminário brotar em algum momento do semestre, que ele ficava descontrolado. Se para ele já era difícil, imagina para quem era tímido.
Aquela linha de pensamento fez com que os olhos de Baekhyun pousassem sobre a nuca do ‘garoto do bosque’. Ele era extremamente silencioso. As únicas palavras que Byun tinha ouvido da boca dele foram monossilábicas. Como é que apresentaria o seminário?
“Más notícias”, Sr, Lewis passou pela porta, segurando o projetor debaixo do braço. “Temos apenas as duas aulas iniciais para a apresentação. A Sra, Smith vai utilizar com a turma dela depois do intervalo”.
As palavras do professor causaram suspiros de alívio e grunhidos de irritação. Suspiros de alívio, para quem tinha as iniciais a partir da letra N, e grunhidos, para os que se estendiam até o M. A ordem de apresentação era orientado pela lista de chamada oficial.
“Byun, você já pode começar”, o homem de calvo chamou, e o estudante de cabelos caramelos suspirou pesado. Desde que Anne tinha ido para Portland, ele era sempre o primeiro. Não sabia se era uma benção ou uma maldição.
E ainda tinha que montar o equipamento todo.
* * *
“Caralho, eu nem acredito que apresentei aquela porcaria”, Chen comentou, andando lado a lado com Baekhyun, no hall da faculdade. “Me sinto um homem livre e desimpedido”, abriu os braços, bem exagerado. “Pra fechar com chave de ouro, não temos aula amanhã”.
Era a reunião de professores. Byun tinha esquecido completamente daquele detalhe. Ainda bem que o colega tinha lembrado, porque ele teria perdido tempo e viagem.
Alguns passos, e ambos pararam em frente as vagas de bicicleta. Baekhyun tirou a chave do bolso da calça e se agachou, para abrir a trava.
“Hmm”, Jongdae hesitou por um momento, observando o colega. “Até semana que vem, cara”, sorriu e acenou, antes de dar as costas e caminhar em direção ao estacionamento.
“Até”, Byun respondeu, os olhos atentos ao que fazia. Quando terminou de enroscar a trava por todo o cano da bicicleta, e trancar outra vez, ele se levantou, e guardou o molho de chaves no bolso.
Ele não pedalou até a rua Bridge, como sempre fazia.
Dessa vez, ele empurraria a bicicleta por toda a Avenida Califórnia, até alcançar a extensa rua, que o levaria pra casa. Estava, estranhamente, muito afim de caminhar. Com esse pensamento rodopiando pela cabeça, ele não percebeu que o colega silencioso estava alguns passos a frente dele, disperso entre alguns alunos que compartilhavam a mesma ideia de Baekhyun.
O clima nublado, propício para as chuvas repentinas de outono, contribuiu para tal.
Quando uma forte lufada de ar frio atravessou pela avenida, balançando árvores, vestidos, e arrancando bonés, quase perto da esquina com a Bridge, Byun só se deu conta da presença do outro. Aquela cabeça de cabelos raspados surgiu, quando o capuz que ele vestia, como de praxe, escorregou com a força do vento.
Instantaneamente, a silhueta do outro parecia estar enrolada em fitas de neon. Era impossível, para o estudante, perder o outro de vista.
Os dois viraram à esquerda da Bridge, caminhando com passos calmos e ritmados, sem pressa de chegar ao destino. A ideia de ir pedalando até a casa foi esquecido, momentaneamente. O estudante de literatura seguiria o ‘garoto do bosque’ até onde o caminho de ambos divergissem.  
A loja de auto-peças, o grande campo de futebol, o posto de gasolina, a oficina mecânica e as poucas casas, que se estendiam por aquele trecho reto da rua, ficaram pra trás. Apenas o motor dos carros, quando passavam por eles, e o ‘tec tec’ da correia da bicicleta, girando pesada, pela falta de dois pés sobre os pedais, eram os barulhos daquela noite.
A Bloom surgiu a alguns metros de distância, quando as cercas brancas de balaústre, nas laterais da Rock Creek, se aproximaram.
Quando estavam quase em frente a floricultura, o estudante de capuz, estacou sobre a calçada. E Baekhyun parou, num sobressalto, achando que tinha sido descoberto. Ou que o outro desconfiou de alguma coisa. Mas não era isso.
Ele apenas observou a floricultura por um tempo, suspirando tão forte, que Byun conseguiu ouvir o modo como o ar entrava pelo nariz arredondado. A cabeça, levemente, para o alto, e os olhos fechados. Depois disso, ele atravessou até o outro lado da rua, caminhando até a esquina, com as mãos nos bolsos da calça, e subiu para a Avenida Jefferson. Como se aquela pausa repentina não tivesse acontecido.
Não olhou uma única vez para trás.
Baekhyun continuou na mesma posição, até ele desaparecer. Somente depois disso, que sentou no banco da bicicleta e pedalou apressado para a casa.
***
A semana seguiu conforme a rotina de Baekhyun.
Não aconteceu nada de muito diferente.
Exceto pelo homem de cabelos grisalhos, que estava na frente da Bloom diariamente, esperando para que o atendente destrancasse a porta e ele pudesse entrar. Após andar entre as prateleiras, ele tornou a comprar outro vaso com violetas.
A movimentação de pessoas na floricultura era moderada. Entretanto, era difícil não lembrar da compra de cada cliente. E Baekhyun sabia com facilidade, que ele já tinha comprado uma flor de cada cor, durante todas os dias da semana que passou por ali. Os vinte dólares pelos quinze da flor, e os cinco de gorjeta. Mas todas as vezes, sem aquela frase sem sentido.
E correndo as folhas do calendário, era quinta-feira novamente.
Dessa vez, enquanto passava pelo trajeto de cascalhos do bosque. Os olhos sonolentos de Byun, que estavam sempre fixos no pneu dianteiro da bicicleta, observaram melhor o entorno. Eram tantos troncos de árvores, que corriam junto com ele, na velocidade das pedaladas, que a cabeça quase girou.  Os arbustos estavam mais espessos e altos, e as folhas laranjas caídas estavam tornando o ambiente um pouco mais claro. Os raios de sol penetravam ainda mais por entre os vãos dos galhos.
“Alguma pergunta para o colega de vocês?”, a voz grave do Sr. Lewis fez Baekhyun pular na cadeira. Não tinha prestado atenção a nenhuma das outras apresentações. Todos os alunos negaram. Sabiam que se perguntasse alguma coisa, teria um vingança na próxima apresentação. “Quem é próximo? Todos já apresentaram?”.
O silêncio tomou conta da sala toda.
O professor percorreu o olhar por todos os lugares, até cair sobre o estudante de cabelos raspados. As sobrancelhas cinzentas se juntaram, a feição de dúvida bem estampada no rosto do mais velho.
“Você não apresentou”, proferiu. O homem calvo abaixou a cabeça, e folheou os papéis que tinha em mãos, buscando por alguma coisa e, visivelmente, não encontrando. “Não tenho seu nome na chamada. Você é transferido?”.
“S-sim”, a voz soou mais grave do que Baekhyun se lembrava.
“Menino, você sequer assinou a lista”, o professor parecia indignado de não ter notado a presença do garoto em todo aquele tempo. “Qual é o seu nome? Trouxe o papel carimbado para eu assinar?”.
Todos os estudantes estava vidrados naquela interação, a curiosidade palpável no rosto de cada um.
“Meu nome é Kyungsoo. Do, Kyungsoo”, depois de todas aquelas semanas, Byun finalmente soube o nome do outro. Ele estava, quase, chamando o outro de Grenier, por causa do hábito de desaparecer floresta adentro. “Não trouxe o papel, senhor”.
“Kyungsoo, você ficou com algum tema?”, o professor estava perdido. Não sabia se repreendia o outro, pelo esquecimento do papel de transferência, ou se pedia desculpas, por ser desatento. Preferiu mudar de assunto, depois resolveria aquilo.
“Arte”. respondeu de imediato. “Arte francesa”.
Por mais que o outro tivesse aquele semblante neutro, enquanto respondia ao questionamento do Sr. Lewis, as mãos estavam inquietas. Os dedos curtos espremiam um bolo de fichas, formando um canudo. Ora apertava, ora libertava. O diâmetro mudando a cada movimento.
“Certo… Pode se apresentar”, o mais velho balançou a mão, num gesto para que o outro descesse até o centro da sala.
Kyungsoo desceu as escadas de madeira, os pés mal pareciam tocar o chão. Ele conseguia sentir os olhares curiosos sobre as costas. Então, instintivamente, encolheu os ombros. A vontade de grunhir para todos, como uma forma de defesa, ficou presa na garganta.
“Não tenho pendrive”, o tom de voz era calmo e baixo. “Desculpa”, fixou os olhos fartos no professor, por alguns segundos.
“Não tem problema. Pode começar”, Sr Lewis estava compreensivo demais. Era esquisito ver o modo como ele estava falando com aluno transferido.
Kyungsoo respirou profundamente, antes de ler a primeira linha das fichas amassadas.
“A arte francesa…”, e travou. “Os pintores…”, tentou outra vez. O suor que surgiu na testa do estudante brilhava, conforme ele virava a cabeça de um lado para o outro, tentando ler as linhas que tinha escrito. “Monet, Renoir e… Courbet… Eles…”.
E as fichas caíram das mãos dele.
Os dedos, de tão curtas como os cabelos, deslizaram pelo pescoço e orelhas. Ele parecia transtornado, mas estava tentando se acalmar, em meio a inspirações ritmadas. Antes que Baekhyun pudesse pronunciar alguma coisa, Kyungsoo saiu correndo pela porta.
Um monte de palavras sem sentido escapando dos lábios do outro, antes de desaparecer corredor afora.
Os demais estudantes começaram a falar todos ao mesmo tempo, um segundo depois do acontecido. E no meio daquele caos, onde o professor começou a gritar para todos calarem a boca, Byun apanhou o material do outro, a própria mochila e saiu despercebido da sala.
As pernas curtas não conseguiram alcançar uma boa distância, parou no meio do estacionamento, com falta de ar. Porém,  Baekhyun pode ver, a algumas dezenas de metros, Kyungsoo atravessar os arbustos, que delimitavam o chão de concreto, da pequena mata que cercava a faculdade.
Qual era a do outro com árvores e derivados?
E qual era a dele, em seguir Do, mesmo que não soubesse onde tudo aquilo ia terminar?
Sem enxergar nada além de um palmo a frente dos olhos, com a pouca luz vinda dos postes e da entrada da faculdade, Baekhyun se deixou ser engolido pela floresta.
Mesmo que novos, os tênis que calçava não ajudavam muito a amortecer o impacto das pedras, galhos quebrados e raízes, espalhados entre os troncos das árvores.
O estudante de literatura pensou em gritar pelo nome do outro, e informar que era perigoso demais estar num lugar como aquele. Mas uma voz gutural, vinda de algum lugar próximo, fez com que os pelos do corpo todo se arrepiasse, e ele travasse onde estava.
A frase era repetida incessantemente, como um mantra. E mesmo que mantras fossem proferidos para encontrar  um estado de relaxamento, o dono dela parecia cada vez mais furioso. O tom pesado demais, deu lugar a um rosnado congelante. E as palavras morreram num eco.
Omiyage mittsu tako mittsu.
O silêncio durou alguns segundos.
Os olhos de Baekhyun tinham dobrado de tamanho, e procuravam por algum sinal de vida por entre as sombras das árvores. A cabeça estava cheia de questionamentos. Será que alguma coisa tinha acontecido com o colega? Algum animal selvagem tinha o atacado? O que estava acontecendo?
Com passos vacilantes, a pasta de Kyungsoo entre os braços, e a mochila pesando nas costas, ele avançou alguns metros. Não sabia bem o que procurar, ou o que encontrar. Estava sendo inconsequente, sabia muito bem.
O barulho de galho seco se partindo, junto de um suspiro ruidoso, fez com que Byun levantasse o olhar do chão. E pela primeira vez, ele não quis ser tão curioso sobre as coisas.
As braços amoleceram e o coração acelerou ainda mais.
Ele estava entre os tronco e, passaria despercebido se não fosse os olhos amarelos brilhantes.
Aquele ser passava de dois metros de altura, por isso foi difícil notar que ele estava a menos de dez passos de distância, camuflado entre as árvores. Com um grito preso na garganta, a única coisa que Baekhyun registrou, antes de disparar pelo caminho do qual tinha vindo, foi os pedaços de tecido enroscado naquele corpo delgado, mas igualmente forte.
Um lobo gigante de pêlos negros e dentes gigantes.
 >>>>>>>PARTE II<<<<<<<<<<
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#13 Jogo do Amor
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Título: Jogo do Amor
Plot: #49
Sinopse: Baekhyun aprenderia que jogar vôlei se trata muito mais do que apenas seguir as regras.
Couple: Chanbaek
Era até engraçado de se ver. Park Chanyeol completamente quebrado de tanto treinar, com diversas bolas de vôlei ao seu redor e molhadas assim como quase todo o seu corpo. Baekhyun resistiu à vontade de entregar a ele o sorvete que comia por querer vê-lo treinar mais. Não sabia dessa vontade que o Park carregava todas as tardes, sozinho na quadra da escola pelo esporte.
Geralmente,  o via nos bancos quando iam praticar algo nas aulas, então foi surpreendente vê-lo ali, ocupando o espaço e se dedicando à saques amadores contra a parede. A maioria passava da rede, porém eram fracos demais ou fortes demais. Ele precisava de um acompanhamento profissional, mas tudo o que tinha era a si mesmo e várias bolas espalhadas pelo chão limpo da quadra da escola, e talvez um pouco de esperança em se tornar melhor no esporte.
A cena de treinamento se repetia todos os dias, e Baekhyun passou a acompanhar aquilo há sete dias antes do campeonato entre classes. Era um dia quando decidiu praticar sozinho para tirar o estresse da cabeça por causa das competições, e acabou encontrando o local ocupado já por um garoto da sua sala, grande e terrivelmente desajeitado com aquilo que tentava fazer.
Chanyeol era alto o bastante para defesa, mas por alguma razão, ele insistia em treinar saques. Talvez fosse um desejo de criança ou algo do tipo, mas era agonizante ver o quão imperfeitos eram os saques, e impossíveis de marcarem algum ponto ou não irem justamente para o meio do campo adversário, onde alguém certamente rebateria com maestria e facilidade.
Baekhyun, de primeira, se sentiu irritado por ter a quadra tomada pelo rapaz alto, mas com o passar dos dias, foi se tornando mais interessante observá-lo. Por mais que Chanyeol não fosse bom, e nem ao menos tentasse melhorar participando das aulas, algo nele fazia que o Byun prestasse atenção. Parecia preguiçoso, incapaz de receber um saque simples, desajeitado ao correr e extremamente desatento, então por que motivo praticava vôlei pela tarde, quando não havia ninguém na escola?
 — Eu posso ser melhor… — ele sussurrou no dia anterior ao interclasse, olhando para a bola em sua mão.
Como Baekhyun se encontrava logo embaixo de uma arquibancada, não era muito difícil de ouvir. O silêncio do local e o eco da voz grave o ajudaram ainda mais, que acabou sorrindo ao ouvir a frase. A maioria dos jovens novatos adoravam dizer coisas do tipo, como se fossem realmente melhorar. Sugou mais um pouco do sorvete de atum para dentro da boca, refrescando-se com o sabor gelado do peixe.
— Eu posso alcançá-lo… — Chanyeol disse, batendo na bola com tanta força que o Byun acabou dando um passo para trás pelo susto.
Ele não tinha controle da força em suas mãos, e não sabia nem ao menos se posicionar. Pisava na linha, jogava a bola longe demais, andava quilômetros para trás do campo... As pernas levemente tortas contribuiam para uma pose mais engraçada do que certa, mas Baekhyun tentava não rir daquilo. Era na verdade triste para ele ver alguém se esforçando sozinho, mas incapaz de conseguir.
— Um dia, Byun Baekhyun vai se sentir intimidado por toda a minha força. Eu vou ser tão grande quanto ele! — dito isso, ele sacou mais uma bola, mas ela não passou da rede. — Como ele consegue ser tão bom...
Ao ouvir aquilo, Baekhyun não pode evitar rir baixo contra o braço, tentando abafar o barulho. Não achou que justamente ele seria citado, mas também não era uma surpresa, porque sabia que estava entre um dos melhores levantadores do time.
— Vai ser mais fácil se eu desistir…
— Não, não vai. — Baekhyun saiu de onde se escondia, dando uma lambida generosa no sorvete. Ele era um grande fã de entradas épicas e triunfais, e a sua dentro da quadra não poderia ser diferente. — Park Chanyeol, certo?
Chanyeol pareceu assustado quando se virou ao ouvir a voz do Byun, como se um assassino tivesse o encontrado. Ele não tinha exatamente para onde fugir, já que a porta da quadra estava justamente atrás de Baekhyun. Estava mais do que chocado ao vê-lo, porque não esperava por uma visita ali, não pelo Byun, e certamente não no meio da tarde.
— É… sim, sou eu. — assentiu, largando a bola que tinha em mãos. — Nossa…
— Sabe, tem uma coisa que me deixou bastante curioso… — Baekhyun deu alguns passos, aproximando-se do Park, como se fosse perfeitamente normal que aparecesse no momento em que seu nome era citado. — Por que treina aqui sozinho ao invés de pegar as dicas com os sêniores? Sabia que eles podem ser de grande ajuda?
— Bem… — Chanyeol pareceu sem respostas, ainda confuso com a aparição tão repentina. — Você me viu treinando?
Baekhyun assentiu, dando de ombros.
— Então acho que não preciso explicar. — riu, desanimado. — Só o show de horrores já explica muita coisa…
— Eu não chamaria de show de horrores… — o Byun deitou a cabeça de lado, tentando pensar em um nome melhor. — Mas parece que você é um iniciante de um, isso é verdade.
— Eu sou um desastre… — suspirou.
— Desastres têm suas recuperações. Ou algo do tipo. — franziu a testa com a própria frase. — O ponto é: você não pode desistir tão fácil, mal começou!
— Posso fazer uma pergunta? — Chanyeol interrompeu o discurso de autoestima.
— Claro, diga!
— Você… há quanto tempo estava… você sabe… aqui.
— Hm… uns sete dias?
— Quê?
— Faz sete dias que eu descobri que você treina aqui sozinho pelas tardes, então fazem sete dias. Sabe o quão legal é ver você jogando? — comentou, animado.
— Ahn… eu não acho muito legal, não. — envergonhado, o Park coçou a nuca.
— Você nem sabe como é!
— Sei sim! — apontou para uma câmera na arquibancada. — Eu vejo todos os meus treinos quando volto pra casa, é constrangedor…
— Você vê… na tentativa de não repetir o erro? — indagou o Byun. — Eu já ouvi falar de alguém que fazia isso.
— Muitas pessoas fazem. Mas é, eu faço isso, só que parece que cada vez mais eu fico pior. Já sentiu isso? — antes que Baekhyun pudesse responder, Chanyeol abanou a mão na frente do rosto. — O que eu tô dizendo, é claro que você nunca sentiu isso…
Baekhyun riu, concordando com ele.
— É verdade, eu nunca senti. Não entendo o que é isso de se sentir ruim, mas eu sei que já fui ruim. — ergueu uma sobrancelha. — Eu era o pior da minha turma no fundamental, mas ninguém sabe disso!
Baekhyun se sentou na arquibancada, saboreando mais uma vez o sorvete que derretia devagar.
— Alguém me viu treinando, e sentiu uma vergonha bem… bem triste. Eu ouvi coisas muito ruins, mas não entendo até hoje o motivo de isso não ter me atingido. Não fiquei triste ou algo do tipo, isso na verdade me ajudou a melhorar bastante, sabia?
— Então… você já foi um Chanyeol? — brincou o mais alto, sentando-se ao lado dele.
— Eu já fui um Chanyeol. — concordou. — Mas agora sou um Baekhyun, o melhor levantador da escola.
— Isso soou meio…
— Egocêntrico?
— É, por aí.
— Disse o cara que fica se gravando todos os dias.
— Mas é por uma causa maior!
— Sua causa não deu certo, então você precisa de um plano melhor… — disse como se fosse óbvio.
— Meu plano agora é desistir, Byun.
— E o meu é não te fazer desistir.
Os dois se encararam: Chanyeol com os olhos arregalados pela convicção no tom de voz do Byun, e Baekhyun com um grande sorriso. Ele não parecia afetado pela própria frase, mas o mais novo estava claramente ainda processando o que estava acontecendo.
— É tão difícil assim acreditar que eu quero te ajudar? Aliás, você deveria parar de tentar ser do saque. Eu sei que é super legal, você se sente super poderoso… mas vôlei não é só sacar,  sabia? Você pode ser ótimo no saque, mas se não souber receber uma bola… por que vai jogar?
— Isso parece um filme.
— Talvez seja… — despreocupado, ele brincou. — Um filme onde o galã quer ajudar o nerd a ser um jogador melhor.
— Não sou nerd!
— Nerd você é!
— Nerd eu… Espera… — o Park ficou boquiaberto ao entender o significado por trás da frase do Byun.
— Levantadores populares também têm o direito de conhecer Star Wars, okay?
— Mentira! Populares odeiam esse tipo de coisa!
— Isso não é um filme pros populares odiarem tudo!
— Mas você disse que se parecia com um filme…
Baekhyun ficou em silêncio por alguns minutos, então respirou fundo.
— Star Wars… que coisa de virgem, Chanyeol! — brincou. — Eca, eu vou voltar pro meu sorvete de atum…
— Sorvete de quê? — Chanyeol perguntou, incapaz de acreditar no sabor daquele sorvete.
— Atum! Quer provar? — Baekhyun estendeu o cone para o mais novo, que negou sem pensar duas vezes.
— Sorvete de atum? Então populares também comem coisas ruins?
— Acho que não ouvi direito… Como d isse?
— Coisas ruins comem os populares. — riu.
— … Ninguém me come, seu louco!
— Acho que não sei imitar bem o Yoda… — decepcionado, ele suspirou.
— De Yoda você só tem as orelhas. — riu, olhando para as orelhas dele, que estavam avermelhadas pelo comentário.
— Não fale das minhas orelhas! Já viu as do Jongdae? São bem maiores que as minhas!
— É verdade, né… Você é famoso pelas orelhas, mas ninguém vê as do Jongdae. Eu nem consigo ver o quadro quando ele senta na minha frente por causa daquelas asas na cabeça dele!
Chanyeol pareceu ainda mais ofendido.
— Você também nunca viu e tá falando dos outros!
— Mas você se sentiu melhor quando eu falei isso, não? — Baekhyun riu, travesso. — Então, Park Chanyeol, me deixe te dizer uma coisa.
Antes de falar, Baekhyun terminou de comer o sorvete em mãos, e jogou o papel no lixo.
— Você tá treinando aqui pela tarde, e eu deveria estar também. Como você precisa de ajuda e eu preciso manter a forma, você e eu vamos treinar juntos. Por sinal, eu ouvi você dizendo que queria me superar… Acha que pode?
— Não acho… — respondeu automaticamente.
O Byun pareceu decepcionado com a resposta.
— Finge que pode, e vamos treinar juntos!
Chanyeol assentiu, e eles fizeram um high five.
Aquela havia sido a maior conversa com Baekhyun que já teve em sua vida, porque por mais que estudassem na mesma sala, os dois nunca conversaram realmente um com o outro, no máximo se cumprimentavam pela manhã e comentavam sobre questões que não sabiam de algumas matérias.
Nunca chegaram a ser o que se pode chamar de amigo, mas talvez aquele acordo pudesse fazê-los mudar.
  O interclasse perdia completamente a graça quando Baekhyun entrava em campo. Se pudesse ser comparado à alguém, esse alguém seria a Geração dos Milagres, numa versão de vôlei. Ele se movia como Kuroko pelo campo, alcançando todas as jogadas que os amigos conseguiam, e ainda tinha tempo de levantar as bolas para que o time finalizasse um ponto com graciosidade.
Eram sempre partidas amigáveis e cheias de gritos e brincadeiras, mas para Baekhyun era tudo um pouco mais sério. Ele almejava ser um jogador profissional, jogar em grandes times com grandes nomes ao seu lado, e por isso quase não sorria em campo, dava mais broncas que o próprio treinador, e se esforçava mais do que qualquer um. Não que aquilo fosse algo ruim, porque ele ainda tinha tempo de ser um bom amigo e um grande conselheiro.
— EU MANDEI JOGAR A PORRA DA BOLA PRA MIM, XIUMIN! — gritou para o garoto no outro lado da quadra. — QUEM TÁ NA REDE SOU EU, JOGA PRA MIM QUE EU LEVANTO ESSA MERDA MELHOR DO QUE VOCÊ ESPERA!
Minseok acabou rindo da raiva do Byun, e fez um joia com a destra para indicar que iria fazer aquilo na próxima vez que tivesse a bola. E era realmente engraçado ver um garoto de 1,65m de altura bravo perto de uma rede maior que ele, garantindo que poderia fazer algo bom.
De fato, em todas as posições, Baekhyun não decepcionava, mas no levantamento era sua chance de provar que tamanho não é documento. Ele interceptava qualquer bola que tentasse ultrapassar a rede para seu campo, levantava a bola sem nem precisar pensar duas vezes, rebatia qualquer erro dos colegas e nunca deixou nada a desejar. A não ser um cheiro melhor quando acabava o jogo.
— RODA, MENINOS, RODA! NÃO SABEM MAIS RODAR NUMA QUADRA, NÃO? — fez um sinal circular com os dedos assim que fizeram um ponto, e pegou a bola que jogaram a ele.
Era sua vez de sacar. Ele esperou o apito, e olhou para arquibancada. Olhou para Park Chanyeol, e jogou um beijinho irônico na direção do colega de classe que o encarava, e ficou extremamente confuso com aquilo, virando o rosto para outro lado.
Rindo com a ação dele, sacou a bola, e bem… ele acertou na linha de fundo, garantindo a vitória de lavada do 3°A.
A platéia inteira gritou em admiração, em euforia e muito satisfeitos com os vinte e cinco pontos fechados do grupo. Baekhyun se juntou com os colegas num abraço apertado em grupo e gritou com eles, comemorando a vitória. Estava extremamente satisfeito com o resultado, satisfeito com o próprio esforço.
 — O que foi aquilo? — Kyungsoo perguntou assim que Baekhyun chegou no vestiário.
O levantador retirou a camisa e a jogou no cesto de roupas sujas, para então encarar o amigo.
— Aquilo…? — esperou uma resposta, confuso.
— Aquele beijinho pro Chanyeol, vocês nem se conhecem!
— Ah! — o Byun assentiu, procurando pelas próprias roupas no armário. — Começamos a treinar vôlei juntos ontem. Ele é uma boa pessoa.
— Como assim? Então é por isso que você não foi comer pizza ontem?
— Pizza…? Ah, a pizza… é, foi mal. Mas olha só, a gente ganhou hoje.
— Por que começou a treinar com ele?
— Hm… talvez eu esteja treinando ele.
— E desde quando você é treinador?
— Desde que eu vi alguém com uma vontade imensa de conseguir algo, mas incapaz de pedir ajuda. Ano que vem, ele vai estar com a gente no campeonato. — dito aquilo, fechou o armário com as roupas em mãos. — Vou tomar um banho, você vem?
  Cinco meses antes do campeonato estadual de vôlei
Agosto era com certeza um mês complicado para os estudantes. Com a volta às aulas, haviam provas para o próximo mês, distribuição de temas para os trabalhos que seriam apresentados ao longo do ano, um breve resumo das matérias e claro, o começo dos treinos para o time de vôlei da escola.
Baekhyun precisava se virar em dobro, porque além dos treinos constantes entre as aulas pela manhã, ele se encontrava com Chanyeol pela noite para que pudessem praticar juntos o esporte. Nas férias, se viram poucas vezes, pois o Byun viajava quase toda a semana para a casa de seus pais em uma fazenda longe da cidade, e estava sempre cansado quando voltava.
Não tinham uma ligação de amigos próximos, mas sempre rolava um assunto ou outro pelo Kakao, principalmente para marcarem algum treino. Quando não estavam na escola, treinavam à noite na casa de Chanyeol, e poucas das vezes, com muita insistência, Baekhyun já chegou a dormir lá por estar tarde demais para voltar para casa de ônibus. E eram noites um tanto quanto desconfortáveis, por não terem uma amizade tão forte assim.
No entanto, pouco a pouco, a cada tarde que passavam juntos, eles começavam a se conhecer melhor e estavam se acostumando um com a presença do outro. Com o passar dos dias, eles conseguiam se encarar por mais tempo, e fazer mais piadas sem medo de passarem vergonha. Mas Chanyeol tinha ainda uma distância deles.
— Então você também quer se apresentar no final do ano… — comentou o Byun, sacando a bola para ele numa batida limpa, que passou pela rede e caiu nas mãos de Chanyeol.
— Ainda não decidi se vou. — o Park respondeu, imitando o saque.
Dessa vez, foi possível para Baekhyun rebatê-lo, mas estava próximo da rede, e num pulo, Chanyeol bloqueou a bola.
— Wow! Essa foi boa, Park. — piscou para ele, sorrindo.
— Você é cheio dessas manias de piscar e mandar beijinho ou é impressão minha? — curioso, Chanyeol sacou a bola, e eles iniciaram um jogo mais tenso.
Baekhyun foi percebendo com o tempo, que o Park era muito bom em rebater as bolas que eram lançadas na direção dele. Chanyeol tinha um pensamento rápido, e corria bastante, por mais desajeitado que fosse.
Nas primeiras semanas, o mais velho percebeu logo de cara que ensinar para ele todas as posições seriam perda de tempo, porque ele raramente acertava alguma, e eles não tinham tempo a perder. Baekhyun queria colocá-lo nas competições, por bem ou por mal, então o negócio era ensinar a fazer pontos e intimidar o outro time. Os jogadores tinham medo de pessoas altas. Pessoas altas e Baekhyun.
— Vai dizer que você não gosta? Todo mundo adora quando eu faço isso!
— É estranho! Nós nem somos amigos direito…
— Não somos? — o Byun estreitou os olhos, um tanto magoado pela resposta.
— Ahn… mais ou menos, né.
— Poxa… eu achei que já pudéssemos ir comer pizza juntos no final dos jogos… Parece que a amizade só veio de um lado. — riu, sem a mínima vontade de fazer aquilo.
Chanyeol se desesperou ao vê-lo triste, sem conseguir dizer uma palavra para consertar o que havia feito. Mas então, os risos de Baekhyun enfeitaram a quadra, o deixando perplexo.
— Você deve ter passado por muita coisa pra não confiar em alguém tão rápido, não é? — ele tinha um sorriso gentil nos lábios quando se aproximou, a bola embaixo de seu braço. — Quanto tempo demora pra eu ser seu amigo, hm?
— E-eu… eu não sei… não controlo em quem vou confiar ou não! Não é culpa minha, eu só… não consigo.
Aquele assunto parecia ser delicado demais, então o Byun logo suspirou, não iria invadir o espaço pessoal do rapaz.
— Olha, quase-Yoda, nosso foco é te fazer um grande jogador, não sermos amigos. Então, nada de se pressionar. Quanto mais pontos fizer você, maior garantia de ganhar terá você. — disse orgulhoso de sua imitação.
— Você também é péssimo imitando o Yoda. — Chanyeol concluiu, rindo do mais velho.
  Quatro meses antes do campeonato estadual de vôlei
Chanyeol era um cara simples, não tinha nada a mais, nada a menos, a não ser pela altura. Sempre fora bastante na dele, não procurava pessoas para interagir, mas também não se esforçava por uma amizade. Não valia a pena se apegar a tantas pessoas no colegia, se depois acabaria numa despedida e nunca mais os veria. E provavelmente esse fosse um pensamento bastante clichê de um adolescente perdido pelo mundo, mas era atualmente o maior desejo do garoto alto.
Jogar vôlei nunca foi o maior objetivo da sua vida, não era um sonho de criança ou algo do tipo, mas ele se viu tentado a treinar o esporte quando percebeu que parecia ser mais difícil do que havia pensado quando assistiu à outros jogando. Aquilo acabou se tornando um hobbie, e Chanyeol, quando percebeu, já estava treinando todos os dias, tirando o peso do futuro dos seus ombros e descontando na pobre coitada da bola de vôlei.
E se alguém lhe dissesse que Byun Baekhyun, o garoto que roncava durante as aulas e tinha olhos de cachorrinho iria começar a ajudá-lo a ser melhor no esporte, ele definitivamente riria muito da pessoa. Não que ele pensasse que nunca iria falar com o mais velho, já que eles se cumprimentavam antes das aulas e tudo mais, só que Baekhyun era uma estrela no esporte, e Chanyeol não sabia que estrelas poderiam ser amigáveis, não como ele era.
E para ser sincero, o Park tinha medo de pessoas gentis demais. Por sorte, aquele garoto 20 centímetros mais baixo que ele não tinha gentileza nenhuma na quadra, no meio de um jogo, com a adrenalina queimando todo o corpo, e era até engraçado que justo o mais baixo do time fosse tão cheio de marra quando estava jogando.
Todavia, por alguma razão, nos treinos, ele se mostrava também calmo, como se não fosse um monstro do vôlei, o que assustava ainda mais Chanyeol. Ele o ajudava bastante, e tinha muita paciência, mesmo com tantos erros.
Depois que começaram a treinar juntos, os saques do mais novo se tornaram bem melhores, por mais que tivessem descoberto que o verdadeiro talento dele fosse na verdade a recepção. Chanyeol não deixava escapar nenhuma bola que vinha em sua direção, mesmo que estivesse distraído.
— Sabe o que te falta, Yeol? — Baekhyun perguntou, jogando uma garrafa de água gelada na direção dele.
— Yeol? — o tom havia sido de descontentamento, por mais que tivesse soado bonitinho.
— Ah, sem apelidos? Ok. — o mais velho bebeu a água, ignorando a vergonha. — Enfim, você sabe?
— Hm… não.
— Postura. Você corre bastante pra pegar as bolas, e sempre alcança, mas ainda te falta postura. Precisa flexionar mais os joelhos quando quer rebater um saque com toque, sabia? Corre o risco da bola simplesmente não se encaixar nas suas mãos!
— Eu vou… vou corrigir isso.
— Espero que consiga. Você tem um potencial muito grande, sabia?
— Parece uma mãe falando…
— Mães só falam essas coisas pra agradar os filhos, e você não é meu filho.
— Mas tenho idade.
— Tá me chamando de velho? O Yoda aqui é você!
— Pff, nunca disse isso! Você que tá aí, se acusando!
E então, Baekhyun correu atrás dele, e Chanyeol correu para longe. E aquela corrida resultou em vários risos, boladas para defesa pessoal e dois garotos muito cansados no final do dia.
  Três meses antes do campeonato estadual de vôlei
— Eu andei pensando… posso te chamar de Yeol agora? — Baekhyun sussurrou para Chanyeol, no meio de uma aula importante de física.
O mais novo, inconformado com a pergunta naquela hora, negou com a cabeça e voltou a tentar resolver os exercícios.
— Ah, qual é! A gente já se conhece há bastante tempo, e nós dois somos uma dupla incrível no vôlei! Quando vai ser meu amigo? — sem desistir, ele virou o corpo na direção da carteira do Park, os olhos fixos no rapaz que tentava se concentrar.
— Baekhyun, a gente tá em aula! — sussurrou de volta, indignado.
— É, você sempre diz isso!
— É porque você só me chama no meio da aula!
E aquilo calou o baixinho, que ficou refletindo por um bom tempo os possíveis motivos de Chanyeol não querer uma aproximação, mesmo depois de tantos meses juntos. Baekhyun queria respostas concretas, e não viver de especulações, mas não sabia como perguntar, e nem em que momento perguntar. Infelizmente, o mais novo não o dava nenhuma brecha para que conversassem sobre algo mais profundo do que saques, recebimentos e posturas na quadra.
E toda aquela hesitação sempre fascinou demais Baekhyun, o suficiente para que ele se aproximasse e tentasse desvendar todos os mistérios daquele simples adolescente que estudava uma mesa atrás da sua. Não que fosse algo que ele tirava dias pensando, mas era uma dúvida quase que constante: Por que Park Chanyeol sempre tentava se afastar? Quem o havia magoado tanto para que ele fosse daquele jeito?
— Nós vamos tomar sorvete hoje. — foi a última coisa que o Byun disse até pegar o maior pela mão e o empurrar pela escola inteira.
 Chanyeol não achou que fosse possível que alguém como Baekhyun fosse tão agressivo. Com os outros, parecia estar tranquilo e sorria como um anjo, mas com o Park, ele gritava como se fosse seu capacho. E era esquisito, porque ele se sentia até feliz em estar sendo o único a ver um lado assim do Byun fora da quadra. Era como se fosse… único?
Apenas ele sabia do desejo secreto de Baekhyun por sorvete de atum e piadas de velhos, e era engraçado vê-lo se esforçar até mesmo durante os treinos para fazer com que Chanyeol sorrisse mais. Aos poucos, aquilo estava fazendo efeito, e o Park vinha criando uma outra imagem sobre ele. Uma ainda melhor.
— Ahhhhh, isso é meu fetiche realizado! — disse Baekhyun ao lamber o sorvete na casquinha.
— Não sabia que sorvetes eram fetiches…
— Agora sabe, Chanyeol. Existe uma prática chamada food… purei — o Park quase riu com a tentativa dele de falar play. —, é bem famosa entre esse povo cheio de fantasias.
— Não sabia… então você joga sorvete no seu parceiro e come ali?
— Basicamente.
— Isso quer dizer que as pessoas sentem fetiches em serem pratos de comida?
Baekhyun riu com a pergunta, e foi uma gargalhada tão boa que até arrepiou Chanyeol.
— Não, Yeol! Não é assim… ou é…? Ok, é, basicamente as pessoas viram pratos.
— Isso é… bizarro.
— Sabe o que é realmente bizarro?
— Sorvete de atum?
— Uh… não, gênio. Você não reclamou quando eu te chamei de Yeol agora. — com um sorriso vitorioso, Baekhyun comemorou dançando discretamente na cadeira.
— Eu nem tinha notado. — tentou justificar, enchendo a boca com o sorvete de chocolate.
— Será que isso é um sinal de que nós somos amigos agora?
— Baekhyun… — Chanyeol suspirou.
— Chanyeol, por acaso… por acaso você é demisexual?
— Hm?
— É que sabe, eu ouvi falar que pessoas assim demoram mais tempo pra se envolver com alguém… Mas eu acho que deve ser mais num sentido romântico, né? — riu sem graça. — Ignora isso, do que a gente tava falando mesmo?
A parte ruim daquele assunto, foi que Chanyeol nem teve a chance de confirmar.
  Dois meses antes da competição estadual de vôlei
Baekhyun não esperava que começasse a sair mais com Chanyeol depois dos treinos, mas foi o que aconteceu. O que o deixou mais surpreso, foi que o próprio Park o acompanhava até os pontos de ônibus, e estava sorrindo ainda mais, como se fossem reais amigos de décadas. Era claramente um grande passo na relação dos dois, que estavam definitivamente caminhando para algo.
As noites na casa de Chanyeol não eram mais constrangedoras, com um dormindo em um quarto, o outro em outro, e poucas palavras pela manhã como costumava ser. Eles se juntavam nos colchões na sala, e madrugavam assistindo filmes, discutindo sobre quais eram os melhores personagens e quais adaptações de livros foram piores.
Em uma dessas noites, o Byun acabou soltando algo que abalou bastante aquela amizade que vinham construindo.
— Sabe… eu acho que gosto de você, Yeol. — encarou os próprios dedos no cobertor, apertando o tecido com força.
— Também gosto de você, Baek. — respondeu simplista, o que fez com que Baekhyun se virasse bruscamente na direção dele.
— Você sabe que eu não estou falando desse jeito. Não gosto de você como gosto de vôlei, gosto de você como o Han Solo gosta da Princesa Léia, só que… numa realidade mais nossa.
— Eu sei. Eu sei, mas…
— Não precisa falar nada! Eu não vou pedir pra que você tenha o mesmo sentimento, de verdade… só acho que seria justo te contar isso. Eu sei que você não tem a minha facilidade pra gostar de alguém, e sinceramente? Isso é bem melhor, te invejo bastante.
— Baek… — Chanyeol suspirou. Não tinha o que dizer quando aquela confissão, tão repentina, o tinha assustado. Ver seu amigo como algo a mais ainda não era um pensamento que rodeava a cabeça do Park, no entanto, era difícil reagir sem machucá-lo. — Me desculpa.
— Tudo bem. Eu te desculpo por ser incrível demais ao ponto de eu não resistir à você. — brincou, dando um leve soco no ombro do mais jovem. — Mesmo que você não possa sentir o mesmo, eu tô feliz em gostar de você.
— O quê?
— Quero dizer que vale mais a pena gostar de você do que de outras pessoas. Mesmo que eu tenha 99% de certeza de que você provavelmente não vai sentir o mesmo, é sei lá… é mais legal.
— Eu não entendi nada do que você falou.
Baekhyun riu, concordando com a cabeça. Ele também não tinha entendido, e estava completamente constrangido com as próprias palavras. Não esperava que fosse escapar tão rápido o interesse que crescia pelo maior, todavia, ao menos os dois estavam conscientes daquilo.
— Nem eu… acho melhor eu ir dormir, já estou falando coisas sem sentido. — suspirou com um sorriso em seu rosto, e virou o corpo de modo que ficasse de costas para Chanyeol.
— A-ah… boa noite, então.
O Park foi o primeiro a cair no sono, deixando Baekhyun sozinho com seus pensamentos. Na certeza de que ele já havia dormido, o mais velho se virou, ficando próximo do rosto dele. Talvez fosse realmente legal gostar de alguém, mas com Chanyeol era diferente. Era muito mais do que legal.
Baekhyun se aproximou lentamente do corpo alheio, tentando não acordá-lo, e manteve o rosto próximo ao peito dele. Sempre imaginou que aquela posição, caso tentasse algum dia, fosse deixá-lo com um sentimento grande de fragilidade e dependência, mas não foi bem assim que aconteceu. Os shoujos lhe disseram mentiras, porque assim que se aconchegou contra o peito alheio, bem disfarçadamente, ele se sentiu ainda mais forte, e mais calmo.
E se tivesse permanecido acordado por mais alguns minutos, teria sentido um braço envolver sua cintura, deixando-o ainda mais colado ao Park.
  Um mês para o campeonato estadual de vôlei
— MAIS RÁPIDO, YEOL! — gritou Baekhyun, soprando o apito várias vezes, e consequentemente irritando o mais novo.
Chanyeol já estava passando mal de tanto correr pela quadra, pulando para a rede, fingindo estar batendo na bola. Aqueles treinos, conforme a data do campeonato mais importante do ano se aproximava, ficavam cada vez mais pesados. Baekhyun, que era um demônio nos jogos, estava também sendo um demônio nos treinamentos.
No entanto, toda aquela fúria fazia cada vez mais efeitos. O Park passou a frequentar mais as aulas de educação física, nos times opostos ao do Byun, e quando jogavam um contra o outro era sempre uma briga acirrada, por mais que o final fosse óbvio: Baekhyun vencia. Eram ótimos momentos, onde eles se divertiam demais, e se tornavam ainda mais unidos.
A ideia de gostar de Baekhyun, de querer beijar seus lábios e talvez o resto do corpo não fosse mais tão absurda quanto antes.
Foi esquisito notar que a voz de Baekhyun tinha um efeito diferente na mente do Park; foi esquisito notar que ele sentia falta do mais velho quando dormia sozinho na sala após assistir The Walking Dead, sem alguém para reclamar do estrago que estavam fazendo na série. Foi bastante bizarro também notar que ele procurava piadas de tios velhos para contar a Baekhyun, por mais que odiasse esse tipo de coisa. Foi estranho perceber que ele era alguém que Chanyeol queria manter contato, mesmo após o Ensino Médio, e talvez um contato não de amigos.
Foi esquisito notar isso justamente quando ele estava quase avançando de raiva em cima de Chanyeol, querendo que ele acabasse logo aquela corrida em volta da quadra de vôlei e passassem a jogar.
— VAI ME DEIXAR VENCER DE NOVO, PARK? — provocou o Byun, perseguindo-o com os olhos.
Então, Chanyeol fez uma aposta: se ele acabasse a corrida antes do tempo limite, iria se confessar a ele. Iria dizer que estava tão decidido quando Baekhyun em seguir com aquele relacionamento. Se não conseguisse terminar dentro do tempo estipulado, ele não faria nada. Esqueceria que Baekhyun podia ser o homem dos seus sonhos, que poderia ser aquela paixão tão forte quando os saques mais certeiros no centro da quadra.
— TÁ QUASE, CHANYEOL! VAI, VOCÊ CONSEGUE!
Era adorável esse 8/80 que era Byun Baekhyun. Em um segundo, tentava detoná-lo com palavras cruéis, e no outro, o incentivava como se fossem um casal de velhinhos prestes a pularem juntos de um prédio. Talvez essa comparação não fizesse tanto sentido, mas era como Chanyeol via a situação.
O Park parou de correr quando chegou no final da linha, respirando com dificuldade. Ele olhou para Baekhyun com os olhos arregalados, cheio de expectativa. Aquele corpo que correu na direção dele, empolgado para mostrá-lo o resultado, com mechas de cabelo coladas na testa pelo suor, o rosto meio avermelhado de tanto gritar, e as mãos tão esguias o apontando o cronômetro.
Chanyeol não conseguiu atingir o tempo.
Mas ele não se importou com aquilo quando puxou Baekhyun para um beijo apaixonado. Jogou para o inferno sua aposta, era só uma corrida. Poderia perder mil e uma corridas, mas não a oportunidade de aproveitar-se dos lábios tão macios e finos do levantador.
Baekhyun parecia mais tenso do que o normal, mas não conseguiu evitar um riso sem graça contra os lábios alheios, ainda tentando entender aquela ação tão repentina. Aquele beijo tão simples, tão sem sal, mas cheio… cheio dos dois.
— Yeol…
— Eu gosto de você, Byun. E merda, você devia ter me beijado desse jeito naquela noite. Por que me fez demorar tanto?
— E-eu… — o sorriso não deixava o rosto feliz do Byun, e as palavras pareciam pouco demais para explicar o que sentia. — Você tinha o seu tempo! Eu poderia esperar até você se sentir confortável, mas você nem demorou tanto!
— Perdemos trinta dias. Eu podia estar te beijando há trinta dias! Caramba… — não perdendo tempo, puxou o rosto novamente contra o seu, abrindo os lábios ao mesmo tempo de Baekhyun, que colou as mãos na cintura do mais alto, e os corpos suados não pareciam se importar com aquilo.
— Nós temos trinta minutos antes da escola fechar. — interrompeu o beijo, ofegante, e olhou na direção do vestiário, sugestivamente.
— Baekhyun… eu não sei… — Chanyeol baixou o olhar.
E como esperado, o levantador sorriu, compreensivo. Ergueu o queixo do Park, permitindo-o olhar para si.
— Não se preocupa, Yeol. Eu não vou te forçar a fazer nada do que você não queira, posso continuar te beijando por uma vida inteira.
Chanyeol suspirou. Estava tão apaixonado, e só de pensar de ficar com Baekhyun tão intimamente, ele não pode negar.
— Mas nada de jogar sorvete de atum em mim, okay? — brincou, e recebeu um revirar de olhos do mais velho.
— Só volte a falar quando for gemer meu nome, Yeol. — segurou na mão alheia, iniciando um beijo mais urgente que os anteriores, buscando mais da língua de Chanyeol.
Estavam tão afoitos que a corrida para o vestiário pareceu lenta demais. Aproveitaram-se do estado em que estavam para irem sem hesitação em direção às duchas, não interrompendo aquele beijo tão selvagem nem mesmo quando a água atingiu os corpos colados.
Sensíveis a todo tipo de toque, inexperientes e cheios de desejos, retiraram as roupas do jeito mais rápido possível. Tremiam pelo medo de cometerem erros, mas riam do nervosismo alheio. Riam tão baixo que os gemidos sentiam inveja por serem tão escandalosos. Afinal, eram jovens, e era tudo tão novo. Era tudo tão bom, tão único.
E não só o ato de se amarem sem roupas, de se descobrirem por mãos que se apertavam e percorriam os corpos, mas o ato de confiarem um no outro, de estarem ali, juntos, apesar da demora. Era o ato de se olharem nos olhos e estarem conscientes de que aquelas sensações eram tão únicas quanto eles. Palavras poéticas não seriam capazes de explicar a intensidade dos gemidos sôfregos de Chanyeol quando Baekhyun, depois de um tempo tortuoso para vestir a camisinha, penetrou o membro dentro de si. Não era possível descrever as boas sensações que se passaram pelo corpo do Byun quando estava dentro de Chanyeol, tão unicamente apertado e cheio de vontade.
Foi um momento incrível quando gozaram juntos, sustentando um ao outro nas paredes frias enquanto a água que caía nos corpos levava as memórias daquele dia, mas deixava agora uma marca inesquecível naquele romance.
  Campeonato estadual de vôlei
— Como assim você não vai jogar, Baekhyun? — Chanyeol gritou ao correr para fora da quadra, esbarrando nas pessoas que tentavam entrar ali, atrás do rapaz que tentava fugir de si. — A gente treinou tanto juntos, e você… você me fez vir pra cá! Baek, você disse que estaríamos juntos!
— Yeol, não é culpa minha! Eu não fui escalado pra estar no seu time, você foi! — respondeu, tentando ficar calmo. — Você não vai estar sozinho, sabe disso. Eu vou te observar, não vou tirar os olhos de você no jogo inteiro. Nós vamos estar juntos, no mesmo lugar, não seja dramático!
— Mas…
— Nem tudo pode ser como a gente quer, meu anjo. — confortou-o com um beijo rápido nos lábios e um sorriso. Aquele sorriso que sempre fazia o coração do Park se derreter. — Ano que vem vai ter um outro jogo, e nós vamos conseguir jogar juntinhos, tá?
— Você vai estar na platéia me vendo o tempo inteiro, né? — quis confirmar, mas Baekhyun hesitou em responder.
— Eu vou te olhar o tempo inteiro… não vou tirar meus olhos de você, não disse? Agora vai lá se preparar, meu aprendiz de levantador. — deixou que Chanyeol o beijasse ali, antes de correr para o vestiário.
 Estava nervoso. Chanyeol nunca achou que fosse jogar em um time de vôlei, não em um dos campeonatos mais importantes da Coréia do Sul, e não ocupando a posição de seu mais novo namorado, que ele costumava observar jogar naquela época, em anos anteriores. Baekhyun realmente entrou em sua vida para fazer um estrago, e depois ajeitar peça por peça do quebra-cabeça que era Park Chanyeol. Ele o ajudou a persistir no esporte, ajudou a não desistir.
Baekhyun esteve por meses ao seu lado, sempre dando-o forças a ele, e não poderia desistir naquele momento, mesmo que o Byun não pudesse estar ali com ele, como um time. Chanyeol não ia desistir, não mais, não quando alguém que tentava imitar o Yoda, e comia sorvete de atum estivesse perto dele, pronto para puxar suas orelhas e dar broncas.
Trocou de roupa, colocando o uniforme dos Eagles, e então, seguiu para se unir com o resto do time.
— E aí, novato. — Do Kyungsoo o cumprimentou quando entraram na quadra, ajeitando-se na posição combinada. — O primeiro jogo oficial é sempre o melhor, confia!
— É verdade, não seja igual ao Byun que joga pra matar, okay? Pense mais na diversão, mas siga as regras. — gritou Minseok, indo para uma das pontas da quadra.
— Será que o Baekhyun vai pegar leve com o namorado? — Yixing perguntou, confundindo Chanyeol.
— Ah, ele não vai… — o Park começou a falar, mas se interrompeu no momento em que o outro time entrou em campo, e a platéia foi a loucura.
Baekhyun naquele uniforme negro dos Wolves estava incrivelmente lindo e sedutor, e parecia tentado a rir quando Chanyeol o encarou, ainda sem entender. O baixinho se aproximou da rede, no lado oposto do Park, e sorriu para ele daquele jeito travesso de sempre, que Chanyeol podia ver muito bem, por mais que a rede estivesse na frente.
— Você disse que não ia jogar hoje! — o mais novo reclamou.
— Nah… eu disse que não estava no seu time, anjo. — retrucou, divertindo-se com a situação. — Mas eu te avisei que estaria contigo hoje, só… em times opostos. E se eu ganhar, quero um pedido de namoro oficial na frente de todo mundo aqui.
— Hoje?
— Qual a graça de ser outro dia? Eu quero um presente pela vitória, já pode ir pensando no discurso, Yeol.
— Baek… — Chanyeol o chamou, ignorando aquilo.
— Que foi?
O Park engoliu as palavras, suspirando. Não conseguia dizer nada, apenas encarar os olhinhos arregalados, que procuravam saber logo o motivo de ter sido chamado.
— Yeol…? — chamou a atenção dele.
O jogo estava prestes a começar, a quadra estava em silêncio, e agora, só faltava o apito do juíz. Chanyeol não conseguia tirar os olhos de Baekhyun, e segundos antes do barulho agudo do apito, ele ergueu a rede e invadiu a área inimiga, buscando os lábios do Byun, que rapidamente encontraram os seus em um beijo apaixonado.
As arquibancadas vibraram diante daquilo. Os dois levantadores num trocar de amores tão invejável, tão apaixonado. Eles se encararam, com aquele sorriso divertido de quem iria sofrer muito na mão dos treinadores pela cena.
— Se eu ganhar, eu quero que você seja meu namorado oficial. — Chanyeol finalizou assim que o apito soou, e Minseok sacou a bola para o outro time.
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#12 Quem é o melhor?
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Título: Quem é o melhor? Número do Plot: #74 Quantidade de Palavras:  20.882 Sinopse: "Nada poderia superar a antipatia que os faixa roxa de jiu jitsu da principal academia de Bucheon possuíam um pelo outro. KyungSoo, o arrogante metido a sabe tudo. BaekHyun, o valentão que não sabia perder. Ambos completamente perdidos naquela inimizade e, talvez, em algo muito maior e mais instável do que o orgulho deles conseguia esconder. No final, só restava saber quem era o melhor em disfarçar a absurda atração que sentia e tentar resistir às vontades complexas sempre que os corpos caíam juntos no tatame." Couple: BaekSoo, slight!XiuHun
1. Nós dois funcionamos melhor juntos, não acha?
Sons de gritos e corpos chocando-se no chão acolchoado tomavam conta de todo o ambiente. A Academia Principal de Bucheon sempre estava cheia de alunos e até mesmo havia dias em que se autorizava uma quantidade pequena de pessoas para assistirem as aulas. O local, apesar de muito amplo, era uma academia comum. O que tornava seu nome relevante, porém, era que alguns lutadores de destaque na mídia haviam sido muito bem treinados ali por instrutores bastante dedicados.
Dentre as diversas modalidades de luta que estavam disponíveis, as mais procuradas eram o jiu jitsu e o hapkido, que possuíam as aulas mais cheias e assistidas. E o barulho que tomava conta do tatame no turno da noite, eram dos lutadores de jiu jitsu durante o rola — treinamento livre — que havia antes dos ensinamentos do sensei. Este, que possuía mais de cinquenta anos, gritava para um ou outro, enquanto um de seus alunos, um jovem faixa preta, o auxiliava nas aulas. O treinamento daquela vez era de joelhos, com mistura de faixas para testar todos os alunos dali — tanto os de graduações mais altas quanto mais baixas —, o que poderia causar entre os lutadores muitas amizades, competitividade e, mais ainda, antipatia.
Contudo, nenhuma inimizade superava a que Do KyungSoo possuía por Byun BaekHyun, o faixa roxa que chegava com toda aquela marra, andando como se fosse dono do lugar, instruindo os faixa verde como se ele fosse o sensei. Assim como BaekHyun não suportava aquele jeito metido do garoto de mesma graduação que a sua, que com um arquear de sobrancelhas se atrevia a abordar até mesmo os faixa marrom sobre posições erradas, como se soubesse tudo e nunca cometesse erros.
Por isso que quando ambos ajoelharam-se um de frente para o outro no tatame, apenas deram um sorriso enviesado como cumprimento e começaram as provocações ao invés de realmente lutarem. Porque entre eles era sempre assim; a raiva era combustível para um bom enfrentamento. Mesmo que o sensei não soubesse disso, claro.
"Você vai beijar o chão hoje." o garoto de cabelos castanhos murmurou, recebendo como resposta uma risada irônica do outro.
"Não me provoca, Byun." alertou. "E não diga piadas de mal gosto. Você apanha de mim todos os dias e não aprende, né?"
"Agora quem está fazendo piadas é você, Do." riu divertido, vendo a expressão desagradável que o moreno adotou. "Ou esqueceu  o que eu fiz com você ontem?"
"Então se é assim" KyungSoo iniciou, apertando a faixa na cintura e preparando-se para o inicio do rola. "Vamos ver quem é o melhor?"
BaekHyun sorriu.
"Claro."
                                                   백수
"Soo! Leva esse gabinete pros fundos pra mim!"
KyungSoo revirou os olhos, respirando fundo antes de caminhar até a escada em espiral que possuía o estabelecimento, descendo até a metade. Nada de face em desagrado, ele não poderia demonstrar isso, pois sabia que se o fizesse teria que, no mínimo, pagar com o dobro de trabalho. Por isso, com inexpressividade no rosto, olhou para o irmão mais velho que lhe gritava no andar de baixo.
"SanDong, mas tem gente aqui em cima pra atender." tentou argumentar, mas o olhar dele já lhe dizia tudo.
"KyungSoo, só faça o que eu to pedindo." voltou a dizer, antes de se virar e retornar a conversa com alguém que o mais novo não queria saber.
A única opção do garoto foi guardar a raiva antes de terminar de descer as escadas, pegar o bendito objeto junto de um papel com informações do cliente e carregá-lo até os fundos da loja para guardá-lo. Ele não acreditava que com vinte e cinco anos de idade tinha que ficar se dobrando ao irmão daquela forma. Mas o que podia fazer, afinal? KyungSoo não era um rapaz de futuro feito. Cursos? Nenhum. Faculdade? Jamais. Ele não tinha a mínima ideia do que fazer academicamente falando e aparentava não ter pressa para seus pais. Por esse exato motivo que os progenitores trataram de forçá-lo a trabalhar na loja de informática de seu irmão, que ficava a duas esquinas de distância do mercadinho mais conhecido de Bucheon. Ali, além de vendas de peças de computador e manutenção de equipamentos, também havia o cyber café, que era onde Do ficava a maior parte do tempo, quando SanDong não resolvia fazê-lo de escravo no dia.
"Só faça o que eu to pedindo." imitou a voz do irmão, mal humorado, antes de abrir o caderno onde estava organizado as entradas e saídas de equipamentos em manutenção. "Você não pede nada, você manda. Babaca." resmungou, anotando o número do pedido na sequência e as informações do cliente que havia no papel. Colou uma etiqueta com o número e colocou o gabinete em uma das diversas prateleiras que havia ali, antes de se retirar o mais rápido possível do local. "Feito." informou ao irmão, subindo as escadas rapidamente.
KyungSoo não queria trabalhar. Pelo menos não para a família, e por conta disso, estava lutando para arranjar algum emprego que não fosse com o mala de seu irmão mais velho lhe ordenando a fazer milhares de coisas ao mesmo tempo e não pagando o que achava justo por tantas tarefas. E a dificuldade de conseguir um novo trabalho era o que lhe fazia se arrepender de não ter aprofundado seus estudos em alguma coisa.
"Mãe!" chamou, assim que subiu ao segundo andar, se aproximando da mulher que estava no balcão. "SanDong tem que parar de me chamar o tempo todo pra fazer tudo pra ele!" reclamou.
"Meu filho, ele só fez isso porque sabe que eu estou aqui." a mulher baixinha de grandes olhos respondeu, terminando de fazer um café para um dos clientes que estava mexendo em seu celular numa mesa não muito distante dali.
"Mãe, ele faz até quando a senhora não está." suspirou, tomando a frente dos afazeres e impedindo que a progenitora que continuasse o trabalho. "E para com isso, porque se ele vir a senhora montando o café, vai me fazer trabalhar em dobro!" voltou a resmungar, pegando o café das mãos da mulher. "Fala com ele, mãe!"
"Apenas abra seu próprio negócio, meu filho, assim ninguém vai poder mandar em você." ela respondeu com um sorriso irônico e se afastou.
"Como sempre... Ninguém a favor do filho não graduado, tsc." murmurou, afastando a chateação mentalmente antes pressionar o botão que chamava o cliente ao balcão.
"KyungSoo! Que coincidência!" o garoto castanho se aproximou e o moreno contorceu o rosto em evidente desagrado. "O pedido é meu."
"Okay." assentiu, decidindo ignorar BaekHyun o tempo que fosse preciso atendê-lo. "Você deseja algum acompanhamento? Cokkies, torta...?" voltou a falar, prosseguindo com o padrão do atendimento.
"Não, só quero o café." negou, observando o outro rapaz concluir seu pedido seriamente. "Aliás, eu cheguei aqui e estava vazio, tive que esperar algum tempo até que aquela senhora simpática me atendesse. Eu deveria reclamar para o dono por sua displicência?" provocou e o outro sorriu forçadamente em retorno.
"Se ele me demitir será um favor. Aproveita e fala pra ele que eu só sou atendente do café e não estoquista particular." disse rapidamente, repousando o café no balcão, em frente ao outro. "E são cinco mil Wons."
"Bom, é como dizem..." estendeu o valor exato para o outro, sorrindo abertamente. "Apenas abra seu próprio negócio e assim ninguém vai poder mandar em você." soltou uma risada, pegando seu café e se afastando, deixando um KyungSoo sem palavras para trás.
"Maldito..." praticamente rosnou para o garoto que já descia as escadas, tentando controlar a raiva que tencionava-lhe a mandíbula.
KyungSoo com certeza se vingaria mais tarde.
                                                  백수
Naquela noite a academia estava agitada. Parecia que naquele dia em questão, os alunos de jiu jitsu estavam mais animados que o normal para o treinamento livre. KyungSoo também acompanhava aquela empolgação atípica, mesmo com o dia exaustivo que tivera no café da loja do irmão. Era o primeiro dia de aula de alguns ali e estava em volta do tatame, observando novos alunos arriscarem alguma coisa, vendo reproduzirem muitos erros nos quais também fazia quando ingressou na academia.
Seus olhos se desviaram em direção ao outro lado do tatame, vendo Baekhyun com as mãos na cintura e a sobrancelha arqueada fazendo a mesma coisa que ele a cerca dos alunos. O castanho basicamente era uma imitação genérica do sensei, andando de um lado para o outro, enquanto o próprio auxiliar das aulas estava parado diligentemente ao seu lado, já que, além de professor e aluno, também eram amigos.
"Arrogante de merda..." deixou escapar em um tom baixo e percebendo, sem que quisesse, que ele estava com o peito nu naquele dia. "Exibido." sobressaltou-se levemente ao ouvir uma risada contida ao seu lado.
"Eu sinceramente não entendo essa antipatia que você tem pelo BaekHyun." o faixa-preta, SeHun, declarou em tom calmo, com o um sorriso contido na face. "E é muito estranho você xingando ele de uma forma que não parece um xingamento."
"Cala a boca, SeHun." devolveu mal humorado, cruzando os braços. "Olha como ele se posta diante dos novos alunos. Age como se ele mesmo fosse o sensei, não sei como o sensei Jung não fica irritado com isso."
"Porque no jiu jitsu você aprende a ser paciente, KyungSoo." o outro respondeu calmo, passando as mãos pelos cabelos negros e ajeitando a faixa na cintura logo após. "Se ele estiver tendo um mau comportamento, isso vai se voltar contra ele em algum momento. Você não deveria se preocupar, se não isso vai se voltar contra você também."
"Eu gosto de jiu jitsu, mas você falando como o sensei me deixa nervoso." olhou ligeiramente para o mais alto, voltando a atenção para o outro lado do tatame e encontrando o castanho lhe encarando de volta. "Se ele não fosse tão exibido, eu não me incomodaria tanto."
"Hey, Do!" Baekhyun gritou, após lhe direcionar um sorriso enviesado. "Pronto para apanhar, hoje?"
"Eu acho engraçada essa sua memória de peixe, Byun... Sempre esquece que apanhou no dia anterior." KyungSoo riu, instintivamente enchendo o peito de ar e devolvendo o sorriso petulante. "Acho que isso é uma desculpa que você usa só pra apanhar de mim todos os dias."
"Eu não vou me meter com vocês..." SeHun declarou, se afastando para poder posicionar os alunos e misturá-los com os alunos mais velhos.
"Você que é engraçado, Kyungsoo." não desmanchou o sorriso. "Espero que pelo menos esteja mais disciplinado agora."
O moreno espremeu os lábios, não conseguindo evitar que suas sobrancelhas se franzissem e seu nariz dilatasse. Baekhyun era muito baixo. Ele conseguia lhe atingir no ponto fraco e lhe encher de raiva facilmente e, por mais que não quisesse demonstrar, infelizmente não era bem sucedido em suas tentativas. Quando abriu-se um espaço no tatame para que pudesse finalmente treinar, chamou Byun com apenas um arquear sobrancelha. E ele já parecia bem disposto, no que descrevia toda sua expressão, mas foi impedido quando o sensei o segurou calmamente pelo pescoço.
"Hoje você vai ajudar um novato, Byun." o homem disse, empurrando o castanho para o outro lado. "E você, Do, cuide desse faixa verde aqui." apontou para o garoto, que lhe sorriu amarelo.
Suspirou. Não seria naquele momento em que ensinaria uma lição a Baekhyun. Mas estava decidido que faria aquela arrogância se voltar contra ele.
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O resto da aula se seguiu normalmente. Estranhamente, o sensei não deixou em nenhum momento que Baekhyun e Kyungsoo fossem para o rola, como se estivesse prevendo que não seria uma coisa boa deixá-los lutar naquele momento. Como Do sempre foi um garoto que, apesar de não tão educado, sempre se esforçava em ser prestativo, simplesmente resolveu que seria muito bom dar um descanso aos instrutores e se oferecer para arrumar a sala naquele dia.
"Sensei Jung!" se aproximou do mentor, fazendo uma reverência respeitosa. "Eu posso recolher o tatame e limpar o chão hoje, se o senhor me permitir." disse e o homem velho assentiu, apontando para o outro lado.
"Fale com o Sehun e o libere disso também." sugeriu e o moreno apenas assentiu, andando calmamente para o mais alto que afrouxava a faixa preta na cintura.
"Sehun!" o chamou. "Pode ir pra casa, amigo. Eu recolho o tatame hoje!" sorriu para o mais alto, que lhe arqueou uma sobrancelha em confusão.
"Você tem certeza?"
"Ué... Por que eu não teria?" devolveu diante da confusão do outro.
"Ahn... por nada." deu de ombros. "Só queria ter certeza de que você queria mesmo fazer isso." sorriu, pegando sua bolsa, onde estava seus chinelos para ir para casa. Oh não morava muito longe dali. "Então eu estou indo, KyungSoo, a chave está na porta, okay? Até a próxima aula!"
"Até!" se despediu, mesmo estranhando ainda o motivo da pergunta do amigo, já que se oferecia a ajudar com mais frequência que o normal.
Não demorou muito tempo para que finalmente entendesse aquela pergunta confusa do amigo. Quando terminou de recolher os tatames do canto e empilhá-los corretamente, viu Baekhyun sair do banheiro, ainda trajando o kimono, com a faixa roxa nas mãos e a parte de cima do uniforme aberta, exibindo o peito nu. Desviou os olhos, disposto a ignorar o castanho enquanto ele estivesse presente, mas logo ele estava na sua frente, com um sorriso detestável, e previu que teria sua paciência esgotada em pouco tempo.
"O que você está fazendo aqui?" Baekhyun questionou, cruzando os braços e assoprando um riso. "Resolveu ficar pra admirar minha presença?"
"O que?" sua voz subiu um tom. "Você está louco! Eu nem sabia que você estaria aqui, eu nem faço questão disso." pegou mais um tapete que compunha o tatame, empilhando-o. "Só me ofereci pra ajudar, aliás, eu nem deveria estar te dando alguma satisfação, o que você está fazendo aqui, afinal?"
"Eu me ofereci a limpar a sala no começo da aula, Kyungsoo." ele respondeu, rindo. "Ficou com vontade de agradar o sensei pra ele te aprovar mais facilmente para a próxima faixa?"
"Se eu estou fazendo isso, você está no mesmo caminho, não?" arqueou a sobrancelha, cruzando os braços. "Até porque, é difícil de me ganhar numa prova, a não ser que eu esteja passando mal, não é?"
O vinco que se formou entre as sobrancelhas do castanho quase o fizera sorrir. Aquele assunto era antigo; eles já não se davam bem antes daquilo tudo, mas na prova da graduação dos faixa-azul para roxa, KyungSoo não estava se sentindo muito bem. E BaekHyun utilizou de oportunidade para tirar sarro do garoto e ganhar todos os rolas daquele dia, o que deixou KyungSoo irritado o suficiente para se descontrolar e, infelizmente, dar uma impressão ruim ao sensei. Por causa de Baekhyun e toda aquela confusão, o moreno tivera que ficar mais seis meses como faixa azul por mau comportamento.
"Oras..." riu em seco. "Você adora usar isso como desculpa de que tem vantagem sobre mim, você sabe que isso é mentira."
"Oras..." repetiu o que o outro falou, rindo debochado. "E você adora usar isso para dizer que eu perdi a prova pra você." deu de ombros. "Estamos quites."
"Quer saber?" o castanho se afastou, amarrando a parte de cima do kimono novamente com a faixa, passando-a em volta do corpo mais de uma vez antes de finalmente atá-la firmemente na cintura. "Por que a gente não tira isso a limpo agora?" apontou para a parte do tatame que ainda estava ordenada no chão. "Eu e você, agora, quem vencer é o melhor."
"Mas... A gente não tem um sensei aqui e-"
"Ah, para, KyungSoo... Você não é disso, não acredito que vai arregar pra mim, justo agora na nossa melhor oportunidade." rindo, andou até o tatame, se ajoelhando. "Tá esperando o quê, Do? Se ficar dormindo no ponto, eu vou me considerar o vencedor dessa porra."
O moreno, que ainda estava em pé, respirou fundo. Precisava da resiliência que o instrutor dizia em todas as aulas. Precisava pensar sobre as lições diárias que recebia, como não deveria deixar nenhum sentimento que o fizesse perder a razão... Lhe tirar a razão. Mas Baekhyun conseguia ser a pior pessoa — ou a melhor — para lhe fazer perder a linha daquela forma. Por isso mesmo tencionou a mandíbula, fechando os punhos com força antes de caminhar até ele, usando a distância inicial do rola e se agachando em frente à Baekhyun.
"Vai me dar essa vantagem?" recebia um sorriso debochado, que lhe tirava do sério, enquanto observava o garoto ainda ajoelhado no tatame.
"Claro. Você diz que só sou capaz de te vencer quando está mal, não é? Mas eu vou provar que não." suspirou e Kyungsoo percebeu que ele também estava nervoso. "Podemos começar?"
Do apenas assentiu antes de começar a contagem e finalmente iniciarem o rola. Incrivelmente, logo na primeira investida que dera, Baekhyun lhe pegou de surpresa e conseguiu inverter a situação, girando os corpos e ficando sobre si. Rosnou enquanto se desvencilhava da destra dele e impedindo-o de pegar no seu quimono e dar alguma finalização. Demorou, mas entendeu a abertura que ele estava dando e pegou na barra do quimono dele, o jogando no chão novamente.
"Eu não vou deixar você me vencer, Baekhyun." segurou um grunhido ao receber um tapa na mão após tentar agarrar o quimono do castanho.
"Claro que vai, está na cara!" ele gritou, tentando finalizar, mas não conseguindo. "Porra, você poderia ter finalizado naquela hora e por que não fez?"
"Porque eu quero me divertir com o mimadinho." zombou.
"Vai se foder Kyungsoo!"
No meio daquela discussão sem sentido, o moreno abaixou a guarda, facilitando Baekhyun a dar um arm lock, fechando as pernas na sua cabeça e braço direito. Mas antes que pudesse finalizar devidamente, Kyungsoo se debateu de uma forma que fez com que a barra do quimono dele saísse de sua mão e ele conseguisse escapar por suas pernas, raspando o rosto grosseiramente na parte de baixo do quimono.
"Merda, você tá maluco?" a voz de Baekhyun já não conseguia diminuir de tom, com uma oitava acima ele esbravejava para cima do outro faixa roxa, que passava as mãos pelas orelhas — agora muito vermelhas — enquanto se reposicionava no tatame. "Quase machuquei você, da próxima faz uma fuga decente, porra!"
"Preocupado?" debochou, orgulhoso. "Eu não iria deixar você finalizar de jeito nenhum, babaca."
"Caralho, Kyungsoo... Você é insuportável!" acusou.
"Se olha no espelho, Byun."
Com a paciência esgotada, o castanho avançou sobre o outro, pegando-o de surpresa. Naquele momento ambos sabiam que não estavam mais raciocinando e a prova era os insultos que soltavam a cada girada de corpos, a cara abertura de guarda, passagens e inúmeras tentativas de finalizações. Aquela inimizade falava mais alto que o bom senso e todas as vezes que se defendiam ou saíam da armação de alguma finalização acabavam se machucando, sentindo alguma pancada ou alguma parte do corpo queimar contra o tatame ou o quimono. Se algum sensei estivesse ali, estaria desesperado e o que faziam no momento nem poderia ser considerado jiu jitsu. Apenas se engalfinhavam numa tentativa insana de ganhar o outro.
E no meio daquele embolar de corpos, Baekhyun escorregou sem saber como, chocando os quadris contra os de Kyungsoo e fazendo-o arfar pelo impacto e pelo peso. Mesmo assim, o castanho manteve-se ali, segurando as barras do quimono do outro que a faixa nem estava mais amarrada no corpo, sentindo a consciência se instalar novamente e lhe mostrar o que estavam fazendo.
"Qual é a porra do seu problema?" questionou ao moreno, que se debateu numa tentativa de sair debaixo de si. Seu corpo queimava e tinha certeza que possuía algum arranhão no pescoço.
"Eu que deveria te perguntar!" ele devolveu, rindo numa clara tentativa de se manter no controle, aproximando o rosto contra o seu. "Fez todo esse teatro só pra terminar montado no meu colo sem fazer nada, Baekhyun?" murmurou com certa provocação. "Se fosse pra ser isso, poderia ter me dito antes, eu teria feito esse favor pra você."
"Imbecil." afastou os quadris, ligeiramente constrangido, forçando as pernas do outro com certa ignorância e se enfiando no meio delas. "Você consegue ser um belo de um babaca, que se acha o sabichão, arrogante de merda."
"Eu digo o mesmo de você!" devolveu. "E pra piorar é um filhinho de papai que tem tudo o que quer todos os dias e não consegue aceitar que perdeu pra alguém."
"O... O que você disse?" Baekhyun fechou com força os punhos contra a barra do quimono de Kyungsoo, que em resposta o segurou nos braços.
"Você fede a leite, Byun." rosnou contra o rosto do outro. "Aposto que tem chupeta com mel até hoje e a mãezinha ainda dá comidinha na sua boca." riu. "Vai pedir o quê pro papai esse mês? Aumento na mesadinha?"
O moreno sabia que o outro estava nervoso. Podia ver a cólera que viu em si mesmo há quase um ano quando ficou sem a faixa no dia da prova, por todas as provocações que Baekhyun fizera e por isso queria muito devolver com qualquer coisa que viesse a sua mente. O que ele não sabia, porém, era que aquele assunto era bastante sensível para o castanho. E teria continuado com o deboche se não fosse pego de surpresa ao ser repentinamente pego com uma força extrema, vendo-o levantar consigo no colo.
Ainda tivera tempo de sentir uma confusão tamanha e depois medo após concluir o que Byun pretendia fazer. Contudo, não tivera tempo de tentar acalmá-lo e fazê-lo mudar de ideia quando ele, já em pé e consigo bem preso contra o corpo dele, se jogou de volta no tatame, fazendo com que suas costas colidissem com toda a soma dos pesos deles contra o chão que, mesmo emborrachado, não impediu que o fizesse perder o ar nos pulmões e uma dor alastrasse pelo seu corpo após o choque.
Não soube exatamente o tempo que ficou parado jogado ao tatame, mas quando tudo começou a voltar ao normal e conseguiu recuperar o ar na primeira tosse, o castanho pareceu despertar da raiva que havia lhe acometido, paralisando por um momento e arregalando os olhos. Um bate estaca. Baekhyun havia feito um bate estaca, mas não foi um qualquer. Ele não simplesmente bateu com KyungSoo contra o tatame, na verdade, ele jogou todo seu peso contra o garoto debaixo de si, que agora gemia dolorido pela pancada.
"Droga... Kyungsoo..."
"Você é louco, cara..." conseguiu finalmente dizer, agora com a certeza de que seu corpo estava inteiro. "Você me machucou."
"V-você tá bem?" o castanho tentou se aproximar, mas apenas se limitou em impedi-lo, o empurrando. Os olhos dele estavam realmente assustados e meio úmidos, mas não se importou; a presença dele, naquele momento, não estava sendo suportável. "Olha... N-não foi minha intenção, eu-"
"Só vai embora, Baekhyun." interrompeu, sentando-se devagar, um pouco zonzo. "Vai embora."
"Mas Kyungsoo, você-"
"Vai embora."
"Não." Byun acenou a cabeça negativamente, mas se levantou. "Vai você embora. Eu... Eu tenho que ajeitar tudo isso aqui e... Só..." apontou em direção ao banheiro. "Só vou te dar espaço pra você ir e eu volto aqui pra arrumar a sala."
Sem deixar que o moreno respondesse alguma coisa, ele saiu andando apressado, fazendo o que ficou suspirar pesadamente. Kyungsoo escondeu o rosto contra as mãos, percebendo que seu corpo ficaria inteiramente dolorido no outro dia e finalmente se perguntando por que aquilo tudo foi acontecer, por que eles se exaltaram daquela forma e o que aconteceria com eles a partir daquela clara briga.
Estava confuso e sem saber o que fazer, mas estava indubitavelmente arrependido. E mesmo assim, apenas se apressou para sair daquela sala, não querendo pensar mais sobre o assunto pelo menos naquele momento.
                                                백수
Baekhyun jogou seu livro contra a mesinha de centro sem se preocupar que estaria chamando a atenção do seu amigo. Suspirou, bagunçando os cabelos enquanto sentia o olhar fixo de Minseok em si. Era um problema grande tentar esquecer a imagem de Kyungsoo reclamando de dor no chão do tatame por ter se jogado em cima dele em seu pico de raiva, nem mesmo conseguia pensar no que o garoto mais baixo poderia dizer para o sensei, mesmo que ele também fosse ser punido.
Tudo isso porque não admitia que fosse relacionado a qualquer coisa a sua família, e principalmente não admitia que fosse chamado de mimado pela sua família ser conhecida por ser bem abastada. Ele fazia o máximo para não usufruir daquele dinheiro, mesmo que seus pais fossem bons o suficiente para lhe darem uma mesada todo o mês e ainda por cima terem lhe comprado um apartamento, mesmo que não tivesse pedido. A maior parte do dinheiro estava intocada na conta bancária e ele só pegava o suficiente para complementar a renda, o que não fazia quase diferença nos números, pois já havia arranjado um emprego que cobria a maior parte do que gastava. E o que não conseguia pagar, ainda tentava cobrir com alguns bicos para, em último caso, mexer no dinheiro que seus pais lhe davam.
Baekhyun prezava por sua liberdade. Prezava por sua liberdade porque era gay e já previa a reação de seus pais sobre isso e era algo assustador. Seu irmão já sabia disso porque havia sido flagrado por ele numa balada e aquilo foi a pior situação da sua vida, já que nunca havia sentido tanto medo em ter sua vida ruindo como viu naquele dia. Agora, vivendo naquele pavor iminente de que BaekBeom pudesse contar para seus pais, estava tratando de se ajeitar; por isso arranjou uma bolsa para estudar Ciências Biológicas à distância, trabalhava arduamente como auxiliar de cozinha numa lanchonete e planejava colocar a venda aquele apartamento imenso que ganhou de presente dos pais para ter um menor e mais aconchegante, além de ter diminuído consideravelmente o contato com os pais, evitando o máximo de ligar para eles ou ir visitá-los. Seus pais se tornaram um assunto delicado para si e por isso não suportava ser diminuído como o garoto que não fazia nada além de gastar o dinheiro deles.
Mas seu peito se enchia de culpa quando lembrava o que fizera com o faixa roxa na academia. Não era uma pessoa ruim, só que... a provocação havia passado do limite para si e não havia pensado racionalmente quando fizera aquilo. Deveria ele pedir desculpas? Ao mesmo tempo que queria fazer isso, pensava duas e três vezes e concluía que só teria coragem de pedir desculpas se soubesse que ele pediria desculpas para si. E por consequência disso, não sabia mais o que fazer.
"Ainda pensando no que aconteceu?" Minseok lhe despertou dos pensamentos, girando o lápis que usava para desenhar o ciclo da água entre os dedos.
"É que sempre quando eu me concentro mais um pouquinho, a imagem dele volta na minha cabeça." respondeu, suspirando profundamente. "É meio desconcertante lembrar disso e lembrar que ele não foi ontem na academia. Estou sinceramente com medo de ter sido por minha culpa."
"Ah, vai, Baekhyun... Você é forte, mas nem tanto né?" o amigo disse e acabou por revirar os olhos em resposta, olhando-o com uma expressão de eu estou falando sério! "Ele pode ter ficado com dor na hora, mas porra, tinha o tatame, não?"
Kim Minseok era seu amigo de infância. Era aquele tipo de amizade da vida toda, que guardam inúmeros segredos juntos, experimentam coisas juntos e até mesmo descobrem as coisas juntos e, inclusive, faziam jiu jitsu juntos — e Minseok estava na faixa azul. Nunca tiveram uma visão romântica sobre o outro, mas houve quem dizia que eles faziam um belo casal — e eles faziam questão de estimular os boatos, confirmando todos eles com um sorriso. Já haviam até mesmo se apaixonado pelo mesmo garoto — uma pessoa desonesta que apenas serviu para deixá-los ainda mais amigos.
Contudo, ele era um pouquinho cruel, Baekhyun admitia. O lado ruim de seu amigo era o fato de que ele era egoísta demais e tudo o que não fosse de seu interesse, ele não dava muita bola. Se não fosse por sua causa, provavelmente ele seria um pouco pior. O bom era que ele levava em consideração qualquer coisa que dizia quando chamava-o a atenção sobre as besteiras que proferia; como era o caso naquele momento.
"Uma pessoa já ficou tetraplégica caindo no tatame, Minseok, aquilo diminui o impacto, mas não acaba totalmente com ele, ainda mais se tudo isso depende da força, do peso e a forma como a pessoa cai." explicou e o amigou arregalou os olhos e arqueou as sobrancelhas, soltando um baixo ah!, ficando quieto em seguida. "E ele não caiu, né... Eu joguei ele com toda a força."
"Você foi cruel."
"Oh, obrigado pela ajuda." reclamou, voltando a pegar o livro. "Eu tô me corroendo em culpa."
"Não é só pedir desculpas quando ele aparecer?" o garoto, ligeiramente mais baixo, deu de ombros. "Ele também está errado, não?"
"É por isso que eu estou pensando tanto se eu peço desculpas ou não." torceu os lábios. "Eu juro que estou com medo dele me denunciar pro sensei, mas ao mesmo tempo tenho medo de que ele me esnobe na frente de todo mundo."
"Não seja por isso, eu posso falar com o Sehun e o Sehun fala com ele, oras." Minseok deu de ombros e Baekhyun riu baixo. "Ué, o que foi?"
"Você só quer uma desculpa pra encurralar o cara no banheiro da academia… de novo." riu alto, levando um tapa no braço.
"Não é como se só fosse eu, né?" provocou de voltar, fazendo o mais alto parar de rir. "Bem que você queria que o Kyungsoo parasse de te provocar e te abraçar de jeito e beijar a sua boca-"
"Cala a porra da boca!" estapeou a nuca do amigo, que gemeu em desagrado. "Só porque eu falei que ele era bonito não quer dizer que eu esteja afim dele, oras. Ele é metido, eu já disse isso pra você."
"Mas ser metido é um charme também, sabia?"
"Eu já não disse pra você calar a boca?" resmungou, rabiscando o livro distraidamente antes de voltar o olhar para o mais baixo. "Você deveria chamar o Sehun pra sair, assim você para de encher o meu saco, Minseok."
"Se for assim, chama o Kyungsoo pra sair, então." soltou, logo tratando de correr para se desviar do livro que foi jogado em sua direção. "Que violência." riu, mas parou quando viu as orelhas vermelhas do melhor amigo. "Eu não acredito..."
"Nossa, como você está irritante hoje, Minseok." revirou os olhos enquanto ouvia o amigo explodir em risadas, sentindo vontade de matá-lo só um pouquinho.
Era fato, nem mesmo Minseok se atrevia a negar que sim, Kyungsoo era bonito pra caramba. Aquela marra toda dele era sim um charme, mas de longe que Baekhyun curtia aquele tipo arrogante dele. Só o provocava porque era até prazeroso vê-lo puto da vida, e nunca havia imaginado que todas aquelas farpas trocadas chegaria no limite. Na verdade, nem imaginava que havia um real limite naquilo tudo; esperava mesmo que um dia fossem acabar dando uma oportunidade de conversarem para que se conhecessem melhor e, talvez, tornarem-se amigos. Até havia ficado tentado a procurá-lo, mas aquela carranca mal-humorada que ficava constantemente estampada na face do menor o fez esquecer a tentação.
E ele agora nem se sentia no direito de pensar numa boa relação com o Do. Provavelmente ele deveria lhe odiar e tirar a prova daquilo soava pior ainda.
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KyungSoo estava de pé com as pernas abertas no nível dos ombros, girando a parte de cima do corpo de um lado para o outro, concentrado em suar naquele momento para compensar o dia que havia faltado. Estava realmente puto com o seu irmão por ter lhe impedido de ir na aula de jiu jitsu no dia anterior porque resolveu organizar a parte dos gabinetes para não atrasar os pedidos. Quem mandava ele empilhar aquelas porcarias de qualquer jeito mesmo? Como não possuía escolha, fora obrigado a fazer o que Sandong queria se não quisesse ter as orelhas puxadas por sua mãe e aquele longo sermão de ser o garoto inútil da família.
Ele estava bem, apesar de tudo. O corpo reclamava um pouco do combo porrada de Baekhyun + trabalho braçal na loja, mas estava bem. Nada que uma boa bateria de exercícios e alguns rolas não resolvessem o negócio. Queria socar a cara tanto do Byun quanto de seu irmão, mas ao mesmo tempo se perguntava como conseguia sentir mais raiva de Sandong do que do faixa roxa marrento que não sabia ouvir umas verdades na cara. Suspirou, parando de girar o corpo e começando a alongá-lo levando a mão esquerda ao pé direito e vice-versa. Logo sentiu uma mão em suas costas, fazendo-o parar o alongamento. Era Sehun.
"Você está se sentindo melhor?" questionou assim que voltou a atenção para ele. Havia sido Oh que lhe pedira para tirar uma folga no dia posterior ao golpe chato que recebera de Baekhyun e não iria faltar, mas seu irmão o impediu de qualquer coisa.
"Na verdade, não." suspirou, passando a mão na testa para tirar o suor. "Eu não descansei. Meu irmão quis me usar de escravo ontem para organizar a sala de manutenção e me fodeu mais ainda."
"Você pelo menos está tomando algum remédio?" voltou a indagar seriamente, levando as mãos para trás das costas, observando a chegada dos alunos. Kyungsoo assentiu. "Você tem certeza que não quer reportar isso ao sensei?"
SeHun era um cara que poderia ser considerado certinho demais, até mesmo para Kyungsoo. Era excessivamente comedido, falava tudo em tom baixo, nunca havia visto-o perder a paciência e gritar uma única vez desde que o conheceu — e não faltou oportunidade, aliás. Mas graças a toda àquela diligência que Oh conseguiu a faixa preta no tempo mínimo, mesmo que tivesse que ficar longos trinta e um anos com ela, era algum feito. E pelo mesmo motivo que ele era o escolhido para auxiliar o sensei, e mesmo que tivesse a opção de dar uma aula sozinho, ele preferia permanecer no conforto dos ensinamentos sensatos do velho Jung.
"Ah... Acho melhor não, sabe? Sem contar que eu também seria punido, de qualquer forma." deu de ombros, desamarrando a faixa roxa da cintura só para apertá-la e voltar a amarrar. "Por mais que eu tenha ficado com raiva da situação, eu sei que ele fez por impulso. Eu fui imaturo, passei dos limites... A culpa é minha também."
"Você tem certeza que isso não é porque você-"
"Pelo amor de Deus, Sehun, de novo não." suspirou pesadamente, olhando para o amigo. "Eu não estou afim dele. Ele é um babaca metido que está sempre tentando dar pitaco na vida alheia. É exibido, mimado, egocêntrico e-"
"Assim você realmente parece afim dele." Sehun interrompeu.
"Cala a boca!" irritou-se. "Você interpreta as coisas de um jeito muito errado."
"Não é exatamente isso, Kyungsoo." o faixa preta suspirou, levando o braço direito a ficar sobre os ombros de Do. "É tudo uma questão de observar; dentro de si mesmo e ao redor. E de refletir sobre as coisas que vê claramente e sobre as que estão provavelmente escondidas."
"Você fala como se tivesse sessenta anos igual ao sensei, até assusta." reclamou e o outro riu contido. "E você fala tanto de mim, mas fica enrolando com o Minseok." provocou, chamando a atenção do mais alto.
"Ah." deu de ombros. "Eu só não fiz nada porque eu estou esperando que ele faça. É ele que me olha e dá investidas o tempo todo na sala, não eu, oras." a expressão impassível dele às vezes irritava Kyungsoo. "Ele sempre parece atirado e bem bobo ao lado do Baekhyun, e pior ainda comigo, às vezes eu quase não consigo levá-lo a sério. Só estou tentado a pagar pra ver se ele vai parar de brincadeiras e talvez a gente saia um dia." voltou a olhar para o amigo. "E você tem que cuidar do Baekhyun."
O garoto baixo balançou a cabeça negativamente, crispando os lábios. Era constrangedor quando o amigo falava consigo daquela forma. Sehun sempre lhe dizia coisas nas quais duvidava e depois quebrava a cara ao ver que ele estava certo. Mas nessa questão ele felizmente não estava, porque Kyungsoo estava longe de nutrir sentimentos por Baekhyun. Contudo, se sentia esquisito pra caramba lembrar do garoto desesperado para lhe ajudar enquanto estava ocupado sentindo aquela dor azucrinante para de mexer. Quando ele foi embora da academia naquela noite, as dores tensionais diminuíram e só sobrou aquela do impacto.
Ele poderia muito bem se vingar de Baekhyun e denunciá-lo sem dó nem piedade, mas soava tão desonesto que não lhe valia a pena. Por algum motivo que não queria descobrir, sentia lá no fundo que o garoto estava arrependido, mesmo que ele não fosse lhe direcionar uma palavra sobre o assunto e fosse tratá-lo com novas provocações como se nada tivesse acontecido. Realmente, a última coisa que queria era que ele fosse punido por alguma coisa que havia partido de ambas as partes.
Mas diferente do que pensava, quando Baekhyun chegou à sala com Minseok a tiracolo, a coisa que ele mais fizera fora fugir de seus olhos, e isso o pegou de surpresa. Instintivamente, ficou procurando por um olhar mais altivo do garoto enquanto a aula não começava e seu corpo parecia borbulhar de ansiedade enquanto sua cabeça gritava me responda! sem que pudesse evitar. E quando seus olhos se encontraram e Byun abaixou a cabeça, visivelmente desconcertado, Kyungsoo realmente entendeu o que estava acontecendo.
Por mais que se vigiasse, aquela procura incessante pelos olhos do outro faixa roxa resultou-lhe um expressão típica em sua face. A carranca de coronel de exército estava posta e, provavelmente, Baekhyun achava que ele estava com muita raiva de si. A má interpretação junto a toda aquela situação só causava mais um mal entendido entre tantos. Percebeu que deveria fazer alguma coisa mas, antes que pudesse ao menos pensar, o sensei gritou para se posicionarem e logo a aula começava.
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Qualquer um poderia perceber a diferença do ar da academia após aquela brusca mudança de tratamento que Kyungsoo e Baekhyun adotaram. Até mesmo o sensei achou estranho as provocações terem parado tão repentinamente e mesmo que perguntas silenciosas pairasse no ar, nenhum dos dois estava disposto a responder qualquer coisa.
Seus amigos não foram exceção. Tanto Sehun como Minseok observavam em todas as aulas como eles passaram a se comportar e ambos entenderam que era uma ótima oportunidade para tentar resolver a situação entre eles de uma vez. Por mais que os faixa roxa negassem que estavam atraídos um pelo outro, as encaradas demoradas ou os comentários baixos que faziam um para o outro sobre as lutas não passavam despercebidos aos olhos analíticos dos amigos. Foi nesse momento que acabaram se reaproximando, o que já deveria ter acontecido antes, mas Minseok não tinha tido coragem o suficiente.
Foi numa terça-feira que isso aconteceu, mas não de uma forma tão positiva assim. Minseok foi designado a limpar e fechar a sala após a aula, algo que fazia de vez em quando junto a outro aluno, mas incrivelmente aquele dia foi um pouco diferente, já que o sensei não havia anunciado ninguém mais para ajudá-lo. A sua surpresa foi ao resolver usar o vestiário antes de limpar a sala — coisa que nunca o fazia, já que morava perto — e acabar por encontrar Sehun vestindo apenas a parte de baixo do quimono enquanto arrumava as próprias coisas no armário da academia.
Se tinha uma coisa que nem mesmo Baekhyun, melhor amigo do garoto baixinho e de olhos felinos, conseguia negar era a cara de pau que o garoto tinha, que era muito mal disfarçada com o seu silêncio e falsa timidez. Por isso que, sabendo estar sozinho com o faixa preta ali, não se impediu de olhar de cima a baixo o corpo alto e bem estruturado do garoto, que apenas riu abafado, nem um pouco intimidado com os olhares — não tão incomuns — de Minseok.
"Se eu soubesse que você iria ficar aqui hoje, teria vindo para o vestiário antes..." o faixa azul comentou, com o lábio inferior preso entre os dentes. "Sabe, apreciar a obra de arte que é você."
Sehun soltou uma risada.
"É?" olhou para o outro enquanto fechava o armário. "Isso não cola comigo, Minseok."
"Bom" deu de ombros, se aproximando e Sehun se encostou no armário. "Eu tento."
"Eu sei que você tenta." sorriu. "Mas eu acho que esse tipo de cantada é bem ruim." torceu o rosto e o garoto baixo riu.
"Tsc... Você vai me ajudar com a sala?" perguntou e o mais alto assentiu. "Afinal de contas, como o seu amigo está depois daquele rolo todo?"
"Ah, o Baekhyun te contou?" Sehun caminhou para fora do vestiário, sendo acompanhado. "Ele está bem. Está mais irritado com o fato de ter que aturar o irmão do que com o Baekhyun, na verdade. Ele não quis falar nada pra ninguém, mesmo que eu ache que ambos precisam de uma lição."
"Acho que a vida já fez o trabalho." Minseok riu e tratou de se juntar ao faixa preta para recolher o tatame. "Baekhyun tá afundado em culpa, mas não sabe como ir conversar com o Kyungsoo." explicou. "Tá gamadão no cara, mas não assume."
"Ah, então é isso." parou por um momento, rindo da situação. Nunca tinha conversado com isso com outra pessoa além do próprio Kyungsoo, então aquilo era novidade para si. "Pelo menos não sou o único a achar isso."
"Como assim?" o faixa azul arqueou uma sobrancelha. "Então quer dizer que o Kyungsoo..."
"Sim." interrompeu. "Vive encarando o Baekhyun sem parar, fala dele sem nem ter consciência e se eu falo alguma coisa sobre, ele me dá cada fora..."
"Eles não se superam."
"Não, não mesmo."
"Eu vou infernizar a vida do Baekhyun depois dessa."
Eles riram, ambos pensando como seria lidar com aqueles dois juntos, se eles estivessem certos e essa possibilidade surgisse. Minseok até pensou por um momento como o melhor amigo agiria se estivesse namorando com o Kyungsoo e, julgando os relacionamentos anteriores de Baekhyun, seria como nascer um chifre na testa dele. O fato é que era muito estranho imaginar qualquer coisa que não fosse aquelas provocações carregadas, as encaradas raivosas ou os xingamentos aleatórios entre eles. E, por mais que toda aquela marra mostrasse um lado muito real de Baekhyun, o faixa roxa era muito romântico e meigo com alguém. Kim sentiu um pequeno arrepio.
Se for para eles ficarem juntos, que continuem como estão agora, pensou.
Resolveu não prosseguir com isso em mente e voltou seu olhar ao mais alto, que terminava de arrumar os tatames no canto da sala. Não se lembrava como o interesse pelo faixa preta surgiu e talvez fosse desde a primeira vez que o viu, mas nunca havia realmente tentado alguma coisa. O cara, apesar de super simpático, educado e atencioso, nunca realmente lhe respondeu uma investida e isso meio que lhe deixava receoso. Qual é, era impossível ser tão seguro de si quando seu alvo era um homem com um metro e oitenta de pura beleza, inteligência e disciplina. Era o cara mais dedicado da academia e por esse motivo foi o faixa preta mais precoce daquela geração, conseguindo se graduar no tempo mínimo. Seriam longos trinta e um anos se dedicando a arte, se ele quisesse passar para as próximas faixas. Eram muito diferentes naquele ponto porque Minseok ainda estava se matando numa graduação a distância e usava o jiu jitsu mais como uma forma de diminuidor de estresse. Não era um homem muito confiante de si mesmo num geral — até porque ele se considerava ligeiramente burro —, então aquilo piorava a sua situação.
Mas ao desamarrar sua faixa para ajeitar a parte de cima do quimono no torso nu, percebeu a encarada que o outro lhe dava, muito concentrada onde estavam suas mãos e aquilo foi uma faísca para sua coragem novamente surgir. Se aproximou do mais alto e, mordendo o lábio inferior em nervosismo, o puxou até que estivessem colados um no outro, enlaçando a faixa azul nas costas bonitas de Sehun.
"E a gente?" questionou, com a voz baixa. "Não acha que é uma boa possibilidade?"
"Minseok..." arqueou as sobrancelhas, suspirando. "Aqui não..."
"Eu não estou fazendo nada..." o mais baixo riu, mas se afastou, se sentindo levemente constrangido com a investida fracassada. "Seu jeito certinho às vezes me perturba." comentou, fechando o quimono e ajeitando a faixa corretamente na cintura.
"Só estou respeitando o meu local d-"
"Eu entendi." assentiu, rindo sem graça. "Eu só espero que você ajude seu amigo nessa, porque eu quero que o meu volte a agir como o galo mais forte do galinheiro de novo e pra isso ele precisa estar bem com o Kyungsoo."
"Não se preocupe, eu vou dar um jeito nisso." disse, se aproximando do mais baixo. "Minseok..."
"Então eu vou pegar os panos pra gente terminar isso aqui e a gente já pode ir pra casa." adiantou-se, seguindo em direção a uma saleta que havia ali, deixando Sehun para trás com os lábios crispados e sem saber o que dizer.
Ele sabia que havia cometido um erro com o faixa azul quando este se manteve em silêncio pelo resto do tempo que se mantiveram ali. E sem passagem para conseguir falar qualquer coisa com o outro, ficou sem saber qual era o tamanho do erro cometido. Talvez fosse precisar de uns conselhos... Ou de ajuda.
                                                백수
"Eu levei um fora."
Baekhyun parou o seu alongamento, arregalando os olhos e se erguendo rapidamente quando ouviu Minseok falar. Novamente, naquela rotina das noites de treinos e lutas, a academia cheia e o sensei rodeando todo mundo junto com o faixa-preta para garantir que todos estivessem fazendo o devido aquecimento.
"Como assim, você levou um fora?" questionou incrédulo e a sua cara deveria estar engraçada porque o melhor amigo riu, mas não com tanto humor quanto previu.
"Ué, como assim levei um fora?" deu de ombros. "Levando, ué."
"Como alguém consegue dar um fora numa coisinha linda dessas?" o faixa roxa se encolheu quando o outro tentou lhe dar um tapa. "Ei, calma! Eu estou falando sério!"
"Tsc..." Minseok cruzou os braços, olhando para uma direção que fez o amigo ficar minimamente confuso. "O Sehun consegue."
Foi então que seguiu o olhar do faixa azul e viu o dito cujo junto de Kyungsoo numa aparente discussão. Não era difícil ver que havia algum sermão por parte do mais baixo enquanto o outro estava claramente na defensiva. As sobrancelhas estavam torcidas em uma espécie de desagrado e Sehun cruzava os braços e desviava os olhos do outro faixa roxa, que tratava de trazê-lo de volta para a conversa. Baekhyun não tinha a mínima ideia do que eles estavam falando, mas ficou distraído encarando a mandíbula rígida do mais baixo e os lábios bem desenhados pronunciando algo com uma áurea de seriedade enorme. Kyungsoo era bonito, não conseguia negar; ele possuía uma postura altiva e, mesmo que fosse menor e tivesse os ombros mais estreitos, a presença dele era grande, de forma que poderia deixá-lo intimidador. Era marrento pra caramba, na verdade, e de certa forma, sem querer pensar em muitas explicações, admirava aquela virilidade que ele apresentava sem esforço algum.
Não soube quanto tempo ficou observando a conversa, mas acabou ficando com as pontas das orelhas quentes quando os olhos grandes dele desviaram-se e foram diretamente em sua direção junto ao leve arquear de sobrancelha, por isso tratou de desviar o olhar após dar-lhe um leve aceno com a cabeça. Voltou a sua atenção para Minseok.
"Se você quiser, eu posso ir falar com ele, Seok." se ofereceu, mas o amigo o puxou para que voltassem ao alongamento enquanto balançava a cabeça negativamente.
"Deixa isso pra lá, não esquenta." sorriu. "Eu não me importo mais."
E Baekhyun até pensou em dizer alguma coisa, mas deixou pra lá, pois sabia que Minseok estava muito longe de não se importar.
                                                        백수
"Eu vou te chamar de panaca até o fim da vida."
Kyungsoo afirmou novamente enquanto Sehun permanecia emburrado do seu lado com um vinco imenso entre na testa, suas sobrancelhas parecendo ganhar vida de tão torcidas. Não se importava; o faixa preta merecia esporros diários para que pudesse se tornar mais decente e não se contradizer tanto. Quer dizer, ele havia sido muito indelicado, pra não dizer coisa pior, ao praticamente rejeitar o faixa azul; algo que, aliás, não fazia o menor sentido, porque ele tinha um grande interesse no Minseok. E. Ele. Dispensa. O. Cara.
"Eu já me justifiquei!" o alto exclamou, irritado. "Eu não ia fazer nada com ele na academia!"
"E por quê?"
"Porque não é lugar pra isso?" tentou e o faixa roxa revirou os olhos.
"Puta merda, Sehun, eu não sei se ser certinho desse jeito é uma benção ou uma maldição." resmungou. "Agora eu quero ver como você vai conseguir ficar com ele, sendo que você praticamente deu um fora no moleque quando ele justamente tentou algo contigo."
"Eu não dei um fora nele, Kyungsoo!" bateu o pé, parecendo uma criança mimada.
O baixo desviou a sua atenção de Sehun, procurando Minseok com os olhos e dando de cara com Baekhyun lhe encarando fixamente. A expressão de surpresa que tomou conta da face do garoto entregou o fato de que ele provavelmente estava fazendo aquilo há algum tempo e não esperava ser flagrado; ele acenou com a cabeça levemente e desviou o olhar, sem dar a oportunidade à Kyungsoo de acenar de volta e lhe deixando com um incômodo no estômago. Cadê aquele sorriso debochado, aquela provocação diária, aquela sede por competição? Havia certa culpa nos olhos do outro faixa roxa, o que lhe incomodava de uma forma que não era capaz de explicar, mas continuou encarando-o enquanto ele fazia os aquecimentos com Minseok. Novamente acabou por reparar a falta de cuidado dele em pôr uma camisa por baixo, o peito nu se expondo cada vez que ele tocava a ponta dos pés com os dedos das mãos, alongando-se. Balançou a cabeça, resolvendo responder o amigo.
"Mas pareceu!" rebateu, impiedoso. "Espero que tome alguma atitude pra mudar a sua situação. Imbecil."
"Covarde."
"Boca de velu-" interrompeu-se, virando sua atenção para ele. "Espera, por que diabos você tá me chamando de covarde?"
"Porque é isso que você é?" Sehun deu de ombros. "É o sujo falando do mal lavado aqui. Eu posso ter sido grosso com o Minseok, mas você também não move um dedo pra mudar sua situação com o Baekhyun."
"Que situação?" indagou meio rindo, meio sério, já adivinhando o que o faixa preta iria lhe dizer.
"Ué, você gosta do cara, mas também nunca deu um beijo nele ou tomou alguma atitude." disse e o mais baixo riu com vontade.
"Talvez seja pelo fato de que eu não gosto dele, Sehun." Kyungsoo iria dizer mais alguma coisa, mas interrompeu-se ao encontrar novamente o olhar de Baekhyun e dessa vez ele não desviou quando encontrou o seu. Ele estava com a parte de cima do quimono aberta e fez o máximo para não olhar para a parte desnuda do garoto, mas seus olhos seguiram rapidamente as mãos dele, enquanto esse tratava de fechar a roupa e enlaçar a faixa em sua cintura, acenando novamente com a cabeça antes que o sensei desse um grito para que eles formassem dupla.
"Engane qualquer um, mas não a mim, Kyungsoo." quase se assustou ao ouvir a voz de Sehun tão próxima ao seu ouvido. "Você deixou tudo mais óbvio agora."
Nem teve a oportunidade de zombar da situação e dizer que seu amigo estava enganado, porque na verdade não sabia o que dizer. Respirou fundo, mordeu o lábio inferior e seguiu para o meio do tatame, ignorando completamente os próprios pensamentos e a repetição infinita do que o Sehun dissera em sua mente.
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Kyungsoo estava com vantagem, esta concedida pelo sensei em começar o rola agachado e não sentado, porque estava treinando com uma faixa de graduação maior que a sua. O faixa marrom sorriu para si, como sempre em deboche; não conseguia ir muito com a cara de Minho, de qualquer forma. Era tão exibido quanto Baekhyun poderia ser — ou quanto ele era, né — e aquilo lhe irritava mais do que ficava com o outro faixa-roxa. E assim se seguiu, conseguiu dar uma boa entrada, tentando montar sobre o adversário e não tendo muito sucesso, quase sendo pego em um arm lock muito bem feito, conseguindo desarmar a posição do faixa marrom a tempo.
A verdade era que conseguir finalizar Minho era uma questão de sorte — e honra, também. O cara era bom no jiu jitsu, não tinha como ignorar o fato, mas também não conseguia ignorar de que estava à altura dele de certa forma. Foi por isso que conseguiu desarmar todas as tentativas que ele tivera de finalizá-lo; Kyungsoo não tinha a intenção de bater o tatame pra ele.
E com uma sorte que poderia ser considerada milagrosa, em algum momento o faixa marrom deu uma oportunidade à Kyungsoo que não pôde ser ignorada; com as pernas presas pelos braços consideravelmente menores, o corpo alto de Minho girou no tatame para sair do agarre, ficando de barriga para baixo e dando a deixa para que o faixa roxa montasse em suas costas, girasse o corpo e finalizasse com um mata leão, tudo muito rápido e impedindo que o faixa marrom tivesse alguma reação além de bater o tatame em contra gosto, antes que o golpe começasse a machucar de verdade.
"Ele finalizou bem pra caramba..." as palavras deslizaram dos lábios de um Baekhyun distraído, mas alto o suficiente para que Sehun, que também assistia ao rola, ouvisse.
"A vantagem do Kyungsoo é saber pensar bem rápido durante as lutas." comentou, e o garoto ao seu lado lhe olhou, surpreso. "Se alguém dá um mole, ele não perdoa e dá um jeito de finalizar o mais rápido possível. Ou isso, ou ele perde. Kyungsoo sabe o lugar dele."
"Eu percebi."
Sorriu fracamente enquanto observava o faixa roxa levantar-se desconcertado do tatame, um Minho não muito contente fazendo uma reverência antes de partir para outro oponente naquela aula. A regata preta que Kyungsoo usava estava visivelmente úmida, mas ele não pareceu se importar quando desamarrou a faixa para ajustar o quimono, voltando a enrolá-la em sua cintura. Baekhyun estava se traindo de novo; por vezes quase infinitas naquela aula não conseguiu deixar de procurar o outro com os olhos, se sentindo incapaz de não parar um momento para admirar as sobrancelhas torcidas em concentração junto à mandíbula rígida, os olhos seguindo agitados o adversário; Kyungsoo lutava bem, tinha uma postura que muitos demoravam para construir na arte, algo que era realmente admirável aos olhos de Baekhyun.
É realmente um arrogante filho da mãe, pensou, rindo em seguida.
"Acho que é melhor você segurar o queixo, se não ele cai." Minseok chegou de repente, deixando o faixa roxa desconcertado com a provocação. Olhou para os lados e viu que Sehun não estava mais lá.
"Cala a boca." resmungou, se afastando do amigo.
"Você que deveria calar a boca..." o garoto riu. "Na boca dele, de preferência."
"Ah, qual é, Minseok..." revirou os olhos, voltando a prestar atenção no outro faixa roxa, que estava conversando com outro faixa azul. "Kyungsoo deve me odiar depois do que fiz, sabia?"
"Ah, então essa é a sua preocupação."
"Mas é claro que-" Baekhyun olhou incrédulo para o amigo. "Não é isso que você está pensando!"
"É o que eu estou pensando sim." riu. "Você acha ele gostoso, vai, só isso já basta." deu de ombros e se apoiou no ombro do amigo, que tentava não permitir que seu constrangimento chegasse às suas orelhas. "E posso te dizer que, com certeza, o Kyungsoo não te odeia."
Baekhyun foi deixado sem palavras no canto do tatame quando o sensei chamou por Minseok, que lhe deu um leve empurrão antes de se afastar. Engoliu em seco e sacudiu a cabeça, determinado a evitar que seus olhos o traíssem de novo pelo resto da aula.
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Duas semanas a mais haviam se passado e tudo continuava na mesma situação, o que era ligeiramente perturbador para Kyungsoo. Ele não sabia explicar o motivo de estar tão incomodado com aquela mudança de ares, aquela conformação de só trocar olhares que, por muitas vezes, eram evitados, ou até mesmo os rolas se tornaram escassos entre ele e Baekhyun. O que sabia e podia admitir — pelo menos para si mesmo — era que sentia uma falta inexplicável daquela rotina antiga e que, pelo que podia perceber agora, era bastante prazerosa.
E a gota d'água para si foi o último rola que fizeram; a forma como Baekhyun facilmente perdeu para si, porque de alguma forma o contato corporal queria ser evitado ao máximo. Mas que inferno! Por que estava se importando tanto, afinal? Sempre detestou o quanto aquele garoto era metido, pela forma como andava pela academia como se fosse o próprio sensei, como ele nunca conseguia admitir uma derrota, como ele se achava. E agora, que o outro faixa roxa não fazia nada daquilo, deveria mesmo era estar feliz, certo?
Errado.
"Você vai ficar no mundo da lua até quando, Kyungsoo?" a voz de Sandong lhe despertou dos pensamentos e revirou os olhos por causa disso. "Se você não sabe ainda tem trabalho pra fazer."
"Sempre tem trabalho pra fazer pra mim." reclamou, dando volta no balcão em que estava apoiado. O expediente tecnicamente já havia terminado, contudo nunca as coisas eram favoráveis para si e o seu irmão mais velho sempre dava um jeito de lhe alugar da pior forma possível. "O que você quer que eu faça agora?"
"Limpe o chão e vire as cadeiras. Eu quero isso organizado porque a mamãe vai me ajudar abrir a loja amanhã." ordenou e Kyungsoo teve que respirar fundo para não xingar na frente do irmão. "E nada de tentar fazer a mamãe trabalhar no seu lugar amanhã, seu folgado."
"Eu nunca fiz isso, Sandong, eu não sou você que gosta de jogar o próprio trabalho para cima dos outros." não resistiu em devolver, seguindo até o canto do estabelecimento e pegando uma vassoura. "Agora, se me der licença, eu preciso terminar isso aqui bem rápido porque eu tenho treino hoje."
Não permitiu que o irmão falasse mais nada; prontamente iniciou a tarefa de erguer as cadeiras — que já havia limpado —, disposto a ignorar qualquer coisa que viesse do seu irmão direcionado para si. E novamente, os pensamentos iam se perdendo lentamente na sua preocupação das últimas semanas, sem que pudesse evitar.
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"É sério, tá se tornando tolo esse seu jeito de evitar o Kyungsoo." Minseok se pronunciou, terminando de vestir a parte de baixo do quimono. "Toda vez que você faz isso, ele faz uma cara impagável de desânimo. Ele tá ficando chateado com isso."
"Cala a boca, você não sabe de nada." Baekhyun devolveu, terminando de ajeitar a faixa na cintura.
"Já são mais de duas semanas, Baekhyun."
"Já pedi pra você calar a boca." retrucou, suspirando cansado logo após. "O que você quer que eu faça, caramba?"
"Converse com ele?" sugeriu dando de ombros. "Ele não é um cão raivoso louco pra te matar. Na verdade, o Kyungsoo tá bastante confuso com a sua atitude, e eu também." o faixa azul de aproximou do amigo enquanto terminava de se vestir. "Seja sincero comigo, panaca, você está afim dele, não tá?"
"Eu..." suspirou. "Não. Eu... não sei e não insista nisso, por favor."
"Como assim não sabe, Baekhyun?" o garoto choramingou. "Claro que dá pra saber se você gosta de alguém, a gente sempre tem certeza desse tipo de sentimento, vai."
"Tipo você com o Sehun?"
"Não desvia do assunto, caramba!"
"É sério, eu não sei!" insistiu, sentando-se no banco do vestiário. Tinham sorte de não haver ninguém mais ali dentro além deles dois; estavam bastante adiantados, afinal. "De repente alguma coisa está esquisita, eu não consigo agir normalmente porque me sinto esquisito. E esquisito no sentido de ter medo de ser um idiota de novo."
"Ah, mas que merda, Baekhyun, ele foi idiota contigo também." Minseok argumentou, sentando-se ao lado do amigo. "Eu sei que você foi um pouco cruel e poderia ter machucado ele sério naquele dia e está arrependido pra caralho, mas não aconteceu nada demais. Se ele tivesse com raiva de você mesmo, ele teria te entregado pro sensei, mesmo que isso fosse prejudicar ele também, entende?"
"Entendo." suspirou.
"Relaxa, cara." bateu no ombro do amigo, sorrindo. "Você vai poder beijar a boca dele tranquilamente no futuro. Ele com toda aquela gostosura em cima de você não vai ser ruim, vai." riu, se afastando do amigo depressa antes que levasse algum golpe.
"Você é muito idiota, sabia?" Baekhyun sorriu forçadamente, acostumado demais com aquelas brincadeiras do melhor amigo nas últimas semanas para se sentir constrangido com elas. "Para com isso, vai."
"Vou sim, quando você deixar de ser frouxo e parar de babaquice." soltou, dando um tapa na cabeça do outro antes de sair correndo para fora do vestiário, fazendo com que o faixa roxa corresse atrás.
Se pelo menos as coisas fossem fáceis para Baekhyun, ele estaria bastante satisfeito.
                                                      백수
"Eu to cansado disso, sério."
"Acredito que esteja."
Kyungsoo estava sentado na ponta do tatame, bebendo água enquanto disfarçava uma pequena dor no ombro por causa da finalização bruta de Minho na luta em pé. Parecia uma espécie de vingança do faixa marrom; a projeção foi cruel para cima de si e ele lhe finalizou sem que nem pudesse respirar. Agora teria que aturar aquele sorrisinho arrogante de merda daquele cara pelo resto da semana.
A sua irritação se somava com o fato de que somente havia levado aquela surra por culpa de Baekhyun, que havia enrolado o sensei de novo para recusar um rola consigo. Era naquele ponto em que se sentia cansado; após um dia estressante demais com o irmão mais velho lhe escravizando como bem entendia, ainda tinha que suportar aquela sensação estranha que possuía toda vez que o outro faixa roxa lhe evitava. Estava algo meio insustentável e pensou por um momento abordá-lo ali mesmo, na frente de todo mundo. E iria fazer isso mesmo se uma ideia não lhe acendesse na mente, fazendo-o se virar rapidamente para o faixa preta, antes que este se afastasse para rodar o tatame, sendo obrigado a esperá-lo até que voltasse para seu lado novamente.
"Sehun." chamou e o garoto sério, com aquela postura reta e correta demais, se virou. "Você tem como pedir pro Baekhyun cuidar da limpeza do tatame hoje?"
"Ahn... Por quê?" questionou confuso, voltando a se aproximar.
"Cancele com quem quer você tenha chamado. Eu vou resolver isso com aquele babaca arrogante hoje." pontuou, limpando a garganta sem jeito ao perceber a forma meio imperativa que estava falando com o amigo. "Se você puder, é claro. Eu quero mudar essa situação e é o único jeito que eu vejo."
"Até que enfim vai tomar uma atitude, não?" Sehun sorriu, fazendo o outro revirar os olhos.
"Você sabe do que eu estou falando, não é?" suspirou, desviando o olhar para o outro faixa roxa, que estava em um rola sentado com um faixa azul. "Está ficando insustentável essa situação. Eu sinceramente preferia quando ele me enfrentava a altura, como homem. E agora Baekhyun parece dez anos mais novo que eu, apesar de não ter mudado com ninguém aqui, só comigo."
"Você tá incomodado porque você perdeu a proximidade que tinha com ele, Kyungsoo." o faixa preta disse e, antes que o mais baixo pudesse dizer qualquer coisa, continuou. "Você pode até negar pra mim, eu aceito, mas o fato é que ele mexe com você, né? A relação que vocês tinham era boa para vocês dois e eu sei que não é só você que está incomodado com tudo."
"Sehun, olha-"
"Eu vou mudar os responsáveis pela limpeza da sala hoje. Vai ser você e ele, de novo." interrompeu, sorrindo levemente. "Só não briguem outra vez e piorem a situação, sim? Vai dar tudo certo, relaxa, é só não ser orgulhoso, como eu sempre falei pra você."
E como Kyungsoo poderia discordar naquele ponto? Não conseguiu contra-argumentar o amigo e apenas o deixou ir, voltando a observar Baekhyun finalizando o faixa azul — que se chamava Jungki —, com um arm lock triangular, usando uma força repentina que fazia qualquer oponente bater o tatame sem pensar duas vezes. Suspirou. As coisas iriam voltar ao normal, e ele iria fazer de tudo para que toda aquela hesitação se dissipasse do garoto de cabelos castanhos.
                                                 백수
Baekhyun suspirou, sentado no banco do vestiário. Estava um pouco cansado, mentalmente cansado, na realidade. As coisas não estavam indo muito bem nos estudos, seu desempenho havia sido afetado por algum motivo que ele não conseguia explicar e havia tirado notas ruins nos trabalhos. Ele queria muito recuperar suas notas na última prova e estava estudando mais que o normal; junto as poucas horas de sono e o trabalho de meio período que tinha durante a tarde, só aumentava aquele estado de esgotamento mental. Havia algo a mais, sabia muito bem, mas preferia não tocar no assunto naquele momento.
Levantou-se, tendo noção de que precisaria ainda limpar e arrumar a sala antes de trancá-la e devolver a chave na portaria, mas não se sentindo muito disposto àquilo. Não eram seus planos ficar para a organização da  sala, mas Sehun havia lhe avisado na última hora, então ou era isso ou era terminar pagando punições na aula seguinte e era o que menos queria naquele período. Contudo, quando saiu para a sala, estagnou seus passos na porta do vestiário, observando o motivo de sua inquietação nos últimos dias organizando a sala e retirando o tatame. Pensou em dar a meia volta e ficar escondido por entre os armários ou em uma das cabines de banho, mas Kyungsoo voltou o olhar em sua direção como se fosse ferro atraído por um forte imã.
"Ahn... Kyungsoo." soltou desajeitado e se aproximou. "O que... O que você faz aqui?"
"Arrumando a sala, não vê?" apontou para o chão, o tatame pela metade. Baekhyun ficou desconcertado com a resposta.
"Você não precisava, sério." argumentou. "Poderia ter deixado tudo comigo, eu não veria problemas em fazer tudo sozinho."
"Pois é," o mais baixo concordou, interrompendo o que estava fazendo e se virando para o outro faixa roxa. "A questão é que eu não quis."
Baekhyun ficou confuso.
"O que?"
Kyungsoo suspirou, se aproximando do castanho até que seus corpos estivessem a menos de um palmo de distância. O outro tentou se afastar, mas o impediu, segurando-o pela faixa. A expressão dele intimidava completamente Baekhyun, porque no fundo não gostava muito da carranca séria do moreno direcionada para si.
"Eu quero outro rola. Só nós dois, aqui." sinalizou com a cabeça, soltando Baekhyun e voltando a se afastar. "Sem afrouxar como você anda fazendo nos rolas das aulas e me deixando vencer. Você não é disso e acho que as coisas já passaram dos limites."
"Olha só, Kyungsoo, eu acho que a gente-"
"O que foi?" interrompeu com a voz em um tom mais alto, abrindo os braços enquanto se afastava até a parte onde ainda havia tatame. "Vai afrouxar?"
"Eu não quero brigar com você de novo." tentou argumentar, mas o riso sarcástico do outro lhe cortou a linha de pensamento.
"A gente não vai brigar, Baekhyun." disse, suspirando logo em seguida. "A gente vai lutar, como sempre fizemos."
O castanho mordeu os lábios, desviando o olhar do mais baixo por um momento. Era tão estranho se perceber tão hesitante por um motivo que visivelmente havia passado para os dois. Sentia uma culpa imensa do dia e tinha certo receio de cometer outro ato baixo com ele por causa de uma rixa que até aquele dia era saudável. Mas ele estava lhe propondo uma luta limpa; sem provocações, sem xingamentos, sem calcanhares sendo atingidos e causando uma raiva quase irracional. Irracional, foi o que havia sido naquele dia. E aquilo feria a própria dignidade, o próprio orgulho de certa forma.
A mandíbula de Kyungsoo estava tensa quando voltou a encará-lo. Ele parecia ofegante mesmo sem ter feito nada, apenas parado ali, o olhando. Naquele dia não estava muito diferente; seus uniformes como sempre se diferenciavam um do outro; o seu branco, o dele azul. A faixa estava bem presa a cintura e o quimono muito bem posto no corpo, pronto para uma luta. Suspirou.
"Tudo... Tudo bem." se rendeu, por fim. "A gente pode fazer o rola."
E Kyungsoo não lhe disse nada; abaixou-se no chão, apoiando o peso do corpo sobre os joelhos antes de sentar-se sobre as próprias pernas. Ele estava sério, ainda, de um jeito que lhe constrangia sem motivo aparente. Sem opções, apenas seguiu em direção ao outro, posicionando-se de frente a ele.
Uma contagem mental foi feita antes que eles, sincronizadamente e como esperado, iniciassem a luta. O mais baixo estava determinado a não ser tão bonzinho naquele rola, querendo mostrar para Baekhyun como nenhum tombinho bobo poderia diminuir seu desempenho. Contudo, ficou irritado no momento seguinte quando percebeu que o mais alto abaixou a guarda para que pudesse ganhar vantagem. Por quanto tempo eles ficariam naquilo?
Com raiva, puxou-o pela parte de cima do quimono, fazendo-o ficar sobre si, em quase uma montada, mas com os corpos um pouco mais distantes. Naquele momento o mais alto finalmente reagiu, dando um tapa rápido nas mãos de Kyungsoo e agarrando o quimono deste, que fez o mesmo nas mangas do traje de Baekhyun. Era muito comum que naquela posição, enquanto um tentava finalizar por cima, o outro tentasse fazer a raspagem e inverter as posições, mas ainda sim o castanho fazia corpo mole, não dando continuidade a qualquer golpe, mantendo o corpo quase completamente erguido sobre Kyungsoo.
"Caralho, Baekhyun..." praguejou, parando o que estava fazendo e segurando a cintura do maior, forçando-a para baixo até que ele estivesse com o corpo rente à sua barriga. O outro paralisou no mesmo instante. "É assim que faz uma montada! Luta direito, porra!"
"I-isso... É constrangedor, Kyungsoo." acabou soltando baixo, sem que pudesse evitar, sentindo as orelhas quentes mais pelo que dissera do que realmente pela a ação do moreno. Não estava se entendendo, essa era a realidade. Ter contato corporal com Kyungsoo se tornou desconcertante por algum motivo que não conseguia se questionar em momento nenhum. Apenas queria evitar contato, conversas ou qualquer coisa do tipo. "Quero dizer..."
"Constrangedor?" engasgou-se, rindo abafado. "Sabe o que é constrangedor? Isso!" gritou, empurrando o corpo do castanho até que seus quadris se chocassem, fazendo-o soltar um grunhido. Baekhyun suspirou, visivelmente desistindo da luta e tentando se levantar, mas Kyungsoo o manteve ali, erguendo o seu tronco em seguida para aproximar seu rosto do mais alto. "O problema, Baekhyun, é que você não está me tratando como o homem que sou, e isso me irrita." confessou e o outro parou de se mexer em seu colo. "Luta comigo, me vê como igual, porque somos equiparáveis, porra."
Sem esperar que o outro faixa roxa reagisse, girou os corpos, jogando-o contra o tatame e ficando entre as pernas dele. Seus quadris se chocavam, mas não se importava com aquilo. A cada vez que Baekhyun afrouxava na luta, algo movia Kyungsoo a reagir com mais grosseria; não queria machucá-lo e nem tampouco iria fazer, mas queria que, de alguma forma, o mais alto acordasse e percebesse que entre eles não era mais a mesma coisa. Queria fazê-lo despertar e reagir como sempre havia sido antes, com altivez, com arrogância, com aquele jeito de quem era o dono da casa, como se fosse mais experiente que o próprio sensei.
"Eu me..." Baekhyun respirou profundamente, resolvendo reagir e segurar o quimono do menor também. Reforçou o agarre, balançando um pouco o corpo sobre si. "Eu me sinto culpado, droga!"
"Por algo que já passou?" questionou, largando o tecido branco do traje do castanho e empurrando as mãos dele para que largasse o seu também. "Baekhyun... Passou. Você entende isso? Não aconteceu nada demais, nós dois erramos. Eu e você... Erramos." lamentou, respirando ofegante, acompanhando a respiração do maior sem que percebesse. "Fomos imaturos, levamos algo para além dos limites que estavam implicitamente determinados e aquilo aconteceu. Poderia ter sido o contrário, você sabe disso... Eu só não suporto mais você me evitando o tempo inteiro."
"Por quê?" o castanho soltou, momentos depois. "Por que você se importa tanto com isso, Kyungsoo?"
A resposta que passou pela cabeça do moreno o fez prender a respiração por um momento. Era muito óbvio o motivo por trás daquilo tudo. Poderia dar um monte de desculpas sem sentido para não ferir o próprio orgulho, mas continuaria com palavras presas na garganta que endureceu seus músculos e lhe desconcentrou em tudo. Olhou para o faixa roxa abaixo de si, que ainda estava com a respiração pesada, o quimono aberto, a pele em um bronzeado avermelhado por culpa do calor um pouco exposta, deixando os pensamentos de Kyungsoo ainda mais confusos. Os lábios entreabertos puxando o ar com força, os cabelos bagunçados e colados no rosto. Desviou o olhar, suspirando, percebendo algo desconcertante demais pra ser dita em voz alta; estava achando aquela visão do mais alto muito bonita. E aquilo não era um pensamento que poderia ter num momento como aquele.
"Porque você me trata como se eu fosse quebrar e isso é ridículo." confessou, desistente de suas atitudes contraditórias, voltando a agarrar o quimono branco e inclinar o corpo em direção a Baekhyun. "Porque eu me sinto estranho demais com essa sua atitude. Porque eu não estou acostumado com essa imagem que você está me mostrando agora." murmurou, perto o suficiente do castanho para sentir o calor da pele dele. "Eu preferia seu eu de antigamente... Eu gosto mais dele. E saber que essa mudança sua é só comigo, tá me deixando maluco."
Kyungsoo poderia dizer que não sabia o que estava fazendo ou que não sabia o que havia lhe movido a tomar tal atitude, assim como Baekhyun. Mas aquela troca de olhares demorou mais que o previsto, as respirações se interromperam e os lábios se chocaram repentinamente, tão irracionais quanto antes, mas com o sentimento de que aquele beijo era inevitável. Foi um ato aparentemente calmo para a agitação dos corpos naquele momento e o selar perdurou até que a boca de Kyungsoo se entreabriu para fechar-se contra a de Baekhyun, sendo impedido por uma língua que invadiu sua boca sem aviso e que lhe provocou um ofego em agrado. O beijo se tornou agitado, mas não bruto, apenas o suficiente para que eles se agarrassem um no outro e tateassem a palma onde alcançassem, um pouco perdidos. Suas mentes estavam em completo branco; no fundo ambos estavam temerosos do que pudesse acontecer depois que o beijo se findasse.
Por isso, o mais baixo separava as bocas apenas para que pudessem respirar brevemente, beijando a mandíbula suada do castanho enquanto sentia as unhas dele arranharem levemente sua nuca antes que pudesse voltar beijá-lo com mais intensidade que antes. E mesmo que eles tentassem estender o ato — desesperado para quem via de fora, mas na medida certa para as mentes confusas deles —, em algum momento quebraram o contato, se afastando o suficiente para que pudessem se olhar novamente. Baekhyun com um constrangimento lhe queimando as orelhas e dilatando as narinas e Kyungsoo com uma batalha para tentar impedir que mais pensamentos confusos viessem a tona.
Mas inevitavelmente a voz de Sehun e tudo o que ele dissera repetia como um looping infinito em sua mente.
"Kyungsoo, o que... O que a gente tá fazendo?" Baekhyun perguntou com a voz rouca, tentando ser um pouco racional, mesmo que seus olhos não parassem de encarar os lábios um pouco inchados do mais baixo, mesmo que se sentisse quente, mesmo com a mente embaralhada o suficiente para querer repetir aquilo pelo resto da noite.
"Não... Isso não importa. Importa?"
O castanho negou com a cabeça, deixando se levar e permitindo que o moreno se aproximasse novamente, erguendo o corpo para capturar os lábios dele com certa pressa. Perceberam que aquela era a única vontade dos dois naquele momento; sem pensar nas consequências, excluindo os porquês da mente, evitando um auto julgamento que não deveria existir. Pelo menos não enquanto Kyungsoo pela primeira vez sentia a pele do peito desnudo do maior sob os dígitos, não enquanto Baekhyun sentia certa euforia com o cheiro de colônia e suor e um prazer indescritível em mordiscar a boca carnuda e macia. Era o que, estranhamente, ambos queriam e só lhes restaram atender aos desejos supostamente súbitos e inadiáveis.
Depois que toda aquela euforia cessou, eles se levantaram do tatame ofegantes, quentes e com um indiscreto volume sob as calças, mas não falaram nada, muito menos se questionaram alguma coisa. Terminaram silenciosamente de recolher os tapetes do tatame e limparem a sala, pegando suas respectivas coisas no vestiário logo após.
E Kyungsoo, antes que pudesse sair da sala para trancar a porta e entregar as chaves na recepção, puxou o pulso de Baekhyun, chamando a atenção dele para si. E o castanho, percebendo a respiração e olhar hesitante do mais baixo, não pensou duas vezes em fazer o que ele silenciosamente lhe pedia. Colou os lábios em um beijo de poucos segundos; o suficiente para que significasse uma despedida, deixando em ambos uma incerteza completa do que aconteceria no futuro, porque nenhum dos dois ainda sabia o que pensar.
No lado de fora da academia, ambos foram para sentidos opostos; seguiram seus caminhos sem olharem para trás ao menos uma vez.
                                                      백수
Sempre que uma voz surge na mente gritando desesperadamente na tentativa de impedir que alguma decisão errada seja tomada, o mais recomendável é seguir essa maldita voz. Por um motivo simples: algo sempre dá errado quando ela é contrariada.
Foi esse o erro de Baekhyun quando, assim que Minseok pisou com os pés nus no assoalho de seu apartamento e sentou-se no sofá com as pernas tão abertas como se estivesse assado, a primeira coisa que fizera foi contrariar algo em seu interior que lhe pedia para calar a boca, para contá-lo o que havia acontecido na academia. De fato, estava confuso e não sabia explicar exatamente o que o levou a ceder tão facilmente ao beijo e a correspondê-lo com tanta vontade. Mas agora, olhando o melhor amigo com aquela cara de sacana enquanto se recuperava dos gritos escandalosos de "eu te avisei!", a última coisa que queria fazer era entender; esquecer era mais fácil.
"Eu sabia que você estava na dele!" Minseok voltou a dizer e o faixa roxa tratou de empurrá-lo, fechando as pernas dele com força. "Não adianta ficar com raiva de mim, Baekhyun."
"Eu não estou na dele, idiota." devolveu com irritação. "Ele que me beijou, eu só correspondi."
"Você não só correspondeu, Baekhyun. Você beijou na boca do cara que você repara tem tempos." argumentou, finalmente se ajeitando no sofá e dando espaço ao amigo.
Baekhyun não reparava no Kyungsoo como o amigo insistia em dizer. Pelo menos não intencionalmente. Não conseguia se sentir culpado se a aura altiva e aquele jeito metido do outro faixa roxa lhe chamava atenção o suficiente para não deixar de olhar e se sentir incomodado ao ponto de implicar com ele. E continuaria naquela birra até no inferno se fosse necessário; era de certa forma prazeroso vê-lo com um olhar desafiador para cima de si. Sentia-se motivado para as lutas. Mas nunca pensou no outro de uma forma que não fosse a competitiva. Ou pelo menos era o que achava, mas aquele beijo... Aquele beijo lhe confundiu completamente.
"Eu... eu reparava tanto assim nele, Minseok?" questionou, meio rendido. "Você está exagerando." soltou e o amigo riu.
"Não, eu não estou exagerando!" disse e suspirou em seguida. "Vocês sempre se encararam muito nas aulas, mas eu acho que a rixa que vocês montaram nesse atrito todo só... Sei lá" deu de ombros. "Ajudou a esconder bem. Eu não acho um bicho de sete cabeças você se sentir atraído pelo Kyungsoo, até porque ele é bem gatinho."
"Meu Deus, você atira pra todos os lados..." resmungou, escondendo o rosto com as mãos.
"Ei! Eu não estou dando em cima dele, eu ainda gosto de alguém mesmo depois de ter sido dispensado, não se esqueça disso." Minseok esclareceu. "Qual é o problema, afinal?"
O castanho olhou para o amigo, que agora parecia realmente disposto a ouvi-lo sem ficar zombando de si. Suspirou e desviou o olhar, completamente sem jeito de dizer o que pensava. Se estava realmente afim do Kyungsoo, deveriam conversar, certo? Mas e se ele soltasse a desculpa de que aquilo havia sido um deslize? Se ele fingisse que nada daquilo havia acontecido? Aquilo arrepiava Baekhyun dos pés a cabeça em puro pavor e constrangimento antecipado. Já era difícil admitir que queria alguma coisa daquela confusão — até porque, pfff, ele não queria nada daquela confusão —, pensar ainda numa possível rejeição era de dar indigestão.
"Eu estou confuso." resolveu dizer, depois de um tempo. "Ah, vai, Minseok, e se ele só fez isso pra me deixar de guarda baixa? Eu não quero achar algo que não tem nada a ver."
"Ele te venceu na partida que vocês lutaram?" indagou o amigo, com a sobrancelha arqueada.
"A gente nem terminou o rola, Minseok."
"Então vai se foder, Baekhyun" revirou os olhos e se levantou do sofá, com uma cara de poucos amigos. "Você só vai saber se for falar com ele, amigo. É melhor ganhar um não agora do que ficar imaginando coisas aí, sentado e com essa cara de bunda."
"Eu não sou você, Minseok, e muito menos tenho cara de bunda." rebateu, mas logo foi puxado para que também ficasse de pé. Se debateu para o amigo lhe soltar. "Qual é! Qual é o teu problema? O que você quer?"
"Você vai conversar com ele." afirmou, dando de ombros.
"O que?"
"É isso mesmo que você ouviu. Se você tem a cara de pau de ir lá no café pra zoar com ele, então você tem para conversar."
"Não!" gritou quando o menor tentou pegar na sua mão novamente. "Eu não vou fazer isso, cara! Você enlouqueceu? Com que cara eu vou ir lá?"
"Com a mesma que você fez quando se despediu do Kyungsoo ontem com um beijinho." zombou, fazendo um bico exagerado e se afastando do castanho antes que apanhasse. "Se você não fizer nada, eu vou tratar de fazer, Baekhyun."
"O que eu vou falar pra ele?" perguntou e cruzou os braços, emburrado.
Baekhyun tinha uma cara de pau sim, mas não era tanta. Como ele iria chegar no outro faixa roxa para falar do que aconteceu no dia anterior? Ele não teria coragem de fazer nada, muito menos de parecer tão superior após aquele beijo que, querendo ou não, mexeu um pouco consigo. Na verdade, nunca havia pensado que os lábios cheios e um pouco ressecados fossem tão macios e bons de mordiscar, muito menos que o gosto da boca de Kyungsoo fosse algo tão viciante. A sensação que tivera no momento, era de que poderia ficar naqueles beijos pelo resto da noite, sem se preocupar com o fato de que pudessem ser pegos ali, no chão da sala de jiu jitsu.
"Você sabe o que falar pra ele." Minseok respondeu. "Perguntar qual é a dele é um ótimo começo. Mandar um e aí, rola ou solta? também é uma outra alternativa. Ou apenas chegar lá e pedir um café e deixar a conversa fluir."
O faixa roxa ficou mais alguns minutos em silêncio antes de suspirar e deixar os ombros caírem, rendido.
"Você vai subir comigo?" perguntou e o outro negou freneticamente.
"Eu não vou ficar de castiçal para os pombinhos." soltou, meio indignado, meio zombeteiro, voltando a puxar Baekhyun pelo pulso. "Eu vou pra casa e você vai subir lá e ficar com ele de novo, se rolar um clima."
"Minseok..."
"Vamos logo que está quase na hora de fechar, Baekhyun." o empurrou, seguindo para a saída do apartamento do melhor amigo. "Deixa de ser frouxo, porra."
E Baekhyun bem que tentou dar uma de durão, mas não durou trinta segundos; no momento seguinte, pedia para voltarem, alegando que não era corajoso o suficiente. Infelizmente, Minseok era um pouco cruel e não tão fácil de se convencer quando possuía um objetivo em mente.
                                                                                                                                                                                          백수
"A-ah! Merda!"
Kyungsoo já tinha perdido a quantidade de vezes que havia esbarrado no bico da máquina de espuma de leite. A sorte daquela vez era não estar mais segurando o copo e acabar por derrubá-lo — algo que já havia feito três vezes naquele dia. Indubitavelmente estava mais distraído que o normal. SanDong já havia lhe chamado atenção mais vezes que pudera contar e já estava oficialmente detestando aquele dia. Sua sorte, porém, era que não teria aula de jiu jitsu e poderia descansar o corpo um pouco.
Um de seus maiores defeitos sempre fora ser impulsivo e não pensar muito antes de agir. Isso lhe trouxera algumas consequências, como diversas advertências por briga no colégio, alguns deslocamentos de ossos e um corte feio na perna, na qual ainda tinha a cicatriz. Mas mesmo sabendo que sua impulsividade era um defeito e tanto, nunca pensou em se consertar; a verdade era até que havia melhorado bastante, então não sentia necessidade de anular esse traço de sua personalidade e enclausurá-la dentro de si por causa dos outros.
Por esse motivo que justificava o fato ocorrido na noite passada como pura impulsividade sua. Não havia conversado com ninguém sobre aquilo, até porque seu irmão mais velho não era a melhor pessoa para esse assunto e sua mãe muito menos — seu pai não era opção considerável —, mas sua cabeça fazia questão de rodar em looping o que havia acontecido na noite anterior. Não sabia explicar aquela súbita vontade de beijar Baekhyun, de saber a reação dele ao ser beijado, e nem mesmo sabia expressar o quanto havia gostado de ser correspondido. Aquele beijo deveria ser apenas mais uma de suas provocações. Era para Baekhyun ter lhe dado um soco na cara e lhe tratado no nível que merecia; estava revoltado por tantas vezes ser evitado. Mas como explicar até para si mesmo que aquilo não havia sido planejado e que fora por puro instinto? Que ter achado-o bonito além do normal quando ele estava suado, ofegante e jogado no tatame havia lhe confundido inteiro? Que todo aquele seu desastre no café era porque uma onda de satisfação lhe subia a espinha cada vez que lembrava do castanho lhe beijando de volta, bagunçando seus cabelos e ofegando baixinho?
Ou pior, como digerir o fato de que toda vez que pensava naquilo, se sentia mais tentado a repetir a dose?
Piscou rapidamente e engoliu em seco, fugindo de seus pensamentos enquanto colocava a tampinha sobre a bandeja e despejava canela rapidamente sobre a espuma de leite antes de apertar o sininho para chamar o único cliente que estava na loja. Aquele praticamente beijo de despedida passava por sua mente quando sorriu ao cliente e conferiu o troco errado, sendo obrigado a pedir desculpas e estender a moeda de valor restante. Ele queria que as coisas fossem fáceis, e algo lhe dizia que realmente eram, mas digerir isso tão facilmente e simplesmente ir falar com o Baekhyun soava como quase impossível.
Queria tudo aquilo de novo. Queria discutir com Baekhyun, brigar com ele e beijá-lo no final, com a desculpa mais esfarrapada que pudesse arranjar para tal ato na ponta da língua. Kyungsoo só queria ter uma maldita desculpa para poder sentir os lábios finos e gostosos contra os seus e as mãos agitadas bagunçando seus cabelos e os puxando de leve. Estava completamente perdido com tanto conflito interno.
"Ah, eu sou um idiota..."
"É mesmo." a voz do irmão ecoou pelo café, fazendo com que o garoto revirasse os olhos antes de direcioná-los ao dono do tom pouco grave e irônico. Surpreendeu-se ao ver sua mãe de braço dado com SanDong. "Qual foi o erro que você cometeu dessa vez?"
"Talvez o erro de te dar atenção." respondeu, dando um sorriso forçado. "O que quer dessa vez?"
"Às vezes acho que você esquece que eu posso te deixar sem emprego, não é, Kyungsoo?" SanDong devolveu o sorriso. "Eu só vim avisar que fechei a loja debaixo mais cedo e que já estou saindo."
"Ué..." o garoto franziu o cenho, confuso. "Eu não posso fechar agora?"
"Não." o irmão respondeu o óbvio. "Ainda faltam dez minutos para o final do seu expediente, então você vai ficar aqui até o completar."
"Mesmo sem ninguém aqui?" soltou, tentando conter sua indignação.
"Kyungsoo, querido, apenas faça o que seu irmão está lhe pedindo, sim?" interrompeu a mãe. "Ele está de muito bom humor hoje e quer me levar para jantar!" exclamou a senhora, animada.
"Ah..." O garoto ergueu as duas sobrancelhas. "Papai vai também?"
"Sim." SanDong respondeu. "Eu irei buscá-lo em casa."
"Entendi." riu seco, tentando disfarçar o mau humor e pegando um pano úmido para limpar o balcão. "Um jantar harmonioso em família... Bom, divirtam-se."
"Ah, pelo amor de Deus, Kyungsoo... Você não vai começar a agir infantilmente na frente da mamãe, vai?" indagou, a voz num tom ácido que deixou o mais novo ainda mais irritado.
"Olha só, SanDong-"
Kyungsoo foi interrompido pelo som do sino que havia na porta de entrada do café e, quando olhou, quase se engasgou; os fios castanhos que conhecia bem tomou a sua visão, junto dos olhos inconfundíveis que olhavam o local com certa hesitação e os lábios que não conseguia esquecer por tê-los beijado na noite anterior. Baekhyun bagunçava os cabelos, as orelhas visivelmente rubras enquanto tinha a atenção de todos no recinto, com a expressão meio culpada por provavelmente saber que havia interrompido algo.
"A-ah... O café já fechou?" atrapalhou-se em perguntar, a voz saindo meio falhada. Pigarreou logo após. "Eu posso voltar-"
"Não, não fechou!" SanDong se adiantou, sorrindo simpático para o castanho. "Ainda faltam alguns minutos! Acredito que o suficiente para tomar um café, não?" riu e o outro devolveu, um pouco desconcertado. Voltou com a expressão séria em direção ao irmão. "Eu já vou indo, Kyungsoo. Depois desse cliente, se não aparecer mais ninguém, você pode ir embora."
"Okay, chefe." respondeu, fazendo o mais velho suspirar, mas ele não voltou a dizer nada; apenas guiou a mãe até a saída, deixando-o sozinho com Baekhyun.
Por mais estressado que estivesse com o irmão, Kyungsoo foi de mal humorado à sufocando em nervosismo no momento em que um silêncio incômodo se instalou no ambiente. O castanho demorou até se aproximar do balcão onde o mais baixo insistia em continuar limpando o mesmo lugar.
Era uma situação realmente constrangedora; de um lado estava aquele que por puro impulso e atração teve coragem o suficiente para dar um beijo naquele que jurava pura antipatia e, do outro lado, estava aquele que correspondeu com toda vontade o beijo daquele que jurava que provocava por puro esporte, mas que não possuía simpatia alguma. Os olhos se desviavam sempre que se encontravam, Baekhyun sentindo a garganta seca enquanto Kyungsoo estava ligeiramente trêmulo, sabendo que se chegasse próximo às maquinas, iria se queimar pela enésima vez no dia.
Na cabeça do moreno, não havia o porquê de estarem daquela forma e até soava um pouco infantil; eles eram adultos e tinham de conversar civilizadamente sobre o que aconteceu, certo? Ambos quiseram aquilo naquele momento, mas ao mesmo tempo não parecia que eles deveriam falar sobre o beijo logo de cara. O que não sabia era que o mais alto também pensava da mesma forma, apesar de estar se sentindo ligeiramente acovardado pelo clima, resolveu quebrar o silêncio justamente quando Kyungsoo tivera a mesma ideia:
"Eu cheguei em uma hora ruim?"
"Vai querer o de sempre?"
O castanho riu sem graça por ter falado ao mesmo tempo que o outro, balançando a cabeça enquanto ouvia a risada contida do outro.
"Sim." disseram em uníssono novamente e Kyungsoo riu com vontade dessa vez.
"Isso não vai dar certo dessa forma, deixa eu perguntar de novo." pediu, sentindo as orelhas quentes. "Vai querer o de sempre? Cappuccino cremoso com bastante canela por cima?"
"É, isso mesmo." Baekhyun respondeu, rindo um pouco surpreso pelo menor lembrar do que costumava pedir. "E... Acredito que vim em péssima hora, né?"
"Um pouco..." suspirou e deu de ombros, tentando dar a máxima atenção à bebida que fazia. "Iria rolar uma possível briga, na verdade."
"Então... Eu te livrei?"
"É... Digamos que sim." sorriu. "Já termino aqui."
O castanho acenou levemente, não conseguindo se conter ao se atentar a cada movimento que Kyungsoo fazia para preparar o cappuccino. Quando Minseok o levou ali, tentou o máximo convencer o amigo a não subir e mesmo quando entrou no acesso que dava para as escadas até o café, pensou muito em esperar o baixinho teimoso ir embora para voltar para casa, mas alguma onda de coragem havia lhe tomado para, por fim, entrar no café e encontrar o moreno. Sentia-se inevitavelmente nervoso, mas era estranhamente bom ver Kyungsoo depois do que havia acontecido — mesmo que seus planos fossem de evitá-lo por dias. Vê-lo ali, naquele momento, mesmo que tivesse uma certeza pessimista de que ele não iria tocar no assunto, não estava sendo tão desconfortável quanto pensou.
E não iria agradecer a Minseok por isso, não mesmo.
Por outro lado, o menor fazia o máximo para se concentrar na bebida que preparava sem esbarrar em nada e não parecer um idiota na frente de Baekhyun. Por Deuses, como explicar a si mesmo que precisava muito controlar a vontade de olhar para a boca dele? Queria tanto praguejar em alto e bom som para tentar esquecer aquilo, mas simplesmente não conseguia. Seu orgulho estava ferido por ter sido tão impulsivo e agora estava tão desconcertado perto dele, que não sabia exatamente o que fazer.
Engoliu em seco, erguendo o olhar e focando-o nos lábios finos e bonitos sem que pudesse evitar. Ah, que droga..., pensou e logo percebeu que Baekhyun lhe olhava de volta, desviando o rosto novamente para o cappuccino, sentindo o rosto esquentar. Ótimo, agora ele me flagrou olhando pra boca dele, muito ótimo, imbecil. Suspirou e despejou a canela após terminar de colocar a espuma de leite no copo e levando-o ao mais alto, que já tirava a carteira do bolso.
"Ah, não precisa pagar!" interrompeu a ação do outro, que lhe olhou surpreso. "É por conta da casa."
O sorriso que Baekhyun dera em resposta fez o estômago de Kyungsoo revirar. Jurava que não estava se entendendo, mas se parasse por um segundo para ser sincero consigo mesmo, se lembraria bem de todas as vezes em que seus olhos lhe traíram ao buscar o castanho nas aulas de jiu jitsu: sempre. Sempre estava procurando Baekhyun, sempre estava provocando-o, fosse por olhares, sorrisos ou insultos. Se incomodava tanto com aquele jeito do mais alto por qual motivo, afinal? Não sabia explicar, mas sentia vontade sempre de ter algum contato com ele, nem que fosse para trocar farpas. Era irônico para sua vida já tão cheia de ironias que estivesse quebrando a cara mais uma vez ao contrariar Sehun e, no final das contas, ele possivelmente estar certo.
Não podia admitir que estava afim de Baekhyun, mas... também não podia negar que tinha algo ali lhe rodeando e lhe deixando com uma vontade do inferno de beijar aquela boca bonitinha dele. Aliás, nunca havia achado-o bonito, pelo menos nunca havia se dado conta daquilo até se deparar com ele jogado debaixo de si no tatame, com o quimono aberto e ofegante de um jeito tão bonito que...
"Assim eu vou acabar desidratando, Kyungsoo." seus pensamentos foram cortados por uma risadinha do castanho. "Você tá me secando."
"Puta merda, d-desculpa!" exclamou, virando-se de costas para o outro e encarando a pia que havia ali, bagunçando os cabelos e sentindo o rosto ficar absurdamente quente enquanto ouvia-o rir mais uma vez. "Ah... Já pode soltar o deboche do dia." revirou os olhos, ainda encarando a peça de metal inoxidável, completamente envergonhado.
"Que deboche?" Baekhyun arqueou as sobrancelhas. "Eu só... Ia te perguntar se eu sou tão bonito assim pra ser admirado por tanto tempo."
"E isso não é deboche?" indagou, virando o rosto para olhar o castanho de rabo de olho, vendo-o dar de ombros.
"É uma pergunta sincera." respondeu, sentindo-se suar frio. Kyungsoo suspirou e virou-se novamente, colocando as mãos na cintura e sustentando uma expressão desconfiada. Baekhyun quis rir, porque o moreno ficava realmente bonitinho daquele jeito. Era uma graça aquela atitude e, sem que pudesse evitar, pigarreou, por sentir a garganta secar e ficar com medo da voz falhar quando falasse novamente. "Eu estou falando sério, não precisa me olhar assim."
"Você quer mesmo que eu responda?"
"Quero."
Kyungsoo suspirou novamente e manteve-se em silêncio, saindo de trás do balcão e deixando o castanho extremamente tenso. O que ele iria fazer? Ficou paralisado enquanto o outro lhe encarava antes do contato ser quebrado pelo mais baixo que seguiu em direção à entrada do estabelecimento, virando uma placa que ficava pendurada na porta, trancando-a e abaixando a pequena persiana dela. Foi quando Baekhyun se sujeitou a puxar o celular e ver as horas; já era mais de seis e dez da tarde.
Continuou observando o moreno, que voltou a se aproximar até se sentar ao seu lado no balcão, visivelmente tímido. Não era como se também não estivesse um bocado sem jeito; havia bebido o cappuccino tão rapidamente que nem conseguiu apreciar o sabor de uma de suas bebidas favoritas. Mas era o nervosismo de ouvir qualquer coisa do tipo "Foi tudo um mal entendido", que deixava o castanho tão nervoso. Quando pensou em abrir a boca para tentar, mais uma vez quebrar o silêncio, Kyungsoo tomou a frente.
"Sim."
"... Que?" Baekhyun balbuciou confuso.
"Por Deuses, como você é lerdo." acusou, e o castanho lhe olhou indignado.
"Olha só, você-"
"Eu quis dizer que sim, você é bonito, entendeu?" Kyungsoo interrompeu, antes que aquilo virasse uma discussão sem sentido — porque eles sempre eram capazes daquilo. "Muito bonito, na verdade, e talvez seja por isso que eu fique te olhando, mas nada de ficar se achando, se não eu te jogo daqui pra fora." pontuou com o dedo em riste, fazendo Baekhyun rir.
"Você não teria coragem..."
"Tenta só pra você ver." desafiou, mas desviou o olhar logo após, sentindo as orelhas pegarem fogo. Suspirou. "Eu inflei o seu ego, não foi?" questionou e o outro riu mais uma vez.
"Te consola se eu te dissesse que não?" tentou e o outro bateu no balcão, lhe assustando.
"Ah, que merda, Baekhyun, olha o que você me fez falar pra você!"
O castanho, por mais que tentasse, não conseguiu conter a risada. Estava rendido; aquela era uma face de Kyungsoo que não havia conhecido antes. Um garoto tímido, que soava meio teimoso e rabugento de um jeito... Fofo? É, Kyungsoo era fofo agindo daquele jeito, com as orelhas vermelhas por ter admitido algo que, em teoria, não deveria admitir nunca. E antes que ele se afastasse completamente, o segurou no pulso, o puxando para que se sentasse novamente ao seu lado.
"Okay, então te consola se eu te dissesse que também te acho bonito e que eu estava muito nervoso antes de vir aqui?" Baekhyun tentou uma segunda vez e o mais baixo voltou a atenção para si, com uma expressão surpresa. "Ainda estou um pouco nervoso, na verdade."
"Mas... Por quê?"
"Você ainda pergunta?" arqueou uma sobrancelha. "Isso é um pouco complicado, porque até ontem jurava que te detestava, mesmo que eu te achasse atraente..." suspirou. "Mas aí, aconteceu o que aconteceu ontem e tudo se tornou muito confuso. Aí eu percebi que não te conhecia e isso me incomodou, não consegui esquecer o que aconteceu e... Enfim, eu só queria que você fosse sincero comigo, Kyungsoo."
"Sincero em que sentido?"
"Tsc..." Baekhyun olhou para o outro com indignação. "Você sabe muito bem do que eu estou falando."
"Sem deboche?"
"Para com essa porra!" reclamou, sendo a sua vez de bater no balcão.
"Okay, desculpa..." riu. "Se for do beijo que você está falando, bem..." deu de ombros. "Eu te beijei porque fiquei com vontade. Porque achei que seria um bom momento? Eu não sei, de verdade, eu só sei que em algum momento eu te olhei e fiquei com muita vontade de beijar a tua boca e fui lá e fiz."
Baekhyun se viu sem reação por um momento, acabando por desviar o olhar e cobrir o rosto com a canhota.
"Okay... Eu entendi e agora estou um pouco tímido."
"Bom... Foi você que pediu."
O mais alto assentiu com a cabeça antes de respirar fundo e voltar seu olhar para o moreno, que olhava em direção às janelas. Já era noite, provavelmente estava mais frio do lado de fora, eles não teriam treino naquele dia e não sabia se Kyungsoo tinha compromisso, se estava atrapalhando-o para algo mais divertido do que aquela conversa sem jeito que estavam tendo. Baekhyun queria muito ser mais espontâneo, queria ter sido mais direto em perguntar as intenções do menor sobre o beijo, ou de chegar até ele com atitude o suficiente para sentir a boca dele na sua de novo, mas o Baekhyun da vida amorosa era um bocado diferente do lutador faixa roxa em jiu jitsu. Era difícil para si agir de forma tão ousada.
Contudo, olhar para Kyungsoo e perceber tudo o que não havia percebido antes, lhe era perturbador. Os lábios carnudos, a mandíbula angulosa, o olhar sóbrio... Ele possuía um charme e uma beleza que nunca havia dado conta antes, mesmo que já o achasse bonito antes. O moreno nunca havia sido algo que chamasse tanto a sua atenção como estava naquele momento, e isso fazia seu estômago afundar e as mãos suarem. Como um beijo pode ter resultado nisso? Baekhyun queria tanto beijá-lo de novo, queria devolver os beijos no pescoço que havia recebido, queria vê-lo sem camisa, queria...
"Eu sei que fui eu que pedi..." riu sem graça, não conseguindo buscar um assunto novo em sua mente e deixando que o silêncio caísse sobre eles novamente.
"Baekhyun..." ouviu o moreno chamar antes que pudesse se perder em pensamentos outra vez. "Eu só não quero você me evitando de novo, isso me incomodou demais, entende? Prefiro brigar com você o dia inteiro e perder ou ganhar de você no tatame, do que perceber que você está fugindo de mim. Isso, sinceramente, me deixou um pouco sufocado." confessou com o olhar para o chão e coçou o braço por cima da camisa. "E mesmo que não role nada entre a gente, eu-"
Kyungsoo não conseguiu dizer mais nada ao ser puxado pelo castanho e, por mais que pressentisse o que iria acontecer, não conseguiu evitar o suspiro surpreso quando seus lábios se encontraram com os dele. Depois desse primeiro contato, foi difícil se conter ou impedir que a vontade, já muito alimentada pelas lembranças da noite anterior, lhe tomasse conta. Por isso não pensou duas vezes antes de agarrar a cintura de Baekhyun e abrir mais a boca para que pudesse sentir a língua dele contra a sua. Os ofegos baixos do mais alto, apenas lhe estimularam a se enfiar entre as pernas dele e juntar um pouco mais os corpos enquanto acariciava as costas largas com as pontas dos dedos.
"Hm, eu faço tanta falta assim?" o castanho perguntou após interromper o beijo, dando um sorrisinho de lado e procurando a todo custo ignorar o calor que sentia nas orelhas.
"Tsc, não fica se achando." murmurou contra os lábios do outro, que lhe respondeu com um beijo.
"É que você fala demais." Baekhyun deu de ombros. "Sempre fala demais e depois fica perdendo pra mim nos rolas."
"Você ainda cismando com isso?" Kyungsoo riu, apertando a cintura do mais alto. "Eu vou deixar você ganhar pra te consolar um pouquinho."
Aquilo causava certo estranhamento aos dois, mas ao mesmo tempo experimentavam uma sensação de bem estar que nunca tiveram juntos. Talvez fosse pelo fato de que estavam de guarda baixa, sem os quimonos, sem um tatame para lutar, sem nenhum motivo para disputarem. Havia ali um empate; sem vencedor ou perdedor, após um ato impulsivo e uma atração que provavelmente estava incutida neles há mais tempo do que eles haviam percebido, estavam tendo uma oportunidade de se conhecerem, pela primeira vez, sem o sangue fervendo por um treinamento livre ou uma vitória. Naquele momento em que olhavam perdidos um para o outro — até porque agora era impossível negar que sentiam algo e que esse algo era recíproco —, podiam perceber algumas nuances que nunca tiveram a chance reparar; como a pinta sobre o lábio superior de Baekhyun ou o fato de que os olhos de Kyungsoo eram realmente grandes, mas eram muito bonitos.
Era um recomeço; dariam uma chance para o que algo dentro deles estavam pedindo, porque realmente parecia uma boa ideia, ou talvez fosse porque tinham uma química sem igual. E no olhar, implicitamente estava o acordo de que não mudariam um com o outro, pois a competitividade estava no sangue e eles ainda eram da mesma graduação. Os faixa roxa da Academia de Bucheon continuariam se enfrentando até que fossem para a marrom, para a preta ou até quando eles fossem continuar com o esporte. E se algum deles interrompesse a jornada no jiu jitsu, certamente buscariam uma outra forma de competir.
"Você... tá livre depois daqui?" Baekhyun perguntou, quebrando o silêncio.
"Hm... Vai me chamar para um encontro?" o moreno arqueou uma sobrancelha, rindo.
"Tsc, só escolhe: cinema ou o meu apartamento?"
"Uau" Kyungsoo balbuciou. "Você é direto."
"Não sei a surpresa se eu sou um homem de ação." brincou, fazendo o outro rir.
"Então eu acho que é melhor irmos para o cinema..." começou, beijando a bochecha do castanho e fazendo-o sorrir. "E depois pro seu apartamento, que tal? Eu posso fazer o jantar."
"Nossa, Kyungsoo..." apertou-lhe os ombros, sorrindo largamente. "Assim você me ganha fácil."
"Ótimo, era isso que eu queria mesmo." riu, levando os lábios aos do mais alto, secretamente procurando aproveitar o máximo para provar dos beijos dele.
Talvez eles fossem demorar mais um pouco ali e perder a sessão para o cinema. Mas não havia problema no final das contas; se dependesse deles, depois teriam tempo o suficiente para muitos outros filmes.
백수
"Agora posso dizer que eu estou sempre certo?"
Kyungsoo revirou os olhos, lançando a faixa contra o braço de Sehun, antes de acelerar os passos em direção a academia. Nem sabia exatamente o que havia dado na sua cabeça de contar o que havia acontecido para o amigo, porque sabia que ele falaria algo do tipo. Talvez ele apenas precisasse saber, já que fora tão insistente quanto ao fato de que Kyungsoo e Baekhyun tinham algo a mais para no final o resultado ser o que Sehun já esperava.
"Acho que você me fez uma lavagem cerebral, isso sim." devolveu, fazendo o mais alto rir. "Você falava disso a porcaria do tempo inteiro!"
"Temos que ser observadores, Kyungsoo, é como eu sempre digo." sorriu e deu de ombros, ouvindo o faixa roxa murmurar um “arrogante”. "Eu percebi o que estava debaixo daquela rixa sem sentido, simples assim. E me agradeça, pelo menos agora você tem alguém, não?"
"Não é como se eu precisasse de alguém, Sehun."
"Ah, claro, até porque você nunca namorou na vida." afirmou e Kyungsoo o olhou indignado.
"Se corrija." exigiu. "Eu já namorei sim, idiota! Quando você me conheceu, eu já não namorava, é diferente."
"Se corrija, você." passou pela catraca da entrada da academia, andando pelo corredor estreito que dava em direção às salas. "Deveria eu dizer para o Baekhyun que você não quer nada com ele?"
"Mas eu não disse nada disso!" arregalou os olhos e empurrou o amigo, que riu. "Não coloque palavras na minha boca, seu cretino! Você deveria se preocupar em resolver seu assunto com Minseok."
"Bom..." virou-se para o amigo, sorrindo de lado. "Eu vou resolver isso hoje. Não nasci pra ficar pagando de vela pra um baixinho como você."
Kyungsoo apenas fechou os olhos e suspirou enquanto ouvia a risada do amigo. Sehun não o deixaria em paz por um bom tempo e torcia mentalmente para que Minseok desse uma segunda chance para o faixa preta para mantê-lo ocupado por bastante tempo.
백수
Baekhyun definitivamente era uma pessoa resistente. A prova daquilo era ter o homem mais debochado e inconveniente que já conheceu na vida como melhor amigo. Deveria estar puto, na verdade, com tanta gracinha que vinha de Minseok há mais de dez minutos, mas sabia que a culpa era sua por não ter mantido a porcaria da boca fechada sobre o resultado da noite anterior com Kyungsoo.
"Agora me diz, vai" e o faixa azul continuou, terminando de ajeitar o quimono enquanto o outro guardava suas coisas no armário do vestiário. "A noite foi quente depois do cinema?"
"Ah, mas que porra, Minseok!" não resistiu em praguejar, lançando um chute na coxa do amigo, que gemeu dolorido. "Por que diabos você quer saber disso? Quero ver quando eu te perguntar algo do tipo."
"Você não vai precisar perguntar, porque eu vou fazer questão de dizer." piscou para o faixa roxa, que fez uma expressão de nojo. "E deixa de ser fresco, vai, não é como se você nunca tenha me dito o que fez ou deixou de fazer em uma saída."
"Mas é diferente!"
"Nossa, mas está tão apaixonado assim?" questionou num tom debochado e Baekhyun se poupou em responder um "vai se foder", para o amigo. "Só responde logo."
"Foi." respondeu depois de um longo suspiro e Minseok gargalhou. "Bastante, aliás. Agora você está satisfeito?"
"Vocês são rápidos!" comentou, se afastando para não receber mais um chute bruto do faixa roxa. "Calma!"
"Eu vou ficar calmo quando você deixar de ser um escroto!"
Avançou para cima do amigo, o imprensando contra o armário, dando vários tapinhas na cabeça dele. Tinham sorte de haver poucas pessoas no vestiário e todas elas estarem acostumadas com a cena que se passava ali. O castanho só largou o menor quando este já se mostrava meio fraco de tanto rir, voltando a se sentar no banco de madeira e chutando a mochila de Minseok pra fora do assento largo por pura birra.
"Eu só fico meio assustado com uma coisa." o faixa azul voltou a falar depois de um tempo.
"E o que é?"
"Você tratar o Kyungsoo como você fazia com os outros namorados." torceu as sobrancelhas em uma expressão engraçada. Sentia arrepios só de imaginar Baekhyun cheio de carinho com o outro faixa roxa. "Eu vou ficar realmente enjoado se vocês forem muito grudentos, sério."
"Eu já te mandei ir se foder hoje?" indagou e cruzou os braços, mal humorado.
"Já." riu, interrompendo sua linha de pensamento quando a porta do vestiário abriu ruidosamente. "Olha só quem chegou... Pelo amor de Deus, Baekhyun, me poupe de uma possível diabe- Ai, porra!" se apoiou no armário, sentindo a panturrilha latejar com o chute que o castanho deu. "Deixa de ser bruto!"
"Só cala a sua boca, vai."
Baekhyun não queria admitir, mas estava meio sem jeito enquanto observava Kyungsoo, que brigava com Sehun por algum motivo que desconhecia. Minseok estava realmente certo, eles foram um pouco apressados, mas não tinha culpa se a química deles era boa, era realmente difícil controlar o calor e a vontade de jogar tudo pro alto quando eles se beijavam. O que lhe confortava, pelo menos, era que as coisas não mudariam muito entre eles. Os olhares sempre estavam desafiadores, provocativos, sempre buscavam por algo em que pudessem tirar vantagem um do outro, mesmo que acabassem por ceder em algum momento. Um exemplo disso foi o fato do castanho insistir que sabia fazer um filé melhor que Kyungsoo, enquanto que na verdade sua experiência culinária não passava dos miojos que costumava a comprar na loja de conveniência próximo de sua casa. Mas pelo menos era bom com bebidas, nisso ninguém poderia lhe tirar o mérito.
Só tinha certeza de uma coisa: apesar de toda a guerra que eles travavam para ser um melhor que o outro em qualquer coisa, quando estavam sozinhos, as coisas tendiam a dar certo até demais.
A noite anterior que o diga.
Quando Kyungsoo finalmente percebeu a sua presença ali, tratou de estufar o peito e lançar um sorriso torto para ele, mostrando a arrogância típica que possuía — porque ele realmente se achava um dos melhores lutadores ali, não era fingimento nenhum. Contudo, não estava preparado para receber um sorriso bonito em troca e, quando o moreno chegou próximo o suficiente de si, apenas puxou a sua cintura, lhe pegando de surpresa com um beijo rápido como cumprimento e lhe deixando um pouco envergonhado.
"Sua faixa está torta." Foi a primeira coisa que Kyungsoo disse, prendendo uma risada enquanto ajeitava o pedaço de pano na cintura do maior, que percebeu que ele estava tirando uma com a sua cara.
"Você jogou baixo, seu cretino." xingou e o moreno não segurou a risada dessa vez.
"Não faça essa pose de dono da casa pra mim, Baekhyun, isso me deixa com vontade de colar sua cara no tatame." sorriu, terminando de ajeitar o quimono do castanho e dando mais um beijo, que foi correspondido pelo outro em meio a uma risadinha.
"Tão carinhoso que me deixa fraco." soltou, irônico. "Depois que eu te fizer beijar o chão hoje, você me diz quem beija melhor."
"Com certeza é o chão."
"Ei!"
A possível guerra que seria iniciada ali foi interrompida pela gargalhada de Minseok, que estava encostado no armário atrás de Baekhyun. Foi quando o castanho se lembrou do fato pendente entre o amigo e o faixa preta e sorriu animado, deixando Kyungsoo confuso.
"Vocês começaram bem!" o faixa azul soltou, ainda com uma sombra do riso na voz.
"Pois é, e você tem que começar também." Baekhyun afirmou e o amigo lhe olhou sem entender. "Até porque você precisa sair da seca e nada melhor do que um faixa preta com mais de um metro e oitenta pra apagar o fogo do seu rabo, não é, Sehun?"
"O que?" Minseok praticamente gritou, olhando constrangido para Sehun enquanto o melhor amigo e Kyungsoo riam. Ficou perdido e sem saber o que dizer por um segundo ou dois, antes de soltar: "Deixa de ser escroto, porra!"
"É como dizem..." deu de ombros, puxando o moreno consigo para fora do vestiário. "A vingança é um prato que se come frio. E depois eu quero os detalhes da sua noite quente com o garanhão aí!" e saiu junto do outro faixa roxa, sem dar a chance do melhor amigo de se defender.
Um silêncio desconfortável se fez presente entre os dois que sobraram e Minseok queria poder dizer qualquer coisa antes de meter o sebo nas canelas e, quem sabe, encher Baekhyun de porrada por culpa daquela situação. De longe era um cara tímido, mas não deixava de ser chato o fato de ser jogado para cima do cara que não tinha chances — ou pelo menos era o que achava, pois desde aquele dia, eles nunca mais se falaram.
"Olha, Sehun..." começou sem jeito, fingindo que estava mexendo na própria mochila antes de jogá-la numa das vagas do armário. "Apenas esqueça o que aquele idiota disse, okay?" pediu, sorrindo sem graça e procurando uma brecha para escapar dali, contudo, sentiu-se impedido quando Sehun escorou-se ao seu lado, lhe encarando com a típica expressão séria e bonita na face.
"Acho que precisamos conversar, não?"
"Ah... Pois é!" riu. "Eu deveria te agradecer, porque acredito que você fez parte do processo de convencer seu amigo a dar uma chance para o meu, certo?"
"Na verdade, eu também fui pego de surpresa, mas isso não é relevante. Eu quero falar sobre a gente, Minseok." o faixa preta declarou, deixado a expressão mais amena e demonstrando um pouco de cansaço também. Poderia dizer que Kyungsoo não havia ficado pra trás com o seu papel de fazer Sehun sentir-se culpado por ter vacilado com o faixa azul, enquanto não sabia como se aproximar para pedir as devidas desculpas. O amigo, por outro lado, era direto; "Apenas seja sincero." E ele também estava certo por todo aquele tempo.
Sehun achava Minseok lindo. Ele tinha um jeito jovem e extrovertido que lhe contagiava — porque sempre foi bastante comedido em toda sua vida — e, apesar de ter sido péssimo em chegar em si com umas cantadas bem ruins, não conseguiu evitar de pensar que seria bom ter algo com o garoto mais baixo quando percebeu que ele realmente estava querendo tentar algo consigo.
E ali estava a oportunidade, lhe olhando meio perdido, por vezes desviando a atenção para sua boca como se não fosse perceber, como se estivesse o tempo todo com vontade de lhe beijar. Sehun também queria beijar Minseok e se achou um grandessíssimo babaca quando criou todo aquele mal entendido entre eles, fazendo-o afastar-se de si. Agora tinha que dar um jeito de ter uma chance com o baixinho.
"Olha..." o faixa azul começou, um pouco hesitante. "Não... Não acha que a nossa página já virou?" indagou, tentando se afastar, mas Sehun lhe segurou pela cintura delicadamente, o mantendo ali sem esforço.
"Tem certeza?" insistiu e, com o bufar do outro, resolveu por soltá-lo. "Eu não vou ser chato com você nem nada se você me disser um não, mas se você puder me dar uma chance..."
"Engraçado que há algumas semanas quem estava pedindo uma chance era eu." Minseok riu com a situação, um pouco sem humor. "Eu não quero, sei lá, que você fique comigo por pena ou algo do tipo."
"Ah, Minseok, não seja assim, vai..." reclamou. "O único motivo que me faz querer ficar com você, é porque eu estou interessado." afirmou, um pouco chateado consigo mesmo. "É isso que você quer saber? Eu te acho bonito pra caramba, eu gosto do seu jeito, mas acabei cometendo um erro e todo esse mal entendido se criou. E agora só quero uma chance para a gente se conhecer melhor, por favor..."
Minseok engoliu em seco, sentindo-se jogado em um grande dilema. Deveria dizer não, estava com o orgulho ferido e não conseguia esquecer do jeito meio frio em que o mais alto falou consigo naquele dia, contudo, como resistir aquele jeito pidão e manhoso do outro? Ele estava tão perto e era tão bonito, e isso deixava o mais alto sem conseguir pensar direito, ainda mais com aquele bico naquela boca bonita que o faixa preta tinha. Era realmente difícil não cometer nenhuma loucura com um cara como Sehun tão disposto a ter alguma coisa consigo.
"A gente pode ver isso depois da aula?"
"Ah, caramba, Minseok!" resmungou, cruzando os braços e o mais baixo quase riu.
"É sério, eu não vou ir embora." prometeu, quebrando a distância que havia imposto. "A gente pode marcar pra sair, pra jantar ou algo do tipo, se você quiser."
"Eu quero."
"Então... Falamos sobre isso depois da aula, tudo bem?" esperou o outro assentir para se afastar, mas foi novamente segurado. "O que foi?"
"Eu... quero um beijo seu, antes da aula." pediu e Minseok riu.
"Mas você disse que não-"
"Shhh... Esquece o que eu disse naquele dia." Sehun falou, visivelmente sem jeito enquanto mexia na faixa do menor. "Faltam cinco minutos pro início da aula, ninguém mais entra no vestiário nesse horário e eu não me importaria de me atrasar um pouco. O que acha?"
O faixa azul ficou em silêncio por um tempo antes de suspirar, rendido.
"Eu acho que você me convence muito fácil, isso sim." reclamou e o mais alto riu. "Vem cá."
E sem perder tempo, puxou Sehun pela faixa, colando os lábios dele nos seus, logo sentindo os dedos longos acariciarem sua nuca enquanto enlaçava seus braços pela cintura estreita do maior. Se nem o mais certinho aluno da aula de jiu jitsu se importava de perder um tempo apenas para ficar consigo, por que iria reclamar, afinal? Só esperava que não perdessem a noção do tempo na boca um do outro e tivessem que enfrentar as punições do sensei Jung depois.
                                         백수
Quando Sehun e Minseok aceitaram o convite de Baekhyun para passarem a tarde na casa dele junto de Kyungsoo, nunca pensaram que seria tão difícil.
Quer dizer, eles já imaginavam o quão geniosos ambos os faixa roxa eram, mas não pensavam que aquela provocação fosse, literalmente, ser levada para fora do tatame. Não sabiam como os dois poderiam dar certo se em tudo tentavam tirar vantagem ou ver quem era um melhor que o outro. O mais incrível daquilo era que, quando pensavam que tudo iria virar um caos e uma briga fosse explodir ali mesmo, eram surpreendidos por risadas que quebravam aquela tensão instalada por Baekhyun e Kyungsoo.
Talvez fossem demorar um pouco a se acostumarem com aquilo, mas era a forma como o relacionamento deles, aparentemente, funcionava.
Por outro lado, o relacionamento entre o faixa azul e preta, evoluíam de uma forma mais lenta, o que era motivo o suficiente para o castanho zoar o melhor amigo, já que nos relacionamentos anteriores, Minseok era o que costumava a ser o mais apressado. Ele poderia até se acostumar com a zoação do amigo, mas iria guardar aquilo para devolver em uma boa oportunidade, com certeza.
"Agora você vai admitir que o meu smoothie de morango e banana é melhor que o seu?" Baekhyun questionou de braços cruzados, observando o namorado tomar a bebida que havia acabado de fazer.
"Bom..." Kyungsoo iniciou, dando mais um gole. "Você faz menos doce do que eu costumo fazer, mas está mais gostoso sim." disse, e o castanho soltou um grito de comemoração.
"Eu falei pra você!" apontou. "Eu sou bom com tudo quanto é tipo de bebida, tenha ciência disso."
"Bom, eu não sei se você consegue fazer cafés tão bem quanto eu, mas..."
"Vamos ver, então." interrompeu, desafiador.
"Vem cá..." Sehun resolveu intervir, um pouco perdido com aquele bate-rebate dos dois. "Vocês têm certeza de que esse namoro vai dar certo?"
"Temos." responderam juntos. "Já está dando, aliás." o castanho completou.
"Sehun" Minseok chamou, abanando a mão em frente ao rosto. "Eles se entendem desse jeito, nem esquenta." pediu e o faixa preta apenas deu de ombros, dando um beijo no rosto do menor em seguida.
"Aliás, vocês gostaram dos sanduíches?" Kyungsoo quis saber e os meninos assentiram. "Isso eu tenho certeza que Baekhyun não consegue fazer tão bem."
"Ah, nisso eu realmente não me meto, não sei cozinhar direito. Acredito que sou capaz de errar até na hora de colocar uma fatia de tomate no sanduíche." admitiu e caminhou em direção ao namorado, ouvindo a risada dele e dos amigos. Vezes ou outra achava tão irônico aquela atual situação, mesmo que se sentisse tão confortável ao lado do moreno. Era o primeiro mês juntos e conhecer o quão bom Kyungsoo poderia ser, mesmo que muitas coisas continuassem as mesmas, era algo novo e igualmente agradável. Abraçou o corpo menor que o seu, dando-lhe um beijo no pescoço. "Quem topa mais uma rodada de Super Smash Bros.?"
"Eu topo!" Sehun se adiantou, largando o copo e o prato na mesa antes de gritar. "Eu quero ir primeiro!"
"Então... vamos casal contra casal, né?" Minseok soltou e riu, seguindo para a sala. "Porque eu não quero esperar para jogar!"
"E você não cansa das surras que te dou no vídeo game, Baekhyun?" o moreno perguntou ao namorado ao chegar na sala, se apoiando nas costas do sofá enquanto observava os amigos escolherem os personagens do jogo, logo sentindo os braços do castanho enlaçarem sua cintura.
"Você é muito engraçadinho, não? Vamos ver quem vai levar uma surra mais tarde, bonitão." sussurrou em resposta, beijando a nuca do menor.
"Bom..." Kyungsoo deu de ombros. "Pelo menos 'bonitão' é um apelido melhor dos que você me dava antes" concluiu e ouviu o maior rir.
"E quanto a mim?"
"Ah, arrogantezinho de merda ainda combina bastante com você." respondeu, contando três segundos antes de sentir Baekhyun se afastar de si com um olhar indignado.
"Vai pro inferno, Kyungsoo!"
Pronto, era o que bastava para que começassem tudo de novo.
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#11 The wrong spell that worked
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Título: The wrong spell that worked Número do Plot: #43 Sinopse: Chanyeol e Baekhyun são colegas de classe e vivem em pé de guerra, sua professora de literatura já de saco cheio dos dois, resolve lançar um feitiço neles para que percebessem que tinham mais em comum do que achavam. Ela só não sabia que o feitiço errado, iria dar certo. Couple: Chanbaek Avisos: fem!chanyeol, hétero
¹ Essa frase sobre as calcinhas pretas vem do filme ‘10 coisas que eu odeio em você’ em que eles dizem que as garotas que tem calcinha preta, são as que pensam em fazer sexo.
Mais uma vez Choi Danbi estava tendo que presenciar a briga entre dois alunos seus, em sua aula, pela quinta vez consecutiva.
Era a mesma ladainha toda segunda-feira, que é o dia em que suas aulas de Literatura aconteciam. Ela já estava cansada desses dois alunos, eles sempre arranjavam alguma coisa para brigar em sua aula, mesmo que fosse sobre os dois terem um caderno com a capa igual. Danbi não aguentava mais ter a sua aula interrompida por Chanyeol e Baekhyun, já bastava ter que lidar com os problemas pessoais que tinha, esses que não eram nem um pouco normais.
Danbi tinha um segredo que era muito bem guardado por si, algo que se contasse para os outros iria ser chamada de louca, com toda a certeza. Ela guarda um segredo que é passado de geração a geração, um segredo que é visto como algo fantasioso e impossível para as pessoas ‘normais’. Danbi é uma feiticeira, algo que seu pai passou para si. O problema não é ser uma feiticeira, mas sim ser uma feiticeira fracassada. Poderia estar em outro ramo, fazendo qualquer outra coisa se fosse boa com os feitiços, infelizmente Danbi não tem as habilidades do pai, ela é uma desajeitada com feitiços, todos dão errado!
Mas Danbi não desiste, por mais que ela saiba que seus feitiços têm uma probabilidade de dar 100% errado, ela continua tentando. Uma cabeça dura desde sempre.
Sendo teimosa como sempre, Danbi resolveu dar vida a sua ideia de fazer alguma coisa em relação a Chanyeol e Baekhyun. Não aguentava mais as brigas, só queria que eles começassem a se dar bem. Sua ideia era lançar um feitiço neles que fizesse com que eles vissem o lado bom que cada um tinha, quem sabe até virando amigos no final.
Então, assim que ela deu uma bronca em seus dois alunos e teve de deixar a sua sala de aula para acompanhá-los até a diretoria, apenas para ter certeza de que eles não iriam tentar escapar. Ela aproveitou que estava atrás deles a uma distância segura, e discretamente juntou as duas mãos em uma concha, soprando palavras em uma língua estranha no espaço entre as duas mãos.
Se os dois tivessem virado para trás, teriam visto que sua professora estava com uma aura verde brilhando a sua volta, algo impossível de não se notar, assim como seus olhos terem ficado de uma cor dourada, tudo por causa do poder que estava correndo por suas veias, pronto para ser usado.
Danbi terminou de sussurrar as palavras que ela achou serem as certas para o feitiço e separou as duas mãos, assoprando a energia flutuante que tinha ficado nelas na direção de Chanyeol e Baekhyun, vendo pontinhos cintilantes da cor verde rodeando-os.
Tinha certeza que dessa vez seu feitiço iria dar certo, tinha colocado toda a sua força de vontade nele... Tinha que dar certo!
Danbi só não sabia que o feitiço que ela tinha jogado em cima dos dois, não era o que ela achava que tinha feito.
(...)
Chanyeol estava sentada de frente para a mesa do diretor de braços cruzados e emburrada. Ela não tinha feito nada de errado, tinha sido Byun Baekhyun enchendo a sua paciência de novo. Não tinha sido a sua culpa se Baekhyun tinha começado a querer debater sobre o assunto da aula com ela, a interrompendo o tempo todo enquanto falava. Se não fosse por isso, eles não estariam na diretoria!
O Byun e a Park estavam escutando o sermão do diretor como sempre, eles quase sabiam o discurso dele de cabeça. Porém dessa vez estava diferente por um único motivo, o diretor Kim decidiu que os dois iriam receber uma detenção, essa que seria os dois arrumarem a quadra da escola depois dos jogos e treinos que acontecerem nela, por três semanas.
O diretor nunca tinha dado um castigo para os dois, já que achava que uma hora eles iriam se entender sozinhos, mas com o tempo tudo apenas passou a piorar. Então ele resolveu tomar uma atitude logo.
Chanyeol estava irritada por ter que perder seu tempo na escola, tendo que, consequentemente, ir mais tarde para casa e perder seu precioso tempo que usava para desenhar e pintar, era seu momento de paz no dia.
Já Baekhyun estava bravo pela detenção acabar pegando os dias de seu treino de vôlei, fazendo com que tenha que ficar até mais tarde na escola para que pudesse limpar a quadra com a Park. Ele estaria cansado, caralho! Por que o diretor tinha que ser um cuzão? – era o que ele pensava enquanto fazia cara feia para o que o diretor ainda estava falando.
Claramente os dois não estavam nem um pouco satisfeitos com a decisão do diretor, porém não podiam fazer nada para que isso fosse mudado. Então apenas se retiraram da sala quando lhes foi permitido e sentaram em um banco que tinha ao lado da porta da sala do diretor, esperando o sinal tocar para a troca de período.
Quem olhasse de fora acharia estranho ver os dois sentados naquele banco, de braços cruzados e de costas. Pronto, a semente da birra foi plantada.
(...)
O diretor Kim tinha deixado claro que Baekhyun e Chanyeol começariam a limpar a quadra da escola apenas no dia seguinte. Então o Byun e a Park foram para casa de mau humor, já pensando na droga que seria ter que passar o final do dia um ao lado do outro.
Os dois foram dormir quase que no mesmo horário, por algum motivo estavam mais cansados que o normal. Foi só eles deitarem na cama que o sono deu as caras, não demorando para que pegassem no sono e tivessem uma das melhores noites de sono de suas vidas. Apenas alguém com percepções mágicas notaria um fino fio luminoso saindo do corpo adormecido de Chanyeol e fazendo um caminho até a casa de Baekhyun e vice-versa.
O feitiço de Danbi estava para se concluir.
(...)
Chanyeol acordou com o som do despertador em seus ouvidos, porém logo deslizou o dedo pela tela do celular o desligando, voltando a fechar os olhos e resmungar de sono. Estava se sentindo ótima, sentia todo o seu corpo relaxado, nunca tivera um sono tão bom assim. Queria ficar mais tempo deitada na cama, mas tinha que ir se arrumar para ir para o colégio. Sentou-se na cama, ainda de olhos fechados, e lentamente levantou-se, demorando para abrir os olhos.
Porém quando abriu os olhos, não soube como reagir. Não estava em seu quarto!
Tudo que tinha no quarto lhe era estranho! Posters de bandas e de jogos pelas paredes, um troféu em uma estante e várias roupas e objetos espalhados, uma bagunça total. Nunca tinha visto aquele quarto na sua vida e estava muito distante de ser parecido com o próprio. Estava pronta para ir até a porta e abri-la, quando ouviu batidas vindo dela.
— Baekhyun-ah, já acordou? Você tem que ir para a aula. — Baekhyun? Como assim, Baekhyun? — Baekhyun...? Menino, você não tá ouvindo eu te chamar? — E a porta foi aberta, revelando uma mulher aparentemente entre os 40 anos de idade. Ela era bem bonita, mas Chanyeol estava mais confusa que tudo. Como assim Baekhyun? Por que ela estava chamando por esse tal de Baekhyun?
— Por que você não me respondeu se já está acordado? Gosta de fazer a sua mãe de boba, é? Terminar de se arrumar logo, antes que eu tire a mesa e te deixe sem café da manhã! — Ralhou lhe olhando de modo ameaçador e saiu do quarto, fechando a porta em seguida.
Chanyeol deu uma rápida olhada pelo quarto para ter certeza de que estava sozinha, apenas para confirmar de que aquela mulher estava falando consigo e tinha a chamado de Baekhyun e filho. Estava mais perdida que cego em tiroteio.
Voltou a sua atenção para uma porta que tinha dentro do quarto, deduzindo ser a do banheiro e foi na direção da mesma, acertando em cheio. A primeira coisa que fez foi entrar e se olhar no espelho, sem rodeios. Tinha algo passando pela sua cabeça, mas parecia impossível de acontecer! Porém quando se olhou no espelho, levou um susto. Não estava vendo Park Chanyeol com seus cabelos compridos e castanhos, nem seus olhos grandinhos e sua boca grossa, nem as suas preciosas orelhas. Estava olhando para a aparência de Byun Baekhyun, cabelos curtos, olhos pequenos e lábios finos.
Chanyeol estava pasma, tocava o rosto de Baekhyun, quer dizer, seu rosto de forma embasbacada. Estava sonhando? Tendo um pesadelo?
Não estava entendendo nada, estava no corpo de Baekhyun? Era isso? Como que isso tinha acontecido? Tantas perguntas e Chanyeol só conseguia ficar mais confusa ainda com elas.
Parou de olhar para... seu rosto no espelho e desceu o olhar para o corpo, arregalando os olhos quando se deu conta de que agora tinha um... ah meu deus! Tinha um pênis entre as pernas! E o pior era que ele estava semiereto.
Chanyeol arregalou os olhos e teve que começar a se abanar com as mãos, pois começou a se sentir muito quente, toda a situação estava lhe deixando nervosa. Não ficaria surpresa se acabasse desmaiando. Ignorou o que tinha entre as pernas e tentou controlar a sua respiração, respirando lenta e profundamente; aos poucos se recuperando. Assustou-se quando voltou a ouvir batidas na porta do quarto, ouvindo a voz da mãe de Baekhyun em seguida.
— Baekhyun! Eu não vou vir aqui te chamar de novo! Você vai se atrasar, termina de se arrumar e desce logo! — Ouviu a porta do quarto bater e soltou o ar que tinha prendido sem que percebesse.
Teria que sair do quarto e fingir ser Baekhyun, não tinha outra solução. Chanyeol então soltou um suspiro e voltou para o quarto, passando a procurar um uniforme limpo no armário de Baekhyun. Fazia uma careta diferente a cada roupa estranha que via, não ficando surpresa pelo estilo do Byun. Ele sempre ia todo desarrumado para a escola... mas agora, ela estava no comando do corpo dele e do senso de moda também, o que fez com que Chanyeol abrisse um sorriso sapeca, vendo um lado positivo em toda aquela meleca sem sentido que tinha acontecido do nada.
Pegou o uniforme quando o achou, iria fazer uma mudança completa no visu de Baekhyun, iria deixar ele apresentável uma vez na vida, só não iria tomar um banho, não estava preparada para esse trauma ainda.
(...)
Baekhyun teve uma reação muito diferente de Chanyeol, de primeira ele tinha fico assustado, mas logo começou a rir da situação. Na verdade, ele estava entrando quase em pânico. Não sabia como reagir e a sua vontade era de sair correndo daquele quarto que não era seu, daquela casa que também não era sua e também se livrar daquele corpo estranho... que também não era seu.
Então, por ele não saber o que fazer... ele ria. Ficou rindo até a sua barriga doer e começar a sair lágrimas de seus olhos. Quase pegou o embalo das lágrimas de risos para chorar. Mas Baekhyun logo tratou de se recompor e pensar em alguma coisa. Tinha que ir para o colégio, tinha que falar com Chanyeol, urgente!
Pegou o uniforme da garota e enfiou-se dentro da saia e da camisa de manga curta de qualquer jeito, não se importando se tinha ficado tudo amassado, um pedaço da camisa para fora da saia, tanto faz, só queria sair logo e resolver essa coisa louca, parecia coisa de filme!
Terminou de se arrumar e a fazer o que básico que achava que uma garota faria, pegou a mochila de Chanyeol e saiu de dentro do quarto. Passou pela sala e levou um susto quando apareceu uma mulher a sua frente.
— Chan, eu já ia te chamar. Mamãe desistiu de te acordar depois do que aconteceu ontem... por que você tá toda desarrumada? — Baekhyun ficou parado olhando para aquela garota na sua frente, sem saber o que falar. Tinha esquecido completamente da família de Chanyeol.
— Ah, vai ser assim então? Não pensei que você ia ficar desse jeito por causa daquela bobagem. — Revirou os olhos. — Vai comer algo antes que a mãe fique louca. — E saiu de perto de si.
Baekhyun não queria, mas resolveu ir comer algo. Ele só queria resolver logo tudo isso.
Chegou na cozinha e viu a mãe de Chanyeol sentada à mesa comendo, deu um bom dia baixinho e sentou-se também, apenas respondeu balançando a cabeça até terminar de comer. Deu um rápido tchau e saiu quase correndo de dentro da casa. Felizmente sabia o caminho até a escola. Entrou no prédio da mesma e foi até a sala de aula, sentou-se e ficou esperando que Chanyeol chegasse, ela provavelmente estaria em seu corpo, não?
Estava quase roendo as unhas de Chanyeol quando viu a si mesmo entrando na sala de aula... foi a sensação mais bizarra que já teve na vida. Estava se vendo, ao vivo, e não por um espelho. E o pior era que a sua imagem estava toda arrumadinha e bonitinha, aquilo só podia ser obra de Chanyeol.
— Caralho isso é muito bizarro. — Baekhyun ouviu a sua própria voz dizendo, voltando a sentir aquela vontade de cair na risada em pânico, mas se conteve.
— Eu sei, eu tô muito confuso.
— Acho melhor a gente conversar em outro lugar. — Chanyeol falou olhando em direção a alguns alunos que estavam na sala. — Vem. — E saiu puxando Baekhyun pelo pulso.
Quem via os dois andando juntos pelos corredores, achava aquilo completamente estranho, todo mundo os conhecia por causa das brigas. Mas tudo naquele dia estava estranho.
Os dois acabaram na quadra da escola mesmo, era o local mais vazio no momento. Sentaram-se nas arquibancadas e ficaram se olhando, tudo ainda era muito improvável, mesmo que estivesse ali na cara deles.
Baekhyun levantou a mão para tocar na ‘sua’ bochecha, que agora era de Chanyeol, mas teve a sua mão afastada por um tapa.
— Não toca em mim!
— Mas eu quero ver o quão real isso é.
— Mas eu não quero que você toque em mim.
— O corpo é meu! Não é porque você tá nele agora, que pode mandar nele. — Reclamou e levou novamente a mão para o rosto, conseguindo o tocar antes que Chanyeol o impedisse.
— Meu deus isso é muito bizarro, eu tô tocando em mim mesmo! — Gritou recolhendo a mão e tapando o rosto com ela em seguida.
Enquanto isso Chanyeol sentia seu coração... quer dizer, o coração de Baekhyun, bater loucamente em seu peito, assim como as bochechas começarem a ficarem quentes. Não entendia o que tinha acontecido para ficar assim, tinha sido o toque que tinha recebido de Baekhyun? Impossível.
Tratou de se recompor e voltou a falar:
— Você é muito teimoso... quero dizer, teimosa. Eu não sei por que estamos assim, eu não sei o que aconteceu. — Começou falando, vendo Baekhyun parar de tapar o rosto e olhar para si. — Mas vamos ter que aceitar isso até que uma solução apareça. Então de agora em diante você é Park Chanyeol, uma garota. E eu sou Byun Baekhyun, um garoto.
— Mas como você vai ser Byun Baekhyun, se você não sabe jogar vôlei? — Baekhyun perguntou exasperado, já pensando no treino dali três dias. — Isso não vai dar certo.
— Você tem outra solução? — Perguntou levantando uma das sobrancelhas, logo vendo Baekhyun balançar negativamente a cabeça. — Então vamos ter que seguir com esse plano.
(...)
Se eu disser que foi fácil e que os dois se deram bem com essa troca de corpos, estaria mentindo. Baekhyun não conseguia agir como uma mulher, volta e meia ele estava sentado de pernas abertas, mesmo usando uma saia e Chanyeol tinha que ficar o tempo todo na volta dele para poder dar uns cascudos nele.
— Será que dá pra você sentar direito? A minha calcinha vai aparecer! — Chanyeol reclamou batendo no braço de Baekhyun.
— Você quis dizer a minha calcinha, né? — Baekhyun perguntou de forma debochada. — Adorei saber que você tem calcinhas pretas¹. — Sorriu de forma arteira, caindo na risada quando começou a apanhar de Chanyeol, era muito divertido irrita-la.
Chanyeol além de ter que ficar de olho em Baekhyun, algo que não estava se saindo muito bem, também estava a mais de vinte minutos querendo ir ao banheiro, mas se negava a todo o custo a fazer xixi com um pênis. Baekhyun só sabia rir de Chanyeol, isso porque ele ainda não tinha sentido vontade de ir no banheiro também, claro.
Isso até o intervalo acabar.
— Caralho eu tô me mijando. — Baekhyun murmurou cruzando as pernas enquanto ia em direção a sala de aula, junto de Chanyeol.
— Vai, ri agora, palhaço. — Chanyeol debochou fazendo uma careta pela vontade de ir no banheiro também.
Só para acrescentar, os dois estavam andando juntos desde que chegaram, volta e meia recebiam olhares estranhos dos colegas, mas faziam questão de ignorar. Só queriam evitar problemas.
— Ai, não vai dar. Vamos no banheiro, é agora ou nunca. — Baekhyun falou e começou a empurrar Chanyeol em direção ao banheiro, mesmo ela protestando o caminho inteiro que não queria.
Bastou os dois chegarem na frente do banheiro para que fizessem a bobagem de entrar no errado. Chanyeol entrou no das garotas e Baekhyun no dos garotos. Baekhyun só foi entender o porquê de dois garotos estarem olhando estranho para ele, quando se viu no espelho e lembrou-se que estava no corpo de Chanyeol.
Já Chanyeol teve a má sorte de encontrar uma das líderes de torcida dentro do banheiro, que lhe lançou um olhar aterrorizado que ela não demorou muito para entender.
Os dois saíram dos banheiros rapidamente.
— Opa, trocamos. — Sorriram amarelo e trocaram de lugar, dessa vez cada um entrando no banheiro certo.
O primeiro que teve a coragem, foi Baekhyun. Foi estranho e completamente bizarro, mas ele conseguiu se virar do jeito que pode. Sua vontade era de sair correndo pelado mesmo, não queria de jeito nenhum tocar na preciosa de Chanyeol, mas tinha certeza de que se não se limpasse, iria apanhar em dobro.
Já Chanyeol no outro banheiro, estava perdida. Baekhyun tinha comentado como era enquanto conversavam, mas não estava se sentindo muito segura. Assim como não queria olhar para o pênis dele. Apenas criou coragem quando ouviu batidas na porta do banheiro e a sua voz a chamando.
— Já terminou aí?
— Não... eu não consigo!
— Abaixa logo essa calça e bota o dragão pra chorar! — Chanyeol olhou de forma desacreditada para a porta com o que Baekhyun tinha dito, mas acabou fazendo o que ele estava dizendo.
Colocou o dragão para chorar, mas não fez questão de ver se ele tinha chorado no lugar certo.
Saiu do banheiro depois de lavar as mãos, sentindo-se feliz por ter mijado e um pouco traumatizada.
— E aí, como foi? — Baekhyun perguntou em expectativa.
— Eu acertei tudo, menos onde eu tinha que mijar. — Chanyeol respondeu e saiu andando rapidamente na frente, com vergonha.
Baekhyun não conseguiu se conter e acabou caindo na risada, já imaginava que iria ser assim.
(...)
O dia acabou correndo para Baekhyun e Chanyeol. Tentaram ficar o mais próximos possível, porém nem sempre conseguiam. Os amigos de Baekhyun ficavam o tempo todo estranhando o comportamento dele, afinal, ele mal parava para falar com eles e volta e meia era visto rebolando por aí. Os dois tinham combinado de não se separarem para não gerar confusão, tipo alguém falar alguma coisa que não devia. Os dois tinham a sua reputaçãozinha, mesma que mínima e não queriam que ela fosse para o beleléu. Chanyeol sentia um arrepio na espinha toda vez que pegava algum amigo de Baekhyun a encarando.
Mas não era só com ela, Baekhyun também estava sendo o tempo todo abordado pelas amigas de Chanyeol. Diferente de seus amigos, as amigas de Chanyeol eram diretas e o paravam para tirar as questões a limpo, quase que o tempo todo.
Por isso o dia deles passou voando, eles ficavam mais concentrados em não fazer besteira e fugir dos outros, do que nas aulas em si.
Sempre que viam uma brecha no grude que Baekhyun e Chanyeol estavam, como a cada intervalo entre as aulas, as amigas de Chanyeol atacavam. Fosse para falar sobre o novo drama que estava passando na televisão, sobre algum youtuber ou até mesmo algum grupo novo que tinha debutado. Baekhyun que se sentia um galã por estar rodeado de garotas - mesmo estando no corpo de uma - e com isso, vinha as suas respostas recheadas de segundas intenções, o que faziam as amigas de Chanyeol ficar com um pé atrás com a amiga, querendo saber se ela estava bem mesmo, ainda mais com todo aquele jeito de moleque de repente.
Baekhyun também fazia isso para irritar Chanyeol, achava muito engraçado como a garota reagia quando ficava com raiva de si. A única coisa ruim é quando ela lhe batia, pois não estava acostumado com a sensibilidade do corpo dela, o que fazia os tapas doerem mais do que estava acostumado.
Era até tranquilo falar com as amigas de Chanyeol, por mais que elas estivessem estranhando o comportamento dela, elas ignoravam por achar que Chanyeol devia estar em seus dias.
Já Chanyeol não teve tanta sorte assim. No intervalo para o almoço, quando Baekhyun foi no banheiro e Chanyeol seguiu para a cantina, foi o momento em que os amigos de Baekhyun resolveram dar o bote. Chanyeol foi pega de surpresa e ficou sem reação enquanto era bombardeada de perguntas.
— Baekhyun, como assim você foi visto entrando no banheiro feminino? Tá pegando alguém e não nos contou?
— Por que você tá andando por ai com a Chanyeol?
— Tá nos ignorando por que, ein? Vai nos trocar por uma garota agora, é?
— Cara, o que anda acontecendo com você? Só essa manhã eu te vi rebolar pra lá e pra cá e ficar mais vermelho que um tomate. Nem parece o Baekhyun que é o capitão do time de vôlei da escola que desmaia qualquer um com um saque.
Chanyeol mais gaguejou do que falou quando teve que responder cada pergunta que estava sendo feita, mas eram muitas, uma atrás da outra, estavam a deixando mais confusa que qualquer coisa. Como que iria explicar que não era o Baekhyun e por que estava dando zero fodas para eles a manhã inteira? Não ia, óbvio. Do nada as perguntas mudaram para um outro tópico estranho, sobre Baekhyun estar de novo com aquele negócio sobre a Park. Negócio? Mas que negócio? Chanyeol ficou muito confusa e não teve tempo de perguntar sobre isso, pois do nada foi arrastada para longe deles por um Byun com os olhos arregalados, parecendo levemente assustado.
Chanyeol queria perguntar para Baekhyun o que significava aquilo que os amigos dele tinham dito, mas tinha medo do que ele poderia responder. Então resolveu ficar quieta, quem sabe descobriria isso sozinha.
O resto do tempo de aulas passaram se alfinetando e corrigindo a postura um do outro, novamente só faltando saírem nos tapas. Os dois não conseguiam ficar muito tempo sem discutir, era mais forte que eles, mas por estarem o dia todo juntos, acabaram se acostumando e as vezes até davam risada das discussões, concordando que eram idiotas e sem fundamento.
Quando as aulas acabaram, tiveram que se preparar para a tortura de limpar a quadra da escola.
(...)
Chanyeol e Baekhyun tinham pegado alguns baldes, produtos de limpeza e tudo mais que precisaria para limpar a quadra. Primeiro recolheram as bolas que ficaram perdidas nela por causa da educação física que teve com alguma turma e depois começaram a passar o esfregão molhado na quadra.
Baekhyun parou com o que estava fazendo e soltou um suspiro cansado e frustrado.
— Como que você consegue viver com isso? — Perguntou para Chanyeol, vendo ela parar de esfregar o chão e lhe olhar confusa.
— O que?
— Como que você consegue viver com isso aqui? — Apontou para o cabelo comprido. — Eu tô quase morrendo de calor aqui, isso aqui só tá piorando tudo.
— Ah... entendi. — Chanyeol murmurou colocando uma mão na cintura enquanto se apoiava no esfregão. — Pensei que você entendesse tudo de garotas, devia saber pelo menos prender o cabelo. — Debochou dando uma risada no final. Lembrava-se de quando, no meio de uma briga, Baekhyun tinha dito para ela que era um especialista em garotas.
— Você não esquece nada. — Baekhyun fez uma careta depois de ouvir o que a garota tinha dito. Endireitou a postura e cruzou os braços, não estava acostumado a pedir favores, então sentia-se um pouco envergonhado. — Será que você pode me ajudar?
— O que? Não ouvi direito. — Chanyeol se fez de surda e colocou a mão no ouvido, aproximando-se de Baekhyun.
— Eu sei que você ouviu! — Reclamou. — Não vou repetir.
— Hm... eu vou te ajudar, só porque eu tenho medo que você faça algo com o meu cabelo. — Chanyeol falou e se aproximou, ficando atrás de Baekhyun.
Baekhyun acabou ficando com o corpo travado quando sentiu Chanyeol puxando seus cabelos para trás, não sabia se focava em seu coração batendo rápido ou no sentimento estranho de sentir as suas mãos tocando no corpo que não era seu.
Ficou tão focado nas reações do corpo de Chanyeol ao seu próprio toque, que levou um susto quando ela apareceu na sua frente dizendo que tinha terminado de prender o cabelo.
— Como você fez isso sem um elástico? — Baekhyun perguntou impressionado enquanto tocava de leve o coque em sua cabeça.
— Ah, isso é um segredo. Um bom mágico nunca revela seus truques. — Falou brincando e voltou a pegar o esfregão. — Vamos acabar com isso logo, eu quero ir para casa... — Chanyeol parou de falar assim que se deu conta de que não iria para casa. — Droga.
— Pois é, droga. — Baekhyun concordou, entendendo o que se passou pela cabeça dela. — Nós vamos ter que resolver isso... mesmo eu estando adorando ter esses peitos aqui. — O Byun não conseguiu controlar a própria língua, o que fez com que apanhasse novamente de Chanyeol.
— Não fala dos meus peitos! — A Park exclamou e ameaçou bater de novo em Baekhyun.
— Ui, estressadinha. — O Byun debochou, mas voltou a pegar o esfregão para limpar o chão. — Mas eles são bem bonitinhos. — Sussurrou para si mesmo, mas não baixo o suficiente, o que resultou em Chanyeol jogando um pano molhado na cara dele.
(...)
Os dois já tinham terminado de limpar a quadra da escola, agora só faltava guardar os utensílios que tinham usado e irem para casa. Estava tudo bem, até que Baekhyun, enquanto ria sem parar de alguma coisa que Chanyeol tinha dito, deu um passo para trás, derrubando o balde cheio de água e resvalando em seguida, caindo com tudo no chão.
Chanyeol arregalou os olhos com a situação e foi correndo até Baekhyun, agachando-se ao lado dele em seguida.
— Tá tudo bem? — Perguntou preocupada.
— Eu acho que sim, só a bunda que tá doendo. — Baekhyun respondeu e aceitou a mão que Chanyeol lhe estendeu para levantar. Quase foi ao chão de novo quando sentiu seu pé doendo, porém Chanyeol conseguiu lhe segurar a tempo.
— Eu acho que não tá tudo bem não. — Chanyeol comentou e passou o braço dele por seus ombros. — Isso vai ser difícil. — Comentou rindo ao indicar a diferença de altura dos corpos.
— Vai nada, estamos craques nessa de troca de corpos. — Baekhyun comentou rindo e tentou ao máximo não jogar todo o seu peso em cima de Chanyeol.
A Park deixou o Byun sentado na arquibancada e suspirou olhando para o chão molhado.
— Eu vou arrumar a bagunça e guardar tudo, depois eu volto pra te ajudar. — E saiu sem deixar com que Baekhyun falasse algo.
O Byun ficou vendo a Park enxugar o chão, mal notando o sorriso pequeno em seus lábios, até que ela terminou tudo e sumiu pela porta do ginásio. Sem muito o que fazer, puxou a mochila de Chanyeol que tinha trago, mal tinha mexido nela, só quando precisou de caderno e caneta. A abriu e ficou vasculhando as coisas, ficando vermelho quando encontrou um absorvendo dentro de um dos bolsos, logo o guardando de novo.
Pegou um dos cadernos dela e ficou folheando, vendo que era o caderno de Literatura. Já ia o fechar por não ter nada de interessante, quando algo atraiu seus olhos. Em uma página perdida no meio do caderno, haviam alguns escritos, o que o fez rir baixo quando notou que eram mini textos narrando as suas brigas nas aulas da professora Choi.
Baekhyun sentiu uma pontada de felicidade quando encontrou esses textos, vendo que de alguma forma Chanyeol pensava nele não apenas quando brigavam. Ele sabia muito bem o que era esse sentimento e não sabia se estava a fim de senti-lo de novo... não que ele tenha sumido anteriormente, mas tinha estado muito bem enterrado dentro de si.
Fechou o caderno e o colocou dentro da mochila novamente quando viu Chanyeol entrando no ginásio de novo.
— Agora a gente pode ir. — Falou parando na frente de Baekhyun.
— Como que a gente vai fazer? — Apontou para o pé.
— Ah... quanto peso você aguenta carregar?
— Bastante, até. Eu mantenho o meu corpo em forma por causa do vôlei. — Respondeu dando de ombros. — Por quê?
— Porque o seu corpo vai ter que aguentar o peso do meu corpo. Eu vou te levar nas costas.
— Espero que isso dê certo. — Falou levantando uma das sobrancelhas.
— Vai dar sim. — Chanyeol falou colocando a sua mochila pendurada na frente de seu corpo e virando de costas para Baekhyun, ficando de joelhos em seguida. — Coloca a mochila e sobe.
Baekhyun colocou a mochila como Chanyeol disse e subiu em cima de suas costas, firmando bem os braços em seu pescoço.
Chanyeol levantou-se e puxou as coxas de Baekhyun para a sua cintura, segurando-as firmemente.
— Vamos lá. — Chanyeol falou e começou a andar para fora do ginásio.
(...)
Já estavam no meio do caminho, o tempo todo em silêncio, quando Chanyeol resolveu quebrar ele.
— Já parou para pensar que isso é muito estranho? — Perguntou.
— O que é estranho? — Baekhyun se forçou a perguntar, estava quase dormindo com o rosto apoiado no pescoço da mais nova.
— Eu estar levando o meu próprio corpo nas costas. — Ela comentou de forma pensativa. — Você estar sendo carregado pelo próprio corpo.
— Ah, isso... na verdade, eu já tô meio que me acostumando, sabe?
— Eu não sei se quero me acostumar. — Chanyeol murmurou.
— Logo nós vamos inverter isso, deve ter alguma razão pra isso ter acontecido. Fica tranquila. — Baekhyun tentou confortá-la. Levou a mão para a orelha dela e fez carinho na mesma, sabendo que era um dos lugares que mais gostava que mexessem em seu corpo.
— O-O que é isso? — Chanyeol perguntou assustada depois da sensação gostosinha e relaxante que passou por seu corpo ao sentir o carinho na orelha.
— É que eu gosto de carinho na orelha, foi pra te confortar.
— Não faça mais isso, ok? Ainda mais se eu não estiver preparada.
— Você é muito chata. — Baekhyun resmungou revirando os olhos. — Eu só tentei ajudar.
— Eu sei... — Chanyeol relaxou um pouco o corpo, amolecendo com o que Baekhyun tinha dito. — Obrigada.
— De nada.
E voltaram a ficar em silêncio, até chegarem na casa de Chanyeol. O Byun queria que soltasse ele para que não tivesse que aparecer nas costas de Chanyeol, mas ela não deixou.
Chanyeol apertou a campainha e não demorou muito para que a sua mãe abrisse a porta, ficando surpresa de encontrar a filha nas costas de um garoto.
— O que houve? — Ela perguntou olhando preocupada.
Chanyeol limpou a garganta e começou a falar, já que ela estava no corpo de Baekhyun:
— Ahn, Chanyeol acabou torcendo o pé e eu trouxe ela pra casa.
— Que cavalheiro! Entrem, entrem. Vou pegar gelo para o seu pé, filha. — E sumiu pelo corredor.
Chanyeol entrou dentro de casa e ajudou Baekhyun a sentar no sofá. Agachou-se para olhar o pé dele, fazendo uma careta quando viu que iria inchar se não cuidasse.
— Isso aqui vai ficar feio. — Murmurou olhando para Baekhyun.
— A gente não anda com muita sorte. — O Byun comentou e os dois riram, sendo interrompidos pela mãe de Chanyeol.
— Aqui o gelo, meu bem. — Baekhyun colocou a perna em cima do sofá e a mãe de Chanyeol colocou a compressa de gelo envolta de panos no pé dele, depois de tirar seu tênis. — Que erro meu, nem perguntei seu nome. — Falou se dirigindo a Chanyeol.
— Ahn, é Chan... Baekhyun, Byun Baekhyun. — Abriu um sorriso amarelo, quase morrendo por ter quase dito o nome errado.
— Prazer querido, eu me chamo Lee YeongMi. Você não quer ficar para jantar conosco?
— Ah... eu não sei, a minha mãe...
— Eu aviso a sua mãe, não tem problema! Aceite, sim? Vai ser um agradecimento por ter ajudado Chanyeol.
— Tudo bem...
— Ótimo, vou começar a preparar a janta. Comportem-se.
Chanyeol caiu sentada ao lado de Baekhyun e soltou um suspiro.
— A sua mãe é legal. — Baekhyun comentou a olhando.
— Eu sei... Vamos para o meu quarto, lá é melhor para ficar. Daqui a pouco a minha irmã e o meu pai chegam. — Falou levantando-se do sofá. — A não ser que você queira conhecer eles.
— Eu acho que prefiro ir para o seu quarto. — Respondeu sorrindo amarelo.
(...)
Baekhyun estava deitado na cama de Chanyeol, só agora reparando que ela tinha um cavalete no canto do quarto. Tinha estado tão em choque com a situação da troca de corpos de manhã que não teve tempo de perceber os vários desenhos espalhados pelo quarto.
— Então você desenha? — Perguntou interessado.
— Meio óbvia a resposta, não acha? — Respondeu enquanto girava na cadeira da escrivaninha.
— Grossa. Pensei que estávamos ficando amigos. — Baekhyun falou fazendo uma expressão magoada falsa.
— E estamos? — Chanyeol levantou uma sobrancelha, ignorando os batimentos irregulares de seu coração.
— Eu acho que sim, você não acha? — Baekhyun perguntou, seu coração do mesmo jeito que o de Chanyeol.
Park deu de ombros e virou-se de costas, mexendo nas suas coisas em cima da escrivaninha para que fugisse do assunto.
— Hm... eu vou terminar um desenho, ok? Eu estava planejando fazer isso hoje, você se importa? — Perguntou olhando por cima do ombro.
— Não me importo, não.
Chanyeol passou meia hora desenhando, perdida nos seus pensamentos e no desenho. Até que ela foi tirada de seu mundinho por um ronco. Olhou para trás e viu que Baekhyun estava dormindo. Ainda era estranho ver seu corpo deitado na cama, bem na sua frente, mas estava se acostumando aos poucos, como Baekhyun tinha dito mais cedo.
Levantou-se da cadeira e sentou-se ao lado dele na cama, aproveitando que sabia que tinha o sono pesado para soltar o cabelo do coque, para que não machucasse durante o sono. Ficou olhando para seu próprio rosto, pensando em como que tinham parado nessa confusão toda. O dia nem tinha sido ruim, tinha sido até que divertido. Nunca tinha parado para conversar com Baekhyun, viviam em pé de guerra, mas muito raramente conversavam como pessoas normais.
Enquanto olhava para seu próprio rosto, novamente voltou a sentir aquela coisa em seu peito. Seu coração dando alguns saltos irregulares de novo, o que deixou Chanyeol desconfiada e confusa. Por que toda vez que olhava para seu corpo, o corpo de Baekhyun reagia dessa forma? Era como se ele estivesse...
Do nada, tudo começou a fazer sentido para Chanyeol.
Por isso que quando tocava em seu verdadeiro corpo, sentia como se o coração fosse sair em um desfile de samba. Sentia outras sensações estranhas pelo corpo quando ficava próxima demais do outro corpo, como se estivesse passando mal... mas um mal bom. Difícil explicar.
Isso queria dizer que todas essas sensações eram de Baekhyun...
Então...
Baekhyun estava apaixonado por si? Será que ele sabia disso?
Agora estava mais confusa ainda, não sabia se o coração estava batendo por admitir a paixão, ou por ter descoberto e estar feliz por isso.
Espera, estava feliz por saber que Baekhyun gosta de si?
Ah, sim... estava. Com certeza estava.
(...)
Quando Baekhyun acordou, foi para ir jantar com toda a família de Chanyeol. Estavam todos sentados à mesa, comendo a comida deliciosa de YeongMi. A irmã de Chanyeol ficava fazendo várias perguntas para ela, pensando que ela fosse Baekhyun, o que fazia com que Chanyeol quisesse dar uns tapas na irmã por não deixá-la comer.
— Vocês são da mesma turma? — O pai de Chanyeol perguntou.
— Sim, nós somos. — Baekhyun quem respondeu com medo de que Chanyeol jogasse carne em mais alguém que a interrompesse de comer.
— Garanto que você deve ser o garoto que Chanyeol reclama quase todos os dias. — Baekhyun levantou uma das sobrancelhas, olhando para Chanyeol em seguida.
— É que eu gosto muito de importunar a vida dela. — Chanyeol respondeu com um sorriso vingativo no rosto.
— Que mentira, não é bem assim. — Baekhyun se sentiu no direito de se defender, mesmo estando no corpo de Chanyeol e todos o olhando de forma estranha.
— Então é o que? Eu gostar de você e não saber como agir sem ser um idiota? — Chanyeol perguntou, tapando a boca em seguida. Tinha saído sem querer!
— Então é assim? — Baekhyun perguntou depois de se recuperar do choque que tinha sido ouvir aquilo, fazendo com que seu coração voltasse a ficar louco e as suas bochechas esquentassem fortemente. — Que eu saiba, eu que não sei ficar perto de você sem discutir, porque eu fico tentando fugir dessa vontade louca que eu tenho de te tascar um beijo.
— E eu não sei por que você não fez isso ainda, tá esperando o que?
— Eu tô esperando você também aceitar e admitir.
— E eu não acabei de fazer isso?
Do nada o cômodo ficou em silêncio e Baekhyun e Chanyeol perceberam sobre o que estavam discutindo, fazendo com que baixasse a aura tímida sobre os dois. Não sabiam o que tinha dado neles para falar todas aquelas coisas... e pior, bem na frente da família de Chanyeol!
— Ok... eu acho que vocês têm muita coisa para resolverem, mas primeiro vamos acabar de comer, sim? — A mãe de Chanyeol falou, sorrindo de forma compreensiva e fazendo com que um pouco do clima estranho fosse dissipado, mas não completamente.
Realmente, tinham muito o que se resolver.
(...)
Chanyeol ajudou Baekhyun a voltar para o quarto, mas o clima estranho ainda estava presente. Chanyeol sentou-se ao lado de Baekhyun na cama e cada um ficou olhando para os próprios pés, sem saber o que falar.
Baekhyun resolveu falar algo, antes que ficassem assim a noite toda e não resolvessem nada.
— Desculpa por ter falado aquelas coisas na hora da janta.
— Tudo bem, eu também falei umas coisas que não devia...
— Então... o que foi aquilo que aconteceu? — Baekhyun perguntou, dessa vez olhando para Chanyeol.
— Eu... Eu andei sentindo umas coisas, e elas não vem de mim, vem de você, do seu corpo. — Chanyeol começou, o olhando. — Você gosta de mim, Baekhyun? Toda vez que a gente se toca, seu corpo reage como se estivesse apaixonado.
— E você? Gosta de mim? Porque seu corpo também reage como se você estivesse apaixonada, Chanyeol. O seu coração é bem agitadinho, viu? — Soltou uma brincadeira para que o clima ficasse mais leve, ficando feliz por ver Chanyeol rir do que tinha dito.
— Ai, isso é tão estranho. Como que a gente passou de gritos e discussões para um “acho que estamos apaixonados”? — A Park perguntou colocando as mãos no rosto.
— Eu acho que a gente nunca soube lidar muito bem com os nossos sentimentos. — Baekhyun murmurou. — Acho que foi mais fácil pra nós brigarmos do que aceitar isso tudo.
— Acho que você tem razão. E agora? — Chanyeol perguntou de forma curiosa.
— Nós ficamos juntos? Tipo namorados? — Baekhyun disse rindo, ainda mais pelo seu modo sem jeito.
— Acho que sim? — Chanyeol concordou e os dois riram quando se olharam, nem para isso serviam direito. — Então, namorado... quero dizer, namorada, você precisa voltar a colocar o gelo no pé, deita.
Baekhyun riu pela troca de gênero das palavras, mas deitou na cama, deixando com que Chanyeol colocasse o gelo em seu pé de novo. Ficou surpreso quando Chanyeol também subiu na cama e deitou ao seu lado. Aproveitou para pegar na mão dela, entrelaçando os dedos. E só por causa disso seu coração já estava pipocando no lugar.
— Primeira vez que a gente não tenta se matar. — Chanyeol comentou em um tom baixo.
— Verdade...
— Isso aqui ainda está estranho, você não acha?
— Concordo, mas acho que tem como ficar mais estranho ainda. — Baekhyun respondeu, rindo com a sua ideia.
— Como?
— A gente se beijar.
Chanyeol ficou olhando para Baekhyun sem saber o que responder, até que levou as mãos ao rosto dele e o puxou para mais perto, juntando os lábios. Era uma vontade que estava tendo a algum tempo, admitia, e não seria a troca de corpos que a impediria de realizar isso.
Baekhyun ficou surpreso pela atitude de Chanyeol, mas logo correspondeu ao beijo, passando os braços pela cintura dela e a trazendo para mais perto. Não conseguiram ficar só nos beijos castos, tiveram que aprofunda-lo para que matassem a vontade completamente. Baekhyun enfiou a língua dentro da boca de Chanyeol quando ela permitiu, roçando uma na outra lentamente enquanto grudavam mais ainda os corpos. Teriam continuado com ósculo por mais tempo se não tivessem se enredado na posição e Chanyeol ter chutado sem querer o pé machucado de Baekhyun.
— Mas que caralho. — Baekhyun murmurou segurando o pé e fazendo uma cara de dor.
— Me desculpa... — Chanyeol pediu, mas logo caiu na risada por causa da situação. — Que desastre.
— Eu tô sentindo dor e me sentindo estranho por... me beijar. Você parou para pensar nisso? — Perguntou Baekhyun, vendo Chanyeol ainda rindo.
— Não, eu não pensei nisso. Mas a gente pode resolver isso. — Chanyeol falou e levantou da cama, indo até o interruptor da parede e desligando a luz. — Tcharan! Agora a gente fica no escuro e não se enxerga.
— Nossa, revolucionário. — Baekhyun disse rindo.
Chanyeol voltou para a cama e os dois ficaram deitados juntos, conversando sobre a primeira coisa que passava pela cabeça deles, as vezes se beijando de leve entre alguma conversa, até que os dois acabaram caindo no sono sem notar.
A mãe de Chanyeol nem deu bola pela demora dos dois dentro do quarto, sabia que eles estavam se resolvendo, e quando passou lá para dizer para Baekhyun que poderia dar uma carona para ele para casa, encontrou os dois deitados juntos e dormindo. Então resolveu deixá-los descansar, indo avisar a mãe do Byun sobre o ocorrido.
E novamente um fino fio luminoso saiu do corpo adormecido de Chanyeol e foi até o corpo adormecido de Baekhyun, mostrando que o feitiço de Danbi tinha perdido o efeito. Fora um feitiço fraco, mas fora o suficiente para que fizesse com que Baekhyun e Chanyeol se acertassem.
Mas pobre Danbi, nunca saberia que um de seus feitiços felizmente dera certo, pois na segunda-feira, em sua aula, lá estariam Byun Baekhyun e Park Chanyeol discutindo como sempre, mas apenas para não perderem o costume, no final rindo da cara estressada da professora.
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#10 15 horas no futuro
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Título: 15 horas no futuro 
Número do plot: #47
Sinopse: Baekhyun e Chanyeol  se conheceram por acaso, trocaram diversas mensagens, se apaixonaram. O único problema é que Baekhyun mora na Coréia do Sul e Chanyeol em Chicago.
Couple: ChanBaek
                              Predestinados ou não, eis a questão
Madrugada de uma quarta-feira com nuvens vermelhas. Uma chuva de agulhas cobria a moderna Seul como uma pintura futurista. Folhas secas deslizavam e faziam cócegas na calçada enquanto dois amigos enganavam o tempo através da mirabolante tecnologia chamada internet.
— Você devia colocar menos força no traço. Vai acabar furando o papel.
— É só um hobbie.
— Não gosto de ver tanto potencial desperdiçado. Não tem emprego, não estuda, não tem namorado e sou o seu único amigo, mas a vida é sua — o outro rapaz pressionava uma das hastes dos óculos contra a bochecha ao dizer isso. Depois, deu um bocejo, espreguiçou-se e verificou alguma coisa. — Vou deitar um pouco. Tenho Cálculo II logo cedo.
— Boa noite, Soo. Tenho que ir ao mercado de manhã. Acabou… alguma coisa.
— Sempre falta algo — ambos desligaram e o rapaz de traço forte foi verificar a geladeira.
Byun Baekhyun era do tipo de pessoa que preferia confiar na própria memória a dedicar breves segundos para escrever um bilhete. O resultado disso eram sempre sonhos estranhos envolvendo itens de supermercado ou de lojas de conveniência.
Na manhã em que conheceu Park Chanyeol, ele havia sonhado com galinhas gigantes com visão de calor — e tudo o que ele precisava fazer era comprar uma dúzia de ovos.
Às vezes, no entanto, as peculiaridades de uma pessoa criam rotas alternativas no mapa complexo que o universo tem para nós. Se as estrelas de fato souberem tudo o que acontecerá em nossas vidas, provavelmente saberiam que o fato de Baekhyun confiar em sua mente criativa teria o feito acordar por causa de uma galinha gigante que o perseguiu durante horas. Consequentemente, ele desistiria de tentar pegar novamente no sono, vestiria um casaco surrado, pegaria a sua carteira, o guarda-chuva ao lado da porta e sairia; logando em um jogo online uma hora depois.
Se as estrelas conseguem prever todas as nossas ações, saberiam de antemão que, do outro lado do globo terrestre, havia um Park Chanyeol que caminhava pela Western Avenue após um dia de trabalho e que acabaria se atrasando para chegar ao seu apartamento porque o casal do 603 puxou papo com ele no saguão e entraria mais tarde que o normal no seu jogo favorito.
Se Byun Baekhyun escrevesse bilhetes e tivesse noites de sono tranquilas e os vizinhos do 603 não tivessem puxado papo com Park Chanyeol, eles não teriam se conhecido.
As estrelas, é claro, provavelmente já sabiam disso.
*
Manhã de sábado, quase meio-dia no horário de Seul, mas para Chanyeol, que morava em Chicago, devia ser umas nove da noite de sexta-feira. Tempo frio, ele disse, com direito a achocolatado, meias confortáveis e vontade de dormir abraçado a alguma coisa. Não fosse isso, ele estaria comemorando o Happy Hour com os colegas de serviço e acabaria na cama com alguém.
Mas ali estava ele, falando com um garoto que não tomava banho desde que se conheceram e morava quinze horas no futuro.
Os dois eram jogadores de um MMORPG novo conhecido como Doomtacris, que misturava elementos da fantasia, ficção científica e até mesmo da realidade. Às vezes, enquanto você lutava contra um vampiro usando uma baioneta da Guerra Civil Americana, um terremoto abria uma cratera direto para Hong Kong; em outras, escalando os destroços da Torre Eiffel, você acabava encontrando uma nave alienígena.
Em Doomtacris, havia uma infinidade de recursos paisagísticos e centenas de personagens, monstros e criaturas mitológicas. A única desvantagem do jogo é que, caso você estivesse em um nível muito alto e morresse durante uma luta, acabava perdendo todo o progresso.
É claro que, para tornar o MMORPG rentável, existiam itens específicos que eram muito difíceis de ser obtidos de graça e que custavam uma pequena fortuna no cartão de crédito.
— O resto da Guilda tá offline — disse Chanyeol.
Ele provavelmente tinha ido direto para o computador quando chegou em casa.
— Pois é — e Baekhyun decidiu que era hora de um comentário sarcástico. — A maioria dos coreanos faz coisas úteis até mesmo no sábado.
Eles se conheceram há três dias depois que Baekhyun comprou os seus ovos. Normalmente, o rapaz acordava lá pelas duas e meia da tarde. Tinha cortinas que filtravam bem a luz do sol e conseguiam imitar a natureza vampiresca, então os olhos miúdos se abriam no meio da tarde, ele enrolava mais um pouco debaixo das cobertas e voltava à realidade virtual pouco antes das quatro.
— Você é um NEET? — perguntou Chanyeol da primeira vez em que Baekhyun explicou a sua situação.
Naquele momento, no entanto, ele perguntou desde quando Byun vivia apenas online.
— Desde que acabei a escola, eu acho — ele havia acabado de atirar em um monstro. Chanyeol tinha um char com péssimas habilidades de luta, mas que conseguia curar ferimentos com uma habilidade fora do comum. Aquilo salvou a Guilda deles pelo menos vinte vezes nos últimos dias. — Não preciso de muita coisa pra viver, sabe? Só água e luz mesmo, aí eu consigo crescer e continuar sendo essa linda plantinha.
— Abaixa!
Apesar do aviso, o personagem de Baekhyun perdeu 98% da vida com o golpe que a clave de um gigante nível 124 deu nele. O tal gigante nasceu bem em cima deles, então nenhum dos dois tinha reparado na criatura até que ele fizesse um estrago no HP de Baekhyun e deixasse seu personagem à beira da morte.
— Que merda. Consegue me reviver?
O outro rapaz ficou em silêncio por alguns segundos, o que era um péssimo sinal.
— Esse tipo de cura precisaria de um Elixir do Colosso nível 4 ou de um Revigorante Refresco.
— Aquela poção que me deixou amarelo durante quarenta minutos anteontem e me fez upar?
— A própria — comentou, e deixou um suspiro ruidoso escapar pelo microfone.
Eles tinham usado o Revigorante Refresco, uma poção difícil de obter, para que o char de Baekhyun upasse para o nível 57 e conseguisse completar uma tarefa que envolvia matar um Gaulinus Pintadinus. O Gaulinus era uma espécie de pavão de seis cabeças raríssimo que tinha recompensas incríveis. Em troca por derrotá-lo, a Guilda inteira receberia bônus de moedas por um mês e os dois agora tinham roupas que combinavam e uns amuletos de proteção que não protegiam ninguém.
Mas do que isso adiantaria se Baekhyun perdesse todo o seu progresso?
Chanyeol quebrou o gelo.
— Se você colocar o seu char no Modo Soneca, eu posso tentar trocar um Revigorante Refresco lá na Vila Titânica por algum dos meus itens. Deve levar uma meia hora, mas vamos conseguir te salvar.
Era difícil trocar um item tão valioso. Só se…
— Você não vai trocar o seu item primário, Park Chanyeol. Não vale a pena.
— Mas você vai perder o seu char...
— Eu te proíbo. Não sou grande coisa, de qualquer forma.
O item primário era um presente do Doomtacris ao jogador. Quase sempre as pessoas fortaleciam o item primário com encantamentos, rituais e missões de alto risco, então tinham tanto valor comercial, por serem mais poderosas, como sentimental.
Fazer Chanyeol sacrificar o seu Cajado Elfórico para que ele não perdesse o progresso seria um gesto muito egoísta.
— Tá bom — e Toxic da Britney Spears começou a tocar no microfone de Chanyeol, quebrando o clima melancólico. — Preciso atender.
— Bom gosto.
Minutos depois, o americano voltou com um Revigorante Refresco e ainda deu um escudo novo a Baekhyun que concedia mais pontos de vida. O garoto já estava prestes a falar umas poucas e boas quando notou que o Cajado Elfórico de Chanyeol ainda estava com ele.
— Como foi que você conseguiu tanta coisa? — perguntou Baekhyun enquanto o seu personagem fazia uma dancinha esquisita. Aquilo sempre acontecia quando um jogador ganhava um presente de um amigo.
— Meu amigo cartão de crédito mandou um oi.
— Pai amado — exclamou, fazendo Chanyeol rir. — O que isso vai me custar?
— Nudes.
Ele ficou travado na cadeira, tentando raciocinar.
— É sério isso?
— Eu tenho vinte e seis anos e nenhum namorado. Acha que eu estaria em casa numa sexta à noite se não quisesse alguma coisa?
— S…
O rapaz continuou falando.
— Acha que eu estaria falando com você se não quisesse alguma coisa?
Baekhyun teria desabado se estivesse em pé, mas respirou fundo e tentou não jogar o teclado contra a parede. O que ele estava esperando, afinal? Eles se conheciam há três dias e já estava criando situações impossíveis em sua cabecinha.
— Você nem viu o meu rosto ainda — foi a única coisa sensata que conseguiu dizer. — Caramba, nem viu meus desenhos…
— Baekhyun, ‘cê não tá levando a sério, né? É brincadeira, poxa. Caramba, eu achava que dava pra saber quando eu estou brincando. Desculpa, tá? De verdade.
Ele continuou em silêncio, afastado em sua cadeira de rodinhas, o fone sem fio fazendo cócegas em sua orelha enquanto a voz bonita de Park Chanyeol dizia “sorry” um milhão de vezes.
Maldito sotaque americano irresistível.
— Eu quero uma foto sua — falou Baekhyun. — Mas quero com meu nome escrito em algum lugar pra eu saber que é você mesmo.
— Aí você vai me desculpar?
— Vou.
Segundos depois, um link surgiu no chat particular dos dois. Baekhyun clicou e um rapaz com dentes brilhantes e algumas olheiras segurava um papel com o seu nome escrito em letra cursiva.
O infeliz era bonito pra caramba. Tão bonito que ele deixou um UAU escapar em voz alta que fez Chanyeol rir.
Mesmo sem tomar banho, Baekhyun se arriscou e tirou algumas selfies. Ele cobria os cabelos oleosos com o capuz do moletom e apertava os olhos miúdos por causa da luz do sol que invadia as frestas da cortina. Acabou escolhendo uma melhorzinha e postou, enviando o link para Chanyeol.
Se as estrelas soubessem de tudo, saberiam que aquele foi o primeiro passo para o relacionamento dos dois começar a se desenvolver.
*
Tarde de domingo em Seul, madrugada de sábado em Chicago. O céu era uma camada nublada e sem vida, e o vento fazia sons engraçados no vidro da janela. Apesar disso, gotas de suor escorriam por todo o rosto de Baekhyun, que tinha um termômetro digital nos lábios pela terceira vez naquele dia.
Seis meses haviam se passado desde que os dois se conheceram. No começo, não passava apenas de conversas depois que Chanyeol chegava do serviço. Ambos logavam no Doomtacris, depois batalhavam com a Guilda em missões bizarras com recompensas de ouro e acabavam conversando sobre tudo até tarde — no caso, até “tarde” para Baekhyun; para Chanyeol, era madrugada.
Naquela tarde, no entanto, a febre fazia o corpo de Baekhyun ferver e o americano tentava passar informações do Google pela webcam que falhava com a conexão.
— Você tem que ir a um hospital — disse, enfim, depois que as tentativas feitas pelo coreano falharam.
— Não sei se consigo chegar a um hospital no estado em que me encontro, Park — respondeu Baekhyun. — E eles não vão me buscar aqui porque estou com uma febrezinha de nada.
Pausa.
— Então eu vou ficar aqui com você, tá bom?
Outra pausa.
— E aquela confraternização ia ter no Kingston Mines? — o fato de Baekhyun ser um NEET representava tempo livre para decorar a agenda de pessoas que interagiam com ele. — Seus amigos vão ficar te esperando no bar enquanto você banca a babá de uma pessoa doente que mora do outro lado do planeta.
— Prioridades. Posso beber qualquer hora.
— Tá falando isso só pra me tranquilizar, né?
— É sério, pô — Chanyeol olhou para trás e saiu caminhando com o Macbook em uma das mãos, desafiando as leis da gravidade à procura de algo. — Tem uma garrafa de uísque barato dentro do armário… Mas prefiro vinho — ele colocou o Macbook no chão e pegou uma garrafa de vinho na geladeira com um copo de plástico. — Com um bom chocolate, cura qualquer coisa.
Baekhyun fechou os olhos, apreciando a ternura que havia na voz de Chanyeol. Ele achava graça no sotaque de Chanyeol, e o outro rapaz sempre afirmou que não havia nada de diferente em seu sotaque.
— Estou acordando — avisou. — Só continua falando, por favor.
— Huuum, vejamos. Talvez uma curiosidade?
— Acho que você já contou todas as suas curiosidades, Park Chanyeol. E não são poucas.
Ele riu e voltou a se concentrar.
— Nem todas. Posso contar?
— Espera aí.
Baekhyun acabou puxando o laptop junto com o carregador para cima da cama. Afofou os travesseiros, cobriu as pernas com uma coberta fina de algodão e fechou os olhos novamente.
— Não me conte curiosidades hoje. Fale sobre algo doce…
Após segundos de silêncio, Chanyeol deu um gole em seu copo de vinho barato e tossiu.
— Mais doce que esse vinho? Impossível.
Baekhyun riu e voltou a esconder o rosto entre os travesseiros. Deixando-se levar pelo estado febril, começou a falar sobre seus sentimentos.
— Eu gosto de você. Você me faz lavar o cabelo mais vezes.
— Então tenho vocação pra cabeleireiro — brincou, e fitou o rosto sereno de Baekhyun. — Se tudo der errado nas vendas de carros, vou abrir um salão de beleza.
— Você vende carros e anda a pé. Nunca vou entender.
— Tenho pernas longas que não cabem em qualquer veículo. Além disso, gosto de andar a pé. A Western Avenue tem alguma coisa mágica que não sei explicar, sabe?
Baekhyun abraçou o travesseiro.
— Não sei não.
E abriu os olhinhos miúdos, fitando a tela quadriculada do laptop. Eram tão escuros e tão bonitos… Chanyeol se perguntava se era só a luminosidade da câmera ou se o garoto tinha todos os contrastes que ele vinha decorando em sua mente naqueles últimos meses.
— Eu quero te ver, Baekhyun. Vou enlouquecer se não te conhecer — confessou.
Aquilo fez os olhos do coreano dobrarem de tamanho. Ele se levantou, deixando a febre de lado por um momento.
— Como?
— Compro uma passagem ainda hoje se tiver um voo para Seul — mais silêncio. — Só sei que preciso te ver essa semana ou vou acabar enlouquecendo.
— Não, não… Não dá.
— Por que não? — indagou Chanyeol.
— Não tô nos meus melhores dias. Você vai me odiar e vai parar de falar comigo. Vai me abandonar e eu vou enlouquecer por sua causa.
— Não vou te abandonar, Baekhyun. Jamais faria isso.
As bochechas de Baekhyun coraram intensamente.
Talvez fosse a febre.
— Eu amo você, Park.
— Eu também te amo.
Se as estrelas soubessem de tudo, saberiam como foi difícil para os dois controlarem os nervos nas próximas semanas.
*
Noite de lua cheia em Seul, tanto para Baekhyun quanto para Chanyeol. O céu era que nem uma tigela de gelatina cristalizada, com pontinhos brilhantes nas extremidades, bonitos demais para serem alcançados.
Baekhyun tremia debaixo de seu cachecol. Usava um gorro que comprou às pressas e tinha conseguido enganar o sono com um copo de café forte. Ele não ia ao aeroporto desde que era um garotinho, e a sensação de que havia perdido sua bússola interna parecia piorar a cada vez que o ponteiro grande do seu relógio de pulso tocava o número 12.
Ele não sabia como as coisas haviam evoluído tanto. Claro que, sendo um NEET nato, tinha certa experiência com namoros virtuais — que nunca chegaram a se concretizar de fato. Mas ali estava ele, esperando um cara sete anos mais velho que ele e que estava vindo diretamente dos Estados Unidos para conhecê-lo.
E que o amava.
Baekhyun começou a ter uma crise de pânico. Será que eles iriam se beijar? Será que ele estava com bafo? Tinha algumas moedas no bolso; talvez conseguisse comprar chicletes ou balinhas de menta. Será que eles iriam transar? Baekhyun nunca tinha dormido com ninguém. Não sabia nem colocar a camisinha sem que ela fosse parar do outro lado do quarto.
Era muita informação, muitos pensamentos, muita coisa. Tinha tanta coisa na cabeça que o copo em sua mão começou a tremer sem que ele percebesse. Tinha tanta coisa na cabeça que, quando percebeu, estava na ponta dos pés, o rosto afundado nos cabelos do seu parceiro de jogo.
Aquela foi a primeira noite de várias em que eles passariam abraçados, jogando Doomtacris juntinhos, trocando carícias e juras de amor enquanto enfrentavam um mundo repleto de incertezas, fosse 15 horas no futuro, no passado ou no presente.
As estrelas, é claro, já sabiam de tudo.
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#9 Alma gêmea e tatuagens
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Título: Alma gêmea e tatuagens
Número do Plot: #1
Sinopse: A alma gêmea de Sehun adorava fazer tatuagens e ele meio que gostava disso também, já que os desenhos eram tão bonitos. Sehun não gostava, contudo, da parte de sentir a dor de uma tatuagem sendo feita bem no meio de uma prova. Então o garoto decide ir em busca da sua alma gêmea.
Couple: Chanbaek , Kaisoo
Avisos: Linguagem explicita, cena de sexo.
Acordo sentindo uma dor infernal na perna, ligo a luz do abajur e olho para o relógio e vejo que são 1:30 da madrugada. Droga, vou explicar a situação eu Oh Sehun estava no meu 15º sonho, depois de tentar entender a matéria de matemática para pelo menos tirar um 7 na prova, quando eu começo a sentir a famosa dor incomoda na perna direita bem na batata da perna.
Já irritado com a situação, me sentando na cama e retiro a coberta sob o meu corpo e quando eu olho para a minha perna vejo uma nova tatuagem, por que minha alma gêmea faz tanta tatuagem? Sinceramente elas são muito bonitas, mas as vezes ele decide fazer nas horas mais inapropriadas da minha vida como no casamento da minha irmã mais velha, no funeral da minha vizinha que foi a que mais doeu e eu acabei chorando um pouco e minha família ficou sem intender já que não erámos próximos da vizinha.
Como eu sei que é um garoto? Pois normalmente as tatuagens tem uma pegada mais padronizadas como uma bússola no braço, a palavra fé no antebraço e várias mandalas no braço esquerdo. Ok, talvez poderia ser uma garota, mas eu sei que não é.
Como sempre faço, passo uma água e uma pomada para dor que no fim não me ajuda em nada e acabo passando a madrugada cochilando de vez em quando, quando a dor fica suportável.
Acordo no dia seguinte meio atrasado para ir para a escola, me arrumo rapidamente parando por um momento para apreciar a tatuagem que ainda estava meio dolorida, mas que ainda estava incompleta, desço para o andar de baixo pegando minhas coisas e corro em direção a escola que só é algumas quadradas da minha casa.
Chegando lá me deparo com o meu melhor amigo Kim Jongin mexendo no celular.
- Quem é vivo sempre aparece não é mesmo. – Ele diz debochado e me dando espaço para sentar.
- Você não vai acreditar, minha alma gêmea decidiu fazer uma tatuagem de madrugada. – digo o olhando com cara de cansado.
- O que esse menino deve fazer da vida? Quem em plena madrugada de uma segunda decide fazer uma tatuagem? – ele comenta com uma cara de indignado.
- Também não sei, e você apareceu algo estranho de novo? – digo trazendo à tona o problema do meu amigo que quase todo o dia ele aparece com uma queimadura nova.
- Não, eu perguntei para minha mãe que tipo de queimadura é essa aparece e ela me disse que é de panela. Pelo jeito minha alma gêmea é péssima na cozinha.
Logo depois o sinal da aula bate anunciando a primeira aula.
Passou semanas e a tatuagem ainda não estava completa, não sei se fico feliz por não voltar a sentir aquela dor insuportável ou se fico com medo pelo fato de eu estar em semana de prova e a qualquer momento ele decidir terminar de completa-la. Mas tento não pensar nisso e me dedico a estudar para a bendita prova de matemática.
Acordo do meu mundo paralelo por causa do tic-tac do relógio, aperto a madeira da mesa e tento respirar fundo sentindo o suor frio descer pela minha espinha.
Merda, justo agora?
Indignado pelo fato da minha perna estar doendo como o inferno no meio da minha prova de matemática que eu preciso tirar 7 para passar sem recuperação.
Merda, tenho que começar a passar mal justo agora? Não consegui responder nem uma questão direito.
Sinto minha cabeça começar a roda e tudo a minha volta fico escuro.
##
Acordo com uma luz forte batendo na minha cara, abro os olhos lentamente percebendo que estou em um quarto de hospital. Assim que sento na cama a porta se abre entrando aparentemente um médico e logo em seguida entra minha mão e meu amigo Jongin.
- Olá, que bom que acordou sou o seu médico Doutor Zhang mas me chame de Yixing, precisamos conversar seriamente. – todo simpático o Doutor Yixing começa a conversar comigo de pé no pé da cama enquanto minha mãe senta na cadeira ao meu lado e Jongin fica de pé do outro lado da cama.
- Você saberia me dizer quem é sua alma gêmea? – pergunta retirando uma caneta do seu bolso do jaleco.
- Pra ser sincero não.
- Ok, então vou receitar uma pomada mais forte a que você estava usando para passar a dor. – Como ele sabe que eu uso pomada? – Seu amigo me contou – apontou para Jongin e voltou a escrever a prescrição médica.
Ok
Assim que fui liberado por volta de uma hora depois, fui direto para casa acompanhado de Jongin que eu insisti para minha mãe deixar ele dormir em casa. Depois de trancar a porta do meu quarto conto o meu plano para Jongin.
- Pera lá, vamos ver se eu entendi você quer que eu te ajude a descobrir quem é sua alma gêmea para você ir lá e pedir “gentilmente” parar de fazer tatuagem em qualquer horário ou pelo menos passar uma maldita pomada para dor? – diz Jongin resumindo praticamente todo o meu plano.
- Sim.
E agora aqui estou eu, dentro de um ônibus para a cidade vizinha atrás da minha alma gêmea que trabalha em uma Loja de Tatuagem 24 horas o que explica o horário maluco dele, não sei seu nome ou aparência ou algo do tipo.
-  Nossa parada é essa. – Jongin se levanta pegando nossa mochila no compartimento acima da gente.
Foi meio difícil fazer minha mãe concordar em deixar a gente vir em outra cidade sozinhos para encontrar alguém que ela não conhece, já a mãe do Jongin aceitou de boa e nos ajudou a convence-la.
Peguei minha bolsa e descemos no terminal rodoviário, o hotel que iriamos ficar hospedado era 5 minutos andando daqui.
Assim que fizemos check in e nos acomodamos no quarto, decidimos ir até um shopping que era “famoso” por lá. Andamos por todo o shopping, compramos coisas para nós e para a mãe dele que foi um acordo dela para nós ajudar a virmos, só paramos de andar quando o nosso estomago reclamou de fome.
Fomos até a praça de alimentação e decidimos comer um Macdonald, quando estava para dar a primeira mordida naquela belezinha Jongin me dá um tapa no braço que fez meu lanche cair na bandeja.
- Que foi desgraça – falo irritado por ter atrapalhado meu momento de encher o estomago.
Jongin não me responde de primeira pois está ocupado demais olhando para um ponto fixo atrás de mim.
- Eu sei que pode ser loucura, mas eu acabei de ver um menino saindo daqui com uma marca de queimadura na nuca.
Que?
Eu sei do que ele está dizendo, uma vez ele acordou com dor de uma queimação no pescoço e nós ficamos semanas apostando como a alma gêmea dele conseguiu fazer aquilo foi quando eu, ele e a mãe dele chegamos na conclusão que realmente a alma gêmea dele é HORRIVEL na cozinha, sorte dele que em compensação Jongin é muito bom na cozinha.
- Ok, qual é a probabilidade de alguém ter se queimado no mesmo local que vocês? – digo pensando que realmente isso foi inesperável.
No dia seguinte decidimos que seria o dia que iriamos ir atrás da minha alma gêmea, pegamos o ônibus que iria parar na esquina da rua da Loja.
Descemos no ponto e vamos devagar e calados em direção da loja, não sabia o que pensar e se ele for um velhote, um drogado ou até mesmo uma criança revoltada da vida querendo ser adulta? Várias coisas passavam pela minha cabeça, só fui voltar a realidade depois de ouvir o sino da porta da loja abrindo.
Passo logo atrás de Jongin que percebeu que eu ficaria olhando para a porta que nem louco em outro mundo.
Olho ao redor, tudo estava no seu lugar e extremamente arrumado.
- Olá bom dia. – ouvi uma voz suave dizendo, olho para cima e era um garoto de estrutura baixa de cabelo quase raspado e de olhos esbugalhados que o faziam parecer uma coruja.
- Olá – digo envergonhado olhando para o seu direito tentando achar uma tatuagem de bússola, mas no local eu só vejo uma cicatriz que para mim era extremamente familiar, olho para o lado na onde Jongin olha fixamente para o ser sentado no balcão.
Depois de minutos sem saber o que estava acontecendo Kyungsoo olha na direção em que o garoto alto estava encarando, era a sua cicatriz de quando foi tentar fazer um bolo e a travessa caiu em cima do seu braço. E quando ele olhou para o outro ser que ali estava presente ele percebeu a mesma cicatriz do que a dele.
- Então é você que é péssimo na cozinha? – Jongin fala pela primeira fez, abrindo um sorriso que é extremamente lindo aos olhos de Kyungsoo.
- Eu não sou péssimo – Kyungsoo responde revoltado e bravo com o comentário do outro.
E assim eles esqueceram de Sehun, sem saber muito o que fazer já que os dois tinham entrado numa bolha só deles decide ir dar uma volta.
- Eu vou ir tomar um ar e já volto. – diz praticamente para o vento já que os dois nem perceberam o que o outro disse e muito menos quando ele saiu.
Ok, eu vim atrás da minha alma gêmea e coincidentemente a gente encontra a alma gêmea de Jongin se isso não fosse o destino não sei qual é.
Sehun estava tão absorvido pelo seu pensamento que não reparou que esbarrou em alguém e saiu sem falar nada, mas ao contrário essa pessoa reparou muito bem em Oh Sehun tão bem que conseguiu ver sua tatuagem de bússola no braço do outro.
- Ei! – ele gritou, despertando a atenção de Sehun.
Sehun sem saber do que estava se passando foi logo se desculpando por achar que fez algo que realmente tinha feito.
- Me desculpe foi sem querer, eu não estava prestando a atenção. – disse sem realmente prestar atenção a outra pessoa.
- É realmente você não está prestando atenção – disse se aproximando – Se estivesse prestando a atenção – ele já está perto demais de Sehun – Saberia que nós somos almas gêmeas – agora estavam compartilhando o mesmo ar.
E talvez só talvez não terei que usar nenhuma ameaça.
##
Depois desse acontecimento muitas coisas aconteceram, Ok nem. Jongin e Kyungsoo se aproximaram demais, até decidiram morar juntos para não ocorrer acidentes doloridos por parte dos dois e evitar a morte deles, a mãe de Jongin falou um monte o quanto o Kyungsoo é péssimo na cozinha e só concordou de eles morarem juntos se eles morassem no mesmo prédio que ela mora e para também evitar a morte e o sofrimento do seu filho. Os dois agora estavam num relacionamento que no começo ouve muita negação da parte dos dois.
Já eu e Baekhyun, sim esse é o nome dele descobri alguns minutos depois do choque da descoberta e do empurrão que eu dei nele por causa da a proximidade, estávamos “bem” saímos em vários encontros, mas não passamos do beijo e ainda não ouve um pedido de namoro. Ele também se mudou para a minha cidade e abriu uma loja de tatuagem junto de Kyungsoo, que também mais tarde descobri que ele era um tatuador mesmo com 19 anos só um ano mais velho que eu e eu ainda era alguns centímetros mais alto que ele.
Hoje é mais um desses encontros, iriamos para um parque de diversão.
Trim-Trim
A campainha de casa toca e eu desço correndo até a cozinha.
- Mãe eu estou bem? – abro os braços esperando ela desligar o fogão e me olhar.
- Da uma voltinha. – giro no mesmo lugar achando que realmente foi uma péssima ideia ter colocado essa calça preta que é realmente apertada. – Você está lindo, vem aqui – fui quando ela ajeitou a gola da minha blusa social branca – Você está realmente gato.
- Obrigado.
Saio correndo em direção da porta e a abro. Ok, ele está maravilhoso.
Ele estava com uma calça jeans escura e uma camisa básica preta em cima uma jaqueta, ele estava lindo.
- Vamos! – diz abrindo a porta do carro para mim.
E assim passamos a noite indo em diversos brinquedos, até aqueles que eu tinha muito medo.
Agora estamos sentados num banco um pouco afastado daquela agitação.
- Eu queria que fosse perfeito essa noite pois ela para mim será inesquecível. – diz se levantando do banco. – Essa noite eu quero que você se lembre como a noite em que virou o meu namorado. Você aceita namorar comigo? – ele se ajoelha na minha frente.
- Sim.
## - Baekhyun
Assim que saímos do parque de diversão agora namorando eu decido levar Sehun para um lugar que eu normalmente vou de carro, é perto de um pico de montanha na onde dá para ver as estrelas e é bem deserto.
- Você gostou de hoje? – pergunto pegando na sua mão.
- Claro, foi maravilhoso. – diz sorrindo na minha direção, levo a sua mão para beija-la.
- Você não devia beijar a minha mão, você devia me beijar – ele abre um sorriso safado sendo acompanhado por mim.
Num ato rápido eu puxo ele pela nuca atacando seus lábios vermelhos, pedi passagem com a língua e num segundo eu estava explorando a boca dele, o pego e coloco no meu colo, como o espaço era apertado o pênis dele entra em fricção com o meu me fazendo soltar um gemido rouco
- Se você não parar agora eu te fodo nesse caro - sussurro no ouvido dele.
- É isso que eu quero - sabe a sanidade? Bem ela evaporou. Volto a beijar aquela boca deliciosa dele, passo as unhas nas suas costas o fazendo gemer nos meus lábios, eu desço os beijos para pescoço dele o chupando e lambendo, enquanto ele solta gemidos baixinhos.
- Pode se soltar, só está nos dois - sussurro no ouvido dele e mordendo o mesmo, desço minha mão pra bunda dela o ajudando a dar mais fricção mais não parando de beijar o seu pescoço.
-Vamos para o banco de trás tem mais espaço - ele fala em quando solta leves gemidos. Ele se "levanta" passando para o bando de trás, eu faço o mesmo. Subo em cima dele começando a beija-lo de novo, o levando um pouco e retiro a sua camisa a jogando em qualquer lugar, desço os beijos para o seu mamilo esquerdo eu olho para cima e encontro ele me olhando nos olhos eu poderia gozar só com essa cena, passo os beijos para o outro mamilo o deixando vermelhinho e com minha saliva, eu arrisco mais e dou uma mordidinha o fazendo gemer alto, desço os beijos pela sua barriga branquinha até o cós da sua calça, retiro o sinto e puxo sua calça jeans de vagar só pra provocar, ele me olha com urgência, aproveito e tiro sua cueca box fazendo seu pênis molhado de pré gozo pular, minha boca saliva com vontade, passo a língua nos lábios e acabo com a minha vontade, eu passo a língua na sua cabecinha o fazendo soltar um alto gemido, eu chupo tudo o que eu consigo me deliciando, lambi toda a extensão o deixando maluco.
- Se você continuar assim eu vou gozar - ele me avisa, eu paro não era a hora dele gozar, começo a beijar a virilha dele e dentro da coxa. Abro as pernas dele deixando ele exposto, o cuzinho rosadinho piscando eu não resisti, passei a minha língua o fazendo soltar um gemido mais alto do que o outro.
 - Meu Deus isso é maravilhoso. - ele diz tentando falar por causa dos gemidos. - Você é bom com a boca - eu sorrio mais volto no que eu estava fazendo, passo a língua em volta e começo a fode-lo com a minha língua, ele começa a falar coisas sem conexo - Me fode por favor - ele fala junto com um gemido.
- Ok - paro o que eu estava fazendo, eu subo em cima dele - Mas eu não tenho lubrificante e nem camisinha - ele concorda, eu ataco os seus lábios de novo, desço o beijo para o seu maxilar e chego no seu ouvido. - Chupa pra mim. - levando os três dedos na sua boca e o mesmo não deu tempo e começou a chupa-los como se fosse pirulitos, comecei a chupar seu pescoço, quando achei que já era o necessário o mandei parar, voltei a beija-lo e desci minha mão no meio da perna dele, radiei sua entra e introduzi um dedo enquanto eu abafava os gemidos com a minha boca, não esperei muito e introduzi o segundo, ele soltou um gemido de dor misturando de prazer, eu comecei a tesoura-lo, quando eu comecei a ouvir seu gemidos de prazer eu introduzi o terceiro, eu esperei ele se acostumar e comecei a fode-lo com os meus dedos.
 -Por favor- ele pede gemendo
 - Por favor o que? - eu pergunto o torturando
- Me Fode - retirei os meus dedos e me posicionei no buraco dele e comecei a entrar, ele gemia de dor
- Calma relaxa, já vai passar - digo quando eu já estava com a metade dentro dele, comecei a beijar seus mamilos e a punheta-lo para ele se distrair - Eu vou colocar tudo dentro tá bom?
- Não entro tudo? - ele pergunta com uma cara de assustado, balancei a cabeça de negação - Pode vai - eu comecei a beija-lo e a continuar a entra-lo, eu fiquei parado por um minuto para ele se acostumar comigo dentro dele. Ele começou a rebolar com a confirmação que eu poderia estocar, e assim eu fiz. Comecei a fode-lo ele era apertado mais delicioso, segurei na cintura dele e acelerei o meu ritmo. Nossos gemidos eram as únicas coisas que escutávamos dentro do carro, ele me empurrou para mim deitar e começou a cavalgar em mim, aquilo me levou a loucura, começamos a nos beijar em quando ele subia e descia no meu colo, pequei a tua bunda o ajudando, em poucos minutos ele gozou eu meu peito sem se tocar e logo em seguida eu gozei dentro dele. Ele senta do meu lado, esperamos minutos para nossa respiração voltar ao normal.
- Você sabia que fez eu pegar recuperação de matemática? – ele diz.
- Sério? Pelo menos eu sou bom com matemática.
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#8 Somethin Kinda Crazy
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Título: Somethin Kinda Crazy Número do plot: #33 Sinopse: "Minseok cometeu a maior e melhor loucura da sua vida: aceitou ser o namorado de mentira de Baekhyun. Mas o problema de fazer parte daquele plano era controlar os seus sentimentos e não desejar que tudo fosse real."
Para Minseok ter um namorado sempre foi algo um pouco complicado. Talvez porque Minseok não conseguisse mais se enxergar num relacionamento sério com outra pessoa ou porque ele simplesmente gostasse de toda a liberdade em ser solteiro.
Sem um namorado, Minseok podia focar totalmente sua atenção na faculdade e nos exames finais. Ele também podia treinar futebol nas suas horas vagas e podia ficar livre de preocupações, como dar satisfação para alguém, sofrer por ciúme e passar por brigas bobas.
Não que Minseok enxergasse apenas o lado ruim de um namoro, mas ele não estava tão disposto assim a ter todos os lados de um.
Minseok estava bem do jeito que estava. Ainda mais depois dos seus últimos relacionamentos que, sinceramente, terminaram todos em um tremendo fracasso.
E se um namorado verdadeiro já era uma dor de cabeça, um aparentemente falso parecia pior ainda. Imagina então um namorado falso que nem ao menos sabia que Minseok gostava dele?
Era uma hipótese estupidamente maluca, mas que de alguma forma estava acontecendo na vida de Minseok.
E não era como se estivesse achando realmente ruim, porque por Baekhyun – e somente por ele – Minseok abriria mão de sua zona de conforto e sua atual aversão por relacionamentos para tentar algo novo. Mesmo que fosse por algo inventado e totalmente planejado.
Fosse como fosse, Minseok foi um masoquista insano ao aceitar a proposta absurda de Baekhyun.
Uma hora Minseok estava ouvindo o pedido de Baekhyun e na seguinte, antes mesmo que pudesse perceber o que estava fazendo, Minseok murmurava uma reposta afirmativa, aceitando sem muita hesitação em ser o namorado de mentira dele.
Baekhyun explicou seus motivos sem entrar em muitos detalhes, aos quais Minseok também não viu necessidade em pedir por eles. Já era suficiente o que ele sabia.
E de uma forma ou de outra, as razões de Baekhyun eram totalmente aceitáveis para Minseok.
Baekhyun apenas queria mostrar aos pais que poderia ser muito feliz, assumindo a sua homossexualidade para o mundo sem ter medo. Ele queria mais do que tudo provar que poderia encontrar alguém que fosse capaz de o aceitar do jeito que era.
A única parte de toda aquela explicação que Minseok sentiu uma certa hesitação foi quando Baekhyun afirmou que também queria mostrar ao antigo namorado que, sim, ele estava ótimo depois de terem terminado.
Baekhyun desejava esfregar na cara de Yamazaki Kento que ele poderia muito bem manter um relacionamento com outra pessoa sem pular fora quando as coisas ficassem realmente sérias.
Eram razões que Minseok poderia aceitar sem pedir por mais explicações, mas eram motivos que ele não queria entender o significado. Não quando envolvia o antigo namorado de Baekhyun.
Minseok não entendia o interesse de Baekhyun em tentar se reafirmar diante do ex-namorado, ao ponto de arrumar um outro de mentira. A única explicação que Minseok encontrava, a que mais parecia razoavelmente lógica e a que Minseok mais detestava em pensar, era que Baekhyun ainda gostava muito daquele estudante de intercâmbio.
- É só alguns meses – Baekhyun murmurou ao coçar a nuca constrangido – O suficiente para os meus pais acharem que eu estou bem.
- E o seu ex-namorado entender que você não gosta mais dele.
Baekhyun o olhou com interesse e algo mais que Minseok não conseguiu entender, mas que o deixou inquieto.
- É, talvez – Baekhyun deu de ombros – Vou tentar não mudar nada da sua rotina nesses meses que vamos ficar juntos.
Era um pouco estranho Baekhyun dizer aquilo, porque ele definitivamente mudaria muita coisa em sua rotina.
- Eu já aceitei, Baekhyun – Minseok umedeceu os lábios antes de sorver um grande gole do café quente. – Você não precisa mais me convencer de nada.
- Nem mesmo da viagem pra casa dos meus pais?
- Sua cidade natal? – Baekhyun confirmou com a cabeça. – Sinceramente não vejo problema algum em relação a isso. Eu já aceitei todo o resto, não faria sentido recusar isso.
Minseok suspirou, tentando ignorar o barulho da cafeteria lotada e fitou Baekhyun que o olhava com intensidade.
– A gente só precisa de um tempo pra se acostumar com tudo e se tornar mais íntimo. Se a gente conseguir fazer isso, acho que ninguém vai ter problema em acreditar no nosso namoro.
Nosso namoro. Minseok sentiu a ponta de suas orelhas queimarem e um sorriso constrangido curvar o canto de seus lábios ao coçar a nuca, tentando disfarçar o quanto ele queria gritar.
Afinal, Baekhyun estava bem a sua frente.
O garoto que Minseok gostava pra caramba - mas que não tinha coragem o suficiente para confessar - estava bem a sua frente com um sorriso bonito nos lábios perfeitamente delineados e os dedos longos e elegantes tamborilando sobre o cardápio.
Baekhyun era lindo, injustamente lindo e Minseok sentia que não conseguiria mais conter as batidas irregulares do seu coração e a forma como um sorriso eufórico moldava sua boca.
- Junmyeon não vai contar para ninguém, certo? – Baekhyun perguntou baixinho e Minseok arqueou a sobrancelha, encarando-o com uma risada presa na garganta.
Junmyeon era o culpado de tudo. Ele tinha feito Minseok aceitar a proposta e aproveitar daquela chance para conquistar Baekhyun.
O seu amigo e colega de quarto tinha enfiado aquela ideia em sua cabeça e mandado Minseok se encontrar com Baekhyun e dar uma chance aos dois.
O que era um pouco hilário porque Junmyeon definitivamente conhecia os dois, mas nunca – nem por um segundo sequer - pensou na possibilidade mais simples de todas: apresentar Baekhyun e Minseok antes de qualquer outra coisa.
Junmyeon não foi capaz de sugerir o mais fácil, mas teve a capacidade de pensar na solução mais complicada para eles. E Baekhyun foi tão ou mais louco que Minseok em aceitar tudo aquilo.
Fosse como fosse, Minseok suspeitava que tinha sido a primeira opção de Junmyeon e que Baekhyun não tinha visto muitos obstáculos em aceitá-lo.
Se Baekhyun soubesse que Minseok gostava dele, talvez não teria aceitado com tanta facilidade assim.
- Junmyeon não faria isso – Minseok repousou a xícara sobre a mesa ao olhar Baekhyun nos olhos, um frio percorrendo sua espinha quando notou os olhos escuros de Baekhyun o fitando de volta. – Ele seria a última pessoa a contar tudo pra alguém.
Baekhyun sorriu um pouco mais aliviado, os fios pretos do cabelo sedoso caindo sobre os olhos e o rosto se iluminando todo ao pegar as mãos pequenas de Minseok entre as suas.
- Obrigado – Baekhyun murmurou e Minseok engoliu em seco, sentindo as pontas de suas orelhas queimarem com o toque suave das palmas da mão de Baekhyun – Nós vamos ser um ótimo casal.
Baekhyun acariciou com o polegar a pele de Minseok e sorriu para reafirmar suas palavras. E Minseok queria acreditar que aquilo poderia dar certo, mas a probabilidade de tudo dar errado e ele sair com o coração machucado era muito maior.
Estupidamente maior.
                                                        *
O começo não foi muito complicado entre eles.
Os dois seguiram lentamente cada um dos passos que fariam aquele namoro de mentira se tornar verdadeiro aos olhos dos outros.
O entrosamento iniciou de mansinho e em pequenos detalhes. Desde o dia em que Baekhyun começou a almoçar com Minseok e Junmyeon na faculdade, até mesmo quando Minseok estabeleceu uma rotina ao esperar por Baekhyun nos finais das aulas.
Eles caminhavam juntos para os dormitórios e se encontravam nos corredores da faculdade com frequência. E em pouco tempo os dois eram sempre vistos um na companhia do outro.
Os comentários diziam que Baekhyun e Minseok eram praticamente inseparáveis e logo os dois já eram considerados um casal de namorados. Mas Minseok queria apenas que aquilo deixasse de ser uma mera mentira para ser a sua realidade.
Ele gostava de Baekhyun e isso estava se tornando cada vez mais difícil de esconder.
                                                   *
- Você está com a cabeça nas nuvens.
Minseok virou a cabeça para o lado e viu Kyungsoo despencar no banco ao seu lado. Os dois estavam soados e exaustos depois da rotina pesada de treinamento do time de futebol.
- Desculpa – Minseok murmurou para o zagueiro do time. – Eu estou um pouco distraído – movimentou as mãos aleatoriamente no ar – Pensamentos demais – finalizou ao dar de ombros.
- É o novo namorado?
Minseok se remexeu no banco e umedeceu os lábios.
- Talvez.
Ele observou Kyungsoo arquear uma sobrancelha inquisitivo em sua direção e uma expressão sugestiva contornando suas feições.
Minseok apoiou os cotovelos nas pernas ao desviar os olhos para o campo, onde seus amigos jogavam despretensiosamente e Kyungsoo se remexeu ao seu lado, espreguiçando o corpo.
- Sabe, eu te conheço faz tempo – Kyungsoo começou em voz baixa e continuou antes que Minseok pudesse argumentar em resposta. – E não é só porque ficamos um tempo juntos. Você é meu amigo, Minseok. Tem alguma coisa te incomodando.
- Não é nada – assegurou para ele, tentando sorrir. Os lábios curvados para cima e os olhos vincados com o gesto. – Prometo que vou me focar mais no próximo treino.
Como capitão era o mínimo que ele poderia fazer pelo time.
- Relaxa - Kyungsoo disse e Minseok o olhou e viu um sorriso delinear nos lábios dele. – A gente se virou muito bem hoje.
Com as pontas dos dedos, Kyungsoo tirou delicadamente os fios úmidos de suor que insistiam em cair nos olhos de Minseok. E ele recebeu aquele gesto espontâneo com muito agrado.
Kyungsoo não era do tipo que gostava de contatos físicos e ele somente se atrevia a se aventurar nisso com poucas pessoas. Minseok era uma delas. Era uma das suas raras exceções. Muito provavelmente porque o zagueiro do time era um de seus amigos de longa data e aquele que o compreendia em todos os sentidos. Minseok não precisava dizer nada para Kyungsoo entendê-lo. Bastava apenas um olhar e o seu amigo sabia exatamente o que ele queria.
Provavelmente por isso uma grande atração surgiu entre os dois. Uma atração boa e fugaz, mas que não era o suficiente para manter um relacionamento sério entre eles.
Minseok preferia muito mais ter o amigo ao seu lado e Kyungsoo concordava com ele.
Fosse como fosse, foi algo muito bom enquanto durou, mas foi apenas passageiro.
- Está tudo bem entre vocês?
Kyungsoo pescou uma das garrafas do container e sorveu um grande gole da água gelada direto do gargalo. Mas sua atenção voltou toda para Minseok e seus olhos expressivos o fitaram com interesse.
- Sim – Minseok sabia no fundo que estar com Baekhyun era melhor do que ele esperava. Muito melhor. – Baekhyun é... – ele pausou, tragando o ar com força ao deixar um sorriso inconsciente transparecer em seus lábios. – Ele é perfeito.
Kyungsoo fez uma careta de desgosto e Minseok riu baixinho.
- Deveria ter visto sua cara agora – Kyungsoo zombou ao revirar os olhos em frustração – Sinto tanto por você.
- O que você quer dizer com isso? – Minseok franziu o cenho ao perguntar confuso.
- Você está muito apaixonado, Minseok.
- E isso é ruim?
- Depende do ponto de vista – Kyungsoo disse e Minseok o fitou de volta ao pegar a garrafa de água que ele estendia em sua direção, bebendo pequenos goles. – Pra mim isso seria terrível.
- Ainda bem que não é com você, então.
Minseok riu quando ele o respondeu com um baixo ‘ainda bem’, ao apertar sua coxa em conforto. O toque quente e suave sendo breve em sua pele.
- Eu fico feliz que você esteja com alguém que goste.
Kyungsoo o olhou antes de se levantar do banco e caminhar até Jongin e Yixing com um sermão na ponta da língua sobre a forma como os dois estavam fazendo o repasse da bola errado.
Minseok suspirou ao se jogar contra o encosto do banco.
Talvez tudo seria ainda melhor se aquele namoro fosse real e não apenas um plano. Uma farsa.
Com um grunhido no fundo da garganta, Minseok bagunçou os fios do cabelo frustrado e repousou a cabeça contra a parede, pensando no quanto ele queria ver Baekhyun. Nem que fosse apenas para ouvir a voz macia e escutar a risada gostosa e contagiante dele.
E com um sorriso incrédulo, Minseok percebeu que aquele era um dos primeiros de muitos sinais de que estava perdido.
                                             *
- O que você está fazendo?
- Terminando alguns projetos – Minseok se ajeitou no sofá, socando um punhado de pipoca dentro da boca antes de voltar sua atenção à tela do notebook e digitar mais um trecho de sua pesquisa.
Era um trabalho superimportante da faculdade e ele precisava adiantar o máximo que conseguisse. Era isso ou deixar tudo se acumular e Minseok detestava deixar as coisas da faculdade para a última hora.
- Não – Junmyeon disse enfático e sério. – Você está levantando a sua bunda grande desse sofá agora e indo para o seu quarto se arrumar porque vamos sair hoje.
- Nós vamos?
- Claro – Junmyeon repousou as mãos sobre o quadril – Tem uma festa na casa do Sehun e você vai comigo – disse enfático. - Ou você realmente pretende praticar suas habilidades como namorado do Baekhyun em casa sem se encontrar com ele?
- Ele não me convidou – Minseok deu de ombros.
- Mas ele me pediu pra te chamar.
- Ele tem meu telefone.
- Para de ser chato e levanta logo, Minseok. Eu dou vinte minutos pra você ficar pronto. – Junmyeon ditou sério, olhando para o relógio preso ao seu pulso. – Já estou cronometrando.
- Você sabe muito bem que não sou muito de festas – Minseok resmungou baixinho, espreguiçando o corpo todo.
- Baekhyun também sabe e, por isso, ele me pediu pra te convencer a aparecer pelo menos um pouco. – Junmyeon tinha um sorriso sugestivo na boca. - E como um bom namorado você vai.
- Ele sabe? – Minseok arqueou a sobrancelha.
- O quê? – Junmyeon parecia confuso.
- Como ele sabe que não gosto de festas? – Minseok deixou uma risada escapar por entre as palavras – Eu o encontrei em algumas de suas festas de aniversário e outras vezes nas da faculdade, mas fora isso não saio de casa e quase não me encontro com o Baekhyun pra ele saber coisas desse tipo.
- Não é algo que você esconde de todo mundo – Junmyeon disse como se fosse óbvio, um pouco impaciente com a demora de Minseok. – E como ele reparou isso ou não, a gente não vai discutir agora. Anda logo e vai se arrumar.
- Estranho. Muito estranho. – Minseok reclamou ao se levantar do sofá lentamente. – Não pensei que eu também teria que fingir na frente da faculdade toda – Minseok disse ao ser empurrado por Junmyeon na direção do corredor que levava aos quartos e banheiro.
- Você prometeu ajudar o garoto, agora aguenta – no tom de voz de Junmyeon havia um ar divertido que ele não conseguia disfarçar.
- E você me convenceu que seria uma boa ideia. – Minseok olhou por cima dos ombros e Junmyeon riu. – Não sei ainda porque eu escuto os seus conselhos. Eles nunca dão certo mesmo.
- Mas você escutou dessa vez e agora tem responsabilidades para cumprir, hyung – Junmyeon o empurrou gentilmente, ficando para trás conforme Minseok andava no corredor do dormitório deles. - E, por favor, não demora porque eu prometi ajudar o Sehun.
Junmyeon gritou quando Minseok se afastou para o banheiro e riu quando escutou as suas reclamações baixinhas.
- Não adianta querer me enganar, hyung – Junmyeon jogou o corpo contra o sofá, tirando o celular do bolso ao checar suas mensagens - Eu sei muito bem que você está gostando da ideia de ficar perto do Baekhyun.
Minseok suspirou ao fechar a porta do banheiro.
Ele tinha que dar o braço a torcer e dar razão a Junmyeon.
Minseok definitivamente não odiava aquela proposta. Muito pelo contrário, ele adorava saber que poderia ficar perto de Baekhyun, pegar em sua mão e dizer coisas bonitas. Mesmo que fosse com o pretexto de ser o namorado de mentira dele.
Fosse como fosse, Minseok admitia que ele tinha medo. Ele era o único que poderia ser envolver mais do que deveria.
Por Deus, ele já estava envolvido antes mesmo daquilo tudo começar. O pior de tudo era que Minseok queria muito ser o namorado de mentira de Baekhyun, mesmo sabendo que nunca conseguiria ocupar um lugar no coração dele.
Era insanidade, mas mesmo assim Minseok estava feliz.
E quem sabe Junmyeon estivesse certo e Minseok poderia transformar aquela farsa numa realidade. Em todo caso, Minseok não poderia desperdiçar aquela chance que estava tendo.
Ele definitivamente não desperdiçaria.
                                                     *
A festa estava lotada. Havia pessoas por todos os lados da casa de Sehun e muitos corpos balançando no ritmo da música que saía extremamente alta das caixas de som.
Minseok ajeitou a gola da camisa preta e desabotoou as três primeiras casas dos botões, revelando um pedaço de sua pele ao buscar por um pouco de ar naquele ambiente quente e fechado.
Junmyeon não disse muita coisa antes de desaparecer no meio da multidão e Minseok se enfiou no meio daquela gente um tanto perdido. Ele olhou para todos os lados, buscando rostos conhecidos e encontrou Jongin e Seulgi abraçados num canto.
Mais ao fundo Minseok conseguiu enxergar Suran que sorriu ao acenar com a mão para ele. Mas antes que pudesse retribuir e caminhar em sua direção para conversar, um copo plástico surgiu em seu campo de visão junto de dedos elegantes e um sorriso bonito.
- Finalmente meu namorado chegou – Baekhyun disse e estendeu o corpo na direção de Minseok. – Pensei que Junmyeon teria que te trazer arrastado pra festa.
- Não sou de festas, mas também não precisaria de tanto pra me fazer aparecer em uma.
Baekhyun riu e se inclinou mais perto, o rosto bem perto do seu e a boca bonita encostada em sua orelha.
- Me abraça.
Minseok sentiu o corpo todo arrepiar ao sentir a respiração quente contra seu ouvido, o cheiro de sabonete com o perfume amadeirado entorpecendo seus sentidos.
- Como?
- Me abraça, hyung – Baekhyun murmurou mais uma vez.
E finalmente Minseok se deu conta da encenação. Eles eram namorados de mentira e deveriam fazer todos acreditarem naquela farsa.
Minseok olhou ao redor e no meio das pessoas encontrou Yamazaki Kento e entendeu a motivação de Baekhyun.
Sem pensar muito e com as orelhas queimando, Minseok repousou as mãos sobre o quadril de Baekhyun, deslizando-as com suavidade pelas costas até trazer o corpo quente contra o seu.
Baekhyun soltou uma lufada de ar quando Minseok o pressionou com gentileza e seus lábios se curvaram num sorriso satisfatório.
- Satisfeito?
- Muito – Baekhyun enlaçou seus braços envolta do pescoço de Minseok e o fitou nos olhos. – Começamos bem.
Minseok só queria que tudo aquilo não fosse apenas uma mentira. Ele desejava tanto que fosse de verdade que chegava a doer fisicamente.
Inconscientemente Minseok sentiu seu corpo seguir o ritmo da música quando Baekhyun o guiou e os dois ficaram num silêncio confortável.
- Nunca pensei que você fosse bom em dançar.
Minseok separou os corpos e coçou a nuca sem jeito.
- Você ainda não sabe muitas coisas sobre mim, Baekhyun.
- Realmente – Baekhyun mordeu o lábio inferior, voltando a oferecer o copo com uma bebida de coloração estranha para ele. – Mas a gente precisa mudar isso.
- Claro, agora sou seu namorado.
- Sim, meu namorado.
Minseok percebeu quando Baekhyun o olhou com interesse e tentou dizer algo, mas um garoto alto pulou em suas costas o assustando, enquanto outro mais baixo e de olhos expressivos balançou a cabeça negativamente em total reprovação.
- Você quase me matou do coração, Chanyeol! – Baekhyun berrou sobre a música e deu um soco no braço do garoto alto. – Yoonoh quanto de bebida você deu pra ele?
- Nada – o mais baixo disse ao dar de ombros – ele é idiota assim naturalmente.
- Quem é esse, Baekhyun? – Chanyeol questionou ao apontar com a cabeça na direção de Minseok.
- Meu namorado – Baekhyun respondeu, o sorriso bonito de volta aos lábios e a mão quente envolvendo o pulso de Minseok ao trazê-lo para mais perto. – Ele é do curso de direito.
Yoonoh arqueou a sobrancelha, parecendo não comprar muito a resposta de Baekhyun e Minseok instintivamente buscou pela mão de Baekhyun, escorregando a palma contra a dele e entrelaçando os dedos.
- Eu já vi você nos treinos de futebol – Minseok falou mais alto para ser escutado em meio a música e Yoonoh estudou suas feições, tentando lembrar dele.
- Você é o capitão do time de Jongin.
Minseok sorriu quando Yoonoh, um dos amigos do atacante de seu time, lembrou dele e sentiu Baekhyun apertar com delicadeza sua mão em agradecimento por mudar o tópico da conversa.
- Baixinho desse jeito? – Chanyeol questionou incrédulo e Minseok o fulminou com os olhos. – Nada contra, é porque você não parece que faz o tipo que pratica esporte – deu de ombros - e ainda por cima é capitão.
- Se você pelo menos soubesse o abdômen que fica escondido aqui – Baekhyun disse com o tom de voz mais rouco e riu ao umedecer os lábios, tocando com as pontas dos dedos a barriga de Minseok.
Os músculos do abdômen de Minseok tencionaram instantaneamente sob o contato repentino, sua respiração tornando-se errática e uma sensação quente dominando seu ventre.
Minseok percebeu sua boca ficar repentinamente seca, mas lutou para não demonstrar nada. Ele apenas arqueou uma sobrancelha para Baekhyun em desconfiança.
Como diabos Baekhyun sabia disso? Não tinha a mínima possibilidade.
Minseok viu quando as orelhas de Baekhyun ficaram vermelhas ao perceber seu olhar sobre ele.
- Uau – Chanyeol levantou as mãos no ar e Yoonoh franziu o cenho em desgosto – A gente não precisa de detalhes.
- Baekhyun e sua boca grande – Yoonoh revirou os olhos – mas fico feliz que você arrumou alguém. Pelo menos assim você sai um pouco do meu pé e para de falar do cara que gostava.
Minseok engoliu em seco, desviando o olhar para a pista improvisada de dança no meio da sala. Definitivamente Yoonoh estava falando de Kento. Não podia ser outra pessoa a não ser ele.
- Eu vou pegar mais bebida – Minseok murmurou ao se inclinar para perto de Baekhyun na intenção que só ele escutasse apesar da música alta.
- Mas você tem ainda no seu copo – Baekhyun indicou com o dedo e olhou com a sobrancelha arqueada.
- Não mais – Minseok engoliu a pequena dose de uma bebida estranha e amarga do seu copo e sorriu para ele. – Você quer também?
- Eu vou com você – Baekhyun segurou sua mão e Minseok gostou como a palma dele era quente e macia contra a sua.
A sensação de andar de mãos dadas com Baekhyun era ainda melhor que Minseok imaginava. Ele conseguia sentir o calor do corpo de Baekhyun transbordando para o seu e como uma felicidade sem tamanho parecia queimar em seu peito.
Minseok percebeu como algumas pessoas olharam para eles. Era mais um olhar especulativo e surpreso do que qualquer outra coisa. Afinal, era a primeira vez que os dois saíam juntos e qualquer novo relacionamento que surgia na faculdade virava assunto entre as conversas de todos.
E sinceramente, o que mais lhe agradou foi quando Kento reparou neles e franziu o cenho, sério. Minseok se sentiu vitorioso, mesmo que tudo aquilo não passasse de mentira.
- Até agora estamos indo bem, certo? – Baekhyun perguntou ao encostar suas costas no balcão ao lado de Minseok. – Pra mim, nós formamos um ótimo casal.
Minseok piscou algumas vezes e agradeceu pela falta de iluminação do lugar onde estavam porque assim Baekhyun não perceberia o tanto que ele estava tremendamente envergonhado.
Era incrível como Baekhyun exercia um poder sobre ele, capaz de deixá-lo desconcertado e muito, mas muito contente.
E depois de tanto tempo gostando de Baekhyun em silêncio, era perturbador e instigante descobrir todas essas novas sensações. Minseok se sentia atraído por tudo aquilo, fazendo-o se esquecer do medo de que poderia dar errado pra ele.
- Chanyeol pareceu acreditar no nosso namoro, mas acho que Yoonoh vai precisar de mais tempo.
Minseok encheu seu copo e o de Baekhyun com uma bebida mais fraca dessa vez. Ele não pretendia ficar bêbado, muito menos cuidar de um.
- É questão de tempo, hyung – Baekhyun deixou um sorriso de canto moldar seus lábios e avançou alguns passos até seu torso encostar no braço de Minseok. E num toque quente e suave, repousou a mão e o queixo no ombro de Minseok, observando-o mais de perto. – Vamos ter que fazer mais coisas de namorado.
Minseok se arrepiou. Ele percebeu na curva da boca avermelhada de Baekhyun algo sugestivo e tentador e ficou atordoado ao notar o brilho intenso dos olhos escuros dele uma promessa velada.
- Baekhyun?
- Hm?
- Não precisa me tratar tão formalmente – Minseok umedeceu os lábios com a ponta da língua e notou quando o outro seguiu seus movimentos com os olhos. – Pode me chamar pelo nome ou ninguém vai acreditar se você continuar me chamando de hyung.
- Tudo bem – deu de ombros – Mas eu gosto como você fica quando eu te chamo de hyung.
A respiração quente de Baekhyun batia contra sua bochecha numa carícia e Minseok jurava que sua sanidade não aguentaria por muito mais tempo.
- Como você sabia?
- O quê?
- Sobre... – Minseok gesticulou em direção a sua barriga, totalmente sem graça.
- Eu já te vi sem camisa, Minseok – Baekhyun murmurou, seus olhos tão próximos, sua boca tão perto e seu corpo tão quente. Minseok estremeceu. – Eu fui em algumas partidas do seu time, estive no vestiário e – curvou os lábios em malícia – Eu vi muitas coisas, Minseok.
Baekhyun ainda seria o seu fim.
Minseok não sabia como sobreviveria a esse namoro de mentira. Seu corpo todo aqueceu e seu rosto estava em chamas. E ele engoliu em seco, afastando-se alguns passos seguros de Baekhyun antes que sua vontade de provar dos lábios macios domasse sua razão.
- Kento já sabe que estamos juntos – Minseok comentou sério.
- Sério? – Baekhyun murmurou, desinteressado. Minseok acreditava que era apenas para disfarçar o quanto ele se importava.
- Ele nos viu abraçados.
- Que bom – Baekhyun sorveu um gole de sua bebida e seus olhos se fecharam de uma forma que Minseok considerou fofa ao ser atingido pela amargura do álcool. – Você conhece aquela moça?
Minseok virou o corpo e ficou de frente para Baekhyun, o copo plástico em sua mão e a batida da música ocupando sua mente.
- Uma bonita que sorriu pra você – Baekhyun desviou os olhos e os focou nas pessoas a sua frente. – Uma loira de blusa verde.
Minseok demorou um pouco, mas finalmente se lembrou a quem Baekhyun se referia.
- Suran está na minha sala.
- Suran – Baekhyun testou o nome em sua boca – Ela parece que gosta de você.
- Você está maluco – Minseok descartou a ideia ao balançar a mão no ar e sorver um gole da sua bebida.
- O jeito que ela sorriu pra você não me engana.
- Isso não vai ser um problema no seu plano, Baekhyun – Minseok afirmou sério. – Não se preocupe.
- Não foi isso que eu quis dizer – Baekhyun retrucou, suavizando sua expressão. Mas quando ele tentou voltar a falar um barulho cristalino de vidro espatifando no chão bem perto deles atraiu a atenção de Minseok que se assustou.
Minseok sentiu quando a mão de Baekhyun o puxou pelo cotovelo e o tirou de perto dos cacos. Então relanceou o olhar na direção do desastre de vidros e encontrou Jongdae atordoado e totalmente sem jeito.
- Eu juro que não estou bêbado – Jongdae se defendeu e Minseok balançou a cabeça negativamente, rindo do amigo.
- Tinha que ser você.
- Eu disse que não era pra você deixar ele sozinho – Junmyeon reclamou para Sehun que revirou os olhos.
- Eu disse que dava conta – Jongdae resmungou.
- Dava – Junmyeon frisou – Você disse certo, você achou que dava conta, mas não deu. Não depois de beber tanto.
- Você está bem? – Baekhyun perguntou preocupado e Minseok virou o rosto para ele. – Nenhum pedaço de vidro te acertou?
- Eu estou bem, Baekhyun.
- Certo – ele murmurou baixinho antes de observar o grupo mais à frente deles. – Ficou de babá por hoje, Junmyeon?
- Infelizmente – Junmyeon respondeu e cutucou Sehun na barriga – Se ele vomitar você vai ser o responsável por limpar.
- De jeito nenhum – Sehun bufou irritado. – A casa pode ser minha, mas o amigo é seu.
- Yah – Jongdae exclamou indignado. – Eu estou aqui e estou escutando tudo, okay?
Jongdae tirou os cacos de vidro no chão com um guardanapo e os enrolou em outros antes de jogar no saco de lixo. Minseok percebeu como ele saiu enfezado depois disso e Sehun deu de ombros quando Junmyeon o reprovou com o olhar.
- Eu vou indo antes que ele quebre mais coisas – Junmyeon disse a Baekhyun e Minseok – Aproveitem a festa.
Minseok revirou os olhos ao ver Junmyeon piscando em sua direção, antes de os deixarem sozinhos de novo com Sehun em seu encalço.
- Seus amigos sabem como marcar presença.
- Junmyeon também é seu amigo – Minseok deu de ombros.
- E eu ainda me pergunto como ele nunca nos apresentou antes.
- Loucuras de Junmyeon.
- Vem – Baekhyun disse com entusiasmo na voz ao segurar sua mão mais uma vez naquela noite, entrelaçando os dedos com os seus num encaixe perfeito. – Eu quero te apresentar pra alguns amigos meus.
E foi assim a noite toda. Minseok seguiu Baekhyun por todos os cantos, conversou com vários amigos dele e o apresentou aos seus.
Eles não se abraçaram mais, mas as mãos não se desgrudaram nem por um segundo sequer. E Minseok tinha que admitir que ele estava amando ser o namorado falso de Baekhyun.
Minseok aproveitaria cada minuto dos momentos juntos de Baekhyun, mesmo que perdesse a sanidade no meio do caminho.
                                                        *
Minseok massageou as têmporas, tentando afastar a dor que começava a latejar em sua cabeça.
A biblioteca da faculdade estava em absoluto silêncio e Minseok tentava ao máximo tirar proveito disso, mas mesmo assim ele não conseguiu se concentrar no livro de Direito Penal aberto à sua frente, muito menos em suas anotações.
Suspirou frustrado, sua mente teimosa insistindo em lembrar da noite da festa com Baekhyun.
Seus pensamentos continuavam lembrando dos momentos em que Minseok ficou ao lado, tocou e abraçou Baekhyun. Tinha acontecido algumas noites atrás, mas a respiração quente e os olhos intensos de Baekhyun ainda o atormentava tremendamente.
- O que você está fazendo?
Minseok escutou quando uma voz grave e doce murmurou bem perto de seu ouvido, um corpo quente inclinado contra suas costas e mãos suaves repousadas em seus ombros.
E ele sentiu um beijo macio e delicado em sua bochecha. Foi um toque breve dos lábios macios, mas morno e muito bom. Minseok ficou estupidamente sem reação e sentiu as pontas das suas orelhas pegarem fogo.
Então olhou levemente para o lado e encontrou Baekhyun com o rosto apenas alguns poucos centímetros perto do seu.
- Estudando – Minseok respondeu baixinho para não perturbar os outros alunos que estavam estudando e sentiu a leve pressão que Baekhyun fez com as mãos no seu ombro em conforto – Ou pelo menos, estou tentando.
- Cansado? – Baekhyun se afastou, jogando o corpo contra a cadeira ao lado de Minseok. – Você está com a cara de quem não tem dormido muito.
- Tem esse projeto que eu preciso terminar, tem os exames finais e ainda tem o campeonato de futebol da faculdade que está bem próximo – Minseok respirou fundo ao soltar uma risada nasalada. – Sinceramente não sei se vou conseguir sobreviver a tudo isso.
- Pensa no lado bom.
- Qual? – Minseok questionou, mas o sorriso sugestivo nos lábios de Baekhyun denunciavam tudo.
- Seu namorado está aqui pra alegrar a sua manhã – ele respondeu ao pegar sua mão e apertar a palma contra a sua, fazendo movimentos circulares em sua pele com o polegar. – Quer presente melhor que esse?
Minseok olhou pela biblioteca e não encontrou ninguém que Baekhyun desejasse impressionar, mas Minseok não perguntaria o motivo daquilo e apenas aproveitaria da companhia dele.
- Talvez se você tivesse vindo com um copo de café pra me manter acordado...
- Vou tentar me lembrar disso da próxima vez – Baekhyun sorriu e o observou se inclinar levemente contra o livro.
Minseok sentiu os olhos dele pesando sobre si, estudando seus movimentos silenciosamente. Ele não parecia incomodado e muito menos entediado. Na verdade, Baekhyun parecia aproveitar daquele momento.
- Minseok?
Minseok sorriu inconscientemente, adorando como a voz bonita moldava seu nome e como seus lábios delineados o pronunciavam.
- Hm? - levantou o rosto para ele e deixou a caneta de lado.
- Eu quero ir assistir um de seus treinos de futebol.
- Mas você disse que sempre vai.
- Como seu namorado, hyung. – Baekhyun confessou baixinho e o fitou em expectativa.
Por uma fração de segundo Minseok ficou feliz, pensando que Baekhyun estava interessado em vê-lo jogar. Mas no segundo seguinte seu estômago se afundou e seu sorriso sumiu do rosto.
Yamazaki Kento era um dos atacantes de seu time. Baekhyun provavelmente queria fazer uma encenação na frente dele e precisaria de seu namorado de mentira para isso.
Minseok suspirou cansado.
- Se quiser, o treino da semana que vem vai ser algo mais simples e vai ser mais fácil pra gente conversar sem o treinador ficar bravo com interrupções.
Baekhyun mordeu o lábio inferior sorrindo e sua face se iluminou com algo que Minseok não soube identificar.
- Eu vou estar lá e vou torcer por você.
- Eu sei, eu sei – Minseok abanou a mão no ar, camuflando sua decepção e tentando apagar da sua mente o ex-namorado dele.
- Eu preciso ir agora – Baekhyun olhou para o relógio na parede do lado oposto ao da bancada da bibliotecária, levantando-se relutantemente da cadeira. – Tenho uma aula meio complicada.
- Quem disse que estudar música era moleza? – Minseok disse e Baekhyun riu.
- Eu te vejo depois, hyung – Minseok o olhou sério. – Okay – ele levantou as mãos no ar em forma de rendição – Eu te vejo mais tarde, Minseok.
E antes que Minseok pudesse reagir, Baekhyun tocou seu rosto com a palma da mão e inclinou seu rosto levemente para cima antes de beijar sua testa com carinho.
Baekhyun saiu apressadamente da biblioteca sem dar oportunidade para ele responder. E Minseok tocou com as pontas dos dedos o lugar em que os lábios do mais novo tocaram, sentindo a pele formigar e seu coração disparar dentro do peito.
Ele sorriu inconscientemente, uma sensação ainda mais forte domando seu peito.
Minseok tinha certeza de que era impossível se apaixonar ainda mais por uma pessoa, mas com Baekhyun ele começava a duvidar dessa teoria.
                                                        *
Uma bola de papel amassado voou na direção de Minseok e aterrissou em seu colo, atraindo sua atenção para o lado. Era Seulgi o chamando e ele se inclinou um pouco para escutar o que ela queria dizer.
- Quando é que o senhor pretendia me contar que estava namorando?
Ah.
- Era algo muito recente – Minseok deu de ombros ao se ajeitar na cadeira, uma reposta aparentemente decente vindo em sua mente mais rápido do que ele esperava. - E eu tinha medo de que não fosse ficar sério, por isso preferi guardar segredo.
- Ele é muito bonito, Minseok – Seulgi sorriu, seus olhos se fechando em uma meia lua com o ato.
- Sim, ele é muito bonito. Baekhyun é incrivelmente bonito por dentro e por fora – Minseok confessou com algo sonhador no tom de voz – Sabia que ele é do prédio de música?
- Baekhyun – Seulgi testou o nome. – Ele parece gostar muito de você.
Minseok sabia que se Seulgi conhecesse a verdade sobre aquele namoro, provavelmente, não falaria algo assim.
- O jeito que ele te olhava... – Seulgi suspirou exageradamente em provocação, pegando a bolinha de papel no ar quando Minseok mirou em sua direção. – Hey, eu estou falando sério.
- Melhor a gente prestar atenção na aula ou o professor vai acabar chamando a nossa atenção.
- Minseok? – Seulgi o chamou e ele olhou para ela. A expressão em seu rosto estava séria dessa vez. – Espero que você seja feliz com o Baekhyun.
Minseok também esperava.
                                                    *
Os jogadores estavam no campo se aquecendo e todos pareciam aliviados com o tempo menos quente daquela tarde e muito mais fresco e gostoso para treinar.
Jongin segurava os braços esticados de Minseok, ajudando-o a alongar os músculos tensos. Mas sua principal motivação naquele momento era bancar o curioso e tirar sarro de Minseok, perguntando tudo sobre Baekhyun e como eles se conheceram.
Conforme o combinado com Baekhyun, Minseok contou que os dois tinham se conhecido através de Junmyeon. A atração aconteceu naturalmente, até que eles perceberam que queriam muito mais que uma amizade ou algo sem compromisso.
Na cabeça de Minseok aquilo poderia ter mesmo acontecido, caso Junmyeon tivesse cumprido o seu papel de amigo, apresentando os dois como deveria. E talvez aquela farsa toda não tivesse que existir e sua mentira seria algo da sua realidade.
- Kim Jongin – Minseok começou sério e com um tom de advertência na voz – Se continuar torrando a minha paciência, eu vou fazer questão que você passe o treino todo no banco.
Jongin riu, soltando seus braços e oferecendo os dele para Minseok ajudá-lo com o alongamento.
- Fico feliz que você esteja com ele – Jongin murmurou, olhando para frente. – Você gostou do Baekhyun em silêncio por tanto tempo que eu achei que nunca criaria coragem pra se confessar.
Minseok tragou o ar com força, sentindo seu peito apertar com uma sensação estranha.
Talvez mentir não estava o ajudando em nada, exceto para lembrá-lo das coisas que ele poderia ter feito para estar com Baekhyun, mas que nunca teve coragem o suficiente para tentar.
- Falando nele... – Jongin disse com um sorriso e apontou com a cabeça para o lado oposto do campo em que eles estavam.
Minseok soltou os braços de Jongin e olhou na direção que ele tinha indicado, encontrando Baekhyun que descia apressado os degraus da arquibancada, ao correr pelo campo em sua direção.
- Espero não ter me atrasado pra ver a partida – Baekhyun murmurou ofegante, as bochechas coradas pelo esforço e um sorriso lindo nos lábios.
- Você chegou bem a tempo de ver seu namorado jogar – Jongin disse com a expressão de quem achava tudo aquilo divertido e interessante.
- Ótimo – Baekhyun suspirou aliviado e olhou para Minseok com um sorriso mais suave e caloroso – Adoro ver o capitão do time entrando em ação – ele piscou para Minseok que mordeu o lábio inferior sem jeito.
- Eu vou deixar os dois pombinhos ficarem um tempo sozinhos – Jongin murmurou ao dar uns tapinhas camarada nas costas de Minseok. – Aproveita que o técnico não vai nos chamar nos próximos quinze minutos.
Minseok relutou em olhar para Baekhyun, mas quando o fez sentiu a sensação morna de seu sorriso o envolver. Baekhyun o fitava intensamente e não parecia incomodado em perder alguns minutos assim.
- Você fica bonito usando esses shorts curtos – os cantos dos lábios de Baekhyun se curvaram em algo significativo e matreiro. – Tenho sorte em ter um namorado com pernas tão bonitas.
- Baekhyun! – Minseok exclamou sem conseguir segurar a gargalhada que escapou de sua boca, muito menos suas orelhas que queimavam em vergonha.
- Você tem pernas bonitas, olhos encantadores e – Baekhyun disse e Minseok sentiu quando ele tocou delicadamente com a ponta dos dedos os seus lábios – eu acho linda a sua boca.
Baekhyun acariciou a pele macia, os olhos focados nos lábios do capitão e algo em suas irises que queria dizer muita coisa. Minseok repentinamente prendeu a respiração e seu coração bateu violentamente contra o seu peito.
E Minseok só foi capaz de soltar o ar e respirar novamente quando Baekhyun quebrou o toque e o olhou nos olhos.  
- O que você gosta em mim, Minseok? - Baekhyun perguntou baixinho, as feições demonstrando uma expectativa e a mão buscando pela sua silenciosamente.
Os dedos de Baekhyun entrelaçaram os de Minseok que umedeceu os lábios estranhamente nervoso, sentindo um certo ar de intimidade que nunca antes tinha pesado entre eles.
- Tudo.
Minseok foi sincero e viu quando as irises de Baekhyun brilharam em resposta, sua boca entreabrindo em surpresa.
– Não deveria confessar isso, mas eu gosto da sua personalidade barulhenta – os dois riram e Baekhyun mordeu o lábio inferior, tentando esconder a vergonha – Eu adoro como você não tem medo de nada e acho muito atraente as suas mãos. Você não tem noção do quanto elas são lindas – Minseok apertou sua palma contra a dele, como se para comprovar o que estava dizendo. - Mas seu sorriso... Ele ganha disparado de tudo.
- Uau – Baekhyun sussurrou – Primeira vez que alguém me deixa sem palavras.
Um grupo de pessoas, não muito longe deles, gritaram algo que Minseok não conseguiu ouvir o que era, mas as risadas altas atraíram a atenção de Baekhyun que olhou na direção deles.
Minseok o copiou e encontrou parte de seu time reunido numa roda desorganizada. Kento estava entre eles, seu uniforme amassado e o cabelo desgrenhado pelo vento. Ele parecia falar algo entusiasmado e todos riram novamente.
Minseok sentiu seu estômago despencar e uma sensação amarga explodiu em sua boca. E inconscientemente ele apertou com delicadeza a mão de Baekhyun, implorando por sua atenção.
Saber que Kento era alvo da atenção de Baekhyun o corroía de ciúme.
- Seu time é bem... – Baekhyun deixou a voz morrer quando encontrou algo na expressão de Minseok. – Aconteceu alguma coisa?
- Nada – Minseok fingiu um sorriso, mas que não chegou a curvar seus lábios e, se Baekhyun notou algo, não disse nada. – Promete que vai me esperar?
- Prometo.
Baekhyun soltou sua mão e, antes que Minseok pudesse reclamar da ausência do toque, percebeu a mão dele tocando seu cabelo, tirando os fios da frente de seus olhos e acariciando levemente antes de se afastar.
– Eu prometo tudo o que você quiser, hyung. E quero que você me prometa algo também. – Minseok murmurou em resposta, incentivando-o a continuar – Quero que você me leve para sair depois daqui. Só nós dois.
E não tinha como Minseok negar nada a ele. Nem mesmo se quisesse.
                                                        *
O treino demorou mais do que o esperado, mas Baekhyun ainda estava na arquibancada com um sorriso enorme no rosto e gritos de incentivo que chegavam até Minseok como um gatilho para se empenhar mais.
Quando saiu do vestiário de banho tomado, mochila nas costas e cabelo úmido, Minseok sentiu a brisa fresca do começo da noite.
Baekhyun o esperava do lado de fora, o corpo encostado na parede e as mãos dentro do bolso da calça jeans. E ele o olhou longamente, um brilho caloroso em suas irises e algo instigante em sua expressão.
- Pronto pra me levar pra um encontro? – Baekhyun murmurou ao abraçá-lo pela cintura.
Jongin e Yoongi ao passarem pelos dois desejaram boa sorte no encontro, sem esconder os sorrisos cúmplices. Minseok riu e tentou se lembrar que aquilo era um namoro de mentira. Um que ele deveria se empenhar pra se tornar real.
- Onde você gostaria de ir?
- Algum lugar que tivesse bebida quente e comida gostosa – Baekhyun inclinou a cabeça levemente para cima, fitando-o com a respiração quente atingindo seu pescoço. ��� Eu estou com muita fome, hyung.
- Quando é que você vai parar de me chamar de hyung? – Minseok o abraçou de volta, apertando gentilmente o corpo de Baekhyun contra o seu.
- Nunca.
O barulho que escapou da boca de Baekhyun ao rir fez Minseok o achar ainda mais fofo. E impulsivamente segurou o rosto de Baekhyun com sua mão, tocando a pele quentinha e seu polegar acariciando a bochecha com delicadeza.
– Eu adoro a cara que você faz quando te chamo assim – Baekhyun murmurou ao fechar as pálpebras, aproveitando do carinho. - Você enruga o nariz de um jeito todo bonitinho. Parece aqueles filhotes de gatinho.
O tom de voz de Baekhyun não passava de um mero sussurro rouco que apenas Minseok poderia escutar. E Baekhyun tocou o nariz de Minseok com delicadeza, fazendo-o enrugar inconscientemente e Baekhyun rir ao provar seu ponto.
- É ainda mais fofo do que quando você fica todo sério e concentrado.
Minseok sentiu uma onda de calor esquentar seu peito e subir para seu pescoço, provavelmente se alojando nas pontas de suas orelhas vermelhas e em suas bochechas.
- Você quer mesmo me deixar envergonhado – Minseok balançou a cabeça negativamente e respirou fundo o perfume que o corpo de Baekhyun exalava, sentindo os seus sentidos entorpecerem. – Eu conheço um lugar que você vai adorar e que tem um monte de bolo gostoso.
A face de Baekhyun se iluminou e ele deu um pulo extasiado para trás, pegando na mão de Minseok e o puxando para a saída da faculdade.
- Falou em comida é comigo mesmo! – Baekhyun exclamou.
Definitivamente Minseok poderia se acostumar com coisas boas assim. E poderia ser egoísmo de sua parte, mas ele desejava que todos aqueles momentos bons fizessem parte de sua rotina.
Minseok queria tanto Baekhyun que chegava a doer.
-
- Eu não sei qual bolo escolher – Baekhyun disse pensativo, o dedo indicador sobre seu queixo e os olhos estudando a vitrine a sua frente.
- Esse parece ser gostoso – Minseok apontou um de chocolate e menta e depois para outro que o atendente nomeou como delírio belga. – Esse também.
- Achei que você ia querer provar o de café.
- Eu não recusaria um pedaço – Minseok deu de ombros e Baekhyun riu.
- Vou querer um pedaço pequeno desses três – Baekhyun falou com o atendente, indicando os bolos que Minseok sugeriu. – E dois chocolates quentes. O meu com marshmallow e o dele sem, por favor.
Os dois sentaram numa mesa mais afastada de todos, uma mais perto da janela e com mais privacidade. Baekhyun sentou animadamente e Minseok observou seus trejeitos com admiração.
- Você não precisava ter pedido os três só porque eu falei.
- Precisava sim, eu também quero experimentar – Baekhyun falou com um sorriso bonito e iluminado.
E Baekhyun falou o tempo todo, gesticulando espalhafatosamente e com a voz num tom consideravelmente mais alto que um murmúrio.
Minseok não se importou em apenas escutar todas as estórias dele e observar a forma como os lábios bonitos se moviam, os dedos longos e elegantes tamborilando sobre a mesa e as pernas agitadas se remexendo debaixo dela o tempo todo.
Minseok amava admirar Baekhyun. Tinha sido sempre assim, a única diferença agora era que ele podia fazer isso mais de perto.
O melhor de tudo era que Minseok também podia tocar a pele macia, abraçar o corpo quentinho e sentir o perfume gostoso que exalava dele. Mesmo que fosse com o pretexto de ser o namorado de mentira, Minseok estava amando tudo aquilo.
O pedido deles não demorou muito a chegar e Baekhyun não perdeu tempo em provar o primeiro pedaço do bolo de chocolate e menta, lambendo a cobertura de seus lábios e provando com um suspiro de satisfação.
- Esse é muito gostoso – Baekhyun disse contente e um tanto barulhento - Você precisa provar.
Ele ofereceu seu garfo com um pedaço generoso do bolo e Minseok, um pouco hesitante, inclinou-se para frente ao colocar o doce na boca, saboreando com o olhar especulativo de Baekhyun sobre ele.
- E então?
- É muito bom! – Minseok sorriu.
- Hyung – ele chamou e Minseok o olhou, surpreendendo-se ao ver Baekhyun se aproximar lentamente.
Minseok não se moveu, o coração disparado dentro do peito ao sentir o toque suave da ponta dos dedos de Baekhyun no canto de seus lábios. E Minseok respirou profundamente quando Baekhyun acariciou sua pele com extrema delicadeza e dedicação.
- Qual você quer experimentar agora? – Baekhyun perguntou ao voltar para o seu lugar, um sorriso de canto enfeitando seus lábios e algo sugestivo em suas feições. – Acho que você vai gostar do bolo de café.
Minseok se forçou a ter uma reação – qualquer tipo de reação -, mas o seu coração batia disparado dentro do peito e um frio se alojava em sua barriga, como se mil borboletas voassem dentro dela.
Era impossível pensar com clareza depois de tudo, mas Minseok fez o que Baekhyun disse e provou do bolo de café ao sorver um gole do seu chocolate quente depois.
- Eu gostei mais desse – Minseok comentou, mastigando mais um pedaço. – Talvez porque sou um pouco viciado em café.
- Principalmente quando está perto dos exames finais – Baekhyun o acusou com o garfo apontado em sua direção, os fios do cabelo preto bagunçados e a boca cheia de bolo.
Minseok o achou adorável.
- Parece que você sabe mais de mim do que eu de você. – Minseok murmurou, sentindo-se extasiado ao saber que Baekhyun tinha reparado nele o suficiente para saber algo assim.
- Eu sou um bom observador – ele deu de ombros, bebendo um gole do seu chocolate quente. - Você tem muitas manias e eu sei quase todas.
Minseok engasgou, sentindo o ar escapar de seus pulmões com a sinceridade de Baekhyun.
- Junmyeon me contou muitas coisas sobre você.
Ah, agora sim Minseok conseguia entender como ele sabia coisas que seriam impossíveis perceber com tão poucos encontros.
- Espero que tenha sido coisas boas.
- Quase sempre – Baekhyun riu baixinho – Mas eu sei quando ele está falando a verdade.
- Como você sabe?
- Você nunca foi invisível pra mim, Minseok – Baekhyun murmurou, umedecendo os lábios depois de sorver o último gole de seu chocolate quente. – Eu sempre reparei muitas coisas e sei muitas outras, mas eu ainda quero saber mais sobre você.
Minseok ficou sem palavras e sentiu algo borbulhar em seu peito.
- Pode me perguntar o que quiser que eu vou responder –disse, fitando-o nos olhos.
- Eu quero tudo.
- Ganancioso, hein?
Minseok embrenhou as mãos entre os fios de seu cabelo, tirando a franja da frente dos olhos. Baekhyun o observava silenciosamente com o pomo de adão subindo e descendo num sinal de inquietação e nervosismo.
– Eu fui uma criança muito quieta e gostava de ler quadrinhos – Minseok revelou, remexendo os farelos de bolo em seu prato com a ponta do garfo. - Não fui muito de assistir animes, como os outros da minha escola, mas eu era ótimo no futebol.
- Você ainda é ótimo.
Baekhyun sorriu e esticou a mão para pegar a sua entre elas, o calor de sua palma esquentando sua pele fria e os dedos fazendo círculos aleatórios numa carícia gostosa.
- Fui um adolescente que não deu muitos problemas e minha mãe vivia reclamando que eu deveria sair mais de casa para as festas.
- Parece que quanto a isso nada mudou – o canto dos olhos de Baekhyun se enrugaram quando uma risada escapou de seus lábios e Minseok se sentiu contagiado.
- Velhos hábitos nunca mudam – ele deu de ombros – Eu não gosto de mudanças e tenho medo de escuro. Nunca fui fã de temperos fortes, mas adoro comidas apimentadas.
- Eu detesto pepino – Baekhyun enrugou o nariz em desgosto.
- Eu percebi isso. Você sempre tira o pepino do sanduíche da lanchonete.
Minseok não notou o que tinha feito até que percebeu a forma como Baekhyun o encarava. Os olhos escuros estavam totalmente focados nos seus e os lábios bonitos entreabertos em surpresa.
- Bom – tragou o ar com força, sentindo-se constrangido – esse sou eu. Uma pessoa calma, pacata e sem graça.
- Você nunca foi sem graça, Minseok – Baekhyun deslizou o seu dedo entre os dele e os entrelaçou ao pressionar a palma contra a sua. – Isso eu posso te garantir.
Minseok sorriu inconscientemente. Um sorriso que curvava o canto de seus lábios e mostrava o quanto estava contente e extasiado.
- Aposto que sua infância foi bem mais agitada que a minha.
- Talvez um pouquinho – Baekhyun confessou com uma alegria presa entre as palavras. – Sabe, eu tenho medo de altura. Muito medo mesmo.
- Do tipo que você não pode ficar em lugares muito altos?
- Infelizmente, sim.
- Montanha russa nem pensar pra você?
- Eu tenho pavor desse brinquedo.
- Então nada de encontros pra nós dois num parque de diversões.
- Eu ainda posso muito bem andar no carrossel, Minseok.
Baekhyun fingiu indignação e Minseok gargalhou alto ao atrair a atenção das pessoas mais próximas na cafeteria.
– Bom, ao contrário de você, eu dei muito trabalho para os meus pais. – Baekhyun continuou ao inclinar a cabeça e sussurrar como se fosse um segredo. – Medo nenhum me impediu de aprontar coisas que deixavam minha mãe de cabelo branco. Eu sempre chegava em casa com o joelho ralado, a roupa suja de lama e várias advertências no caderno.
- E sempre foi barulhento.
- E sempre fui barulhento – Baekhyun confirmou – É algo que piora com o tempo.
- Tenho pena de quem for viver com você.
- Se o nosso namoro der certo, você vai ser a minha vítima. - Baekhyun piscou o olho, gracejando.
Sem saber se ele estava falando sério ou não, Minseok apenas desviou o olhar e fitou a rua do lado de fora da janela para disfarçar que estava totalmente desconcertado.
- Acho melhor a gente ir, antes que fique tarde – disse num tom estranho até para si mesmo. – Preciso terminar aquele projeto.
- Se quiser ajuda, pode me chamar. Não sou muito bom com leis e prazos, mas sou um ótimo incentivador. – Baekhyun gargalhou e Minseok fechou os olhos, saboreando o som gostoso.
Ele queria mais disso.
Minseok estava viciado em Baekhyun e não sabia mais como se curar, muito menos se havia cura para isso.
E foi então que ele percebeu que estava perdido. Totalmente e pateticamente perdido. O pior de tudo era que Minseok não se importava. Não enquanto ainda pudesse ficar ao lado de Baekhyun.
                                              *
A noite tinha esfriado um pouco, tornando a caminhada até os dormitórios da faculdade muito mais agradável.
Baekhyun e Minseok aproveitaram o tempo juntos para contarem tudo aquilo que não tinha sido dito antes entre eles.
Baekhyun contou muitas coisas e Minseok tantas outras. Eles descobriram o que gostavam de fazer nos tempos livres e o que planejavam da vida depois que se formassem.
Os dois compartilharam tudo sobre o passado, o presente e até mesmo o futuro.
Minseok sentiu que poderia conversar com Baekhyun pelo resto da noite que não se cansaria, mas quando percebeu já estavam parados diante da faculdade e a poucos centímetros de se separarem.
- Eu nunca poderia imaginar que você tinha feito parte do time de natação – Minseok se explicou para Baekhyun que o encarava. – Talvez do canto eu conseguiria, mas nunca da natação.
- Por que eu sou baixinho? – Baekhyun questionou com as mãos no quadril e o cenho franzido. O seu tom de voz era exageradamente indignado e seu sorriso denunciava que ele não estava realmente ofendido.
- Porque você não tem cara – Minseok deu de ombros. – Mas você tem os ombros largos iguais a de um nadador.
- Pode falar – Baekhyun mexeu o corpo de um lado para o outro, gracejando de forma fofa. – Eu sou a pessoa mais bonita que você já viu na vida.
- Pode acreditar que sim.
- E sou um ótimo nadador.
- Isso eu já não posso afirmar porque nunca te vi nadando – Minseok retrucou ao colocar as mãos nos ombros de Baekhyun, impedindo-o de se mexer novamente. – Você está me deixando zonzo.
Minseok achou extremamente encantador o jeito como os lábios de Baekhyun formaram um bico e os olhos escuros dele o desafiaram.
- Pra sua informação eu era um dos melhores.
- Eu acredito nisso – Minseok afirmou, ajeitando o casaco no corpo de Baekhyun ao ver que ele tremia – Eu realmente acredito que você é capaz de se empenhar muito pra fazer tudo o que gosta.
- Eu nunca desisto de nada – Baekhyun disse sério, deixando algo atraente e sugestivo escapar de sua expressão. – Eu luto pra ter tudo o que eu gosto perto de mim.
Não era como se Minseok não soubesse disso. Ele só estava junto de Baekhyun exatamente por causa desse motivo. Os dois eram namorados de mentira porque Baekhyun queria fazer ciúme para Yamazaki Kento.
- O que você está pensando? – Baekhyun deu um passo para frente, ficando perigosamente perto.
- Nada de importante – Minseok sorriu. Era um sorriso um pouco forçado e que não chegava aos cantos de seus lábios. – Estou preocupado com o projeto e o prazo limitado que tenho pra terminar tudo.
Baekhyun o observou atentamente e Minseok sentiu como se ele pudesse enxergar através de seus olhos.
- Eu não queria me despedir agora – Baekhyun lamentou num sussurro e suspirou baixinho. – Mas acho que está ficando tarde e muito frio.
- Um pouco – Minseok disse em reflexo. Sua atenção estava totalmente focada na ponta da língua de Baekhyun que umedecia a boca avermelhada e nos olhos escuros que brilhavam em sua direção.
- Hyung?
- Sim?
- Eu quero meu beijo de despedida.
Minseok sentiu seu coração martelar dentro do peito, as batidas tão altas e fortes em seu ouvido que ele sentiu medo de que Baekhyun pudesse escutá-las.
Engolindo em seco e as mãos tremendo, Minseok agiu impulsivamente. Ele se inclinou para frente, segurou gentilmente o rosto de Baekhyun entre as palmas das suas mãos e beijou a testa dele com extremo carinho e respeito.
- Hyung... – Baekhyun murmurou baixinho e fraco.
Minseok se afastou delicadamente e encontrou Baekhyun com a respiração pesada, os olhos fechados com força e as mãos segurando a sua camisa ao amassar o tecido entre os dedos.
- É melhor você entrar antes que esfrie mais – Minseok disse com as pontas das orelhas queimando e o pescoço em chamas.
- Obrigado por essa noite. Eu me diverti muito. – Baekhyun sussurrou rouco ao deixar as pálpebras abrirem lentamente até focarem Minseok, seus olhos fitando intensamente os dele. – Eu te vejo amanhã, certo?
Havia uma expectativa palpável no tom de voz de Baekhyun que Minseok não queria e não poderia decepcionar nunca.
– Claro que sim.
Porque não teria um dia - sequer um único dia - que Minseok se recusaria a ver Baekhyun. E dessa vez com um sorriso mais sincero e vibrante, despediu-se.
Um até mais que deixou um gostinho de promessa em sua boca.
-
- Você está parecendo um zumbi – Junmyeon disse, roubando uma batata frita do prato de Minseok.
- Yah! Você tem um monte no seu prato – Minseok acusou indignado, batendo na palma da mão dele. – Guloso.
Os dois estavam almoçando juntos num restaurante perto do dormitório. Era um domingo fresco e entediante o suficiente para fazer Minseok e Junmyeon saírem de casa para espairecer.
Eles queriam esquecer do estresse dos exames finais e Minseok do formigamento em sua boca. Era como se ele ainda conseguisse sentir vividamente a pele quente de Baekhyun contra seus lábios.
E o beijo de despedida tinha acontecido dias atrás, mas Minseok não conseguia mais parar de pensar naquela noite. Seus pensamentos dispersos sempre o levavam para a mesma lembrança e sempre para a mesma pessoa, deixando-o intensamente atordoado.
Junmyeon tinha percebido o estado de Minseok e aproveitava para tirar uma com a cara dele, provocando com gracinhas e sugestões malucas. E Minseok já estava acostumado com tudo isso, principalmente Junmyeon roubando comida de seu prato, mas isso não significava que Minseok não se sentisse no direito de reclamar um bocado.
– E, para o seu governo, eu estou me sentindo um zumbi – Minseok se lamentou, frisando as palavras ao sorver mais um grande gole do refrigerante gelado. – Fiquei acordado até tarde ontem.
- Fazendo exatamente o quê? – Junmyeon arqueou a sobrancelha em questionamento.
O restaurante estava cheio e barulhento, mas não o suficiente para o murmúrio baixo de Minseok ser abafado.
- Conversando com o Baekhyun por mensagens – Minseok deu de ombros, querendo imprimir um ar desinteressado quando na verdade a empolgação de passar horas jogando conversa fora com ele ainda o deixasse elétrico.
- Esse namoro está rendendo bastante, hein?
Minseok sentiu as cutucadas do dedo de Junmyeon em seu braço e o ar sugestivo nas palavras dele ao tentar segurar a risada nervosa que ameaçava escapar de seus lábios.
- Para com isso – ele afastou a mão de Junmyeon e tossiu com a outra na frente da sua boca antes de continuar. – Baekhyun estava combinando comigo o dia que vamos visitar os pais dele.
- E quando vai ser isso?
- Muito provavelmente nas férias.
- Daqui duas semanas? – Minseok afirmou com a cabeça. – Você acha que consegue fingir na frente dos pais dele?
- Apaixonado pelo Baekhyun eu já estou – ele deu de ombros, coçando a nuca constrangido ao confessar aquilo em voz alta. - Eu gosto dele pra caramba, Junmyeon. E acho que tirando isso não tem muita coisa que eu preciso fingir.
- Tem sim.
- O que por exemplo?
- Tudo bem que vocês conseguiram uma intimidade bacana nesses dias que saíram e ficaram juntos, mas... – Junmyeon deu uma pausa dramática e exagerada. - E o beijo, Minseok?
- Nós não vamos ficar beijando na frente dos pais dele, seu idiota – Minseok jogou uma batata frita na direção dele e Junmyeon pegou ao atingir o tampo da mesa, enfiando-a na boca. – Nojento.
- Eu aposto que não vai demorar muito pra isso acontecer, Minseok – Junmyeon deu de ombros. – É questão de tempo.
Balançando a cabeça negativamente, Minseok não deu mais atenção a Junmyeon e suas ideias malucas.
Ele estava se iludindo muito bem sem o amigo e não precisava dos conselhos insanos dele para alimentar nada disso.
                                                *
Minseok suspirou cansado, jogando o corpo contra o encosto da cadeira ao fitar o teto sem muito interesse. Ele sentia sua cabeça doer bastante, seus músculos tensos reclamarem e seus olhos ficarem cansados demais depois de tanto tempo lendo palavras pequenas e textos grandes.
- Você precisa descansar um pouco.
Virando o rosto na direção da voz suave, Minseok encontrou Baekhyun na mesma posição de horas atrás, quando o deixou entrar em seu quarto.
Minseok observou como Baekhyun parecia familiarizado com o seu espaço, esticando-se todo em sua cama com um livro no colo sem parecer incomodado com nada.
- Faz horas que a gente começou a estudar e não tivemos sequer uma pausa – Baekhyun murmurou, colocando o livro na mesa de cabeceira ao fitar Minseok atentamente.
- Eu estou me sentindo frustrado – Minseok gesticulou em direção as suas anotações, cadernos e livros espalhados pela escrivaninha. – Não sei se vou conseguir me lembrar de tudo isso no dia do exame.
Quando Baekhyun deu a ideia de estudarem juntos Minseok pensou que seria perfeito. E realmente foi, porque a única coisa que o manteve longe de ter uma crise era a companhia dele.
Baekhyun sempre tinha uma palavra incentivadora quando estava desistindo, uma estória engraçada pra quando estava se sentindo para baixo e uma reação inesperada pra quando seu coração batia calmo.
Ele não era hesitante em suas ações e muito menos se arrependia das coisas que fazia.
Baekhyun sempre passava por Minseok para ir até a cozinha e sempre depositava um beijo em suas bochechas e massageava seus ombros. Mas seu coração disparou mesmo quando sentiu o toque suave dos lábios de Baekhyun em sua nuca, causando um calafrio em sua espinha e queimando suas orelhas em embaraço.
Seu namorado de mentira tinha o dom de deixá-lo desconcertado.
- Vem aqui – Baekhyun gesticulou com as mãos, chamando-o antes de dar um toque suave no colchão. – Você precisa de um tempo longe dos livros, hyung.
Minseok hesitou. Por alguns segundos hesitou e sentiu sua garganta secar com um sentimento forte. Mas antes que pudesse pensar demais e acabar desistindo, ele largou suas coisas e levantou-se da cadeira.
E um pouco hesitante Minseok sentou na beirada da cama, mas isso não pareceu agradar muito Baekhyun que franziu o cenho e comprimiu os lábios numa linha firme e fina.
- Você está muito longe.
Escutou-o reclamar baixinho e notou quando Baekhyun se afastou para o canto da cama, dando espaço para ele deitar ao seu lado.
Ele fitou Baekhyun por alguns segundos antes de deitar sobre os lençóis macios e ficar próximo – muito próximo - do corpo quente e acolhedor. E foi quase instantâneo quando o estresse deu trégua e a tensão diminuiu, seus ombros automaticamente relaxando.
Minseok se aconchegou mais na cama e fitou Baekhyun, os dois com as cabeças encostadas no travesseiro e as respirações se mesclando.
Foi então que Minseok se deu conta de que eles estavam perigosamente próximos. Mais um pouco e poderia tocar os lábios de Baekhyun e provar da maciez deles.
- Assim é bem melhor – Baekhyun sussurrou rouco ao se encolher contra Minseok, abraçando-o gentilmente.
Ele notou a forma como Baekhyun escondeu o rosto contra seu peito, os lábios roçando o tecido fino e os dedos desenhando círculos aleatórios em seu torso numa carícia gostosa.
Minseok respirou profundamente ao tentar controlar as batidas fortes de seu coração, temendo que Baekhyun pudesse escutá-las.
- Se eu não estivesse aqui, você estaria enlouquecendo sozinho?
- Muito provavelmente.
- Ainda bem que eu estou aqui, então – Baekhyun disse num tom calmo, baixo e rouco.
E Minseok deixou um barulho afirmativo e desconexo escapar de seus lábios num tom grave.
Aquilo era muito mais íntimo do que passear juntos de mãos dadas, do que o beijo na testa e o abraço na festa. E aquele momento juntos, apenas os dois, aquecia o peito de Minseok com uma sensação perturbadoramente intensa. Ele sentia que a qualquer momento poderia entrar em combustão e se queimar com uma felicidade sufocante.
- Você é o melhor namorado que eu poderia ter – Minseok murmurou ao quebrar o silêncio do quarto.
Baekhyun levantou o rosto levemente e o fitou nos olhos com uma expressão indecifrável. E com o queixo apoiado em seu peito, os cílios fazendo sombra nas bochechas e os dentes capturando os lábios avermelhados, Minseok teve certeza que nunca encontraria alguém mais bonito do que Byun Baekhyun.
- Eu deveria receber uma recompensa por isso – Baekhyun sugeriu com um sorriso esperto moldando o canto de sua boca.
- Eu não posso te oferecer muita coisa no momento, Baekhyun – Minseok argumentou, sentindo-o entrelaçar suas pernas às dele num gesto inesperado e inconsciente.
Suspirando fraco quando seu pé gelado entrou em contato com o quentinho de Baekhyun, Minseok tragou o ar com força ao aproveitar o calor que ele transcendia.
- Você tem muita coisa pra me oferecer, Minseok – Baekhyun sussurrou sério, sua respiração escapando num sopro e seus olhos encarando-o intensamente ao buscar por algo em suas irises escuras. – Mas, por agora, eu vou aceitar um jantar pra nós dois.
Minseok sorriu e conseguiu respirar normalmente quando Baekhyun quebrou o momento com mais uma de suas gracinhas. E ele fez menção de se levantar da cama para preparar um lanche quando Baekhyun o deteve no lugar, enroscando-se ainda mais contra seu corpo.
- Ainda não – Baekhyun murmurou, sua voz saindo um pouco abafada ao ter o rosto escondido novamente no peito de Minseok – Eu quero ficar assim só mais um pouquinho.
Baekhyun suspirou e fechou os olhos quando Minseok cedeu. E com um bolo preso na garganta e uma sensação domando dentro de si, Minseok aproveitou o momento e se entregou a ele em cada segundo.
- Quanto tempo você quiser –sussurrou em resposta, beijando a testa de Baekhyun com delicadeza.
E Minseok se sentiu realmente perdido e apaixonado. Nada seria mais justo do que abraçar o perigo e desejar que o bendito tempo parasse naquele instante em que ele tinha Baekhyun em seus braços.
Ele queria que aquele momento fosse eterno.
                                      *
- Você sabe que eu não ligaria tão tarde assim se realmente não precisasse, certo? - Minseok escutou a voz meio abafada de Kyungsoo do outro lado da linha do telefone e, coçando os olhos pesados de sono, ficou alerta ao que quer que estivesse acontecendo com o amigo.
Ele avistou o relógio na escrivaninha e notou que passava muito das três da manhã. Minseok deixou um suspiro pesado escapar de sua boca seca e percebeu que tinha dormido sem querer, ao assistir um filme aleatório na televisão com Baekhyun enroscado em seus braços.
Minseok olhou para o lado e viu que Baekhyun continuava agarrado ao seu corpo, os lábios entreabertos roçando em seu pescoço e a respiração quente o arrepiando.
- Quem é? – Baekhyun murmurou sonolento ao seu lado, abrindo as pálpebras lentamente e remexendo-se na cama ao bagunçar ainda mais os lençóis sob os dois.
- Aconteceu algo grave? – Minseok questionou preocupado para Kyungsoo e Baekhyun o olhou atentamente.
- Jongdae está muito bêbado – Kyungsoo disse com um tom sério - e não sabe onde enfiou as chaves do dormitório dele. – ele bufou contrariado em meio a música alta e reclamou algo com Jongdae que parecia murmurar descontente ao seu lado. – E você sabe que o meu colega de quarto é meio chato pra essas coisas.
- E você pensou que eu poderia trazer ele pra cá – Minseok completou pelo amigo que suspirou frustrado do outro lado.
- Sim.
- Me fala onde vocês estão que eu vou aí – murmurou ao se levantar da cama apressado, procurando por sua camiseta e o casaco.
Ele praguejou baixo quando não encontrou suas chaves, mas respirou aliviado ao ouvir o tilintar delas e sorriu em agradecimento para Baekhyun que as rodava no dedo.
- Prometo não demorar, Soo – Minseok o tranquilizou com uma voz suave e baixa.
- O que aconteceu? – Baekhyun questionou assim que Minseok finalizou a ligação. Ele tinha o semblante sério e preocupado.
- Nada demais –aproximou-se dele na cama e pegou o molho de chaves que era estendida em sua direção e a carteira na mesinha de cabeceira. – Jongdae bebeu demais e eu vou precisar buscar ele pra passar a noite aqui.
E Minseok estava prestes a se virar e deixar Baekhyun dormindo sossegado quando sentiu os dedos elegantes capturando seu pulso.
- Eu vou com você.
- Não precisa – Minseok sorriu e ajeitou os fios rebeldes que caiam no rosto de Baekhyun. – Pode ficar dormindo aqui.
- Minseok – ele chamou firme. – Eu vou com você.
Minseok umedeceu os lábios e murmurou um ‘tudo bem’ baixo e esperou Baekhyun vestir seus tênis e casaco para saírem.
E a viagem do seu dormitório até a festa não era muito longe, mas muito fria e escura. Os dois andaram o percurso todo um pouco apressados, tentando evitar ao máximo o vento forte e gelado que os atingia.
Baekhyun manteve o tempo todo os olhos atentos à sua frente com as mãos enfiadas dentro do bolso da frente da calça, os orbes perdidos no tempo e a expressão pensativa.
- Eu não sei mais o que eu faço com o Jongdae – Kyungsoo resmungou quando avistou os dois entrarem na casa de um dos alunos da faculdade. – Terminar com a Yoora definitivamente n��o fez bem pra ele.
- É só uma fase, Soo – Minseok disse e riu da posição destrambelhada que Jongdae se aconchegava no sofá, a boca entreaberta e o nariz torto por ficar contra o encosto do estofado.
- Eu espero que sim.
Kyungsoo os ajudou a levar Jongdae de volta e se jogou no sofá da casa de Minseok exausto. Baekhyun o observou em silêncio. Na verdade, o caminho de volta ele não trocou nenhuma palavra com ninguém e ajudou Minseok a carregar o bêbado pelas escadas do dormitório.
Ele até mesmo o auxiliou a colocar Jongdae na cama de Junmyeon - que avisou que iria passar a noite no dormitório de Sehun – sem dizer absolutamente nada.
- Se quiser, pode dormir aqui – Minseok comentou com Kyungsoo. – Acho que está tarde pra você atravessar o campos agora.
- Não é uma má ideia, viu. – Kyungsoo sorriu pra ele e mordeu o lábio inferior, contendo um bocejo de escapar. – Relembrar os tempos em que eu dormia no meu velho e bom amigo sofá.
- Ele conhece muito bem os seus roncos.
Minseok contornou a mesinha de centro, ajeitando a bagunça de cadernos que Baekhyun tinha deixado espalhada na sala e percebeu quando Baekhyun se encostou no batente da porta.
- Eu não ronco, seu idiota – Kyungsoo tentou chutar a bunda de Minseok que afastou sua perna com um safanão. – Você dormiu comigo várias vezes e sabe bem disso.
Minseok não soube bem o motivo, mas ele olhou na direção de Baekhyun e o encontrou de semblante sério e a sobrancelha arqueada pelo comentário do outro.
- Mas acho que vou recusar e ir pra minha cama mesmo. Não quero acordar com dores nas costas amanhã.
- Você quem sabe – Minseok murmurou, sentindo os olhos de Baekhyun pesando sobre si.
- Jongdae já está atrapalhando vocês o suficiente – Kyungsoo sorriu para ele, depois para Baekhyun em desculpa e Minseok o viu recolher suas coisas e caminhar para a porta. – Desculpa mesmo.
Kyungsoo o abraçou como costume e o apertou entre os braços, antes de bagunçar os fios de seu cabelo e sair do seu dormitório ao acenar em despedida com um ‘boa noite’ baixo e cansado.
- Vocês são bem íntimos – Baekhyun constatou. Ele ainda estava encostado contra o batente da porta, os braços cruzados e a expressão séria.
- Amigo de longa data.
- Ele gosta de você?
- Não – Minseok soube que tinha respondido rápido demais e Baekhyun percebeu isso.
Ele se aproximou de Minseok enviesando os lábios de canto e os olhos o fitando com interesse e intensidade. Suas mãos seguraram o casaco de Minseok, trazendo-o para perto. Não havia muito espaço entre eles e seu rosto ficou a centímetros do de Baekhyun.
- Eu estou com ciúmes.
Minseok soltou uma lufada de ar e ficou sem reação. O coração em batidas erráticas no peito.
- Ele é só um amigo.
- Hm - Baekhyun murmurou arrastado e o encarou com algo cruzando os olhos escuros. – Interessante.
- O quê?
Baekhyun mantinha os lábios enviesados num sorriso instigante e sua mão livre subiu do peito para o pescoço até alcançar a nuca de Minseok, acariciando os fios de cabelo ao alcance dos seus dedos.
Minseok suspirou pesado, sentindo todo seu corpo estremecer sob o toque delicado e gostoso.
- Ver você com esse tal de Kyungsoo... – ele sussurrou com a respiração batendo contra sua bochecha e o nariz tocando sua pele suavemente num carinho inesperado. – Eu fiquei com ciúme. Muito ciúme.
- Por quê?
Minseok fechou os olhos com força, os pensamentos nublados e os sentidos entorpecidos. E ele esperou por uma resposta com o coração martelando contra o peito.
Uma resposta que não veio.
Baekhyun não teve chance de dizer nada quando Jongdae invadiu a sala meio trôpego em direção à cozinha.
- Ops – ele murmurou culpado – Acho que eu atrapalhei alguma coisa.
- Você acha, é? – Minseok retrucou sarcástico e Baekhyun riu.
- Não precisa se preocupar – Baekhyun sussurrou em seu ouvido e Minseok sentiu uma sensação quente fisgar em seu baixo ventre e um arrepio subir por sua espinha. – Eu ainda vou voltar nesse assunto. E pode ter certeza que eu vou querer saber essa estória que você dormiu com o Kyungsoo.
Um sorriso esperto delineava os lábios bonitos de Baekhyun que tocaram gentilmente sua bochecha num beijo breve. E ele saiu da sala e caminhou para o quarto de Minseok, sumindo no corredor e deixando-o sozinho com Jongdae.
- Você está perdido, cara. – Jongdae afirmou com um sorriso bobo no rosto e o corpo pendendo para o lado, como se estivesse perdendo o equilíbrio e o controle sobre si mesmo.
Minseok não conseguia acreditar e compreender nada do que tinha acontecido. Baekhyun estava mesmo com ciúme dele? Do namorado falso? O cara que estava somente o ajudando num plano maluco?
Era surreal demais e o fazia cogitar inúmeras possibilidades, as quais ele não queria que o tornasse esperançoso. Mas já era tarde demais.
Seu coração estava meio descontrolado e seu semblante se iluminou com algo bobo e contente ao curvar seus lábios para cima num sorriso.
- Acho que estou mesmo.
E era o melhor jeito pra se estar perdido.
                                                                                       *
Ele respirou profundamente aliviado na manhã em que acordou e percebeu que não tinha mais matérias, livros, leis e artigos para ficar estudando por horas a fio.
Minseok se sentia imensamente grato que os exames finais tinham finalmente terminado, levando um pouco de sua sanidade no meio do caminho, mas mesmo assim acabado.
E se não fosse por Baekhyun, ele tinha certeza de que acabaria pirando de uma vez por todas. Quando acabava excedendo demais em suas sessões de estudos, Baekhyun dava um jeito de tirá-lo da biblioteca ou da frente da sua escrivaninha para dar uma pausa.
Ele sempre levava Minseok para respirar o ar fresco do lado de fora do prédio do dormitório ou simplesmente para se afastar um pouco da faculdade, mas na maioria das vezes os dois se enroscavam nos lençóis da sua cama, jogando conversa fora e gastando horas num momento apenas deles.
Era quase uma rotina estabelecida entre os dois.
Minseok gostava de sentir o perfume de Baekhyun, o calor de seu corpo e o toque da pele macia contra a sua. Ele amava a forma que sempre se abraçavam num ato naturalmente inconsciente.
E ficar perto de Baekhyun o tornava ainda mais viciado por sua companhia, fazendo-o ficar ávido por muito mais. Ele era ambicioso quando se tratava de Byun Baekhyun.
Minseok se sentia egoísta, mas ele não queria que aquele namoro de mentira terminasse.
Era muito bom e muito perfeito para acabar.
- Aonde você vai?
Junmyeon o questionou com a sobrancelha arqueada, o corpo estirado no sofá velho e um cobertor cobrindo-o dos pés até quase a cabeça. A televisão a sua frente estava ligada em alguma animação da Disney e ele parecia devorar um balde de pipocas sozinho.
- Preciso entregar uma documentação na faculdade, mas não demoro muito pra voltar – Minseok murmurou, buscando por suas chaves e carteira.
- Em cima do balcão – Junmyeon indicou com o dedo sem olhar e Minseok grunhiu ao pegar seus objetos. – Você já arrumou suas malas? É amanhã mesmo que você vai viajar com Baekhyun?
- Sim e sim – ele respondeu colocando a carteira no bolso traseiro da calça jeans e pegando um envelope pardo com seus documentos de cima da mesa. – Já está tudo pronto pra viagem e eu vou sair daqui por volta das seis da manhã. Então, não precisa acordar pra se despedir.
- E quem disse que eu quero me despedir?
- Você vai ficar dias sem me ver, Junmyeon.
- E eu estou muito feliz por causa disso.
- Mentiroso!
- Como eu posso não ficar se eu vou ter a casa toda pra mim?
Junmyeon estava sendo irônico e Minseok sabia disso.
- Eu quero minha casa inteira quando voltar e nada de festas, muito menos Sehun ocupando algum canto dessa casa – Minseok o advertiu ao tirar o cabelo da frente dos olhos. – Da última vez ele fez muita bagunça e ainda teve a audácia de pegar minhas meias emprestadas.
- Ele estava sentindo frio – Junmyeon deu de ombros, enfiando um bocado de pipoca na boca. – Vê se não demora na faculdade e vai aproveitar logo as suas férias.
- Nesse frio? – Minseok apontou para a janela onde o céu nublado não iluminava muito a sala e o vento forte e frio balançavam as cortinas.
- Claro – Junmyeon o olhou por cima do braço do sofá – Você tem que aproveitar o tempo com seu namorado.
- Um de mentira.
- E isso faz diferença? – Junmyeon perguntou retoricamente. – Vocês dois fazem tudo igual a um casal de verdade. Agora só falta o beijo – murmurou como se estivesse desapontado com a falta de reação do amigo. - Eu ainda estou esperando você mexer essa sua bunda grande e tomar logo uma atitude.
- Junmyeon, por favor, volta a assistir seus desenhos que você ganha mais – Minseok resmungou com o cenho franzido.
- Realmente ganho mesmo – ele deu de ombros e voltou a sua atenção para a tela da televisão.
Minseok não sabia como Junmyeon podia acreditar tanto naquele namoro entre ele e Baekhyun.
Fosse como fosse, Minseok também acreditava como um tolo, esperando muito mais daquele relacionamento do que seria justo.
Baekhyun e Minseok tinham uma intimidade e um envolvimento que muitos casais verdadeiros não tinham. Os dois possuíam uma sintonia somente deles e nada podia ser melhor do que um ter a companhia do outro.
Ele sabia que Baekhyun podia ser inalcançável, mas tinha momentos em que Minseok o sentia ao alcance de suas mãos e isso o tornava ainda mais sonhador e esperançoso.
                                                          *
Minseok estava tão distraído em meio aos seus pensamentos e ilusões sobre aquele namoro de mentira que não percebeu uma leve movimentação ao virar um dos corredores do prédio do lado de fora do dormitório em direção a saída. Mas, por algum motivo, seus olhos capturaram e compreenderam o que estava acontecendo em meio ao jardim antes mesmo que sua mente pudesse.
E Minseok sabia que não deveria estar presenciando aquela cena. Ele sabia que era errado ficar onde estava, vendo algo ao qual não fazia parte, mas seu corpo estava completamente paralisado.
Com um nó na garganta, Minseok reparou como Baekhyun estava próximo de Yamazaki Kento. As feições dele indicavam quanto Baekhyun estava chateado e frustrado, seus lábios comprimidos numa linha reta e firme e o cenho franzido em descontentamento. Mas ainda assim os dois estavam próximos demais.
Kento parecia tentar amenizar a situação, mas o resultado não era como ele aparentemente esperava. Ele parecia desapontado quando a boca de Baekhyun curvou para baixo e expeliu palavras duras e ásperas que Minseok não conseguia escutar de onde estava.
Minseok se sentiu deslocado e nauseado, mas ele presenciou quando Kento tocou o braço de Baekhyun, como para provar um ponto. E para seu pesar Baekhyun não o afastou, deixando que a mão descansasse em sua pele ao abandonar as linhas duras de sua expressão e permitisse que cada traço de suas feições se suavizasse com o que quer que Kento tenha dito baixinho somente para ele.
Baekhyun suspirou pesarosamente e Minseok notou os olhos dele fechando com um bocado de um sentimento que não soube reconhecer, mas que fez seu estômago pesar e seu coração sufocar dentro do peito.
Ele não conseguia mais assistir aquilo, um gosto amargo preenchendo sua boca e uma dor paralisante domando seu corpo e sua mente.
Se aquilo fosse o que ele imaginava, logo não haveria mais Minseok e Baekhyun e o resultado daquele namoro de mentira se tornaria exatamente o que ele imaginava. Mas Minseok não estava disposto a dar adeus a algo tão bom e que o fazia tão bem.
Minseok não queria perder Baekhyun.
Ele se virou, sendo incapaz de ver mais daquele encontro. Não queria mais presenciar o antigo casal se reconciliando porque ele tinha quase certeza de que era exatamente isso que estava acontecendo entre os dois.
Minseok foi embora com os pensamentos nublados, o coração pesado e o corpo entorpecido.
                                                    *
Era um sábado frio e nublado quando Minseok pegou o trem com Baekhyun para a visitar os pais dele.
A viagem foi sossegada e muito tranquila. Baekhyun contou para Minseok sobre seus exames finais, os professores que ele acreditava que daria uma nota alta para os seus projetos e sobre o último fora que seu colega de quarto levou de uma garota.
Baekhyun estava mais barulhento do que o normal e tudo o que ele dizia tinha um tom de animação extremo. Minseok sorria sinceramente para o rapaz, sentindo-se contagiado pelo seu entusiasmo.
E ele tentava se esquecer de todas as formas possíveis a cena do dia anterior, apagando da sua mente qualquer insegurança e do seu coração qualquer sentimento pesado que ameaçasse deixá-lo angustiado.
Faltando pouco para a viagem terminar, Baekhyun reclamou de cansaço e automaticamente se aproximou do corpo de Minseok, encostando a cabeça no ombro dele ao suspirar profundamente.
Minseok estremeceu ao sentir a respiração quente de Baekhyun contra seu pescoço e não se conteve ao deixar que seus dedos embrenhassem nos fios escuros e sedosos, tirando-os da frente do rosto dele e acariciando-o levemente.
- Eu gosto quando a gente fica assim – Baekhyun murmurou de olhos fechados e Minseok sentiu seu coração bater mais rápido.
- Eu também – ele sussurrou em resposta com algo escorregando entre suas palavras e sua voz falhando ao final.
- Meus pais vão te adorar – levantando o rosto ligeiramente para cima, Baekhyun o fitou nos olhos com uma expectativa palpável e um brilho incandescente nos olhos. – Eu vou fazer questão de fazer você se divertir muito e querer voltar uma próxima vez comigo.
Minseok também queria que tivesse uma próxima vez, mas se Kento voltasse à vida de Baekhyun seria algo difícil de acontecer novamente. Mas ele preferiu ficar quieto e rir com a animação quase infantil de Baekhyun.
Minseok deslizou suavemente os dedos do cabelo macio para a bochecha corada de frio, depositando um carinho suave nela. Seu coração retumbava furiosamente dentro do peito e ele tentava pensar que aqueles momentos junto com Baekhyun duraria bem mais do que estava fadado a terminar.
Baekhyun voltou a relaxar em seus braços e a fechar os olhos, suspirando baixinho com a carícia. E ele ficou assim pelo resto da viagem, despertando apenas quando o trem parou e Minseok o acordou gentilmente.
- Está preparado pra conhecer meus pais, hyung?
Foi o que Minseok escutou Baekhyun exclamar alto ao pular do trem para o lado de fora.
Era inverno e Minseok foi atingido pelo vento frio da estação pouco movimentada sem piedade. Ele olhou ao seu redor, percebendo a grande diferença entre uma cidade grande e movimentada para uma pequena e muito pacata.
Minseok gostava disso. Ele gostava da paz da cidade de Baekhyun, mas não gostava da sensação que tinha no peito.
De uma forma ou de outra, Minseok tinha ido para aquela cidade conhecer os pais de Baekhyun e fingir uma relação. Claro que ele não fingiria seus sentimentos e muito menos o apreço que tinha pelo filho deles, mas a relação entre os dois, por mais que quisesse que fosse, não era em nada real.
Baekhyun não era seu namorado de verdade e Minseok teria que mentir sobre isso.
Então não, ele não estava nada preparado para conhecer os pais de Baekhyun.
                                                  *
Os pais de Baekhyun foram muito receptivos e tão ou mais animados que o próprio filho.
Minseok reparou no sorriso retangular de Baekhyun refletido nos lábios da mãe e o nariz pequeno no rosto do pai. Baekhyun tinha uma mistura dos pais que os tornavam parecidos, mas também ele era singularmente bonito a sua maneira.
E Minseok foi gentilmente recebido pela família que o ajudou com as malas e fez questão de que ele descansasse da viagem longa.
Uma reação bem diferente da que ele realmente esperava. Se fosse tomar em consideração o discurso de Baekhyun sobre provar que era feliz do jeito que era para eles... Era estranho toda aquela saudação calorosa e nada hesitante. Afinal, o plano não era conquistar a confiança dos pais de Baekhyun? Mas parecia que os dois o aceitavam muito bem e não tinham nenhum problema com isso.
Fosse como fosse, os mais velhos cederam gentilmente o quarto de hóspedes para Minseok que se viu num cômodo pequeno, bem iluminado e muito aconchegante com Baekhyun divagando sem parar sobre coisas do seu passado e o quanto estava empolgado para mostrar tudo a ele.
- Baekhyun – Minseok se virou na direção da voz feminina e encontrou a mãe do garoto escorada no batente da porta do quarto. – Deixa o menino respirar um pouco e vem me ajudar na cozinha.
- Você sabe que eu não sei cozinhar e nem picar nada direito.
- Eu gosto de como suas batatas ficam artisticamente cortadas e seu arroz deliciosamente empapado – ela riu baixinho quando notou a expressão de frustrado do filho. – Eu estava com saudades da sua comida.
- Se quiserem eu posso...
Minseok começou, mas foi cortado sutilmente pela mãe de Baekhyun.
- Nem pensar – ela o deteve com um gesto gentil – Você fica aqui pra descansar e, se quiser tomar um banho, pode usar o banheiro que tem no final do corredor e usar as toalhas limpas que estão armário. Aproveita a oportunidade porque logo Baekhyun volta pra te atormentar mais um pouco.
- Mãe! – Baekhyun exclamou indignado.
- Vem e deixa seu namorado descansar.
Ela puxou Baekhyun para fora do quarto que resmungou algo que Minseok não compreendeu, fazendo-a rir alto em resposta.
Namorado. Aquela palavra ainda soava familiarmente boa aos seus ouvidos e Baekhyun parecia acostumado em escutá-la. Mas Minseok sabia que o namoro de mentira tinha um prazo de validade e algo o deixava a impressão de que seria enquanto a viagem durasse.
                                                       *
- Você demorou no banho.
Minseok levantou o rosto e avistou Baekhyun deitado sobre sua cama com um sorriso travesso brincando nos lábios. O tom de voz dele era brando e um pouco manhoso, mas o olhar em seu rosto tinha algo muito intenso e instigante que fez Minseok deter seus movimentos - uma toalha branca na mão, secando os fios úmidos do seu cabelo -, com a expressão confusa.
- Esperava encontrar você com uma toalha enrolada no corpo e muita pele aparecendo.
Baekhyun riu quando Minseok revirou os olhos ao estalar a língua frustrado e as orelhas queimando de vergonha.
Ele jogou a toalha em cima da poltrona no canto do cômodo, desviando o olhar antes que seu coração ameaçasse saltar para fora da sua boca.
- Baekhyun... – começou em tom de advertência.
– Você não pode me julgar por querer que as famosas cenas de filmes e livros românticos aconteçam comigo também, hyung – Baekhyun o olhou de volta com o semblante sério, mas o sorriso de canto ainda brincando em seus lábios. - Mas o que eu estou vendo não me decepciona em nada.
- Para de falar besteira, Baekhyun – Minseok resmungou e sentou na ponta da cama. – Você não deveria estar ajudando a sua mãe?
- Dentro das minhas habilidades culinárias eu já fiz tudo o que poderia pra ajudar. – Baekhyun o observou por breves segundos ao buscar sua mão com a dele, entrelaçando os dedos num ato delicado. – Por que você insiste em ficar longe de mim?
Porque machucaria demais ter que me separar depois, foi o que Minseok pensou com um peso no coração. Mas, ao invés de obedecer a sua razão que gritava para se afastar, ele cedeu e deitou ao lado de Baekhyun que se enroscou em seu corpo e o abraçou apertado, como se tivesse medo de que Minseok pudesse escapar a qualquer momento.
O que Baekhyun não sabia era que se dependesse de Minseok nada o faria se afastar dele. Ou quase isso, porque se algum dia Baekhyun pedisse para acabar com toda aquela mentira e terminar o acordo que havia entre eles, Minseok o obedeceria.
E, por mais que doesse ficar longe de Baekhyun, ele ficaria.
- Eu queria saber o que você tanto pensa – Baekhyun murmurou com as pontas dos dedos tocando o vinco entre as sobrancelhas de Minseok, ao tentar suavizar a expressão séria e tensa que ele carregava.
- Não é tão importante assim – deu de ombros e ajeitou-se sobre o colchão antes de desviar os olhos, fitando o teto sem muito interesse. – São coisas que eu não consigo parar de pensar.
- E eu gostaria que você compartilhasse comigo.
- São bobagens da minha cabeça.
- Nada é bobagem quando é sobre você, Minseok.
Minseok virou o rosto e o olhou nos olhos, encontrando um interesse sincero nas irises escuras e brilhantes. Baekhyun estava realmente querendo saber sobre ele.
- Você já pensou como vai ser quando esse namoro de mentira acabar?
- Eu não gosto de pensar sobre isso – Baekhyun respondeu sério e algo parecia o incomodar bastante.
- Por quê?
Baekhyun suspirou profundamente e fitou as mãos unidas dos dois antes de voltar a encarar Minseok com ainda mais intensidade.
- Você não sabe, Minseok? – Baekhyun disse baixinho, a voz fragmentada e rouca.
Ele o fitou com a expressão denunciando algo que Minseok não conseguia captar, mas sentia no fundo do seu coração.
Minseok sabia que havia um certo tom de ansiedade no timbre de voz de Baekhyun, mas ainda era complicado descobrir todas as outras emoções que estavam escondidas nas entrelinhas. Na verdade, era realmente difícil decifrar Baekhyun e descobrir o que ele desejava.
– Você realmente não sabe?
Minseok entreabriu os lábios para responder, mas as palavras se recusaram a sair e ficaram estagnadas em sua garganta como um nó.
Ele estava confuso e não entendia o que Baekhyun queria dizer com tudo aquilo.
- Achei que fosse óbvio.
Minseok escutou Baekhyun murmurar e ele focou sua atenção na expressão séria dele, esperando encontrar algo – qualquer coisa – que indicasse o caminho certo.
E algo cruzou as feições bonitas, mas antes que Minseok pudesse descobrir o que era e saber o que tudo aquilo significava, a mãe de Baekhyun bateu sutilmente na porta, chamando-os para descer.
Minseok sentiu seu coração martelar com força quando Baekhyun o fitou por mais alguns segundos, esperando algo dele. E Minseok quis saber o que era para suprir todas as expectativas de Baekhyun, mas ele estava estupidamente perdido.
Uma sensação pesada o dominou e um gosto amargo preencheu sua boca ao ver Baekhyun levantar da cama e soltar as mãos entrelaçadas, seu calor se dissipando de Minseok.
E Baekhyun sorriu  e o puxou do colchão, fazendo-o se levantar e ficar de frente para ele. Olhos nos olhos e seu peito encostado ao dele, as respirações quentes se encontrando pela falta de distância e os lábios muito próximos um do outro.
- Não se preocupe – o sorriso curvou ainda mais na boca bem desenhada. – Você vai saber do que eu estou falando.
Era uma promessa. Minseok sentia que era uma promessa que ele iria descobrir em breve.
-
Minseok notou que o tempo que passava junto com Baekhyun e seus pais era sempre muito animado.
As refeições eram agitadas com conversas paralelas e histórias antigas e novas que rodavam pela pequena cidade. As noites com sessões de filmes eram repletas de reações exageradas, risadas altas e muita pipoca. E as tarefas rotineiras e domésticas eram compartilhadas igualmente entre todos, enquanto uma música vibrante tocava no som da sala para os motivar.
Baekhyun costumava dançar no meio da cozinha e sua mãe a assobiar no ritmo da batida. Eles eram livres, cheios de energia e conviviam em harmonia. Uma família unida e feliz.
Era contagiante.
E, no tempo em que passaram juntos, Minseok observou como Baekhyun era muito parecido com sua mãe. Tanto no sorriso bonito quanto na personalidade barulhenta. Os dois tinham o dom de preencher o ambiente com sons e cores vibrantes.
Por outro lado, o pai de Baekhyun era muito mais observador e quieto, mas tinha a mania de provocar e ser irônico como o filho. E inconscientemente Minseok passou a captar as pequenas semelhanças entre os três, mas também as grandes diferenças que os distinguiam.
Ele também não deixou de reparar em algo. Baekhyun era aceito pelos pais e, bem diferente do que esperava, Minseok não se sentiu rejeitado ou até mesmo condenado por nenhum dos dois. Ele foi acolhido pelos mais velhos como o namorado do filho, sem nenhum tipo de resistência ou julgamentos.
Não houve questionamentos, nem mesmo o penalizaram por qualquer uma de suas escolhas.
Era até mesmo estranho pensar que o plano de Baekhyun envolvia conquistar a aceitação dos pais quando, na verdade, ele já tinha desde o começo.
Talvez por isso Minseok começou a sentir que o objetivo do namoro de mentira não se encaixava em nada no cenário em que ele presenciava na casa de Baekhyun.
E Minseok conseguia pensar em apenas uma possibilidade para explicar tudo aquilo. Mas era impossível, certo? Minseok não conseguia imaginar Baekhyun cometendo uma loucura dessas.
Ou, talvez, nem era tão difícil assim.
- Você é novo na cidade? – uma voz baixa, suave e feminina o despertou de seus pensamentos.
Minseok olhou para o lado e encontrou com uma garota um pouco mais baixa que ele, cabelos longos e castanhos e olhos bem escuros, fitando-o com um interesse nítido nas irises e um sorriso gentil nos lábios.
Minseok estava no pequeno supermercado da cidade e, enquanto escolhia alguns legumes para o jantar, Baekhyun parecia entretido com as prateleiras de doces e salgadinhos no canto oposto da loja.
- Na verdade, vim visitar a família de um... amigo – ele coçou a nuca incerto, hesitando na última palavra e sentindo-se culpado quando finalmente a verbalizou.
Parecia errado não reconhecer Baekhyun como seu namorado, mesmo que fosse um de mentira.
- Será que eu o conheço? – ela questionou ao se aproximar alguns passos, sem invadir o seu espaço pessoal ou fazê-lo se sentir desconfortável.
- Byun Baekhyun.
Ela pareceu pensar por alguns segundos, puxando na memória um rosto para o nome dito.
- Me soa familiar – ela fez uma expressão adorável e Minseok inconscientemente sorriu de canto. – Eu nunca fui muito boa para recordar os nomes das pessoas – deu de ombros, como se pedisse desculpas por isso. – Mas o que está achando da cidade?
Minseok reparou nos gestos ansiosos e um pouco instáveis da garota ao analisar uma batata sem muito interesse, antes de jogar na sacola de plástico que estava no carrinho à sua frente.
Os cantos de seus lábios curvavam inocentemente para cima num sorriso bonito e as mãos pequenas, quando estavam livres, insistiam em tirar os fios de cabelo da frente do rosto e os prender atrás da orelha.
E foi nesses pequenos detalhes que Minseok soube que a garota estava flertando com ele.
- É um lugar bem calmo.
- Isso é bom?
- Claro – Minseok respondeu ao colocar a sacola com as cenouras escolhidas dentro da cesta que estava repousada no chão ao lado de seus pés. – Eu estava precisando um pouco de folga da cidade grande e das coisas que estavam me estressando – deu de ombros ao endireitar o corpo. -  E aqui é muito bonito também, então...
Minseok deixou sua frase no ar e arriscou um olhar na direção de Baekhyun, esperando encontrá-lo distraído com as compras. Mas Baekhyun o encarava com a sobrancelha arqueada em questionamento, os olhos brilhando escuros e o semblante sério denunciando que ele observava a conversa há algum tempo.
Minseok sentiu seu coração parar uma batida para acelerar na seguinte quando percebeu um sorriso esperto e bem atrevido contornando os lábios bonitos de Baekhyun.
- Se você quiser, eu posso te mostrar alguns lugares legais daqui – ela ofereceu timidamente e Minseok desviou a atenção para o rosto delicado à sua frente. – A cidade é bem pequena, mas tem coisas bem legais para fazer e conhecer.
Minseok a olhou com atenção e partiu os lábios para recusar educadamente o convite, mas se deteve ao ser interrompido.
- Ele agradece o convite – uma voz grave e firme murmurou rouca e Minseok sentiu braços deslizarem por seu quadril, envolvendo-o num abraço por trás -, mas o guia turístico dele vai ficar muito magoado se for dispensado por outra pessoa.
Minseok não precisou olhar para saber quem era. E ele ofegou quando Baekhyun pressionou o torso contra suas costas ao depositar um beijo suave em seu pescoço, fazendo suas orelhas queimarem de vergonha e uma sensação morna fisgar em seu baixo ventre.
- Ah – ela suspirou e seu semblante se iluminou ao entender a situação. – E-eu achei que...
- Pois é – Baekhyun murmurou calmo. Um sorriso gentil delineava seus lábios, mas em seus olhos havia algo felino e perturbadoramente intenso. – Mas foi um prazer conhecer você. Não é, hyung?
- Claro – Minseok murmurou com um riso preso na garganta.
A menina não parecia ofendida, muito menos desconcertada. Esse era o efeito de Baekhyun. Ele estava sendo compreensivo e nada intimidador. E a garota pareceu entender de forma respeitosa.
Quando ela se afastou com uma despedida tímida, Minseok virou o corpo nos braços de Baekhyun e notou algo cruzar as irises escuras dele.
- Primeiro Kyungsoo e agora ela – Baekhyun mordeu o lábio inferior ao aproximar o rosto do seu. – Eu fico com ciúmes de você – sussurrou em seu ouvido, os lábios tocando seu lóbulo com delicadeza – e tento me controlar pra não agir impulsivamente.
- Ciúme? – Minseok não conseguia mais raciocinar direito. Não quando Baekhyun estava tão perigosamente próximo.
- Uhum – murmurou num tom profundo, fazendo todos os pelos do corpo de Minseok se arrepiarem. – E sabe – Baekhyun pausou e sua respiração pesada e quente tocou a pele de Minseok, numa sensação perturbadoramente enlouquecedora e desconcertante - eu ainda quero saber sobre aquela conversa que você e Kyungsoo dormiam juntos.
Quando Baekhyun se afastou, Minseok notou um sorriso enviesado nos lábios avermelhados. Era um sorriso astuto e algo mais que ele não soube decifrar, mas que o deixava completamente desnorteado.
Baekhyun era uma caixinha de surpresas. Mas mais do que isso, ele também era inesperadamente sua fonte de admiração. Minseok nunca sabia o que esperar dele e suas reações e ações sempre o deixavam fora de rumo, mas nunca desconfortável.
- Não tem muito o que saber – Minseok disse baixinho. - Nós ficamos juntos por um tempo, mas não deu certo – deu de ombros ao deixar que as pontas de seus dedos tocassem inconscientemente o rosto de Baekhyun, trilhando até a mecha de cabelo que caia em seus olhos.
- Por quê?
- Era melhor ser apenas amigo – ele acariciou com o polegar a bochecha de Baekhyun que suspirou em resposta.
- Você ainda gosta dele?
Minseok percebeu o tom suave no sussurro de Baekhyun e umedeceu os lábios, um frio percorrendo sua espinha em antecipação.
- Eu me importo com ele como eu me importo com qualquer outro amigo meu – Minseok umedeceu os lábios, observando a feição séria de Baekhyun. – Não faria nada pra acabar com a minha amizade com Kyungsoo.
- Ótimo saber disso – Baekhyun sorriu com certo alívio e segurou suas mãos, puxando-o para o fundo da loja. – Agora me ajuda a escolher os chocolates.
Minseok não questionou a mudança repentina de assunto. Talvez ele nem mesmo precisasse de uma resposta para saber o que aquilo significava.
- Mais chocolate? Você tem bastante na sua casa.
- Chocolate nunca é demais, hyung.
Minseok se deixou ser puxado por Baekhyun, entrelaçando os dedos quando as mãos se uniram delicadamente.
Minseok tentou não raciocinar demais, não tentou encaixar as peças e muito menos tentou entender o que estava acontecendo. Talvez fosse óbvio demais, mas ele não queria pensar naquilo.
Era estranho demais as possibilidades que passavam por sua cabeça, porque elas não faziam o mínimo sentido. Não quando Baekhyun tinha pedido a sua ajuda e inventado um namoro com razões concretas.
Mas nenhuma daquelas razões faziam parte da pintura toda. Os pais de Baekhyun não precisavam ser convencidos de nada. Muito pelo contrário, os dois pareciam satisfeitos com o que Baekhyun tinha se tornado. Eles eram pais orgulhosos do filho.
Talvez Kento fosse o objetivo de tudo aquilo. Mas, então, porque Baekhyun o levaria para a cidade em que nasceu para conhecer seus pais?
Minseok não queria pensar nas hipóteses, porque a possibilidade de estar imaginando as coisas e interpretando os sinais de forma errada era maior do que gostaria. E o que ele mais queria evitar naquele momento era se alimentar de ilusões.
Minseok não queria terminar de coração partido e se envolver mais do que já estava envolvido naquela mentira.
-
Estava muito frio naquela noite de inverno e Minseok conseguia sentir a temperatura baixa penetrar em suas roupas e chegar em sua pele sem um pingo de piedade.
Nem mesmo as várias camadas de roupa de frio eram capazes de protegê-lo do sopro impaciente e cortante do vento gelado. Muito menos o chocolate quente que Minseok bebeu mais cedo, preparado pela mãe de Baekhyun, tinha surtido efeito. Mas nada disso impediu Baekhyun de arrastá-lo com um entusiasmo transparente para conhecer a cidade.
- Acho que vou congelar vivo – Minseok reclamou baixinho, sentindo seu corpo tremer em resposta.
- Não vejo motivos pra isso acontecer – Baekhyun disse ao umedecer os lábios. Suas bochechas estavam coradas de frio e os olhos brilhavam em antecipação. Ele parecia motivado e com algo diferente em sua expressão. – Não quando você tem alguém pra te aquecer bem do seu lado.
Minseok sentiu os braços de Baekhyun o envolverem num aperto gostoso e aconchegante, deixando que seu corpo ficasse grudado ao dele. E Minseok sentiu uma sensação boa e familiarmente viciante naquele contato.
Era quente e prazeroso estar nos braços de Baekhyun.
E naquela noite Minseok percebeu que as ruas da cidade estavam precariamente iluminadas pela lua e as estrelas e poucas pessoas andavam por elas. Talvez por isso Baekhyun caminhou despreocupadamente, mostrando cada pedacinho da cidade em que nasceu, cresceu e viveu por muitos anos.
Os braços de Baekhyun nem por um segundo o deixaram e ele estava todo aconchegado contra Minseok, comentando empolgado cada coisinha que tinha vivenciado.
- Meus pais gostaram de você – Baekhyun disse quando passaram por uma pracinha cheia de crianças, brincando sob a observação dos parentes. – Na verdade, eles te amaram.
- Eu fiz de tudo pra eles gostarem de mim – Minseok deslizou sua mão pelas costas de Baekhyun e o sentiu estremecer sob seu toque. – Queria que me aprovassem como seu namorado.
- Você nem precisava se esforçar tanto pra isso acontecer – Baekhyun o olhou, acompanhando seus passos calmos.
- Seus pais precisavam ver que você é feliz com suas escolhas, Baekhyun – sorriu fraco e beijou a testa dele num breve selar. – E se eles não gostassem de mim e proibissem você de seguir o que quer?
- Minseok – Baekhyun disse com a expressão séria e a voz firme. - É impossível não gostar de você.
Minseok mordeu o lábio inferior totalmente desconcertado ao sentir uma faísca de felicidade engolir qualquer resposta que ele pudesse dizer.
E a caminhada continuou silenciosamente, os dois aproveitando a noite e o vento forte. Minseok apreciava cada segundo ao lado de Baekhyun.
- Você precisa conhecer a padaria que tem no final daquele quarteirão – Baekhyun murmurou ao apontar na direção do prédio. – Aposto como você vai amar os pães doces de lá. Tem os mesmos que você costuma comprar na faculdade.
- Até isso o Junmyeon te contou? – Minseok indagou com uma risada curta ao deter as passadas e encostar suas costas na grade da ponte, trazendo Baekhyun consigo.
Baekhyun ficou entre suas pernas, levemente afastadas uma da outra, enroscando-se ainda mais contra Minseok, todas as partes do seu corpo praticamente tocando o dele.
- Não, Junmyeon não me contou nada.  – Baekhyun encostou o queixo em seu peito, inclinando a cabeça para cima e fitando-o com um fulgor entorpecente. – Eu reparei nisso, Minseok. Como eu te disse uma vez, você nunca foi invisível pra mim.
Minseok sentiu seu coração querer explodir dentro do peito quando uma sensação quente, em meio a todo aquele frio da cidade, subiu do seu pescoço para o rosto até chegar em suas orelhas, queimando-as em embaraço.
Minseok não conseguia controlar o frio em sua barriga e o sorriso que ameaçava abrir inconscientemente em seus lábios.
- Cada vez que você fala algo assim, eu... Não sei, eu sinto que sou seu namorado de verdade. – Minseok soltou uma risada nasalada e descrente. – Isso faz sentido?
Baekhyun sorriu pra ele e o apertou gentilmente no abraço.
- Claro que faz – exclamou com o tom de voz alto. – Você é um ótimo namorado, hyung.
Mas não de verdade. Minseok engoliu aquelas palavras com dificuldade e tocou o rosto corado pelo frio de Baekhyun com as pontas dos dedos, acariciando com delicadeza ao perceber que ele fechava os olhos com um suspiro.
E Minseok observou Baekhyun e decorou cada linha das feições suaves e bem desenhadas. O rosto pálido, as bochechas coradas pelo frio e os lábios avermelhados sutilmente entreabertos. Tudo nele parecia perfeitamente esculpido.
Baekhyun era bonito, injustamente bonito. Ele era bonito demais para ser ignorado.
- Minseok? – Baekhyun o chamou baixinho, num sussurro que apenas ele poderia escutar e sentir em sua pele com um arrepio.
- Hm?
Minseok inclinou a cabeça para baixo, seu rosto a meros milímetros do dele e os olhos escuros fitando os seus com uma intensidade perturbadora.
- Eu quero fazer algo.
- O quê? – Minseok perguntou num sopro baixo.
- Eu quero te beijar – a voz de Baekhyun era grave e rouca e a respiração quente batia de encontro ao seu pescoço.
Minseok engoliu em seco e atordoado fitou a boca avermelhada de Baekhyun ao sentir seu corpo todo tremer. Mas dessa vez, definitivamente, não era culpa do frio.
- Você não precisa pedir, Baekhyun. - Minseok se surpreendeu ao ouvir sua voz murmurar com expectativa e muita ansiedade.
Baekhyun sorriu e o olhou nos olhos com um brilho intenso, aproximando-se mais de seu rosto e fazendo o coração de Minseok bater desenfreadamente ainda mais forte contra seu peito.
Uma onda de frio percorreu sua espinha e Minseok deixou um som de aprovação escapar de sua boca quando Baekhyun tocou seus lábios com delicadeza, selando-os num beijo puro e sincero.
Foi apenas um toque inocente de lábios e foi muito breve, mas foi o suficiente para tirar Minseok de órbita.
Ele abriu as pálpebras lentamente e fitou Baekhyun que o encarava de volta com o mesmo sorriso de antes, mas algo ainda mais incandescente em suas feições.
- Bem melhor do que eu imaginava - Baekhyun sussurrou contra sua boca, a respiração quente misturando-se com a sua e as bochechas coradas de frio espelhando a sua. E Baekhyun capturou seu lábio com os dentes antes de completar ainda mais baixo e ainda mais rouco: - Mas aposto como o próximo vai ser melhor ainda.
E Baekhyun capturou seus lábios novamente e Minseok suspirou contente ao sentir o toque dos dedos dele em sua nuca.
Ele se sentia em combustão e seu peito estava em chamas, mas Minseok queria mais. Queria muito mais. E quando Baekhyun tocou com a ponta da língua em seus lábios, pedindo passagem, Minseok os entreabriu com um gemido baixo ao aprofundar o beijo.
Os dedos de Baekhyun embrenharam em seu cabelo e Minseok o puxou para mais perto, colando os corpos ainda mais.
Seus lábios estavam presos aos de Baekhyun, a boca era macia contra a sua e o beijo calmo o deixava desnorteado. Minseok sabia que aquilo era o que tinha de mais certo no mundo e que tudo finalmente se encaixava.
Minseok estava sem ar e perturbadoramente sem rumo.
O beijo tinha uma devoção inexplicável, um sabor excitante e prazeroso e os dois se sentiam impelidos a descobrirem um ao outro sob os toques delicados e carinhosos.
Suas mãos trilharam um caminho tortuoso pelas costas de Baekhyun que arfou em sua boca, o som reverberando e o deixando desconcertado, febril e inflamado de desejo. Mas, com certa relutância, Minseok quebrou o beijo em busca de fôlego, sentindo uma sensação inquietante o dominar.
Baekhyun selou os lábios aos seus mais uma vez antes de se afastar levemente com um sorriso caloroso enfeitando seu rosto.
- Minseok – murmurou e se inclinou para frente, as mãos repousadas em seu peito e o rosto ainda perigosamente perto do seu. Os lábios estavam inchados e numa cor vibrante de vermelho e as írises muito incandescentes - Eu acho que preciso muito de um chocolate quente.
Minseok sorriu e Baekhyun tocou sua boca com as pontas dos dedos num toque suave.
- Pensei que você não gostasse.
- Eu gosto – respondeu baixinho. – Não tanto quanto você, mas gosto – um sorriso esperto curvou os cantos da boca dele. – Mas eu adorei o gosto que ele fica na sua boca.
E Baekhyun deixou Minseok sem reação.
Ele apenas se deixou levar por Baekhyun, seguindo-o cegamente entre as ruas até a padaria com um sentimento diferente e ainda mais intenso apertando seu peito.
E mais do que nunca Minseok soube.
Naquele momento ele finalmente se deu conta de que não conseguiria mais ficar longe de Baekhyun, nem mesmo se tentasse. Porque Minseok o amava mais do que seria justo, o amava de um jeito calmo e caótico e o amava exatamente como ele era.
Minseok amava Baekhyun.
-
Minseok entrou no quarto de Baekhyun e, antes que pudesse observar atentamente o cômodo ao seu redor, sentiu braços envolvendo-o com muita sutileza e carinho.
Uma fragrância familiarmente gostosa e entorpecente invadiu seus sentidos e ele se inclinou contra Baekhyun que o abraçava por trás. Minseok estremeceu quando suas costas grudaram no peito firme de Baekhyun, sentindo o calor do corpo dele irradiar para o seu.
Minseok também notou quando Baekhyun encostou a cabeça em suas costas com um suspiro baixo, as mãos espalmadas em seu peito e a respiração quente atravessando sua roupa.
Os dois estavam num momento íntimo e somente deles. E Minseok aproveitou o silêncio que reverberava no cômodo para olhar o quarto com mais atenção, observando coisas que em suas breves passagens tinha passado despercebido.
O pequeno e aconchegante espaço que, antigamente costumava ser o abrigo de Baekhyun, ficava no final do corredor e era o típico quarto de adolescente. Todas as paredes estavam pintadas num tom glacial de branco, enquanto pôsteres de jogos de videogame e baseball enfeitavam perto da cabeceira da cama.
Tudo estava perfeitamente arrumado e todos os livros de escola estavam empilhados na estante por ordem alfabética.
Era uma organização extremamente impecável e Minseok suspeitava que era culpa da mãe de Baekhyun.
- Você era muito fofo – Minseok comentou ao avistar um quadro ao alcance de suas mãos, na mesinha de cabeceira.
Ele pegou a foto com cuidado, avistando o sorriso familiarmente retangular no rosto rechonchudo de uma criança adorável.
- Do que você está falando? – Baekhyun indagou falsamente indignado, uma risada nasalada escapando sem querer dele. – Eu ainda sou muito fofo!
- Aposto que todas as pessoas que te encontravam queriam apertar suas bochechas.
- Tenho trauma disso até hoje.
Uma risada chiou em seu peito e Minseok umedeceu os lábios em ansiedade. Ele não sabia o que fazer e o que podia esperar daquele momento sem alimentar esperanças bobas.
- Baekhyun? - um barulho soou dos lábios de Baekhyun, incentivando-o a continuar. E Minseok devolveu o quadro no lugar e virou-se de frente para ele. Olhos nos olhos, peito no peito e um monte de sentimentos não dito entre os dois. - Você não está arrependido, está?
Baekhyun piscou algumas vezes com o cenho franzido, mas no instante seguinte algo como compreensão cruzou suas feições.
Minseok estava se referindo sobre o beijo. O primeiro beijo deles.
- Nunca – Baekhyun murmurou sério e firme, sua voz soando grave e instigante. – Nem por um segundo sequer.
Minseok tragou o ar com força e algo diferente borbulhou em seu peito. Era como se um peso saísse de seus ombros e um alívio espalhasse por seu corpo.
- E eu quero te beijar de novo – Baekhyun disse num rompante e Minseok prendeu a respiração.
Ele já deveria ter se acostumado com o jeito impulsivo de Baekhyun, mas Minseok sempre ficava impressionado. Baekhyun era uma caixinha de surpresas e tinha coragem o suficiente para botar em palavras tudo o que realmente queria.
E Minseok não respondeu. Ele apenas se inclinou para a frente, as mãos segurando o rosto de Baekhyun ao tocar os lábios macios com o seu.
- Isso é tão bom – Baekhyun sussurrou rouco contra sua boca. – Ficar assim com você é muito bom, Minseok.
Minseok sorriu antes que Baekhyun capturasse o seu lábio inferior entre os deles, engolindo o que quer que fosse dizer. O toque deixando-o quente por dentro e tremendo por fora.
Baekhyun tinha o controle do beijo e Minseok se deixava levar pelo momento, esquecendo-se completamente que os pais dele estavam no andar de baixo, assistindo televisão.
Os dois estavam agindo de forma imprudente, mas nada parecia tão certo quanto aquilo.
Mesmo que uma hora ou outra toda a farsa do namoro tivesse que terminar, nada parecia mais real do que ter Baekhyun em seus braços.
E Minseok inesperadamente deixou um gemido baixo e rouco escapar de sua boca quando a língua ávida de Baekhyun escorregou por entre seus lábios com uma súbita urgência.
Uma das mãos dele o segurou pela nuca ao embrenhar os dedos nos fios de cabelo sob seu alcance, enquanto a outra estava firmemente repousada em suas costas, grudando os corpos de uma forma perturbadoramente quente.
E Minseok engasgou quando o quadril de Baekhyun encostou ao seu, sentindo um calor descer perigosamente de seu peito para seu baixo ventre.
- Baekhyun... – Minseok murmurou, grunhindo em advertência.
Seu tom indicava tantas coisas. Ele queria mais, mas também queria parar antes que fosse tarde demais.
- Eu sei – foi a única coisa que Baekhyun murmurou depois de partir o beijo com certa relutância.
Ele suspirou profundamente com os olhos baixos e as pontas das orelhas vermelhas ao encostar sua testa contra a de Minseok. Suas respirações estavam ofegantes e Minseok sentia seu coração totalmente fora de controle.
Baekhyun envolveu sua mão no pulso de Minseok, o polegar seguindo a trilha de sua veia e mandando ondas de arrepio para o seu corpo. Mas nada o deixou tão inquieto quanto os olhos de Baekhyun quando ele o fitou.
Baekhyun estava mais atraente do que nunca e Minseok ficou tentado a tomar a boca dele novamente contra a sua, mas as irises escuras e dilatadas tinham algo envolvente que o atraiam ainda mais. Era um tipo de emoção inalcançável e que parecia clamar alguma coisa em troca.
- Nada de quarto de hóspedes para você – Baekhyun murmurou com confiança ao deixar que, por entre suas palavras firmes, um sorriso de canto enfeitasse seu rosto. – Você vai dormir aqui.
- Seus pais...
- Eles não vão se importar, Minseok.
- Mas...
- Se você não quiser eu posso entender – Baekhyun o cortou com a voz suave e a expressão leve. Ele se afastou um pouco e deixou espaço livre o suficiente para uma recusa.
Baekhyun iria compreender qualquer decisão que ele tomasse. E não era como se fosse algo muito diferente do que os dois já tinham feito. Afinal, quantas vezes Baekhyun passou tardes e noites de estudos, enroscado em seus braços, na cama de seu dormitório?
Mas dessa vez era diferente. Antes eles não tinham se beijado e agora Minseok sentia o gosto de Baekhyun em sua boca e o perfume gostoso dele impregnado em seus sentidos.
- Eu – Minseok umedeceu os lábios inchados, um pouco nervoso ao sentir a ansiedade subir por sua espinha. – Eu quero.
Minseok queria passar aquela noite abraçado a Baekhyun, sentindo seu calor e seu perfume gostoso. Ele não queria que tudo acabasse tão cedo, fazendo-o se tornar ganancioso e sempre esperar por mais.
Baekhyun sorriu radiante com sua resposta e selou seus lábios brevemente antes de murmurar contra eles com o timbre vibrando:
- Eu queria que as coisas fossem assim pra sempre.
Minseok também queria.
Ele queria mais do que poderia ser saudável.
-
Minseok acordou ao lado de Baekhyun na manhã seguinte.
Os braços dele estavam ao redor de seu corpo, segurando-o firmemente num abraço apertado e a respiração compassada batendo contra seu pescoço numa carícia quente que o deixava arrepiado.
Suas pernas estavam enroscadas às de Baekhyun debaixo dos cobertores e os corpos estavam grudados. E tudo naquele momento entre os dois parecia perfeitamente aconchegante e reconfortante.
Era algo íntimo e familiarmente bom.
E Minseok observou atenciosamente a quietude de Baekhyun, o cabelo bagunçado sob o travesseiro, as roupas amassadas revelando um pedaço da clavícula e as feições tranquilas ao dormir um sono pacífico.
Com uma sensação morna no peito, Minseok não resistiu a vontade de acariciar o rosto com uma expressão suave e calma. Ele tocou as bochechas com delicadeza, deslizando sem pressa para o maxilar e subindo para os lábios levemente entreabertos.
Baekhyun suspirou baixinho sob seu toque sutil e um sorriso instantaneamente abriu nos lábios bonitos. Um barulho de aprovação escapou da boca avermelhada e o corpo menor se espreguiçou sem se afastar do seu.
- Eu quero ser sempre acordado assim – Baekhyun murmurou rouco e ainda meio grogue de sono, abrindo lentamente as pálpebras e o fitando calorosamente.
Minseok sorriu perturbadoramente perdido entre as írises incandescentes e Baekhyun umedeceu os lábios, sorrindo com uma espontaneidade linda.
- Eu estou te acostumando muito mal – Minseok sussurrou baixinho, os dedos segurando gentilmente o queixo e levantando o rosto dele.
- Quem não gosta de ser mimado? – Baekhyun riu antes de selar brevemente os lábios aos de Minseok.
E ele não deveria mais ficar surpreso a esse ponto, mas tudo o que Baekhyun fazia o pegava desprevenido. Mas Minseok não poderia negar o quanto amava tudo aquilo.
Baekhyun levantou o torso e o fitou nos olhos.
- Preparado pra me ver nadar hoje e comprovar que sou um ótimo profissional? – seu olhar era desafiador e empolgado.
- Mas está frio demais, Baekhyun – Minseok reclamou com um suspiro.
- A piscina é aquecida e a gente pode tomar café da manhã na padaria.
- Ou a gente pode simplesmente ficar o dia todo na cama, debaixo desse cobertor maravilhoso, assistindo a algum filme que estiver passando na televisão com um balde grande de pipoca.
Baekhyun soltou um chiado de desaprovação, estalando a língua num barulho frustrado. E, mordendo o lábio inferior, passou a perna por cima do corpo de Minseok ao sentar em seu quadril.
Os joelhos estavam fincados de cada lado do seu corpo e as palmas das mãos repousavam no colchão, encurralando Minseok entre elas.
O rosto de Baekhyun estava a milímetros do seu e Minseok sentiu seu coração disparar dentro do peito.
- Eu adoraria passar o dia todo na cama com você, Minseok – por algum motivo a voz de Baekhyun estava ainda mais rouca e vibrante e aquilo fez uma sensação quente domar seu baixo ventre. – Mas nós podemos fazer isso depois.
Baekhyun sorriu de canto mais uma vez e seus lábios tocaram sutilmente as bochechas, os olhos, o nariz e a testa de Minseok, antes de selar a boca contra a dele num beijo suave.
- Agora se anima porque eu vou te mostrar como fico lindo de sunga.
- Tenho certeza que você fica – Minseok murmurou, sentindo sua boca formigar pelo contato com a de Baekhyun e algo intenso domando todo o seu ser numa felicidade constante.
- E então, o que vai ser? Eu de sunga ou essa cama solitária sem a minha presença?
- Hmm, difícil escolher... – Minseok fingiu uma expressão exageradamente pensativa e levou um tapa fraco de Baekhyun no peito em resposta.
- Ridículo.
Baekhyun riu e Minseok sorriu para ele.
- Eu não perderia por nada ver você nadando. – Minseok segurou a frente da camisa de Baekhyun e o puxou para perto. - Que tipo de namorado eu seria se não soubesse todos os seus talentos e ficasse orgulhoso deles?
- Você já é um namorado incrível, Minseok. O melhor que eu poderia ter encontrado.
E Minseok extinguiu o pouco espaço que os separava e beijou Baekhyun. Ele o beijou com intensidade e avidez, expulsando qualquer pensamento de sua cabeça e as palavras de sua boca ao substituir tudo pela maciez dos lábios de Baekhyun.
-
Baekhyun não estava mentindo quando disse que ficava lindo de sunga e Minseok comprovou isso ao ver o garoto saindo do vestiário alguns minutos depois de chegarem à antiga escola dele. Mas, na verdade, as únicas peças que cobriam seu corpo era uma bermuda apertada de nadador e uma toalha envolta de seu pescoço, a qual as mãos elegantes de Baekhyun seguravam as pontas com certa firmeza.
O torso de Baekhyun estava totalmente exposto e Minseok ficou surpreso ao reparar em uma camada firme de músculos discretos no peito e abdômen dele.
Baekhyun era magro e pequeno, mas cheio de personalidade até mesmo no jeito como caminhava com confiança em sua direção. Sua pele pálida contrastava com o cabelo escuro e o sorriso de canto, nos lábios avermelhados, deixava evidente o quanto ele tinha consciência de que Minseok estava perturbadoramente mexido com a visão que tinha dele.
E quando Baekhyun estava a um passo de distância, Minseok sentiu um frio percorrer em sua espinha.
- Preparado pra ficar impressionado, hyung? – Baekhyun disse petulante, suas írises brilhando em desafio e um atrevimento moldando os contornos de sua boca bonita.
Baekhyun se livrou da toalha, jogando-a na cadeira mais próxima sem ao menos desviar os olhos dos seus.
- Sempre – Minseok gesticulou em direção à piscina. – Me impressione, Baekhyun.
- Esse é o meu papel principal nesse namoro – Baekhyun sussurrou baixo e venceu o pequeno espaço que ainda os separava, capturando seu lábio superior entre os dele.
Minseok sentiu um calor queimar em seu baixo ventre e subir em seu peito, numa combustão quente e estupidamente boa.
Baekhyun o beijou mais uma vez, a boca macia contra a sua apenas selando brevemente num toque gostoso e calmo. E ao se afastar, Minseok foi apenas capaz de sorrir com os lábios formigando, o coração disparado dentro do peito e o corpo todo arrepiado.
O toque suave das mãos de Baekhyun em seu ombro deixaram a pele quente, mesmo depois que elas o soltaram. Era como se cada toque dele fosse como fogo, ficando impresso em sua tez de uma forma irremediavelmente perfeita.
Baekhyun sorriu mais uma vez para ele antes de pular na piscina com uma graciosidade toda elegante e bonita.
Minseok ficou admirado com a facilidade a qual ele deslizava na água, as braçadas vencendo cada centímetro da piscina com habilidade e o corpo acompanhando um ritmo acelerado. Baekhyun tinha sido feito para aquilo e era um dom maravilhoso de presenciar.
- Você não deveria estar usando isso aqui? – Minseok questionou zombeteiro ao rodar a touca em sua mão quando Baekhyun emergiu com os cabelos pingando água sobre seus olhos.
- Deveria, mas não quero – Baekhyun deu de ombros. – O que eu gostaria mesmo era que você entrasse aqui comigo.
- Nem pensar – respondeu ao balançar a cabeça negativamente com o nariz franzido. – Eu estou muito bem aqui.
- Você não sabe o que está perdendo.
- Aposto que não muita coisa.
- Se você acha que beijar de baixo d’água não é muita coisa... – Baekhyun deu de ombros com um timbre de voz falsamente inocente. – Te garanto que é uma ótima experiência.
- Isso quer dizer que você tentou várias vezes? – Minseok arqueou a sobrancelha em questionamento.
- Nunca – Baekhyun inclinou a cabeça para o lado. – Eu imagino que seja e eu estou doido pra experimentar com você.
Minseok sentiu um calor subir do seu pescoço para suas orelhas e um sentimento de vergonha o fez desviar os olhos.
- Você vai acabar me deixando louco, Baekhyun – Minseok sussurrou e riu em nervoso.
A escola estava vazia e, tirando o porteiro, não havia mais ninguém que pudesse aparecer no ginásio. Os dois estavam sozinhos e o olhar nos orbes de Baekhyun prometiam muito mais do que Minseok esperava.
Com a respiração presa na garganta e o coração disparado a mil por hora, Minseok largou a touca no chão e tirou seu tênis sem pressa, ao tacar em qualquer canto da parede.
Ele olhou para Baekhyun que umedeceu os lábios, o pomo de adão subindo e descendo em expectativa ao observar Minseok tirando a camisa pela cabeça e tacando-a na cadeira mais próxima.
Com certa hesitação, Minseok desabotoou sua calça jeans e a retirou do corpo em questão de segundos, jogando-a para o mesmo canto de todo o resto antes de suspirar profundamente e caminhar para a piscina.
Ele sentou na borda com os pés enfiados na água quente e observou atentamente Baekhyun que se aproximava com a expressão séria e um brilho incandescente nas irises.
Baekhyun ficou entre suas pernas e repousou as mãos sobre suas coxas, olhando para cima e encontrando seus olhos com intensidade.
Minseok estava em combustão e os toques e carícias de Baekhyun em suas coxas eram quentes e tentadores. Ele estava perdendo a cabeça e a razão e, sem pensar muito nas consequências, escorregou para dentro da água, ficando muito próximo de Baekhyun.
- Minseok... – Baekhyun suspirou rouco e Minseok sentiu uma fisgada em seu baixo ventre.
Os olhos estavam conectados, os corpos colados e as respirações se misturando. E Baekhyun extinguiu a pouca distância que os separava, segurando firmemente a nuca de Minseok e o puxando para um beijo voraz e quente.
Minseok arfou contra a boca de Baekhyun que suspirou em satisfação e o prensou contra a borda da piscina, o quadril o prendendo e os lábios macios buscando pelos seus sofregamente.
Um som úmido e um estalo do beijo reverberou pelo ambiente de uma forma perturbadoramente convidativa. Mas foi o gemido de Minseok que soou ainda mais profundamente rouco e preencheu o local quando Baekhyun pediu passagem para sua língua, explorando sua boca de forma cálida.
Os lábios de Baekhyun escorregaram dos dele e desceram para o maxilar até alcançarem o pescoço com beijos suaves e sedentos. E Minseok inclinou a cabeça para o lado com os olhos fortemente fechados, deixando livre para ele explorar como quisesse.
A respiração quente e os dentes raspando contra sua pele era alucinantemente bom, mas as mordidas fracas e os chupões eram de tirar qualquer tipo de pensamento da cabeça de Minseok.
Ele estava perdendo a sanidade e se entregando totalmente aquele momento sem pensar duas vezes.
Os resquícios de resistência que poderiam ainda sobrar em Minseok foram para o ralo quando Baekhyun deslizou as pontas dos dedos por sua barriga, alcançando a barra de sua cueca ao brincar com o elástico enquanto a boca ávida subia novamente em busca da sua.
O beijo era faminto e ainda mais intenso e Minseok apenas o partiu em busca de fôlego, sua respiração saindo entrecortada por seus lábios entreabertos e inchados e seu corpo todo pegando fogo.
Minseok sentia que todo o seu mundo rodava.
- Baekhyun – Minseok gemeu baixinho, os sentidos totalmente embaralhados.
Baekhyun sorriu de canto e Minseok não resistiu ao buscar pelos lábios macios novamente num desejo insaciável.
Com um frio na barriga, Minseok sentiu quando as mãos de Baekhyun deslizaram lentamente do cós da cueca para a sua bunda, alcançando suas coxas com um aperto firme ao alavancar seu corpo para cima.
Minseok suspirou entre o beijo e enlaçou suas pernas ao redor do corpo dele. Um som de surpresa escapou de sua boca ao perceber que Baekhyun o puxava para baixo, os dois mergulhando na água quente, sem desgrudarem os lábios e o beijo faminto. Mas Minseok sorriu incrédulo ao perceber o que Baekhyun estava fazendo.
O beijo debaixo d’água.
E foi a melhor experiência que Minseok experimentou, embrenhando seus dedos no cabelo de Baekhyun e mordendo o lábio inferior dele, antes de ser puxado mais uma vez contra eles. A boca macia buscando sofregamente pela sua e todo o resto desaparecendo, exceto os dois no silêncio ensurdecedor da água e a sensação morna em seu peito.
Os dois subiram para a superfície quando o fôlego faltou. Minseok abriu os olhos e encontrou Baekhyun o fitando com um sorriso esperto enfeitado na boca bonita.
Minseok riu ao sentir uma felicidade expandindo em seu peito e se alastrando em seu corpo, até que tudo estivesse finalmente em uma completa combustão.
- Você é louco! – Minseok exclamou, tirando a água dos olhos com a palma da mão. – Não acredito que você realmente fez isso.
- Foi incrível, não foi?
Baekhyun tirou o cabelo da frente de seu rosto e Minseok confirmou com a cabeça, recebendo em troca um beijo no canto da boca.
Ele acariciou suas bochechas e deslizou a ponta do nariz pelo seu, escorregando por sua pele úmida e arrepiada, até encontrar seu pescoço e beijar a volta de seu maxilar com a respiração quente deixando-o arrepiado.
- Você é tão lindo, Minseok.
Na voz de Baekhyun havia sinceridade e algo muito mais profundo escondido por trás das palavras. E Minseok sorriu como se uma sensação sufocante tomasse conta de suas ações.
- Baekhyun...
- Eu sei, Minseok – sua voz era baixa e suave, quente e cheia de promessas. - Eu sei.
Minseok mordeu o lábio inferior ansioso e inquieto e o abraçou com um monte de sentimento o esmagando. Ele não conseguia raciocinar direito, mas tudo aquilo com certeza tinha um significado muito maior. Não havia mentiras naqueles beijos, toques e palavras.
Aquilo não era mais um namoro falso.
Talvez nunca tenha sido.
- Acho melhor a gente sair – Minseok murmurou relanceando o olhar para a janela do ginásio e constatando que não faltava muito para o céu escurecer. – Ou vai ficar muito tarde e frio pra voltar pra casa.
- Se quiser – Baekhyun respondeu com um sorriso esperto – a gente pode tomar um banho antes e eu posso te ajudar a ensaboar as costas.
Minseok jogou a cabeça para trás ao rir, o som reverberando pelo ambiente e retumbando em seus ouvidos.
- Você é muito atrevido, Baekhyun.
- E muito adorável.
- A humildade em pessoa.
- Eu sei – ele murmurou sorrindo. Minseok o fitou em curiosidade quando os dedos de Baekhyun seguraram sutilmente seu queixo, trazendo seu rosto para perto do dele até que os lábios estivessem se encostando um no outro novamente. Havia muita seriedade em sua expressão e uma intensidade esmagadora em suas irises. – Espero que eu seja bom o bastante para te conquistar.
- Você sempre foi, Baekhyun – Minseok disse baixinho, apenas para ele escutar. – Sempre.
A resposta pareceu iluminar toda a face de Baekhyun, um brilho incandescente nos olhos e a curva nos lábios bem delineados, denunciando uma satisfação e uma euforia contagiante.
Baekhyun estava tão envolvido quanto Minseok.
Os dois saíram da piscina pingando por todo o chão ao pegarem seus pertences num bolo de tecidos amassados e mochilas quase caindo pelas alças ao andarem apressados para o vestiário.
E jogando tudo no banco mais próximo, sem muita preocupação, eles se enfiaram debaixo de um dos chuveiros, o jato de água quente envolvendo os dois corpos completamente nus e abraçados.
Minseok envolvia o corpo menor de Baekhyun por trás e todo seu ser fremia ao sentir as peles sensíveis se encostando e todas as partes dos corpos se tocando numa sensação lasciva.
Baekhyun virou em seu aperto fraco e o beijou com ternura e mais um monte de coisa que deixou Minseok fora de órbita. Havia tanta coisa não dita, mas que no fundo do coração os dois sabiam.
Eles estavam descobrindo juntos.
O banho não foi demorado, mas Baekhyun fez questão de dar beijos furtivos e carinhosos, descobrindo cada novo suspiro da boca de Minseok. Era como se tudo fosse feito para chegar naquele ponto.
Minseok estava feliz. Ele estava imensamente contente.
E na noite fria do lado de fora, algumas camadas de roupas cobrindo os dois e as mãos entrelaçadas num aperto firme, Minseok percebeu que não havia momento mais perfeito do que aquele.
-
Naquela noite Minseok sentiu que tudo era estupidamente perfeito demais para ser verdade.
Ele não acreditava que a sua realidade poderia ser aquela, com Baekhyun em seus braços e os dois enroscados nos lençóis da cama dele.
Era bom demais. Surreal demais.
Mas algo ainda martelava a mente de Minseok. Seus olhos fitavam o teto distraído e sua mente estava longe com o coração retumbando em seu peito numa sensação intensa.
Ouvindo a respiração compassada de Baekhyun e sentindo os carinhos dos dedos em seu peito ao deslizar sua mão pelas costas dele, Minseok percebeu como todas as peças daquele namoro falso estavam finalmente se encaixando bem diante de seus olhos.
- Seus pais nunca foram contra as suas escolhas, foram? – Minseok perguntou quase que silenciosamente, sua voz baixa quebrando a quietude do quarto.
Baekhyun levantou o rosto ao inclinar a cabeça, apoiando o queixo contra o torso de Minseok. Ele o olhou ao umedecer os lábios com o semblante nublado e Minseok percebeu a hesitação em suas ações.
Não houve resposta por um tempo, mas Minseok esperou pacientemente, respeitando o tempo de Baekhyun.
- Eles me aceitaram desde o começo – o tom de voz era baixo, mas firme em sua confissão. – Foi difícil logo quando eu contei, mas eles nunca me julgaram ou me condenaram por isso.
Minseok não sabia o que esperava como resposta, mas definitivamente não era surpresa escutar aquilo. No fundo ele tinha impressão de que essa era a verdade sobre tudo antes mesmo de Baekhyun dizer.
- Fico feliz que eles aceitaram bem – Minseok suspirou sério, tentando assimilar tudo. Desde o pedido do namoro falso até aquele momento.
- Minseok...
- Fazer ciúem parao Kento também foi uma mentira?
Não havia acusação ou raiva em suas palavras, apenas uma constatação que precisava ser confirmada. Mas Baekhyun entreabriu os lábios surpreso e apertou a palma da mão contra o tecido de sua camiseta com força, como se estivesse com medo.
E no escuro da noite silenciosa e do quarto sem iluminação, Minseok percebeu como a respiração de Baekhyun falhou e todo o seu corpo fremiu em inquietação.
- Foi o melhor jeito que encontrei pra me aproximar de você – Baekhyun disse bravamente, encarando-o com uma coragem em suas feições e um desafio em seu olhar felino. – Eu sempre quis ficar perto de você, Minseok.
- Por que não do jeito mais fácil e normal?
- Não sei – uma risada fraca escapou de sua boca ao baixar os olhos e se jogar contra o colchão, ao lado de Minseok. - Acho que me deixei influenciar pelas ideias malucas do Junmyeon e Sehun me incentivou. Foi tentador demais e... – ele deu de ombros, as palavras escapando de seu alcance. – Eu não esperava que realmente fosse dar certo.
- Mas deu.
- Como? – perguntou surpreso, virando a cabeça em sua direção com os olhos buscando pelos seus.
- Nunca passou pela sua cabeça o motivo pelo qual eu aceitei participar de um plano tão maluco como esse?
- Porque você é a melhor pessoa do mundo? – questionou em dúvida. – Tem muita bondade no seu coração?
- Eu sou egoísta, Baekhyun.
Minseok sorriu e isso fez os ombros tensos de Baekhyun relaxarem e suas feições suavizarem. Ele estava apreensivo, mas suas palavras o acalmaram e acenderam algo em sua expressão.
– Eu sempre gostei de você e essa foi a oportunidade perfeita pra ficar mais perto – Minseok murmurou ao tragar o ar com força. - Nunca passou pela minha cabeça recusar o seu plano, mesmo que não fizesse o mínimo sentido. Não quando eu poderia ficar ao seu lado, Baekhyun.
Um vento mais forte entrou pela janela aberta e, no silêncio confortável que tomou conta do quarto, Minseok notou um brilho intenso aparecer nas írises escuras de Baekhyun.
- Eu não me arrependo de nada – Baekhyun disse com um sorriso delineando sua boca bonita.
Minseok notou como ele levantou da cama e se inclinou para frente, passando a perna por cima do seu corpo ao sentar em seu colo. Os joelhos fincaram firmemente contra o colchão e os braços repousaram, num único ato, de cada lado do seu rosto, prendendo-o com uma promessa velada.
Minseok sorriu para Baekhyun ao tocar as costas dele numa carícia delicada, deslizando lentamente até uma delas encontrarem a nuca descoberta. O toque firme dos dedos na pele macia fez Baekhyun arrepiar e Minseok os enroscou no cabelo escuro, puxando-o gentilmente para perto.
Pouca distância os separavam e as respirações quentes se misturavam. E Baekhyun enviesou os lábios num sorriso que significava e prometia muitas coisas, fazendo uma sensação quente domar Minseok.
Os dois se olharam por breves segundos e o silêncio do quarto e de todo o resto da casa foi o bastante para fazer Minseok escutar seu coração retumbando acelerado dentro do peito.
Era alto demais e ele tinha medo que Baekhyun escutasse as batidas desenfreadas, mas tudo simplesmente desapareceu de sua mente quando os lábios incrivelmente macios buscaram pelos seus suavemente, num beijo calmo e cheio de paixão.
- Eu também não me arrependo de nada – Minseok murmurou contra a boca dele, a voz saindo abafada e seu ser todo tremendo em expectativa.
Baekhyun sorriu com a face iluminada por algo perturbadoramente instigante quando sua mão, sorrateiramente, adentrou por debaixo de sua camisa, tocando com as pontas dos dedos seu abdômen, numa carícia gostosa, lenta e perturbadoramente excitante.
- Espero que também não se arrependa de responder sim para o meu pedido.
- Que pedido?
Minseok sentiu seu abdômen retrair sob o contato gostoso da mão quente, sua respiração escapando pesada de seus lábios e seus olhos o fitando com interesse genuíno.
- Terminar esse namoro falso e começar algo novo. Algo nosso e verdadeiro. – Baekhyun o olhou em expectativa e Minseok prendeu o lábio inferior entre os dentes. – Eu quero ter você por perto e saber que o que eu sinto é algo correspondido.
Minseok sentiu a respiração ficar presa na garganta e notou o modo ansioso ao qual Baekhyun umedeceu a boca.
– Eu gosto de você, Minseok. Eu sou um bobo apaixonado que fez coisas que nenhum outro faria pra ficar perto de você.
- Um louco – Minseok disse com uma risada baixa contornando suas palavras. – Um louco atrevido que eu também sou muito apaixonado.
Sua voz não passava de um mero sussurro rouco e Minseok sentiu todo seu mundo girar.
Mais do que nunca Baekhyun estava ao seu alcance. Não era mais um sonho ou um desejo. Era a sua realidade.
– É o que eu mais quero – Minseok respondeu, seus lábios tocando levemente os de Baekhyun. Perto demais, mas não o suficiente. - Ter quem eu mais gosto perto de mim é o que eu mais quero, Baekhyun.
Minseok deixou escapar um gemido baixo quando os dedos de Baekhyun trilharam um caminho perigoso, brincando com o cós da sua calça e sorrindo enviesado como se soubesse o que provocava nele.
- Esse é o nosso começo – Baekhyun sussurrou e selou a boca contra a sua, provocando uma faísca de algo que inflamou todo seu corpo.
O suspiro de Baekhyun reverberou no beijo e Minseok murmurou desconexo quando sentiu o corpo dele se encaixar entre suas pernas flexionadas, o contato sendo demais para sua sanidade continuar intacta.
Havia tanto desejo e paixão que os dois se perderam naquele momento, deixando o lapso de tempo evaporar na noite fria, nos corpos quentes e no beijo intenso.
Um recomeço. Algo somente deles e pra eles.
O encaixe perfeito e a conexão muito mais forte.
E de um namoro falso com intenções sinceras, algo ainda mais sincero e bonito nasceu.
-
– Baekhyun! – Minseok reclamou em voz quebradiça e rouca.
- O que foi?
Baekhyun o olhou confuso e Minseok estalou a língua em frustração, mas um sorriso caloroso contornou seus lábios ao ver a expressão genuinamente perdida no rosto dele.
- O que você pensa que está fazendo?
- Procurando uma roupa pra vestir – seu tom beirava a um tom óbvio misturado a um questionamento hesitante. Ele estava em frente ao armário do seu quarto no dormitório, bagunçando a pilha de roupas em busca de algo bem confortável.
- Desse jeito? – Minseok murmurou fraco e olhou para o corpo nu de Baekhyun ao engolir em seco, seu pomo de adão subindo e descendo em sinal de ansiedade.
E ele não conseguiu desviar os olhos da visão a sua frente. Por mais que já tivesse visto Baekhyun daquele jeito, Minseok ainda se sentia hipnotizado pela beleza dele.
Era algo instigante e desconcertantemente atraente.
E Minseok o observou atenciosamente, sentindo uma onda quente o invadir de forma intensa.
Os fios do cabelo escuro de Baekhyun estavam úmidos pelo banho recém tomado e caíam sobre seus olhos incandescentes. Sua pele branquinha estava perturbadoramente corada pelo jato de água quente e estava totalmente exposta.
E contra a luz do sol que invadia o quarto pelas frestas da cortina, Baekhyun parecia ainda mais injustamente lindo.
- Não age como se nunca tivesse me visto assim – Baekhyun o acusou com um olhar incisivo e um sorriso petulante nos lábios avermelhados. – Alguns minutos atrás eu estava assim e não vi você reclamando nada sobre isso – ele mordeu o lábio inferior e arqueou a sobrancelha em desafio -, muito menos do jeito que eu fiz você ge...
- Caramba, Baekhyun! Você é um terror – Minseok protestou ao cortar a frase que ele já sabia como iria terminar, encolhendo-se contra os lençóis que cobriam seu corpo completamente nu.
Com um suspiro fraco, Minseok afundou o rosto contra o travesseiro, escondendo sua expressão retorcida pela vergonha e abafando um gemido baixo. Ele sempre se surpreendia com a facilidade a qual Baekhyun dizia aqueles tipos de coisas sem se sentir constrangido.
Não havia filtros em suas palavras, muito menos pudor em suas ações. E Minseok gostava como ele era livre em todos os sentidos.
– Acho melhor você se vestir logo.
Minseok deixou um grunhido estrangulado escapar de sua boca e olhou surpreso ao sentir o colchão se afundar ao seu lado, um corpo quente e pequeno o envolvendo firmemente entre seus braços.
Ele virou entre os lençóis e ficou de frente com Baekhyun, encontrando com as írises dilatadas e os cantos da boca curvados em atrevimento.
- Acho que eu prefiro ficar assim.
Minseok sabia que os lábios bonitos de Baekhyun estavam enfeitados por um sorriso descarado e malicioso e ele sorriu em resposta, aproximando-se lentamente até que seus lábios estivessem tocando os dele.
- Eu também prefiro – murmurou baixinho.
Os corpos se tocavam e, mesmo com o tecido fino do lençol os impedindo de um contato maior, Minseok conseguia sentir o calor de Baekhyun transbordando para sua pele.
Baekhyun murmurou desconexo e em aprovação quando Minseok finalmente selou seus lábios aos dele, suspirando baixo ao permitir que a língua ávida invadisse sua boca e aprofundasse o beijo.
Todo o corpo de Minseok se aqueceu e fremiu sob as pontas dos dedos elegantes de Baekhyun que trilhavam um caminho pecaminoso e estimulante por toda a sua pele.
- Eu não quero sair da cama tão cedo – Baekhyun suspirou entre o beijo e partiu os lábios ao capturar os de Minseok antes de se afastar um pouco para o olhar nos olhos.
- Mas eu não posso faltar na aula hoje.
- Tem certeza? – Baekhyun questionou rouco e sua boca deslizou suavemente por seu maxilar, escorregando para o seu pescoço onde trilhou beijos quentes e mordidas que arrancaram ofegos pesados e gemidos estrangulados de Minseok.
- Não mais.
Minseok não precisava olhar para saber que Baekhyun tinha um sorriso satisfeito e petulante adornando seu rosto, porque ele conseguia sentir os contornos dos lábios macios em sua pele e a respiração irregular e calorosa o arrepiando.
E foi naquele momento que ele se perdeu.
Desde o dia que Minseok conheceu Baekhyun, ele se perdeu pra se encontrar novamente.
-
- Eu sabia que iria te encontrar aqui.
Minseok sentiu o toque de lábios quentes em seu pescoço e sorriu ao encontrar com Baekhyun, sentando-se na cadeira ao seu lado de forma relaxada e descontraída.
Minseok estava na biblioteca da faculdade com Seulgi e o ambiente estava num completo silêncio, enquanto alguns alunos pareciam concentrados em seus livros e anotações.
Grande parte das pessoas na biblioteca discutiam baixinho em grupos, mas ainda tinha outros que preferiam estudar tranquilamente sozinhos.
- Seulgi está me ajudando com meu projeto – explicou e Baekhyun desviou o olhar para a garota, curvando os lábios num sorriso caloroso ao cumprimentá-la. – Acho que vamos passar a tarde toda aqui.
- Eu acho que o seu namorado vai sentir sua falta – Baekhyun comentou com Seulgi, apoiando os braços sobre o tampo da mesa e repousando o queixo sobre eles.
- Jongin consegue aguentar – ela respondeu, a voz macia e baixa.
- Mas o dele não aguentaria não – Baekhyun apontou para Minseok que revirou os olhos.
- A gente percebeu isso – Seulgi riu, balançando a cabeça ao fechar os olhos em meia lua.
- Não é à toa que ele está bem aqui, atrapalhando nossa tentativa de fazer esse projeto dar certo – Minseok murmurou com um suspiro.
- Você acha mesmo que estou te atrapalhando? – Baekhyun questionou sugestivo e uma de suas mãos escorregou para debaixo da mesa ao endireitar o corpo na cadeira.
Minseok sentiu as pontas dos dedos de Baekhyun deslizando em sua coxa e, mesmo com o tecido da calça jeans, o toque era quente e eletrizante.
- Você não... – Minseok começou a falar, mas engoliu as palavras quando Baekhyun apertou sua coxa suavemente.
Um sorriso audacioso contornava os lábios avermelhados de Baekhyun e um brilho desafiador delineava suas irises escuras. Minseok prendeu a respiração e o xingou mentalmente, mas ele tinha que admitir que adorava os rompantes de Baekhyun.
- Se você continuar, eu não vou conseguir concentrar no que estou fazendo. – Minseok sussurrou para Baekhyun e arriscou um olhar na direção de Seulgi que estava distraída com um dos livros a sua frente, grifando frases e anotando-as em seu caderno.
- Ótimo – Baekhyun enviesou o lábio em algo petulante e satisfeito.
- Baekhyun – reclamou em tom de lamúria.
- Então que tal a gente sair um pouquinho daqui?
- Uma pausa? – Minseok perguntou e Baekhyun balançou a cabeça afirmativamente com algo significativo no semblante.
- Uma pausa.
Minseok olhou para Seulgi e os livros espalhados na mesa.
- Pode ir – Seulgi respondeu, murmurando baixinho para não incomodar as pessoas mais próximas – Jongin está vindo pra cá e aposto que esse projeto não vai sair tão cedo com ele por perto.
- Prometo não demorar.
- Não se preocupa com isso, a gente ainda tem muito tempo pra terminar com tudo.
Minseok agradeceu a amiga antes de levantar da cadeira, seguindo Baekhyun silenciosamente para fora da biblioteca.
- Pra onde estamos indo?
- O jardim – Baekhyun respondeu ao virar o rosto em sua direção com um sorriso, buscando por sua mão e enlaçando os dedos aos seus.
O jardim ficava atrás do prédio e Baekhyun adorava aquela parte pouco frequentada da faculdade. Desde que os dois voltaram da casa dos pais de Baekhyun, ele levava Minseok àquele lugar com certa frequência para passarem um tempo tranquilo juntos.
- Você sentiu tanto minha falta assim? – Minseok quebrou o silêncio ao questionar em tom de provocação. Uma sobrancelha arqueada em desafio e os cantos da boca denunciando sua artimanha.
Minseok olhou para ele com um brilho nas irises e sentiu seu coração disparar no peito quando, inesperadamente, Baekhyun o deteve em uma das árvores mais frondosas do jardim.
Ele mais sentiu do que percebeu quando Baekhyun encostou seu corpo gentilmente contra o tronco da árvore, aproximando-se lentamente e tocando sua pele com delicadeza.
Baekhyun tinha o semblante sério e os olhos escuros. Sua respiração quente batia contra o rosto de Minseok e sua boca avermelhada estava a poucos centímetros de distância.
E o coração de Minseok batia desenfreado no peito. Era alucinante o poder que Baekhyun tinha sobre ele. E tudo o que Minseok conseguia pensar era na onda de calor que invadia as extremidades do seu corpo, aquecendo-o numa combustão descontrolada.
Mas mais do que isso, Minseok só conseguia pensar no quanto ele queria beijar Baekhyun e o abraçar bem forte.
- Você nem faz ideia do quanto eu senti sua falta - Baekhyun tinha uma voz suave e rouca.
Era tão atraente e Minseok se sentia instigado a não sair dos braços dele, principalmente quando o aperto ao redor do seu corpo se firmou e o colou contra o quente de Baekhyun.
Minseok engoliu em seco e sentiu uma onda de arrepio percorrer sua espinha.
- Você quer passar essa noite no meu dormitório? – Baekhyun perguntou e Minseok mordeu o lábio inferior – Vou estar sozinho e meu colega de quarto não volta nos próximos dois dias.
Minseok queria muito aceitar o convite, mas...
- Eu prometi para Kyungsoo que iríamos treinar para o campeonato.
Baekhyun soltou um suspiro fraco e o fitou com as irises incandescente.
- Eu acho que o Kyungsoo não se importaria se você remarcasse esse treino pra um outro dia. – Baekhyun inclinou o rosto para frente e selou os lábios em seu maxilar num beijo doce e breve, trilhando até seu pescoço onde murmurou com a boca contra sua pele sensível: - Eu sinto tanto a sua falta...
Minseok gemeu quando ele mordiscou seu pescoço.
- Você sabe que eu também sinto a sua.
- Se ainda quiser ir para o treino, você sabe que eu vou entender – Baekhyun murmurou fraco. – Mas você também sabe que não é sempre que a gente tem o dormitório livre pra nós dois.
Pra ser sincero, Minseok já não pensava mais no treino, muito menos em Kyungsoo. Ele só queria que a boca em seu pescoço voltasse a tocá-lo.
Minseok estava faminto dos toques de Baekhyun.
– O que você quer, Minseok? – Baekhyun perguntou suave e se afastou, deixando livre para ele decidir. – O treino ou só nos dois?
Minseok sorriu. Ele nem precisava pensar muito sobre o assunto.
- Só nós dois – Minseok sussurrou e Baekhyun sorriu ao selar os lábios gentilmente aos seus. – Mas vai ter que me prometer que você vai treinar comigo e Kyungsoo depois.
- E provar que posso ser um bom jogador de futebol e deixar os dois no chinelo? – Baekhyun arqueou a sobrancelha com um sorriso travesso. – Mas é claro que sim, pode contar com a minha presença.
Minseok balançou a cabeça desacreditado e riu ao bater fraco no ombro de Baekhyun que o puxou mais contra seu corpo.
Com a ponta dos dedos, Baekhyun tocou suas bochechas e afastou o cabelo do seu rosto antes de beijá-lo novamente, a boca macia cobrindo delicadamente a sua.
Minseok suspirou quando ele se afastou e avistou os olhos de Baekhyun fitando-o com um brilho intenso no olhar antes de se inclinar novamente com os lábios quase tocando o lóbulo de sua orelha.
- Eu amo tanto você.
Minseok sorriu. Um sorriso que curvou o canto de seus lábios e borbulhou algo quente em seu peito.
- Eu também amo você.
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#7 O lado negro de se namorar Byun Baekhyun
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Título: O lado negro de se namorar Byun Baekhyun Número do plot: #16 Sinopse: Apenas duas coisas eram extremamente importantes na vida de Baekhyun: a existência de Star Wars e Oh Sehun. E Baekhyun não conseguia se conformar com o fato de que seu namorado abominava sua saga favorita no mundo todo, entrando na missão de provar a Sehun que o universo de Star Wars era incrível até mesmo numa galáxia muito distante. Couple: BaekHun, menção!Sulay, menção!ChenKai
Muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distan– na verdade, a galáxia não era nem tão distante assim. O plano era Terra mesmo, naquela bola redonda e azul cheia d’água com uns bilhões de serumaninhos acabando de foder com tudo, o de sempre, num bairrozinho meio pobre meio decente logo ali.
Também nem era muito tempo atrás, apenas os anos 90 e bolinhas, quando um garotinho rechonchudo, Byun Baekhyun, havia acabado de fazer dez primaveras nas costas e não ganhou coisa além de um bolinho da padaria da esquina da sua mãe, umas histórias japonesas em quadrinhos que tanto estava querendo da avó e algumas fitas cassete de um bagulho americano com viagens no espaço que ele não fazia ideia da existência se um coleguinha de escola da classe avançada, Kim Junmyeon, não viesse tagarelando há dias na sua orelha sobre os tais filmes que o seu pai inútil tinha arrumado vergonha na cara em levá-lo assistir naquele ano.
Sinceramente, não pensava que sua mãe fosse lhe dar aquilo. Viviam economizando dinheiro para ter um teto sobre a cabeça e uma misturinha boa no prato todo o mês, assim como para universidade do seu irmão mais velho caso ele não conseguisse uma bolsa. Gastar as verdinhas contadas em cinema ou em fitas cassete era, como sua mãe dizia, um desperdício de dinheiro em porcarias nada necessárias. Por isso, quando comentou no meio da janta que gostaria de ver a tal história que Junmyeon vivia dando pitaco na sua cabeça, logo se arrependeu e disse ser bobagem.
No entanto, lá estavam as fitas lhe esperando no dia do seu aniversário! Talvez sua mãe tivesse ficado feliz em ver suas notas sempre com os mesmos dois números, redondinha como um lindo dez podia ser, tal como os elogios dos professores por Baekhyun ser tão inteligente com aquela idade, acabando por avançar várias classes à frente.    
De qualquer forma, com um pote de pipoca praticamente queimada nas mãos, o pedaço de bolo meio seco que ganhara da mãe do lado e o sentimento de ansiedade batucando seu coraçãozinho para finalmente matar sua curiosidade com a tal guerra no espaço, Baekhyun mandou a fita cassete pelo buraco escuro daquele aparelho mais antigo que Cristo e se sentou para assistir.
Star Wars, dizia no início exatamente do jeitinho que Junmyeon tinha falado, com as letras imensas da cor da gema de ovo em um fundo preto com pequenos pontinhos brilhantes ao redor como se fosse um universo mesmo, a palavra logo desaparecendo e dando lugar às outras – Episódio IV, Uma Nova Esperança. Enquanto isso, havia uma música do tipo das orquestras chiques saindo por todos os lados, enchendo o coração de uma emoção desconhecida.
Naquele letreiro amarelo gema de ovo que começou a subir, contava-se que era um período de guerra civil, onde, numa base secreta, uns rebeldes dado a loucos haviam atacado e conquistado sua primeira vitória contra o perverso Império Galáctico. E também, durante essa batalha, esses rebeldes tinham conseguido roubar os planos secretíssimos do Império sobre uma arma letal, toda blindada e capaz de destruir um planeta inteirinho, a tal Estrela da Morte. Com direito a perseguição pelo pessoal maléfico do Império, a Princesa Leia tenta voltar para casa em sua nave com esses planos que podem salvar seu povo e restaurar a liberdade da galáxia.
Baekhyun achou interessante. Um pouquinho. Só não achou mais porque não queria dar o braço a torcer para Junmyeon e gostar logo de cara (o menino tinha digo no telefonema que fez às escondidas para contar o que tinha ganhado de presente: Pelo Mestre Yoda!, Junmyeon gritou, você vai amar, Baekhyun, tô te dizendo! Vai por mim e só assiste e depois me empresta também!).
Então apenas assistiu. Depois assistiu a outra fita, do episódio V. E a outra, episódio VII. E a outra depois dessa, que tinha acabado de sair, o episódio I que contava uma parte da história inicial dos episódios que saíram primeiro. Quando terminou tudo, ficou um longo tempo olhando para a televisãozinha velha, matutando com os seus botões tudo o que tinha assistido e o quanto aquilo era...
– Incrível pra chuchu! – contou animadaço a Junmyeon através de outro telefonema escondido da mãe, não achando elogios para falar a respeito do que tinha terminado de assistir. – Vai ter mais, não é? Sabe quando sai?
– Eu não te falei que Star Wars era a coisa mais genial desse mundo? A Princesa Leia é uma deusa! É perfeito, não é? E estava lendo esses dias no jornal que as gravações do episódio dois já estão em andamento...
Foi nessa descoberta de Jedis, a Força, Darth Vader, criaturas esquisitas, dróides, robôs, naves, conspirações e uma guerra estourando no espaço que Star Wars se tornou uma das coisas mais importantes na vidinha de Baekhyun – porque trouxe a ele muitas preciosidades como seus melhores amigos, diversão e aventuras.  
Isso até Oh Sehun aparecer, causando uma grande perturbação na Força do coração de Baekhyun ao ponto do rapaz se apaixonar perdidamente e descobrir que o carinha por quem se derretia profundo de amores não curtia a coisa que ele mais amava.  
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De início, Baekhyun não queria um namorado. Uma transa gostosa depois de uns goles de vinho (uns goles mesmo, dois ou três, porque Baekhyun era fraco com bebidas e ficava...manhoso demais), quem sabe. Até uns amassos de roupa no corpo se uma transa fosse algo muito além para uma primeira vez depois de um encontro com tudo pago na Subway (ou Burger King, nada do McDonald’s, Baekhyun alimentava um sentimento nada amigável por palhaços). Mas não um namorado.
Ele estava muito ocupado com o próprio doutorado e o projeto de pesquisa maluca, aquela bendita elaboração da sua tese mais doida ainda sobre a Superposição Quântica, a história do gato de Schrödinger dentro de uma caixa selada, junto de um veneno letal e um frasco de material radioativo, onde, se um sensor registra a radioatividade, tipo o decaimento de um átomo, o frasco de veneno é liberado e mata o gato. O mais interessante é que esse átomo pode tanto decair quanto se manter, significando que o gato está tanto vivo quanto morto, daí o termo físico dado a isso – “o estado do gato”.
Em resumo, Baekhyun estava pesquisando e escrevendo sobre essa teoria se aplicada em objetos, abrindo um leque para a possibilidade de mundos paralelos. Somado a tudo isso, havia as aulas de Física Experimental que ministrava na universidade, coisa que lhe tomava muito tempo de vida.  
Seus amigos, no entanto, achavam que Baekhyun estava precisando sair dessa ou logo seria o gato morto da história, já que era o único do grupinho totalmente encalhado sem se envolver humanamente com alguém que não fosse os próprios amiguchos do peito e os alunos.
Junmyeon mesmo estava de rolo com a Yixiao da Computação, enquanto Jongin era assexuado do tipo romântico, que não sentia atração sexual pelas pessoas porém curtia uns abraços, andar de mãos dadas com alguém muito especial e talvez um beijo ou outro com essa pessoinha que podia a vir fazer seu coração bater mais rápido; Minseok, a única garota do grupo, não fazia remix sozinha por muito tempo e Jongdae era um galinha de espírito que atirava bala pra todo lado, o que acertava era lucro, embora fosse mortalmente apaixonado por certo melhor amigo – formavam o incrível quarteto Kim.
Baekhyun, por outro lado, era Baekhyun, ocupado demais sendo cult com sua tese de doutorado e aulas para dar.
Quando Jongin chegou com Oh Sehun a tiracolo, Baekhyun soube que aquela era sua chance de investir em um relacionamento saudável com outro humano. Porque mesmo que tivesse dito que não estava interessado em ninguém naquele momento estressante, dividia o apartamento com Junmyeon e talvez tivesse sido muito pouco silencioso no cinco contra um e outros brinquedos para liberar a frustração de um dia corrido, matando a saudade de dar uns beijos na boca e de também ganhar um carinhozinho – ele não disse onde.
Merda. Quem queria enganar, senhor? Sentia falta de ter uma pessoa ao lado que não fosse seus amigos esquisitos com gostos mais esquisitos ainda. Às vezes, na calada da noite, se lembrava de Do Kyungsoo com uma dorzinha no coração, indo dar uma olhada no perfil do Facebook dele, atualmente marcado por aquele imenso “Em relacionamento sério com Park Chanyeol”. Precisava esfregar na cara dos outros a felicidade? Se tivesse percebido rápido o bastante que ele e Kyungsoo se completavam certinho para um juntos de mala e cuia antes de terminarem as fodinhas regulares, seria seu nome ali. Mas tudo bem, vida que segue.   
Com Oh Sehun não foi paixão à primeira vista, embora ele fosse um gatão de roubar o coração de alguém de primeira. Foi mais um interesse. Algo meio “será que rola?”, que Baekhyun tentou não estragar logo de cara.
O que em si foi bem difícil dado o seu círculo de amizades que, além de tagarelar mais que tia fofoqueira na esquina e gostar de Star Wars como ninguém, excedia os níveis de normalidade.
Junmyeon era uma versão de olhos puxados do estilo Clark Kent, com sete graus de miopia, pulmões asmáticos e uma constante aparência de quem caiu da cama com as roupas amassadas. Possuía um sério problema em organização, tanto é que Baekhyun penava em manter tudo arrumadinho no apartamento, porque Junmyeon chegava e puff, tudo virava uma zona. Ele também tinha uma mania de rabiscar qualquer papelzinho e viver contando piadas ruins demais.
Jongdae tinha aquele cabelinho encaracolado parecendo um potinho delicioso de miojo, todo macio e cheiroso, porque ele gostava de se manter nos trinques, tal como uma coleção imensa de camisas e blusões listrados de todos os tipos de cores e tamanhos. Queria agradar Jongdae? Só dar uma camisa listrada para ele (ou um item de colecionador de algum quadrinho de super-herói). Além do mais, o Kim era conhecido por sua persistência inabalável, a boca suja e uma paixão incubada por certo amigo fazia anos.
Jongin, mais jovem que qualquer um ali, adorava pintar o cabelo a cada estação, mas se vestia como um senhorzinho já bem antigo, usando suéteres largos (alguns que ele mesmo fazia na base do tricô nas horas vagas) e carregando sacolinhas de papel pelo centro de pesquisa da universidade pra baixo e pra cima, com aquela careta usual de alguém que vivia com sono. Era a paixão encubada de certo amigo.
Minseok, de longe, parecia a pessoa mais normal do clubinho. Mas não era. Tinha mania de limpeza, e Baekhyun sempre levava à amiga para o apartamento, deixando-a maluca a ponto de dar uma pisa em Junmyeon e começar a limpar até que pudesse ver seu reflexo no chão. Café, Minseok também era viciada em café, chocolates e academia (trauma de ser como a Minseok que Baekhyun conheceu antes, mais adorável e de bochechas apertáveis, com uns cinco números a mais no jeans; opressão da sociedade). De acréscimo, era a que mais bebia uma birita e nunca ficava bêbada. Ah, e gostava dos vilões, tinha uma fascinação por eles que não era desse mundo.
E Baekhyun não ficava muito atrás no quesito normalidade extrapolada. Na verdade, se fosse para rever todos esse anos, era ele quem mantinha esse nível sempre atualizado. E ultimamente estava piorando com aquele cabelo sempre despenteado, os moletons dois números maiores, os jeans fodidos no joelhos (uma vez até na bunda), chinelão nos pés com meias diferentes em cada um, enquanto zanzava pela universidade como se fosse um mendigo perdido cheio de olheiras.
– Oh Sehun, primeiro ano de residência aqui no hospital de medicina da universidade  – o moreno apresentou o rapaz alto, meio sem jeito ali parado com a bandeja de comida nas mãos na frente do bando de esquisito naquele almoço em uma das praças de alimentação. – A gente fez o fundamental, o início do ensino médio juntos e alguns cursos de verão antes de eu deixar essa vida pra trás por causa da minha inteligência – Jongin acrescentou sorridente, fazendo Sehun abrir um sorriso pequeno.
– Convencido – ele resmungou.
– Um médico entre nós e um médico inteligente, Graças ao bom Obi-Wan Kenobi. Resta alguma esperança nesse mundo cego! – Jongdae exclamou animado. – Qualquer pessoa que tenha o mínimo de cerebelo para admitir que esse astrofísico é um convencidinho sem graça, é meu amigo. Prazer em conhecer, gatinho. – Estendeu a mão para Sehun.
– Se convencido for sinônimo para inteligente demais, então sim, eu sou. Diferente de certas pessoas que são Mestres em Engenharia e não conseguem consertar um secador de cabelo – Jongin alfinetou com um sorrisinho, empurrando o cabelo curto e pintado de rosa para trás.
– É Mestre em Engenharia Nuclear, tua anta – Jongdae corrigiu. – Arranjava um amigo da elétrica se queria teu secador consertado de graça.
– Mas botou na descrição do perfil do Tinder que é o Pikachu da Engenharia.
– O aga do Pikachu só está aí de enfeito, apenas lembrando.
Todo mundo na mesa se colocou a falar ao mesmo tempo depois disso.
– Que Deus tenha piedade da sua alma, Jongdae. Tu podia ficar caladinho de vez em quando, sabe?
– Eu sou ateu – o Kim respondeu risonho.  
– Mesmo assim, é provável que nenhuma divindade goste de você de tanta merda que fala.
– Eu podia morrer sem ouvir essa, Dae.
– É por essas idiotices que você fala que não consegue namorar ninguém, Kim.  
Jongin concordou, virando para um Sehun que observava tudo com uma careta divertida.
– E sim, a gente também se pergunta porque somos amigos dessa criatura. E recomendo que se pergunte bem antes de querer amizade com ele – o moreno avisou a Sehun.
– Por quê?! – o Kim reclamou da mesa, fingindo uma mágoa genuína. – Sou o cara mais legal daqui.
– Está mais para um idiota bem iludido – Junmyeon quem respondeu, ganhando de Jongdae um bico choroso bem falso. – Aliás, Sehun, já que você é praticamente um médico, tô com um sintomas aqui e gostaria de saber se não é nenhuma doença terminal que possa me levar ao caixão antes mesmo de eu terminar minha tese do doutorado. E prazer em te conhecer, sou Junmyeon, Matemática – falou chupando o nariz, também estendendo a mão para Sehun.
– Desencana, hipocondríaco, o Sehun não curte gente viva – Jongin respondeu. – Ele prefere tratar os mortos, vai seguir a carreira de legista.
– Mais um antissocial pra esse grupo, viva! – Jongdae observou irônico.
– Estamos evoluindo muito – Minseok, a única garota do grupo e também a mais velha que dava aulas em um dos cursos mais fodidos na universidade, Economia, soltou do seu canto, tirando dos olhos uma mecha do cabelo escuro e enfiando de qualquer jeito para dentro do coque bagunçado, aproveitando por um segundo para dar uma olhada em Sehun, este que lhe abriu um lindo sorrisinho tímido. – Pelo menos é bonito.
– Eu não acredito nisso! – Junmyeon falou num rompante. – Demorei quase uma década pra ganhar um elogio seu, sua fresca desalmada, e o novato já chega recebendo um “Pelo menos é bonito”? Agora é assim, Kim Minseok? – Junmyeon reclamou. – Cadê a nossa amizade? Não sou seu melhor amigo?
– A traição de Judas não doeu tanto como essa – Baekhyun se pronunciou pela primeira vez, baixinho.
– Olha que ela nem gosta de homem – Jongdae acresceu bebendo um gole do seu yakult. – Imagina que cruz seria isso aí arrumar um namorado.   
– Passo. De desgraça na minha vida já basta vocês. – Minseok baixou os olhos de volta para a montanha de provas que estava enchendo de zeros vermelhos. – Por sorte lésbica, aleluia.
– Mas vejam o lado bom, ter um legista no círculo de amizade é melhor que aquele carinha da natureza que a gente conheceu faz um tempo – Jongin falou em seguida, fazendo todo mundo lembrar do cara que Jongdae havia saído depois de dar uns desses tiros no escuro no Tinder.
– Esse tipo de passado a gente não taca na mesa bem na hora do almoço, ô filhote cor de rosa de um Chewbacca. – Jongdae atirou uma ervilha na cara do amigo.
– Não consigo deixar a chance de rir da sua cara passar em branco.
Jongdae fez bico.
– O Natureza é gente boa, então não é pra tanto.
– O cara tem paixão por insetos! – Junmyeon se intrometeu alarmado, deixando de lado seu Sudoku e seu lanche. – Sabe quantos banhos tive que tomar depois que ele tocou meu ombro? Tô esfolado até agora e ainda tenho arrepios só de lembrar daquele brilho nos olhos ao falar que esses rastejantes nojentos sãos as criaturinhas mais fascinantes do mundo.
– Alguém nesse mundo tinha que amar as baratas – Minseok disse com um sorriso, rabiscando a primeira nota decente naquela pilha que havia corrigido.
– Foi por isso que ele gostou de você, Jongdae – Jongin jogou, fazendo o resto da mesa rir. – Sabe que te amo, né?
– Imagina se não me amasse, sua praga.
Os dois Kim trocaram mais algumas farpas comuns antes de, finalmente, o moreno voltar sua atenção a Baekhyun muito interessado em roubar as batatinhas fritas do prato de Minseok.
– Por fim, temos nosso brilhante físico, que está tentando passar uma boa impressão a você, Byun Baekhyun.
Baekhyun abriu um sorrisinho, estendendo a mão por cima da mesa para apertar a de Sehun, resmungando que era bom conhecê-lo.
– E ele não é quieto assim – Jongdae se meteu. – Fica pagando de santinho na frente dos meninos bonitos, mas é um capeta em tempo integral.
– Verdade – Junmyeon afirmou, ganhando um chute por baixo da mesa logo em seguida. – Ai, teu rídiculo! Eu te conheço desde a escolinha e divido o apartamento contigo. Te ouço falar sozinho o tempo todo, cantar Mariah Carey de madrugada, bater punheta e andar pelado com o cabelo todo seboso pela casa, tenho propriedade para falar que é verdade.
– Sou um anjo! – o Byun disse exibindo um sorriso nada angelical, a cabeça recostada no ombro de Minseok.  
– Qual parte do capeta em tempo integral, que é um anjo caído, você não entendeu, Baekhyun? – o engenheiro perguntou. – Não te engane com a carinha bonita dele, Sehun.
– Já desgraçou muitos corações com ela – Minseok completou.
– Quê?! – Baekhyun deixou escapar. – Quando?
– Sinto pena dos seus alunos, sinceramente. – Jongin suspirou.
Antes que pudessem estragar a boa impressão de Baekhyun, este deu um jeito de direcionar a conversa para Sehun que só assistia tudo quietinho seu canto comendo sua salada, rindo vez ou outra com as asneiras que Jongdae fazia o favor de soltar. Em menos de alguns poucos minutos, já sabiam os planos de estudo de Sehun assim que terminasse sua especialização, seus sonhos, se era um antissocial mesmo, no qual ele respondeu:
– Bom, se vale de alguma coisa, eu sou stripper. – Informação que deixou todo mundo em choque por bons segundos. Então ele sorriu e soltou: – Num universo paralelo, talvez.
Aquela menção de universo paralelo fez Baekhyun sorrir como um idiota, recebendo por baixo da mesa um empurrão com o joelho em sua perna de Minseok ao corrigir suas provas.
– Já ia perguntar o nome da boate – Baekhyun deixou escapar, vendo Sehun sorrir pequeno em sua direção, o cabelo escuro de um tamanho até às orelhas caindo em seu rosto.  
– Só nos seus sonhos – o Oh falou. – O nome da boate. Que, por acaso, está localizada na rua “Sonhos podem se tornar realidade” – Sehun jogou no ar e Baekhyun se viu sorrindo à toa diante daquilo.
Jongdae chegou a deixar yakult escapar do nariz ao rir, já anotando mentalmente para usar em seus encontrinhos do Tinder, e Junmyeon fez um joinha a Sehun dando a ele seu selo de aprovação em respostas inteligentes. Até mesmo Minseok gostou daquela, tirando os olhos da pilha de provas para sorrir em direção a Sehun, este que já parecia ter sido adotado como o novo integrante do clubinho.
– Namora? Se não, tem interesse? – Junmyeon quis saber depois de um tempo de conversa.
– Deus me livre – respondeu. – Mas quem me dera.
Jongdae gargalhou alto, gostando do que acabara de ouvir.
– Tem algum tipo ideal? – Junmyeon continuou. – Gosta dos românticos ou dos selvagens? E o que acha de finais felizes?
– Lá vem o cupido – a mais velha da mesa ciciou do outro lado.
– Jun hyung foi criado vendo os filmes da Disney, lavagem cerebral de longa data. Deu ruim – Jongin explicou a Sehun. – Aí agora ele vive querendo ser o cupido dos outros nas horas vagas.
– Por que tem poucas coisas pra fazer, né? – Jongdae provocou. – Ainda não levou a Yixiao pra ver a lua? Porque fiquei sabendo que chinesas não são do tipo que gostam de esperar pelo resto da vida, se é que me entende.
Junmyeon revirou os olhos.
– Mas então, Doutor Oh, conta pra gente qual é o seu tipo ideal.
Sehun deu outra garfada em sua salada e deu de ombros.
– Ah, não tenho um e nem acredito nessa coisa de tipo ideal. Pra mim, se for humano e tiver todos os dentes da boca já é lucro – acrescentou, bebericando um gole de suco. – E acho que a combinação de romântico com selvagem pareça boa.
– Na cama, então – Minseok complementou, fazendo todo mundo rir.
– No sofá, no banco do carro, qualquer lugar – Sehun continuou com coragem, tirando risinhos da mesa. – E tenho uma irmãzinha mais nova que sofreu lavagem cerebral, daí fui afetado também, então curto um felizes para sempre. Assim como não curto ficar nessa de esperar pelo resto da vida. Quanto mais rápido eu ver a lua, melhor – terminou com um sorrisinho malicioso.
Baekhyun jurou que Sehun olhou em sua direção e deu uma piscadela.
A partir disso, Baekhyun não perdeu tempo em investir. Era humano (menos quando faminto), tinha todos os dentes da boca e podia dar um jeito de misturar o romântico com o selvagem na cama, no sofá, no banco carro e em qualquer lugar, ainda mais naquela seca que ultimamente vivia. Sem contar que, segundo o próprio Sehun, sonhos podem se tornar realidade e tinha que confessar que, desde que o médico residente passou a fazer parte da mesa redonda, uma vontade de dar uns beijos na boquinha dele foi se acumulando dentro do poço de tesão.
E seus amigos não seriam seus amigos se não dessem um jeitinho de sempre bancar a quarta série em empurrar os dois para perto um do outro com bastante frequência ou deixá-los sozinho na primeira oportunidade, a mesma desculpinha que os dois eram os únicos solteiros do grupo e que solteiros deviam se fazer companhia. Jongdae com aquela língua afiada soltando comentariozinhos do tipo “Mas já beijaram?” ou “Já levou o Sehun ver a lua, Baekhyun?” só fazia Sehun ter uma cor a mais nas bochechas e olhar na direção de Baekhyun como se dissesse “Tá esperando o quê?”.
Foi em um desses momentos sozinhos que Sehun admitiu ter bastante interesse em Baekhyun.
– Já li seus artigos científicos – contou.
Baekhyun ficou surpreso, olhando para o rapaz com mais atenção.
– Não sabia que gostava de Física.
– Não muito – confessou com um sorrisinho envergonhado. – Mas digamos que...hm... – deixou a voz morrer, inclinando a cabeça um pouco para o lado e fitando Baekhyun. – Tive interesse na pessoa que escreveu.
Baekhyun arqueou uma sobrancelha.
– Desde quando?
– Faz tempo.
– Muito?
– O suficiente pra eu viver querendo beijar a boca dessa pessoa? Demais.
O mais velho abriu um sorrisinho, olhando para o próprio colo e em seguida para Sehun, este que, sentado ao seu lado no sofá do apartamento – agora arrumado por Minseok depois de ver a zona que Junmyeon havia feito –, engoliu em seco assim que deixou seu par de olhos descer para a boca de Baekhyun.
– E o que eu devo fazer com essa informação? – indagou rouco ao mais novo, não sabendo de onde tinha tirado tanta coragem para enroscar seus dedos com a pontinha dos dedos de Sehun.
– O que você acha que deve fazer, Professor Baekhyun?
Eles dois quase se beijaram dessa vez. Baekhyun acabou se aproximando um tanto mais de Sehun no sofá e Sehun suspirou quando sentiu uma das mãos do físico em seus quadris, depois a boca dele roçando na sua daquele jeito lento, provocando e com um pouco de receio em ir logo de uma vez ao que estava querendo fazia tempo. Sehun fechou os olhos quando sentiu os dentes de Baekhyun puxando com delicadeza o seu lábio inferior de uma forma gostosa que não machucava. Alguém suspirou ali e as bocas se uniram de novo para o então esperado beijo.
Jongdae voltou ao apartamento esbaforido, dizendo para Baekhyun descer com o seu cartão de crédito e pagar a comida do restaurante da esquina onde sempre compravam e um blá-blá-blá-blá de que Junmyeon tinha esquecido a carteira na universidade e de que Minseok tinha vindo direto da academia zerada. Acabou pegando os dois no flagra, atrapalhando tudo.
As coisas andaram de vez, no entanto, na noite em que foram a um barzinho para que Yixiao e Junmyeon anunciassem o namorico sério, dando acesso aos ilustres convidados a muita bebida e vergonha alheia.
Como de costume, Baekhyun e Sehun estavam um sentado do lado do outro em uma das mesas no fundo do bar, vendo Jongdae fazer uma dancinha sexy na pista de dança improvisada, Minseok trocando uma conversa bem íntima com uma amiga de Yixiao e Jongin perdido por algum lugar enchendo a cara.
Baekhyun havia bebido uns bons goles de álcool, o que havia lhe deixado mais sorridente que o normal e cheio de manha, falando mole, dizendo coisas que não falaria sóbrio se não pensasse um par de vezes e buscando abraços, mãos dadas e um ombro para recostar a cabeça. Então, rindo contra a orelha de Sehun, tinha flertado mais que o normal e soltado sussurrinhos nada decentes ao rapaz, assim como palavras doces – Você é incrível, Sehun. E lindo. Você é tão lindo, a coisinha mais adorável desse mundo todo –, tirando dele sorrisos acanhados e vendo suas bochechas ganharem um rubor de leve.
Em um momento de coragem insana, abraçou Sehun de lado e beijou seu pescoço, ouvindo seu nome ser sussurrado em resposta de um jeito cheio de dengo. Baekhyun adorou aquilo, fazendo questão de espalhar mais alguns carinhos na pele de Sehun e ouvi-lo dizer seu nome.
– Quer sair comigo? – perguntou.
– Um encontro de verdade? – Sehun murmurou. – Só nós dois?
Baekhyun aquiesceu, recordando-se de todas as vezes em que tentou ficar sozinho com Sehun para trocar uns carinhos a mais e seus amigos acabaram atrapalhando sem querer.
– Só eu e você – afirmou amoroso, beijando o pescoço de Sehun novamente.
– Com cinema e tudo?
– Uhum – fez. – Cineminha no escuro. Romance? Sei que você gosta de assistir romance, especialmente os trágicos. Aí vamos jantar – foi dizendo. – Sem carne pra você.
Sehun sorriu, os olhos sumindo em duas meias-luas adoráveis ao ver que Baekhyun se lembrava perfeitamente das coisas que ele gosta, especialmente o fato de ele ser vegetariano.
– E depois?
– Sobremesa – ronronou na orelha dele, fazendo uma trilha de beijos no pescoço, indo em direção ao queixo dele. – Sorvete?
– Gosto – Sehun devolveu com um suspiro, fechando os olhos. – De chocolate.
– Mas cuidado pra não se sujar – disse, a boca roçando na bochecha de Sehun. – Porque senão...
– Senão?
– Vou ter que limpar o cantinho da sua boca com a minha.
Foi o primeiro beijo deles, lento, com gosto de álcool e fôlego faltando, existindo a troca de alguns beijinhos no final, daqueles estalados e com risinhos.
– Vamos fazer o que depois disso?
– Andar de mãos dadas por aí – Baekhyun declarou abobado, olhando a boca do outro com desejo. – E eu com certeza vou me certificar de beijar você mais um pouquinho pelos escuros da rua. Então, após nosso passeio, vou te levar pra casa.
– Nada de ver a lua? – o jeitinho manhoso que Sehun falou fez Baekhyun engolir um gemido.
– Eu quero muito te levar ver a lua – sussurrou. – Não sabe o quanto. Mas...
– Nem rapidinho?
Baekhyun riu.
– No banco do carro?
– Meu colega de apartamento não vai estar – contou ao mais velho. – Você pode entrar. Um pouco só, por favor – pediu.
– Mas só rapidinho. E a gente vai ficar de roupa.
– De roupa?
O físico gemeu alto dessa vez, sentindo uma das mãos de Sehun em sua coxa em uma provocação, a respiração dele contra o seu pescoço.  
– Do jeito que você quiser, Sehun.
– Muito bom.
Houve um estalo de beijo e o riso de Sehun.
– Pra terminar – Baekhyun disse entre outro beijo molhado –, antes de ir embora, vou te abraçar apertado e te dizer umas coisinhas na orelha.
– Coisas tipo...?
– Tipo que eu tô muito apaixonado por você.
Viram a lua naquela noite mesmo.
Depois, com mais alguns encontros cheios de chamego e um punhado de sussurrinhos apaixonados na orelha, Sehun tinha uma aliança no dedo, o seu contato salvo no celular de Baekhyun como “Meu dr. Hun ♥” e uma gaveta no quarto do mais velho com suas cuecas pretas, uma parte do guarda-roupa sendo morada de suas camisas com pedidos de salve tal animalzinho e seus jeans velhos. Seus livros de anatomia e patologia se espalhavam na bagunça do apartamento do namorado nerd.
Eram daqueles casaizinhos raros do colégio ou da universidade que combinavam de um jeito surreal, como se fossem almas gêmeas um do outro há muito tempo só esperando se encontrar. Só de bater o olho neles de mãos dadas por baixo da mesa da praça de alimentação ou andando pelos corredores da universidade, olhos nos olhos e um sorriso de quem está apaixonado, era fácil saber que não demoraria muito para haver uma cerimônia de casamento, um apartamento juntos e os dois envelhecendo lentamente lado a lado, com pesquisas de Física aqui e estudos de gente morta de lá.
Tinham muito em comum. Inteligentes à beça, gostavam de estudar e de discutir sobre a vida, o universo e tudo mais, faziam o outro sorrir e até mesmo brigavam, terminando com uma reconciliação gostosa cheia de beijinhos e fazendo algo que Jongdae vivia provocando.
– Viram a lua juntinhos ontem à noite, né? Seus safados.
Parafraseando Kim Junmyeon, à sua maneira, viveriam um felizes para sempre.
E até viveriam se o ano não fosse 2015 e saísse o sétimo episódio da franquia Star Wars, O Despertar da Força, e Baekhyun inventasse de levar o namorado, a pessoa que mais amava no mundo, ao cinema para que assistissem juntos naquele escurinho gostoso a dois a outra coisa que ele também mais amava no mundo.
Deu ruim, óbvio.
                                                        👽
Era a hora do almoço em ponto e os quatro Kim estavam na praça de alimentação na mesma mesinha que usavam há anos na universidade (que uns estudantes roubaram aquele dia e Minseok só com o olhar fez os meninos cagarem de medo de ficar de exame com ela), com a comida de sempre na bandeja e esperando Baekhyun chegar para contar o que ele tinha achado sobre O Despertar da Força, já que preferiu ir assistir com o namoradinho, o traíra.
Mas pela cara de funeral que ele carregava ao vir como uma tartaruga até os amigos, as roupas todas pretas que usava e um par de óculos escuros nos olhos era fácil de saber que: 1) Baekhyun tinha sido trocado por outro Baekhyun emogótico de um universo paralelo que odiava Star Wars e que não reconheceria o quão fenomenal O Despertar havia sido, entregando-se ao Lado Negro da Força com um gosto musical muito do duvidável e um estilo de moda sad, but true ou 2) Baekhyun era Baekhyun mesmo e havia odiado O Despertar da Força, vestindo-se de forma que representasse sua alma; 3)Um parente tinha morrido e 4) como última hipótese, a mais improvável, ele e Sehun deveriam ter brigado, Baekhyun levado um pé bem no meio do olho, por isso os óculos escuros, e ele se sentia triste o bastante para vestir preto.
– Cenzinha na opção três – Junmyeon apostou rápido, antes que Baekhyun chegasse.
– Então ele teria que vestir preto todo dia, porque a família dele é tipo ninho de formiga, tem várias mas sempre tem uma morrendo – Jongdae objetou. – Bobear até eu sou parente dele.
– E você não é? – Minseok perguntou.
– O Jongin que é – Jongdae corrigiu. – Nono grau?
– Segundo! Você acha que a gente é inteligente por quê? Os genes, meu amigo. – Jongin mastigou uma batatinha frita sorridente. – Mas aposto na quarta.
Jongdae assobiou.
– Problemas no paraíso? – soltou.
– É bem difícil enxergar o Sehun espancando Baekhyun – Junmyeon disse. – De amor, talvez.
– Ué, por que não? Ele mexe com os mortos.
– Que já estão mortos, lembra? – Junmyeon respondeu.
– The Walking Dead diz outra coisa.
Minseok suspirou, interrompendo a discussãozinha sobre Sehun ser o mais apto a sobreviver a um apocalipse zumbi pelo constante aprendizado mortuário.
– Cem na opção quatro. Junmyeon na três. Jongin na quatro também. Jongdae? – ela chamou, vendo o amigo levantar o dedo indicador. – Sério? Opção um?
– Não posso acreditar em universos paralelos, não?
Minseok nem teve tempo de argumentar, pois Baekhyun chegou e se jogou na cadeira ao seu lado.
– Sehun não gosta de Star Wars – Baekhyun anunciou aos amigos depois de alguns minutos em silêncio, com uma voz fúnebre. – Odeia na verdade.
Todo mundo da mesa se calou, abrindo a boca e arregalando os olhos em um grito de espanto, choque, descrença e tristeza. Uma faca entrando no coração bem lentamente.
– Mentira – Junmyeon quem falou primeiro, baixinho, ganhando de Baekhyun uma negativa. – Por que alguém não gostaria de Star Wars?
– Isso não é possível! – Jongin chiou confuso. – Me recuso a acreditar nisso.
– Não é só você – Baekhyun resmungou. – Eu tô despedaçado.
– Sabia que ele era bonito demais para ser alguém normal como a gente. – Minseok suspirou. – Homens, sempre decepcionando você até mesmo quando você nem gosta deles.
Jongin continuou balançando a cabeça como se perdido, não entendendo isso. Assim como o próprio Baekhyun. Eles viviam falando de Star Wars na mesa, fazendo piadinhas ruins sobre e formulando teorias, às vezes comentando uma notícia ou spoiler que haviam lido a respeito do filme e Sehun estava ali perto em todos os momentos. Ele até mesmo ria das piadas!
– Escuta só essa – Junmyeon chamou a atenção do pessoal da mesa um dia. – Qual novela que Darth Vader mais odeia? – Todos da mesa balançaram a cabeça, não sabendo a resposta. O matemático fez um suspense e Jongdae bateu no tampo de madeira para que a resposta tivesse um fundo musical. Então disse: – Rebeldes!
Sehun riu. Baekhyun lembra muito bem que ele riu, ficando abobado pelo namorado que recostou a cabeça em seu ombro e riu como um garotinho. ‘Tá que a piadinha de Junmyeon era bem bosta, mas ele riu! E também nunca, nunquinha mesmo, havia reclamado da cacarecalhadas de Star Wars ou de qualquer nerdice que existia no apartamento de Baekhyun e Junmyeon, nem dos pijamas da saga do namorado, nem daquele abajur da cabeça de Darth Vader que ficava ao lado da cama.
Nem daquela cueca ridícula do Baekhyun que dizia: a nave aqui guardada pode te levar a uma galáxia muito, muito distante. E eles namoravam há meses!
Pelo Yoda já morto, como isso era possível?
– Ele gosta de Star Trek? – Jongdae perguntou.
Baekhyun deu de ombros.
– Sei lá – respondeu murcho. – Não sei de mais nada.
– O que gostar de Star Trek tem a ver com odiar Star Wars? – Jongin questionou.
– Tudo? – o Kim respondeu como se fosse óbvio.
– Meu Deus, qual o seu problema com Star Trek, Kim Jongdae?
– Todos? – repetiu no mesmo tom óbvio. – E eu é que pergunto qual o seu problema, Kim Jongin. Você e Sehun não eram amigos e estudaram juntos, não? Que tipo de amigo você foi pra ele se nem ensinou a criatura o caminho certo da Força? Onde você estava quando ele precisou de um Mestre para conduzi-lo ao jedismo? – Ao falar aquilo, todos os olhos foram para Jongin. – Se agora ele gosta de Star Trek e odeia Star Wars a culpa é sua.
Jongin fez beicinho, baixando os olhos para as próprias mãos.
– Desculpa – murmurou. – Eu sempre pensei que ele gostasse quando a gente conversava, nunca falou nada pra mim – contou. – E Star Trek é legal.
Jongdae suspirou.
– Você é uma vergonha a essa família mesmo.
– Não é pra tanto também – Junmyeon entrou no meio. – Tem coisas muito legais nessa franquia.
– Tipo nada? – Jongdae inquiriu de um jeito infantil, recebendo um olhar fulminante de Minseok. – Tá! Tudo bem, já entendi. Mas de lá só se salva a língua klingon, porque eu fui coagido a aprender – disse encarando Minseok –, e o Spock. O resto é batatinha.
Jongin revirou os olhos, pronto para rebater se não fosse pela voz irritada de Minseok.
– É o ditado: entre Star Trek e Star Wars, eu só quero que vocês calem a boca ou logo não vão star aqui – Minseok falou séria, fazendo os dois ficarem pianinho por uns bons segundos. – Mas conta aí, qual é a do espírito fúnebre?
Baekhyun suspirou, tirando a armação dos óculos escuro do rosto com o intuito de massagear os olhos e terminou por exibir um olho roxo terrível. Choramingou assim que tocou no machucado.
– O Sehun te bateu?! – Jongdae perguntou alto, quase num grito, chamando a atenção de muitas pessoas ao redor.
– Que?! Não, que ideia. – Baekhyun franziu o cenho confuso. – Por que Sehun me bateria? Quer dizer, não que eu não seja amante de uns tapas na bunda na cama – contou com um sorrisinho, vendo os amigos fazerem careta de vômito. – Mas além de uma surra de amor, por que ele me bateria?
– Porque pessoas que não gostam de Star Wars não são confiáveis? – argumentou o engenheiro, recebendo do Byun uma risadinha fraca e um revirar de olhos. – Sério, só eu estou preocupado com a educação do meus futuros sobrinhos aqui?
Minseok mandou que Jongdae calasse a boca e deixasse Baekhyun explicar o motivo da cratera no olho.
– Teve um tumulto na saída do cinema ontem. Uns idiotas caçando briga à toa – explicou. – Do nada um cara me acertou no olho e quebrou meus óculos enquanto a gente tentava sair, mas Sehun quase fez o sujeito ir pra caixa de madeira mais cedo. Meu olho perto da carne moída que Sehun deixou o nariz do idiota é machucado de neném.
– Isso só fica melhor. – Jongdae balançou a cabeça. – Médico de gente morta, não gosta da coisa mais legal nesse mundo depois do sexo e banca o Hulk pra proteger o namoradinho nas horas vagas.
– E gosta de novelas cheias de tragédias – Baekhyun acrescentou, recordando-se de Sehun atualizar as novelas por reprises na internet e tagarelar em sua cabeça da fulana que ficou com ciclano, do beltrano que matou xis, depois ressuscitou não sei quem lá, roubou mais o caramba e fez do capeta mil. – Do Red Velvet também. Meus ouvidos com Ice Cream Cake que o digam. – Sehun era um dos maiores fãs do grupo e cantor de chuveiro ainda.  
Junmyeon abriu um sorriso que não cabia no rosto de tanta felicidade e orgulho por ouvir aquilo (até porque cantava com Sehun quando ele estava no banheiro). Se não fosse hétero, já tinha passado a perna no namoradinho do melhor amigo fazia tempo.
– Partidão – Junmyeon aprovou. – Esse é pra casar.
– Ele é homem de verdade, mesmo não gostando de Star Wars. – A professora cutucou Baekhyun com o cotovelo, mostrando um sorrisinho. – Diferente de certas pessoas que te deixam pra trás quando um cara vem te assaltar no ponto de ônibus, não é? – atirou maldosa.
– Ele tava armado! – Jongdae protestou em sua defesa.
– Com uma arma de brinquedo, não? – Jongin fez questão de relembrar dos policiais contando com um risinho contido.
– Que foi o bastante pra me traumatizar, tá?
– E qual a sua desculpa, Junmyeon? – Minseok quis saber.
– Eu sou asmático.
– Mas correu como se fosse o Flash.
– Situações desesperadoras pedem medidas desesperadoras – foi a resposta. – Eu não podia simplesmente morrer virgem.
– Por uma arma de brinquedo? – Jongin provocou.
Começaram a discutir depois disso daquele jeitinho cheio de zoação e risos, como sempre faziam juntos. Nem demorou muito para que Baekhyun contasse que estava tudo de preto porque um parente seu havia morrido naquela manhã, fazendo Junmyeon faturar uma grana preta e ouvir de todo mundo que era injusto pra caramba ele levar o dinheiro quando morava com Baekhyun e sabia tudo sobre ele. Também não deu nem um minuto para que Baekhyun começasse a tagarelar sobre o quanto O Despertar da Força tinha sido per-fei-to e ma-ra-vi-lho-so e sen-sa-ci-o-nal, que estava louco para o próximo filme da saga.
Nesse falatório daqui e surtos de lá, Baekhyun jogou na roda aos amigos a experiência de quanto havia sido chocante ouvir da boca do namorado aquelas palavrinhas que, infelizmente, deixaram seu pobre coração doído. Ainda mais depois de ver aquele filme show de bola!
– Eu não gosto de Star Wars – Sehun disse a Baekhyun após toda aquela confusão na saída do cinema, os dois sentados lado a lado no banco duro de uma pracinha ali perto de uma farmácia 24 horas, com o Byun segurando uma bolsa de gelo no olho e o namorado tendo a mão cheia de curativos e remédios. – Na verdade, meio que odeio.
Seu olho bom ficou lacrimejado e não foi pela dor do outro olho machucado.
– Jura? – Baekhyun deixou a voz escapar baixinha, num fiapo esganiçado como de uma criança chorosa, vendo o namorado aquiescer envergonhado para si. – E eu te trouxe pra assistir.
– Desculpa – Sehun pediu. – Não vai largar de mim, vai?
– Quê? Por que eu faria isso? – falou assustado. – Sou eu quem pensa que você vai perceber qual o tipo de cara doido que se meteu e vai me chutar o traseiro qualquer dia desses.
– Não vou fazer isso. Nunca – Sehun disse carinhoso, olhando Baekhyun com afeto.
Baekhyun tirou a bolsa de gelo do olho e se aproximou de Sehun, pegando em sua mão boa e levando à boca para dar um beijinho.
– Eu também não vou, amor. – Sehun abriu um sorriso ao ouvir aquilo. – Confesso que me sinto meio traído por não saber que você não gosta da coisa que eu mais gosto, mas largar de você? Nem em um universo paralelo, pelo amor de Deus – murmurou. – Eu sou maluquinho por você, Sehun, e vou continuar assim durante muitos anos.
Pelo sorrisinho de besta apaixonado de Baekhyun, todos os seus amigos souberam qual cena ocorreu depois e pediram para que o físico evitasse detalhes sórdidos, queriam que o almoço ao menos se assentasse no estômago.
No entanto, uma coisa estava mais clara que a luz: Sehun era o desequilíbrio na Força, o Lado Negro daquele grupo. Afinal, todos ali amavam aquela saga do balacobaco como ninguém e havia sido ela a responsável por aproximar cada um deles um pouco mais.
Junmyeon e Baekhyun não seriam melhores amigos na infância se não fosse Star Wars; nem Jongdae estaria tão próximo deles no início da universidade se não fosse aquela ideia maluca de montarem um R2-D2. Minseok com aquele jeitinho de vou ficar na minha e você na sua, somado ao ódio gratuito a qualquer ser humano com pênis e uma boca cheia de bosta pra falar... Nem em uma galáxia distante seriam amigos se não fosse pela saga. E Jongin? O rapaz nem falava e muito menos gostava de se relacionar com pessoas quando mais novo. Foi graças a um Baekhyun persistente, Star Wars e Princesa Leia que Jongin estava onde estava, sorridente, feliz, vivendo em sociedade e até gostando de certos serumaninhos.
Certo que as pessoas podiam gostar e desgostar do que elas quisessem; estava lá na Constituição que ninguém era obrigado a nada, mas odiar Star Wars assim, sem explicação nenhuma? Tipo...odeio de verdade essa merda com naves e caras segurando varetas brilhantes? Tinha que ter um motivo muito bom.
Um motivo bom o suficiente para que Baekhyun tirasse da cabeça aquela ideia de mostrar ao namorado que o universo de Guerra nas Estrelas era genial. Especialmente com a proximidade do seu aniversário, pois era tradição: largava tudo, absolutamente tudo, e se confinava no sofá ou na cama com um monte de porcariada por perto e fazia maratona de Star Wars. E naquele ano queria passar seu aniversário com Sehun e fazer isso juntos, ter as duas coisas que mais amava no mundo bem ali pertinho, uma na televisão e a outra encolhida no seu abraço. Mas nãããããão, algo tinha que dar errado.
– Parece que esse ano que alguém vai ficar de novo sem camisinha que brilha no escuro – o amigo do cabelinho de miojo zombou.
Baekhyun fungou.
– Não começa a agourar meus sonhos tão cedo, ô Cup Noodles ambulante. Tenho uma caixinha cheia dessas camisinhas escondida no guarda-roupa só no aguardo da esperança. – O físico colocou os óculos escuros de volta, já que as pessoas ao redor estavam encarando demais. – Vou falar com Sehun e ver se amoleço aquele coraçãozinho em direção da Força.
– Fazer biquinho e chorar sempre funciona, pedir de joelhos – sugeriu Junmyeon maroto, com uma sobrancelha erguida. – Uns beijos também.
– Sei não, viu – o moreninho com os cabelos cor de rosa do grupo disse incerto. – Sehun é do tipo duro na queda.
– Segundo a lei da gravidade do nosso querido Newtinho, tudo o que sobe tem que descer, certo? Digamos que eu particularmente prefira que Sehun desça e desça bem duro na minha boca. – Baekhyun bebericou um gole do seu suco, fazendo cara de inocente.
– Meu Deus, seu nojento. Meu Deus. – Jongdae revirou os olhos.
– Ué, mas você não é ateu?
– Gosto de falar o nome dele em vão – brincou. – E você vai penar nessa tarefa, Baekhyun. Ou levar uns tabefes do teu namoradinho dado a Hulk bem no meio da fuça. Talvez as duas coisas, quem sabe.
– Acho perturbadora a sua falta de fé, Kim Jongdae – Baekhyun falou com a voz mais grossa, tentando imitar o mesmo tom do Lorde Vader ao pronunciar frase tão épica.
– Como nosso bom e queridíssimo Mestre Yoda já dizia – Minseok se levantou da mesa, e fitou Baekhyun –, faça ou não faça. Tentativa não há.
– Que a Força esteja com você – Jongin desejou, levantando-se também para voltar à sala de pesquisas.
– Que a Força esteja com você – os outros também desejaram.
– Que a Força esteja mesmo comigo – Baekhyun falou para si próprio a caminho de uma aula, já pensando em seu plano maligno para transformar o namorado em mais um fã da saga.
Porque fazer Oh Sehun ao menos cair de amores um pouquinho que fosse por Guerra nas Estrelas era uma coisa bem difícil, olha se não fosse impossível. No entanto, citando as sábias palavras do venerável Mestre Jedi Qui-Gon Jinn do lindo cabelo longo: seu foco determina a realidade. Do jeitinho resumido na boca do povo, a esperança é a última que morre. E Baekhyun não morreria em paz até conseguir que o namorado assistisse a série inteira consigo em seu aniversário e notasse o quanto aquele universo era perfeito de verdade.
                                                       👽
Uma das coisas que Baekhyun mais admirava em Luke Skywalker era aquela esperança e persistência em acreditar que, embora tenha cedido aos caminhos do lado sombrio, dentro do coração do temido Lorde Darth Vader, Anakin Skywalker e (spoiler!) seu pai, havia sim o lado bom da Força sobrando escondidinho em algum lugar por ali.
Baekhyun se agarrou a essa ideia ao tentar convencer Sehun de tudo quanto é jeito, botando na cabeça que a pedra podia ser dura, mas era aquilo: a água tanto bate até que fura. Uma hora ou outra Oh Sehun ia seguir a lei do Newtinho sobre gravidade e descer – descer com aquele seu traseiro rechonchudo de lindo no sofá e os olhos pregados na televisão para assistir Star Wars.
Enquanto isso, Baekhyun estava em guerra.
– Sabe – o físico comentou no final de uma noite, depois que Sehun tomou um banho e tirou a inhaca de morto do corpo e foi se deitar ao seu lado, logo pedindo manhoso por carinho do seu aprochego, o que terminou rendendo em Baekhyun sentado no traseiro gorducho do namorado lhe fazendo uma massagem. Ou mais beijando as pintinhas das costas desnudas dele –, meu aniversário está chegando.
Sehun gemeu contra o colchão pela massagem gostosa, aquela boquinha de Baekhyun na sua nuca, umas reboladas contra o seu bumbum de um jeito maravilhoso. Já sabendo no que ia dar, Sehun remexeu-se até estar virado de barriga para cima e Baekhyun sentado em seu colo, olhos nos olhos.
– E já pensou no que vai querer de presente? – questionou. – A gente comer fora, dar um passeio ou fazer uma comemoraçãozinha aqui mesmo com seus amigos e depois ter uma comemoração só nossa? – Sehun apertou uma das coxas de Baekhyun, incentivando-o a dar uma reboladinha. – Ou talvez a gente comemorar o dia todo, só nós dois, uh?
– Não vai trabalhar nesse dia?  
– Posso trocar o plantão com alguém.
Baekhyun sorriu satisfeito, inclinando-se sobre o peito de Sehun para iniciar um beijo bem do lento e molhado.
– Que bom – disse com a boca já bem próxima do mais novo. – Porque meu presente envolve algo assim, só eu e você.
– Ah, é? – Sehun prendeu ambas as mãos no traseiro de Baekhyun, apertando-o. – E o que mais?
– Star Wars.
Não deu em outra: Sehun soltou uma risadinha e perguntou se era sério aquilo. Baekhyun mordeu o lábio e aquiesceu, explicando da tradição dos seus aniversários e de alimentar o sonho de assistir sua saga favorita com o seu namorado bem juntinhos. Sehun riu de novo, deu uma bitoca estalada na boca do namorado e inverteu as posições até que estivesse encolhido contra o peito do mais velho.
– Boa noite – decretou, fechando os olhos.
Ao lado, Baekhyun estava duro e sentindo-se derrotado.
Primeira batalha perdida.
                                                      👽
A vida de um Jedi era feita de sacrifícios, Baekhyun sabia bem.
Não que fosse um, que é isso. Talvez quando tinha dez anos e caiu na onda de Junmyeon em querer seguir o caminho do jedismo, tornando-se Padawan com aquela trancinha maravilhosa de rabo, usando túnicas surradas, capas, um cinto e sair andando por aí como se fosse um Jesus Cristo versão galáctico, levando uma lâmina de plasma alimentada por um cristal pra baixo e pra cima.
Sem esquecer de que tentaram aderir a filosofia de vida cheia da simplicidade, o que não durou muito, eram movidos pelo capitalismo em consumir mais e mais coisas da saga preferida; também do estudo constante (algo que combinou até demais com eles), humildade (bem difícil seguir esse princípio quando faziam competições de notas), meditação (eram solitários quando separados, por isso faziam muito disso), compaixão, lealdade, paciência (não quando um diretor conseguia cagar em um filme de super-herói), pensamentos positivos e boa-forma. Esta última eles acharam melhor deixar pra lá, se o cérebro estava em boa-forma, o corpo também.
Mas ele sabia dos sacrifícios e foi com esse pensamento que botou uma roupa, vestiu os tênis e saiu atrás de Sehun para correr naquela manhãzinha nublada, boa para dormir até meio-dia ou ficar na cama namorando.
Sehun riu quando viu o namorado se alongando ao seu lado, não acreditando naquilo.
Quer dizer, Baekhyun tinha um corpo de tirar o fôlego mesmo nerd, o que era culpa daquele quase um ano de academia que Minseok o fez fazer para ter companhia depois que os outros idiotas dos seus amigos a deixaram para trás no meio de um assalto. Baekhyun, ao menos, teria a decência de ficar e morrer com ela por ter preguiça demais em correr ou fazer algo.
Não era do tipo bombadão ou puro músculo; as coxas eram torneadas, umas pernas de matar à distância; nem era barriga de tanquinho trincado pra lavar roupa, tinha lá suas gordurinhas nos quadris para se morder. O bumbum então, Sehun podia confirmar com um selo de aprovação na carne de qualidade – uma vez foderam num motelzinho com um espelho no teto e a visão do traseiro de Baekhyun indo e vindo foi, ó, o melhor jeito de ver a lua crescente.  
A coisa é que Baekhyun estava de matar com aquela calça de moletom que fazia seu traseiro ficar lindo demais e a regata preta bem folgada, deixando à mostra seus mamilos eriçados e um pouco da pele tatuada nas costas – uma Estrela da Morte mediana feita na insanidade da adolescência. Aquilo era de matar. E havia muitos alunos de Baekhyun, coincidentemente, caminhando no parque universitário naquela manhã.
O mais engraçado era que ele estava fazendo tudo aquilo por causa de uma única coisa: Star Wars.
– Sabia que os Jedi são bem disciplinados? – Baekhyun comentou ao flexionar as pernas em uma posição que fez Sehun perder seu foco. – Sempre praticam exercícios pra manter o corpo e a mente em equilíbrio, bem fortes. – Para completar, Baekhyun deu uma olhada no namorado de cima a baixo daquele jeito que fazia quando o encontrava pelado no banheiro. – Igualzinho a você.
Sehun suspirou e Baekhyun sorriu, aproximando-se para deixar um beijinho rápido em sua bochecha, dizendo baixinho o quanto ele era lindo.
Porque convenhamos, Oh Sehun, além de lindo, tinha um corpitcho que tirava umas fatias imensas da sanidade de Baekhyun; um corpitcho daqueles que era fruto da sua alimentação saudável, das corridas matinais que tentava fazer todos os dias quando não estivesse de plantão, a boa-forma que mantinha com afinco e determinação. Acrescidos a isso, havia também o seu poço de paciência praticamente que infinito em ouvir as bobagens que o namorado falava ou fazia, ficando bem zen na maior parte do tempo, e outras mil e uma trocentas coisas que o tornavam um dos melhores homens do mundo – Yoda estava sempre em primeiro lugar, embora não fosse exatamente homem, muito menos humano.
Na boa, Sehun era um Jedi e não sabia.
Começaram a correr. Sehun, como um bom corredor que era e acostumado ao ritmo, saiu na frente. Baekhyun ficou alguns passos para trás, enxotando o namorado com a mão para que se fosse toda vez que ele diminuía a velocidade e corria de costas, olhando para si e o animando a aumentar compasso.
– Vai na frente! – Baekhyun enxotou de novo.
– Por quê?
– Se eu vou morrer fazendo exercício físico, quero morrer olhando pra coisa mais linda que eu já vi nessa minha vida: seus glúteos.
Sehun parou e riu.
– Sempre romântico, Professor Byun.
– Você me deixa assim – respondeu, já próximo de Sehun.
– Eu ou o meu traseiro?
– Meu coração é bandido, gosta dos dois.
Baekhyun aproveitou para dar uma pausa em menos de dez minutos de corrida para beber um gole de água. Sehun, embora parado esperando o namorado, continuou se movimentando.
– Meu Deus – Baekhyun resmungou ao assistir Sehun se esticar, flexionar e dar pulinhos para lá e para cá para não deixar o corpo esfriar. – Então é assim que deve ser.
– O quê?
– O traseiro de um Jedi.
Sehun respirou fundo, preparando-se para o que estava por vir.
– Sempre me perguntei como seria debaixo de toda aquela roupa. Me martirizei – Baekhyun prosseguiu. – Anos de curiosidade até encontrar você, meu próprio Jedi.
O namorado soltou um risinho, ficando pensativo por alguns segundos até fitar Baekhyun e colocá-lo na parede.
– Se não me falha a memória, e você sabe que ela quase nunca falha, Jedi não podem namorar, não é? Muito menos casar. É proibido pela Ordem.
Baekhyun não conseguiu guardar o sorriso imenso que tomou todo o seu rosto.
– Anakin Skywalker não viu problema nisso.
– É, e ele também virou um Sith e não viu problema nenhum nisso – Sehun argumentou, vendo o namorado sorrir como nunca. Era só começar a falar de Star Wars que ele ficava daquele jeito, parecendo uma criança. Dava até uma felicidade no peito de fazer as vontades dele para deixá-lo daquela forma, sorridente e todo animado, com uma careta de quem podia se apaixonar ainda mais. – Mas enfim, não sou Anakin Skywalker.   
– Você com certeza é mais bonito que ele – disse se aproximando do namorado, prendendo o quadril dele em um abraço. Sehun sorriu, balançando a cabeça em uma negativa. – Tem o bumbum mais bonito também. – Riu contra a boca de Sehun em um beijinho estalado. – E o meu coração. Pra sempre.
Sehun nunca pensou que se derreteria tanto como naquele instante, beijando Baekhyun de volta e pouco se importando por estarem no meio do parque com o pessoal caminhando ao redor, vendo os dois namoradinhos cheios de afeto.
– Vou pra casa – Baekhyun decretou entre outro beijo, estando ofegante e com o lábio avermelhadíssimo.
– Não quer mais manter a boa-forma?
– Tem um jeito melhor de fazer isso – devolveu dando uma piscadinha. – E sem roupa.
Sehun mordeu o lábio inferior.
– Uma hora de cama?
– Pode ser uma no chuveiro também.
– Mas você vai aguentar? – Sehun provocou o namorado, este que riu.
– Quer pagar pra ver, bonitinho? Porque sexo com você é o único exercício que eu penso em fazer todo dia.
O médico aquiesceu, dando um último beijo na boca de Baekhyun.
– Quem chegar por último fica de quatro e engole tudo! – falou rapidamente, sorrindo enquanto deixava Baekhyun para trás na corrida.
Bom, Baekhyun podia considerar aquilo um empate, não?
(Menos a parte em que ele engoliu tudo, mas não era como se não tivesse gostado, até repetiu sem problema nenhum.)
                                                       👽
Mestre Yoda, o grandiosíssimo Mestre Yoda, havia explicado a Luke Skywalker em seu caminho de aprendizagem que um Jedi usa a Força para o conhecimento e defesa, mas nunca para o ataque. Baekhyun concordava com esse ensinamento de tamanha importância em grau, número e gênero, já que tinha sido isso a lhe ajudar a sobreviver em muitos momentos difíceis da vida quando precisou lidar com pessoas e havia aquela sua vontade de esganar o pescocinho de algumas – alunos em semana de provas, alunos em véspera de feriado, alunos respirando.
No entanto, naquela batalha em tentar convencer o namorado a assistir consigo Star Wars Baekhyun queria é ter a Força para usá-lo em um ataque de acabar com tudo mesmo, tanto é que foi apelar para uma das coisas que Sehun mais gostava: tragédias românticas.
– Lá vem – Sehun comentou baixinho para Junmyeon, este estirado no sofá ao lado com um pote de pipoca no colo para ver os capítulos finais da novela, assim que viu Baekhyun saindo da toca do seu quarto com uma cara de quem tinha se decepcionado com a humanidade novamente ao corrigir uma prova, jogando-se ao seu lado para ficar bem agarradinho.
– Round três! – o Kim anunciou de boca cheia, recebendo do Byun o dedo do meio.
Baekhyun ficou na sua agarrado a Sehun durante os dois capítulos deveras maçantes dos dramas que seu namorado e Junmyeon assistiam todo o santo dia (Sehun mesmo, em dias de plantões, assistia as novelas no necrotério com a companhia de um morto estirado do outro lado). Ele e Junmyeon, aquele seu amigo do araque, ficaram comentando como duas fofoqueiras ao mesmo tempo em que estavam assistindo, trocando um blá-blá-blá daqui e outro blá-blá-blá da fulaninha que vai morrer de lá.
Mas assim que tudo acabou e o namorado se pôs a falar do quanto amava aquela coisa de tragédia romântica, uma linda história de amor com direito a altos e baixos, intrigas e impedimentos, uma morte aqui e ali e um punhado de invencionismos, Baekhyun viu sua deixa para agir.
– Star Wars também tem isso – disse daquele jeitinho de quem não quer nada, o braço de Sehun em volta dos seus ombros e seu rosto enfiado no sovaco cheiroso do namorado. Junmyeon riu do canto à espera do embate e Sehun suspirou como sempre, inclinando a cabeça para ver seu companheiro soltar as argumentações. – Sério, Hunnia. Tem o amor proibido entre o Anakin e a Padmé cheio de intrigas, altos e baixos, tentativas de assassinato e com um casamento às escondidas! – falou com animação e Sehun se viu sorrindo por conta da forma que o namorado tentava lhe convencer todo bonitinho. – Sem contar que tem coisa mais trágica do que a morte de uma mulher no parto ainda acreditando na bondade do seu único amor que quase deu fim à sua vida?
Sehun aquiesceu e Baekhyun continuou.
– E preciso falar da Princesa Leia e o Han Solo?
– Um casal daqueles, bicho – Junmyeon completou. – O cara foi congelado em carbonita na frente dela!
– Trágico, né? Mas eles são tudo o que você gosta, Hunnia – Baekhyun prosseguiu para o namorado, dessa vez brincando com a ponta dos dedos dele. – São brigões no início, sabe? Com discussõezinhas bobas, com direito a uns apelidos até que fofos – Baekhyun sorriu. – Ela é forte, de espírito livre, uma princesa maravilhosa. Ele não passa de um canalha, mas são perfeitos um para o outro de um jeito surreal naquele cenário de guerra impossível de se nascer um lindo amor. – Como o namorado não disse nada, Baekhyun deu continuidade para finalizar com chaves de ouro. – Se você desse uma chance, veria que o romance que há em Star Wars supera várias histórias por aí.
Menos as do Nicholas Sparks, misericórdia. Aquilo é o cemitério do amor, pensou consigo mesmo, lembrando-se de quando Sehun veio com um pen drive carregado dos filmes dos livros desse cara e Baekhyun só queria morrer lentamente.
– Verdade? – Sehun soltou naquele tom de voz com um toque de divertimento. – Supera todas mesmo?
Baekhyun negou prontamente, dando um sorrisinho maroto e apertou Sehun um tanto mais, dando um beijinho em seu pescoço.
– Só não supera a nossa – disse meloso. – Porque pra superar isso só você e eu, amor.
Junmyeon fez cara de quem ia vomitar e Baekhyun aproveitou-se desse momento para dar um beijo bem do bom em Sehun e tirar um pouco do seu fôlego.
– Adoro quando você banca o romântico brega. É fofo – Sehun admitiu com a boca bem próxima do rosto do namorado. – Mas – afastou-se um pouco para limpar o lábio úmido do Byun com o polegar – e o Titanic?
Que tipo de pergunta era aquela? Como assim “e o Titanic?”. Era alguma pegadinha, não? Um teste? Mas a voz de Sehun estava carinhosa, e quando ele ficava carinhoso assim só coisas boas aconteciam, tinha vívidas lembranças da noite anterior quando ele estava carinhoso e veio para o seu lado com um sorrisinho e... Ai, noite de Baekhyun foi maravilhosa, é tudo o que ele tinha a declarar.
No entanto, o físico deu uma olhada no amigo no sofá ao lado em busca de uma salvação àquela pergunta, mas Junmyeon estava com aquela cara de “Não sei de nada, mas olha lá o que tu vai falar, anta de cérebro”.
– O Titanic? – perguntou. Era uma tática que seus alunos usavam quando não sabiam responder as perguntas orais, repetindo aquilo que foi questionado até a pessoa cansar e dar a resposta.
– É.
– O Titanic do filme?
– Ele mesmo.
– Ah, o Titanic... – deixou a voz morrer. – Aquele que afundou, não?
– Sim.
– Titanic, o seu filme favorito – falou com calma, vendo Sehun sorrir.
– Me conhece bem, Professor Byun. – Tinha sido pego, a tática de perguntar até achar uma resposta não colaria com o namorado. – E é por isso que dizer que o romancezinho trágico de Star Wars supera qualquer história é bem arriscado, principalmente quando Titanic existe.
Junmyeon balançou a cabeça em negativas e Baekhyun jurou ter sido chamado de burro quando o amigo deu uma tossida.
– Não, amorzinho! Não foi isso que eu quis dizer – Baekhyun falou em um tom inocente. – Imagina Star Wars superar Titanic, imagina! Não tem nem comparação, meu Deus. O cara se sacrifica pra salvar sua amada e morre congelado ali do lado dela naquela porta, isso parte o coração de qualquer um.
Junmyeon soltou um risinho, chamando a atenção de Sehun.
– Ué, mas você não disse que uma vez que ele cabia na porcaria daquela porta e que a Rose era uma dan–
Junmyeon nem teve tempo de falar antes de Baekhyun lhe fazer o sinal de cortar uma garganta sem que o namorado visse.
O passado deveria ser esquecido, inclusive o teste que fizeram certa vez para comprovar a Minseok que o Jack cabia na porta sim e que ela aguentaria os dois, e isso por um motivo: Jack era fruto da imaginação da Rose, por isso cabia na porta.
Claro que Minseok usou o argumento de que não dava para ser imaginário quando todo mundo havia visto ele, assim como o personagem tinha sua própria introdução e havia chegado ao navio, tal como não existia a possibilidade de os dois caberem na porcariazinha da porta, ela não aguentaria o peso dos dois. Por isso Jack escolheu salvar a sua amadinha e morrer, pois sabia que a morte era a única coisa que o esperava. Era aquele blá-blá-blá de sempre, mas para Baekhyun a Rose era uma danada de uma louca que havia imaginado isso durante toda a vida.
– Com fome? – Baekhyun perguntou ao namorado depressa, já se colocando de pé para ir em direção da cozinha e mexer nas panelas, antes passando por perto de Junmyeon para lhe dar um tabefe na nuca e puxá-lo para ajudar. – Acha alguma coisa pra gente assistir enquanto faço algo pra comer.
– Que tal Titanic pra matar a saudade? – Sehun soltou do sofá, rindo baixinho para si mesmo.
Junmyeon gargalhou e Baekhyun segurou uma lágrima.
Pelo jeito aquela guerra seria longa.
                                                   👽
Já dizia o grande Mestre Obi-Wan Kenobi: a Força pode ter grande influência nos fracos de mente, mais tipicamente conhecidos como aquelas pessoas em que só chegou na mesa e sorriu a conta dividiu, ou que se compra com um pacote de bala e é bem do simples encantar com uns sussurrinhos ao pé da orelha (geralmente irmãos mais novos quando pequenos, porque depois que cresce até peidar na sua cara a criatura vai, Baekhyun fala isso por experiência própria; já foi o irmão mais novo e sim, ele já fez isso quando seu irmão dormia).
A questão era Oh Sehun. Oh Sehun não era nenhum fraco de mente. Não dava para engabelar o bonitinho com um sorriso, e olha que Baekhyun era dono de um dos sorrisos mais pagadores de contas de bar que se existia. Não se comprava o rapaz com um pacote de nada e chegar nele com uns sussurrinhos ao pé da orelha não funcionava de jeito nenhum. Estava complicado e Baekhyun tinha tentado de tudo.
Fez biquinho umas trocentas vezes. Cara de choro? Tinha perdido as contas. Havia tentado ser fofo. Romântico. Ele até fez maratona de não sabe quantos filmes cheios de tragédias amorosas pra tentar agradar. Se ajoelhar? Não que isso fosse algo que Baekhyun detestasse, sabe. Mas muito pelo contrário, ele adorava puxar o elástico da cueca do namorado para baixo e mandar ver. Chegou a apelar em pedir que Sehun prometesse assistir consigo Star Wars quando pegou uma gripe daquelas de deixá-lo de cama.
Absolutamente nada, repetindo: nada, havia funcionado o bastante para amolecer o coração de pedra que Sehun tinha dentro do peito. Baekhyun desistiu. Não ia dar em nada mesmo todo o seu esforço em tentar mostrar o quão legal era o universo de Star Wars seja no enredo, efeitos especiais, personagens cativantes. Já estava próximo do seu aniversário de qualquer jeito, era preferível passá-lo como sempre passava, dessa vez havendo o acréscimo de um pouquinho de tristeza em não ter o namorado consigo.
– Já levantou bandeirinha branca, meu jovem? – Jongdae provocou Baekhyun na universidade assim que o avistou todo afundando em um mar de desilusão tomando um cafezinho na cantina.  
O físico fez um muxoxo e bebeu seu café, vendo Jongdae e o restante dos amigos se acomodarem na mesa do refeitório para uma pausa no trabalho.
– Não sou o episódio quatro pra acreditar numa nova esperança – respondeu.
– Por quê? – Jongin se meteu na conversa, roubando o café de Jongdae na maior cara dura e sentando-se ao lado do primo. – Há sempre um Obi-Wan Kenobi à espreita pra ser de ajuda a alguém.
– Não acredito mais nisso.
Junmyeon estalou a língua no céu da boca.
– É por isso que você fracassa – o matemático parafraseou o grandiosíssimo Mestre Yoda.
– Porque o futuro em movimento sempre está – Minseok acrescentou com outra frase muito famosa de um dos maiores filósofos daquele tempo, todo esverdeadinho e minúsculo de uma espécie alienígena desconhecida, Mestre Yoda.   
– E por acaso tentou algumas cantadas, seu loser? – o engenheiro da turma indagou. – Porque aposto que se soltasse essa aqui: gato, por sua causa há uma grande perturbação no meu coração, e em outras partes do corpo também, Sehun ia gamar. Tiro e queda, amigo.
– Ou essa: gato, eu não sou o episódio sete, mas você despertou algo em mim – Junmyeon sugeriu.
– Gato, eu não sou a Força, mas quero estar sempre com você – Jongin acresceu.
Minseok limpou a garganta e soltou:
– Gato, se Hansolo salvou a galáxia, imagina o que a gente pode fazer acompanhado? De preferência assistindo juntinhos Star Wars.
Jongdae aplaudiu de pé, mas Baekhyun estava tão mal naquele dia que somente suspirou antes de beber o último gole de café, desmarcar a saideira com os amigos para o dia da comemoração do seu glorioso nascimento e voltar para corrigir uma pilha de trabalhos pegos da internet, já que o futuro do seu aniversário estava predestinado a ser como sempre: ver Star Wars sozinho.
E Sehun tinha percebido que o namorado estava meio tristonho e cabisbaixo pelos cantos. Sabia, inclusive, do motivo. O que o fazia querer rir a todo momento.
– O que você tem, uh? – quis saber. De banho tomado e deitado ao lado de Baekhyun na cama, Sehun se aproximou um pouquinho mais do namorado e o acarinhou na barriga, não gostando de vê-lo daquela forma, todo quieto e murcho – Me conta – pediu.
– É só cansaço – contou, o que era bem verdade. Uma semana de provas acabava com todo mundo.
O carinho de Sehun subiu para o rosto de Baekhyun e foi em direção dos seus cabelos. O mais velho fechou os olhos e suspirou profundo, deixando-se levar pelo carinho.
– E o que mais? – Sehun insistiu.  
– Meu aniversário chegando – disse ainda de olhos fechados. – Mais um ano de velhice, aquilo de sempre.  
– E? – o médico se fez persistente, pois mesmo que não namorassem há anos, conhecia Baekhyun dos pés à cabeça, sabendo que havia mais coisa o deixando tão pra baixo daquele jeito.
– Bom, você sabe o resto. – Já de olhos abertos, o físico mordeu o lábio inferior e fitou o companheiro. – Não vou mais te incomodar sobre o assunto de assistir algo que não gosta.
Sehun assentiu.
– Tá chateado comigo?
– Não – falou sincero, fazendo uma pausa. – Só triste por não conseguir te convencer a gostar de Star Wars, que é a segunda coisa mais importante na minha vida.
– E qual é a primeira?
Uma pausa e então:
– Você – respondeu em um sussurro.
Sehun não era um cara de se emocionar fácil, mesmo assistindo aquela porrada de filmes românticos. Por lidar com pessoas a serem tratadas todos os dias e cenas tenebrosas na residência que fazia no hospital, sem contar os anos à frente que teria como legista, aquela partezinha sentimental que carregava havia ficado mais resistente à fortes emoções, já que precisava do seu raciocínio e seu estado mental, físico e espiritual em plenas faculdades de uso.  
Ele raramente chorava ou se sentia à beira de ficar embasbacado em lacrimejar. Tinha ficado assim na vida poucas vezes, uma delas sendo quando Baekhyun confessou estar apaixonado e agora mais essa em ouvir da sua boca ser a coisa mais importante em sua vida.
Ficou estático durante uns segundos, ruminando o fato de que, porra!, Baekhyun tinha dito que ele era a coisa mais importante na sua vida. Era como dizer um eu te amo e eles já usavam aliança e tudo. Seria esse o caminho para o casamento?
Fosse isso ou não, Sehun assistiu Baekhyun sorrir e secar uma lágrima que bancou a teimosa em escapar do seu olho e escorrer pela bochecha, indo beijar o namorado de modo ardente e apaixonado logo mais, tentando fazer com que ele também sentisse ser o mais importante na sua vida.
– Caramba, Baekhyun – Sehun, sentado nas coxas do namorado, resmungou contra a boca do Byun, terminando um dos tantos beijos que trocaram após aquela frase. – Eu estava tentando guardar segredo até um dia antes do seu aniversário, mas não dá pra fazer surpresa pra você. – Deu mais um beijo na boca de Baekhyun, este que não se fez de rogado ao puxar o queixo do namorado para baixo para mais um carinho. – Já tinha decidido isso faz tempo – falou ofegante. – Vou assistir Star Wars contigo, ok?
Baekhyun quem ficou estático dessa vez.
– Você vai assistir? – soltou baixinho, praticamente em choque.
– Sim.
Ele deixou a boca abrir no formato ovalado em completo espanto.
– Por quê?
– Porque você também é a coisa mais importante na minha vida, bobinho – Sehun explicou gentil. – Gosto de te fazer feliz.
Não deu em outra: Baekhyun o apertou em um abraço de urso e riu contra o peito de Sehun como um garotinho.
Aquilo de fazer Baekhyun feliz fazia Sehun feliz. Demais.
Sehun estava deitado no braço de Baekhyun, ganhando um cafuné muito gostoso na cabeça. Podia dormir naquele exato momento, ainda mais depois que a felicidade de Baekhyun naquele abraço se tornou uns beijos, que levou a Sehun, sem querer, rebolar no colo do namorado, que o fez tirar sua camisa e chupar seu mamilo, fazendo a cama ranger em seguida de tanto tesão e os dois sem um fiapo de roupa no corpo. Deu no que deu.
Depois de um momento de amor daqueles o Oh encontrava-se cansado por um bom motivo. Mas o físico se achava acordado ao seu lado lhe fazendo um carinho delicioso e às vezes também gostava de conversar após o sexo.
Daquela vez ele tinha questionado o porquê de Sehun detestar Star Wars.
– Gostei de um garoto quando estava na escola – falou meio sonolento, os dedos do namorado indo e vindo em seus cabelos. – Era praticamente meu melhor amigo. Adorável, um amor de pessoa todo tímido e inteligente de um jeito que nem dava pra explicar. – Tinha um sorrisinho bobo na boca ao contar aquilo a Baekhyun. – E adivinha? Ele era apaixonado por Guerra na Estrelas. Só sabia falar disso e Princesa Leia daqui, Princesa Leia de lá, não sei o que da Força Jedi, Darth Vader não sei isso, Mestre Yoda melhor alienígena do mundo. – Baekhyun riu ao ouvir essa parte. – Isso me deixava com muito ciúmes na época, mas por causa dele eu assisti a todos os episódios da saga, e ainda assim ele não reparava em mim do jeito que eu queria.
– Que garoto lerdo em não reparar em você, que era a coisinha mais linda do mundo na escola – Baekhyun soltou e Sehun gargalhou.
– Você diz isso porque não me viu quando mais jovem.
– Sua irmã me mandou muitas fotos de você uns tempos atrás. – O Byun sorriu arteiro. – Sei como você era na escola. Inclusive de quando era pequeninho e não gostava de ficar de roupa. Se bem que, mesmo depois de grande, você ainda não gosta muito.
– Por sua causa! – respondeu ofendido.
Baekhyun riu e deixou na boca dele um beijo estalado
– E então?
– Então que ele não reparava em mim do jeito que eu reparava nele, éramos apenas amigos. Tudo piorou no ensino médio no dia em que estava pronto pra confessar e ele anunciou que iria pra universidade tão cedo. – Sehun se remexeu no cama. – Fiquei de coração partido e bem puto por um tempo. Detestar Star War foi apenas a cereja do bolo. Fim.
Sehun bocejou e esperou que o namorado falasse algo.
– Não sei se xingo ou agradeço a esse garoto por não deixar o coraçãozinho cair por uma das pessoas mais incríveis desse universo – disse, vendo Sehun sorrir bonitinho para si.
– Você conhece esse garoto.
Baekhyun aquiesceu.
– Pior que conheço muito bem. Apaixonado pela Princesa Leia, não?
– Completamente. Mas tirando esse defeito, é uma gracinha de pessoa, o menino. E depois ele me apresentou ao primo gatinho que acabou desgraçando meu coração de vez. – Sehun se aconchegou um pouco mais contra Baekhyun, entrelaçando uma das mãos nos dedos do namorado debaixo da coberta. – Sinceramente, isso de me apaixonar por pessoas inteligentes é minha maldição.
– São os genes da nossa família. Um gênio por espermatozoide – Baekhyun acarinhou as costas das mãos entrelaçadas deles com o polegar. – Embora eu seja o mais bonito.
Sehun riu soprado.
– E todinho meu.
Baekhyun meio que suspirou meio que se derreteu ali mesmo, buscando a boca do namorado para um beijo vagaroso, chupando com prazer a língua de Sehun e mordiscando ao final o lábio dele em uma delicadeza imensa.
– Me lembre de dar um bom presente de Natal a Jongin – falou contra a boca dele, dando um último beijo.
Sehun concordou preguiçoso, rindo baixinho.
– Jongdae embrulhado no papel celofane e com um lacinho na cabeça parece uma boa.
– Acho que vai causar mais impacto se Jongdae estiver pelado e com um “eu te amo, sua praga” tatuado na testa.
– Se trocasse de nome pra Princesa Leia, dava casamento.
– Vou dizer isso ao Jongdae.
– Quero ser o padrinho.  
Antes de apagar, o Byun apertou o quadril do namorado e beijou sua testa com lentidão, olhando com carinho para o rapaz adormecido em seus braços de um jeito tão bonito e vulnerável, estando entregue na proteção do calor do seu corpo. O coração do físico palpitou em uma felicidade gostosa por Sehun estar ali e também ser todinho seu.
                                                        👽
Conde Dooku (sim, Conde Dooku mesmo, sem piadinhas), mais conhecido no Lado Negro da Força como Darth Tyranus, um dos vilões favoritos de Minseok em Star Wars, profetizara no episódio III, A Vingança dos Sith, para Anakin Skywalker antes de um embate que daria fim a sua vida: quanto maior o ego, maior a queda.
Foi uma frase marcante à trajetória de Anakin por lhe descrever tão bem; era o Jedi incrível, com habilidades imensas, confiante e obstinado no qual todos apostavam ser o Escolhido da profecia para trazer o equilíbrio à Força e para toda a República Galáctica. Mas então, nessa luta com Conde Dooku onde o matou com suas próprias mãos (com os sabres de luz, na verdade), sua queda ao Lado Negro se iniciou.
Bom, disso Sehun entendia bem, de quedas.
Depois de ter se apaixonado pelo seu melhor amigo, o astrofísico brilhante do Kim Jongin e sofrido uma desilusão amorosa na calada do silêncio igualzinho a todos os jovens na adolescência, Sehun havia prometido de pés juntos que nunca mais se daria o trabalho de correr atrás ou se interessar pelas coisas que seus parceiros gostavam – especialmente se isso envolvesse Star Wars.
Isso não deu certo por muito tempo; logo se viu encantado por um cara que via vez ou outra na universidade todo descabelado, o par de óculos escorrendo na ponta do nariz, a cara nos livros e um sorriso de tirar o fôlego de qualquer criatura viva. Descobriu em seguida que era um tal de Professor Byun Baekhyun do Departamento de Física. Surpresa foi descobrir que esse cara era o tal primo de Jongin – continuaram sendo amigos e viviam se falando vez ou outra – que ele mencionava tantas vezes para Sehun sair em algum momento.
Física nem era uma de suas matérias favoritas, mas por causa de Baekhyun leu tudo o que podia, inclusive os seus trabalhos (noites tentando compreender o lance do gato que estava vivo e morto ao mesmo tempo). Passou a se interessar por coisas que Baekhyun se interessava, as menores e as mais bobas nos olhos de outras pessoas mas que eram as mais importantes para o físico. Até isso envolver Star Wars.
Veja bem, a primeira paixão sempre deixa uma pequena cicatriz que sempre faz a gente se lembrar daquela pessoa – seja com boas lembranças ou ruins, a grande maioria sendo ruins. A cicatriz de Sehun era Star Wars, pois Jongin era apaixonado por isso (por causa de Baekhyun ainda, olha só) e só sabia falar da saga naquela época.
De acréscimo, lá estava Byun Baekhyun acontecendo em seu coração, vindo de malinha e tudo com suas esquisitices, sonhos, paixões e seu jeitinho único de ser.
E tinha que ter um jeitinho único de ser bem fã lixoso de Guerra das Estrelas com direito a tudo que se tem no pacote: os pijamas, livros, quadrinhos; aquela cuequinha ridícula que fez Sehun rir uma noite toda sozinho depois de transar com Baekhyun e este dormir como um anjinho ao lado (primeiro que nem sabia como não broxou ao ver o namorado usando aquilo tamanha a vontade de rir) “a nave aqui guardada pode te levar a uma galáxia muito, muito distante”; os brinquedos; meu Deus, os Sabres de Luz! Uma vez Baekhyun e Junmyeon fingiram uma lutinha na sala com eles, uma barulheira que só; e aquela vez em que foram todos eles para uma convenção de Guerra nas Estrelas vestidos de Jedi durante um fim de semana inteiro?
Baekhyun, Jongdae e Junmyeon participaram de uma competição de robótica onde construíram um R2-D2 legítimo, depois mais uma quinquilharia de dróides e naves a cada vez que iam competir, planejando montar um C-3PO no para o próximo ano. Junmyeon tinha um Chewbacca, aquela criatura imensa e peluda, em tamanho real no canto da sala! Imagina que loucura tu levantar beber água à noite no escuro e ver aquele troço? Morrer de susto pra quê.
Sehun podia continuar enchendo uma lista com um milhão de coisas que ainda teria mais um milhão para falar sobre tamanho o amor do namorado por aqueles filmes. Era algo que não vinha desse mundo, sinceramente. Mas tinha que aceitar, ué. Não havia aquela frase, “o importante é a saúde”? Ela resumia tudo muito bem.
Além do mais, Baekhyun era, apesar desses apesares de fã, um amor de pessoa, provavelmente o melhor namorado mundo, porque havia assistido a todos os filmes das histórias do Nicholas Sparks, vira Titanic com Sehun umas trocentas vezes (e ele chorou, que fique anotado), mais sabe-se lá quantos filmes de tragédia romântica que se existia. Assistia as novelas que Sehun gostava só para contar a ele o que tinha acontecido quando este não podia acompanhar. Comprou de presente de aniversário para a irmãzinha mais nova de Sehun um ingresso para o show, e nota: no melhor lugar para assistir, de um grupo masculino de um tal de écso que a garota era fã.
Era dono dos melhores beijos, dos melhores carinhos, dos melhores abraços para acolher Sehun depois de um plantão de 48h no hospital sem perder a paciência, das piores piadinhas do mundo depois de Junmyeon mas que lhe faziam rir nos momentos mais ruins. Baekhyun sabia fazer um amor lento de ladinho e encher Sehun de tanto amor daquele seu jeito de ser acompanhado de sorrisos, sua voz baixa contra o pescoço, sua presença sempre ali para quando Sehun apenas quisesse se jogar.
Isso só no início de uma listinha que Sehun podia encher de mais de um milhão de coisas por ter um namorado que era um anjo.
E tudo o que Baekhyun queria naquele aniversário era assistir a porcaria de Star Wars coladinho ao seu corpo. Nem pedindo muito estava. Por que não dar uma chance, não? Morrer por fazer aquilo não iria. Talvez de tédio ou sono, quem sabe, mas não custava e era o aniversário do seu namorado, queria fazê-lo feliz o máximo que podia.
Então, depois da comemoraçãozinha que fizeram no apartamento de Junmyeon e Baekhyun, tendo um bolo de floresta negra em formato de uma Estrela da Morte que Minseok fez no maior carinho com todos os detalhes existentes (dava até dó de comer), uma garrafa de um bom vinho que Jongdae levou, pois se tinha algo que ele entendia mais do que Engenharia Nuclear, camisas listradas e olhar Jongin quando ele não estava olhando, era sobre vinhos deliciosos; cantaram parabéns para Baekhyun duas vezes, uma na língua klingon por insistência de Minseok, deram presentes e se ajeitaram na sala para assistir a todos os episódios de Guerra nas Estrelas.
O erro já começou aí, porque Sehun tinha entendido que assistiriam só os dois sozinhos.
– Tá, mais em que ordem a gente vai assistir?
Sehun queria esganar o pescoço de Jongdae por perguntar isso, mas respirou fundo e os viu discutir por quase meia hora sobre a ordem dos episódios numa falação do caramba que deixou sua cabeça à beira de uma boa confusão.
– Pode ser pela ordem cronológica, ué, a mais certinha.
– Mas o quê?! Ficou maluco, é? Se for assim a gente vai estragar o spoiler mais impactante da saga.
– Que o Darth Vader é o pai do Luke a gente sabe disso há anos, então deixa de frescura.
– Tô falando da Leia ser irmã do Luke.
– Ah, pelo amor, você só não quer esperar pra ver a Leia porque os episódios que ela aparece vão ficar pro fim na ordem cronológica.
– Eu fico chocado toda vez que ouço “Luke, eu sou seu pai”, dá até arrepios, por isso sugiro a gente assistir a todos os episódios alternando.
– O episódio um, Ameaça Fantasma, é o pior filme. Pelo amor, vamos passar pelo martírio de assistir?
– Muito exagero da sua parte não querer ver Ameaça Fantasma, qual é o seu problema com ele?
– É o pior episódio da saga, esse é o problema. De uma inutilidade que não cabe nesse mundo.
– Anakin construiu o C-3PO nesse filme, o R2-D2 salvou a nave da Rainha Amidala e você tá me dizendo que isso é inútil?
– Se não concorda com isso o problema é todinho teu.
– E que tal a gente pode assistir por lançamento? Seria como nos velhos tempos.
– Ei, pessoal, e o episódio sete, O Despertar da Força, como que fica nessa história?
Sehun não aguentou isso por muito mais.
– Baekhyun – chamou o namorado, este que estava comendo seu quarto pedaço de bolo na maior da alegria ao seu lado, lhe dando garfadas vez ou outra. – Qual é a ordem que você quer ver?
Baekhyun tirou os olhos do seu pratinho e deu de ombros ao namorado.
– Do jeito que você quiser tá bom pra mim, amor.
O médico aquiesceu entre uma garfada de bolo que recebeu e Baekhyun foi com o dedo para limpar o canto da boca alheia, levando o dedo sujo do doce para que Sehun chupasse na maior naturalidade possível, no meio de todo mundo (Jongdae não perdeu a chance de chamar eles de “casal meloso do caramba”).
– Nerds, liguem esses filmes.
Ou seja, assistiriam na ordem Ernest. Mas Sehun queria mesmo escolher a ordem Machete, que era aquela em que se eliminava por completo o tal episódio I, A Ameaça Fantasma. E não porque achava o filme meio inútil mesmo, mas porque seria um a menos para assistir e um a menos para ouvi-los discutir sobre. No entanto, queria que Baekhyun desfrutasse da tradição do seu aniversário por completo e se isto era o sacrifício de ver até o episódio I, que fosse.
A ordem do Ernest consistia em ver Uma Nova Esperança (IV), O Império Contra-ataca (V), depois sendo A Ameaça Fantasma (I), Ataque dos Clones (II) e A Vingança dos Sith (III), podendo assim dar uma olhada no passado de certos personagens importantes, ficando para o final O Retorno do Jedi (VI). Daí tinha também o filme que saíra fazia pouco tempo, O Despertar da Força (VII) que a boca grande de certa pessoa teve o favor de lembrar. Ver todos esses filmes de uma vez só totalizavam mais de dezesseis horas. Dezesseis horas no sofá assistindo Star Wars. Fucking dezesseis horas.
– Não baba no meu ombro, dorminhoco – Sehun sussurrou contra o cabelo de Baekhyun dado o seu histórico de sempre dormir no meio dos filmes ou novelas que assistiam juntos. O namorado riu contra o seu pescoço e deixou no local um beijinho úmido antes de se aconchegar com a cabeça no ombro do mais alto.
E assim começaram a assistir.
No início, confessando mesmo, Sehun deu umas pescadas pelo cansaço do último plantão que fizera e estava questionando o que diabos existia na sua cabeça para concordar com uma ideia insana como aquela de assistir a todos os filmes numa batida só. Tinha muita caraminhola desviada, com certeza. Mas em determinada parte do Império Contra-Ataca, especificamente no finalzinho, onde Luke leva uma sova das bravas do Darth Vader, os Rebeldes são obrigados a fugir e Han Solo, o cretininho da história dado a herói, é capturado e prestes a ser transformado em um bloco de cabornita, Sehun ficou com os ânimos em pé.
Quando assistiu na adolescência só o havia feito para decorar nomes, coisas, fatos e acontecimentos importantes para impressionar a sua paixonite da época. Não pegou a essência da história, não aproveitou nada e nem se divertiu, ficando com nenhuma experiência boa para se lembrar.
Anos depois, ali naquela salinha escura e silenciosa, com Baekhyun ao seu lado, os olhos brilhosos e cheios de uma alegria como se fosse um garotinho de novo, a respiração pesada nas partes de luta e o coração na boca nos momentos de tensão, Sehun conseguiu entender através do namorado que, cena a cena, filme a filme, Guerra nas Estrelas era muito mais além dos efeitos especiais, robôs e viagens pelo espaço; tinha amizade, família, luta, redenção e esperança, assim como muito amor.
Especialmente amor, aquilo que explicava e enchia o coração bobo de Sehun ao admirar o namorado a cada segundo do filme, guardando suas reações, seus risos, os xingamentos, os comentários em seu ouvido sobre determinada coisa.
Foi apenas no O Retorno do Jedi que esse amor se tornou palavras.
Jongdae e Jongin se encontravam dormindo no colchonete no chão bem coladinhos no início da madrugada, enquanto Junmyeon roncava com o traseiro de Minseok na sua cara no outro sofá, bem na cena em que depois de ver Palpatine, este sendo o outro vilão importantíssimo da saga, o Lorde Negro dos Sith, Darth Sidious, torturar Luke Skywalker quase até à morte, Darth Vader finalmente abandona o Lado Negro da Força e destrói o Imperador para salvar seu filho e cumprir a profecia de que ele sempre fora o Escolhido para trazer o equilíbrio à Força.
À beira da morte, após mostrar seu rosto a Luke, Darth Vader deu seu último suspiro de vida e se foi, deixando um Baekhyun fungoso para trás.
– Vem cá, vem – Sehun chamou de braços abertos, recebendo o namoradinho de olhos lacrimosos que enfiou o rosto na sua camisa.
Sehun deu um jeito de puxar os dois até estarem deitados no sofá, bem juntos um do outro.
– Um cisco no meu olho – Baekhyun resmungou ao receber afagos na cabeça.
– Com direito a ranho saindo do nariz, normal – o namorado acresceu e Baekhyun riu em seu peito, dando outra fungada.
Ficaram desse jeitinho deitados e abraçados no sofá até o final feliz do filme, ficando a tela da televisão toda preta à espera de colocar O Despertar da Força para rodar. Era tarde, no entanto, e todo mundo já estava no nono círculo do sonhos ali na sala escura, por isso Baekhyun nem se deu o trabalho de sair do conforto bom em que estava; manteve-se dentro do abraço de Sehun, o rosto desta vez enfiado na curvatura do pescoço dele enquanto ganhava afagos nas costas, a mão restante do mais alto se encontrando entrelaçada com a sua.
Com a trilha sonora dos roncos de Junmyeon atrás e a respiração dos dois tão próximas naquele abraço, Baekhyun quem disse primeiro as três palavrinhas nunca faladas a Sehun.
– Eu te amo.
A respiração de Sehun sumiu e o seu coração falhou uma batida. Apertou a mão de Baekhyun entrelaçada à sua com mais força, levando-a à boca para deixar sobre o anel de compromisso do namorado um beijo casto. Sehun, contudo, como último presente a Baekhyun naquela noite, pigarreou e respondeu:
– Eu sei.
Aquilo fez o Byun sorrir. Era a resposta à clássica declaração de amor que Leia havia feito a Han Solo segundos antes de ele ser arrastado e congelado em carbonita na sua frente.
– Vou acabar te amando ainda mais se começar a citar Star Wars assim.
– É a intenção.
– E por acaso essa intenção envolve colocar o nome da nossa filha de Leia pra ela ser a princesinha do papai?
O físico apostava que Sehun tinha revirado os olhos.
– Não abusa.
Baekhyun riu baixinho no escuro, logo indo beijar a linha afiada da mandíbula de Sehun.
– E não sei se você sabe – Sehun continuou, falando rouco –, mas eu também te amo – confessou. – Muito, muito mesmo.
O físico fechou os olhos e saboreou o som daquelas palavras, suspirando feliz por ser recíproco. Um lado seu, aquele tomado pela ciência, sabia que o amor não passava de uma reação química que não durava muito tempo, assim como aquele seu outro lado, aquele em que o coração falava mais alto, sabia que tudo aquilo era verdade, e que a verdade era muito linda e tinha cheiro de lar, um e oitenta e três de altura e a boca mais gostosa do mundo, com um leve gostinho de bolo de floresta negra; Sehun por inteiro era o bastante para fazer Baekhyun se apaixonar na manhã seguinte e na outra seguinte a essa e em todas as outras que vivessem juntos.
– Eu sei – respondeu.
E sua boca buscou a de Sehun, fazendo com que aquele beijo e todos os outros que vieram dessem início a uma vida com muitos anos lado a lado, havendo altos e baixos, brigas e conciliações e um montão de maratonas de Star Wars para fazer em companhia. Era o para sempre deles de um jeitinho único e cheio de amor.
Na cama, depois de cobrir os dorminhocos na sala, trancar as portas e comer um último pedaço de bolo na cozinha.
– Que tal Padmé? – Baekhyun sugeriu.
Sehun bufou, virando-se para o namorado.
– Nem começa.
– Mas pensa só! – insistiu. – Já que você não quis o nome de uma princesa, pode ser de uma rainha.
– Rainha só a Seulgi do Red Velvet.
– Vai colocar o nome da nossa filha com o nome de uma idol?
– Você queria colocar com o nome de personagens.
– Personagens incríveis, admita.
O Oh se limitou a suspirar.
– Assim não dá, amor.
– Minha filha não vai ter o nome de gente esquisita.
– É tão b–
– Não.
– Mas é t–
– Jamais.
– Alguém tem que ceder.
– Essa pessoa não sou eu.
Baekhyun fez bico e Sehun levou um dedinho até lá para brincar com a carne macia que havia parado de beijar não fazia muito tempo – na cozinha, quando estavam dividindo um pedaço de bolo e Baekhyun lhe olhou sentado na bancada e Sehun olhou de volta, então o físico se meteu no meio das suas pernas, se colocou na ponta dos pés e o beijou lentamente, saboreando sua língua com gosto de chocolate e pedacinhos de cereja.
– Vamos decidir no pedra, papel e tesoura.
Sehun fez careta, mas caiu nas vontades do namorado. Baekhyun cantou a musiquinha da brincadeira em sua voz desafinada e então jogou tesoura. Sehun foi de pedra. Baekhyun chiou, soltando um palavrão.
– Acho que ganhei.
– Melhor de três! – Baekhyun pediu.
O namorado negou.
– E se eu disser que tenho uma ideia melhor de uso para essa sua mão bonita, hein? – perguntou provocante, vendo Baekhyun sorrir com aquilo e se aproximar um pouco mais do seu corpo, prendendo sua cintura com os dedos.
– Isso envolve a sua boca?
– Dentro da sua calça?
– E em qualquer parte do meu corpo.  
– Com certeza.
Baekhyun mordeu o lábio inferior.
– Acho que você está tentando me distrair, sabia?
– Ou tentando te dar outro presente de aniversário.
– Ainda acho que está me distraindo de escolher o nome da nossa filha.
– E eu consegui?
O físico sorriu, enfiando sua mão para dentro da calça de moletom de Sehun.
– Demais.
– Pode ao menos ser a Yerim? – perguntou no meio de um beijo em um lugar que fez Sehun resmungar pela ausência da sua boca, referindo-se a integrante mais nova do grupo de garotas que seu namorado gostava. – É um nome bonito e adorável.
– Ela vai ser fã de Star War igual ao pai? – quis saber, a voz quase sem fôlego, embora quisesse mesmo que a boca de Baekhyun voltasse onde estava.
– De carteirinha.
– Então eu escolho o nome.
Baekhyun pensou um segundo e Sehun o acordou com um gemidinho manhoso, fazendo com que ele sorrisse.
– Justo.
– Aliás – Sehun falou para Baekhyun, estando com a boca bem ocupada no pescoço dele –, ela vai se chamar Yerim.
O namorado riu, deixando um beijinho estalado contra a sua boca.
– Você tem bom gosto.
– Só gosto da pessoa certa mesmo.  
– Eu também.
👽
Sehun achou a caixinha peculiar de preservativos no guarda-roupa do namorado quando saiu do banho e foi atrás de uma camisa para vestir. Estava lá, escondido como os adolescentes escondem coisas dos pais bem debaixo de um amontoado de cobertores, lençóis e um colchonete dobrável como se ninguém nunca fosse encontrar alguma vez na vida. Riu sozinho, imaginando a cena do mais velho escondendo aquilo bem ali.
– Byun Baekhyun! – chamou.
– Quê! – respondeu da cozinha, provavelmente terminando de fazer a gororoba do jantar que terminaria em Sehun pedindo pizza.
– Vem cá!
– Seja o que for, não fui eu! – falou. – Não fiz nada, eu juro! Foi o Junmyeon.
– O Junmyeon hyung tá na China na casa dos pais da Yixiao faz dois meses.
– Mas eu moro com a bagunça dele há anos, sei do que tô falando.
Sehun escutou o barulho dos chinelinhos do namorando estalando no chão a caminho do quarto como se fosse um velho, e Baekhyun logo estava ali na porta, sem camisa, despenteado e usando uma samba-canção cheia de naves no cenário azul-escuro-quase-preto de um universo; era uma visão bonita a Sehun, numa mistura de adorável e sexy, especialmente com aquela Estrela da Morte tatuada nas costas.
– O que significa isso? – perguntou inocente, mostrando a caixinha de preservativos peculiar e diferente do que costumavam usar sempre.
A cara do namorado foi impagável: ele arregalou os olhos, abriu a boca em choque, depois baixou os olhos para o chão e mordeu o lábio inferior, coçando a nuca numa óbvia vergonha. Encarou Sehun sorrindo tímido, dando de ombros.  
– Bom, dizem que deixa o sexo mais...legal, sabe?
– Ah, é?
– E...brilhoso também – falou encabulado.
– É como ter o sabre de luz pessoal.
Baekhyun não conseguiu esconder o sorrisão que tomou sua boca.
– Tipo isso.
– Por que não me mostrou antes?
– Pensei que fosse achar esquisito.
– Mais esquisito que o Chewbacca do Junmyeon na sala?
– Você considera esquisito usar essa camisinha ao som da Marcha Imperial do Darth Vader? – o namorado falou num fiapo de voz.
– Esquisito à beça – Sehun admitiu.
– Por isso não falei.
Sehun ficou em silêncio e olhou para a caixa.
– É um crime não usar – observou baixinho, mais para si mesmo.
– Pensei em dar tudo ao Junmyeon quando ele voltar com a Yixiao de viagem.
– Por quê?
Baekhyun encarou o namorado confuso.
– Porque a gente não vai usar?
– Quem disse isso?
O físico arqueou a sobrancelha.
– A gente vai?
Sehun sorriu.
– Quer estudar eletrostática comigo, Professor Byun? – soltou nada inocente, se aproximando de Baekhyun não usando mais nada do que a toalha pendurada na cintura. – Eu te induzo o contato e a gente atrita, uh?
Baekhyun quase virou batatinha ali mesmo; Oh Sehun, o amor da sua vida, usando uma cantada de física e lhe chamando para usar a camisinha neon que brilhava no escuro? Era o paraíso, sem sombra de dúvidas.
– Meu Deus, vou desligar a lasanha. E eu te amo muito, muito mesmo – declarou feliz, dando um beijo bastante estralado na boca de Sehun para correr em direção da cozinha o mais depressa possível.
O risinho de Baekhyun encheu o quarto escuro, logo em seguida vindo a gargalhada de Sehun pela luz esverdeada que brilhou intensa. O produto fazia mesmo jus à promessa que vinha na embalagem junto das instruções de uso para que funcionasse corretamente.
– Meu Deus, meu Deus.
– Pelo Yoda.
– Dá uma balançadinha.
Baekhyun mexeu os quadris e Sehun riu, sabendo que aquele era, graças ao bom senhor!, o fim dos dias de ver o namorado usar a cuequinha de matar os outros de rir no meio da noite.
– E pra finalizar... – Sehun caçou o celular no escuro da cama, mexendo nele até encontrar o que queria. – A Marcha Imperial.
Ao ligar o som, ele e Baekhyun se acabaram de rir, este último fazendo uma dancinha no escuro para o namorado, balançando os quadris e mexendo o traseiro. Sehun mexeu no celular de novo e pediu para Baekhyun esperar um minuto, então encontrou os sons de um sabre de luz e ligou. Não deu em outra: Baekhyun botou o treco para remexer e Sehun quase se engasgou com o próprio cuspe; dois idiotas mesmo.
– Isso foi esquisito demais – o mais velho admitiu mais tarde, com a luz fraca do abajur acesa para que pudesse olhar o rosto do namorado e saber onde tocar, aproximando-se assim dele para beijar sua boca.
– Sem Marcha Imperial a partir de agora – respondeu rouco, puxando o quadril de Baekhyun contra o seu.
– Por favor.
– Só a camisinha. – Deu uma olhada no brilho leve que o preservativo ainda emitia pelo quarto estar nem tão iluminado nem tão escuro.
– Só ela... – a voz de Baekhyun morreu em outro beijo que terminou rápido, pois Sehun foi se deitar na cama, chamando o namorado com o dedo e um sorrisinho sujo na boca.
– E agora, Baekhyun, que tal você vir conhecer o lado negro do meu cobertor e me levar pra uma galáxia muito, muito distante?
Sehun não só veria a lua como um céu lotado de estrelas naquela noite.
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#6 My candy boy
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Título: My candy boy Número do plot: #76 Sinopse: Dentre todos os sabores de bala, Kyungsoo concluiu que Baekhyun era o seu sabor favorito. Couple: BaekSoo
− Ele tem... – uma voz rouca foi ouvida ao seu lado, levando Kyungsoo a desviar os olhos do celular para encarar o amigo de cabelo ondulado e olhos grandes à sua esquerda. – ...exatos 30 segundos para estar na sala antes de o sinal tocar.
− Ele está tão ferrado. – a declaração seguida de um riso do rapaz de sorriso felino, que se sentava logo atrás do mais alto deles, levou os três a rirem. Com o corpo inclinado sobre as costas do colega, Jongdae observava a movimentação dos ponteiros no relógio alheio para acompanhar a contagem regressiva. – E agora ele tem exatos 20, 19, 18... Será que ele vai passar o próprio recorde?
− Qual a graça de não viver perigosamente, afinal? – Chanyeol se limitou a sorrir, lembrando-se das palavras do seu amigo.
− Não levar detenção? – Kyungsoo devolveu com outra pergunta, ajeitando os óculos sobre o nariz e guardando o celular no bolso do uniforme ao avistar o professor adentrar na sala de aula com seu cumprimento habitual. – Onde está aquele idiota?
− Será que ele não vem? – Jongdae franziu os lábios, demonstrando indícios de preocupação bem como Kyungsoo. Afinal eles possuíam um teste nas primeiras aulas e que, com toda a certeza, seria de grande relevância no final das notas daquele semestre. – 7, 6, 5... – retornou com a contagem em sussurros, intercalando seu olhar no relógio de Chanyeol e na direção da porta. Foi quando, então, uma figura conhecida entrou como um furacão na sala, fazendo Jongdae sorrir de imediato.
− Saaaafe! – Chanyeol e Jongdae exclamaram junto ao rapaz com os braços ao alto em comemoração pouco antes de o sinal soar pelo colégio todo. Os demais alunos riram da cena, inclusive Kyungsoo.
− Vá para o seu lugar antes que eu mesmo o obrigue, Byun. – professor Han interrompeu a comemoração coletiva, os olhos semicerrados na direção do aluno que se encontrava tentando recuperar o fôlego após a corrida. – E vocês, Park e Kim, se aquietem ou farão o teste com desvantagem de meia hora. – ameaçou, obrigando os dois a imediatamente se sentarem em seus lugares de ombros encolhidos.
− Essa foi por pouco. – Baekhyun deixou o corpo cair na carteira frente a de Kyungsoo, o braço esquerdo e costumeiro ocupando o espaço da mesa do melhor amigo. Mostrou o polegar para os outros dois amigos que retribuíram o aceno discretamente, receosos de terem a atenção chamada pelo professor outra vez, fazendo-o rir baixo. – ‘Dia, bonitão. – então se virou para Kyungsoo que apenas revirou os olhos, reprimindo um sorriso e retirando seu material da mochila. – Não vai me perguntar por que me atrasei?
− Não me interessa quem você estava pegando logo pela manhã, Baekhyun.
Porque, recentemente, isso vinha sendo um dos motivos dos atrasos do rapaz – afinal aquelas marcas roxeadas alojadas em seu pescoço não surgiriam ali do nada, obviamente. E qualquer coisa que envolvesse pensar ou imaginar Baekhyun aos amassos com alguém, definitivamente, não estava nos interesses de Kyungsoo. Não mesmo.
− Mas esse beijo, sério, você não vai ac-...
− Para estar tão despreocupado assim, chegando atrasado na aula, você provavelmente deve estar muito bem na minha matéria, não Byun? – foi interrompido pelo professor Han que parou com a lista de presença para chamar sua atenção. Baekhyun fechou os olhos de mansinho, lentamente virando o corpo para frente e exibindo um sorriso maroto.
− O sinal tocou depois de eu estar na sala de aula, então, tecnicamente eu não cheguei atrasado, professor.
− Você está tão ferrado, Baek. – Jongdae assobiou baixinho ao testemunhar a expressão que se apoderou do rosto do professor.
O que seu melhor amigo tinha na cabeça? Bem, isso era uma coisa que Kyungsoo honestamente não sabia.
Ele sequer ao menos sabia por que o tinha como amigo já que era bem visível a diferença de ambas as personalidades; eram o oposto um do outro como muitos no colégio apontavam. Mas isso era algo que Baekhyun se mostrava sempre discordar. Para ele, eles eram perfeitos um para o outro exatamente por serem diferentes, pois nas suas palavras sábias – ou retirada de alguma fala de um personagem qualquer de filme – “Não se completa um quebra-cabeça com peças iguais”.
− Eu vou ficar de detenção depois das aulas, não vou? – Baekhyun reclinou as costas no encosto da cadeira, virando o rosto minimamente para que somente Kyungsoo pudesse ouvir seu sussurro.
− Vai perder nossa sessão de jogo na casa do Chanyeol. É uma pena. – este lamentou com alguns tapas sutis em seu ombro, fazendo Baekhyun virar a cabeça para trás, incrédulo.
− Você não parece triste por isso.
Um sorriso sutil adornou os lábios de Kyungsoo. Obviamente ele não estava feliz pela suposta detenção que seu melhor amigo levaria – afinal, ele não desejava a ninguém passar o resto do dia, após as aulas, na companhia do professor Han –, mas pensar que poderia jogar sem as gritarias constantes de Baekhyun no seu ouvido a cada erro ou vida perdida em League of Legends, não parecia ruim também.
− É claro que estou. – reprimiu uma risada que ameaçou sair com a própria mentira descarada.
                                                       *
− Yah, Kim Jongdae! Dá pra fazer o favor de vir me ajudar?! Os caras estão me matando aqui, caralho! – Chanyeol exclamou impaciente, dando um chute na canela do rapaz que possuía o laptop sobre a mesa de estudos logo ao seu lado. Da cama, Kyungsoo reprimiu um riso ao ouvir o gemido de dor do amigo, mas sem desviar os olhos da própria tela enquanto tentava despistar seus perseguidores no jogo.
− Me chuta de novo e eu devolvo um soco nessa sua cara de ogro, Park Chanyeol! – Jongdae levou o pé até a cadeira de rodinhas do amigo, como forma de afastá-lo de si e também de atrapalhá-lo. O palavrão que veio em resposta levou os outros jogadores do mesmo time a rirem no chat em áudio que faziam. – Presta atenção no que você tá fazendo! Aí, seu babaca! Eu estou te ajudando, mas você não sai daí, porra!
− Droga. – Kyungsoo fez um estalo com a boca em desapontamento quando seu jogador morreu, mas sequer foi ouvido pelos outros dois amigos que ainda continuavam a discutir. Então, aproveitou o pequeno intervalo até voltar à vida para verificar seu celular que o havia notificado há pouco tempo das mensagens recebidas.
Baekhyun:
Adivinha quem tá na detenção comigo? (¬‿¬) [15:47]
Sim o próprio! [15:47]
Eu sei que você quer saber [16:05]
Me responde, seu escroto!!! [16:20]
Kyungsoo
Quem? [16:44]
Baekhyun
Oh Sehun [16:45]
Acho que vou aproveitar e pedir outro beijo daquele [16:45]
Que ele me deu hoje de manhã (¬‿¬) [16:45]
Já experimentou beijar na boca com bala, Soo? [16:46]
Aliás, você ainda sabe beijar? Kkkkkk [16:46]
Kyungsoo
(ಠᴗಠ)凸 [16:46]
Baekhyun
Grosso kkkkkk [16:47]
Mas é sério, eu sei que o Sehun beija bem [16:47]
Mas com a bala foi.... wow [16:47]
Se tiver a oportunidade, enfia uma bala na sua boca e sai beijando [16:47]
Kyungsoo
Não sou você [16:48]
Baekhyun
É claro que não é [16:48]
Esse rosto perfeito pertence unicamente a mim [16:48]
¯\_(ツ)_/¯ [16:48]
                                                     *
Dizer que não ficou curioso sobre beijar alguém com uma bala brincando em suas bocas não seria totalmente verdade, pois uma pequena parte de si se mostrou interessado. Porém, não ao ponto de instigar Kyungsoo a querer, de fato, seguir o conselho de Baekhyun e sair beijando qualquer pessoa somente para saciar sua curiosidade – algo que era muito mais a cara do seu melhor amigo.
Bem... talvez Kyungsoo tenha pesquisado um pouco aqui e ali na internet sobre a experiência de outras pessoas, mas só isso. Nada demais e nem nada muito a fundo.
E – também – talvez ele tenha ponderado por longos minutos frente à prateleira se comprava ou não sua bala de sabor favorito quando foi ao mercado com sua mãe no dia seguinte. Isso porque, naquele momento, seu propósito em colocá-la junto a outros itens no carrinho seria diferente do simples fato de adorar aquela guloseima. Aliás um propósito tão idiota que Kyungsoo sentia vontade de atirar a própria cabeça contra a parede por ter se deixado pensar a respeito.
Ugh. Maldito dia que Byun Baekhyun abriu a boca para falar sobre sua mais nova fascinação.
E não parou por aí. A curiosidade do seu melhor amigo ia além do infinito e ele não estava satisfeito apenas por beijar várias vezes Oh Sehun, teve também de experimentar com alguém do sexo oposto. A satisfação e toda aquela euforia, de acordo com o relato de Baekhyun – porque era óbvio que ele não deixaria de manter Kyungsoo informado de tudo, nos mínimos detalhes –, não foram as mesmas que na primeira experiência com Sehun, mas também não deixaram a desejar.
E se não bastasse os relatos, Kyungsoo ainda era obrigado a tolerar as insistências do amigo ao tentar convencê-lo de também cair na tentação e experimento. Baekhyun não precisava sequer dizer alguma coisa, bastava ele oferecer uma das balas que carregava consigo no bolso da calça e sorrir de forma sugestiva, e Kyungsoo já compreendia sua real intenção por trás daquele ato.
− Posso te apresentar alguém que tope te beijar, se quiser. – Baekhyun sugeriu certo dia no refeitório do colégio enquanto aguardavam por Chanyeol e Jongdae em uma mesa. Kyungsoo o encarou por cima da sua armação de óculos, cético.
− Não, obrigado. – mostrou uma expressão de desgosto, incapaz de acreditar na ideia estúpida do amigo e decidiu que seria mais útil e inteligente focar a atenção no que lia em seu celular. – Além do mais, como você, eu não tenho vontade de beijar rapazes.
− Eu digo e repito. Isso é porque você ainda não beijou um. – apontou, sugando seu suco de maçã pelo canudinho ao mesmo tempo em que acenava ao alto para Chanyeol e Jongdae que surgiram no seu campo de visão. – Se isso vier a acontecer, tenho certeza de que não vai querer parar mais.
− E eu já disse que não sou você. – levantou os olhos, encarando-o com tédio.
− É claro que não é. – rolou os olhos. – E eu já disse que esse rosto perfeito pert-... Yah! – protestou após o chute que recebera na canela por debaixo da mesa, levando-o a crispar os lábios em chateação.
− Tá aí o que pediu. – os olhos de Kyungsoo acompanharam um pacote retangular bastante familiar cair sobre a mesa quando Chanyeol o jogou, sentando-se ao seu lado em seguida. Seus olhos imediatamente encontraram com os de Baekhyun, este a sorrir de canto. – Essa bala de morango não era a favorita do Soo?
− Mas é. E foi pra ele que eu pedi. – Baekhyun alcançou a mão no pacote e roubou uma das balas para si. – Você não se importa de eu pegar uma né, Soo? – e com um daqueles seus sorrisos sacanas, acomodou o doce desembalado em sua boca úmida; o olhar totalmente fixo em Kyungsoo. E foi um ato inconsciente quando este último engoliu em seco, incapaz de desviar os olhos dos lábios rosados e tentadores do amigo.
Espera. Ele acabou mesmo de reparar na boca de Byun Baekhyun e se referir aos seus lábios como algo tentador? Só podia ser piada. Pronto, agora a fascinação perturbadora do seu melhor amigo estava o arrastando à beira da loucura também.
− Fica longe das minhas balas, sua aberração. – recolheu o pacote retangular da mesa, acolhendo-o em suas mãos defensivas. Então se levantou, abrindo mão do almoço enquanto deixava a mesa e a risada irritante de Baekhyun para trás; ao fundo os protestos de Chanyeol e Jongdae que pediam pelo seu retorno.
Se ele se pegou pensando na boca do seu melhor amigo enquanto saía do refeitório? É óbvio que não. Da mesma forma que ele nem cogitou na possibilidade em ter aqueles lábios colados nos seus e em como seria sentir seu gosto misturado ao sabor do morango. Porque isso era repugnante. A possível ideia de beijar seu melhor amigo era repugnante.  
Bufou alto quando parou no corredor e encarou o pacote ainda em sua mão, incerto se aquela bala ainda continuava a ser sua favorita. Aliás, talvez Kyungsoo fosse manter distância de qualquer bala a partir de agora.
E tudo isso por culpa do idiota do Byun e seus lábios provocantes e-... imediatamente barrou a si mesmo de continuar com essas observações desnecessárias. E, tomado pela própria irritação, arremessou o pacote para fora da janela, desejando que isso também fizesse seus pensamentos desaparecessem. Só não contava que fosse acertar alguém do lado de fora que resmungou de dor ao ter sido acertado nas costas. Sua reação ao reconhecer o aluno, quando este virou o rosto para encará-lo, foi arregalar os olhos e rapidamente se desculpar com um aceno de cabeça, em seguida, saindo em disparada.
                                                       *
Aquele era um dia como qualquer outro, exceto pela vontade de Kyungsoo de querer se jogar da janela toda vez que olhava para Baekhyun – e não o contrário, pois em geral era seu melhor amigo que ele sentia vontade de empurrar daquele andar. A trama toda de beijos e balas o haviam perseguido até mesmo em seus sonhos e só de lembrar do que aconteceu na imaginação que seu cérebro programou, ele sentia vontade de gritar aos quatro ventos.
Poderia ter sido qualquer pessoa, qualquer pessoa mesmo. Mas não. Seu sonho tinha que ser ele aos beijos com ninguém menos que Byun Baekhyun. E o mais frustrante disso tudo era que ele havia gostado da forma como sua boca havia se encaixado na do amigo, de como ele havia apreciado o beijo que recebera ao gosto da sua bala favorita. E, pelo menos dentro daquele sonho, a ideia de beijar Baekhyun não pareceu ser ruim.
Haha... ele só podia estar perdendo a lucidez de vez mesmo.
Incapaz de prestar atenção no que o professor dizia durante a aula, Kyungsoo deixou seus olhos caírem sobre a figura de Baekhyun sentado à sua frente, involuntariamente, examinando a região da sua nuca exposta com o corte novo de cabelo que recebera. Então subiu um pouco o olhar ao ouvir a risada alheia, dessa vez, observando seu perfil bem contornado quando este virou o rosto para o colega da carteira ao lado.
Aquilo era estupidez. Desde quando ele se interessava no idiota do Byun e em todos os seus movimentos durante a aula? Seu foco deveria estar unicamente na sua vontade em socar a cara do melhor amigo por tê-lo colocado nessa situação. Por tê-lo levado a desejar beijar sua boca e querer descobrir se, de fato, seu beijo com sua bala favorita era tão bom quanto no sonho.
Com a mão a envolver sua borracha, tomado pela irritação e ato impulsivo, arremessou com força o objeto contra a cabeça de Baekhyun, acertando-o em cheio. Este virou o rosto para trás, incrédulo, no mesmo instante.
− Yah! – franziu o meio da sobrancelha e sequer notou quando o professor parou a explicação no quadro com o tom alto de sua voz. – Por que fez isso, seu idiota?
− Byun Baekhyun, não me obrigue a colocá-lo de detenção outra vez. – professor Han soltou um suspiro impaciente. Então, voltou com a explicação no quadro negro quando viu que o aluno havia virado para frente, firmando os lábios em linha reta.
− Porque estou irritado. – Kyungsoo respondeu em sussurro após um tempo.
− Oh? Não sabia que eu tinha virado seu saco de pancadas agora. – devolveu com outro sussurro, cerrando os olhos na direção do amigo por cima do ombro. Então pegou a própria borracha sobre a mesa e jogou em Kyungsoo que desviou sem nenhuma dificuldade.
− Seria um saco de pancadas perfeito se não falasse.
− É para isso que existe saco de boxe à venda, você não sabia? – respondeu, sarcástico e levemente irritado. – Por que não vai e compra u-...!
− Byun Baekhyun! – o tom de repreensão do professor o levou a dar um pulo discreto, obrigando-o a se virar para frente outra vez. – Detenção depois da aula.
− Mas...! – pairou as mãos no ar, descrente. Risadas baixas soaram pela classe com a indignação exagerada do rapaz. – Isso não é justo! Ele começou! – apontou para Kyungsoo que se mostrou indiferente diante da acusação alheia.
− Todos nós sabemos que você sempre começa, Byun. – o homem deu fim à discussão.
E Kyungsoo não iria discordar, obviamente.
Baekhyun
Isso vai ter troco, seu ordinário!!! [11:02]
Era o que dizia na mensagem que recebera no celular após algum tempo, fazendo Kyungsoo reprimir um sorriso vitorioso. E por um tempo o descontentamento de Baekhyun durante o resto da aula compensou todas as vezes em que se viu frustrado por causa do amigo nesses últimos dias.
                                                    *
− Kyungsoo, visita!
A menção de seu nome o levou a virar o rosto na direção da porta, encontrando um dos seus colegas de classe e ao seu lado, inesperadamente, Oh Sehun. O sinal para o horário de almoço havia acabado de tocar e a maioria dos alunos ainda se encontrava em sala, preparando-se para sair. Sendo assim, toda a atenção se voltou para Sehun e ele.
Baekhyun não precisou dizer nada e o que quer que tivesse para perguntar ao amigo deixou transparecer somente no seu olhar. E Kyungsoo, pela milésima vez naquele dia, quis se jogar da janela. O que Oh Sehun estava fazendo ali e ainda por cima procurando por ele? Afinal, eles sequer se conheciam direito.
Com um grunhido choroso, levantou-se da cadeira e se dirigiu até o rapaz, ignorando os sussurros e olhares curiosos.
− Posso... ajudar? – arqueou o meio das sobrancelhas, incerto, quando parou do lado de fora do corredor.
− Oi. – os lábios de Sehun se ergueram num sorriso singelo. – Acho que isso te pertence. – estendeu as balas favoritas de Kyungsoo que de imediato se recordou do ocorrido quando as jogou pela janela há alguns dias. Sehun havia sido a pessoa que tivera o azar de estar passando justo naquele momento.
− Desculpe por isso. E...valeu. – prendeu os lábios entre os dentes em constrangimento, logo escondendo a guloseima no bolso do uniforme. E quando tornou a levantar os olhos, percebeu que Sehun ainda o encarava com um sorriso sutil. E, pela primeira vez estando tão próximo do rapaz, Kyungsoo compreendeu o motivo de Sehun estar no top da lista dos alunos mais atraentes do colégio. – Mais... alguma coisa?
− Baekhyun gosta dessa bala por causa de você, sabia?
O que isso significava e com que propósito Sehun lhe disse, Kyungsoo não sabia. Mas também não houve tempo para perguntar, pois no momento seguinte o rapaz havia ido embora com um aceno e um simples “A gente se vê por aí”.
− Hmmm? O que foi isso? – Chanyeol foi o primeiro a se pronunciar quando Kyungsoo voltou para o seu lugar, ainda confuso pelas palavras de Oh Sehun.
− Eu nem sabia que eram amigos. – Jongdae sibilou, sorridente.
− Não somos.
− O que ele queria? – o costumeiro sorriso sacana de Baekhyun não veio acompanhado da pergunta, o que levou Kyungsoo a encarar o melhor amigo em silêncio, sua mente em completo transe. Se Baekhyun estava zangado, ele não saberia dizer.
− Nada. – respondeu por fim e decidiu procurar pelo dinheiro do seu almoço dentro da mochila, ignorando os próprios pensamentos.
                                                          *
Kyungsoo
Que horas sai da detenção? [16:22]
Baekhyun
Às 17h. Por quê? [16:28]
Não vai me responder? [16:40]
Por quêêêê? [16:43]
Kyungsooooooo :( [16:43]
Talvez Kyungsoo tivesse se sentido um pouco arrependido depois da punição que seu amigo recebera do professor por sua culpa. Mas sua opinião sobre Baekhyun ter merecido o castigo permanecia a mesma, pois se fosse considerar tudo que esse idiota já o fez passar nesses longos anos de amizade, essa detenção seria pouco para compensar. E o fato de Kyungsoo estar ali, frente ao prédio do colégio à sua espera, já expressava sua consideração pelo amigo mais do que suficiente.
Já havia se passado mais de dez minutos desde que os ponteiros indicaram ser 17h, mas não havia sinal algum de Baekhyun. E considerando ser uma punição de horas, trancado numa sala com um professor a dar sermões e atividades extras, imaginou que o amigo fosse estar bem longe dali àquela hora. Curioso pela demora alheia, decidiu ir procurar pelo rapaz. Mas pouco antes de virar o primeiro corredor, escutou a voz irreconhecível do mesmo.
− O que quer que esteja fazendo, pare. – o tom de ameaça levou Kyungsoo a franzir o meio das sobrancelhas e esticar o pescoço atrás da parede, curioso para saber quem era a pessoa com quem seu amigo falava.
− O que eu posso fazer? – era Sehun, tendo suas costas coladas na parede e com Baekhyun de frente para si. – Rapazes como ele são interessantes.
− Ele não é um dos seus brinquedinhos, Sehun.
− Me parece mais que ele é seu brinquedinho. – exibiu um sorriso sacana e versado, levando o outro a forçar a mandíbula em silêncio. – O fato de alguém estar interessado nele te incomoda, não te incomoda? Me pergunto por que. – sibilou num falso tom inocente.
E Baekhyun não conseguiu dar uma resposta ao perceber o olhar de Sehun longe do seu, levando-o a virar a cabeça em curiosidade e se deparar com Kyungsoo imóvel no fim do corredor, seus olhos grandes fixos em si. Com o lábio inferior preso entre os dentes, afastou-se de Sehun e, sem se dar o trabalho de se despedir do rapaz, seguiu até Kyungsoo, arrastando-o para fora do prédio quando alcançou seu pulso.
− Achei que a relação de vocês fosse amigável. – Kyungsoo comentou ao atravessarem as portas do colégio, sendo atingidos pela brisa daquele fim de tarde. Seus olhos permaneciam presos em Baekhyun que andava a sua frente e, principalmente, na mão alheia que ainda insistia em segurá-lo.
− Sehun só está sendo um babaca. – um suspiro baixo foi ouvido.
E não houve explicação depois disso e nem Kyungsoo procurou por uma, embora uma parte de si desconfiasse sobre o que e a quem Baekhyun e Sehun estavam se referindo na conversa. Ele não era idiota, afinal. Mas ainda assim era difícil afirmar, pois isso geraria outras perguntas os quais envolviam sentimentos antes inexistentes... e isso possivelmente complicaria as coisas.
− Aonde estamos indo?
− Eu não sei. – Baekhyun finalmente o soltou e se virou para ele, continuando a andar de costas em passos lentos. – Foi você quem veio me buscar. Pretendia me levar para algum lugar? – sorriu-lhe com um levantar de sobrancelhas que fez Kyungsoo rolar os olhos em antecedência. – Awn. Você se sentiu culpado pela minha detenção, não foi? Quer me compensar de alguma forma, aposto.
− Cala a boca. Não tem ninguém se sentindo culpado aqui e nem para compensar nada. – passou pelo rapaz, batendo seu ombro no dele propositalmente. Mesmo que essa tivesse sido sua intenção desde o princípio, era óbvio que Kyungsoo não iria admitir isso para alimentar o ego do seu melhor amigo. – Não sei quanto a você, mas eu vou para casa.
− Tsc. – Baekhyun replicou com um estalar de língua, franzindo os lábios de forma infantil. – Ao menos me pague algo para comer. – alcançou seu ombro com uma das mãos e apontou com o dedo indicador para a loja de conveniência do outro lado da rua.
Kyungsoo ponderou por alguns segundos, mas o revirar de seus olhos já havia revelado sua resposta. E com o sorriso de vitória estampado no rosto de Baekhyun, foi obrigado a seguir o rapaz até o estabelecimento, reprimindo a própria vontade em socar aquele rosto radiante toda vez que chamava por seu nome e lhe pedia para comprar tal produto seguido de outro.
Esperava pelo rapaz do caixa fazer a soma da compra quando uma embalagem bastante familiar, à direita sobre o balcão, chamou sua atenção. E, dessa vez, sem ponderar muito a respeito, Kyungsoo adicionou a guloseima aos demais produtos escolhidos pelo amigo.
− Não me diga que vai colocar o beijo em prática? – Baekhyun o cutucou com o cotovelo sem deixar de notar seus movimentos, os cantos dos lábios se erguendo num sorriso descarado.
− Talvez não seja má ideia. – Kyungsoo balançou os ombros de forma indiferente, porém a observar atentamente Baekhyun pelos cantos dos olhos. Este se mostrou surpreso.
− É sério? – dessa vez a pergunta veio na ausência do seu sorriso.
− Por que não? – retirou a carteira da mochila, entregando uma quantia de nota de dinheiro para o funcionário do estabelecimento. – Você mesmo disse que eu deveria tentar.
− E... – Baekhyun esperou que o rapaz do caixa devolvesse o troco, logo mais, seguindo Kyungsoo para fora da loja. – Vai tentar com quem?
− Não pensei nisso ainda. – limitou-se a dar de ombros, iniciando sua caminhada para casa na companhia de Baekhyun.
O bairro onde moravam não ficava longe dali e não era algo novo voltarem para casa enquanto degustam os produtos comprados naquela loja de conveniência. O que era novo ali era o silêncio por parte de Baekhyun durante os dez minutos que se passaram. Era compreensível visto que ambos estavam com suas bocas ocupadas com o lanche da tarde improvisado, mas isso nunca limitou seu amigo de falar pelos cotovelos.
E apesar de apreciar o silêncio e a combinação deste com a bela paisagem do pôr-do-sol, Kyungsoo preferia o contínuo falatório de Baekhyun. Pois a ausência disto o levou de volta aos seus questionamentos e o que eles poderiam gerar caso decidisse compartilhá-los com seu amigo. Ele poderia estar enganado, mas muita coisa se explicaria caso estivesse certo, desde às provocações de Baekhyun até o seu silêncio repentino diante da decisão de Kyungsoo ao querer testar o beijo com alguém.
Após mais alguns minutos de caminhada, as várias ruas estreitas indicavam que estavam próximos de chegarem na casa de Baekhyun. E na ausência de pessoas e barulho de automóveis, Kyungsoo se aproveitou do momento para tentar esclarecer suas dúvidas.
− Me diz... – pronunciou-se, retirando o pacote de sua bala favorita do saco plástico após ambos terem terminado de comer a maioria das coisas que haviam comprado. – Quando beijou Sehun, que bala usaram? – seus olhos permaneciam na guloseima, mas manteve-se atento aos movimentos de Baekhyun ao seu lado.
Este levou algum tempo antes de responder, tempo suficiente para Kyungsoo desembalar sua bala e levá-la até seus lábios, em seguida, virando-se para fitar o amigo em curiosidade. E não foi surpresa para si ao encontrá-lo olhando para sua boca que agora alojava seu doce preferido.
− Essa bala de morango. – Baekhyun diminuiu o ritmo dos seus passos até que finalmente parasse frente ao portão de sua casa, levando Kyungsoo a imitar seu ato.
− E quanto a Jieun?
− Também...
− Por quê?
Pelo tempo que esperou, Kyungsoo imaginou que não iria obter uma resposta. Baekhyun parecia estar ocupado demais em seu próprio conflito interno para sequer se dar conta do silêncio que havia se propagado ao redor deles.
− A gente se vê no colégio amanhã... – foi inevitável o suspiro em derrota que Kyungsoo deixou escapar, aos poucos, dando as costas e se afastando visto que não iria conseguir fazer o amigo falar.
− Kyungsoo... – ouviu o seu chamado em seguida, fazendo-o fitar Baekhyun por cima do próprio ombro. Mas nada veio de sua boca após isso, caindo no silêncio outra vez.
− Por que de repente está sem palavras? – Kyungsoo questionou num tom sutilmente zangado e deu meia volta, dirigindo-se até Baekhyun que ainda permanecia intacto no mesmo lugar. E ao visualizar o amigo vindo em sua direção, este encolheu os ombros, receoso. – Mesmo quando fica quieto você consegue me irritar, sabia?
− Eu n-...
E dessa vez Kyungsoo não esperou por uma resposta, acomodando o rosto de Baekhyun na palma de suas mãos e cobrindo-lhe os lábios com os seus no momento seguinte. Ainda que surpreso diante do ato, Baekhyun o recebeu sem nenhum tipo de resistência e permitiu que seus lábios se partissem sutilmente, deixando o aroma doce do morango percorrer por entre eles.
E a ideia de beijar seu amigo, ao ter suas bocas juntas, deixou de ser algo repugnante. Aliás, estava longe de ser isso. Os lábios de Baekhyun eram tão macios e delicados quanto a uma pétala de rosa e a forma como eles passaram a se mover contra os seus, só deixou Kyungsoo a querer experimentar mais a fundo. Talvez o aroma adocicado da sua bala favorita tenha ajudado nesse processo, mas talvez tenha sido apenas o próprio Baekhyun ao se entregar complemente ao beijo, retribuindo tão ansioso quanto ele.
Se só a imagem dos lábios de Baekhyun já despertava a curiosidade reprimida de Kyungsoo em beijá-lo, seu gosto misturado à bala e o encontro de suas línguas ia além disso. Kyungsoo agora o desejava como nunca desejou alguém. E, embora o florescer desse novo sentimento fosse um pouco assustador, ele não queria se afastar. Porque fazer isso significava ter que interromper aquele beijo tão incrível.
E beijar alguém nunca foi tão bom quanto beijar Byun Baekhyun.
− Você sempre está com essa bala na boca... e eu fiquei curioso. Em como seria te beijar com ela. – Baekhyun confessou alguns segundos depois de ter interrompido o beijo e se afastado minimamente quando ouviu um carro se aproximando de onde estavam. Esperou pacientemente que o veículo passasse por eles para, então, voltar-se para o amigo.
− Você gosta de mim ou algo do gênero? – a pergunta de Kyungsoo pareceu pegar Baekhyun de surpresa, fazendo o rapaz encará-lo em silêncio, os olhos sutilmente arregalados. – Quero dizer... – pigarreou sem graça, levando a mão até a própria nuca. – Por qual outro motivo você iria querer me beijar?
− Você é muito convencido, Do Kyungsoo. – ali estava o sorriso sacana que Kyungsoo conhecia tão bem junto à sua ousadia ao dar um passo à frente, aproximando-se novamente e segurando-lhe as pontas dos dedos de uma das mãos. Sua indiferença e silêncio diante da declaração não pareceu incomodar Baekhyun. – Mas foi você quem me beijou primeiro. Você gosta de mim ou algo do gênero? – devolveu-lhe a pergunta.
− Quem é o convencido agora? – Kyungsoo rebateu com um revirar de olhos que fez o outro rir. E a risada alheia atraiu seu olhar para os lábios rosados à sua frente, relembrando-o da sensação de tê-los colados nos seus e de como absurdamente ele não se importaria de repetir o ato. – Eu não sei a resposta certa para essa pergunta, sinceramente. Mas...
− Mas...? – Baekhyun questionou em expectativa, não deixando de notar que seu amigo encarava sua boca descaradamente. Então sentiu os dedos de Kyungsoo se entrelaçarem nos seus, levando seu coração a dar um salto discreto peito adentro.
− Mas continuo querendo beijar essa sua boca ridícula. – finalmente levantou o olhar, testemunhando o franzir ao meio das sobrancelhas de Baekhyun após suas palavras.
− Isso não me soou um elogio.
− Não era para ser. – a resposta acompanhada do seu semblante sério arrancou de Baekhyun outra risada.
− E está esperando o quê? – puxou o amigo pela mão com o propósito de quebrar a pouca distância que havia entre eles. Os cantos dos lábios de Kyungsoo se esticaram para cima quando a mão livre de Baekhyun buscou sua nuca, induzindo-o a se aproximar ainda mais. – Não estou te impedindo de beijar essa boca ridícula, afinal.
− Na verdade está. – opôs-se no mesmo instante. – Falando.
− E aposto que você sabe exatamente o que fazer para me calar, não sabe? – Baekhyun sorriu antes de prender o lábio inferior entre os dentes num gesto provocativo que não passou despercebido pelo amigo.
− Para a sorte dos meus ouvidos, eu sei sim. – Kyungsoo concordou.
− Oh? – seu tom de voz soou levemente ofendido. – Você não admite, mas aposto que a minha voz é como melodia para os seus ouvidos. Se não, um orgasmo auricular.
− Ugh. Pelo amor de Deus, cala a boca.
E com um revirar de olhos impaciente, Kyungsoo buscou seus lábios no momento seguinte, apreciando outra vez o sabor único – e provavelmente seu sabor favorito a partir de agora – da boca de Baekhyun junto à bala.
                                                         *
Se fosse há algumas semanas, Kyungsoo teria se considerado um sujeito sensato. Mas agora – após a liberdade que dera ao amigo de lhe tocar, beijar e fazer coisas além do permitido determinado em uma relação de somente amizade – ele não tinha tanta certeza assim. Pois uma coisa que não havia no dicionário de Byun Baekhyun era sensatez e, uma vez que Kyungsoo estava ligado a ele – no mais íntimo significado da palavra –, consequentemente, deixava para trás todo o seu bom senso. Principalmente quando os lábios de Baekhyun estavam envolvidos.
Porque, droga, como esse maldito beijava bem.
E com esses mesmos pensamentos que vinham atormentando sua mente – e que muito provavelmente jamais iria confessar ao amigo, pois isso ascenderia ainda mais o seu ego – Kyungsoo foi empurrado contra a parede do corredor, os lábios colados aos de Baekhyun, as línguas se entrelaçando numa dança apressada, quase inexperiente. E de certa forma aquilo era algo novo, diferente dos beijos anteriores que roubavam um do outro às escondidas pelo colégio na hora do intervalo. Havia desejo, tentação. Havia não só o encontro de suas bocas, mas também de seus quadris que resultavam em gemidos sôfregos.
Kyungsoo estava em uma zona de extremo perigo e ele sabia disso, porém tarde demais para voltar atrás. Tarde demais para negar o quão envolvido estava naquilo, nos beijos e principalmente nele, Byun Baekhyun.
− Quer matar as últimas aulas? – Baekhyun se afastou minimamente com uma mordida sutil em seu lábio inferior, os dedos ainda a acariciarem sua cintura por baixo do uniforme escolar e o quadril perigosamente colado ao seu.
− Por que eu iria querer isso? – devolveu com outra pergunta, a respiração ofegante.
E a resposta de Baekhyun veio com o roçar dos lábios em sua mandíbula, movendo-se lentamente para baixo e capturarem a região sensível de seu pescoço. E vergonhosamente Kyungsoo suspirou em deleite, incapaz de manter os olhos abertos diante da sensação aprazível.
− Queria te mostrar uma coisa. No meu quarto. – os selares vieram acompanhados de uma risada abafada que fez Kyungsoo revirar os olhos e afastar o rapaz pelos ombros no momento seguinte. – Aposto que pensou besteira agora, não foi? – Baekhyun arqueou as sobrancelhas, maroto. – É isso que quer, Do Kyungsoo?
E quando Baekhyun ameaçou subir os dedos esguios que brincavam abaixo de sua camisa e tocar um dos seus mamilos, Kyungsoo não evitou arfar, logo mais, se afastando do toque e prensando a si mesmo contra parede oposta do corredor deserto em que se encontravam. Seus braços buscaram conforto para o próprio corpo ao se abraçar, os olhos sutilmente arregalados.
− Não teste a sua sorte, Byun Baekhyun. – fulminou-o com o olhar.
− Oh? Não me diga que você é sensível... aí. – apontou o dedo indicador, fazendo Kyungsoo se encolher ainda mais contra o concreto quando deu alguns passos à frente com um sorriso malicioso. – Sabe que essa sensibilidade vai te favorecer muito quando eu te ch-...
− Eu vou realmente te dar um soco na cara se não calar a boca. – a aparição do seu punho cerrado entre os dois fez Baekhyun imediatamente ficar imóvel a alguns passos de si. – Tente alguma gracinha e esse punho será a última coisa que você vai ver e sentir.
− Você quer me nocautear, é isso? – a pergunta de Baekhyun veio acompanhada de uma risada que, mesmo que sutilmente, arrancou de Kyungsoo um sorriso. – Isso é muita crueldade com quem só tem a melhor das intenções, sabe. Você não quer saber, Kyungsoo? Como é? – então percorreu a língua úmida pelo lábio inferior num gesto totalmente obsceno.
− Oh meu Deus, onde foi que eu fui me meter? – Kyungsoo conteve a vontade de bater a própria cabeça na parede atrás de si, soltando um suspiro longo ao invés disso. E Baekhyun, que claramente havia ouvido, soltou uma gargalhada gostosa.
− Ghost Recon finalmente chegou lá em casa. – a curiosidade que perpassou as írises de Kyungsoo foi como um incentivo para Baekhyun se aproximar novamente, sem medo de ter algum dos ossos quebrados pelo amigo ou marcas roxas no corpo. – Não quer ser o primeiro a jogar comigo?
− Você conseguiu o Ghost Recon Wildlands?
− Sim, meu caro Do Kyungsoo. – esbanjou um sorriso de orelha à orelha, o peito estufado em orgulho. – Sou ou não sou demais?
− Pare de ficar roubando os créditos que deveria ir ao seu tio que mora nos Estados Unidos e geralmente consegue esses jogos no lançamento pra você. – Kyungsoo respondeu com um rolar de olhos, logo mais, iniciando sua caminhada e dando as costas ao rapaz.
− Que seja. – Baekhyun estalou a língua e deu de ombros, acompanhando seus passos. – Continuo sendo demais porque onde mais você iria encontrar um amigo que te chama para estrearem juntos o melhor jogo do ano, huh? Sou o melhor amigo que você poderia ter na vida, Soo.
O comentário junto ao peso do braço de Baekhyun em seu ombro, enquanto caminhavam lado a lado, levaram Kyungsoo a revirar os olhos. E tão acostumado com esse tipo de feedback por parte do amigo, Baekhyun apenas riu e – muito ousadamente – depositou um beijo em uma das suas bochechas.
E Kyungsoo ignorou o calor que se acumulou nas suas maçãs do rosto.
− Idiota.
− Há algo que o Dae e eu não estamos sabendo? – a pergunta de Chanyeol levou Baekhyun e Kyungsoo a interromperem seus respectivos almoços para fitarem o amigo do lado oposto da mesa em que se sentavam no refeitório do colégio. Não estavam somente sob o olhar de Chanyeol, mas também de Jongdae que igualmente ansiava por uma resposta.
Baekhyun, que permanecia com o talher imóvel no ar e os lábios levemente partidos em surpresa, buscou o olhar de Kyungsoo. Este, por sua vez, manteve sua atenção fixa em Chanyeol, receoso de que qualquer ato suspeito pudesse entregá-los aos amigos. Porque isso, essa coisa inominável – e estranhamente boa – que agora existia entre Baekhyun e ele, deveria ficar absolutamente guardada a sete chaves. Pelo menos até que pudessem compreender e chegarem a alguma conclusão do que tudo aquilo significava.
− A gente ‘tá se pegando. – de repente ouviu Baekhyun dizer ao seu lado.
E qualquer justificativa que Kyungsoo estivesse tentando elaborar para a pergunta de Chanyeol desapareceu num passe de mágica assim como a sua vontade de existir naquele momento. Incapaz de testemunhar as expressões nos rostos dos amigos à sua frente ao fechar os olhos com força, Kyungsoo deixou seu talher cair no prato, livrando sua mão de qualquer objeto pontiagudo que pudesse machucar alguém. Porque era exatamente isso que ele queria fazer com Byun Baekhyun. Desde perfurar seu olho até arrancar sua língua.
− Vocês... o quê? – a risada curta ao final da pergunta de Jongdae denotou surpresa e ao mesmo tempo descrença. – O que quer dizer com isso?
− Oras, quer mesmo que eu explique como a minha língua brinca com a dele enquanto a gente s-... – o estrondo alto das mãos de Kyungsoo contra a madeira da mesa imediatamente calou Baekhyun. – Ahn... – então engoliu em seco quando recebeu nada além de um suspiro longo por parte de Kyungsoo que ainda se recusava a olhar para ele.
− Vou ali me matar e já volto. – declarou na maior naturalidade como se estivesse indo buscar um copo d’agua, levantando-se da mesa em seguida.
− Oh. Meu. Deus! Você está falando sério, Kyungsoo?! – Jongdae exclamou alto, rindo em seguida quando o amigo simplesmente o ignorou, dando-lhe as costas.
− Yah! Volta aqui e explica isso direito! – foi a vez de Chanyeol ter olhares curiosos dos estudantes sobre si.
− Kyungsoo~! – Baekhyun chamou, usando do seu tom manhoso para conseguir sua atenção, o que obviamente foi ignorado pelo rapaz que cada vez mais se afastava da mesa. – Se você não voltar aqui eu vou...! – não concluiu a própria frase com expectativa de que isso fosse fazer o amigo ao menos virar o rosto, porém sem sucesso. Então suspirou fundo, aborrecido. – Yah! Vou dizer pra todo mundo que você é apaixonado por alguém cujo nome começa com Baek e termina com Hyun!
Isso fez Kyungsoo parar de andar de imediato e virar o rosto para trás, revelando seu descontentamento com um franzir evidente ao meio das sobrancelhas grossas.
− E eu vou dizer que é mentira porque quem diabos iria se apaixonar por você quando se tem Oh Sehun?!
Risadas em coletivo foram ouvidas pelo refeitório, as quais Baekhyun ignorou por completo.
− Yah!!! – colocou-se de pé no mesmo instante, apontando o dedo indicador em sua direção com uma expressão incrédula desfigurando-lhe o rosto. Quando Kyungsoo simplesmente lhe deu as costas, Baekhyun bufou alto e, em meio aos passos apressados atrás do amigo, mirou os olhos na mesa onde Sehun se sentava. − Tire esse sorriso imbecil do rosto, Oh Sehun! É óbvio que ele não está falando sério! – replicou, recebendo apenas um sorriso petulante que o fez revirar os olhos. Então voltou a atenção para frente, os lábios franzidos em chateação enquanto observava Kyungsoo se distanciar. – Soooo~!
                                                          *
Baekhyun
Kyungsooooooo [13:04]
Eu já pedi desculpas :( [13:10]
Soo? [15:21]
Kyungsoooooo [15:49]
Adivinha o que eu tenho aqui? [16:57]
Um pacote lacrado da sua bala favorita ;) [16:57]
Kyungsoooo T___T [18:03]
YAH!! Se você pensa que eu te amo, que eu não vivo sem você e que vou ficar chorando por você pelos cantos da casa o resto da minha vida........!!! [18:32]
VOCÊ PENSOU CERTO!!!!!! [18:32]
Kyungsoo, caralho, para de me ignorar! [18:47]
:( [18:47]
Kyungsoo
Minha casa [18:52]
Ghost Recon Wildlands [18:52]
Baekhyun
ESTOU A CAMINHO!!!! [18:52]
<33333333 [18:52]
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#5 Ma(r)drugadas
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Título: Ma(r)drugadas                                                                                
Número do plot: #86                                                                             
Sinopse: Baekhyun não confiava muito no mar e não foi o mais empolgado com aquela viagem a trabalho para a praia. Porém, em uma dessas noites insones em que a maluquice falou mais alto, Baekhyun encontrou no mar um motivo para passar a gostar do litoral. Jamais diga que dessa água não bebereis, porque vai que bebereis...                                                        
Couple:baeksoo, side!chanchen 
Aquela não era hora boa para mudança. Baekhyun falou umas quantas vezes que era melhor esperar até amanhecer, mas pergunta se Junmyeon ouviu? O chefinho teimou em dizer que “quanto antes, melhor”, e lá foram os cinco idiotas carregando caixas para dentro daquele prédio pequeno em plenas três da manhã.
Baekhyun não queria se mudar, ainda mais se mudar para uma praia — dizia ele que não confiava no mar, vai saber o que fizeram lá dentro, e a areia doía e dava coceira e entrava em todo lugar do corpo, todo mesmo —, mas a vida tem dessas, né? Ninguém mandou se juntar a um grupinho de antissociais para montarem uma revista em quadrinhos online que acabou fazendo mais sucesso do que o esperado, bem como ninguém o forçou a beber a ponto de achar que a ideia de fazer um arco inteiro numa praia era boa sendo que ninguém do grupo tinha sequer pisado na areia branquinha senão o próprio Baekhyun — que, como já citado, detestou a experiência.
Os cinco idiotas iriam dividir um apartamentinho de três quartos, sendo que um seria destinado apenas aos computadores, mesas gráficas, notebooks e demais parafernálias eletrônicas. Ou seja, teriam que dividir os quartos em duplas e alguém ia acabar dormindo no sofá — e Baekhyun tinha a leve impressão de que este alguém seria ele, porque a sorte dele andava pior que briga DC versus Marvel.
— Meu deus, tô morto — Chanyeol reclamou enquanto subiam as escadas até o terceiro e último andar, cada um carregando uma caixa nos braços. — Doido pra um banho. A água já tá ligada?
— Não — Junmyeon respondeu logo atrás, ofegante. Baekhyun bufou; sério que iam ficar sem uma chuveirada depois de todo aquele esforço? — A não ser que queiram se arriscar a cair na água.
— Tá doido? Essa praia é imprópria pra banho — Jongdae falou, rodando os olhos. — Já viu o tamanho das ondas?
— Pra quê a gente veio pra uma praia que não dá de tomar banho? — Chanyeol resmungou de novo.
— Porque o aluguel era mais barato — Junmyeon disse baixinho.  
Baekhyun suspirou. Honestamente, ele só queria chegar logo no apartamento e se jogar em algum lugar e não se mover por dois dias.
O apartamentinho era simpático, apesar de precisar urgentemente de uma faxina; tinha um gesso de sol e lua decorando a porta de entrada e peixes de madeira coloridos pendurados na parede da cozinha. Os quartos não eram lá muito grandes, e o sofá não parecia ser muito confortável, mas Baekhyun estava tão cansado que deixaria para se importar noutra hora.
Deixaram as caixas no chão e bufaram em uníssono, cada um se largando em algum canto. Junmyeon trancou a porta e se apoiou no balcão da cozinha acoplada à sala, um pequeno sorrisinho lhe curvando os cantos dos lábios.
— Chegamos — falou ofegante, o tom de animação evidente na voz baixa.
— Eu só quero dormir, bicho — Chanyeol reclamou, se jogando no chão empoeirado.
— Essa casa tá uma zona — Minseok se manifestou finalmente, arrastando o indicador no chão e fazendo uma careta ao ver a grossa camada de sujeira que cobriu seu dedo. — Credo.
Baekhyun se arrastou até o sofá e se enfiou ali, deitando a cabeça no colo de Jongdae, que lhe deu uma olhada feia, mas acabou embrenhando os dedos nos cabelos revoltos do menino. Chanyeol fez um biquinho, provavelmente com inveja — morria de amores pela Jongdae, o coitado — e Minseok se levantou.
— Vou arrumar minha cama. Quem vai dormir comigo? — falou, sumindo no corredor.
— Eu! — Junmyeon tratou de gritar, seguindo o outro apartamento adentro.
— Daqui eu não saio — Baekhyun se manifestou, os olhos pesando de cansaço e o corpo amolecendo.
— Vamos ajeitar nosso quarto, Chanyeol — Jongdae chamou, saindo com cuidado do sofá e deixando a cabeça de Baekhyun repousar numa almofada, pegando na mão de um Chanyeol ruborizado de vergonha para arrastá-lo até o quarto.
Cerca de uma hora mais tarde, todos já estavam com os olhos pregados... exceto Baekhyun. Mil e uma coisas passavam pela mente do garoto e ele simplesmente não conseguia pegar no sono.
Bufando, Baekhyun se levantou, desistindo de dormir; podia tirar um cochilo mais tarde. Calçou os chinelos e resolveu sair, dar uma volta pelas redondezas, a cabeça meio aérea pelo cansaço e pela infelicidade da mudança. Em que estava pensando quando concordou com aquela maluquice?
Baekhyun se arrastou até a praia, os olhos perdidos no céu que pouco a pouco se clareava. A contragosto, deslizou os pés pela areia, os grãozinhos se infiltrando por entre os dedos e causando agonia na pele, que Baekhyun ignorou por já estar exausto de tudo aquilo; sentou-se na beira do mar e pôs até as canelas para dentro d’água gelada, suspirando, a cabeça parecendo pesar cem quilos sobre o pescoço.
Que merda.
Byun Baekhyun nunca foi fã de cenários litorâneos e/ou de interior; sempre foi um garoto da cidade, seguidor fiel das luzes que nunca se apagavam e das comidas industrializadas entupidas de gordura, admirador dos milhares tipos de pessoas que corriam apressadas pelas ruas. Aquele caos da cidade, de algum modo, lhe trazia calma; lhe trazia a segurança de sempre ter tudo a seu alcance. Seus amigos também eram assim, apesar de não serem lá tão adeptos das saídas doidas que Baekhyun inventava — “a gente não vai numa balada gótica, Baekhyun, você nem é gótico!”. Chanyeol era espalhafatoso, desastrado e tímido demais para assuntos do coração, mas era o melhor amigo de Baekhyun desde a sétima série; Junmyeon e Minseok chegaram no cursinho pré-vestibular, com suas boas intenções e suas piadas ruins, e tomaram um espacinho no grupo; e Jongdae era a menina bonita amuada no fundo da aula de desenho que de cara roubou o coraçãozinho de Chanyeol, e, após várias investidas falhas, a garota resolveu se abrir para o grupinho de amigos e cedeu ao abraço deles.
Aí, numa noite de bebedeira, com Jongdae bêbada gargalhando no colo de um Chanyeol bem sóbrio e bem envergonhado, Junmyeon e Baekhyun fazendo competição de quem bebia mais shots em menos tempo com Minseok de juiz, Junmyeon espalmou o chão e, entre risadas, anunciou “a gente devia fazer uma agá-quê!”. Uma semana depois, lá vieram Minseok e Chanyeol com um storyboard improvisado e dois sorrisões nas caras, e, o que era para ser só uma frase aleatória de bêbado, acabou virando um projeto dos amiguinhos. A história em quadrinhos fez sucesso na internet, por seus personagens carismáticos — principalmente o protagonista, destrambelhado e constrangido, tão relacionável — e suas referências engraçadas e bem colocadas, além da história ser realmente boa.
A ideia de fazer um arco do quadrinho inteiro se passar numa praia fazia sentido e era interessante, mas...
A visão periférica de Baekhyun captou algo se mexendo na água. Esvaindo os pensamentos, Baekhyun encarou o mar escuro de ondas grandes, franzindo o cenho; seus pés estavam imersos no desconhecido, seu coração estava acelerado e sua respiração estava alterada. Baekhyun sentiu escamas roçarem em seus tornozelos, e então os envolverem devagarinho, impedindo-o de se mover, e Baekhyun estremeceu.
Das profundezas do mar, um vulto preto subiu lentamente, revelando pouco a pouco o que parecia ser um rosto humano, com a pele acinzentada e olhos e cabelos muito pretos, alguns sinais luminosos sobre os ossos das bochechas e sobrancelhas grossas franzidas em concentração.
— ...Humano... — chamou, numa voz grossa e delicada, se aproximando lentamente de Baekhyun.
Baekhyun gritou. Alto. E fino.
— S-sai de perto de mim! — berrou, tentando se afastar, sem sucesso. — M-me solta! S-socorro!
— Cala a boca — O... humano...? mandou, arregalando os olhos. Baekhyun tremeu de medo e mordeu os lábios. — Não acredito, você já é o sexto humano que grita quando me vê...
— O que... o q-que é você? — Baekhyun perguntou num fio de voz, ainda tentando se puxar para trás, bem longe daquela criatura do mar.
— Um tritão — respondeu, um sorriso pequeno crescendo nos lábios carnudos. Baekhyun viu a cauda do tritão balançar atrás dele no mar. — E eu preciso de você.
— D-de mim? — Baekhyun engoliu em seco. Oh, que ótimo! Ia virar comida de tritão! E ainda perguntam por que Baek não gosta de praia...
— Você já é o sexto humano que eu me aproximo, eu já tô cansado dessa lengalenga. — O tritão bufou. — Eu preciso da sua ajuda pra uma pesquisa.
— P-pesquisa? — Baekhyun estava confuso. Pra caralho.
— É. — O tritão rodou os olhos, incomodado pelo humano estar parecendo um rádio quebrado, repetindo tudo que ele falava. — Eu preciso saber mais sobre os humanos.
— Por quê?
— Porque sim.
Baekhyun engoliu em seco. Será que ele tinha a opção de negar?
O tritão olhou para cima e fez uma careta ao ver que o sol já estava nascendo. Largou os pés de Baekhyun e lhe deu uma encarada no fundo da alma.
— Eu volto essa noite. Esteja aqui — ordenou, nem dando tempo para Baekhyun responder antes de mergulhar nas águas escuras e sumir.
Parece que não.
                                                          *
Aconteceu que, mudança para cá, caixas para lá, desenrola o computador, cuidado com isso, se quebrar vai ter que pagar, tira a mão da minha caixa de calcinhas, Chanyeol!, Baekhyun acabou se esquecendo da intimação do tritão de comparecer à praia e dormiu estirado no sofá da sala assim que a arrumação terminou, mortinho de cansaço.
Lá pelas três da manhã, Baekhyun sonhou com um barulho estranho e acabou acordando. Franziu o cenho, esfregou os olhos e cambaleou até a janela, tentando descobrir o que raios estava acontecendo com ele, sem sucesso... aí lembrou-se do encontro marcado com o tritão, espalmou uma mão na testa e saiu em disparada do apartamento; puta merda, e se o coiso viesse matar seus amigos!? E se esse barulho fosse dele!? Meu deus, meu deus! Baekhyun estava muito ferrado!
Chegou na praia em tempo recorde, e, bom, o barulho realmente era do tritão, mas ele não parecia irritado; estava apoiado numa pedra à beira da praia, o torso submerso e a cauda negra balançando suavemente, e o barulho era, na verdade, uma canção doce que escapava de seus lábios carnudos. O tritão viu Baekhyun se aproximar e parou de cantar, encarando-o com seus olhos profundos, e Baek sentiu o ar faltar nos pulmões e um calor crescer nas bochechas.
— O-oi — Baekhyun falou sem graça, sentando-se na areia. O tritão nadou para perto. — Desculpa a demora.
— Você demorou? — O tritão uniu levemente as sobrancelhas. — Acho que veio no horário certo.
Baekhyun achou melhor não contestar.
— Pra que você precisa de mim? — Baekhyun perguntou.
— Eu venho de águas profundas, de um lugar muito lindo do qual os humanos ainda não sabem a respeito... e, no que depender de mim, jamais saberão. — O tritão balançou a cabeça, e seus cabelos compridos sacolejaram levemente; Baekhyun ficou encantado. — Apesar de nós das águas profundas não viajarmos em bando e sermos nômades, temos vilarejos espalhados por todo o grande mar, que nos abrigam e nos alimentam quando precisarmos. E, bom, eu gostaria muito de me juntar à guarda de um desses vilarejos, mas pra isso preciso entender sobre os humanos, seus pontos fortes e fracos. Aí pensei, que jeito melhor de colher informações senão direto da fonte? — Abriu um sorriso.
“Claro, porque é super normal um peixão aparecer na praia, por que será que cê espantou um monte de gente?”, Baekhyun pensou com seus botões.
— ...Entendi — Baekhyun balbuciou, abismado com aquela história toda. Bicho, não tinha como ser coisa da imaginação dele, né? Baek não se lembrava de ter ficado chapado nos últimos... cinco meses, é, não tinha como a verdinha ter voltado a fazer efeito do nada... né? — E aí...?
— E aí vou te fazer umas perguntas, você vai responder, a gente vai esquecer que isso aconteceu e seguir com nossas vidas.
Baekhyun afirmou com a cabeça.
— Bom, começando por... seu nome?
— Baekhyun. Byun Baekhyun.
�� Significa alguma coisa?
— É... não, eu acho.
O tritão pareceu estranhar, mas não falou mais nada.
— E o seu? — Baekhyun quis saber.
— Kyungsoo — respondeu. — Do reino de Do, nascido e criado nas águas profundas de Marado.  
— Legal. Eu sou de Bucheon. Da... terra mesmo.
Kyungsoo soltou uma risadinha soprada.
— Imaginei que sim — disse em tom irônico, e Baekhyun sentiu-se envergonhado por estar visivelmente nervoso. Ninguém o culpava, né? Estava conversando com um tritão! E um bem esquisitinho, ainda por cima, nada parecido com as Ariels e H2O: Meninas Sereias da vida. — E a idade?
— Vinte e três.
— Anos?
— Sim. — Franziu o cenho. — O que mais seria?
— Meu povo conta a idade em décadas — explicou. — Já que alguns de nós nascem com audição prejudicada, é mais fácil de mostrar nos dedos. Eu, por exemplo, tenho duas. — Kyungsoo pôs dois dedos para fora d’água, e Baekhyun fez o máximo que pôde para não se assustar com as unhas/garras/???? longas e em um degradê que ia desde o tom de sua pele até um preto denso. — Vocês humanos não têm casos assim?
— Temos. — Baekhyun engoliu em seco. — A gente usa linguagem de sinal pra falar com pessoas assim.
— Entendi. Nós também usamos de algo parecido. — Kyungsoo desviou o olhar, parecendo pensativo. — Alimentação?
— É... praticamente tudo, eu acho.
— Tudo? — Kyungsoo arregalou um pouco os olhos. — Tudo mesmo?
— N-não, tipo... tudo que seja... comestível...?
Kyungsoo sorriu minimamente e Baekhyun bufou.
— Ah, não sei explicar — resmungou. — Te trago alguma coisa que eu goste algum dia pra você olhar.
— Tudo bem por mim. — Kyungsoo alargou o sorriso. — Mas então... vocês praticam canibalismo?
— Não! — Baekhyun balançou afoitamente as mãos. — Nada disso!
— Oh — Kyungsoo pareceu surpreso com aquela súbita mudança de faceta. — Ok. E... quanto à pele? Algo de especial?
— Ah, todo mundo é diferente, mas... acho que não — Baekhyun respondeu. Percebeu que Kyungsoo encarava a pequena tatuagem em seu antebraço direito e abriu um sorrisinho, esticando o braço em questão. — Isso aqui não nasceu comigo, eu que fiz. É uma tatuagem.
Kyungsoo sorriu de canto e encarou nos olhos de Baekhyun.
— Oh, eu sei — falou sarcasticamente, e aí nadou para mais próximo da areia, exibindo seus braços e parte de seu torso.
O queixo de Baekhyun foi no chão.
Por toda a parte, desde os ombros até as pontas dos dedos, Kyungsoo era coberto de tatuagens, dos mais variados tipos e traços: Baekhyun identificou flores, peixes, faces humanas e distorcidas, ramos, tribais, figuras geométricas, cores e sombras e mais uma infinidade de desenhos curiosos; Baekhyun identificou, também, algo escrito numa língua estranha abaixo do peito de Kyungsoo.
— O-oh... — Baekhyun balbuciou, chocado e admirado (e definitivamente não babando no corpão do tritão, nãããão, longe dele fazer isso). — M-mas... como?
— As praias impróprias para banho são os principais pontos de parada dos povos de águas profundas — Kyungsoo disse, olhando os desenhos em seu braço. — Já reparou que toda praia assim tem um estúdio de tatuagem perto da orla?
Baekhyun, por instinto, olhou em volta; realmente, no caminho da praia, quase na beira da areia, lembrava de ter visto uma casinha com uma placa pintada à mão que indicava que ali tinha um tatuador em serviço.
— Esses tatuadores sempre fazem amizade com o povo do mar e aceitam nos tatuar em troca de comida e objetos que possam ser decorativos. Nós fazemos desenhos para eles, também, principalmente de criaturas marinhas. E... o trabalho deles é incrível. — Kyungsoo sorriu, perdido nas figuras em seus braços. — Nós das águas profundas somos muito fascinados pelas artes.
Baekhyun sorriu. E pensar que ainda existiam humanos que achavam que tatuagens eram coisa de criminoso...
— Tem algum significado? — Kyungsoo quis saber, apontando para a tatuagenzinha de Baekhyun, que parecia até sem graça perto das luvas de Kyungsoo.
— Tem. — Baekhyun encarou a tatuagem; um lírio do vale, com três flores, em traço minimalista. — É um lírio, que representa o mês que eu nasci, e as três flores são minha mãe, minha vó e meu irmão.
— Bonito — Kyungsoo elogiou com um sorriso. — Tem só essa?
— É... pra nós, meros humanos, essas coisinhas custam caro, sabe... — Coçou a nuca. — E eu não sou lá o maior exemplo de boa vida...
— Trabalha?
— Sim. Mas, tipo... eu sou desenhista de um quadrinho independente.
Kyungsoo franziu as sobrancelhas e meneou a cabeça.
— Aí, né... cê sabe como as coisas são.
— Sou um tritão, Baekhyun. Não faço nem ideia de como as coisas são.
Baekhyun piscou devagar os olhos e percebeu que Kyungsoo sorria. Acabou sorrindo também.
— Ah... é, acho que não — Baek balbuciou, constrangido. — As coisas são que as pessoas não valorizam, sabe, senhor tritão?
— Prossiga, senhor humano.
— A gente tem muitos leitores, temos uma lojinha online também e tal, mas... — Suspirou. — Eu digo que sou desenhista e as pessoas dizem “tá, mas você trabalha com quê?”.
Kyungsoo soltou uma risadinha soprada e negou com a cabeça.
— Estou decepcionado, mas nem um pouco surpreso — falou. — Humanos não parecem muito interessados às coisas ligadas à emoção e às diferenças de percepção. Huh, vai ver é por isso que raramente conseguem nos ver...
O som de passarinhos cantando ecoou pela praia e Kyungsoo levantou a cabeça, observando o céu começar a ser pintado de tons alaranjados, trazendo o sol.
— Temo que seja hora de partir — disse, e aí olhou para Baekhyun. — Te encontro aqui amanhã, sim?
— É... sim, pode ser — respondeu. Ia tomar muito no cu se continuasse se encontrando às madrugadas com o tritão, mas, por alguma razão, não conseguia negar sua proposta; sentia medo das consequências, apesar de sentir interesse, também; era curioso à beça e Kyungsoo parecia ter muita coisa legal a contar.
— Até amanhã, então — Kyungsoo se despediu, acenando enquanto se distanciava no mar.
— Até — respondeu bobamente, balançando a mão num tchauzinho.
O tritão se virou de costas e mergulhou, a majestosa cauda negra aparecendo sobre as águas escuras como se desse um último adeus a Baekhyun antes de partir na escuridão do mar, antes que o sol lhe pegasse, antes que o céu clareasse e alguém o flagrasse. Baekhyun suspirou, sentindo os olhos pesarem de sono; levantou-se, bateu no bumbum para tirar a areia e calçou os chinelos, arrastando-se de volta para casa.
No caminho, olhou bem para o estúdio de tatuagem, ainda fechado, as cortinas soltas e a placa artesanal recolhida. Acabou abrindo um sorriso cúmplice, como se guardasse um segredo. E guardava, afinal.
                                                 *
Ô se guardava.
Acabou que Baekhyun ia quase todas as madrugadas ver Kyungsoo na beira da praia; às vezes ele acabava dormindo demais, tadinho, estava mortinho por causa das faxinas constantes que Minseok insistia em promover no apê e nas saídas doidas que Chanyeol inventava, fora os preparativos para o novo capítulo do quadrinho deles, era desenho e planejamento que não acabava mais! Aí na noite seguinte lá ia o Baek todo nervoso, achando que Kyungsoo ia ficar irritado e/ou comer sua família e/ou matá-lo e/ou ficar muito tristinho... só para ser recepcionado com um sorriso bonito e um “você veio” na voz melodiosa do tritão.
Ah, e pensar que Baekhyun nem gostava de praias...
Cumprindo com o combinado de um dos primeiros encontros, há algumas semanas, Baekhyun providenciou uma marmitinha de sua comida favorita para levar para Kyungsoo: arroz, kimchi, carne de porco e bastante molho de pimenta; pendurada no pulso, uma sacolinha com cerveja e uma barra de chocolate. Uma refeição completa!
Baekhyun se acomodou na areia e olhou em volta, não enxergando nem sinal de Kyungsoo. Esperou pouco tempo até que a água começasse a balançar e a cauda negra de Kyungsoo despontasse aqui e ali, em movimentos ondulares, até que o rosto do tritão emergisse do mar devagarinho, os pontos luminosos em suas bochechas brilhando sob a luz da lua, os cabelos compridos e negros grudados à sua pele dessaturada. Baek sentiu o coração dar um pulinho no peito, um que já era corriqueiro e que ele continuava teimando consigo mesmo que era de medo e nervosismo por estar na presença de uma criatura desconhecida — apesar de que, àquela altura, Baekhyun e Kyungsoo já serem tudo, menos desconhecidos.
— Oi — Baekhyun disse com um sorriso, vendo Kyungsoo se aproximar até que pudesse apoiar os braços tatuados na areia.
— Boa noite, Baekhyun — respondeu. — Como tem passado?
— Bem, eu acho. Muito trabalho, muita coisa pra resolver, muito desenho pra fazer... mas bem.
— É o que você gosta de fazer, afinal, não é? — Sorriu.
— É. — Sorriu também. — Como vai a sua pesquisa?
Kyungsoo ficou quieto um tempo, como se não se lembrasse o real motivo de terem começado a conversar.
— Oh, sim, vai bem. Acredito que eu já tenha bastante informação importante coletada. — Kyungsoo descansou o rosto sobre os braços cruzados na areia molhada. — Mas ainda preciso conferir outras coisas.
— Eu te trouxe um pouco de comida — Baekhyun disse, não querendo entrar no assunto de “terminei a pesquisa, adeus, até nunca mais”, ao menos não por enquanto. Abriu a marmita, atraindo a atenção de Kyungsoo.
— O cheiro é agradável — O tritão elogiou. — A aparência também... apesar de esse negócio branco parecer estranho.
— É o arroz. — Baekhyun riu. — Experimenta um pouquinho. Aqui, ó, eu trouxe uma colher.
Passou o talher para Kyungsoo, que, apesar de um pouco desconfiado, sustentou o corpo sobre o braço e levou a colher até a comida, pegando apenas um tequinho de arroz e kimchi; aí tentou a carne, fez uma cara feia que Baekhyun fingiu não ter achado adorável, tentou mais um pouco do arroz, pegou o molho de pimenta... comeu quase tudo, terminando de comer apenas quando Baek tirou as latinhas de cerveja da sacola.
— Que isso? — Kyungsoo perguntou.
— Cerveja. É uma bebida fermentada com álcool — explicou. — É muito popular aqui no país. Tenta.
Kyungsoo deu uma golada da cerveja e fez uma careta gigantesca, enojado com o gosto e com o cheiro. Baekhyun riu, achando graça da cara do tritão, que não se dispôs nem a um segundo gole, praticamente jogando a lata de volta para o humano. Baek tentou se redimir com o chocolate, e Kyungsoo, ainda que tenha falado “nossa, que doce”, comeu metade da barra. Chocolate é vida, sabe o que dizem.
— A dieta de vocês realmente é... peculiar — Kyungsoo falou por fim enquanto arrastava a língua por entre os dentes pontudos, a fim de tirar os resíduos de alimentos dali. — Comem carne, vegetais, sementes, produtos industrializados... e bebem álcool. Como conseguem beber álcool? Achei que isso diminuísse o uso pleno das faculdades mentais das pessoas.
— Ah, e tira mesmo. Por isso que a gente toma. — Baekhyun deu uma risada. Kyungsoo fez uma cara confusa, mas não perguntou mais nada a respeito.
— Você mesmo que faz sua comida?
— Essa que eu trouxe, não. Comprei num restaurante. Mas eu sei cozinhar alguma coisa.
— Suponho que os alimentos sejam fabricados por terceiros, e aí você troca eles por alguma moeda e faz outras comidas por conta própria.
— Supôs certo. — Baekhyun deu uma risadinha, balançando as pernas em agitação. Kyungsoo começou a mexer a cauda também, por pura influência subconsciente do outro menino, e o barulhinho suave da água se movendo trazia uma sensação de paz e conforto ao recinto.
Foi aí que Baekhyun percebeu que estar na praia não era tão ruim assim. Tá certo que tinha uns grãozinhos de areia querendo invadir o espaço pessoal de Baekhyun, que aquela maresia deixava a pele grudenta, que o cheiro de peixe não era lá o mais agradável — com todo o respeito a Kyungsoo, claro —, que o mar continuava suspeito e que Baek já não aguentava mais comer frutos do mar quase todo santo dia, mas... morar ali, pertinho da praia, com toda aquela atmosfera gostosa de litoral, o sotaque curioso das pessoas e as decorações temáticas, tudo isso era bom; ainda mais que estava com seus melhores amigos, com quem já tinha passado por poucas e boas, e... tinha Kyungsoo ali. Só ali.
O que ia acontecer quando um dos dois tivesse que ir embora? Baekhyun sabia que nem ele nem Kyungsoo iam ficar para sempre na beira daquela praia, uma hora Baek ia ter que voltar para a cidade e Kyungsoo para as águas profundas, mas pensar nisso trazia um aperto absurdo no peito e Baekhyun fingia que não se importava com o assunto. Não ia ser legal ficar sem Kyungsoo, sem falar com Kyungsoo, sem ouvir aquela voz grossa, aquelas palavras rebuscadas e arrastadas, sem ver o rosto ossudo pontilhado de brilho e o corpo repleto de tatuagens, sem ver a cauda de escamas negras e densas e de barbatanas bonitas balançar na água, sem olhar nos olhos negros e intensos, nem nos lábios carnudos e róseos...
O coração deu um pulinho. Controle-se, Baekhyun!
Certa noite, falaram de família.  
— E qual seria o conceito de família para vocês?
— Bom, isso varia de pessoa pra pessoa. — Baekhyun riu irônico, pensando sobre todas as definições ridículas que via por aí. — Pra mim, família é qualquer pessoa presente no seu dia-a-dia que te ame e você a ame também.
— E para os outros? — Kyungsoo quis saber, balançando a água distraidamente com os dedos.
— Pai, mãe e filhos.
— Oh? — Kyungsoo desviou a atenção para Baekhyun. — E quanto às famílias de mães e filhos? Ou de casais sem filhos?
— Não existem. Vão contra a família tradicional e toda essa merda conservadora que tentam enfiar na nossa goela. — Baekhyun rodou os olhos. — Se fosse assim, eu teria deixado de ter família há muito tempo... — murmurou, os olhinhos perdidos na imensidão do mar.
— Me lembro bem de que nenhuma das flores em sua tatuagem é de seu pai — Kyungsoo disse, apontando para o desenho no antebraço do outro. — Pode... contar o que aconteceu?
Baekhyun respirou fundo, sentindo uma chama de raiva se alastrar por seu interior e queimar-lhe os olhos e as bochechas; só de lembrar daquele traste...
— Ele traiu minha mãe quando eu tinha sete anos. Eles brigaram, ele catou as coisas e saiu de casa. — Baekhyun sentiu os olhos ficarem úmidos; ah, não podia contar essa história, sempre transbordava de ódio!
— Saiu e não voltou, presumo eu. — Kyungsoo fez uma careta. Baekhyun afirmou com a cabeça e torceu o nariz.
— Minha mãe tava grávida, cara! Como ele pôde fazer isso com ela? — Levantou a voz. Kyungsoo arregalou um pouco os olhos e moveu-se algumas caudas para trás. — Com a gente? Comigo?
Baekhyun meneou a cabeça e arrastou a mão contra o rosto, limpando as lágrimas que despencavam contra a sua vontade, resmungando um pedido de desculpas. Kyungsoo, porém, não parecia ofendido nem abalado, apesar de surpreso; oh, os humanos podiam ser mais cruéis do que ele tinha pensado!
— ...O conceito de família no mar é bem parecido com o seu conceito próprio — falou, tentando mudar o rumo do assunto. — Para nós, família são aqueles que te abrigam e te oferecem ajuda e vice-versa, aqueles que te dão amor e são retribuídos. Nós... espalhamos pelo oceano inteiro quem são os traidores, alertando para que os honestos não se aproximem deles.
— Parece legal. — Baekhyun fungou.
— E é. — Kyungsoo sorriu. — Você devia vir morar comigo no mar — brincou.
— Seria meu sonho? — Baekhyun entrou na brincadeira, rindo pequeno.
Kyungsoo abriu um sorriso malicioso e, num movimento rápido, pegou nos punhos de Baekhyun e puxou-o com tudo para a água, por pouco não fazendo o humano bater o queixo na areia. Baekhyun se espantou e tentou escapar do tritão, mas este era muito — muito mesmo — mais forte e não viu problemas ao arrastar Baekhyun para o mar, puxando-o mais para o fundo, fazendo a água bater em ambos os peitos.
— S-seu... idiota! Cuzão! O que acha que tá fazendo? — Baekhyun xingou, esquecendo-se momentaneamente de que ainda estava falando com um tritão e de que ainda podia estar correndo riscos sérios.
Kyungsoo, porém, gargalhou como nunca tinha gargalhado antes, o som reverberando por Baekhyun como uma doce música de verão, invadindo seus ouvidos, sua mente e seu coração, fazendo seu estômago revirar e suas pernas bambearem debaixo d’água. Os dentes de Kyungsoo eram... pontiagudos, é, e o rosto dele ainda estava acinzentado e brilhando em alguns pontos, e o cabelo dele ainda era negro e longo, flutuando um pouco antes de sumir no mar, e, bom, Kyungsoo ainda era um tritão, mas...
— Vem para o mar comigo, Baekhyun. — Kyungsoo sorriu largo, pegando nas mãos de Baekhyun, seus polegares de unhas compridas lhe acariciando as costas das palmas. — Vem, Baekhyun. Vem comigo.
Ah, Baekhyun se sentiu hipnotizado... iria para qualquer lugar com Kyungsoo, para qualquer lugar que ele dissesse, para qualquer lugar no país, no continente, no mundo, no universo... era essa a hipnose que Baekhyun tanto via nos contos de sereias? Achou que era por canto, mas, ah, a voz de Kyungsoo era tão aveludada e gostosa, apostava todos os torrões fodidos no bolso que Kyungsoo devia ser um cantor de garganta cheia...
— Eu vou — Baekhyun sussurrou, os olhos perdidos no rosto de Kyungsoo, tão lindo sob a luz do luar. — Eu vou, Kyungsoo. Eu vou. Eu vou. Eu vou.
Os lábios de Kyungsoo estavam gelados quando se encostaram aos de Baekhyun pela primeira vez, mas, lá pela terceira ou quarta, já tinham se aquecido, assim como todo o resto do corpo de ambos. As águas balançaram e Baekhyun se deixou levar por aquela loucura toda de estar aos beijos com um tritão, se deixou levar pela maré, se deixou levar pela lua reluzente sobre o mar, se deixou levar por Kyungsoo e seus beijos salgados e seus segredos sussurrados e seus encantos marinhos.
Se deixou levar por Kyungsoo. E Kyungsoo o levou até o amanhecer.
                                                                                                                                                                                  *
— Tá bom, Baekhyun, desembucha. — Jongdae se jogou no sofá, uma garrafinha de cerveja presa na destra. — Quem é o sortudo?
— Quê? — Baekhyun franziu o cenho, dando um longo bocejo em seguida. Ai, ai, não tinha dormido nadinha noite passada, Kyungsoo ficou falando das diferenças respiratórias entre o povo do mar e os humanos até altas horas...
— Você tem saído toda noite que eu sei — Jongdae afirmou. — Já te peguei no flagra algumas vezes, mocinho. Fora que essas suas olheiras e esses seus cochilos aleatórios durante o dia já te denunciam o suficiente.
Baekhyun suspirou. Kyungsoo nunca disse que era para manter sua identidade em segredo, mas Baek sentia que era o melhor a se fazer — até porque, convenhamos, quem é que acreditaria num “ah, fiz um amigo tritão que me intimou a participar de uma pesquisa, top, né?”?
Baekhyun riu irônico. “Amigo”. Amigos não se beijam do jeito que ele e Kyungsoo andavam se beijando recentemente, quase sempre se despediam com um beijo demorado de boca com boca e duas linguinhas no meio — e Baek jura de pé junto que até já sentiu a mãozinha cheia de garras de Kyungsoo passear pela sua bunda por cima da bermuda uma vez que o tritão inventou de puxar Baekhyun para o mar de novo. Mas também, o que eles eram? Namorados é que não eram. Baekhyun não sabia se tinha sentimento da parte de Kyungsoo ou se tudo aquilo era só uma forma de hipnose para Baek não mandar o tritão à merda e desistir da pesquisa, e, bom, Baekhyun também não sabia ao certo quais eram os sentimentos da parte dele; Kyungsoo era interessante e gostoso — muitas crises existenciais envolvidas nesta última parte, onde estava com a cabeça achando um cara metade peixe gostoso sem ser no sentido de comer... quer dizer... yah! — e beijava bem para caramba, mas... e aí?
— E essas suas viajadas denunciam que tem alguém na área. — Jongdae deu uma risadinha e Baekhyun despertou de volta à realidade. — Me conta, vai. Eu sempre te falo tudo.
Baekhyun sorriu fraco e bagunçou os cabelinhos escuros e ressecados do mar. Jongdae falou que dia desses pegou Chanyeol de jeito, prensou o menino na parede e só não chamou de lagartixa porque ele se derreteu todinho, parecia mais uma gelatina do que qualquer coisa sólida — a não ser no meio das calças, risos. Jongdae deu até os detalhes sórdidos que Baek não pediu, falou que deitou o Chanyeol na cama dela e foi tirando as roupas todas, passou um montão de lubrificante, juntou os membros duros dos dois na mão e bateu uma punhetinha marota; ousou até a dizer que Chanyeol gemeu tão alto que acordou o Junmyeon, e Baekhyun não soube dizer se estava arrependido ou não de ter saído de casa; ouvir Chanyeol gemendo era a última coisa que Baek queria fazer na vida, por outro lado, deve ter sido engraçada à beça a cena de uma Jongdae e um Chanyeol pelados levando bronca de um Junmyeon sonolento.
— Tá, Dae, promete que guarda segredo? — Baek disse por fim. Jongdae confirmou avidamente com a cabeça. — Tem alguém sim.
Jongdae bateu palminhas animadas e deu pulinhos no sofá.
— Quem é?
— O nome dele é Kyungsoo.
— Como ele é? Onde mora? O que faz da vida? Quantos anos? Conta tudo, Baek!
Baekhyun riu nasalado.
— Ele é lindo, todo tatuado, tem cabelo comprido e dois olhões bem grandes — respondeu. Jongdae mordiscou o lábio inferior na parte do “cabelo comprido”. — Mora... na praia, tá fazendo uma pesquisa sobre o comportamento humano, tem... — Fez uma pausa. Kyungsoo contava a idade em décadas, né? Quantos dedinhos ele mostrou pro Baek mesmo? — Dois... vinte anos.
— Como você conheceu ele?
— A gente se encontrou na praia.
Jongdae balançou a cabeça, dando mais uma golada de sua cerveja.
— Vocês já se beijaram? — quis saber, dando um sorrisinho malicioso. Baekhyun acabou sorrindo bobo.
— Já... — murmurou. Jongdae deu gritinhos empolgados e esperneou, fazendo Baek ficar com um tequinho só de vergonha; sentia-se uma criança falando do primeiro crush à mãe.
— E já se pegaram gostoso? — Jongdae sorriu de canto.
— Nããão, isso não! — Baekhyun riu, pensando “nem tem como a gente fazer isso... eu acho...”. Percebeu que nunca tinha falado sobre essas coisas com Kyungsoo, apesar de ser dessa forma que novos humanos eram feitos; será que o tritão tinha esquecido dessa parte ou simplesmente não sabia que ela existia? Precisava se lembrar de botar o assunto em pauta uma madrugada dessas.
— Ai, e tá esperando o quê? Não sabe se gosta mesmo dele?
— ...É... por aí.
— Ah, Baek, posso ser sincera? — Pousou uma mão sobre o ombro largo do amigo. — Se você tá com dúvida se tem ou não sentimento, é porque provavelmente tem alguma coisinha, por menorzinha que seja. E, olha, pra te fazer sair toda santa noite e ir pra praia... — Deu uma risadinha. — Não é qualquer um que consegue.
— Você acha?
— Tenho certeza. Juro em nome desse meu pintinho que aprendi a gostar.
Os dois riram em conjunto. Baekhyun abraçou Jongdae apertado e deu um beijo na bochecha dela, agradecendo baixinho pela conversa e pelos conselhos. Aí desembestaram a falar de Chanyeol, que estava demorando demais para voltar com o almoço, e de Junmyeon e Minseok, que tinham sumido há duas horas e até agora nada.
À noitinha, de bucho vazio e um montão de storyboards espalhados pela sala, Chanyeol se espreguiçou e disse estar precisando de um bom banho. Jongdae se levantou e disse que ia tomar banho também, e aí gerou uma discussão de “mas eu que vou agora” “vou contigo, benzinho” “m-mas... vai gastar m-muita água” “por que gastaria? Vai gastar menos água do que se a gente tomar banho separado. Que foi, tá com medo de eu te foder, é?”, um Chanyeol inteirinho vermelho e um coro de argh, arranjem um quarto! vindo dos três meninos restantes. Jongdae e Chanyeol sumiram no banheiro, Minseok disse que ia preparar algo para o jantar e Junmyeon falou que ia aproveitar a pausa para conferir se tinham algum pedido pendente na lojinha online.
Baekhyun olhou no relógio e constatou que estava cedo demais para ir ver Kyungsoo. Se arrastou até o sofá, ajeitou a cabeça sobre o travesseiro e murmurou um “me acorda quando o jantar estiver pronto” para Junmyeon, que afirmou com a voz e a cabeça. Baek fechou os olhos e adormeceu, tendo deliciosos sonhos com o mar e um certo tritão.
*
Kyungsoo balançava preguiçosamente a cauda no mar, distraído com o movimento da água, perdido em pensamentos; será que Baekhyun ia aparecer? Será que ia demorar? Será que ia desmaiar de sono e só acordar quando o sol desse as caras?
Suas dúvidas foram sanadas quando Baekhyun surgiu na areia, sorrindo largo e acenando. Kyungsoo sorriu de volta e nadou para mais perto, observando o humano se sentar de pernas cruzadas.
— Você veio — Kyungsoo disse.
— Vim — Baek respondeu, todo bobo. — Qual o assunto de hoje?
— Não sei. Me diga você. — Kyungsoo apoiou o rosto nos braços sobre a areia, os cabelos cobrindo suas tatuagens nas costas e os dentinhos pontiagudos à mostra num sorriso. — Fala sobre alguma coisa que a gente ainda não conversou.
— Eu tô pra te falar uma coisa faz um tempo... — Baekhyun admitiu, desviando o olhar.
— E o que te impediu?
— Sei lá. — Deu de ombros. — Não sei como você vai reagir a esse assunto.
— Tente a sorte.
— Como... é... — Baekhyun sentiu o rosto esquentar. — Como que o povo do mar se relaciona?
— Como assim? — Kyungsoo uniu as sobrancelhas grossas.
— Vocês namoram... né?
— Ah... — Kyungsoo arregalou um pouco os olhos, ajeitando a postura. Pigarreou. — Nós... não temos genitais ou algo assim.
Baekhyun arqueou uma sobrancelha.
— Quê? — Abriu um sorriso. — Não tô falando disso, tô falando de namorar mesmo! De ter um relacionamento romântico! — Baekhyun gargalhou quando as bochechas do tritão ficaram avermelhadas. Kyungsoo rodou os olhos, virando o rosto. — Mas, já que cê tocou no assunto... como que vocês transam, hein?
Kyungsoo hesitou um pouco, visivelmente constrangido com o assunto. Baekhyun sorriu, achando graça da postura tímida dele; Kyungsoo parecia bem empolgado quando estavam se beijando, que história era essa de ficar desconfortável para falar sobre sexo?
— Nós... trocamos energia — Kyungsoo falou e Baekhyun ficou bem confuso.
— Como assim?
— Eu não sei explicar bem... — Kyungsoo olhou em volta, como se procurasse formas de tornar sua explicação mais fácil. — Nós nos beijamos, nos tocamos, nos envolvemos um no outro e... sei lá, vai acontecendo.
Baekhyun franziu o cenho. Que papo de doido.
— E aí a transa é toda na energia?
— É, dá para dizer que sim.
Baekhyun sentiu vontade de rir. Que papo broxante. E doido.
— Algum dia... se você quiser... — Kyungsoo começou, mas deixou o resto no ar. Baekhyun ficou boquiaberto e o coração acelerou feito agulhão-vela; Kyungsoo estava sugerindo... que... — Te mostro como a gente faz.
É, ele estava sugerindo mesmo.
— A-ah, c-claro, p-pode ser — Baekhyun balbuciou, nervoso e surpreso. O sexo do povo do mar parecia chato para cacete, por que tinha ficado tão mexido com a ideia?
Riu irônico em sua mente. Porque quem estava sugerindo era Kyungsoo. Óbvio. Até quando ia negar para si mesmo que estava caidinho pelo tritão? Baekhyun não era de ferro.
— E vocês? — Kyungsoo inquiriu.
— Hm?
— Como vocês...
— Como que a gente fode? — Baekhyun riu. Kyungsoo confirmou com a cabeça.
— Falar assim é tão rude...
— Larga de ser fresco. — Fez língua. — Bom, tem várias formas de foder. Depende de quem tá fodendo.
— Como assim?
— Tipo... tem as pessoas com pênis e as pessoas com vagina.
— ...Prossiga.
— Aí, se tem duas pessoas com vagina transando, por exemplo, elas vão transar diferente de duas pessoas com pênis.
Kyungsoo franziu o cenho.
— Continua.
— Mas tudo tem mais ou menos as mesmas práticas. — Baekhyun pensou. — Dá de estimular com as mãos, a boca, a própria parte íntima... e até com objetos.
— O-objetos?
— É. Vibradores, pênis de borracha, masturbadores... — listou. — Fora os apetrechos extras.
— Que tipo de apetrechos?
— Pra quem gosta de uma coisa mais pesada. Chicotes, algemas, palmatórias, facas, fitas adesivas, correntes...
A cara de Kyungsoo era hilária. Baekhyun não segurou as risadas e Kyungsoo piscou os olhos, atordoado.
— Vocês... são bem criativos mesmo — Kyungsoo disse, perdido no assunto. — Mas cada um é diferente.
— Cada um é diferente.
— Será que tem alguma coisa nessa raça que seja unânime? — Kyungsoo suspirou. — E você?
— Eu o quê?
— Como... você gosta?
Oh. Território perigoso, esse de falar sobre seus gostos sexuais. Mas Baekhyun tinha tomado umazinhas com Jongdae mais cedo, estava um pouco altinho, e... honestamente, estava babando por todos os buracos em Kyungsoo, que mal faria deixar o tritão saber de seus desejos? Talvez Baek até mandasse um “recentemente descobri que tenho tesão em homens tatuados de cabelo comprido”, vai que Kyungsoo resolve escorregar aquela mãozinha atrevida dentro da bermuda dele.
— Eu gosto de homens, e até hoje todos os caras que peguei tinham pênis — Baekhyun começou. — Eu... não gosto de nada desses apetrechos extras que falei, não sou muito adepto do sadomasoquismo. Se bem que teve uma vez que...
Kyungsoo estava prestando atenção em tudo. Baekhyun pigarreou e continuou:
— Teve uma vez que saí com um cara, a gente jantou e depois fomos pra casa dele. Cheguei lá e o cara me veio com um par de algemas e pediu pra eu algemar ele na cama, me chamou de mestre e tudo.
Silêncio.
— E aí? — Kyungsoo quis saber.
— E aí a gente transou — Baekhyun respondeu, como se fosse óbvio.
— Você algemou ele?
— Sim. Mas foi só uma vez.
— Uhum. — Kyungsoo apoiou o rosto nas mãos. — Continua.
— C-como assim continua? Não vou te contar os detalhes! — Baekhyun sentiu-se ficar quente.
— Por que não?
— Porque... é íntimo! Privacidade é bom, tá legal?
Kyungsoo sorriu minimamente e Baekhyun bufou.
— Eu chupei o pau dele, preparei o cu dele com três dedos e depois meti o meu pau no cu dele, satisfeito?
— Preparou? — Kyungsoo arqueou uma sobrancelha.
— É, tem que dar uma alargada primeiro, senão não entra.
— Agora entendi por que vocês chamam de comer, até preparo vocês fazem — Kyungsoo brincou e Baekhyun se viu obrigado a rir. — E um pênis e uma vagina?
— O pênis entra na vagina e é isso aí. — Deu de ombros. — Ah, mas se fizer sem proteção e sem tomar remédio, pode engravidar.
— Oh, é daí que os bebês vêm, então. Eu estava pra te perguntar isso há tempos.
— E o que te impediu? — imitou o tritão. Kyungsoo sorriu.
— Os nossos papos sempre ficavam bons demais e eu ficava sentido de interromper — respondeu. Baekhyun ficou molinho. — Bom, eu só precisava saber de que forma eles são feitos, mas o resto da reprodução humana não é de meu interesse. Mas sinta-se livre pra compartilhar mais experiências.
— Você também. Pode falar mais desse troço de energia aí. — Sorriu. Kyungsoo desviou o olhar e encolheu um pouco os ombros. — Ou então me diz de onde vêm os bebês do mar.
— Nós nos dividimos entre aqueles que podem carregar bebês e aqueles que não podem. Os que podem são chamados sereias, e os que não podem, tritões. Precisa de um de cada para fazer bebês. — Kyungsoo começou a mexer a cauda na água, pensativo. — Quando nós... fazemos sexo, os tritões liberam um líquido viscoso das escamas, e, pela proximidade, as sereias absorvem esse líquido também pelas escamas. As sereias têm o poder de transformar esse líquido absorvido em novos seres do mar, e, caso elas optem por isso, desenvolvem o óvulo em seu interior, cuidando e dando nutrientes, e, quando sentirem que estão prontas, liberam o óvulo no mar e esperam os serzinhos nascerem.
— Parecido com o jeito que a gente faz.
— A gente não algema nossos parceiros em corais, se é o que está insinuando. — Kyungsoo sorriu para Baekhyun, que deu uma risadinha.
— Como vocês sabem que tão excitados? — perguntou. Já não estava mais com vergonha do assunto, ia sanar todas as dúvidas pervertidas que rondavam sua cabeça há um tempão e não estava nem aí se parecia um safado do inferno.
— Bom... nós ficamos eufóricos, quentes, inquietos e... por mais irônico que possa parecer, molhados.
Baekhyun se viu obrigado a gargalhar.
— Vocês já não são molhados naturalmente?
— Sim... não sei, é difícil explicar. — Kyungsoo deixou o sorriso morrer. — É mais fácil... mostrar.
Baekhyun paralisou.
— M-mostrar? — murmurou.
— É. — Kyungsoo hesitou um pouco antes de virar o corpo na direção de Baekhyun, aproximando-se mais um pouco dele. — Mostrar.
Baekhyun ficou inebriado pelos olhos intensos do tritão e pela boca avermelhada dele, tão mais convidativa aquela noite... Kyungsoo foi chegando para trás devagarinho e Baekhyun foi o seguindo sem nem perceber, entrando no mar com ele, hipnotizado pelo rosto bonito e pelo olhar profundo dele, profundo como as águas que o levariam embora, profundo como o sentimento que crescia entre os dois.
Quando se deu conta, Baekhyun já estava com água até o peito e duas mãos de tritão em seus quadris, os narizes se roçando e as respirações mesclando quente e gelado. Kyungsoo deu uma mordidinha no lábio inferior de Baekhyun, deixando uma marquinha de seus dentes pontudos, e Baek ofegou audivelmente antes de puxá-lo para um beijo afoito e ardente e... apaixonado.
— Quer tirar a roupa? — Kyungsoo perguntou entre um beijo e outro. — Acho que pra você... é melhor sem roupa, né?
Baekhyun tirou a camiseta e a bermuda encharcadas com certa dificuldade, jogando-as na direção da areia e torcendo por tudo que fosse mais sagrado que elas não sumissem misteriosamente, a última coisa que Baekhyun precisava era ter que voltar pelado para casa.
E a primeira coisa que Baekhyun precisava era ter os lábios de Kyungsoo colados de volta nos seus.
— É fácil falar quando eu tô excitado — Baekhyun murmurou. — O pau levanta e fica duro. Literalmente pula na minha cara — riu, e Kyungsoo riu também.
— Posso tocar? — quis saber. Baekhyun não era nem louco de negar. — Baek, eu... nunca fiz isso com um humano, apesar de saber como funciona... me avisa se eu fizer errado, tá?
— Eu que o diga. — Baekhyun sorriu. — Nem sabia que tritões existiam antes de te encontrar. Cê vai ter que me guiar.
— Pode deixar.
Kyungsoo arrastou os dedos sobre o membro de Baekhyun e o humano ofegou baixinho.
— Não... quer tirar? — Kyungsoo enganchou um dedo no elástico da cueca de Baekhyun. Baek tinha medo do que podia ter na água, mas... se estava no mar era pra se molhar, né? E ficar molhado era o que Baekhyun mais queria no momento, risos.
— Tira pra mim — sussurrou, fazendo Kyungsoo arregalar um pouco os olhos, envergonhado. Kyungsoo arrastou o tecido pelas pernas de Baekhyun, tendo que mergulhar um pouquinho para conseguir tirar a roupa dos pés dele, emergindo com bochechas vermelhas e um murmurinho de “levanta mesmo, né?”. Baekhyun achou graça.
Kyungsoo puxou Baekhyun para outro beijão de língua e Baekhyun gemeu quando seu membro roçou naquela partezinha do baixo ventre de Kyungsoo em que a pele ficava mais fina para dar lugar às escamas; Kyungsoo grunhiu também, instintivamente arrastando as garras pelas costas de Baekhyun, e Baek sentiu um ardor eletrizar sua derme. Ah, isso de fazer sexo com um tritão no mar ia ser interessante...
— Baek... vamos mais pro fundo — Kyungsoo disse. — Aqui é muito exposto... alguém pode ouvir a gente.
Oh, então a preocupação de Kyungsoo não era ser visto, mas sim ouvido. Esse tal sexo de energia era poderoso assim?
Nadaram mais para o fundo, onde Baekhyun não dava mais pé, e o humano ficou visivelmente nervoso com isso. Kyungsoo assegurou de que nada daria errado e que ele não ia deixar que nada acontecesse com Baekhyun, até prometeu levá-lo de volta para a praia.
— Confia em mim, Baek — murmurinhou no ouvido do outro. — Você não vai se arrepender de ter vindo comigo.
Baekhyun deu um sorrisinho.
Kyungsoo escorregou as mãos pelo corpo do humano, sentindo a pele dele, tocando-o devagarinho como se o estudasse; fixou as palmas nos quadris de Baekhyun e puxou-o para mais perto, colando os corpos e os lábios, fazendo Baek grunhir baixinho no meio do beijo sedento que se estendeu em seguida. Kyungsoo pousou a canhota sobre o peito de Baekhyun, as pulsações fortes do coração dele ficando evidentes sob sua palma. Pegou na canhota de Baekhyun, pondo-a também sobre seu coração, fazendo com que o humano sentisse seu coração bater.
— Olha nos meus olhos, Baek — sussurrou.
Baekhyun, um tantinho envergonhado, desviou o olhar uma ou duas vezes antes de conseguir ficar com as orbes fixas nos olhos intensos do tritão. O sorrisinho encabulado desfaleceu aos poucos, dando lugar a uma expressão concentrada e envolvida, plenamente entregue ao tritão, assim como este demonstrava estar entregue ao humano. Baekhyun se arrepiou inteiro, sentindo algo diferente correr por baixo de sua pele, como uma corrente elétrica que despertava todos os seus sentidos e aflorava seus desejos, e percebeu que provavelmente era a tal troca de energia que Kyungsoo mencionara.
— Respira devagar, com calma — Kyungsoo disse baixinho. Baekhyun nem tinha notado que estava respirando pesado; inspirou profundamente, expirando sem demora. — Pressa pra quê? Temos a noite toda.
— Não temos não — respondeu molengamente. — Quando o sol nascer...
— Temos até o amanhecer, então. — Kyungsoo riu soprado. — Ainda assim é tempo o suficiente. Não se apresse, Baekhyun.
Kyungsoo moveu as duas mãos por baixo da água, abaixando-as e então subindo-as devagar, fazendo pequenas ondas submersas colidirem com o corpo de Baekhyun. Kyungsoo repetiu o movimento algumas vezes, alternando entre lento e rápido, fazendo Baekhyun sacolejar levemente com as fracas empurradas do mar e com as sensações que serpenteavam por seus poros; Kyungsoo não estava apenas fazendo gestos aleatórios, estava trocando energia. Baekhyun fechou os olhos e se entregou às sensações; deixou o corpo se eriçar com os toques da água, energizando-se por inteiro, sentindo a presença de Kyungsoo não só de corpo, mas também de alma. Estava tão tomado de emoções, tão submerso em sentimentos e toques, que Baekhyun nem percebeu os gemidos escaparem livremente de sua boca, sem medo nem insegurança.
Kyungsoo sentiu que Baekhyun já estava bastante envolvido e resolveu focar a energia lá onde o humano gostava mais. O tritão passou a mover as mãos contínuas vezes ao redor do pênis de Baekhyun, ora da barriga até o membro, ora das pernas até ele, como se empurrasse as sensações para ali. Baekhyun tombou a cabeça para trás e gemeu alto, os olhos revirados e o rosto plenamente relaxado, a eletricidade do ato borbulhando por seu corpo inteiro, desabrochando em cada um de seus átomos, como se Baekhyun estivesse desenvolvendo os cinco sentidos pela primeira vez na vida. Kyungsoo estava maravilhado; os gemidos de Baekhyun eram lindos, definitivamente seriam sua nova música preferida, ecoavam libertos pela noite como o canto hipnotizante das sereias.
Kyungsoo pausou um pouco os estímulos no pênis de Baekhyun para controlar a respiração dele, trazendo ambas as mãos para cima e sorrindo ao ver o humano inspirar, abaixando-as em seguida para que ele expirasse. Baekhyun entreabriu os olhos e sorriu pequeno.
— Respira com calma, Baek — murmurou, sorrindo ao ganhar um aceno de confirmação do outro. — Tá gostando?
— Isso... é... surreal, Kyungsoo — balbuciou rouco, arrastando as mãos pelo pescoço do tritão, agarrando-se às costas dele. — Posso ficar assim, né?
— Pode.
Kyungsoo tocou de levinho os ombros largos de Baekhyun, escorregando os dedos com cuidado por toda a coluna dele, subindo de volta em seguida. Repetiu, com um pouco mais de pressão de seus dígitos sobre a derme arrepiada, e então tilintou a bunda de Baekhyun suavemente. Baek grunhiu baixinho e relaxou visivelmente, todo a mercê do tritão; se Kyungsoo não estivesse tão centrado na energia e nas emoções do momento, teria rido sozinho por ser tão fácil fazer um humano amolecer em seus braços, Kyungsoo poderia levar Baekhyun para o fundo do mar a qualquer momento — e o fato de Baek confiar que o tritão não faria isso dizia bastante sobre seus sentimentos por ele.
Kyungsoo subiu as mãos pelo abdômen de Baekhyun, sentindo-o se retesar ao toque, deslizando os dedos por seu peito e então de volta para seus ombros; desceu pelos braços enrolados em seu próprio pescoço, percebeu os pelos eriçados e sorriu. Trouxe ambas as palmas para o rosto de Baekhyun, admirando-o, unindo os dois olhares turvos de tesão, deixando que eles se encarassem por um tempo e trocassem farpas energizadas, acabando por roçarem os narizes e sorrirem minimamente. Beijaram-se, lenta e sensualmente, sem afobação nem impaciência, tomando o tempo que precisassem para arrastar os lábios e enrolar as línguas.
— Você sente? — Kyungsoo perguntou num sussurro quase inaudível. — Sente a energia?
— Sinto — respondeu em mesmo tom, inebriado.
— Baek, como que eu... te estimulo? — Kyungsoo tentou não se distrair com o embaraço de perguntar aquilo.
— Põe a mão.
Kyungsoo tateou a água cegamente, alcançando o membro ereto de Baekhyun. Tilintou os dedos, perdido, e aí tentou dar uma apertadinha. Baekhyun gemeu arrastado, mas Kyungsoo sabia que aquele não era um gemido de puro prazer.
— Enrola os dedos nele... e move pra cima e pra baixo — Baek murmurinhou, a respiração se atrapalhando um pouco. Kyungsoo subiu a canhota pelo peito dele, fazendo-o inspirar, e então desceu, expirando. Baekhyun riu soprado. — Como você faz isso?
— Mágica — brincou. Baek sorriu largo.
Kyungsoo pôs a destra sobre o membro de Baekhyun novamente, envolvendo-o com os dedos e começando a movimentar o punho. Sussurrou um “assim?”, o qual Baekhyun respondeu “mais rápido”, e então um gemido apreciativo e longo indicando que Kyungsoo estava no caminho certo.
Baekhyun estava tão envolvido naquela bolha de sensações que nem conseguia sentir ardor ou incômodo pelo fato de estar sendo masturbado na água salgada do mar. Pelo contrário: era como se tudo contribuísse para intensificar o seu prazer; a água balançando, os toques de Kyungsoo, os gemidos roucos do tritão, a energia dançando entre os dois, a brisa fria da madrugada, a lua iluminando-os parcialmente, o atrito do sal com sua pele, o raspar ocasional das garras de Kyungsoo em sua glande coberta de pré-gozo...
Kyungsoo notou que as respirações de ambos estavam mais erráticas, expirando quando Baekhyun inspirava e vice-versa; estavam sincronizados, atrelados, cobertos de desejo e paixão, algemados de corpo e alma. Kyungsoo se empenhou na masturbação, sentindo suas escamas se arrepiarem e liberarem o líquido viscoso de sua excitação, indicando que ele também estava próximo ao orgasmo. Foram necessários apenas mais alguns toques e beijos demorados para que ambos gozassem explosivamente, os gemidos extasiados ecoando pela vastidão noturna. Kyungsoo nunca tinha chegado ao ápice apenas por dar prazer ao parceiro, e Baekhyun nunca tinha tido um orgasmo tão longo e intenso e fodidamente bom.
Baekhyun se abraçou todo em Kyungsoo e os dois soltaram risadinhas sonolentas, conversando mil e uma coisas com aqueles risos trocados.
— Vem, vou te levar de volta — Kyungsoo disse, vendo que o sol já começava a dar as caras.
Deixou um Baekhyun pelado e cheio de marquinhas de garras pelo torso na areia, achando graça da cara de plena alegria e paz dele. Deixou um beijo casto nos lábios dele e mergulhou, apartando-se do humano abobalhado que vestia suas roupas molengamente.
Baekhyun cambaleou de volta para casa, com uma carinha até cômica de quem tinha acabado de ter o orgasmo de sua vida — e ele tinha mesmo. No caminho, acabou tropeçando sem querer no pé de um feirante que começava a montar as coisas para a feirinha semanal que ocorria por ali; o senhor, com todo o seu sotaque regional, berrou um:
— Ô, seu boca-mole! Tais tolo, tais!?
Baekhyun riu sozinho. Sim, ele estava tolo. Completamente e perdidamente tolo.
                                                                                                                                                                                        * 
— Kyungsoo...
— Hm?
Baekhyun respirou fundo, ponderando se devia abordar aquele assunto ou não. Tinha medo da resposta, medo do que Kyungsoo poderia dizer, medo do futuro, medo do inevitável.
— O que... o que vai acontecer quando você terminar sua pesquisa? — indagou num fio de voz, quase inaudível. Kyungsoo hesitou.
— ...Eu vou passar por um treinamento, e, se for aprovado, entro pra guarda das águas profundas.
Baekhyun suspirou, brincando com os dedos, não ousando olhar para o tritão.
— Você vai embora? — Baek perguntou, soando mais triste do que ele planejou soar. A verdade era que doía pensar em viver sem se encontrar com Kyungsoo de madrugada, sem ir dormir pensando nele, na voz dele, no corpo tatuado dele, nos cabelos compridos, no rosto pontilhado de luz, na cauda grandiosa, no sorriso largo...
Kyungsoo ergueu os olhos, encarando Baekhyun. Os olhares se encontraram e os dois suspiraram.
— Eu vou ter que ficar mais um tempo aqui, a história tá longe de terminar, acho que a gente vai ter até que estender pra mais uns capítulos — Baekhyun disse. — Mas... e você?
— Eu vou ter que passar um tempo fora — respondeu após um tempo pensando. Baekhyun olhava distraidamente para a areia, sem o desejo de olhar o tritão contar que ia abandoná-lo na beira da praia. — Não sei quanto tempo dá em contagem de humano... quantos dias tem a semana de vocês?
— Sete.
— Então... uma semana e cinco dias.
— E depois?
— E depois... — Kyungsoo se virou de costas, encarando a lua; ela estava cheia, majestosa, alva como a pele de Kyungsoo, reinando sobre o céu negro pincelado de estrelas, escuro como os cabelos e olhos de Kyungsoo, ponteado de brilho como o rosto de Kyungsoo. — Eu entro pra guarda.
Baekhyun sentiu os olhos arderem; é, era isso então, né?
— Mas eu vou ter dias de folga. Não vou ficar o resto da minha vida na guarda, Baek. — Kyungsoo tornou o rosto na direção de Baekhyun, observando-o com cuidado, preocupado com a postura dele. Entendia-o, porém; Kyungsoo, também, havia se apegado mais do que deveria e não queria se despedir tão cedo do humano. Num resvalar de coragem, sussurrou baixo: — Eu venho te ver, Baek.
Baekhyun ergueu a coluna, sem querer deixando que as lágrimas deslizassem preguiçosas por suas bochechas, num rastro de tristeza e melancolia que não era para estar ali. Hesitou, os olhos tremulantes vendo o quanto Kyungsoo estava sendo sincero, o quão vulnerável estavam um diante do outro, e seu coração apertou como nunca antes.
— Vem mesmo? — murmurou, embora soubesse que ia ter esperanças de reencontrar o tritão mesmo que Kyungsoo dissesse que não, virasse as costas e fosse embora para sempre.
— Claro que venho — afirmou, e Baekhyun se permitiu um pouco de felicidade. Kyungsoo balançou a cabeça. — Claro que venho — repetiu.
Baekhyun sorriu grande. Claro que ele vinha.
                                                                                                                                                                                         *
Fazia uma semana que Kyungsoo tinha se despedido de Baekhyun à beira-mar com um abraço esmagado e um beijo longo — e mais uma sessãozinha de sexo no mar, sabe, só para deixar o gostinho de quero mais. Baekhyun aproveitou para tentar regular seu horário de sono, ainda que soubesse que seria inútil, pois logo Kyungsoo voltaria e Baek teria que retornar à rotina de virar as noites e cochilar ao longo do dia. Por hora, porém, podia fingir que era um ser humano normal e dormir em horários certinhos.
— Não deu certo com o boy, então? — Jongdae perguntou uma tarde dessas, quando Baekhyun estava fazendo a arte final das próximas páginas do quadrinho.
— É, ele teve que sair por causa do trabalho — rebateu, sem tirar os olhos do computador, a destra espertamente rabiscando sobre a mesa gráfica. — Mas diz ele que vem me ver, de vez em quando.
— Pra vocês terem um remember? — Jongdae deu risada, contagiando Baek em seguida.
— É, por aí.
Doze dias após a partida de Kyungsoo, Baekhyun despertou no meio da madrugada com o alarme do celular tocando. Oh, certo, o tempo de treinamento de Kyungsoo tinha acabado, ele provavelmente voltaria naquela mesma noite para contar a Baek o resultado, certo?
Errado. E Baekhyun se manteve errado por mais uma semana, e, ao final do décimo nono dia, o humano suspirou em rendição e aceitou que Kyungsoo não voltaria mais. Arrastou-se de volta para casa, completamente arrasado, os olhos borbulhando lágrimas e o coração embolado no estômago como se estivesse prestes a ser vomitado. Largou-se no sofá e permitiu que seu corpo expulsasse toda a sua tristeza e mágoa e raiva por ter sido enganado pelo tritão. Como ousou ter caído naquele papinho furado!? Era óbvio que Kyungsoo estava pouco se fodendo para Baekhyun! Baek era tolo demais mesmo...
No trigésimo dia, Baekhyun teve um sonho. Sonhou com uma cauda longa, repleta de escamas negras, com uma barbatana densa e emplumada; sonhou com um corpo lindo, esguio, branco, coberto de traços e desenhos e escrituras; sonhou com cabelos compridos, escuros, finos e escorridos, como uma cascata negra balançando ao redor do rosto; sonhou com uma face ossuda, de olhos densos e boca carnuda, com pontilhados luminosos sobre as bochechas; sonhou com a voz mais bonita que já ouvira em toda a sua vida.
Baekhyun abriu os olhos e correu para a praia. Ao chegar lá, foi recepcionado com um balançar de cauda, uma virada de rosto e um melodioso:
— Você veio.
Baekhyun não queria estar em outro lugar.
Baekhyun sabia que Kyungsoo era o motivo pelo qual ele amava o mar.
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#4 bring me the world
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Título: Bring Me The World Número do Plot: #88 Quantidade de Palavras:  4.438 Sinopse: "Baekhyun nasceu cego, mas isso não impediu seu espírito aventureiro de aflorar. Sendo obrigado a viver praticamente confinado dentro de casa, se acostumou a conhecer o mundo através de Minseok, até que a versão resumida do mundo se tornou insuficiente para sua sede de descobertas." Couple: XiuBaek (Xiumin e Baekhyun)
                                                         » × «
Parte 01 – I Wish... more
O silêncio do quarto foi rompido pelo som do esforço que o garoto fazia ao puxar a caixa de baixo da cama, a respiração um tanto ofegante pela força empregada misturada a inalação da poeira acumulada ali. Num ultimo impulso, Baekhyun conseguiu colocar o objeto sobre a cama, soltando um longo suspiro. Se Minseok estivesse ali, aquela tarefa seria realizada em poucos segundos, mas como o amigo ainda não havia aparecido acabou levando alguns minutos extras.
O garoto se acomodou sobre a cama, cruzando as pernas e se posicionando em frente à caixa. Limpou as mãos sobre o lençol para remover o excesso de pó antes de esticar os dedos até o prato que havia deixado sobre a cômoda, de onde pescou mais um pedaço do glacê que havia roubado do bolo de aniversário que agora repousava aos pedaços dentro da geladeira. Lambeu os dedos se deliciando com a doçura da cobertura antes de voltar a focar na caixa.
Um retângulo médio revestido por um padrão xadrez em verde, laranja e branco. Baekhyun tateou pela tampa até encontrar a inscrição ali gravada. Deslizando os dedos pela superfície, o garoto foi ligando ponto a ponto até formar a palavra que tanto conhecia.
- Baektopia – o riso fraco que escapou de seus lábios ao pronunciar a palavra foi involuntário. Era uma palavra que, particularmente, julgava idiota, mas que também gostava já que havia sido escolhida pelo seu melhor amigo para definir seu mundinho particular.
Removeu a tampa com cuidado, tateando pelo colchão antes de pousar a mesma sobre a cama, para ter certeza que não iria cair. Assim que a tampa foi aberta, uma miscelânea de cheiros tomou conta do olfato do garoto, uma prova das maravilhas que o aguardava.
As mãos de Baekhyun deslizaram pela lateral da caixa até atingir a borda, os dedos contornando o papelão antes de adentrar com cuidado. Ao sentir algo roçar a ponta dos dedos, fechou os mesmos envolta do objeto e o puxou para fora. Com devoção e delicadeza, acariciou a peça. Seus dedos traçando cada sutil contorno do objeto, analisando e apreciando as formas sob suas mãos. Quando seus dedos tocaram num barbante preso ao objeto, Baekhyun desviou o caminho até encontrar o papel preso à ponta do cordão. Estátua da Liberdade. As palavras estavam gravadas em braile na etiqueta improvisada por Minseok, identificando a miniatura que Byun segurava. Com um sorriso nos lábios, o garoto pousou o item sobre a cama e voltou a explorar o interior da caixa.
Dessa vez puxou um cilindro imperfeito e áspero, mas o formato não era o grande atrativo dessa vez. O garoto levou o item até o nariz, aspirando o cheiro forte e pungente. Sua mente automaticamente registrou que o que segurava era um pedaço canela, informação que logo foi confirmada através da inscrição presa ao cordão ligado à especiaria.
Baek acabou entrando num ritual que fazia todos os anos no dia do seu aniversário. Vasculhando e reanalisando casa tesouro guardado naquela caixa, itens acumulados com o passar dos anos. Aquele era seu mundo particular, um lugar que ninguém podia entrar sem permissão. E a única pessoa que tinha permissão para fazê-lo era Minseok, afinal havia sido uma criação do mesmo.
                                                    ×
Os pais de Byun nunca imaginaram que teriam um filho especial, que teriam que lidar com uma deficiência tão de perto. Mas quando Baekhyun nasceu, se viram sendo pais de um garoto cego. Não era o fim do mundo e tão pouco chegou a diminuir o amor que sentiam por ele, mas isso acabou aumentando a proteção que era dispensada ao garoto. Cercado por tanto zelo e atenção, Baekhyun via seu mundo ser sufocado por proibições. Não frequentava a escola, não podia sair sem a companhia de alguém, não podia viver como um garoto normal... imaginou que sua vida seria sempre assim, regrada de cuidado e proteção. E talvez tivesse sido, até Minseok mudar para a casa da família Byun.
Baekhyun estava com cinco anos quando a nova empregada se juntou à família, trazendo a tiracolo o filho pequeno, Kim Minseok. O fato de ser dois anos mais velho que o Byun não impediu em nada o surgimento da amizade, afinal companhia era algo que ambos gostavam, principalmente Baekhyun que tinha tudo a sua volta regrado. A adição do Kim na sua vida abriu portas para o mais novo, literalmente.
Agora que tinha alguém com quem brincar, os limites da propriedade acabaram se expandindo. Baekhyun podia ir ao jardim com frequência e, às vezes, até recebia permissão para brincar na rua junto com Minseok. Para o espírito aventureiro do mais novo, essa liberdade era como se pudesse viajar ao exterior. Parecia que a cegueira apenas tinha aguçado ainda mais a curiosidade que Byun tinha de explorar e descobrir. Texturas, cheiros, sensações... quase tudo era novidade para ele. Como um bom amigo, Minseok estava sempre buscando coisas novas para que o garoto pudesse provar e foram dias e semanas em que os dois se aventuraram pelo pequeno jardim dos Byun, momentos que apenas serviram para aproximar ainda mais os laços que começavam a criar. Mas as aventuras não duram para sempre e, fatidicamente, foi uma ave que pôs fim as explorações de Baek.
Durante um dia de verão, enquanto os dois garotos passeavam pela propriedade, Minseok acabou encontrando um pássaro. A ave parecia não se incomodar com a presença das crianças e continuava a bicar o chão em busca de comida. O mais velho se aproximou com cuidado e pegou o animal entre as mãos, indo direto até Baekhyun. A maciez das penas, o movimento da respiração, as pequenas garras na ponta dos dedos... Baekhyun explorou como pode a anatomia da ave, sendo guiado pelo amigo para não machucar o pássaro. Foi uma das sensações que mais gostou em toda sua vida, uma das que lembra com mais nitidez e também a que foi mais rudemente interrompida.
O grito de espanto da mãe de Baekhyun acabou assustando os garotos a ponto de fazer com que Minseok afrouxasse os dedos ao redor da ave e a mesma saísse voando. Ao ver a cena a mulher se preocupou que o pássaro bicasse o filho ou fizesse qualquer outro movimento repentino que acabasse o machucando. Tendo o segredo das aventuras furtivas revelado, o mais novo acabou tendo o privilégio do jardim removido e voltou à reclusão da casa. Mas a semente já estava plantada e ele não queria que ela morresse. Foi quando nasceu a Baektopia.
- Aqui, meu presente – Minseok sorriu ao pousar a caixa sobre a cama do mais novo, algumas horas atrás o Baekhyun havia soprado as velas que representavam seu décimo aniversário.
O garoto já estava deitado para dormir e se surpreendeu com a voz repentina do amigo em seu quarto. Sentando sobre o colchão, tateou em meio aos lençóis até alcançar a caixa que o outro lhe entregara. Levou alguns segundos medindo o tamanho do presente antes de finalmente remover a tampa. Sua expressão se franziu em confusão quando não encontrou nada lá dentro.
- Meu presente é uma caixa? – sua voz era um misto de decepção e confusão com uma pitada de riso. Sempre soube que Minseok não era um garoto previsível, mas aquilo era algo muito além do que estava acostumado dele.
- Não é uma caixa – o mais velho declarou forçando um tom sábio demais para sua idade e Baekhyun pode sentir o colchão afundar um pouco no lado em que Minseok sentara – Esse é o seu mundo – deu duas batinhas de leve sobre a caixa, fazendo um som abafado de papelão. O mais novo riu.
Baekhyun sabia ao que o amigo se referia, era algo que estava sempre repetindo desde que se conheceram. Minseok estava sempre alegando sentir um pouco de inveja da condição do amigo. Sem poder enxergar, Baekhyun tinha liberdade para poder decidir o que queria ou não na sua vida e seus quatro sentidos restantes eram tão apurados que ele conseguia ver coisas que o Kim nunca conseguiu, era um dom especial.
- Aqui você pode guardar tudo quiser, construir o mundo perfeito... será como uma colcha de retalhos – Baek mantinha os dedos passeando pela borda da caixa. Apesar de não conseguir ver o amigo, seu rosto se encontrava virado na direção do mais velho, seguindo o som da sua voz enquanto absorvia o que Minseok realmente estava dando para ele, uma chance de explorar novamente – Eu atuarei como o arquiteto, selecionando as melhores decorações para o... – ao notar a pausa na fala do mais velho, Baekhyun inclinou a cabeça um pouco pro lado como se tivesse sido uma interferência que cortou a comunicação entre os dois. Minseok se concentrava, batendo com o dedo sobre o queixo, pensando seriamente em um nome adequado para batizar o segredo que unia os dois.
- Minseok? – o mais novo chama um pouco hesitante, apesar de poder sentir a presença do amigo no quarto, se perguntou se não estava sendo traído pelos seus sentidos e agora se encontrava sozinho. A resposta que recebeu do mais velho foi um movimento repentino sobre o colchão, enquanto Minseok buscava por algo nos bolsos. Diante do silêncio do amigo, Baekhyun achou que seria melhor esperar para ver o que estava acontecendo.
- Eu serei o arquiteto da Baektopia – alguns minutos mais tarde, Minseok voltou a se pronunciar com um sorriso nos lábios que era refletido em sua voz. Estendendo a tampa da caixa na direção do mais novo, pegou uma das mãos de Baekhyun e pousou sobre a superfície para que ele pudesse encontrar os pontos gravados de forma improvisada sobre a tampa, depois ele daria um jeito de fazer um letreiro mais decente para a caixa.
- Esse é o nome mais idiota que já ouvi – Baekhyun suspirou, mas ainda assim abriu um pequeno sorriso enquanto os dedos percorriam a inscrição. Baektopia era seu mundo, o lugar perfeito.
- E aqui está a primeira decoração para o seu mundo particular – com cuidado, o mais velho pousou um tecido sobre o colo de Baekhyun, abrindo as pontas para revelar uma pequena coleção de penas de diversos tamanhos e cores, cada uma delas com um cordão preso a ponta, onde era possível encontrar um papel descrevendo em braile a que animal pertencia cada pena – Porque eu lembro que você adorou aquele passarinho - As mãos de Baekhyun tatearam fascinadas sobre as plumagens em seu colo sem conseguir parar apenas sobre uma – Ei, devagar ou você vai destruir tudo – Minseok sorria enquanto afastava as mãos do amigo e puxava as penas para seu próprio colo. Uma a uma foi entregando ao mais novo para que ele pudesse sentir e aprecia-las da forma devida.
A cada aniversário, data comemorativa ou viagem que Minseok fazia, ele voltava com um novo conjunto de itens que deixava Baekhyun fascinado. De forma indireta, ele estava começando a conhecer o mundo em que vivia e estava criando o próprio mundo.
×
Quando Minseok abriu a porta do quarto, tentando fazer o mínimo de ruído possível para não acordar os pais de Baekhyun, encontrou o mais novo sentado sobre a cama e rodeado com os presentes que havia lhe dado durante todos aqueles anos, a caixa a sua frente estava quase vazia. Fechou a porta tentando não distrair o amigo, já que o mesmo estava tão concentrado em suas lembranças que nem sequer tinha notado sua chegada. O pacote na mão de Minseok carregava novas sensações que desejava apresentar ao amigo e ele sorriu imaginando como seria a reação de Baekhyun aos novos itens.
Ao colocar mais um dos inúmeros cristais sobre a cama, Baekhyun percebeu que não estava mais sozinho. A respiração de Minseok estava presente e relativamente próxima, provavelmente o amigo estava em pé ao lado da cama, não devia ter sobrado espaço para que ele se sentasse em meio a tantas coisas. Enquanto esperava o amigo aparecer para lhe dar os parabéns, uma ideia maluca passou pela cabeça do mais novo. Mas mesmo soando como loucura, ele não conseguia afastar o pensamento para longe e nem queria.
- Eu quero ir – as palavras saíram da sua boca sem que percebesse. Baekhyun virou levemente o corpo na direção em que imaginava que Minseok estava – Você sempre traz o mundo até mim – havia gratidão na voz do Byun, mas também havia algo mais. Algo que esteve sempre lá, adormecido – Dessa vez quero que você me leve até o mundo – era um pedido, mas na postura do mais novo Minseok viu que não havia opção de recusa. O garoto aventureiro finalmente tinha vindo à tona com força total. Minseok sabia que esse dia ia chegar e sorriu ao notar que ele também estava ansiando por isso.
                                           Parte dois – Take It
Havia tantos lugares em que poderia leva-lo que Minseok estava encontrando dificuldade em bolar um roteiro definitivo para sua aventura com Baekhyun, a primeira depois de tantos anos que tinham sido proibidos de saírem juntos.
O mais velho caminhava pelo quarto coletando tudo que julgava necessário para o passeio. Eles não iam longe, disso o Kim tinha certeza. Simplesmente não podiam arriscar demais na primeira vez. Os presentes que trouxera para comemorar o décimo sétimo aniversário do amigo jaziam sobre a cômoda, não fazia sentido entrega-los a Baekhyun se pretendia fazer com que ele mesmo os coletasse.
Convencer o mais novo a esperar uma semana para que pudessem sair tinha sido um suplicio, mas agora eles tinham a vantagem dos pais do Byun estarem viajando, diminuindo consideravelmente os riscos. No fundo, Minseok sabia que sua mãe daria uma ótima cumplice, mas até que conseguisse convencê-la disso teriam perdido um tempo precioso e aquele não era o momento certo para desperdiçar algo assim. Os dois tinham decidido que sairiam por conta própria, escondidos no inicio da manhã, um horário ideal já que a mãe de Minseok costumava ir até o mercado nessa hora.
Minseok bufou, bagunçando os cabelos ao se atrapalhar mais uma vez com a contagem do dinheiro que possuía. Tornou a juntar a quantia numa das mãos e recomeçou o trabalho de deslizar nota por nota de uma mão a outra enquanto calculava mentalmente a soma, ao terminar arrumou as cédulas cuidadosamente na carteira e colocou no fundo da mochila.
- O que está fazendo? – o mais velho se sobressaltou ao ouvir a voz da mãe. Parada à porta, a senhora Kim observava os itens dispostos sobre a cama do filho com certo interesse.
- Nada de mais, apenas organizando as coisas – tentando soar indiferente, Minseok deu de ombros ao finalizar a frase, pegando as roupas sobre a cama e levando de volta pro armário. Mesmo desconfiada, a mais velha apenas deixou aquilo de lado.
- Vou até o mercado, se o senhor Byun precisar de alguma coisa, o ajude – o garoto assentiu, um mínimo sorriso adornando seus lábios. Achava engraçado o fato da sua mãe se referir a Baekhyun como senhor, sabia que ela fazia isso apenas por causa da ética trabalhista, mas não podia deixar de estranhar já que estava tão acostumado a chamar o amigo pelo nome.
Observou a mãe se retirar e apenas quando ouviu a porta da frente ser fechada foi que voltou ao que fazia. Pegou as roupas que havia guardado e socou dentro da mochila, se apressando em adicionar todos os demais itens. Quando terminou de guardar tudo, prendeu a bolsa às costas e se dirigiu até o quarto de Baekhyun.
- Tudo pronto? – a pergunta saindo da sua boca antes mesmo de terminar de enfiar a cabeça pela fresta da porta, apenas para se deparar com o amigo sentado à escrivaninha com a própria mochila no colo. Assim que ouviu a voz do mais velho, Baekhyun se colocou de p��, pendurando a mochila às costas e abrindo a bengala que o ajudava a se locomover.
Com passos calculados, os dois percorreram o interior da casa até chegar ao jardim. A casa passo, o mais novo tentava a todo custo tirar alguma informação do destino daquele passeio, mas apenas recebia respostas vagas de Minseok.
- E agora? – Baekhyun tentava controlar a agitação no seu interior, mas o Kim conseguia ver o quanto ele estava animado com a escapada. Na verdade estava bastante surpreso pelo amigo estar conseguindo se controlar tanto assim.
- Eu deixei a moto a algumas ruas daqui – Minseok concluiu com êxito a batalha contra o cadeado que delimitava o terreno da casa, finalmente conseguindo abrir o portão.
Percorreram a distância que os afastava da moto em silêncio. Aos poucos a silhueta familiar foi surgindo, revelando a moto de Minseok – que na verdade não passava de uma lambreta altamente barulhenta, por isso havia parado tão distante assim da casa dos Byun.
- Agora estou falando sério – segurando em ambos os ombros de Baek, o mais velho falava olhando diretamente para ele, mantendo o tom de voz o mais grave possível – Apesar dessa gerigonça não andar muito rápido, você tem que prometer que vai segurar firme – ao ver o mais novo assentindo, Minseok afrouxou o aperto, se afastando para poder pegar os capacetes sob o banco da moto – E também tem que fazer tudo que eu disser sem questionar – entregou o capacete ao outro, se concentrando em pôr sua própria proteção. Usou o espaço vazio para socar ambas as mochilas dentro do bagageiro antes de ajudar o mais novo a subir na moto.
Minseok se encolheu com o barulho que a lambreta fez ao dar partida, tão alto que chegou a cogitar a possibilidade dos vizinhos de Baek a ouvirem mesmo a algumas ruas de distância, mas agora era tarde para alguém impedir a aventura. Se colocando em movimento, a moto começou a guiar os garotos cada vez mais para longe, em poucos minutos Minseok já conduzia em meio ao trafego da cidade.
O vento passava por eles, agitando as pontas de seus cabelos que haviam ficado para fora do capacete. A sensação de liberdade se apossando cada vez mais de Baekhyun até que o mais novo não aguentou e soltou um grito de felicidade que acabou por sobressaltar o Kim.
- Yah, não faça isso – apesar da repreensão, o mais velho sorria. Fazia um bom tempo que não via toda essa animação na voz de Baek, era algo que até o momento não tinha percebido o quanto sentira falta.
A viagem foi mais longa do que o previsto, já que Minseok havia esquecido de adicionar a velocidade da lambreta na equação, mas por fim os dois chegaram ao destino.
Os sons foi a primeira coisa que os atingiu. A velocidade do vento que bagunçava não só seus cabelos, mas também as roupas de forma frenética; O canto das aves que sobrevoavam o lugar; O barulho da água batendo contra a areia numa explosão de espuma branca. Logo em seguida, os cheiros se fizeram presentes. O tão familiar cheiro da maresia que Minseok tanto gostava, mas que Baekhyun sentia pela primeira vez e que lhe arrancava um sorriso. Praia. Foi o pensamento que passou na cabeça do mais novo, havia sonhado tantas vezes em poder chegar perto do mar, não conseguia acreditar que finalmente tinha a oportunidade, mas é claro que o mais velho iria acertar na escolha.
Enquanto Baekhyun se deslumbrava com tudo que ouvia e sentia, Minseok se ocupava em reaver as mochilas e guardar os capacetes. Estava terminando de pendurar ambas as bolsas em seu ombro quando notou pelo canto do olho que o amigo começava a andar em direção aos sons.
- Hey, não tão rápido – comentou após apressar o passo para emparelhar com Baekhyun, segurando o garoto pelo ombro – Preciso que você esteja inteiro no fim do dia – brincou, bagunçando o cabelo do mais novo – Primeiro vamos nos livrar desses sapatos, não faz sentido andar na areia e não senti-la – ao mesmo tempo em que Baek usava os pés para empurrar os tênis para fora, o mais velho repetia o gesto, ajudando o amigo a tirar as meias em seguida – Agora podemos ir – mas antes de avançar, segurou a mão de Baekhyun com a intenção de leva-la até seu ombro para que o mais novo se apoiasse, mas teve o gesto freado.
- Assim está bom – apertou a mão do amigo para reforçar as palavras.
Os pés afundavam na areia fofa à medida que avançavam, apesar de sentir o calor do sol sobre a pele, seus pés apenas encontravam uma frieza gostosa ao invadir a areia. Baekhyun acabou não resistindo, se agachou e afundou a mão na areia. Sentiu os pequenos grãos invadirem suas unhas e grudarem na pele. Esfregando as mãos uma na outra, saboreava a aspereza provocada. Cada novo gesto lhe arrancando um novo sorriso de deleite, o som da sua risada se juntando ao vento e se espalhando pela praia.
Para os demais frequentadores do lugar, ele poderia até parecer um pouco estranho, mas para Minseok era a coisa mais bonita que já tinha visto. O sorriso verdadeiro e inocente que adornava o rosto do mais novo era algo tão precioso para si quanto aquele momento era para Baekhyun. Esperou pacientemente enquanto ele se familiarizava com a areia da praia, pousando as mochilas e se abaixando para imitar os gestos do amigo enquanto mantinha os olhos fechados, tentando sentir da mesma forma que o mais novo sentia.
- Vem, tem bem mais coisas para você ver – segurando a mão do mais novo, Minseok o ajudou a se levantar. As roupas e pernas de ambos estavam cheias de areia, mas isso não parecia incomodar nenhum dos dois.
Deixando as bolsas sobre o limite da areia macia, Minseok levou o mais novo até a parte onde o mar quebrava e se espalhava. Baekhyun abriu a boca surpreso ao sentir a areia, agora molhada e fria, sob seus pés, que afundava sutilmente a cada passo. Não demorou muito para que o mais novo estivesse abaixado, tateando pela superfície. Sua mão afundando na areia a cada novo relevo que encontrava, trazendo à tona conchas e corais que antes estavam parcialmente cobertos.
A camisa do mais velho estava cada vez mais pesada com souvenires. Minseok havia se postado ao lado do amigo enquanto este explorava a praia ao máximo, descobrindo itens de diversos tamanhos e texturas que seriam analisados com avinco mais tarde. Um som sutil se elevou quando Baek adicionou mais conchas à dobra da camisa de Minseok. Tão entretidos estavam na caça ao tesouro que não notaram que haviam avançado demais.
Quando a primeira onda deslizou por entre as pernas dos garotos foi que o mais velho ergueu o rosto para observar a distância percorrida. As mochilas estavam alguns passos à frente, protegidas das ondas, ao contrario deles. Baekhyun parou imediatamente o que fazia ao sentir a água o rodeando.
As mãos se agitando em meio à onda, coletando as algas trazidas pela maré. A textura da planta ao mesmo tempo em que o deixava fascinado também lhe causava certa repulsa, provocando caretas em seu rosto, mas não era o suficiente para fazer com que ele soltasse o novo achado. Minseok se afastou por alguns instantes enquanto ia até as mochilas e depositava as conchas dentro de um dos bolsos. Ao voltar para perto de Baek, não conseguiu conter o riso ao se deparar com as caretas do amigo. Começando uma nova rodada de exploração, o mais velho anunciava cada nova onda que se aproximava para que o amigo pudesse recebê-la da melhor forma possível.
Não demorou muito para Baekhyun estar ajoelhado em meio às ondas baixas, as roupas ensopadas até o meio da camisa onde uma linha irregular separava o tecido molhado da parte seca. Os cabelos em completo desalinho, bagunçados pelos ventos e respingos de água que Minseok vez ou outra jogava contra o mais novo para provoca-lo, ao que Byun tentava revidar atirando as algas em sua direção.
As ondas soavam como liberdade ao deslizar pela areia. Os respingos salgados que o mar lançava contra seu rosto traziam uma dose de independência. O vento que açoitava suas roupas e cabelos era recebido como um abraço da sua autonomia. Baekhyun nunca esteve tão feliz em toda sua vida, nunca se sentiu tão livre quando naquele momento. Desconfiava que a qualquer momento fosse sentir uma câimbra no maxilar de tanto que sorria, mas não podia fazer nada já que o sorriso insistia em permanecer no seu rosto. Estava feliz e realizado, mesmo que seus pais descobrissem o que tinha feito ou que fosse punido por isso, a sensação de liberdade que sentia no momento valeria por tudo.
Notou a presença de Minseok próximo a si, ao sentir o respingo dos passos do mais velho nas suas pernas. Num gesto instintivo, abraçou o amigo com êxito. Era tão grato por ter alguém como Minseok. Alguém com quem podia contar para todas as coisas, inclusive para fugir de casa. Nunca saberia ao certo como agradecer ou retribuir tudo que o mais velho havia feito por ele, mas usaria de todo e qualquer pequeno gesto para demonstrar tal gratidão.
 - Aqui, toma – Minseok chutou alguns grãos de areia ao voltar para perto do mais novo. Haviam feito uma pausa nas descobertas para recuperar a energia gasta. O mais velho sentou sobre a areia, ao que estendeu um dos cocos que carregava na direção do amigo. As mãos de Baekhyun não demoraram a envolver a fruta, tateando até encontrar o canudo e leva-lo até a boca.
Os olhos de Minseok se viram atraídos para a imagem que o mai novo formava. Sentado na areia, o rosto voltado para o horizonte como se o contemplasse mesmo sem poder vê-lo, uma postura tão descontraída e feliz. O mais velho se perguntou como podia existir pessoas que o julgavam como alguém anormal. O fato de Baekhyun não poder enxergar através dos olhos não o fazia ser diferente, o fazia ser incrivelmente especial. A capacidade que o mais novo tinha de enxergar o mundo através dos demais sentidos era algo que devia causar inveja nas pessoas e não repulsa.
Mas Minseok sabia o quão especial Baekhyun era e, no momento, isso bastava.
O que ele não sabia era o que o restante do dia reservava para eles, mas se havia uma certeza em Minseok, era a de transformar aquele dia numa memória inesquecível para o mais novo. Depois de tanto tempo de privações, ele merecia a fuga perfeita. Merecia ver e sentir tudo que o mundo desejasse lhe oferecer nesse dia, ele se certificaria disso. O que aconteceria depois que voltassem para casa era algo que não importava a nenhum dos dois no momento, só queriam aproveitar o mundo que os cercava.
Um mundo que pertencia apenas aos dois.
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#3 you belong with me
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Título: You Belong With Me 
Número do plot: #33
Sinopse: Minseok não sabia por que tinha aceitado fingir ser o namorado de Baekhyun, mas estava gostando de tudo aquilo.
Couple: Xiubaek (Xiumin e Baekhyun)
Já era a milésima vez que Baekhyun choramingava no ouvido do mais velho apenas naquele dia. Usava de seus olhinhos de cachorrinho pidão para tentar convencê-lo a aceitar aquela proposta absurda e não poupava esforços ao forçar sua melhor voz fofinha.
– Baekhyun eu já disse não, que ideia absurda – Respondeu sentindo as bochechas esquentarem e afundou o rosto no livro para tentar disfarçar.
– Por favor hyung, só estou pedindo uma semaninha, eu juro que posso virar seu escravo pelo resto do mês, eu faço o que você quiser.
– Não é não, pare de tentar me arrastar para esses seus planos mirabolantes, não vai acontecer.
Baekhyun não sabia, mas por debaixo da mesa de madeira as pernas de Minseok tremulavam de ansiedade e o coração batia descompassado. Ele não estava preparado para receber seu melhor amigo – e paixão secreta – lhe propondo um namoro falso por uma semana. Bem, não era lá sob as melhores motivações, o mais novo tinha levado um fora de Sehun, o garoto com quem estava saindo há dois meses, e agora queria se vingar exibindo um namorado por aí. No fim das contas tinha sobrado para nada mais nada menos que Minseok, afinal, mais grudados que eles dois? As pessoas sequer iriam se surpreender.
– Eu faço sua lição de casa – Falou com olhos brilhantes.
– Você tirou cinco em matemática, três e meio em química e seis em literatura – Respondeu direto.
– E-eu limpo o seu quarto.
– Você mal consegue dar conta da sua carteira, e meu quarto é muito bem limpo, obrigado.
– Eu posso fazer um boqu-
– Pelos deuses, Baekhyun! – Minseok o encarou com o rosto todo vermelho – Eu já disse que não!
“Tá bom” Baekhyun respondeu com um muxoxo fazendo aquele biquinho lindo que o mais velho nunca conseguia resistir. “Não Minseok, esse é um péssimo plano e você sabe que no final vai dar em merda” pensou consigo mesmo afastando a tentação que era ceder às manhas do mais novo.
Na hora do almoço os dois amigos saíram em direção ao refeitório, pegaram suas bandejas e foram para fila. Baekhyun continuava com a mesma cara emburrada e resmungando a cada segundo. “Você nunca faz nada para mim” falou baixinho olhando para o tênis preto, ele realmente conseguia ser insuportável quando queria algo.
– Pelo amor, você não sabe lidar com seus problemas sem querer me arrastar junto? – Minseok falou pondo arroz em sua tigela.
– É claro que não, você é meu melhor amigo e melhores amigos servem para isso.
– Para fingirem ser namorados apenas para que você possa fazer ciúme em alguém que não tem interesse em você?
Ouch, aquilo havia sido pesado e Baekhyun colocou a mão no peito ofendidíssimo com a verdade jogada na cara.
– Precisava de toda essa agressividade, hyung?
Minseok suspirou, sabia que (talvez) tivesse pego pesado demais, mas é que não aguentava mais aquela ladainha com o mais novo, ele precisava superar e esquecer de vez aquele cosplay de boneco de posto de gasolina.
E por falar no dito cujo, Sehun adentrou o recinto com aquela mesma cara de quem preferia estar morto. Minseok o analisou pela enésima vez enquanto ele caminhava preguiçosamente até as bandejas e se perguntava como que diabos o amigo achou que algum dia aquela mosca morta pudesse demonstrar alguma emoção fora tédio. Ok, o menino era bonito pra uma porra, mas era só isso, Sehun tinha um total de zero carisma e ainda assim era considerado o crush da escola inteira, era um mistério que o garoto jamais conseguiria decifrar.
– Minseok-ah – Baekhyun falou usando um aegyo mais forçado que maknae de girlgroup – Vamos logo para a mesa, eu estou com fome.
“Ah não”, o mais velho não acreditava que Baekhyun realmente estava se prestando àquele papel na frente da escola inteira, ainda mais sem o consentimento dele! Tudo que conseguiu fazer no momento foi dar um sorriso amarelo e olhar para Baekhyun assinando sua sentença de morte. Para piorar a situação a situação se desenrolava ao lado de nada mais nada menos que Kim Jongdae, o fofoqueiro mor de toda a instituição e o garoto rinha certeza que até o final do dia todos os alunos já saberiam do novo casal.
– Baekhyun, você é um homem morto – Falou rente ao ouvido do melhor amigo fazendo-o estremecer.
Aquele loirinho de uma figa iria pagar muito caro.
                                                           Dia 1
Como já era de se esperar, toda a escola já sabia do “romance” dos dois antes mesmo do dia terminar. Maldita fosse a boca de Jongdae e maldito fosse o orgulho ferido de Baekhyun. Na hora da saída Minseok deu de cara com o mais novo esperando-lhe na porta da sala, ele carregava um sorriso radiante e mesmo sendo pura encenação para que Sehun visse como ele estava muito bem, o mais velho não pôde evitar o coração falhar.
Era verdade que estava apaixonado por Baekhyun há mais ou menos dois anos e a única pessoa que sabia disso era Luhan, seu melhor amigo virtual. Cansou de ouvir sermões do chinês para que se declarasse logo e acabasse com aquela ladainha, mas não conseguiria nem mesmo se quisesse, entrava em desespero só de imaginar estragar a amizade de anos com Baekhyun por causa de seus sentimentos. Fora por causa disso que não queria aceitar de jeito maneira aquela proposta maluca, pois sabia que o loiro fingindo ser seu namorado, mesmo que fosse apenas por um dia, lhe proporcionaria ilusões dolorosas.
Mas lá estava ele, andando pelos corredores com o pirralho nojento em seu encalço agindo todo florzinha para cima de si.
– Sai Baekhyun, não é por que estamos “namorando” que você precisa agir como uma protagonista de dorama – Resmungou baixinho para que ninguém ao redor pudesse ouvir.
– Preciso sim, por que se depender de você nosso disfarce vai por água abaixo – Respondeu se enroscando ainda mais em seu corpo.
Baekhyun era apenas alguns centímetros maior que si e por isso sempre que o abraçava, descansava a cabeça em seu ombro fazendo com que o cheiro gostoso de maçã verde inundasse seu olfato. Ah se aquele bastardinho soubesse o quanto Minseok queria embrenhar os dedos naqueles fios macios e distribuir vários carinhos...
Estavam na parada de ônibus esperando o transporte escolar que iria passar em alguns minutos e aquele era o melhor lugar do mundo para oficializar qualquer coisa, pois era quando a maioria dos alunos estava esperando a carona e a fofoca corria solta. O que incluía Sehun, que estava entretido demais em seu celular para prestar atenção no mais novo casal do pedaço.
Era claro que aquela falta de interesse deixava o Byun fulo da vida, estava fazendo aquela palhaçada toda especialmente por causa dele e o garoto sequer se dava ao trabalho de lançar alguns olhares? Ah, mas ele iria prestar atenção nos dois sim, fosse por bem ou por mal.
– Minseokiki – Falou com aquela vozinha meiga e o mais velho já pôde pressentir mais outro mico chegando, afinal, que diabo de apelido era aquele? – Voxê vai ligar para mim quando chegar em casa, né? Baekhyun sente falta do moxão.
Minseok realmente cogitou se jogar na frente dos carros que passavam pela rua apenas para não ter de lidar com as risadinhas que soltavam em resposta àquela cena vergonhosa. Já o loiro estava bastante confortável com aquela atuação ridícula e o olhava em expectativa para que ele continuasse o diálogo em alto e bom som. O mais velho engoliu em seco e forçou seu melhor sorriso.
– C-claro Baekkie.
– Só isso? – O loiro falou entredentes.
Ah não, ele realmente não esperava que Minseok falasse daquele jeito consigo, certo? Porém o mais novo continuou sorrindo e esperando o complemento, pôde sentir os olhares dos outros alunos sobre si. “O que eu não faço por você, seu pequeno demônio?” suspirou pesadamente.
– E-eu já estou com saudades de voxê – Respondeu sentindo o rosto inteiro ser consumido por chamas.
Nesse exato momento o ônibus escolar chegou e todos começaram a embarcar rapidamente, não sem antes deixar risadinhas debochadas para o casal meloso.
  [Min]
Minseokiki? Sério??????
[Bacon]
Qualquer casal que se preze tem que ter apelidinhos
Inclusive...
*Bacon mudou seu apelido para Minseokiki*
[Minseokiki]
AH N VSF BAEKHYUN, PQP ATÉ AQUI?
[Bacon]
Ah eu achei bonitinho ´3´
Aliás, vc conseguiu prestar atenção no Sehun? Será que ele viu?
[Minseokiki]
A pergunta certa é: QUEM não viu?
Pelo amor de deus, vc conseguiu me queimar na frente da escola toda
[Bacon]
Não foi só vc tá???
Eu tb tenho minha reputação a zelar u3u
[Minseokiki]
Baekhyun... Você não tem reputação alguma desde o dia que resolveu sair aos tapas com o Chanyeol por causa da última caixinha de suco no refeitório
[Bacon]
AH N MINSEOK, ESSA HISTÓRIA DE NOVO NÃO
EU JÁ EXPLIQUEI QUE TAVA NECESSITADO
MEU FILHO IA NASCER COM CARA DE SUCO DE CAIXA!
[Minseokiki]
...
Só não tiro sua razão pq ver vc derrubando o Park no chão foi impagável
[Bacon]
Eu sei né kekekekeke Pode confessar que eu sou seu herói
[Minseokiki]
...
Boa noite Baekhyun
[Bacon]
Boa noite, Minseokiki <3
Minseok desligou o telefone e fechou os olhos na tentativa de dormir, mas como relaxar com seu coração explodindo no peito a ponto de preencher o silêncio do quarto? Por mais que odiasse admitir, muito talvez tivesse gostado daquele apelidinho bobo que Baekhyun lhe dera. “Recomponha-se Minseok, você parece uma garotinha apaixonada” repetiu para si mesmo antes de cair no sono.
O que ele não queria aceitar é que sim, era uma garotinha apaixonada e completamente perdida em amores pelo melhor amigo.
                                                       Dia 3
Naquela quarta-feira chovia como se o mundo estivesse prestes a se acabar, o som das gotas se chocando contra o chão era ensurdecedor e por causa daquilo Minseok não conseguia prestar atenção na aula. O professor Choi anotava algumas fórmulas químicas no quadro e de repente aquele assunto que antes era tão legal pareceu chato demais. O garoto já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha bocejado só naquela aula e certamente chamado a atenção.
– Estamos com algum problema hoje, senhor Kim? Parece que está com a cabeça nas nuvens – O homem falou abaixando os óculos para encarar o aluno.
– N-não senhor – Respondeu se endireitando na cadeira.
– Ele tá é com a cabeça no moxão – Chanyeol falou alto o suficiente para arrancar gargalhadas da sala inteira.
Minseok ficou vermelho, roxo, azul, verde e todas as outras cores do arco-íris de tanta vergonha. “Baekhyun, você me paga” praguejou enquanto afundava o rosto no caderno tentando se esconder daquela cena vergonhosa. Mas não era como se o Park estivesse cem por cento errado (aquele orelhudo d’uma figa), o pensamento recorrente no melhor amigo parecia mais frequente desde que começaram aquela encenação barata. Mas que droga, por que Baekhyun tinha que ter um sorriso tão lindo a ponto de Minseok se esquecer da furada em que ele lhes tinha metido?
 Quando o sinal ecoou por toda a escola anunciando que era hora de almoçar, Baekhyun já estava na porta da sala com uma pequena marmita em mãos esperando seu “namorado”.
– Minseokiki! – Falou alto acenando e arrancando risadinhas dos outros alunos.
Minseok realmente cogitou fingir que o loirinho não existia e seguir seu caminho para o refeitório como se nada tivesse acontecido, mas ele sorria daquele jeito bonitinho que deixava suas presinhas à mostra... Como resistir? “Minseok, você é um idiota” murmurou para si mesmo admitindo a derrota diante do amigo.
Assim que parou de frente à Baekhyun, o mesmo enroscou-se em seu encalço como uma criançinha feliz e o garoto não pôde evitar o coração falhar uma batida. Era incrivelmente bom sentir seu corpo quentinho lhe abraçando calorosamente e a coisa só melhorou ainda mais quando o Byun decidiu enlaçar suas mãos.
Ok, naquele momento o moreno realmente perdeu as estribeiras, o coração disparou como um louco dentro do peito e não pôde evitar a respiração pesada. Quantas e quantas vezes não tinha sonhado com o momento que ambos andariam por aí de mãos dadas? Quantas vezes imaginou como seria segurar as mãos do amigo dentro das suas, será que elas se encaixariam bem? E correspondendo a todas suas expectativas, sim, suas mãos tinham um encaixe perfeito, tão confortável que quase parecia ter sido feito sob medida.
Caminharam juntos até o refeitório da escola e no fundo Minseok agradeceu ter já sua refeição prontinha, do contrário teria que se digladiar na fila com os outros alunos para poder comprar o almoço. Sentaram-se numa das mesas perto da janela, onde normalmente Sehun ficava com sua trupe, e qualquer um que passasse por ali poderia enxergar florzinhas ao redor do casal.
– Minseokiki – Baekhyun falou segurando um kimbap – abre a boca.
“Ah não, você só pode estar de brincadeira” pensou quando encarou o amigo segurando a comida com os hashis e apontando em sua direção para lhe alimentar. Quase como se fosse um daqueles doramas de comédia forçada, todos ao redor os encaravam em expectativa. Deu uma leve olhada para Sehun que estava saindo do refeitório e perderia toda aquela palhaçada. Suspirou derrotado, não tinha motivo para seguir adiante com aquela cena já que o principal alvo não podia presenciar, mas Baekhyun estava tão lindinho com o rosto todo vermelhinho e lhe olhando ansioso que acabou se rendendo. Abriu a boca o máximo que pôde e deixou o loirinho lhe alimentar.
Pode-se ouvir um coro longo e arrastado de “Aaaaaaawn” vindo das meninas sentadas ao seu redor e garotos emitindo um som de vômito, aquilo era vergonha demais para um ano inteiro. Mas de alguma forma de sentia recompensado pelo sorriso bonitinho que o amigo deu, claramente satisfeito com seu planinho.
Baekhyun correu os olhos ao redor do local disfarçadamente e quando não encontrou Sehun, seu rosto de fechou numa expressão nada amigável.
– Onde está aquele embuste? – Perguntou baixinho.
Ah claro... Sehun... Por alguns segundos havia esquecido que era aquele maldito poste o motivo daqueles carinhos melosos e ver Baekhyun atordoado daquele jeito lhe partia o coração. Suspirou pesadamente e meneou a cabeça indicando que não sabia, abaixou os olhos para sua refeição e ficou quieto o restante do horário de almoço, apenas escutando o loiro conversar sobre aleatoriedades.
                                                      Dia 5
A quadra de esportes fazia um calor infernal naquela manhã e Minseok podia jurar que derreteria a qualquer momento, ainda que estivesse usando o uniforme de educação física (que era bem mais leve e fresquinho). As turmas 2-A e 2-C tinham aulas em conjunto e por causa disso lá estava Sehun arrancando suspiro das virgemzinhas com seus dois metros de perna á mostra. Ele jogava o cabelo para o lado e as garotas pareciam se derreter em amores.
– Oh, ele é tão bonito – Soomin falava com os olhos brilhantes enquanto assistia ao jogo de basquete.
– Eu sei, el- Mina concordava com a amiga quando de repente Sehun fez uma cesta.
Bem, parecia estar acontecendo um jogo da liga profissional de basquete, pois os gritinhos de comemoração que foram soltos poderiam ser ouvidos do outro lado da escola. Minseok precisou tapar os ouvidos se não quisesse ficar surdo, qual é, era apenas Sehun marcando um ponto, nada demais.
Estavam todos tão distraídos com aquele ponto marcado que sequer notaram Baekhyun fazer sua entrada triunfal na quadra, e nossa... Que entrada. Minseok sentiu todas suas entranhas se contorcerem e o coração disparar como louco quando colocou os olhos no melhor amigo, talvez seu rosto estivesse tão vermelho que poderia ser confundido com um sinal de trânsito, mas... Uau.
Baekhyun estava com o cabelo preso num coque samurai, deixando alguns fios caindo sobre os olhos lhe conferindo um olhar felino. A camisa do uniforme apesar de ser duas vezes o seu tamanho, parecia especialmente sexy cobrindo parcialmente suas coxas expostas pelo short curto. “Espera... Short curto?”, e ao olhar uma segunda vez para o mais novo, Minseok constatou que Baekhyun tinha encolhido o tamanho da peça para atrair ainda mais atenção à suas pernas. Ah ele só podia estar de brincadeira.
Ele caminhou graciosamente em direção a si com seus olhos transbordando autoconfiança e um sorrisinho vitorioso no rosto. Sentou-se sem quebrar o contato visual e cruzou as pernas lentamente, testando o melhor amigo para saber se conseguia fazer até mesmo Minseok babar. Para o deleite de seu ego, sim, Minseok deu aquela checada em suas coxas e se puniu mentalmente por ter engolido em seco com tal visão.
Baekhyun soltou uma risada vitoriosa:
– Há, eu sabia que estava tão gostoso a ponto de até mesmo você dar uma olhada pras minhas pernas.
– I-idiota, qual é a porra do seu problema, hein? – Minseok reclamou enxugando as palmas das mãos na camisa nervosamente.
– Ah qual é, confessa que eu estou tão atraente que até mesmo você me daria uns pegas – Aproximou-se letalmente lhe encarando provocante.
“Ah Baekhyun, você não tem ideia do que eu faria com você...”, Minseok sentia o corpo inteiro queimar com aquelas provocações de Baekhyun, pelos deuses, ele não tinha piedade de sua pobre alma? Desviou o olhar constrangido e afastou o loiro com o braço, mas que brincadeira sem graça!
– P-para com essa merda Baekhyun – Sua voz saiu trêmula.
– Huh? Então quer dizer que até mesmo você ficou mexido comigo, M I N S E O K I K I? – O cretino fez questão de soletrar cada letrinha e o moreno estremeceu, tinha jogado pedra na cruz para merecer aquele castigo – Agora sim tenho certeza que até mesmo Sehun vai cair aos meus pés.
Pronto, aquilo havia sido o suficiente para matar qualquer nervosismo ou borboleta rodeando o mais velho. Sehun, apenas a menção àquele sujeitinho de uma figa era um balde de água fria nos ânimos alterados de Minseok. É claro, Baekhyun estava fazendo tudo aquilo para dar o troco naquele babaca, por que mais seria? Imediatamente fechou a cara e desviou o olhar claramente irritado.
– Não vou nem te desejar boa sorte, só precisa botar a cara no jogo que eu te garanto o Sehun aos seus pés no fim da aula – Respondeu voltando a se concentrar no nada.
– Você acha? – Baekhyun estava eufórico demais para perceber a expressão emburrada do amigo.
– Quer tentar a sorte? – Falou apontado para a quadra – Essa é a sua hora de brilhar.
E não precisou falar duas vezes para que o loiro o abandonasse com um beijinho na bochecha e caminhasse para o meio do jogo. Minseok quase pôde ouvir Crazy in Love tocando ao fundo enquanto Baekhyun caminhava todo cheio de si em direção ao professor de educação física. Pôde ouvir um enorme burburinho tomar conta do local assim que o restante dos alunos percebeu a presença do loiro.
Dessa vez nem mesmo Sehun poderia escapar do encanto que era o corpo torneado de Baekhyun, ainda mais usando aqueles shorts minúsculos e com o cabelo presto daquele jeito, ele estava absurdamente hipnotizante. Minseok não pôde evitar uma pequena pontada de ciúme lhe atingir em cheio, não estava gostando nem um pouco da forma com que aquele pau de arara estava olhando para seu melhor amigo, mas claro, ele era o alvo e tinha caído perfeitamente na armadilha.
Baekhyun jogando basquete parecia quase um filme pornô, sempre que ele pulava para arremessar as cestas um pouco de seu abdômen ficava exposto tirando a concentração de todo mundo, foi assim que lhe conseguiu marcar tantos pontos. Sehun estava praticamente de quatro lhe assistindo correr pela quadra e Minseok percebeu que ele insistia em trombar no menor apenas para ter um pouco de contato físico, não só ele como os outros jogadores também pareciam bastante interessados. Não conseguiu evitar a fúria lhe corroer as entranhas, só queria tirar Baekhyun dali e carregá-lo para bem longe, porém o sorriso do loirinho denunciava que estava adorando aquilo tudo.
Então Minseok optou por se retirar dali, não era obrigado a ficar assistindo toda aquela palhaçada ou então iria ter um surto de ciúmes (ainda que jamais fosse admitir). Levantou da arquibancada e começou a caminhar em direção à saída quando fora parado por Junmyeon.
– Vai mesmo deixar os outros se aproveitarem do corpo do seu namorado daquela forma? – Ele lhe encarava desafiador.
Minseok realmente queria voltar lá e puxar o “namorado” daqueles abutres, mas não tinha o menor direito, não quando o plano de Baekhyun finalmente parecia estar dando certo.
– Tanto faz, eu não me importo – Falou áspero, ignorando a olhada fatal que o moreno havia lhe lançado.
  O horário de almoço não poderia ter sido pior, Baekhyun e seu ego inflado estavam insuportáveis. Ele estava se gabando sobre a visão de seu corpo ter dado resultados e sobre como Sehun não parava de avançar em cima de si, ainda que fosse com a desculpa do jogo.
– Você viu, Minseokiki? Ele não parava de me encarar, fazia questão de correr para cima de mim o tempo inteiro, eu tenho certeza que não era apenas por causa da bola, até mesmo quando eu estava apenas correndo ele ficava se aproximando – Ele soltou um risinho convencido.
– Hm – Minseok respondeu esforçando-se para manter a concentração em seu almoço.
– E tem mais! Todos os outros ficaram me olhando também, eu quase senti Jongin me devorando com os olhos, acho que até mesmo o Chanyeol desceu de seu pedestal hétero para me dar uma secada – Jogou o cabelo para trás dando seu melhor sorriso de galã – No fim das contas ninguém pode resistir ao maravilhoso Byun Baekhyun... Nem mesmo você né, Minseokiki?
Naquele momento o amigo passou um dos braços pelo ombro de Minseok e lhe puxou para perto o provocando. O moreno, que já estava com sua paciência estourando, acabou por se enfurecer de vez e afastou o braço do loiro com raiva, lhe arrancando uma careta assustada.
– M-Minseo-
– Já chega, está bem? – Minseok levantou-se da mesa com o rosto vermelho de raiva – Eu não consigo mais levar essa palhaçada a diante, pra mim já deu!
Pegou sua bandeja de almoço e saiu batendo os pés pelo refeitório, deixando um Baekhyun confuso para trás e a escola inteira se perguntando o que tinha acontecido.
                                                            Dia 6
Minseok não tinha falado com Baekhyun desde o incidente no refeitório, mas isso era por que ele não sabia como encarar aquela cena vergonhosa que tinha provocado. Por Deus, tinha dado um chilique pra cima do loiro por que estava se corroendo de ciúmes. O amigo tentou se comunicar pelo resto do dia, deixou milhares de mensagens em seu chat e até mesmo ligou para seu celular – O que era algo muito raro, já que Baekhyun odiava falar ao telefone.
O garoto simplesmente não sabia lidar com aquela situação na qual tinha se envolvido, não tinha coragem o suficiente para se declarar ao melhor amigo e explicar que tudo aquilo não passava de ciúme. A verdade era que Minseok morria de medo de ser rejeitado pelo loiro, só a ideia de levar um não lhe revirava o estômago.
Remexia-se inquieto na cama quando recebeu uma mensagem de Wu Yifan, o chinês capitão do time de baseball, lhe convidando para a festinha que daria naquele sábado à noite. Revirou os olhos, detestava ir àqueles eventos idiotas que o pessoal insistia em fazer, qual era a graça? Minseok não gostava de bebidas (álcool tinha um gosto péssimo), não sabia dançar e tampouco iria dar uns beijos em alguém. Se fosse para aproveitar seu tempo, era melhor ficar em casa maratonando alguma série.
[Bacon]
Minseok, você ainda tá bravo comigo? Me dá só uma resposta, eu quero saber o que aconteceu aaaaaaa Pfvrrrrrr T-T
Somos melhores amigos né? ;A;
 Melhores amigos... Sim, é claro, eles eram melhores amigos e era justamente por causa disso que Minseok precisava se manter afastado do loiro até seus sentimentos voltarem aos eixos e ele conseguisse se controlar novamente. Jogou o celular no criado mudo e virou para o lado, iria dormir um pouco e evitaria pensar em toda aquela confusão.
O celular de Minseok apitava como louco e aquilo acabou lhe despertando, aquele barulho chato de notificações não parava um segundo e como o garoto era curioso pra dedéu, se viu obrigado a dar uma espiadela. Coçou os olhos e destravou a tela todo grogue, Baekhyun havia deixado tantas mensagens que por um momento o deixou realmente preocupado.
[Bacon]
Minsokikiii
Ey yo mr neabdo
Ya tudi girando
Socroroo
Kkkkk o jehum ya aqi
Nofda como ele ya gostosp
Mnspok ne perkdia
Fsculpa ter ye envolido neasa
ey re amo
vc r mwu melhor amiho
o sejun ya me xamandi
sdps a hente de fala
ashi q hoke eu perfo minha virgiajdae
bjuuuuuuuuuu
Minseok sentiu todo o corpo fervilhar ao mesmo tempo que era tomado por um pânico absurdo. Baekhyun estava muito bêbado e pelo conteúdo das mensagens, ele iria fazer algo com Sehun e muito provavelmente não se lembraria no dia seguinte. Algo que ele não tinha ciência. Não levou nem dois minutos para colocar uma roupa e sair porta a fora, precisava salvar o loiro, afinal, ele ainda era seu melhor amigo.
 A casa de Wu Yifan ficava ha uma hora de bicicleta, por isso quando chegou em frente ao jardim lotado de adolescentes alterados, estava suando horrores com o cabelo molhado grudando na testa, mas quem ligava? Jogou a bicicleta no gramado de qualquer jeito e caminhou em direção à residência. Minseok era uma pessoa que tinha completa aversão a multidões, só de imaginar ficar no meio de tanta gente estranha já lhe causava calafrios, por isso não foi diferente quando se deparou com um monte de gente desconhecida falando alto por todos os lugares.
Balançou a cabeça tentando afastar seu incômodo para longe, precisava achar Baekhyun e dar o fora dali antes que fosse tarde demais. Começou a esgueirar-se entre as pessoas tentando a todo custo tão trombar com algum casal se beijando ou alguém muito louco de álcool. Os olhos atentos do garoto buscavam desesperadamente aquela cabeleira loira, seu coração batia forte só de pensar na ideia de não encontrá-lo.
Numa das suas andanças pela casa ele trombou com Junmyeon e quando estava prestes a se desculpar e continuar seu caminho, o garoto o segurou pela barra da jaqueta:
– Eu não sei o que aconteceu com vocês naquele dia, mas Baekhyun parece estar disposto a afogar as mágoas com Sehun num dos quartos lá em cima.
Minseok o encarou assustado, o que diabos aquilo queria dizer? Junmyeon o soltou e afastou-se com uma piscadela esquisita, qual era a dele? Mas bem, o garoto não tinha tempo para ficar se questionando, precisava ir encontrar Baekhyun.
Subiu as escadas pulando os degraus e forçando-se a ir mais rápido, o coração batia acelerado no peito e ele não sabia se era por causa da adrenalina ou o cansaço do esforço físico. Para seu azar, o primeiro andar tinha várias portas, isso por que a casa havia sido construída no estilo ocidental, dando ao fato que a família Wu morou no Canadá.
Apesar de haver uma pessoa aqui e acolá se esgueirando para dentro dos quartos, Minseok ouviu uma voz em particular gemer o nome de Sehun. Sentiu um frio esquisito correr pela espinha e todo seu corpo se eriçar, era Baekhyun atrás daquela porta. Caminhou cautelosamente para não fazer barulho, ainda que a casa explodisse ao som de algum synthwave psicodélico. Colou o ouvido rente à madeira e fez esforço para se concentrar na conversa que rolava ali dentro.
– Sehun-ah, assim não... – Baekhyun falava manhoso e aquilo despertou uma ira absurda dentro do moreno.
– Você gosta né? Eu vou te tratar como a vadiazinha que você merece – Sua voz grossa saia acompanhada de uma risadinha indecente.
O corpo inteiro de Minseok tremia de raiva, ele podia sentir o sangue circular rápido pelo corpo e a pele esquentar, quase como se estivesse com febre. Queria entrar naquele quarto e quebrar Sehun na porrada, queria fazer sofrê-lo por seduzir Baekhyun daquele jeito para depois magoá-lo. Queria... Bem, na verdade ele queria mesmo era ser Sehun para ter o loirinho caído aos seus pés e com um fogo ardente para ser possuído por si, essa era a grande verdade.
Então a ficha caiu naquele momento, que direito tinha Minseok de atrapalhar Baekhyun? Ele havia conseguido, certo? Seu planinho para reconquistar Sehun tinha sido bem sucedido e lá estava ele há alguns passos de finalmente transar com o grande crush da sua vida. Bem, o que Minseok tinha a ver? A vida era de Baekhyun e ele a vivia como bem entendesse. Idaí se ele preferia ser usado por um cafajeste inescrupuloso e acordar no dia seguinte chorando?
Mas apesar de tentar se convencer com aquelas baboseiras que tinha inventado de última hora, não podia ignorar o aperto em seu peito e a necessidade de parar aquele ato. Não aguentaria mais nem um segundo vendo seu melhor amigo chorar por um babaca sem coração, não aguentaria mais nem um segundo escondendo aqueles sentimentos que nutria por tanto tempo. Verdade seja dita, Minseok tinha coisa muito melhor a oferecer.
E fora por causa daquilo que ele abriu a porta num estrondo tão grande que assustou os dois garotos. Analisou bem a cena e nunca teve tanta vontade de morrer: Baekhyun apenas de cueca visivelmente fora de si embaixo de um Sehun sem camisa. Pelos Deuses, realmente não precisava ver aquilo.
– M-Minseok? – Baekhyun deu um pulo tentando se cobrir com o lençol.
– E-ei cara, eu posso explicar – Sehun falou saindo de cima da cama e tropeçando nos próprios pés.
Minseok respirou fundo tentando concentrar-se no ar entrando e saindo de seus pulmões. “Calma Minseok, tenha calma” repetiu para si mesmo como se fosse um mantra.
– Nos deixe a sós, por favor – Falou baixo.
– Não precisa pedir duas vezes – Sehun respondeu vestindo a camisa rapidamente e catando os sapatos pelo chão.
Quando o bonitão saiu pela porta a fechando bem devagarzinho, Minseok deu uma boa olhada no amigo. Baekhyun estava quase pelado, o cabelo todo bagunçando, o rosto vermelho de vergonha e fedia a bebida barata. Por um breve momento ele se esqueceu da raiva que estava sentindo e só quis segurar o amigo no colo e cuidar dele até que estivesse bem, mas aquilo passou no momento em que o mesmo abriu a boca:
– Qual o seu problema, Minseok? – Falou com a voz visivelmente alterada – Eu estava prestes a finalmente dar pro Sehun e você estragou tudo – Levantou da cama com dificuldade se atrapalhando todo, caminhou meio tonto em direção à sua calça jogada no chão para vesti-la – Se eu me apressar, talvez ele volte.
– Baekhyun, para com isso – Minseok falou passando a mão nos cabelos.
– Pare você, por que você resolveu bancar o empata foda? Eu finalmente consegui arrastar ele para o quarto e você tinha que embaçar meus esquemas? Que saco! – Falou aumentando o tom de voz.
O loirinho acabou tropeçando na camiseta jogada no piso e foi em direção ao chão com tudo. Ele soltou um grito de agonia e Minseok correu em sua direção.
– Para de tentar andar por aí, você vai se machucar.
– E quem se importa? Eu já estou machucado mesmo.
– Eu me importo! – Então a coragem que Minseok guardava lá no fundinho resolveu brotar justo naquele momento, era tanta coisa guardada que simplesmente foi expelindo tudo para fora – Agora você quem vai me escutar, Baekhyun. Você realmente não consegue perceber o quanto que eu me importo com você? O quão especial você é para mim? Tão especial que eu até aceitei entrar nessa sua atuação louca para reconquistar aquele cotonete de satanás! Você tem noção do quanto doeu fingir ser o seu namorado apenas para fazer ciúmes num idiota que sequer ligou para o fato de você estar completamente bêbado para te comer?
– Minseok... – O amigo o encarava boquiaberto.
– Não, eu ainda não acabei. Já tem muito tempo, Baekhyun, muito tempo mesmo que eu gosto de você e sonho todos os dias em podem te beijar e segurar sua mão e finalmente parar de ficar me escondendo como um covarde com medo de você me rejeitar e isso estragar nossa amizade. Que merda Baekhyun, eu te amo para um caralho e isso é tão óbvio que eu me pergunto se você se faz de cego ou só é burro mesmo. E quer saber? Eu não estou nem aí se você não puder me corresponder, eu vou continuar gostando de você mesmo assim, por que eu só quero cuidar de você e te proteger para sempre.
Minseok sentia a garganta arder e o peito inflar, milhares de explosões pipocavam pelo seu corpo enquanto mantinha o olhar fixo no loirinho. Ele respirou fundo várias vezes tentando acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que se parabenizava, “Você fez um bom trabalho, soldado”. Após alguns segundos de puro silêncio e uma vergonha crescente, Baekhyun se pronunciou:
– Finalmente, Minseokiki.
Naquela noite Baekhyun vomitou até as tripas na privada só saiu de lá carregado por Minseok e Chanyeol, que havia invadido o quarto para passar “um tempo” com uma garota e encontrou os dois garotos agachados no chão do banheiro. Claro que a bicicleta de Minseok não era o suficiente para levá-los até em casa, então o garoto se viu obrigado a ligar para a mãe do loirinho e acionar o resgate. Baekhyun ficou de castigo por uma semana inteira sem direito a computador ou sair para qualquer outra festa durante o restante do ano, mas estava tudo bem, pois tinha Minseok para lhe acompanhar durante as sextas, sábados e todos os outros dias da semana.
Eles se tornaram o casal mais grudento de toda a história dos casais grudentos, com direito a vários apelidinhos bregas, muitos deles nomeados pelo próprio Minseok. Viviam de beijinhos pelos cantos e piadinhas internas que só eles conheciam, para a tristeza de alguns e deleite de suas shippers fanáticas. E estava tudo bem, pois enquanto tivessem um ao outro era o bastante. E bem, Minseok estaria ao lado de Baekhyun para sempre.
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#2 felicity
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Título: Felicity
Número do Plot: #53
Quantidade de Palavras: 6.740
Sinopse: Baekhyun e Kyungsoo namoram há 6 meses e então é chegada a hora de conhecer os pais. Baekhyun conhece os pais de Kyungsoo, tudo mil maravilhas, ele é simpático e logo consegue conquistar toda a família do Do. Já com Kyungsoo são outros quinhentos, ele é quieto e na dele, e a família de Baekhyun se mostra muito, mas muito exigente diante de um namorado novo; e Kyungsoo vai ter que fazer de tudo pra conquistar a família Byun.              
Couple: Baeksoo (BaekhyunxKyungsoo)
Avisos: nudez, sexo, linguagem imprópria.
Do Kyungsoo nunca curtiu muito a ideia de namorar sério.
Para ele, namoros só eram bonitos em filmes e séries de televisão, pois na vida, só dava dor de cabeça — ou dor de corno — e decepção, um desgaste desnecessário quando podia matar sua carência em rodadas de sexo casual e diversão. Kyungsoo era prático e evitava qualquer envolvimento que durasse mais do que duas, no máximo três, noites de sexo.
Kyungsoo não era grande fã de romance e por esse motivo, ficou surpreso consigo mesmo após conhecer Byun Baekhyun, um gênio da ciência da computação, em uma das festas loucas de Jongdae, um ex-colega da faculdade.
Ao contrário do que você provavelmente deve estar imaginando, não foi amor à primeira vista tampouco aquela coisa bizarra de almas gêmeas, em verdade foi só uma rodada insana de sexo que foi tão boa que se repetiu mais uma vez, e outra e mais outra, consequentemente ultrapassando o limite de noites em que Kyungsoo poderia transar com a mesma pessoa sem feder a compromisso e decepções futuras.
Kyungsoo até tentou pular fora, explicar para Baekhyun seu esquema estúpido e assim evitar um coração partido, mas acabou ficando — ou melhor, permitindo que Baekhyun ficasse — por mais uma semana, duas, três… até estar tão acostumado com o cheiro de Baekhyun exalando em suas roupas, com a sensação gostosa dos pés dele roçando nos seus à noite e com os beijos carregados de carinho, que lhe amolecia o corpo inteiro quando ele pedia perdão por trocá-lo por uma partida de um jogo irritante, que o deixava entrar em seu coração só mais um pouquinho.
Baekhyun não era exatamente o cara dos sonhos de ninguém, ele era uma bagunça de cabelos tingidos de uma cor diferente a cada dois meses, sorrisos fáceis, risadas escandalosas, camisetas de bandas e animes que Kyungsoo nunca havia ouvido falar, meias coloridas e óculos quase sempre tortos; amante de animais fofinhos, doces, músicas animadas e jogos violentos, hater número 1 de pepinos, comidas saudáveis demais e do colega de trabalho de Kyungsoo, Chanyeol — pois ele tinha dentes e segundas intenções demais para seu gosto —; carente, dramático… a lista era longa.
Porém, entretanto, sobretudo, Kyungsoo gostava de Baekhyun, gostava do jeito que ele sempre conseguia fazê-lo rir de suas piadas, da maneira que ele o beijava intenso e apaixonado, do jeitinho que ele tirava suas roupas e o fodia com vontade no chão da sala ou no quarto — ou em qualquer superfície em que pudessem transar —, da maneira que ele cedia facilmente quando queria testar novas de posições para apimentar o relacionamento e até mesmo do jeito que ele o irritava e acabavam brigando só para fazerem as pazes minutos depois; Kyungsoo gostava mesmo do Byun, demais, muito mais do que conseguia expressar.
Por isso estavam juntos há seis inacreditáveis meses, sem dúvidas o relacionamento mais longo da vida de Kyungsoo, batendo o recorde prévio de quatro meses e meio. Por isso também que Baekhyun achou estar amando e resolveu mandar a real para Kyungsoo, pedindo-o em namoro e milagrosamente sendo aceito pelo Do, que também achava estar amando.
Acontece que, seis meses de namoro também significava — em alguma regra idiota inventada para complicar vidas alheias — assumir o compromisso de conhecer a família da pessoa com quem estava compromissado, e Kyungsoo tinha zero experiência nisso, apesar de Baekhyun insistir que seus pais iriam amá-lo.
Baekhyun já havia sido apresentado a sua família — por livre e espontânea pressão — e foi simplesmente adorado por todos.  Seu pai, sua mãe, Seungsoo, a esposa de Seungsoo, seu pequeno sobrinho e Frodo — o cachorro — foram fisgados pelo carisma inegável de Baekhyun, o que lhe deixou feliz e aliviado, pois o Byun pareceu adorá-los também.
No entanto, apesar de Kyungsoo tentar adiar a “obrigação” de conhecer a família de seu namorado, o grande dia se aproximava e com ele a vontade de sair correndo e cortar os laços construídos em seis meses de puro romance, fogo e paixão, embora não estivesse nem louco de terminar com Baekhyun a essa altura do campeonato.
Byun planejou tudo, ficariam duas semanas e alguns dias na casa de seus pais em Bucheon, não dando alternativas a Kyungsoo a não ser aceitar quando fez um biquinho adorável e prometeu lhe pagar o melhor oral de sua vida. No fim da noite, entre gemidos estrangulados e lágrimas de prazer, Do disse sim.
Talvez por ter se deixado levar até demais, Kyungsoo estava numa cilada agora. Depois de uma viagem curta de carro até a cidade natal de seu namorado, dava olá ao verdadeiro inferno na terra.
Nos sonhos fantasiosos de Baekhyun, tudo seria às mil maravilhas, sua família absolutamente adoraria Kyungsoo e o trataria super bem. Na dura realidade, tudo estava indo de mal a pior — e só tendia a piorar.
Estava na cara que a família Byun não curtiu muito a presença de Kyungsoo, literalmente. Um silêncio mortal se instalara na casa no momento em que Baekhyun chegou de mãos dadas com o baixinho e o apresentou como seu namorado, alarmando o estado de calamidade.
Honestamente, Kyungsoo já imaginava que iria ser assim, pois não era exatamente o genro — e cunhado — que alguém pediria a Deus com seu jeito todo acanhado e reservado, que agradava a poucos. Em verdade, estava desapontado, mas não surpreso.
O que podia fazer se era um verdadeiro desastre social?
Nada. Kyungsoo havia desistido de tentar ser sociável há tempos.
No entanto, a situação que se encontrava agora era no mínimo desconfortável: três pares de olhos encaravam-no fixamente, como se fosse uma espécie de animal em exibição no zoológico, em um silêncio assustador.
Kyungsoo já havia passado por muitas situações embaraçosas antes, como quando foi pego dando uns amassos na filha do reverendo; ou quando entrou no carro de um estranho por três dias seguidos por ser muito parecido com o carro de Jongdae; quando mandou mensagens inapropriadas para um número desconhecido; ou quando desejou feliz aniversário para seu chefe no dia errado… a lista era longa, mas aquela certamente vencia todas elas.
O clima estava pesado e parecia cada vez mais difícil respirar, seu sovaco suava como nunca antes e seu coração batia frenético no peito. Era oficial, estava prestes a ter um cagaço e a culpa era toda de Baekhyun e daquela ideia estúpida que nunca deveria ter concordado. Maldito fosse Byun Baekhyun.
— Então, Kyungsoo! — Byun Eunji, a mãe, começou a falar em um tom alegre (e evidentemente falso pela expressão meio retorcida), tentando iniciar uma espécie de conversa. — Qual sua idade?
Do engoliu em seco e procurou pelo olhar de Baekhyun, que parecia alheio à breve entrevista que Kyungsoo estava prestes a se submeter, satisfeito por ver sua mãe puxando conversa com seu namorado.
Kyungsoo balançou a cabeça levemente e se concentrou em responder.
— 24 anos.
— Você é novo — Baekbeom murmurou.
— O que você faz da vida? — Eunji continuou perguntando.
— Eu sou designer gráfico — respondeu em um tom ameno, porém baixinho.
— Hmmmm você ganha bem? — Byun Beomseok, o pai, se intrometeu na conversa.
— Pai! — Baekhyun repreendeu com uma risadinha.
— Acho que sim…? — Do ripostou nervosamente.
— E você é formado? — Baekbeom perguntou.
— Sim, é claro.
— Tem alguma religião? — Eunji questionou.
— Sou cristão.
Os três sorriram aliviados.
Cristãos, absolutamente.
— Sua família aprova seu relacionamento com nosso Baekhyunie? — a senhora Byun perguntou com curiosidade.
— Sim, eles o adoraram — Kyungsoo respondeu embaraçado, enquanto Baekhyun enlaçou sua cintura discretamente.
— Hm… devem ter adorado mesmo, nosso Baekhyunie é um bom homem — Baekbeom disse, os olhos grudados na demonstração de afeto entre o casal.
— Ele é mesmo — Do concordou com um sorriso amoroso, fazendo seu namorado sorrir também.
— Você também é, Soo — Baekhyun disse carinhosamente.
Kyungsoo corou na hora, esquecendo um pouco da presença da família Byun e focando nos olhos gentis de seu namorado, suspirando que nem garotinha.
Droga, estava muito apaixonado.
Os dois foram interrompidos por um pigarreio do senhor Byun, que desaprovava fortemente qualquer tipo de demonstração de afeto.
Do rapidamente desviou os olhos de Baekhyun e focou nos três estranhos que, por algum motivo, pareciam não gostar muito de sua presença.
— Então, querido, como vai a vida na cidade grande? — Eunji direcionou sua atenção ao seu filho, decidindo deixar Kyungsoo de fora da conversa.
Baekhyun sorriu todo animado e começou a responder, sem notar o clima esquisito que se instalara entre sua família e seu namorado.
Kyungsoo suspirou baixinho e tentou se concentrar no toque aconchegante de Baekhyun em sua cintura e nas risadas animadas que soavam em seu ouvido.
Já previa que aquela semana seria bem longa.
                                                     X
Dizer que a família Byun não gostou de Kyungsoo seria um eufemismo se comparado ao pesadelo que Do estava vivendo.
Kyungsoo estava ali somente há quatro dias, mas já queria arrumar suas malinhas, ir embora e fingir que tudo não havia passado de um sonho ruim.
Tá certo que Kyungsoo não era a pessoa mais amável do mundo com seu jeito todo quieto, reservado e meio acanhado, mas também não era a mais detestável para ser tratado daquele jeito.
Os pais de Baekhyun implicavam com cada pequeno detalhe de Kyungsoo, com suas manias e hábitos, seus gostos, suas roupas e até sua aparência.
Eunji dizia que Kyungsoo deveria ser um namorado melhor para seu filho, cuidar dele como uma esposa cuidaria de seu marido — um pensamento heteronormativo demais para o gosto de Do, que prezava sua individualidade e, acima de tudo, sua independência — e fazer todas as suas vontades.
Beomseok, por outro lado, já dizia que Kyungsoo deveria ser mais esperto e acompanhar os jogos de golfe que passava cedinho da manhã porque golfe era realmente importante — para um velho de sessenta anos.
Baekbeom era ainda pior: dizia que Kyungsoo deveria desgrudar um pouquinho de Baekhyun e deixá-lo aproveitar pois aquela semana era para ser em família e, obviamente, Do não era parte dela.
Baekhyun até tentava amenizar a situação, fazendo piadinhas aqui e acolá, desconversando sempre que sua mãe começava a criticar suas escolhas e consolando Kyungsoo com sorrisos brilhantes e beijos carinhosos quando ninguém estava olhando, porém, nem sempre funcionava, a batalha já havia sido travada.
No momento, os pais de Baekhyun estavam fora, fazendo compras, e o casal estava na sala, procurando alguma coisa para assistir na televisão enquanto Kyungsoo lamentava sobre o fato de nunca mais terem ido ao cinema juntos.
Baekhyun colocou qualquer série para rodar e se acomodou ao lado de seu namorado, beijando seu biquinho e prometendo que iriam ver quantos filmes ele quisesse assim que voltassem para Seul, fazendo-o sorrir todo apaixonado.
— Já te disseram que você é o melhor namorado do mundo? — Kyungsoo perguntou com um sorriso amoroso.
— Não lembro… você é o único namorado que eu tenho — Baekhyun brincou.
— Idiota.
— Sou.
Kyungsoo revirou os olhos e o puxou pela nuca, tascando um beijo em sua boca, com direito a língua e tudo.
Nos últimos dias, com a vigília constante da família Byun, estava difícil terem algum contato mais íntimo do que simples selinhos. Baekhyun até tentava fazer algumas investidas, na calada da noite, quando todos os outros estavam dormindo, mas Kyungsoo se afastava sempre por achar um desrespeito com os Byun e os pôsteres do Mario colados na parede.
Sem perder a oportunidade, Baekhyun correspondeu o beijo animadamente, apertando a cintura de Kyungsoo e trazendo-o para mais perto. Do arfou entre o beijo, sentindo a língua atrevida de seu namorado violar sua boca e um calor começando a subir em seu corpo. Os dois estavam empenhados demais naquele amasso, tanto que, quando viram, Baekhyun já estava em cima de Kyungsoo, beijando-o com muita vontade.
No entanto, assim que as mãos de Kyungsoo começaram a erguer a camisa de Baekhyun, a porta foi aberta com tudo pelos pais e irmão do ruivo, que tomou um susto tão grande que acabou caindo no chão.
A cena era tão embaraçosa que Kyungsoo chegou a corar — um evento raríssimo considerando a personalidade do baixinho — e Baekhyun soltou um grito agudo demais para os ouvidos de seus pais.
Um silêncio constrangedor se apossou do cômodo nos minutos seguintes, até Eunji se recompor do choque de ver seu filhinho quase sugando a alma de Kyungsoo num beijo desentupidor de pia e pigarrear.
— Bom dia, meninos… vejo que aproveitaram bem a manhã sozinhos. — Ergueu uma sobrancelha. — Espero que não tenham feito nada no meu sofá.
— Nós não fizemos! — Baekhyun foi rápido em negar, levantando do chão e quase tropeçando de novo.
Àquela altura, o rosto de Kyungsoo estava tão vermelho que parecia a ponto de explodir.
— Sinto muito, senhora, nós só estávamos… hã… assistindo um filme? — Do tentou se defender.
Baekbeom riu alto, colocando as sacolas no chão e olhando para Kyungsoo com uma expressão de deboche.
— Sei muito bem que filme estavam assistindo — comentou todo irônico. — Byun Baekhyun e a Língua no Céu da Sua Boca.
— Baekbeom! — os três Byun repreenderam em uníssono.
Baekbeom simplesmente deu de ombros, retirando-se de cena.
Os outros ficaram ali, olhando um para a cara do outro de uma maneira muito embaraçosa, pelo menos até a mãe de Baekhyun suspirar em derrota e encerrar aquele momento esquisito de uma vez.
— Eu comprei frutos do mar pra comermos hoje — anunciou, olhando diretamente para Kyungsoo. — Quer me ajudar a preparar o almoço?
Parecia mais uma intimação, que Kyungsoo não poderia recusar nem se quisesse.
Do silenciosamente concordou, após perceber alguns olhares ansiosos de Baekhyun em cima dele – como se tentasse lhe dizer alguma coisa por telepatia – e o desconforto aparente de Beomseok, que nem havia se pronunciado.
Kyungsoo levantou do sofá, ajeitando a roupa que estava amarrotada e seguindo sua linda sogrinha até a cozinha, pensando em planos impossíveis de sumir sem ser percebido.
Que merda.
                                                        […]
Eunji cortava as verduras com força exagerada, enquanto Kyungsoo remexia uma panela de molho calmamente.
Estava silencioso – exceto pelo som da faca batendo violentamente na tábua – e nenhum dos dois fazia muita questão de falar, embora a mãe de Baekhyun com certeza quisesse dizer algumas coisinhas.
Para ser completamente honesto, Kyungsoo nunca se imaginou naquele tipo de situação, já que era pouco experiente no quesito relacionamentos amorosos e todos os compromissos que vêm junto, e estava bastante ansioso e incomodado. Mas ao mesmo tempo, não queria se fazer de coitado só porque seus sogros e cunhado não foram com sua cara.
Kyungsoo podia ser antissocial e um pouco estranho, mas era persistente, e amava Baekhyun demais para desistir sem antes ir à luta, mesmo que essa luta fosse bastante árdua e desagradável.
Do estava tão preso nos seus pensamentos que quase deu um pulo quando a voz de sua sogra ressoou na cozinha, repreendendo-o pela sua falta de atenção ao deixar o molho quase transbordar da panela, meio irritada.
— Preste atenção! — disse ela, aproximando-se do fogão e desligando. — Cuidado para não deixar gastar.
Kyungsoo arregalou os olhos, se dando conta do que havia acontecido.
— Desculpe, senhora.
— Não me chame de senhora, não sou velha — repreendeu com as sobrancelhas franzidas.
— E devo lhe chamar do que? — perguntou meio confuso.
— Eunji, meu nome — respondeu com um revirar de olhos.
— Tudo bem, desculpe — Kyungsoo murmurou envergonhado.
— Pare de se desculpar.
— Certo…
Eunji virou de costas, voltando ao que fazia antes de Kyungsoo quase deixar o molho ser arruinado.
— O que você viu no Baekhyun? — Eunji questionou do nada, assustando Do, que se encolheu minimamente.
A pergunta não deveria ser o que Baekhyun viu nele?
— Como assim?
— O que você gosta no meu filho? Por que está com ele? Ele te faz feliz? Você o faz feliz? — perguntou tudo de uma vez.
Kyungsoo se remexeu um pouco desconfortável.
Havia tanta coisa que ele gostava em Baekhyun, como a mania de fazê-lo rir sempre, até mesmo nos momentos mais inapropriados, ou a maneira de fazê-lo corar quando ele o chamava de lindo, ou o jeito de fazê-lo se sentir amado até mesmo com um simples olhar. Entre outras coisas que ele com certeza não gostaria de falar para sua sogra.
O que ele gostava em Baekhyun?
— Tudo — respondeu subitamente. — Q-quero dizer, eu gosto dele como um todo, ele é incrível e eu o amo, então… — deixou no ar. — Estou com ele porque ele me faz feliz e eu acho que é recíproco.
A mãe de Baekhyun concordou silenciosamente, separando alguns mariscos e processando as palavras em sua cabeça.
Kyungsoo parecia genuinamente sincero e apaixonado pelo seu filho, por mais que odiasse admitir… bem no fundo sentia um pouco de ciúme do seu caçula, era doloroso vê-lo criar asas e aparecer com um novo amor. Afinal, Baekhyun nunca foi de apresentar seus casinhos amorosos, então não era difícil entender que Kyungsoo não era qualquer um.
Eunji suspirou, direcionando sua atenção para Do.
— Entendo — disse com uma expressão suave. — Agora me ajude com esses mariscos, não fique aí parado só me olhando.
Kyungsoo acenou freneticamente e se prontificou para ajudá-la, estranhamente aliviado por não precisar ter mais uma conversa desagradável após quatro dias trevosos.
Talvez estivesse cantando vitória cedo demais, mas por ora, estava tudo bem.
Ainda tinha muito chão pela frente.
                                                     X
Num piscar de olhos, quatro dias se tornaram sete e as coisas continuavam as mesmas — não exatamente as mesmas, mas não tão melhores também.
Kyungsoo estava tentando, tentando de verdade, conquistar seus sogros e seu cunhadinho, com toda sua timidez, senso de humor esquisito, habilidades culinárias e muita, mas muita, paciência para aguentar todas as alfinetadas que recebia nas refeições que faziam juntos.
Baekhyun tentava ajudar, mas acabava atrapalhando na maior parte do tempo, e Kyungsoo preferia conquistar a confiança dos Byun por si próprio.
Entretanto, apesar de todos os pesares, Do ainda estava feliz, feliz de verdade por ter alguém como Baekhyun ao lado dele, que lhe amava tanto quanto o amava de volta, em uma reciprocidade que nunca havia experimentado até aquele momento e somente isso bastava para que continuasse insistindo.
Kyungsoo suspirou cansado. O dia havia sido pesado para ele, que ouviu vários sermões da velha Eunji e piadinhas idiotas de Baekbeom enquanto visitavam a feira de plantas no centro da cidade.
Existia algo pior do que uma sogra e um cunhado ciumento? Kyungsoo só podia ter feito algo muito errado na encarnação passada para merecer um castigo desses.
Depois de muito pensar e quebrar cabeça com suas hipóteses imaginárias, acabou constatando o óbvio ao adentrar o quarto, já seco e limpinho:
— Sua família me odeia.
Baekhyun o olhou de soslaio e sentou na cama, onde antes deitava, suspirando meio culpado.
— Minha família não te odeia… — tentou consolar com um sorriso pouco convincente. — Só deve ser difícil pra eles verem que eu, que sempre fui muito discreto quanto aos meus relacionamentos passados, trouxe alguém pra conhecê-los.
Kyungsoo balançou a cabeça, aproximando-se da cama e deitando ao lado de seu namorado.
— Eu sei que é difícil, mas às vezes me tratam como se eu fosse um intruso, isso é frustrante — Kyungsoo quase choramingou, contendo-se para não desistir e pedir para voltarem logo para Seul.
— Você não é um intruso — Baekhyun riu, levantando-se para tomar banho. — Eu te trouxe, você é meu convidado.
— Ilustre convidado — murmurou debochado.
Baekhyun franziu o cenho, ocupado na tarefa de tirar suas roupas.
— Sim, você é.
— Você não entende, meus pais te adoraram. — Do revirou os olhos. — Tá sendo uma experiência nova e totalmente bizarra pra mim.
Byun suspirou e se aproximou da cama, observando a expressão frustrada de seu namorado.
— Você não tá se sentindo bem aqui? Quer voltar pra casa?
Casa.
Toda vez que Kyungsoo lembrava de casa, só conseguia imaginar ele e Baekhyun nela, felizes para sempre com seus jogos, filmes, animes, séries, músicas indie, comidas exóticas, doces e muito sexo. Desde quando Baekhyun fazia parte do cenário que imaginava como casa? Seus planos de não se envolver já tinham sido arruinados há tempos, mas ainda lhe surpreendia o fato de ter sido capturado tão intensamente.
— Eu tô bem… só um pouco cansado, é isso — respondeu um pouco distante.
Baekhyun cantarolou em concordância, aproximando-se ainda mais e subindo na cama, só de cueca.
— Eu posso te ajudar a resolver isso… — Byun comentou casualmente.
— Como? — Kyungsoo perguntou retoricamente, soltando uma risadinha ao sentir suas pernas serem puxadas e discretamente abertas por Baekhyun, que já se enfiava e se estabelecia entre elas, lento e traiçoeiro.
— Assim… — Baekhyun respondeu com um movimento obsceno de seus quadris. — E assim… — Mais um movimento.
Kyungsoo gemeu baixinho, mais sensível que o normal por não ter tido nenhum contato sexual nos últimos dias e puxou seu namorado pelos cabelos, atacando-o com um beijo necessitado.
Baekhyun não hesitou para corresponder o beijo, sedento para matar a saudade que sentia de Kyungsoo, movimentando os quadris com mais empenho à medida que Do gemia em sua boca e pedia por mais.
Kyungsoo contorcia o corpo em prazer ao sentir o pau de Baekhyun roçar em sua bunda — mesmo que ambos estivessem parcialmente vestidos — e não continha suas mãos, que se direcionavam automaticamente até a barra da cueca de seu namorado para tirá-la de uma vez.
Baekhyun imediatamente entendeu o recado, tanto que logo os dois estavam nus, esfregando os corpos e se beijando selvagemente, tentando fundir os corpos.
Naquele momento, Kyungsoo esqueceu totalmente de onde estavam, com o corpo orvalhado em suor e cheio de tesão, doido para ser fodido. Seu desejo não tardou a ser concedido, Baekhyun se encarregou de cumpri-lo ao prepará-lo com seus dedos longos, finos e deliciosos dentro de seu canal, para em seguida fodê-lo do jeitinho que pediu, rápido e forte.
Kyungsoo perdeu totalmente a noção e controle das coisas, arranhando os ombros largos de Baekhyun e gemendo mais alto do que deveria — considerando o lugar onde estavam —, sendo calado pelos lábios deliciosos de seu homem.
Do estava quase no clímax, apertando mais as coxas ao redor da cintura de Baekhyun e tentando impulsioná-lo para mais perto, assim como Byun também, que aumentava o ritmo das estocadas e gemia mais descontrolado.
Os dois estavam tão perto de gozar que nem escutaram as batidas suaves na porta, tampouco viram Baekbeom praticamente arrancá-la pela força com que abriu, pelo menos não até ouvirem um grito agudo demais, que quase fez com que tivessem um ataque do coração.
— CARALHO, QUE MERDA É ESSA? — O Byun mais velho gritou, com uma expressão que seria engraçada se a situação toda não fosse trágica.
Kyungsoo arregalou tanto os olhos que pensou que iria saltar do rosto, chocado por ter sido pego em um momento tão… íntimo.
Por outro lado, Baekhyun parecia petrificado, sem acreditar no que estava acontecendo.
— MEU DEUS, A MINHA VIDA NUNCA MAIS VAI SER A MESMA, COMO DESVER ISSO, SENHOR??? — continuou gritando, perturbado por ver seu irmãozinho… enfiado entre as pernas de seu cunhado.
Depois de um milissegundo, Baekhyun se recuperou do choque inicial, rapidamente se desgrudando de Kyungsoo e correndo para expulsar Baekbeom dali.
— Da próxima vez, avisa antes de entrar! — praticamente rosnou, batendo a porta na cara de seu irmão.
Assim que Baekhyun se virou para encarar seu namorado, sentiu a sensação de constrangimento aumentar e um leve pressentimento de que estavam fodidos — não de um jeito bom, é claro, até havia brochado depois dessa e assumia que ele também.
— Eer… t-tá tudo bem? — Byun perguntou com um sorriso amarelo e a cara mais vermelha que pimenta.
Kyungsoo não respondeu nada, apenas pegou um travesseiro e começou a gritar tamanho era a frustração que sentia
Uma coisa era certa: Baekhyun não chegaria nem perto daquele corpinho até o fim da viagem.
X
Kyungsoo estava seriamente pensando em se matar devido a vergonha que sentiu no momento em que adentrou a cozinha no dia seguinte. Nada poderia explicar o constrangimento que se apossou de seu corpo, nem mesmo os mil memes que Jongdae mandava todo dia, os quais acabava se identificando bastante.
Já não bastava ter sido pego no flagra pelo seu cunhado no meio de uma transa, ainda tinha que encará-lo no dia seguinte e fingir demência para que seus sogros não acabassem descobrindo — isso se já não soubessem, Baekbeom era bem fofoqueiro —, Kyungsoo não achava que o dia pudesse ficar mais lindo.
Toda a família estava reunida, em um silêncio medonho. Kyungsoo olhava para sua xícara de café como se fosse a coisa mais interessante do mundo, enquanto Baekhyun o olhava de soslaio, todo preocupado; Eunji e Beomseok pareciam não entender nada enquanto Baekbeom parecia ter descoberto a cura para o câncer.
Definitivamente, o dia estava lindo.
De repente, Baekbeom pigarreou e quebrou o silencio.
— Então… todos dormiram bem? — perguntou interessado, os olhos focando no casalzinho.
— C-claro — Baekhyun e Kyungsoo responderam ao mesmo tempo.
— Sim, querido — Eunji ripostou, um pouco menos tensa pelo silêncio interrompido. — E você?
— Eu dormi bem… — Deu de ombros. — Só tive dificuldade para dormir por ter visto uma cena horrível.
Beomseok franziu o cenho.
— Assistiu algum filme de terror?
Baekhyun o encarou todo inquieto.
— Bem pior… foi um pornô barato.
Kyungsoo quase engasgou no café.
— Beom! — Eunji repreendeu.
— Todo mundo é grandinho aqui, mamãe, tenho certeza que não há nenhum virgem — comentou irônico. — Não é, rapazes?
Baekhyun riu de nervoso.
— Claro.
Os Byun se remexeram desconfortáveis.
— Foi bizarro, definitivamente…
— Tenho certeza que existem assuntos mais interessantes para discutir, por exemplo, a relação entre a Coreia e a Chi-
— …Mas ao mesmo tempo, não podia imaginar que pornô gay era tão intenso — Baekbeom interrompeu a fala de seu pai, olhando para Baekhyun e mexendo as sobrancelhas sugestivamente.
— E o que você fazia assistindo pornô gay? — Baekhyun perguntou desafiador, fazendo seus pais resmungarem pelo rumo da conversa.
— Curiosidade. — Deu de ombros.
— Para quem não gostou, você parece bastante interessado — Kyungsoo falou pela primeira vez, meio corado, porém composto.
— Bem, foi uma experiência interessante. Os atores pareciam bem prof-
— Já chega! — Eunji repreendeu horrorizada. — Isso não é conversa pra hora do café, não seja inapropriado.
Baekbeom riu alto, divertindo-se com o desconforto de seu irmão e cunhadinho, que parecia mais do que pronto para entrar num foguete e explodir em milhares de pedacinhos no espaço sideral.
— Desculpa, só estava compartilhando o motivo de não ter conseguido dormir direito.
Baekhyun revirou os olhos.
— Mudando de assunto… como você está, Kyungsoo? Está quieto hoje — Eunji disse, como se Do fosse a pessoa mais falante do mundo.
— Estou ótimo. — Fingiu entusiasmo. — E você?
— Estou ótima também! Hoje eu vou fazer um prato especial para o jantar, se você quiser ajudar… — sugeriu até amigável, continuando a conversa que Kyungsoo se esforçava ao máximo para acompanhar.
Era difícil se concentrar, embora, com as risadas diabólicas, os olhares e piadinhas sugestivas que Baekbeom soltava de vez em quando, além dos chutes não muito discretos que Baekhyun dava no irmão por debaixo da mesa.
Pelo menos ele havia sobrevivido, mas a vontade de dramaticamente se suicidar continuou presente pelo resto do dia… talvez continuasse até o fim da semana.
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Os dias simplesmente passaram, rápidos e impiedosos. Uma semana e quatro dias de puro estresse e pensamentos suicidas que, magicamente, se tornaram pensamentos assassinos.
Kyungsoo definitivamente já estava perdendo sua paciência, tinha que ter um espirito de santo para aguentar tanto desaforo sem fazer nada a respeito e Do estava bem longe de ser um iluminado.
A relação familiar entre ele e seus sogros não era das melhores, mas já conseguia ver um avanço na forma que Eunji iniciava as conversas e o tratava mais cordialmente, assim como no jeito que Beomseok o convidava para discutir sobre assuntos políticos — já que tanto Baekhyun e Baekbeom odiavam esse tipo de assunto.
No entanto, a relação entre ele e seu cunhado já era completamente diferente, pois Baekbeom não colaborava nem um pouco para que melhorasse. Desde que seu cunhado presenciou aquela cena embaraçosa, as coisas nunca mais foram as mesmas.
As piadinhas de mau gosto, as insinuações debochadas e os discursos maliciosos aumentaram significativamente, fazendo Kyungsoo sentir-se mais desconfortável do que nunca.
Porém, o desconforto logo se transformou em algo maior, algo parecido com raiva e nojo, ranço pelo seu cunhado e vontade de sufocá-lo com aquela almofada que havia comprado para ele como presente de natal.
Kyungsoo não costumava ser agressivo, era bem tranquilo e até carinhoso se não estivesse irritado, entretanto, Baekbeom conseguia a façanha de despertar seu lado mais obscuro, mais assassino.
No momento, estavam só os dois na sala — já que Baekhyun e seus pais estavam lá fora decorando a casa para o natal —, assistindo um desenho sobre uma menina e um urso, que o sobrinho de Kyungsoo particularmente adorava, bem educativo para uma criança de seis anos.
Por um milagre, estava tudo silencioso, Baekbeom parecia genuinamente interessado no desenho e Kyungsoo nem fazia questão de iniciar uma conversa.
Do estava pagando por todos os seus erros naquelas duas semanas, que passavam terrivelmente lentas, e não via a hora de voltar para casa e esquecer de tudo que tivera que engolir.
Enquanto pensava em suas desgraças, Kyungsoo nem percebeu o olhar de Baekbeom pousar nele, todo analítico.
O Byun mais velho não odiava Kyungsoo, como ele com certeza deveria pensar, só detestava a ideia de ver seu irmãozinho crescer e se apaixonar, meio que cortando os laços para aos poucos criar sua própria família.
Baekbeom ainda morava com os pais, embora tivesse seu emprego e estabilidade financeira, porque ainda não estava pronto para enfrentar o mundo sozinho, sem ninguém para segurar sua mão. Baekhyun sempre foi mais independente emocionalmente e, ao mesmo tempo que ficava contente por ele, também ficava um pouco enciumado.
O fato é que Kyungsoo nitidamente fazia Baekhyun feliz, sem sombra de dúvidas, mas Baekbeom ainda gostava de provocá-lo e não perdia tempo para fazer mais alguma gracinha.
— Hmmm você não tem cara de passivo — comentou do nada, chamando a atenção de Do para ele.
Kyungsoo imediatamente franziu o cenho.
— Como?
— Você não tem cara de passivo — repetiu no mesmo tom despreocupado, como se estivessem falando sobre a neve que caía lá fora.
Do arregalou os olhos, um pouco desconcertado.
— E o que exatamente é cara de passivo?
— Sei lá, todo delicado e sensível, meio afeminado — respondeu simplista. — Tipo o Baekhyun.
— Baekhyun não é afeminado — afirmou com certeza.
— Bem, ele tem alguns traços femininos… — Baekbeom disse gracioso. — Na escola, sempre o convidavam para fazer parte do café travestido nos projetos anuais.
— E?
— Sei lá, só estou constatando um fato.
Que idiota.
— “Fato” totalmente irrelevante e sem fundamento. — Kyungsoo riu sem humor. — Pelo visto você não sabe nada mesmo sobre relacionamentos homoafetivos, cai sempre nos mesmos estereótipos — continuou falando meio irritado. — Aliás, por que você tá tão interessado na vida sexual do seu irmão? Se quer saber, estamos muito satisfeitos um com o outro.
Baekbeom se remexeu desconfortável no sofá, sentindo-se um pouco… estúpido.
— Deu pra notar que estão — retrucou sem o mesmo entusiasmo de antes.
— Ótimo — Kyungsoo deu a conversa como encerrada.
— Mas Baekhyun ativo… nunca imaginei — Baekbeom continuou.
Do já começava a se aborrecer.
— É, ele é… muito bom no que faz.
— Dispenso detalhes.
— Você que começou.
— Eu estava curioso.
— Problema é seu.
— Por que ele escolheu você dentre todos os homens existentes no mundo?
Kyungsoo respirou fundo.
— Vai saber.
— Eu não escolheria voc-
— Cala a boca — Do murmurou entredentes. — Qual é o seu problema?
Baekbeom ficou surpreso pela repentina agressividade do tão pacifico Kyungsoo.
— Nada, eu só…
— Então cala a boca e assiste essa merda de desenho — aconselhou com um olhar assustador.
Byun quase se encolheu no sofá.
Ambos ficaram em silêncio, não por muito tempo, embora. Logo Baekbeom encontrou outro tópico de conversa muito… interessante, ainda envolvendo a vida sexual de Kyungsoo, que quase lhe custou a vida, literalmente.
Se alguém dissesse para Kyungsoo que ele perderia toda sua paciência naquele momento e voaria para cima de seu cunhado com uma almofada, ele provavelmente riria até chorar de tão absurdo que aquilo soaria em seus ouvidos… mas foi exatamente o que aconteceu.
Em um momento, os dois estavam assistindo Masha e o Urso, e no outro, estavam se atracando no chão.
Kyungsoo parecia descontrolado ao distribuir pancadas e mais pancadas em Baekbeom, que tentava se defender das almofadadas com os braços, gritando e tentando conter seu amável cunhadinho.
Do descontava todas as suas frustrações naquele momento, todos os desaforos que teve que ouvir, todas as exigências dos pais de Byun, que nunca pareciam achá-lo o suficiente, de tudo que teve que fazer para tentar agradá-los.
Kyungsoo estava em um caos emocional, nunca havia se esforçado tanto para ser aceito e se frustrado ao ponto de explodir, especificamente, agredir uma das pessoas mais amadas por seu namorado.
Não demorou muito para a “briga” ser apartada por um Baekhyun alarmado, que ouviu os gritos de longe e correu para ver o que estava acontecendo. O Byun mais novo teve que puxar Kyungsoo e contê-lo em seus braços com força enquanto Baekbeom se recuperava do choque, todo descabelado.
Ambos pareciam ter voltado de uma guerra.
Que belo exemplo de relação familiar.
                                                    […]
Mais tarde, no mesmo dia, deitado em uma cama bem quentinha, Kyungsoo começou a chorar de frustração. Do não costumava chorar, não era de seu feitio se abalar por qualquer coisinha, mas não aguentava mais, estava no seu limite.
Baekhyun estava no banheiro, então Kyungsoo aproveitou o momento para chorar tudo que tinha sem preocupar tanto seu namorado.
Sabia que o Byun estava se sentindo culpado e preocupado com seu estado emocional, tanto que ele não parou de perguntar nem um segundo se estava bem, se queria voltar para casa logo, mesmo depois do vexame que aconteceu.
Kyungsoo estava se sentindo péssimo depois da leve “surra” que deu em Baekbeom — que não causou nenhum dano grave — e só queria se esconder e nunca mais sair.
Se a família Byun já não ia muito com sua cara, agora certamente o abominava.
Do estava muito ferrado.
Suas lágrimas grossas molhavam o travesseiro e seu corpo tremia pelos seus pequenos soluços, fazendo-o sentir-se pequeno e insignificante.
Tentou limpar seu rosto e fingir que estava dormindo quando ouviu a porta do banheiro ser destrancada por Baekhyun, que percebeu seu comportamento esquisito logo de cara.
Kyungsoo odiava chorar na frente dos outros, por isso se encolheu debaixo do edredom e fez o possível para ignorar a presença de Baekhyun, que já subia na cama e se aproximava.
Era difícil ignorar, embora, praticamente impossível quando os braços de Baekhyun envolviam seu corpo em um abraço quentinho e reconfortante.
Não disseram nada, apenas continuaram abraçados, pelo menos até Kyungsoo se acalmar de sua pequena crise de choro. Baekhyun rapidamente deu um beijinho em sua bochecha e começou a falar sobre as coisas mais aleatórias.
Do ficou grato por ele não tocar no assunto da briga, mas ao mesmo tempo, um pouco chateado consigo mesmo.
Precisavam falar sobre aquilo.
— Eu sinto muito — Kyungsoo disse de repente, virando-se de frente para Baekhyun e interrompendo seu monólogo sobre o fim de Kimi ni Todoke, um de seus shoujos favoritos da vida.
Byun franziu o cenho.
— Pelo quê?
— Por ter agredido seu irmão, talvez? — respondeu meio sarcástico.
— Ah, isso… — Baekhyun riu soprado. — Não se sinta culpado, eu também sempre quis sair no tapa com ele, Baekbeom tem o dom de tirar as pessoas do sério.
— Mas ainda assim…
— Eu não estou chateado por isso, sei o quanto ele é irritante — Baekhyun assegurou. — Só estou preocupado com você, ‘cê nunca agiu desse jeito, foi surreal.
Kyungsoo gemeu de vergonha, escondendo o rosto debaixo do edredom.
— Eu fui tão inconsequente, seus pais devem estar pensando o pior de mim.
— Não estão, e se estiverem, problema é deles — Byun disse convicto. — Quem decide se você é bom pra mim sou eu.
— Eu sei, mas…
— Sem “mas” — Baekhyun lhe cortou. — Você é meu namorado e eu te amo, entenda isso.
Do acenou com a cabeça e fechou os olhos, apreciando as palavras e o toque suave de Baekhyun em sua pele, sentindo-se extremamente acalentado.
— Eu também te amo — confessou segundos depois, olhando bem fundo nos olhos de seu amado.
Baekhyun sorriu tão bonito e o abraçou tão forte que Kyungsoo instantaneamente esqueceu dos eventos desagradáveis que havia passado e sentiu que tudo iria se ajeitar.
Tudo ficaria bem.
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Eventualmente, tudo ficou bem.
Após duas semanas de sermões, ralhos, implicâncias e críticas nada construtivas da família Byun, Kyungsoo havia finalmente passado no teste.
A persistência de Do acabou sendo recompensada com a aceitação dos Byun, que, apesar de não morrerem de amores por ele, acabaram por se acostumar com sua presença e seu jeitinho.
Surpreendentemente, depois da briga com Baekbeom, com pedidos sinceros de desculpa e algumas latinhas de cerveja, Kyungsoo e ele acabaram se entendendo e tornando-se bons amigos, sem ressentimentos por terem rolado no chão.
A mãe de Baekhyun o chamou para conversar logo no dia seguinte e perguntou o que havia acontecido, genuinamente preocupada pelo seu surto. Kyungsoo acabou falando sobre tudo o que estava sentindo desde sua chegada, sobre o fato de nunca ter passado por uma situação parecida antes e sobre como era difícil para ele se relacionar com outras pessoas, o que Eunji entendeu perfeitamente.
Sua sogra até mesmo admitiu que a implicância que fazia não era por desgostar dele, mas sim porque mães nunca aceitam que seus filhos cresceram e que nem o homem mais perfeito do mundo seria bom o suficiente para sua cria. Coisa de sogra.
Beomseok não disse nada, mas silenciosamente aprovou seu relacionamento com Baekhyun — que nem precisava de aprovação.
Claro que os pais do Byun não passaram a repentinamente amá-lo, mas a convivência havia melhorado significativamente nos últimos dias de estadia dos dois em Bucheon.
No fim de tudo, Kyungsoo estava feliz, porque independente de qualquer coisa, Baekhyun era quem realmente importava e ele lhe amava, assim como o amava de volta. Portanto, estava tudo bem.
No momento, todos estavam reunidos na sala, bem agasalhados em roupas quentinhas e feitas à mão.
Eunji estava particularmente bonita com o cabelo escovado e maquiagem levinha, assim como Beomseok parecia agradável com seu suéter de renas e bolinhas. Baekbeom, por outro, estava como sempre, meio bagunçado e debochado, mas bonito à seu próprio modo.
Já Baekhyun… ah… Baekhyun estava lindo; usando o suéter que Kyungsoo dera de presente para ele e os cabelos divididos ao meio, todo arrumadinho e estonteante.
Kyungsoo achava humanamente impossível amar tanto alguém quanto ele amava Baekhyun, nunca havia sequer sonhado em se apaixonar daquele jeito, que só de olhar já sentia o coração bater acelerado, mas estava fodidamente apaixonado, e não se arrependia.
Com um suspiro, Do discretamente entrelaçou os dedos de Baekhyun aos seus, que conversava com seus pais a respeito de suas férias de inverno e afins. Byun instantaneamente apertou sua mão com carinho e a manteve entrelaçada a sua.
Seus sogros sorriram minimamente para a pequena demonstração de afeto, confortáveis com a situação. Por outro lado, Baekbeom revirou os olhos e fingiu vomitar, atraindo a atenção do casal.
— Eu juro por Deus, vocês são nojentos.
Os dois começaram a rir.
— Você está com inveja, hyung — Baekhyun disse convencido, puxando Kyungsoo para mais perto e abraçando-o de lado. — Eu tenho o namorado mais lindo do mundo.
— Ewwww — Baekbeom fez um careta de nojo. — Não precisa ser tão brega também.
— Apenas sendo sincero.
Eunji e Beomseok riram.
— Você fala como se não fosse bonito também… — Kyungsoo murmurou sem graça.
— Eu? Eu sou lindo — O Byun mais novo brincou. — Se eu fosse você, também me apaixonaria por mim.
— Daí já é exagero, maninho. — Baekbeom bufou.
— Baekhyunie é o bebê mais lindo — Eunji entrou na brincadeira.
— O único filho bonito que eu tenho — Beomseok afirmou com um tom brincalhão.
— Como assim?! Eu sou o único que ainda mora com vocês! Como ousam? — Baekbeom se fingiu de ofendido, arrancando gargalhadas de todos.
— Por isso que eu disse que você tem que casar logo — Eunji cortou. — Não quero ter que te criar até os quarenta anos, pode ir colocando na sua cabecinha que… — continuou ralhando.
Em segundos, seus sogros e seu cunhadinho entravam em uma discussão acalorada sobre o futuro do primogênito naquela casa, enquanto Baekhyun ria e dava pitacos aqui e acolá.
Do se sentiu contagiado pela risada de seu namorado e logo todos estavam rindo dos resmungos e reclamações de Baekbeom.
Naquele momento, Kyungsoo sentiu-se verdadeiramente aceito e contente por ter conhecido a família de seu namorado, mesmo sabendo que não precisava da aprovação deles para que Baekhyun continuasse ao seu lado.
No fundo, o que realmente importava era o fato de que, mesmo que nem tudo durasse para sempre, eles estavam bem, apaixonados, felizes juntos.
Contanto que Baekhyun o amasse, Kyungsoo seria a pessoa mais feliz do mundo — sem exageros, é claro.
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Text
#1 i like your preface
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Título: I like your preface
Número do Plot: #22
Quantidade de Palavras: 5.669
Sinopse: Jongin recentemente descobriu seu vício na leitura, mas não sabia que acabaria viciado no carinha que os vendia.
Couple: Baekhyun x Kai
Avisos: Palavras de baixo calão e um quase smut
“Vai ser Battle Royale mesmo?!” O atendente sorriu quando apanhou o livro para checar o preço. “Garanto que é um livro ótimo.”
“Eu sei…”, o cliente sussurrou cheio de timidez. Enfiou as mãos nos bolsos, tentando disfarçar o nervosismo.
“Já conhecia a história dele? Se você espremer, sai sangue.” O rapaz riu e entregou o livro de volta ao cliente. “Está $47,90. Vai levar?”, perguntou com um sorriso no rosto.
“Vou sim.” O cliente sorriu e suas bochechas coraram.
“Seu gosto para leitura é ótimo, e eu não estou dizendo isso porque você sempre aceita minhas recomendações.” O funcionário da livraria deu um sorriso ofuscante.
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Kim Jongin era o cliente em questão. Um rapaz de 23 anos que não era o melhor em socializar ou em lidar com estresse. No geral, ele descarregava suas tensões dançando - e se masturbando, mas ele não tinha muito orgulho dessa parte. No entanto, ele recentemente descobriu outra coisa que fazia seus músculos relaxarem e botava sua mente para focar em algo específico: ler.
Desde a leitura da primeira página de A Metamorfose, que ganhou de seu amigo Do Kyungsoo - era típico dele só dar livros aos outros-, Jongin entendeu que aquela era a terapia que sempre esteve procurando, juntamente à sua dança. Lendo ele era capaz de esquecer sua ansiedade e sua solidão. Agora ele tinha o que fazer nos tempos vagos da faculdade em vez de se tornar hiper-consciente de sua solidão.
O segundo passo dessa descoberta foi dado por Kyungsoo. Foi o amigo certinho de Jongin que notou a crescente obsessão do dançarino com os livros. Em pouco mais de um mês o Kim já tinha devorado os livros mais famosos de Tolkien e estava sondando o amigo atrás dos livros de G.R.R. Martin. Jongin já estava afundado naquele vício literário e não era o Do que iria se esforçar para tirá-lo dali - muito pelo contrário.
O terceiro passo consistiu em Jongin deixar de depender de Kyungsoo para conseguir livros. Na defesa do Kim, ele tinha certa dificuldade em sair de casa. Ele ia até a faculdade e voltava direto para seu apartamento alugado, qualquer desvio dessa rotina deixa Jongin ansioso. Mas quando Kyungsoo ficou ocupado demais para ir comprar livros em seu nome, Jongin se viu encurralado já que não gostava de comprar online. Ele precisava dos livros, precisava da distração e do relaxamento que eles lhe proporcionam.
Então, movido por essa necessidade, Jongin se viu saindo seu apartamento em busca da livraria mais próxima. Segundo o Google, ela ficava só a 4 quadras de seu prédio, sendo assim ele nem pensou em subir em um ônibus - conhecidos por lhe causar desconforto.
Não demorou muito até parar na frente da livraria que mais parecia uma boutique francesa. Era uma lojinha bonita e singela. Jongin se preparou para entrar e lidar com as pessoas que lá dentro estivessem; respirou fundo e empurrou a porta. Entrou e se espantou com a falta de pessoas. Tinha uma senhora no fundo da loja e uma mãe com um bebê no carrinho e só. Além delas tinha um rapaz no caixa e um vendedor que estava organizando alguns livros na prateleira.
Jongin parou no meio da loja, perdido, sem saber para que lado ir até porque não tinha ideia de qual livro foi comprar. Respirou fundo novamente, dessa vez tentando organizar seus pensamentos.
“Com licença,” o vendedor disse com um sorriso solícito, “eu posso ajudá-lo, senhor?”
Jongin podia jurar que seu coração parou ali mesmo. O rapaz à sua frente era bonito demais e tinha um daqueles sorrisos que fazem você querer se encolher e chorar. O Kim achava que nunca foi tão gay na vida quando estava sendo naquele momento. Ele era o rei dos introvertidos, mas estava lá pensando em dar uns beijos no atendente com quem nem trocou uma palavra. Falando nisso, ele ainda estava vidrado no rosto sorridente do rapaz…
“Eu… Sim.” Enfiou uma das mãos no bolso, tentando relaxar. “Eu não sei qual livro comprar.”
“Ah, eu entendo. É sempre muito difícil escolher, não é? Tantos livros bons…” O rapaz suspirou e ajeitou o cabelo castanho claro. Jongin não soube o que dizer então só assentiu. “Diga, qual seu estilo de livro?”
“Eu não tenho um, leio qualquer coisa.” Jongin se remexeu quando notou o olhar intenso que o homem lhe lançou.
“Isso é bom.” Ele caminhou em direção ao computador que ficava em meio às prateleiras e Jongin o seguiu. “Isso quer dizer que aceita recomendações, certo?” Jongin assentiu e se posicionou ao lado do computador. Dali podia ter uma visão ampla do pequeno crachá que o rapaz usava.
Baekhyun.
O rapaz de cabelos cor de mel e estatura mediana digitava palavras e mais palavras, parecendo procurar algum dado específico no computador. “Ahá!”, exclamou alto demais “Eu sabia que ainda tínhamos esse no estoque.” Baekhyun se virou para Jongin com um sorriso sapeca. “Já ouviu falar em Edgar Allan Poe?”
“Já sim, mas nunca li nada dele.”
“Pois se depender de mim isso acaba ainda hoje.” O sorriso brilhante dele estava de volta e Jongin amoleceu um pouquinho mais. “Estou indicando formalmente uma coletânea de obras do Poe. Tem poemas e contos, é um livro maravilhoso.” Baekhyun girou para encarar o cliente em sua totalidade, “É o último no estoque e está bem baratinho, menos de $40.”
“Ok. Tudo bem, vou levar.” Jongin sorriu diminuto. Estava torcendo para que Baekhyun não o estivesse vendendo um livro mais ou menos, mesmo que já soubesse da ótima reputação do autor. Jongin até que estava pronto para mergulhar numa nova lenda literária.
Baekhyun pediu que Jongin esperasse ele ir buscar o livro no estoque antes de que dirigir ao caixa. O Kim aproveitou o momento para beber um pouco mais daquela loja. Agora só estavam ele e a senhorinha, que havia sentado num banquinho para ler. Jongin não conseguiu evitar um sorriso diante de um ambiente tão confortável e amigável quanto aquele. Estava realmente arrependido de ter demorado tanto tempo para botar os pés para fora de casa e adentrar aquele lugar.
Era nessas horas que via o quanto sua ansiedade acabava com sua vida social. Ele podia estar indo e vindo pela rua e entrando em livrarias com cara de boutiques há mais tempo. Podia estar trocando meias palavras com vendedores bonitos e experimentando autores que não eram os favoritos de Kyungsoo há mais tempo também.
Baekhyun apareceu no campo de visão de Jongin novamente, dessa vez com um livro preto na mão. O livro não era dos maiores, mas tinha a capa dura e era bonito mesmo entre as mãos do vendedor. As mãos de Baekhyun eram bonitas também, parecidas com as das modelos de joias dos infomerciais da madrugada.
“Vamos até o caixa.” disse com um sorriso. Jongin pensou se os sorrisos eram genuínos ou só técnica de venda e pensar naquele o deixou meio aflito.
O rapaz no caixa era do tamanho de Baekhyun e, por consequência, bem menor que Jongin. Os dois funcionários da loja sorriram um para o outro e o Kim suspirou inaudível. Baekhyun botou o livro no balcão e o caixa pegou. “Whoa, esse era o último, né?”  Jongin se inclinou no balcão e conseguiu ler o crachá: Jongdae. “Tem seu dedo nisso, né, Baekhyun?” O vendedor deu de ombros. “Baekhyun é apaixonado pelo Poe.”, segredou a Jongin, que sorriu levemente.
“O Poe é maravilhoso, isso não tem a ver comigo.” Passou a mão nos cabelos enquanto anotava alguma coisa sobre a venda em um bloco comercial.
“É, você está certo.” Jongdae concordou com uma risada descompromissada. “Deu $35. Qual a forma de pagamento?”
Jongin deu as notas para o caixa e efetuou o pagamento. Quando ia apanhar a sacola com o livro no balcão, foi passado para trás pelas mãos ágeis de Baekhyun. Com um sinal sutil, o vendedor indicou que iria com ele até a porta. Chegando nela, entregou a sacola para Jongin e sussurrou, “Não vai se arrepender, é um livrão da porra.” Jongin se espantou de primeira, mas acabou rindo quando Baekhyun deu uma gargalhada travessa.
Ao passar pela porta Jongin se deu conta do problema no qual havia se enfiado. Tinha criado um maldito crush no vendedor da livraria e aquilo era péssimo porque significava que para ver o rapaz precisava sair de casa.
Por isso, quando chegou em casa, a primeira coisa que fez foi ligar para Kyungsoo e xingar a ele e seu curso de arquitetura que estava tirando todo seu tempo livre. Se não fosse por ele, Jongin ainda estaria entocado lendo e sem maiores preocupações do que sobreviver ao fim do dia.
Kyungsoo não deu a mínima, só respondeu um “Caguei.” e sugeriu que Jongin simplesmente aproveitasse suas idas à livraria para ver o rapaz que achou bonito. “Você não precisa ficar esbaforido assim, moleque. Vai ver ele de novo quando precisar de outro livro.”
O que o Do não sabia, é que algo estalou na mente de Jongin. Seu amigo estava certo, veria Baekhyun quando precisasse de outro livro. Talvez - só talvez-, movido por esse pensamento, ele simplesmente devorou o livro do Poe em dois dias. Ainda passou quase uma semana sem conseguir voltar à livraria graças ao projeto no qual estava metido na universidade. Ele tinha um recital chegando e os ensaios estavam mais frequentes e mais pesados, mas ao menos Jongin estava recebendo um dinheirinho.
Então, numa sexta-feira ele voltou à loja munido de uma nota de $50 e de muita vontade de encontrar com o rapaz de cabelos cor de mel. Entrou no estabelecimento com um pouco mais de confiança e escaneou o lugar atrás do baixinho de sorriso fácil e o encontrou com igual facilidade.
Baekhyun estava ocupado atendendo um rapaz, então Jongin tomou a liberdade andar pelos corredores da loja, dando uma olhada superficial nos livros. À princípio nenhum chamou sua atenção o suficiente para ser retirado da prateleira. Naquele momento Jongin estava realmente mais preocupado com que livro comprar do que com o atendendo bonito que estava vindo em sua direção.
“Wow, você realmente deve ler rápido.” A voz de Baekhyun soou perto demais do Kim, que se assustou e quase derrubou todos os livros. “Procurando algo em particular?”
“Não tenho ideia do que levar.”, admitiu com um suspiro. Baekhyun assentiu e começou a zanzar pelo corredor em que estavam, procurando algo que pudesse ser uma leitura interessante. “Eu”, Jongin começou e tomou fôlego, “gostei muito do livro que você indicou.”
Baekhyun fitou-o por cima do ombro com uma expressão confusa até que seu rosto se iluminou. “Ah! O livro do Poe!” Jongin assentiu. “Eu disse que ele era ótimo. É uma escrita tão sombria, mas tão envolvente e intrigante.” Havia nostalgia em sua voz. “Que Jongdae não me ouça dizer isso, mas eu sou excelente em indicar livros.”
Jongin deu um sorriso genuíno e se sentiu o maior dos trouxas. O seu crush no rapaz gritava a cada vez que ele abria um daqueles sorrisos ou suavizar a voz para concordar com a nostalgia no seu olhar.
“E qual livro você tem para me indicar dessa vez?” Jongin tinha certeza que aquela era a maior frase que disse a Baekhyun desde seu primeiro encontro.
Baekhyun deu uma risadinha e levantou um livro para que Jongin lesse o título. Como falar com as garotas nas festas. “É um livro curtinho, mas muito bom. É do Neil Gaiman então dizer isso é redundante.” Baekhyun comentou mais para si mesmo.
Jongin pegou o livro e soltou uma risada com a capa engraçadinha com três meninas na capa. O título parecia interessante e uma leitura leve também. “É sobre o quê?”, questionou Baekhyun.
“Um rapaz que não consegue falar com garotas em festas.” Baekhyun deu uma risada. “É sério. O rapaz não consegue socializar muito bem até que conhece umas meninas especiais.” Ele fez uma carinha sorridente que fez Jongin tremer nas bases.
Honestamente, estava começando a ficar exausto com todos esses sorrisos que Baekhyun lhe lançava. O melhor - ou não- é que eles não tinham um pingo de malícia; aquele era só Baekhyun sendo ele mesmo. Jongin estava mortificado desejando um flertezinho, mas nem isso conseguia.
(Não que Jongin fosse conseguir flertar caso Baekhyun o fizesse, mas gostaria de saber que o outro estava interessado).
Talvez Jongin precisasse mesmo é de um manual que ensinasse como falar com atendentes bonitos em lojas. “Eu vou levar.” Baekhyun bateu palmas, animado, e eles foram até o caixa como da vez anterior.
Jongdae validou a compra no sistema e Jongin lhe entregou o dinheiro. Baekhyun fez como da outra vez, acompanhando ele até a saída. “Espero que você goste.” Jongin apanhou a sacola da mão do outro. “Nos vemos na próxima”, Baekhyun se aproximou e arqueou as sobrancelhas.
Jongin não entendeu de cara o que ele estava esperando, mas logo a realização bateu em sua cara. “Meu nome é Kim Jongin.”
“Combina com você.” Baekhyun deu outra de suas risadinhas despretensiosas. “Eu sou Byun Baekhyun.”
“Tchau, Byun Baekhyun.” Jongin proferiu baixinho.
“Até a próxima, Kim Jongin.” Ele ofereceu um aceno, “Tenho certeza que você vai voltar.” E terminou com uma risada alta.
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E só Deus e o bolso de Jongin sabem como ele voltou naquela livraria. Em um mês ele leu mais de 10 livros, e assim que acabava um ele corria para comprar outro - e ver Baekhyun. Logo aquelas idas até a loja se fixaram à sua rotina, assim como ouvir as indicações do atendente e as conversas triviais que tinham entre as estantes cheias de livros.
Leu metade dos livros de Charles Bukowski, toda a série de livros de Harry Potter, se arriscou com a Mediadora de Meg Cabot, mergulhou de cabeça em Guerra e Paz. Todos esses foram recomendações de um Baekhyun bastante animado. Jongin ainda ria quando lembrava do Byun tentando prepará-lo para a escrita crua de Bukowski ou do comentário bobo que fez sobre não ver o Kim por um bom tempo quando este comprou o livro de Tolstói.
Mas nem só de livros viviam as conversas entre vendedor e cliente. Jongin contou-lhe dos seus cães quando Baekhyun sugeriu Marley & Eu - após contar da sua própria experiência com o corgi que tinha em casa. Baekhyun contou que cursava Letras em uma universidade menos conhecida das redondezas e Jongin segredou-lhe sobre seu recital. O Byun fez questão de se mostrar surpreso e interessado.
“Desculpe dizer isso, mas você é tão contido… Nunca imaginei que dançasse.” Jongin não levou como ofensa e acabou por concordar. Ele tinha consciência de que a persona que levava para o palco era muito diferente daquela que ele vestia no dia-a-dia.
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Lá pelo quinto mês desde o primeiro encontro dos dois, Baekhyun já considerava Jongin um de seus amigos. O Byun tinha lhe dado seu telefone umas duas semanas antes, mas Jongin não tinha coragem de ligar ou mandar mensagem. Veja bem, o dançarino estava morto de vontade de ouvir a voz simpática do outro, mas seu nervosismo o impedia. Perdeu as contas de quantas vezes discou o número e interrompeu a chamada antes mesmo de ela iniciar.
Baekhyun deixava Jongin nervoso, pelos céus! Havia uma dualidade naquela relação onde, por um lado, Baekhyun era um acalento para os dias do Kim, mas pelo outro, ele fazia a adrenalina do rapaz subir perigosamente. Além disso, esse crush estava saindo caro para o Kim.
Ele só tinha uma notinha de $50 e muita vontade de comprar outro livro, mas isso foi mais que o suficiente para o tirar de casa naquela tarde de sábado. Chegou na livraria e sentiu como se estivesse em casa, quando o ar-condicionado bateu em seu rosto. Caminhou para a estante de ficção e parou de frente para ela. Olhou para os lados, procurando a cabeleira castanha do Byun e não encontrou.
Jongin viu um livro pequeno e puxou para ver sua capa. Adorável Pecador. Ok, aquele parecia um dos contos eróticos que se compra em banca de jornal. Folheou um pouco as páginas, curioso, e deu uma risadinha quando percebeu que era estava certo.
“Não achei que você gostasse desse tipo de livro. Se eu soubesse teria indicado antes.” A voz de Baekhyun o pegou com a guarda baixa e ele quase deixou o livro cair no chão. “Mas esse é o segundo de uma trilogia e talvez seja melhor começar pelo primeiro.” Jongin derreteu-se com o tom sinuoso do outro.
“Não, eu só fiquei curioso. Não vou levar.” Jongin se apressou em devolver o livro para seu lugar na estante.
Baekhyun riu e impediu Jongin, tomando o livro de sua mão. “É um bom livro. Não é só sexo.” O vendedor ainda se inclinou e apanhou outros dois livros da mesma prateleira. “A aposta é o primeiro e O segredo de Carroway é o terceiro. Eles têm universos compartilhados e são bem divertidos.”
“Não sei, não, Baekhyun. Acho que não combina muito comigo.”
“Bom, é só uma sugestão.” Jongin estudou as capas nada sutis dos livros e mordeu o lábio inferior. “Você realmente gosta desse tipo de livro?”
“Claro. Eu gosto de tudo, na verdade.”, ele riu e tirou o cabelo dos olhos. Devolveu os livros para a prateleira e olhou Jongin por cima do ombro, “Estes são bons para relaxar depois de um livro pesado. Você só precisa se preocupar com o romance e com os mistérios deles.”
“Acho que não estou em clima para romances.”, Jongin sussurrou. Baekhyun riu e puxou um livro rosa: Sem clima para o amor, de Rachel Gibson. “Será que você só se comunica por livros?” o Kim brincou e Baekhyun gargalhou.
“Eu falo a língua do amor, não posso fazer nada se ela calhou de ser a mesma dos livros.” Baekhyun riu e virou para a estante à procura de outro livro. Jongin se viu incapaz de parar de sorrir. “Você está no clima para ler um dos meus favoritos?”
“Qual seria esse?”
“Esses. As Brumas de Avalon. São quatro volumes incríveis falando do universo da lenda do Rei Arthur, mas sobre a perspectiva feminina.” Baekhyun falava animado. “O primeiro é esse: A Senhora da Magia.” Entregou aquela edição antiga e de capa dura na mão de Jongin, que gostou muito do que estava vendo.
“Estou confiando em você, Baekhyun.” Era tudo que o Byun precisava ouvir antes de quase arrastar Jongin para o caixa.
No final, o livro era aquilo que Baekhyun falou e muito mais. Jongin se viu apaixonado por aquela narrativa que diferia tanto de todas as que viu nos filmes sobre o Rei Arthur e sua história. Ficou tão apaixonado pelo primeiro livro que ligou para Kyungsoo e surtou por cada pedacinho da obra. Kyungsoo ficou meio puto no começo, mas gostou de ver o amigo tão animado por alguma coisa.
Uma semana e meia depois, Jongin voltou à livraria para comprar o segundo e mais duas semanas depois ele foi buscar o terceiro. Seus intervalos estavam maiores porque os ensaios estavam acabando com seu tempo, e os livros com seu dinheiro.
Durante todas essas semanas ele ia e voltava para o número do celular do Byun preso em sua geladeira. Era como se houvesse um bichinho lhe comendo por dentro com toda aquela vontade de ligar e efetivar aquela amizade peculiar deles. E era como se outro, bem maior, o estivesse impedindo e enfiando ideias absurdas na sua cabeça, lhe dando certeza que Baekhyun não lhe trataria bem, ou que ele incomodaria, ou que Jongin falaria algum absurdo e estragaria tudo. Kyungsoo ainda fez seu trabalho de amigo dedicado quando lhe disse que aquilo era só coisa de sua cabeça e que se ligasse daria tudo certo, mas nem Jesus teria poder para fazer a cabeça de Jongin naquele momento.
Então, uma semana depois ele voltou à livraria em busca do quarto -e último- livro da série. Foi até Baekhyun assim que o reconheceu em meio às estantes e, com uma animação incomum, anunciou, “Vim pelo quarto livro.” Baekhyun, que finalmente se deu conta da presença de Jongin, virou para ele com um sorrisinho canalha. Aquele sorriso era novo para o Kim.
“Não recebemos esse já faz uns 4 meses.”, disse e deu de ombros.
Jongin uniu as sobrancelhas, não entendendo o que estava acontecendo ali. Como assim Baekhyun lhe empurrou uma série incompleta? Ele estava querendo que Jongin fosse para outra livraria?
“Se você tivesse me ligado, eu teria avisado, Jongin.” Baekhyun assobiou e voltou a arrumar a estante.
“O que eu faço agora? Eu quero muito ler o final.”, Jongin perguntou genuinamente confuso. Qual era a daquele baixinho?
“Você tem duas opções.” Baekhyun parou suas atividades mais uma vez, para focar em Jongin. “Primeiro, você pode ir em outra livraria e gastar seu dinheirinho.” Ele levantou o indicador. “Ou você pode me ligar e resolvemos isso” Terminou apontando para o próprio peito. E com essa, o rapaz foi para o fundo da loja.
Jongin voltou para casa sem saber o que raios estava acontecendo, então resolveu ligar para Kyungsoo e pedir socorro. O amigo atendeu o telefone sem muita vontade - o usual- e o Kim praticamente cuspiu tudo o que aconteceu até aquele momento.
“Acho que ele está flertando com você.” Kyungsoo disse sem muita animação. Jongin ficou sem reação. “Acho não, tenho certeza! O cara não jogaria essa carta se não estivesse flertando. Ele quer que você ligue, dê o primeiro passo… Talvez para ter certeza de que os dois estão na mesma página.”
“Eu faria isso.”, Kyungsoo terminou. Jongin ainda estava sem reação.
“Ele gosta de mim?! O que eu faço, Kyungsoo?”, quase gritou, exasperado.
“Liga pra ele, ué. Vocês se falam toda semana há praticamente cinco meses, isso não devia ser estranho.” Tudo era prático demais para Do Kyungsoo e Jongin definitivamente não compartilhava daquela mesma tranquilidade na hora de tomar decisões.
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Jongin passou uma semana marinando a possibilidade de Baekhyun estar atraído por ele e os prós e contras de fazer a bendita ligação. Quando a sexta-feira à noite caiu, Jongin decidiu por apanhar o número na geladeira. Apanhou o número e segurou, depois abriu a geladeira e olhou o que tinha lá dentro e encontrou a garrafa de vinho barata que ganhou de Sehun- um amigo de infância.
Quando o Kim se deu conta, estava deitado no chão da sala bebendo da garrafa e assistindo Stranger Things na TV. O número de Baekhyun ainda estava por perto, descansando em cima do abdome do dançarino. Jongin cogitou ligar para Sehun e agradecer por aquela garrafa abençoada, mas o papel lhe roubou a atenção primeiro.
Em algum lugar dentro da mente enevoada do Kim, ele sabia que ligar para o crush naquele estado era cilada, mas o álcool falava bem mais alto. Por Deus, como Jongin amava vinho. Sem arrependimentos.
Discou os números e esperou pacientemente até o rapaz atender. A voz de Baekhyun soou tão suave quanto sempre quando perguntou com quem estava falando. “Oi, Baek, é o Jongin.” Ele certamente se arrependeria de abusar da intimidade que nem sabia se tinha - muito provavelmente não.
“Jongin?!”, Baekhyun perguntou divertido e surpreso. “Você está bem? Sua voz está estranha.”
“Eu tô ótimo. Eu bebi.” Outra risada foi eliciada no baixinho. “E aí, como vamos resolver o problema do livro?”
“Você realmente me ligou por causa do livro?”, questionou visivelmente decepcionado.
“Eu liguei porque você queria que eu ligasse.”, Jongin respondeu com simplicidade. “E meu amigo acha que você tá flertando comigo.”
“É mesmo?” Baekhyun riu alto. Jongin podia jurar que ele tinha passado a mão nos cabelos, como costumava fazer. “E foi por isso que você bebeu? Pra me ligar?”
“Eu acho que não, mas pode ter ajudado.”, admitiu. Era incrível como o álcool operava milagres nas propriedades verbais de Jongin.
“Entendo.”, Baekhyun falou baixinho. “E você, acha que eu estou flertando também?”
“Eu não sei, mas espero que sim.”
Baekhyun deu uma risada alta e Jongin quase engasgou enquanto dava outro gole na garrafa. “Eu não esperava por isso. Sinceramente, achei que você estava nem aí pra mim.”
“Como assim? Você é adorável, inteligente, bonito,” Jongin estava enumerando, contando nos dedos “tem ótimo gosto para livros, é simpático e tem uma paciência surreal comigo.”
“Você fala como se você fosse difícil de lidar. Você é adorável, Kim Jongin, sempre gentil e interessado nas coisas pedantes que eu digo.” Havia certo desconforto na voz do Byun.
“Você não é pedante, Byun Baekhyun.” Jongin se endireitou no chão, sentando reto. A garrafa de vinho entre as pernas. “É facilmente a pessoa mais envolvente que eu já conheci.” Baekhyun riu baixinho, meio tímido. “Minha nossa, eu devo estar muito bêbado.”, Jongin disse mais para si.
O Byun concordou e acrescentou, “Você nunca diria essas coisas pra mim assim, de cara.”  
“Exatamente, Baek.”, a voz do Kim engasgou e Baekhyun deu uma risada.
“O que você acha de eu te encontrar amanhã e te entregar o último livro?”, Baekhyun sugeriu com aquela voz aveludada que lhe era característica. “Você me dá seu endereço e eu te faço uma visita. Aproveito para ver se você não se afogou em álcool.” Jongin nem riu porque sabia o quanto era atrapalhado. Por fim, acabou concordando e cedendo o endereço ao outro.
“Vejo você amanhã, Baek.” a voz saiu mais sonolenta do que ele tinha planejado.
“Te vejo amanhã, Nini.” A risadinha travessa foi a última coisa que Jongin ouviu antes de dormir com o telefone na mão.
(…)
Jongin acordou com uma ressaca colossal e com dor no corpo inteiro, resultado de ter dormido todo torto no chão da sala. O celular jogado ao lado da cabeça e a Netflix perguntando se alguém estava assistindo.
Ele levantou do chão gemendo, incomodado com a luz do sol e correu para dentro do banheiro. Vomitou uma vez e prometeu para si mesmo que nunca mais tentava beber uma garrafa de vinho inteira. Jongin se enfiou debaixo do chuveiro e finalmente se sentiu mais acordado. Saiu dali direto para a cozinha, onde guardava seus remédios; sua cabeça estava explodindo e ele precisava de socorro. Enfiou o remédio na boca e se jogou no sofá de novo.
Precisava relaxar então colocou Brooklyn 99 no Netflix e foi ser feliz. Infelizmente, isso não durou porque ele logo viu o papel com o número de Baekhyun jogado no chão a poucos centímetros de seu celular.
No segundo seguinte as memórias vieram esmagadoras. Levantou do sofá com os braços abertos, como se implorasse ao tempo para parar. Jongin estava tentando digerir toda a exposição auto infligida pela qual passou na madrugada anterior. E, porra, Baekhyun ia aparecer em seu apartamento e o dançarino não estava nem um pouco preparado para aquilo.
Jongin era como um animal entocado e receber o carinha pelo qual estava arrastando uma granja inteiro estava muito além de suas habilidades sociais. Se bem que pior do que foi na madrugada anterior não podia ser…
De qualquer forma, o dançarino nem teve tempo para maquinar um plano de ação porque logo sua campainha estava tocando e ele estava atropelando os próprios pés para chegar até a porta. Abriu a porta para um Baekhyun bem arrumado, vestindo jeans e uma camisa preta, e com uma sacola na mão.
“Eu trouxe pão doce.” Baekhyun levantou a sacola para Jongin. O Byun nem se deu ao trabalho de pedir, só foi entrando no apartamento. “Isso é resquício da sua bebedeira de ontem?”, perguntou sinalizando a sala revirada.
“Eu acho que sim.”, Jongin sentiu o rosto esquentar e cogitou a hipótese de ainda estar bêbado.  
“Você se lembra das coisas que me disse ontem?”, Baekhyun questionou e se jogou no sofá sem fazer cerimônia. “Sabe, eu pensei em chegar aqui e te beijar assim que você abrisse a porta, mas eu fiquei na dúvida. Não queria abusar muito também.”
As palavras de Baekhyun fluíam naturalmente e ele convergia lindamente com o apartamento caótico de Jongin. O Kim pensou que realmente gostava de tê-lo sentado no seu sofá falando sobre como planejava em beijá-lo.
“Eu me lembro de tudo, infelizmente.”, o dançarino admitiu e parou em frente ao Byun. A casa era de Jongin, mas era ele quem não sabia como agir. Será que sentava? Será que não? Será que dizia que não tinha problema se aquele baixinho lhe beijasse? Será que comia aquele pão doce?
“Por que ‘infelizmente’?” Baekhyun franziu o cenho e Jongin deu de ombros, sentindo o calor subindo por seu pescoço. “De qualquer forma, eu trouxe o livro.”, anunciou e pôs-se a procurar dentro da sacola. O Byun tirou o pacote do pão e colocou sobre o sofá e o livro, colocou no colo. Bateu no assento, chamando Jongin com aqueles olhos de gatinho pidão.
Jongin obedeceu e Baekhyun deu aquele sorriso pela primeira vez desde que chegou ali. “O livro está em ótimo estado e eu quero de volta.”
A cara do rapaz era divertida quando ele estendeu a mão com o livro vermelho para Jongin. O Kim foi recebê-lo, mas foi rapidamente contornado. Baekhyun soltou o livro no chão e aproveitou que o outro estava bem pertinho para prendê-lo entre seus braços. Em questão de segundos ele já tinha puxado Jongin para si pelo colarinho e colado a boca na dele.
O dançarino sentiu o coração bater em sua cabeça e o corpo todo esquentar com o nervosismo, mas ao mesmo tempo, a língua de Baekhyun estava roçando em sua boca e as mãos firmes seguravam seu rosto e sua nuca. Ele não teve muita escolha senão se mergulhar naquele momento de cabeça. Mal se deu conta de quando Baekhyun o prendeu contra o encosto do sofá e praticamente ficou por cima dele.
Quando um gemido tímido escapou de sua boca, Jongin soube que estava condenado. Baekhyun deixou seus lábios e beijou seu maxilar, descendo pelo pescoço com delicadeza. As mãos de Jongin estavam tímidas, porém enterradas nos cabelos do menor. O outro, diferentemente, era muito mais abusado - nada surpreendente- e deixava as mãos correrem pelo torso estreito do dançarino. Só quando as mãos do Byun chegaram na coxa, foi que Jongin se deu conta de que já estava mais animado de que o confortável.
O rosto dele queimou e ele deu um empurrão no outro, fazendo ele bater com as costas na outra ponta do sofá. “Mas o que foi isso, Jongin?”, Baekhyun perguntou com um gemido. O Kim não respondeu, só puxou uma almofada para o colo. Baekhyun arqueou uma sobrancelha, sem entender nada.
“A gente ia transar? Eu não sei se quero isso.” A voz quase não saiu e o rosto do dançarino parecia que ia derreter de tão quente.
“É o quê? A gente ia? Sei lá, cara.” Baekhyun coçou a cabeça e puxou a calça jeans, tentando aliviar o aperto. “É óbvio que nada ia acontecer se você não quisesse né, mas também não é como se eu estivesse planejando nada.”
“É que… Eu não sei…” Jongin suspirou e pensou se pegaria mal ele correr para o banheiro e se trancar lá até o outro desistir e ir embora.
“Relaxa, Nini.” Aquele sorrisinho estava lá de novo. Baekhyun colocou as pernas para fora do sofá e apanhou o livro do chão. Jongin ouviu ele resmungar alguma coisa sobre se arrepender de o ter jogado. Acariciou a capa do livro e o colocou em cima da almofada, no colo do Kim. “É meu favorito.” Jongin sorriu tímido diante do brilho nos olhos castanhos do outro. “E você também não é nada mal.”, deu uma risadinha sapeca e beijou a bochecha vermelha daquela bola de nervos que era Jongin.
“Acho que a gente devia comer aquele pão agora.”, foi tudo o que o dançarino conseguiu enunciar.
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Desde que Jongin começou a -meio que- namorar Baekhyun o dinheiro em sua conta começou a durar mais. O estudante de Letras tinha uma verdadeira biblioteca em sua casa e ele não era aquele tipo de leitor chato que não empresta livros, muito pelo contrário. Baekhyun era um fominha que vivia empurrando cinco livros de uma vez só para o pobre do namorado.
Jongin não estava reclamando daquele hábito do outro, mas ele tinha certa dificuldade em conciliar seus ensaios com a pilha de livros que estava no meio de sua sala. Que Baekhyun saiba, mas o Kim estava começando a fazer seus livros de mesinha.
Apesar disso, os dois estavam naquela fase linda do relacionamento onde você não se preocupa em dar título às coisas e também não liga se o namoradinho manda mensagem no meio da madrugada surtando porque vai fazer a sua estreia na noite seguinte - Jongin-; ou se o namoradinho começa uma tentativa patética de sexting no meio da sua aula - Baekhyun.
Jongin não se incomodava com as provocações de Kyungsoo e de Sehun - que estava sempre levando álcool para dentro de sua casa- sobre o quanto ele parecia um cachorrinho apaixonado. E Baekhyun não estava nem aí para os absurdos que ouvia de Jongdae toda vez que era pego tentando entrar nas calças de Jongin pelo celular - o que se mostrou uma tarefa mais fácil de ser realizada do que a coisa ao vivo.
O relacionamento deles estava indo muito bem, obrigado. Mesmo que Jongin ainda fosse uma bola de nervos e timidez e que Baekhyun fosse um abusado que babava pelo outro toda vez que o pegava ensaiando seus passos na sala de estar. Mesmo que Jongin tenha implorado para que o Byun não desse as caras na sua estreia e este tivesse feito questão de sentar na primeira fila e fazer contato visual.
Mesmo que Jongin tivesse chorado de felicidade no final e Baekhyun tivesse tirado uma foto da cara dele antes de consolá-lo. E mesmo que Jongin ficasse vermelho toda vez que Baekhyun lhe enchia de beijos no caminho de volta para casa.
Estavam realmente muito bem quando se beijaram no meio do chão da sala, se tocaram em meio a sorrisos e suor, e foram atolados pela pilha de livros que Jongin acumulou.  
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Adoção de plots
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Olá e Bem vindos a mais uma etapa do Baekhyun!Fest <3 
Essa é a etapa de adoção de plots!! Tivemos o total de 100 plots enviados!! Entretanto, existem apenas 91 plots na planilha, caso seu plot não esteja nela, me avise, vamos conversar :) Muito obrigada a todos que participaram da primeira etapa, caso deseje participar da segunda etapa, você é totalmente livre para tal! 
O couple com mais plots enviados foi... *rufem os tambores* B A E K S O O (!!!) Foram um total de 31 plots envolvendo o casal, ou seja, bastante coisa né rs Houveram plots com todos os casais envolvendo os meninos do EXO [Exceto BaekTao :(], além de outros. Espero que todos consigam escolher um plot de seu agrado. 
Caso você não tenha mandado um plot, você pode sim participar nessa etapa, não se acanhe!
Agora vamos para as regras desta etapa, fiquem atentos!
REGRAS:
1) APENAS ADOTE UM PLOT POR VEZ. Caso deseje outro, termine o primeiro e mande para a equipe. 
2) FIQUE DE OLHO EM SEU EMAIL, os avisos serão mandados por lá, e também postados nas redes sociais. 
3) ESCOLHA TRÊS POSSÍVEIS PLOTS QUE VOCÊ GOSTARIA DE FICAR, caso a sua primeira opção já tenho sido pega, você ficará com a segunda opção e assim por diante. 
4) ESPERE O EMAIL DE CONFIRMAÇÃO PARA COMEÇAR A ESCREVER. Enviaremos um email com algumas informações, você deverá respondê-lo para que o plot seja definitivamente seu.
5) CASO TENHA ALGUM IMPEDIMENTO PARA TERMINAR O PLOT, AVISE!
6) CASO TERMINE A FANFIC, NOS ENVIE PELO EMAIL. A fanfic em um primeiro momento será postada anonimamente e depois serão revelados os autores que desejarem ser revelados.
O período de escolha de plots será de: 15 de junho até 01 de setembro. (O prazo aumentou caso alguém deseje ficar com mais de um plot.)
Não deixe para escrever em cima da hora! O prazo para envio das fanfics será dia 30 de novembro, ou seja, bastante tempo para escrever tudo. Espero que gostem do processo, se divirtam e boa sorte!
Planilha de plots: https://goo.gl/B46UHg
Formulário de adoção: https://goo.gl/vIOWv4
Caso tenha alguma dúvida, contate nossa equipe através do Twitter (@Baek_FicFest) ou nos contate pelo e-mail ([email protected]). 
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Abertura do formulário para doação de plot!
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Sabe aquela fanfic que você gostaria de ser escrita, ou aquela ideia que você gostaria que alguém desenvolvesse ou aquele tema que você morre de vontade de ler, entretanto, não existem fanfics nesse estilo? Seus problemas acabaram!
Hoje, dia 7 de maio, enfim o formulário para a doação de plots está oficialmente aberto (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) *aplausos* Essa é a oportunidade para todos os que desejam ter o seu plot escrito por alguém, o formulário é bem simples e o link será deixado logo abaixo.
O FORMULÁRIO ESTARÁ ABERTO DO DIA 07 ATÉ O DIA 31 DE MAIO (!!!!!) Não percam tempo e mandem os seus plots! 
Para quem tiver dúvidas, aqui vai um exemplo de doação: 
Couple: Baekhyun e Kasper
Classificação: Livre (ou +12, +16, +18)
Plot: Baekhyun não sabia mais o que fazer com o seu interesse por Kasper.
Observações/Extras: Universo Alternativo
Proibições: Final triste.
LINK PARA A DOAÇÃO DE PLOTS: AQUI!
É bem simples!
Qualquer dúvida estamos no Twitter!
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