Tumgik
doctorlissa · 2 years
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thejammybastard​:
- Por Santa Margaret! Custa realmente tornar meu sonho realidade e me chamar de Pipi? - ele disse assim que entrou na casa de Elissa. Não avançou pelo espaço, esperando-a nortear o caminho. - Olha só, mas que mulher inteligente! Nunca pensei que você descobriria meu plano de tentar sabotar duas vigilâncias de uma vez só. No entanto, acho que melei o lance de Lorenzo, pois reconheci um dos garotos à paisana e me pergunto se seu parente tem noção de que a juventude tem que estudar antes de ser soldadinho quebra-nozes. - o tom dele mudou repentinamente. Mais endurecido em reflexo da sua insatisfação, fosse com a vigilância que ele e Elissa recebiam, fosse pelo garoto que deveria ter menos de 25 anos e parecia apavorado ao ter explodido um dito disfarce. Suspirou, consternado, seguindo Thorne pela sala. Não se acomodou, pois, apesar da típica atitude brincalhona, que não se perdeu em meio ao breve azedume, havia uma inquietude particular palpitando na sua mente e que o movera para aquela visita inesperada. Distraiu-se pelo tempo que Elissa mexia no celular e um sorriso fraco pontuou o canto de seus lábios ao vê-la de braços cruzados. Tinha seu Q de entretenimento sim. Um fio que se dissipou assim que findada a aproximação, revelando que ela parecia na defensiva. Só calculava aquilo porque conhecia-a bem demais em níveis de aborrecimento por sua causa, ao ponto de antever algum pico de briga iminente. Não que brigassem, mas, considerando as incertezas que pairavam constantemente sobre ambos, um disparo poderia ser o suficiente. Ainda mais pelas motivações de estar ali, com vários pensamentos sobre Theodore e analisando a cara amarrada, cheia de censura, da ex-corvina. O alívio veio a seguir, pois ser cobrado pelo sumiço não o poupou de rir, divertindo-se. - Boireannach beag, eu tenho lá cara de quem tira tempo pra si mesmo? - Malcolm indagou em um tom debochado. - Ainda bem que você já sabe disso e discordo sobre a parte de dar satisfações. Você pode me perguntar o que quiser, até onde estou. Pode ser estranho, porque acho que a gente nunca entrou em uma espécie de acordo sobre isso. E é preciso? Taí uma burocracia que não entendo muito. Porém, sei que tem a praxe de localização, pois qualquer um pode aparecer mortinho da Silva na atual conjuntura do mundo bruxo. Mas, se acalme, não tem nada de errado. Veja, estou com a cara inteira! Infelizmente, a bolsada ficará pra próxima. - ele guardou as mãos no bolso da jaqueta e olhou-a atentamente, acompanhando a pulsação da inquietude em seu cérebro. Mensurando quais partes poderia anunciar sem perder a própria cabeça no processo ou ser expulso por Elissa. Ao menos, tinha completa consciência da ausência de interesse em abrir uma discussão, mas não significava que, assim que abrisse a verdade, a catapulta não se revelasse. - Você tem menos de 30, é? Achei que era bem uns 45! - ele comentou, mais na tentativa de aliviar a ínfima chateação que ela tentou esconder inutilmente. - Hei! Vem cá! E não se faça de durona agora, mesmo que seja a coisinha mais adorável do meu dia! Vamos, me dá um abraço, porque aí ganho um carinho, dou um carinho, e posso enfiar o caos em seguida, com elegância. - ele abriu os braços e a chamou com movimentos repetidos da mão. - Adianto que não tem nada a ver com a possibilidade de eu ser o novo guarda-caças de Hogwarts, embora a ideia me pareça atraente. Estou meio cansado de trabalhar no Ministério e não sabia que precisava de férias até ouvir que precisava tirar as atrasadas. Acredite, muitas horas acumuladas para quem termina o expediente desgostoso parece uma indireta. Um aviso de saída emergencial. Estado de calamidade. - ele explicou, para tirar da frente os assuntos que florearam a mente de Elissa no período em que estivera absorto na Escócia. Mais precisamente, nas entranhas do clã Fraser. Literalmente, ele não tinha medo de morrer. - Acho que você pode se sentar agora, pois o que tenho a dizer vem diretamente de um acúmulo de informações. Não direi o nome das fontes, pra evitar que essas pessoas ganhem uma bolsada sua, mas também porque não me disseram nada aprofundado. Mas meu sumiço nada surpreendente envolve um assunto que a gente nunca falou abertamente e acho que a gente precisa falar disso. Infelizmente, envolve Theodore. - o silêncio ao dizer aquele nome pesou em cada nervo de Malcolm. Era raro pensar no irmão mais velho, falar sobre ele, pois não vinha uma lembrança boa. Apenas feridas abertas e foi inevitável não sentir o incômodo segredado perturbá-lo sobre a rasidade do que sabia. - Como disse, tenho detalhes de nada, embora muitas suposições tenham povoado a minha mente desde que, bom, começamos com esse rolinho. - ele sorriu fracamente ao rolinho. Uma de suas sobrancelhas se arquearam, sinalizando que esperava algum tipo de reação dela sobre aquele termo. - Além de dúvidas que considero sérias, especialmente porque sei dos marcos traumáticos que Theodore provocou ao longo da vida. Como o simples mistério de como você caiu na dele e como ele te tratou. E não vou julgar. Sei bem o quanto ele conseguia ser sedutor e amigável. E aí começo a ficar irritado, porque deixei esse lance passar. Mas é uma irritação comigo mesmo, já que longe de mim ser origem de memórias ruins pra você. Por osmose, claro, pois não tem como eu apagar meu sobrenome e nem meu parentesco. Nem ouso dizer que sou melhor que ele também, pra subir meu ranking e não terminar com um chute na bunda, porque definitivamente não sou. E digo isso mais exclusivamente porque… - foi a vez dele cruzar os braços, antes de procurar a parede para se escorar e manter Elissa inteiramente em seu campo de visão. - Não chore de emoção, mas, Elissa, você é excepcional demais para um cara como Theodore. Até pra mim. O que aumenta essa angústia que estou sentindo no momento, porque, considerando que tomo responsabilidade até pelo que não tem minha assinatura, Theodore toca na linha tênue de péssimos comportamentos fora das tentativas de pagar de adorável. Quando eu era mais novo, às vezes, achei que ele tinha melhorado, mas ele só queria tirar mais do que eu e Scott sequer tínhamos mais. E como ele é uma pessoa que sempre tirou, só consigo imaginar o que ele tirou de você e por isso eu acabei sendo engolido por alguns dias na Escócia pra tentar entender. Claro que não recebi nada também, pois, como sabemos, a megera da minha mãe não fala bem de ninguém, a não ser que receba um pouco de benefício. Theodore, sempre foi perfeito aos olhos dela. Sem discussão. E, antes que pergunte, claro que ouvi demais sobre você ter sido a errada, o que não me surpreendeu. Uma bizarrice sem tamanho! - ele murmurou a última parte da frase e pigarreou para afastar a raiva de acessar aquelas memórias que eram péssimas para ele, mas não do mesmo tanto que poderiam ser para Elissa. - Saiba que não quero que me dê detalhes, ok? Não quero te colocar nessa situação retraumatizante. Porém, estou definitivamente encucado com isso, pois, automaticamente, reflete na nossa relação. Além de Theodore, eu sou irmão dele, e não sei se isso pega bem pra você. Pra mim, acho que é meio claro que não ligo. Só que você tem mais passado, imagino que todo papo de terapia seja por isso também, e comecei a entrar na paranoia disso aqui ser errado. Pela linhagem que compartilho com meu irmão. Pelo que meu irmão fez. E se estou aqui é porque percebi que não posso racionalizar sobre isso sozinho. Parte desse feito tem assinatura do Scott, porque ele sabe que sou resoluto tem horas. Não que eu fosse sumir para sempre da sua vida, acho que também está meio claro que me acomodei demais à sua presença, que é viciante e me faz muito bem, mas acho que você importa mais agora. Não o que eu sinto ou as minhas dúvidas sobre o que aconteceu ou qualquer outro tipo de coisa que eu queira adicionar. - ele se deu por encerrado enquanto mais informações ferviam na mente, avermelhando um pouco seu rosto e as pontas das orelhas. - Desculpe, parece invasão de privacidade, mas, te juro, eu não sei de absolutamente nada. Apenas uni o que eu sei e convivi com Theodore ao que ouvi por cima. - ele pensou em se despregar da parede, mas se manteve firme, em respeito ao espaço entre ambos que parecia adequado manter depois de lançar os motivos de ter sumido. - Eu não tinha noção de que ele era uma sombra na minha vida. Não em questão de comparação, mas porque ele foi o primogênito e ele definiu todo o resto. E acho que isso cai na regra de assunto insatisfatório, desculpe por isso também! Mas parece que, depois que fui até a cova dele, soltar alguns xingamentos bem gentis, parece que o cidadão tá conjurado bem aqui, entre nós. - um sorriso inseguro escapou a Malcolm, inspirando-o a pigarrear de novo para camuflar seus ânimos. - Eu gostaria que ele saísse, visto que eu não estava brincando sobre dobrar a meta e mudar meu status pra namorando sério. Meu sonho é deixar Scorpius Malfoy satisfeita! 
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Com um ligeiro revirar de olhos, apenas para reforçar sua falsa pose de durona, Elissa caminhou em direção a Malcolm para que pudesse abraçá-lo. De fato sentira a falta do conforto que o cheiro, o contato, e a presença dele traziam a si. Por mais que pelos últimos meses estivesse tentando refrear como se sentia era bastante óbvio que já havia perdido as rédeas. Nas pontas dos pés a ex-corvina esticou-se para beijar suavemente o pescoço dele, como fazia todas as vezes em que estavam daquela maneira. - Eu deveria te expulsar pela audácia de insinuar que pareço ter 45. - resmungou, com um ligeiro bico, assim que afastou-se o suficiente para que pudesse fitá-lo. - Quanto as burocracias, bien, eu não tenho certeza em que fase de um relacionamento nos encontramos. Se é um rolinho… - revirou os olhos, mais uma vez exasperada, mesmo ciente que ele dizia certas coisas apenas para tirar aquele tipo de reação sua. - … então você realmente não tem qualquer obrigação de me fornecer informações. Pero, se é mais que um rolinho, e pelo tanto de tempo que estou te aturando… - disse com as sobrancelhas arqueadas e olhos ligeiramente semicerrados. - … então, bien, você não pode simplesmente sumir sem me causar dor de cabeça. Que bom que está sem nenhum roxo ou faria questão de reforçar cada um deles. Uh, Malcolm, sério, na atual conjuntura ou em qualquer cenário, é óbvio que vou me preocupar com você. Inflando seu ego já gigantesco; você é importante para mim, até demais, então, por favor, mande ao menos uma mensagem dizendo “estou vivo, mas ocupado” porque ao menos posso tentar seguir o restante do meu dia sem esperar a notícia da sua morte. - embora a ouvidos leigos pudesse soar exagerado de sua parte, Elissa tinha motivos de sobra para preocupações desmedidas. E tais preocupações voltaram a fortalecerem-se conforme o Fraser movia-se pela sala, como se buscasse por inspiração para dizer o que tinha em mente. Seu receio do que viria a seguir a fez sentar no braço do sofá, com as palmas das mãos sobre as pernas e o olhar fixo em Malcolm. Pela linguagem corporal podia perceber que o assunto seria incômodo, tanto para ele quanto provavelmente para si, o que a fez prender a respiração por um instante. Em seguida respirou fundo enquanto atentamente o ouvia destrinchar o que tinha levado-o a se ausentar. Os músculos nos ombros da ex-corvina estavam ligeiramente tensionados e a expressão em seu rosto certamente refletia certa inquietação. Engoliu em seco. - Bien… - murmurou projetando os lábios para frente antes de mordiscar o canto do lábio inferior. Novamente, involuntariamente, se viu cruzando os braços rente aos seios. - … sempre imaginei que em algum momento precisaríamos ter essa conversa. Pero, preferia que tivesse vindo diretamente a mim ao invés de ir atrás de informações em outros lugares. Apenas duas pessoas podem relatar o que houve: eu e Theodore, e ele certamente teria uma versão bem diferente da minha. - uma ligeira careta pontuou sua expressão ao citar o nome do ex. Elissa não costumava dizê-lo em voz alta, não que o tratasse como um tabu, mas porque não queria que ele se mantivesse presente na sua vida mais do que sempre estaria. Os consternados olhos castanhos procuraram pelos claros de Malcolm. A tonalidade indefinida era algo que sempre prendia sua atenção quando o fitava, naquele instante, por exemplo, pareciam mais azuis que de costume, numa intensidade similar a de chamas azuladas. - Hum, muy bien, creo que preciso contar algumas coisas sobre a minha vida pra dar contexto ao que aconteceu com Theodore. Prometo que tentarei ser sucinta e não entediá-lo. - disse tentando soar minimamente divertida quando sentia-se ligeiramente aflita - não por tirar aquele elefanta da sala, mas por receio do que viria após. - Eu faço terapia desde os três anos. Minha tia, que considero como mãe, achou que era importante para que eu pudesse lidar com o luto da morte dos meus pais biológicos e que também não sentisse que de certa maneira havia sido rejeitada por eles uma vez que priorizaram a profissão a cuidar de mim. Ponto número: receio de abandono. - pressionou os lábios brevemente antes de continuar o que já começava a acreditar que seria um imenso monologo. - Como pode ver, sou uma mulher latina, de baixa estatura, pele marrom, em um país de pessoas brancas de olho claro. Não sou vista como as outras mulheres. Sempre fui a solteira no grupo de amigas, especialmente na adolescência. Isso machuca, cria fragilidade. Ponto número dois: baixa autoestima. - uma ligeira careta voltou a pontuar sua expressão. Naquele momento era bem resolvida com a própria imagem, o que também era obra da famigerada terapia. - Dito isso, bien, foi através de Lorenzo que conheci Theodore. Eles eram amigos. Ou parceiros de negócios. Não sei ao certo. Mas um dia sai com Lorenzo e Theodore estava por lá, ele nos apresentou.  Eu tinha 22 e ele 30, se me lembro corretamente. Minha experiência com relacionamentos era parca, com homens mais velhos era nula. Ele era bonito, inegavelmente, acho que fiquei deslumbrada, como uma tola. Vez ou outra ainda me pego tentando entender o que ele realmente queria comigo e presumo que talvez fosse um acesso facilitado a Lorenzo, não sei, enfim. Creo que é por isso também que Lorenzo pega tanto no seu pé. - encolheu os ombros como quem se desculpava, mas sua musculatura estava tão tensa que sentiu uma dor fina espalhar-se pela região. Voltou a respirar fundo antes de se pronunciar. - Não darei riqueza de detalhes, mas contarei o principal, para tirar suas dúvidas imediatas. Bien, você precisa entender que uma vez em um relacionamento abusivo demora até que se reconheça os sinais, as vezes sequer se reconhece. Eu não percebia, por exemplo, que no ano e meio que estivemos juntos fui me afastando de todas as minhas amizades. Ele tinha ciúmes dos homens. As mulheres solteiras não eram boas companhias. E ainda houve o afastamento do leito familiar. Faz parte do pacote o isolamento, para que não houvesse mais ninguém por mim além dele. - uma ruguinha formou-se no centro de sua testa enquanto algumas lembranças vinham à tona. - Perdi todos os meus amigos da época, só mantive o Patrick porque ele morava em outro continente e nos comunicávamos por e-mail, além do que, ele vivia o próprio relacionamento tóxico, sem fazer ideia, com aquela loira cretina. - resmungou sentindo o ranço por Laila aflorar. Naquele instante sentia coisas diversas, mas nada que a fizesse sentir-se em seu limite. Como alguém que trabalhava em saúde mental Elissa estava ciente até onde poderia ir. - Então eu comecei a estagiar no Mungus e meu tempo para relacionamento diminuiu drasticamente. Foi ai que os problemas se agravaram. Ele queria casar. Eu não queria. Eu tinha 24 anos, ainda na faculdade, de forma alguma queria parar minha vida para virar dona de casa. Ele não gostou. As brigas se tornaram mais comuns. Mais intensas. Eu tentei terminar algumas vezes. Cheguei a terminar. Mas ele não me deixava em paz. Aparecia no meu trabalho, na faculdade, em qualquer lugar que eu estivesse e arrumava confusão com quem estivesse comigo. Eu me sentia confusa, sozinha, amedrontada. E ele soube como usar a manipulação, a intimidação, o isolamento, explorar minhas fragilidades. Foi essencialmente psicológico e emocional. Não chegou ao físico. - embora tenha passado perto, completou mentalmente, recordando-se das vezes em que fora puxada pelo braço e como por algum tempo detestara que a tocassem na região sem prévia autorização.  - Em meio a tudo isso, e não consigo explicar nem para mim mesma como aconteceu, eu engravidei, entrei em pânico porque tomei todas as precauções, afinal a última coisa que queria era um vínculo permanente com alguém que buscava maneiras de me desvincular. Quando decidi que levaria a gravidez adiante sequer precisei avisá-lo porque ele já sabia. E aparentemente estar gerando uma criança deu a ele a sensação de que eu o pertencia. Novamente ele insistiu no casamento e eu me recusei. O mesmo ciclo de perseguições se repetiu, mas dessa vez foi um pouco pior já que comecei a ter picos de pressão que afetavam o bebê. Tive que trancar a faculdade e me afastar do estágio mais cedo que gostaria porque por orientação obstétrica precisava ficar em repouso. Foi só aí que recorri a minha família. Eu não queria envolvê-los até então, eles me orientaram a pedir uma medida restritiva, eu procurei por Aiden, e ele me auxiliou nesse processo. Mas nem cheguei a usá-la porque quis o universo que Theodore morresse nesse meio tempo. - a ex-corvina piscou vezes repetidas para afastar as poucas lágrimas que sequer havia percebido que se acumulavam em seus olhos. Recordar o que foram os piores anos da sua vida não lhe inspirava mais crises de ansiedade, mas deixava um rastro de tristeza, especialmente por Owen ser filho daquele indivíduo. - Theodore inspirou o que há de pior em mim. Eu senti alívio na morte do pai do meu filho. Por muito tempo me senti péssima por essa sensação, mas hoje entendo que se ele ainda estivesse vivo eu não teria paz e meu filho sofreria ainda mais alienação parental na Escócia. - murmurou, voltando a encará-lo, enquanto levantava-se para aproximar-se dele. - Como pode perceber eu não sou assim tão melhor que ele e muito menos melhor que você. - pontuou, tentando recobrar algum humor a um clima que estava definitivamente pesado. - Malcolm… - chamou baixinho no instante em que ficou exatamente a frente dele, pouca distância, mas ainda respeitando seu espaço pessoal. - … eu agradeço o seu cuidado comigo, o seu tato de querer tocar no assunto sem que isso desperte traumas. Acontece que, como profissional de saúde mental, e alguém que faz terapia há anos, eu vivo com a ideia de que preciso encarar meus traumas, entender onde machuca, me conhecer o máximo possível. Logo nada disso chega a ser retraumatizante porque suprimir nunca foi uma opção. Recordar me deixa introspectiva, entristecida, e me faz questionar o porquê não percebi os sinais antes. É óbvio que há marcas, e você conhece parte delas. Por que acha que fui para outro continente depois que nos beijamos? Em níveis emocionais, românticos, não me relacionei com ninguém desde Theodore, primeiro porque eu tinha um bebê pra cuidar, segundo porque mães solteiras são vistas como passatempo, terceiro porque sim eu tenho gatilhos e ainda não tenho certeza de como vão se manifestar numa relação. Então nós nos conhecemos e de todos os indivíduos nesse planeta eu me vi enamorada por você antes mesmo de algo entre nós acontecer. - ela curvou brevemente a cabeça para a direita, um biquinho trêmulo pronunciou-se nos lábios cheios. - Por fim, você não deve se sentir responsável por coisas que não fez. Vocês são pessoas distintas. Muito distintas. E você adorava bater nessa tecla quando nos conhecemos. Não é possível que agora eu tenha que convencê-lo disso. - disse de maneira muito honesta. Como quem havia convivido com os dois, não podiam existir pessoas mais opostas. - Theodore é meu passado. Seu passado. Eu sempre vou precisar lidar com alguns traumas que ele me trouxe, mas não posso me privar de viver por conta dele. Não posso permitir que ele tire mais isso de mim, que tome mais esse controle sobre a minha vida. Além do mais, não quero me privar da sua companhia porque você teve a infelicidade de também sair do útero daquela megera. Excusa, eu sei que ela é sua mãe mas, uh.- as últimas palavras carregavam o peso do seu desgosto pela ex-sogra. Detestava a ideia de que as mães eram culpadas pelo comportamento dos filhos, mas era óbvio que entre outras coisas Theodore era reflexo da criação que recebera. - Además, certamente minha família vai achar estranho que esteja envolvida com alguém de sobrenome Fraser, e isso me preocupa. No caso me preocupa que eles sejam grosseiros com você por algo que não te compete, especialmente quando as chances de Loreno estar panfletando um dossiê com todas as suas transgressões é enorme. - embora intentasse jocosa sabia que Lorenzo era realmente capaz de tal ato. - Sou uma mulher adulta que pode tomar as próprias decisões. Se você e eu quisermos ninguém mais tem nada a ver com isso. Mas confesso que estou achando uma graça que uma vez na vida não sou eu surtando nessa amizade amistosa com benefícios. - disse com um sorrisinho mínimo tomando o canto de seus lábios. Elissa colocou as mãos sobre os braços dele para que pudesse descruzá-los e em seguida entrelaçou os dedos de suas mãos aos dele. - Você já me pediu desculpas hoje mais que na soma do último ano. Está tudo bem. Eu tinha em mente que precisaríamos ter essa conversa se você fosse tomar coragem de pegar na minha mão e assumir… - embora a última frase soasse como uma provocação, Thorne estava sendo honesta sobre o restante. - … e sim eu entendo as implicações desde o instante em que quis muito beijar sua boca e surtei bastante a respeito. No momento conformada que seu carisma é envolvente demais e que não posso passar muitos dias sem querer te enfiar uma bolsada. - o tom leve e ligeiramente divertido logo fora substituído por um semblante mais sério, comprometido. - Malcolm, eu quero estar com você. Eu gosto de estar com você. Mais que isso. Você me faz bem. Não pense nem por um segundo que projeto em você uma imagem que não te pertence. Eu só peço que tenha paciência para lidar comigo porque, bien, eu posso me retrair sem mais nem menos, e nada disso tem a ver com você, mas com meus traumas se manifestando. Então se você realmente quer dobrar a meta precisa estar ciente disso. - gentilmente apertou as mãos dele, como quem procurava por acolhimento. - E ser mais romântico pois estou realmente me sentindo desaplaudida. Mas longe de mim trazer infelicidade para minha filha mais velha destruindo o sonhos dela de me ver como a namorada séria do aclamado Pipi.
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doctorlissa · 2 years
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Os dias de folga em nada contribuíam para um dito relaxamento de Elissa. Eram nesses dias que a ex-corvina organizava a casa, passava um tempo extra com Owen, e vez ou outra decidia-se por dar uma volta. A terceira opção havia se tornado inviável desde que seus passos se tornaram monitorados pelos seguranças de Lorenzo. Embora compreendesse e estivesse de acordo que serviriam para sua proteção, e especialmente a de Owen, a sensação de estar sendo vigiada não era-lhe bem-vinda porque vez ou outra acabava recordando-lhe de situações estressantes vividas com Theodore. E pensar no pai de seu filho não era algo que gostava de fazer com frequência - mesmo que estivesse tratando há anos os danos psicológicos que ele deixara em sua vida. Em sua última sessão de terapia, inclusive, havia abordado como separar a figura de seu abusador da construção da imagem da figura paterna de Owen. Aos três anos questionar a respeito do pai havia se tornado comum e embora ele não entendesse o suficiente a respeito não havia uma única vez que Elissa não se sentisse tensa em tocar no assunto. Não apenas por falar de Theodore em si, mas especialmente pelo receio de criar uma imagem destoante demais para a criança. Não era à toa que mesmo tão novinho Owen já possuía acompanhamento psicológico, especialmente quando tinha que conviver com a avó e a tia paterna que possuíam tendências a tentar aliena-lo. A dinâmica entre as duas famílias era árdua, caótica, assim esforçava-se para proporcionar ao filho o mínimo de estabilidade e uma rotina que desse a ele segurança. Por volta das sete da noite, como todos os dias, a criança já dormia depois de uma tarde agitada e Elissa tentava acompanhar alguma programação na tv trouxa enquanto bebericava uma taça de vinho e vez ou outra checava o celular; tanto para acompanhar o que diziam no grupo do reencontro de Hogwarts, quanto pela chance de ser chamada para alguma emergência psiquiátrica. Embora Malcolm tivesse informado que apareceria, depois de dias sumido, não tinha assim tanta certeza se ele estava falando sério ou apenas testando sua paciência ao limite. Se havia outra coisa que vinha a aborrecendo, porque a deixava confusa e não gostava da sensação, era a relação com Malcolm. Não a relação em si, como quando estavam juntos, muito menos a figura do ex-grifino, mas o desconhecimento do que estava realmente acontecendo entre ambos e se deveria ou não se permitir sentir tudo o que sentia, se deveria se afastar ou se manter, se estavam juntos ou se apenas passavam tempo juntos. Para além da falta de definição haviam todos os outros fatores complicadores em forma de seu histórico e do julgamento alheio. Inegavelmente temia a reação de sua família materna, especialmente porque eles haviam acompanhado seu inferno pessoal, mas acreditava que não era nada que algumas horas de conversa em família não pudessem resolver. Distraída, demorou alguns instantes para notar o som da campainha, assim que o fez levantou com um pulo para atender a porta antes que Owen acordasse. Imaginou que fosse um dos seguranças de Lorenzo e estava prestes a dar um sermão quando seu olhar recaiu sobre a figura de Malcolm. - Talvez? Bien, não apenas esse pedido demorou demais a acontecer como vem por livre e espontânea pressão, e estou me sentindo muito pouco aclamada! E depois você reclama que não sabe porque não é chamado da maneira que gostaria. - disse, ainda com a taça de vinho em mãos, dando de ombros e movendo-se para dar espaço para que ele entrasse. Olhou para os dois lados da rua e revirou os olhos ciente de que não demoraria até que Lorenzo surgisse. - Se você for um impostor isso significa que a segurança é inútil. Se for você mesmo, e acredito que seja porque duvido muito que alguém mais além de Darius conseguiria transmitir essa áurea de amigável cara de pau, a segurança também falhou. E, com alguma sorte inexistente, talvez me livre dela e por tal feito você talvez ganhe algo. - disse com um ligeiro arquear de sobrancelhas assim que fechou a porta atrás de si. Elissa colocou a taça de vinho sobre o móvel mais próximo e caminhou até o sofá onde pegou o celular para mandar mensagem a Lorenzo, se adiantaria não sabia, mas esperava ganhar tempo. Feito isso voltou a caminhar para diante de Malcolm, cruzou os braços rente aos seios, assumindo uma posição um pouco mais defensiva. Obviamente estava satisfeita em vê-lo, aliviada em percebê-lo inteiro, mas igualmente injuriada pelo radio silence de dias. - Bien, hombre, não sei exatamente quanto tempo temos antes de Lorenzo vir checar se estou bem.- o revirar de olhos fora inevitável pois estava exausta. - Entretanto, nós dois sabemos que a única pessoa que corre riscos aqui hoje é você. - disse, pausadamente, com um ligeiro arquear de sobrancelha que corroborava sua expressão insatisfeita que certamente o divertiria. - Uh. Malcolm Philip, por dios, onde diabos você se meteu? Eu entendo a necessidade de tempo para si próprio, embora essa não pareça ser muito a sua vibe, e tal, mas custa muito avisar antes? Tudo bem que você não me deve satisfações, mas fiquei preocupada, como a tola que sou, especialmente porque só há pessoas potencialmente desequilibradas ao seu redor. Juro por Rowena que você vai me deixar de cabelos brancos antes dos trinta! Puta madre! - disse, tentando não soar tão chateada quanto se sentia porque acreditava que não tinha direito de estar, embora se preocupasse demais. Se importasse demais. Sentisse demais. Eram em momentos assim que desgostava de ter tanta intensidade quando existia afeto. Um suspiro contido lhe escapou. Descruzou os braços em uma tentativa de parece menos tensa, mas grande parte de si sentia-se insegura com os rumos que aquela conversa tomaria. - Enfim, essa ideia de virar guarda caça é o que precisávamos conversar? Ou há alguma coisa acontecendo que não sei? Preciso me sentar? Simplesmente desgosto do papo de “precisamos conversar”, raramente o que vem a seguir é satisfatório. Por Dios!
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@doctorlissa​
A linha do tempo era bastante confusa para Malcolm. Tinha consciência de que não era a primeira vez que passava pelo bairro de Elissa, mas era sempre como se fosse. Justamente porque sua casa era a muitos quilômetros de distância e também porque sabia que tinha ao menos uns cinco soldadinhos de Lorenzo nos seus calcanhares para dar uma diferença no cenário (ação que sabia que começou desde que tivera sua última alta no Mungus e, automaticamente, fora associado à Elissa). Último ponto que era a razão de estar com uma expressão entretida, avançando sem pressa, mascando o chiclete que havia pedido a um garoto que não deveria ter mais de 20 anos e que pareceu apavoradíssimo ao ser “descoberto” do modo à paisana - e Malcolm se aproximara, exclusivamente, para indicar a Lorenzo que se fazer de burro era seu personagem secundário e não o efetivo. De qualquer modo, e apesar do sorrisinho maroto no canto dos lábios, a mente do ex-grifino estava desde muitos dias tentando costurar uma timeline da qual não pertencera. Não diretamente, mas era como se tivesse participado de cada pulso. Uma impressão que parecia ser comum a qualquer pessoa que fazia, ou sequer tentara, parte do sistema de clãs escoceses. Tudo costurado, encapsulado. Era possível ficar o mais longe possível, mas os assuntos tinham sua própria forma de colidirem e tornar todo mundo responsável. Mesmo que indiretamente. Ou consciente. Ou ameaçado. Ele participara da maioria daqueles enredos e sabia que não podia colocar o que descobrira sobre a relação de Theodore e Elissa na sua conta. No entanto, nem a curta, e compensadora, conversa com Scott, enquanto “curtia” uma visita raríssima nos terrenos da família para checar o que passara a saber sobre o assunto que o tirara de um sumiço de outros longos dias, aliviara a tensão que crescia e continuava a crescer, principalmente por ter se dado conta da situação complexa que se envolvera. De quem realmente era e da provável burrada. Poderia ouvir quinhentas vezes que não era Theodore, ou como qualquer outro membro dos Fraser, mas o senso de responsabilidade sempre tomava seu raciocínio. Tornando-o emocionado, impulsivo, incoerente, pois perdia toda a racionalização que o mantinha sempre à frente. Sempre atento. Sempre conectado tão profundamente com cada aspecto de uma situação. Daquela vez, sentia como se falhasse naquele princípio básico e era confuso. Emoções eram confusas quando eram boas. Ainda mais quando pinceladas com doses de afeto. Era fácil se aconchegar a elas, sem perceber, ainda mais quando não se deixava abalar facilmente por eventos terríveis. Ser obliviador lhe dera tal vantagem. Valorizando mais o positivo que o negativo, embora não tivesse um dia sequer que não saísse chateado do Ministério da Magia. E não adiantaria segurar a respiração, esperando a explosão que o faria esvair tudo que sentia e voltar ao estado racional, pois o que sentia por Elissa estava longe de ser passageiro. O que agravava os aspectos do que sabia e imaginava e que tentava contaminar, além de mudar, todo o curso daquela história. Diluindo o tempo. Era um tique-taque apressado, que sabia que metade dos segundos foi consumido por reflexões entre o tempo na fazenda e alguns goles de uísque - que incluía o estresse de ainda não saber o que seu não mais falecido pai queria por aquelas redondezas. A sua sorte é que sabia administrar diversão e tensão, pois, realmente, não havia muito que pudesse fazer a não ser grudar na soleira de Elissa e apertar a campainha. Teve um mínimo direito de voltar a rir ao reconhecer a sombra do garoto do chiclete, correndo para o outro lado da rua com um aparelho tecnológico pendurado na orelha. Lorenzo era um assunto para depois, de qualquer forma, e não temia. Na verdade, sentiu-se mais confortável, escorando-se na parede para fingir que não percebia que estava sendo anunciado ao poderoso chefão. O que era uma merda, visto que seu tempo poderia ser totalmente reduzido com a presença surpresa do misterioso primo de Thorne. - Boireannach beag! - cumprimentou Malcolm, assim que a mulher surgiu com roupas casuais. Sorriu, porque vê-la daquela forma era o mesmo que ela vê-lo com trajes de bruxo (sem ter a menor ideia dos motivos que usava a capa horrível vez e outra). - Por demanda de Scorpius Malfoy, estou aqui, na sua porta, para colocar as fofocas em dia. Talvez, tornar meu pedido de namoro oficial ou até mesmo meu futuro cargo de guarda-caças. Agora, resta saber se a senhora vai me deixar entrar, porque o tempo tá curto. Seu querido Lorenzo logo surge aqui para destruir minha vibe. Mas, antes, você vai querer fazer aquela checagem de será que é Malcolm mesmo ou minha saliência já é o suficiente pra você? - ele perguntou, se calando em seguida para pensar em outra forma de ver a ex-corvina irritada. - Ou então você pode me chamar de Pipi e ver como reajo ou fazer o teste da bolsada. 
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doctorlissa · 3 years
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consiglierelorenzo​:
Não era intenção de Lorenzo permanecer mais que o tempo do Ferragosto no mundo bruxo britânico, mas se enganou a partir do momento que se acomodara em solo britânico e recebeu uma simples ordem que desmoronou aquele período do ano em que não trabalhava muito, dependendo dos casos, perdendo até mesmo o direito de retornar para a Itália a fim de aproveitar o que restaria do tempo seco, ensolarado e quente que reverberaria em sua potência nas áreas litorais que não estariam mais lotadas por conta da quantidade de turistas. Um retrocesso que o perturbava a qualquer instante do dia, como naquele em que observava a vizinhança pacata de Elissa pela janela. Era mais real ao que gostaria sua estadia no Reino Unido, muito mais que sua pretensão falsa de vigiar o Mungus em nome da sua cugina — por outros motivos de força maior que não incluíam suas praxes recorrentes, como ter certeza de que um corpo estaria a 7 palmos da terra e sem apontar para a famiglia. Se havia algo do qual não gostava, e que deveria estar habituado àquela altura da sua vida, era mudança de planos em cima da hora. Não se considerava um obcecado por organização, mas gostava de saber para onde ia, com quem e por quais motivos. Era a raiz do seu trabalho, especialmente quando, em boa parte do seu tempo, monitorava outros soldados. Tendo que ser aquele disponível mesmo quando não estava disponível. Sentia-se atravessado também e não era muito bom em improvisos — e vivera tempo demais para saber que improvisos beiravam à estupidez. E aquele seu azedume secreto, que o fazia mastigar o chiclete com mais força que um maxilar poderia suportar, era ter que abdicar seus dias de Ferragosto para ser babá de Clarice, a filha do patrão. Um posto que tivera que assumir à força e era quase evidente para todo mundo o quanto estava descontente sendo que não podia ficar descontente, porque certas ordens não poderia desacatar. Aquela era uma delas, um pedido que se saíra como uma função sem data de término e Lorenzo tivera que recalcular toda a sua rota. Embora alguma de suas funções, como a de conselheiro, não fossem implicadas, era como se não precisasse mais assumir aquela parte, pois tudo dele mais seu time estava focado naquela mulher insuportável. Em uma função que não podia se dar ao luxo de se esquivar. Salvo naquele dia, consciente de que a própria que vigiava estava cheia das gracinhas e resolveu largar de mão. Com sorte, teria um ponto comprovado. E um ponto comprovado era argumento que poderia vencer e, assim, vê-la transferida para alguém com mais paciência. Sem contar que ela o fazia lembrar dos seus planos naufragados, com pretensões de dias normais e que poderia fingir que estava regenerando sua própria alma. Ao menos, conseguira botar seu plano de conhecer o festival de arte da Royal Academy of Arts, mas aproveitou tão pouco que parecia nem ter ido. A boa é que deixara o novo “estagiário” em função de Clarice, mesmo consciente de que poderia dar uma grande merda. E não temia tomar uma comida de rabo, pois já se acostumara. Contudo, não queria dizer que gostava. Respirou fundo, saindo de seus pensamentos. Reconheceu passos e escolheu os melhores instintos para se fazer apresentável e digerível. Não foi tão difícil, pois riu abertamente assim que avistou Owen e o pegou imediatamente no colo. Agitou-o em seus braços saudosistas, acertando o cocuruto dele com um beijo afetuoso. Como se não fosse responsável em deixá-lo órfão de pai e Lorenzo não sentia uma gota de remorso. Talvez, tenha sido a primeira vez que sentira prazer em tirar a vida de alguém. Foi como se estivesse fazendo um favor a todo mundo, mas mais à Elissa, que surgira, arrancando-lhe um sorriso de orelha a orelha. - Amore mio, mal cheguei e estou sendo criticado pelo presente que está bem ali! - Lorenzo apontou para a grande caixa embrulhada de vermelho no sofá. Era um carro de brinquedo de controle remoto. Sorriu caloroso, de maneira que um brilho raro e singular alcançou seus olhos. - E nem foi tão caro assim. É só uma versão importada do Maserati. - ele emendou, um tanto metido apenas pelo prazer de retrucar o comentário de Elissa. Com cuidado, desceu Owen de seus braços e o acompanhou com o canto dos olhos ir atrás da caixa. - Imagina se o meu presente para você for de ouro puro a fim de compensar os anos que desapareci. Apesar que acho que você não merece por não responder as minhas mensagens. - por mensagens, Lorenzo se referia às enviadas assim que chegara ao mundo bruxo britânico e que anunciava seu esquema de proteção à Thorne. Mal conseguiu continuar seu raciocínio ao receber os cumprimentos dela, que devolveu com a mesma energia, seguido de um abraço apertado. - Um pouquinho. Nada fora do normal. Meu maior problema é só o clima. - mentiu Lorenzo, apesar de que Clarice cabia demais no contexto de clima. Perdera as contas das vezes que algum soldado a chamara de Elsa, favorecendo a criação do codinome. Por outro lado, havia certa verdade sobre o clima. Sentia-se sufocado o tempo todo com aquela umidade. - Você me parece ótima, como sempre. E claro que aceito o café. Não vim aqui à toa. - ele a acompanhou, checando se Owen estava realmente entretido com os brinquedos, e se acomodou em um dos bancos diante do balcão americano. Aproveitou para se livrar do chiclete sem gosto, embrulhando-o no guardanapo que tirou do suporte. - Aceito o café, somente. - avisou, puxando as mangas do casaco preto para não sujá-las. Pelo hábito, girou o anel de estimação do mindinho, observando o ambiente. Ouviu-a ao mesmo tempo que tentava recordar a última vez que visitara Elissa ou qualquer membro daquela parte da família. Sempre tinha noção de muitos anos. - Grazie. - ele agradeceu ao erguer a xícara como um brinde e bebericou o líquido quente que se acomodou sem açúcar em seu paladar. - Saudade de casa sempre, mas não posso fazer muito no momento já que estou transferindo meu trabalho da Itália pra cá. Talvez, passar frio por aqui seja algo que eu precise para formar um tanto mais de caráter. - ele disse em tom jocoso. Quase cuspiu o segundo gole de café quando a ouviu pontuar sobre seu exagero na segurança. - É pro teu bem. E nem é muito. Coisas de praxe. - e ele nem deveria encontrá-la dentro da própria casa dela, mas também não podia convidá-la para a sua que sequer escolhera ainda. Aquele papo de mudança só parecia bom no verbal, porque, na cabeça de Lorenzo, parecia a coisa mais impossível de fazer. Até porque não era uma pessoa consideravelmente normal. Sem contar que toda sua vida estava na Itália e dividir com o Reino Unido estava sendo marcado por um início de relacionamento cheio de relutâncias. - Ravi eu já nem sei o que ele anda fazendo, mas ele me promete sempre que é tudo sobre estudos, então, eu tenho que confiar desconfiando. E, claro, que desconfio sempre. Meu caso, bom, acredito que seja temporário. Um temporário que pode se estender até o Natal. - e o desprazer se pronunciou em sua face, enrugando sua testa que não expressou nada além de um conflito de emoções. Observou-a, fazendo questionamentos preocupados e voltou a pensar no que nem ela também sabia. Nunca se preocupou em pensar o que Thorne acharia da verdadeira história sobre Theodore. Provavelmente, deixariam de se falar, o que poderia ser indolor já que não tinha elos fixos. Tudo seu era temporário e essa prática cabia bem demais para uma vida sem certos tipos de remorso. Mas o fato de ainda matutar sobre tinha seu próprio jeito de tranquilizar sua alma, pois queria dizer que ainda tinha uma. Mesmo que um pedaço minúsculo, mas que pertencia totalmente à sua família de sangue. - Não há com que se preocupar, a não ser com os possíveis presentes caros que posso comprar para Owen. Aliás, eu não menti sobre presente em ouro puro. - Lorenzo alcançou o bolso interno do casaco e tirou de lá uma caixa quadrada de camurça azulada. - Não é nada demais. - ele entregou o presente, escondendo um sorriso de satisfação. - Mas, aproveitando para distraí-la, a parte ruim de colocar um sistema de segurança ao seu redor é que sei quase tudo que acontece no Mungus. - ele franziu o nariz como se pedisse desculpa pelos seus “cuidados aparentemente fraternais”. - Eu não tive outra escolha, não quando você teve que desaparecer. Mas você me parece melhor, cugina, e não se preocupe que seus seguranças estão sob controle. - e claro que muito da sua atitude envolvia um novo Fraser, a quem mandara outro soldado vigiar. Não que estivesse inclinado a dar cabo em outra pessoa daquela família esquisita, mas o caipira em questão era parente de quem não lhe provocava remorso. Longe de Lorenzo ser de novo um urubu rodeando sua prima e tendo a sorte de encontrar várias carniças a serem tiradas de cena. - Ainda não entendi as causas. Quem sabe, se eu entender, eu posso recolher os seguranças e diminuí-los de 10 pra 8. - ele juntou as mãos sobre o balcão, como fazia quando estava prestes a negociar. Girou o anel rapidamente e a fitou com firmeza. - Tem a ver com Malcolm Philip Fraser ou tem algo mais que não estou sabendo? Sei que o mundo bruxo daqui está em caos, todo cuidado é pouco, mas se alguém incomoda sua segurança, Elissa, eu posso ajudar. - e chegava a ser diabólico até para ele mesmo oferecer ajuda. Quando seu tipo de ajuda também não era de uma pessoa normal.    
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O muxoxo de desaprovação para mais um presente caro fora suprimido pelo pressionar de seus lábios. Encarava os presentes como demonstração de afeto de Lorenzo para com Owen, contudo realmente ficava preocupada em deixá-lo mal acostumado. Ainda assim, a empolgação da criança diante do imenso pacote apaziguara suas possíveis críticas transformando o crispar de seus lábios em um sorriso afetuoso. Sorriso que vacilou minimamente diante da descoberta do que se tratava e da possibilidade de haver também um presente para si. Àquela altura dos acontecimentos já deveria estar acostumada com o hábito de Lorenzo em presentear as pessoas da família, ainda assim era pega desprevenida todas as vezes. Surpresas, aliás, pareciam fazer parte do portfólio do mais velho que a deixara boquiaberta com a informação de que sua estadia pelo Reino Unido se estenderia por mais alguns meses. Embora não estivesse por dentro dos pormenores que envolviam a vida de Lorenzo, não lhe parecia que meras banalidades o prenderiam a um país com o qual claramente tinha ressalvas. Ainda em silêncio, enquanto seus neurônios trabalhavam em teorias, Elissa levantou-se para com um acenar de varinha ajudar Owen a abrir o presente. Lorenzo não havia mentido ao dizer que era uma Maserati, um mini carro que Owen empolgado logo tratou de adentrar, enquanto ela se perguntava como diabos a criança o usaria em casa. Retornando a cozinha, com um ligeiro bico contrariado marcando sua expressão, Thorne o serviu com uma xícara generosa de café puro, como sabia que gostava. Ao fitá-lo, com certo esforço para manter neutralidade em suas feições, voltara a concentrar-se em tentar compreender o que as entrelinhas lhe traziam como respostas. Lorenzo sempre parecia comedido, apesar do sorriso aberto que suaviza suas feições bonitas. Ele era hábil em camuflar o que pensava e sentia, o que instigava sua curiosidade, especialmente pelo ramo clínico em que atuava. - Muy bien, guapo, até o Natal deve parecer uma eternidade para quem claramente prefere estar o mais próximo possível da brisa das praias sicilianas. - pontuou, embora sequer conhecesse pessoalmente o lar do mais velho. - Pero, não o julgo, imagino que também não me ausentaria por muito tempo se vivesse no paraíso. - o tópico Itália estava sempre presente nas conversas de família quando encontrava-se em Porto Rico, especialmente quando sua tia e sua avó pareciam sempre planejar dias de glória na região. Planos que tinha a impressão que nunca saíam do papel. Sua fértil imaginação a fazia ponderar que talvez a Itália não fosse tão segura para a mãe e a avó de alguém envolvido com os mesmos negócios que Lorenzo. Norte de pensamento em que criava teorias e mais teorias que pouco provavelmente arranhavam a verdade. Ciente que naquele instante teorizar não a levaria a nada permitira que sua atenção fosse totalmente capturada pela caixinha azul que ele retirara do bolso. Os grandes olhos de Elissa arregalaram-se ligeiramente em surpresa, pois, a princípio, imaginara que ele estava apenas brincando sobre presenteá-la. - Hum, guapo, está tentando me subornar para que não reclame mais dos seus presentes a Owen? - questionou em um tom jocoso que era corroborado pelo arquear de uma de suas sobrancelhas. O olhar, naquele instante, preso ao rosto bonito do mais velho logo voltou a pousar sobre a caixinha de onde de dentro seus dedos finos envolveram um colar elegante e delicado. A letra E entre as pérolas era, de fato, de ouro puro o que a deixara ligeiramente preocupada com os excessos do primo. Pensou, por não gostar da ideia de ser alvo de gastos excessivos, em devolvê-lo, contudo não valia a pena fazer tal desfeita para quem claramente não aceitaria uma recusa. - Ou você está tentando me convencer a aceitar a segurança sem grandes reclamações? - voltou a questionar, dessa vez com o semblante franzido que logo suavizou-se através de um sorriso grato. - É lindo, Lore! Agradeço a gentileza! E, obviamente, preciso elogiar o seu bom gosto! - e era realmente de muito bom gosto, Elissa só não sabia onde poderia usar tal peça quando sua vida se resumia entre ser a Doutora Thorne no Mungus e a mãe de um garotinho de três anos em casa. Entre seus dois compromissos diários, por ora, não cabia uma vida social ativa. - Em retribuição prometo ao menos responder suas mensagens com mais rapidez. - brincou com um sorriso sapeca iluminando suas feições. Suas demoras em responder davam-se apenas pela agitação de seus afazeres. - Me ajude a colocá-lo assim que terminar seu café, por favor. - pediu com a gentileza de quem realmente estava agradecida pelo presente. Afastada a surpresa, sentindo-se ligeiramente constrangida em não ter nada para oferecer de volta, Elissa voltou a concentrar-se nos meandros da conversa. Um revirar sutil de olhos fora sua resposta inicial a ideia de que não possuía privacidade em seu ambiente de trabalho, especialmente pelo receio de que tipo de fofoca infundada chegara aos ouvidos dele. Embora meses já houvessem transcorrido ainda havia quem acreditasse no desenrolar dos acontecimentos de sua formatura. Um pesadelo interminável, pensava, sempre chateando-se com a memória de uma noite que acabara em puro descontentamento. E havia a presença constante de Malcolm que de seu ponto de vista era justificável por aquele ser também o local de trabalho de Scott. Para além de tais questões, o monitoramento a fazia se sentir como uma criança indisciplinada que precisava de excesso de supervisão, por outro lado, parte de seu subconsciente parecia relacionar aquele excesso de zelo com outro momento de sua vida, um que envolvia o falecido pai de seu filho. Em determinado momento da relação entre ambos Theodore passara a vigiar todos os seus passos, não para protegê-la como naquele caso, mas para controlá-la. O falecido ultrapassara limites de tal maneira que sempre sabia onde encontrá-la, principalmente quando ia a locais que o desagradava. Assim tornara-se comum aparições inesperadas e indesejadas por parte dele que pouco a pouco foram sufocando-a numa época em que precisava de espaço e serenidade para gerar a criança em seu ventre. Tais memórias reviravam seu estômago e causavam um frio repugnante em sua espinha. O mais discretamente possível a ex-corvina respirou fundo para recobrar sua tranquilidade. - Bien, se você e nosso grande estudioso Ravi estarão por aqui pelo Natal acho que seria uma boa oportunidade para trazer abuela e sua mãe para as comemorações de fim de ano! Adoraria voltar a Porto Rico, mas duvido que o Mungus me libere depois da licença que tirei no meio do ano. - e só conseguira uma licença especial ao invés de uma demissão por seu avô materno ainda possuir grande influência entre aqueles corredores. Alfred Thorne fora diretor do Mungus por muitos anos, até decidir que sua época de ceder a vida para o trabalho havia se encerrado. Não muito diferentemente do avô Elissa vinha ponderando se não cedia demais de sua vida ao trabalho, especialmente quando perdia tempo de convivência com o filho. Apesar das circunstâncias que deram vida a Owen era evidente que não havia ninguém mais importante para ela que a criança que naquele instante seguia entretida com o brinquedo novo. Ao voltar a encarar o primo Elissa possuía uma expressão ponderadora que ressaltava-se pela dobrinha no centro de sua testa. - Guapo, devo confessar que estou surpresa que não saiba os detalhes. - imaginava, claro, que na realidade ele soubesse e apenas estivesse desejoso de sua perspectiva dos fatos. - Também creo que na realidade, do ponto de vista técnico, deva saber muito mais sobre Malcolm Philip Fraser que eu. - concluiu com que poderia soar para o mais velho como uma alfinetada, mas que nada mais era que uma constatação do que considerava evidente. Era engraçado, para não dizer estranho, que tivesse a constante sensação de que conhecia Malcolm profundamente bem; podia antever algumas das reações dele, havia aprendido como acalmá-lo quando a situação pedia, sabia fazê-lo falar quando normalmente optaria pelo silêncio. Apesar da evidente conexão entre ambos, e do que aprendera o observando, efetivamente não tinha grandes detalhes sobre sua vida. Dubiedade que até então pouco a incomodava, embora, em alguns momentos, por conta de suas questões, a deixasse apreensiva e insegura. - Malcolm não é um problema, Lore. Ele tem sido um bom… - o silêncio embora momentâneo certamente seria perceptível para uma mente afiada como a de Lorenzo. - … amigo. - concluiu mesmo ciente de que aquela não era a definição correta. Entretanto, não havia uma definição para ambos além da bobagem que diziam um para o outro; “amizade amistosa com eventuais benefícios”. Elissa acreditava que já havia passado da idade adequada para tais termos, além do que, não fazia jus ao que sentia, mesmo que seguisse não dando nome ao que era concreto. Até então, como forma de autocuidado, tratar como abstrato parecia mais seguro. Possuía receios, diversos, que eram completamente justificáveis, além do mais, Malcolm carregava o peso de estar atrelado a Theodore. Embora de forma alguma o comparasse ao irmão sabia que as pessoas em sua vida, especialmente sua família, teriam ressalvas em excesso. Desgaste que, por ora, evitava, especialmente por não saber o que exatamente se desenrolava entre ambos. - As divergências se iniciam por parte da Sra. Fraser, a mãe de Theodore. - sua expressão moldou-se em puro desagrado ao citar nominalmente as duas pessoas responsáveis por trazer caos a uma vida que um dia fora pacata. - Quando precisei me ausentar os Fraser estavam sob disputa interna para decidir quem lideraria o que definem como clã. A Sra. Fraser gostaria que fosse Malcolm, acho que tinham um casamento e demais arranjos preparados para ele, inclusive. - disse fazendo seu melhor para disfarçar em suas feições e tom seu completo desagrado. - Enfim, a parte que me cabe nessa problemática é a que envolve Owen. A Sra. Fraser tinha ou tem, não sei ao certo, planos para ele como único herdeiro de Theodore. Felizmente ele é muito jovem para assumir qualquer posição na hierarquia familiar, mas, bien, foram meses de tensão e puro desacordo. No entanto, hoje, os Fraser tem uma nova liderança, uma mulher, Margaret Fraser. - concluiu e embora a liderança da mais jovem fosse muito bem-vinda por si, ainda questionava-se em que termos ela conseguira em tão curto espaço de tempo se recuperar de traumas tão profundos. - Não acho que esteja correndo perigo iminente que justifique tantos soldados no meu encalço, mas, bien, agradeço por todo cuidado e proteção ao redor de Owen. - disse, com extrema sinceridade, ao encarar as orbes castanhas de Lorenzo. Elissa repousou sua mão sobre a dele, apertando-a com a gentileza de um carinho. - Para o resto imagino que tempo funcione. Não sei se a Sra. Fraser ainda fará tanta questão de ter Owen por perto, particularmente torço para que não. - a cada quinze dias Owen ainda precisava passar um fim de semana com a avó paterna e Elissa seguia receosa com a possibilidade daquela mulher infernal sumir com a criança. Seu pedido de suspensão das visitas, até então, ainda não havia sido examinado pela ineficiente justiça bruxa. Com relação a ex-sogra sentia que vivia em loop, sempre retornando ao que lhe desgastava. Entretanto, ao menos naquele instante, não queria que aquele fosse o único tópico abordado com o mais velho, pois sentia que dava a ele um trabalho que não era sua responsabilidade. - Deixando os dramas cansativos da minha vida de lado, você já tem onde ficar pelos próximos meses? Ofereceria meu quarto de hóspedes, mas tenho certeza que não está à altura de sua pompa e circunstância. - disse, em tom mais amenos, jocoso, para dispersar em si mesma a tensão que falar dos Fraser causava. Além do mais, sempre divertia-se em provocar Lorenzo e sua vida de alto padrão. - Bueno, aproveitarei a oportunidade para resgatá-lo em nome de uma vida social que também preciso ter. Não chamarei Ravi, pois ele com certeza nos considera como dois tiozões perdidos em qualquer ambiente. - a diferença de idade entre ela e Ravi era mínima, mas parecia que pertenciam a gerações diferentes graças as circunstâncias. - Nem pense em dizer não! Se você me presenteia com joias no mínimo tem que me levar para ostentá-las. - concluiu, em tom jocoso, ciente de que dificilmente o convenceria a acompanhá-la.
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doctorlissa · 3 years
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@consiglierelorenzo
- Muy bien, mi hijo! - elogiou, com um sorriso largo desenhando-se nos lábios cheios, uma Elissa que pela primeira vez sequer precisara intervir na escovação dos dentes de Owen. O garotinho, de pouco mais de três anos, aos poucos conquistava independência sobre o próprio corpo, assim, pequenos elogios as suas pequenas grandes realizações faziam parte da rotina de mãe e filho. O sorriso largo da criança, mostrando os dentinhos, aquecia o coração de Thorne, e eram justamente momentos simples como aquele que faziam valer a pena o trabalho árduo que a maternidade exigia. Mães nunca tinham folga como ela bem experimentava naquele dia em que não precisaria comparecer ao St. Mungus. - Pode ir cumprimentar seu tio, mi vida.  - completou o acompanhando para fora do banheiro, de onde Owen saiu em disparada, para usufruir da companhia de Lorenzo ou tio Renzo como ele mesmo dizia. Seu primo, assim como seu avô e os tios paternos de Owen, eram as referências masculinas na vida da criança. Por mais que assumisse toda a responsabilidade pela criação, não era o suficiente para em Owen apagar a ausência de um pai. Aos três anos, frequentando a pré-escola, havia se tornado comum que ele questionasse o porquê ao contrário da maioria das outras crianças não possuía um pai presente. Era por conta dos constantes questionamentos que, para suprir anseios e ajustar-se a compreensão infantil, precisara agir de uma maneira que muito pouco apreciava: mentindo. A mentira em questão era a mais inocente possível; dizia que Theodore havia se tornado um pontinho luminoso no céu e que de lá cuidava do filho. Mierda, pensava toda vez ciente que muito provavelmente não receberia qualquer ajuda eficiente do falecido. Além da falácia contada mantinha uma única foto do Fraser acariciando sua barriga a cabeceira da cama de Owen - e odiava tal foto pois à época Theodore praticamente a enlouquecia com tentativas de controle. Entretanto, apesar de toda sua experiência traumática com o ex-namorado, entendia que não poderia deixar que sua experiência refletisse na de Owen com a memória do pai - que o universo fora bondoso em permitir que não conhecesse. Ainda que vez ou outra se perguntasse como seria a vida de ambos se Theodore não tivesse morrido em circunstâncias inexplicáveis, para dizer o mínimo, estava grata por não precisar se preocupar com o inferno no qual ele transformaria sua vida. - Guapo, olá, espero que não tenha trazido mais um dos seus presentes caros! Tudo bem que não ganho mal, mas não tenho qualquer condição de me equiparar ao seu poder aquisitivo para agradar! - o comentário apesar de assertivo não carregava qualquer crítica real ao primo e muito menos aos meios pelo qual Lorenzo formara a própria fortuna. Por opção sua, e sobretudo pela discrição do mais velho, preferia saber pouco sobre o que ele fazia para ganhar a vida, especialmente quando possuía a constante impressão de que em nada gostaria dos detalhes. - Se estragar o garoto o tornando um grande mimado eu juro que só deixo a Itália depois de fazer picadinho de você. - brincou assim que posicionou-se a frente do mais velho. O sorriso voltou a desenhar-se em seus lábios e expressava seu contentamento sempre que encontrava-se diante de seus parentes paternos. - Déjame saludarte como es debido. - expressou uma vez que apenas abrira a porta para que ele entrasse antes que voltasse ao banheiro para acompanhar Owen. Com fluidez a ex-corvina colocou-se nas pontas dos pés para beijá-lo tenramente nas duas bochecha, único lugar que sua baixa estatura permitia que alcançasse sem maiores dificuldades. Ao afastar-se procurou por Owen que já estava entretido com seus brinquedos e, entre os dados por Lorenzo, encontravam-se os de madeiras feitos por Malcolm, outro que precisaria fazer picadinho se mimasse demais a criança. - Ainda é cedo, mas, como de costume você já me parece um pouquinho agotado. - comentou, o mais despretensiosamente possível, ao dar a volta no balcão americano que separava sala e cozinha e onde o café da manhã seguia posto. - Servido? - ofereceu, educadamente, enquanto com um acenar de varinha colocava a louça já usada na pia. Em seus dias em casa a magia quebrava todos os galhos possíveis, caso contrário as folgas seriam tão estressantes quanto seu ritmo de trabalho. Embora o St. Mungus estivesse menos caótico pelas últimas semanas o clima no mundo bruxo seguia tenso, como se o perigo estivesse constantemente a espreita. - Por cierto, sem delonga, você está bem, guapo? Há algo consumindo seus neurônios renascentistas? - um sorriso breve, afetuoso, formou-se em seus lábios assim que sentou-se de frente para o primo. Embora não tivessem crescido próximos, por conta da distância geográfica, a conexão que formaram durante os últimos anos a fazia acreditar que conseguia ler alguns dos sinais que transpareciam nas feições bonitas e taciturnas de Lorenzo. - Saudade de casa? Não me leve a mal, é bom tê-lo, apesar dos seus ocasionais exageros de segurança,… - enquanto se pronunciava o encarava com uma das sobrancelhas arqueadas, o que, junto a entonação em sua voz, deixava claro que detestava a segurança por mais que soubesse que ao menos para Owen era válida. - … por perto. Mas, bien, você nunca fica por muito tempo. Nem Ravi. Há algo que desconheço acontecendo? Pode e quer falar a respeito? - e caso ele não pudesse falar a respeito saberia que eram raras as chances de ser algo dentro da legalidade, o que instigaria sua preocupação com o mais velho mesmo ciente que ele sabia melhor que ninguém como se cuidar.
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doctorlissa · 3 years
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doctorlissa · 4 years
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thejammybastard‌:
Malcolm não era estúpido para se fazer acreditar de que a recuperação do seu braço seria o passe de saída do Mungus. Poderia não ter a lógica do tempo a seu favor, mas tinha muito da sensação de estar preso àquela cama por tempo demais. Fato que o fez se abster com seu famoso resmungo e tentar se endireitar minimamente para não fazer com que aquele mesmo braço começasse com seus ciclos de coceira insuportáveis. Obviamente que não conseguiu se aguentar em um nobre silêncio ao capturar a expressão confusamente divertida da ex-corvina. - Não adianta jogar esse conto da carochinha para cima de mim. - ele deixou a afirmação debochada no ar enquanto se esforçava para puxar o ar. Ainda sentia espasmos na região das costelas, mas não no mesmo tanto que dias atrás. O que só dava a Malcolm mais motivos para se sentir irritado o tempo todo e começar a duvidar até mesmo de Scott. Afinal, não parecia possível que as poções daquele lugar não eram totalmente capazes de deixá-lo inteiro em menos de 48 horas. Era um absurdo! - Certamente que sua supervisão seria melhor, porque eu me manteria distraído. - as sobrancelhas de Malcolm se altearam preguiçosamente, carregadas de uma ínfima lascividade. - Não que as outras curandeiras não sejam agradáveis de se olhar, mas elas não têm a artimanha de tentar me controlar e, com isso, incitar o pior de mim. - o tom de brincadeira se fez presente e desapareceu ao dar espaço a um sorriso compreensível à acusação não acusação feita sobre Elissa ser fujona. Era-lhe muito agradável o quanto ela tinha a perspicácia de sacar o que era verdade ou piadismo da sua lábia. Uma das características que mais admirava na mais nova visto que se aplicava e muito em toda sua dinâmica de trabalho. - Eu sabia que Popovich era uma péssima companhia pra você. - ele comentou, fazendo outro mínimo de esforço para conter o que seria facilmente uma gargalhada. - Ao menos aquela maluca garantiu que você se tornasse um caso de sucesso, pois eu não estava pronto em ter que arrancar a cabeça dela sem querer querendo. - o seu humor se dizimou instantaneamente pelo fato de Elissa colocar em sua mente uma ideia da qual não deixara de pensar assim que as coisas nos Fraser começaram a ficar muito sombrias para o seu gosto. De certo modo, ele sentira alívio pela ex-corvina ter sido retirada do mundo bruxo, pois não duvidaria em absolutamente nada da capacidade da sua mãe plantar suas ideias de jerico para conseguir o que almejava naquele ínterim de tempo. Levando em conta que a matriarca os pegara no flagrante, mais como forma de avisar que sabia o que sabia e que ele não tinha opção a não ser aceitar logo de uma vez assumir um clã falido, já não era difícil imaginar que ela manteria sua palavra. E foi um dos piores momentos antes da sua famigerada surra, porque suas oscilações de humor não esconderam o quanto ainda não queria tomar aquela responsabilidade sua e a cada rompante que tinha parecia que colocava mais um maluco daquela família na cola de Elissa a fim de fazê-lo mudar imediatamente de ideia. Era a famosa pressão psicológica que Malcolm relutara com graciosidade. Era um obliviador no final das contas. Seu treinamento exigira um desenvolvimento psicológico afiado. Quase cirúrgico. Ensinara-o a se deter ao que realmente importava e deixar o resto ser levado pelo vento. E, por mais que morresse de preocupação sobre o estado de Thorne e de Owen, e também se abstivesse em entrar em contato para não ser rastreado, todos os limites de Malcolm foram centrados para se mantê-los inteiros. Ele se tornara basicamente a última base daquele clã que aguardara desmoronar assim que a troca de papéis acontecesse. No caso, Margaret assumir sua posição e tirá-lo de cena. Ou quase, pois, claro, teria que passar por uma experiência de quase morte por ser um maldito traidor. Respirou fundo e praguejou mais pelos novos espasmos que pela recapitulação. Sentiu-se novamente focado ao toque da mão dela na sua, o mais próximo de base que tivera naqueles dias incongruentes. Por isso mesmo apertou um pouco mais o toque, não para saber se ela era real, mas, sim, porque era o que almejara assim que se dera conta de que era ela que estava na sua prisão hospitalar. - Ah não? - Malcolm indicou as mãos entrelaçadas e sorriu fracamente. - Esse não é o comportamento esperado de quem não quer reaviar chama alguma, sabe? - o questionamento pairou no ar pelo tempo dele se manter conectado na conversa mais longa que tivera naqueles últimos dias. - Covarde jamais, boireannach beag, ou eu seria banido da minha própria Casa por ser um tremendo pão com ovo e isso está fora de cogitação. - o orgulho grifino sobre ser sempre bravo era o mais expressivo no DNA de Malcolm, embora não fosse costumeiro ele esboçar muito sobre aquilo. Mas tinha reconhecimento que ninguém mais faria seu trabalho melhor que ele tão quanto gargalharia em meio a uma surra gratuita que ainda nem sabia se invocaria o pior do grifino querendo vingança. - Mais respeito com Joaquim, por Santa Margaret! - e falar de uma de suas cabras deixou Malcolm minimamente injuriado, deixando-o com um bico momentâneo de pura rabugentice. - É um bebê humano que eu posso mostrar se você pegar meu celular. - Malcolm indicou, com a recém mão liberta do toque de Elissa, a mesinha que não tinha nada além do seu aparelho. - Bem, como deve saber, eu e Darius somos amigos de longa data e foi impossível não declamarmos nosso amor um ao outro e termos uma criança juntos. Todos esses acontecimentos tornaram nosso amor inevitável. - ele contou de um jeito teatral e inabalável. - E o bebê humano é uma garotinha chamada Brianna. Horrorizada já de ver seu outro pai nesse estado deplorável e acho que não queremos que uma criança cresça injuriada com seu outro pai porque esse outro pai não ganha a alta logo para levá-la ao parque. O que pode esperar, pois muito me preocupa agora esse lance de caliente latino. - Malcolm riu um tanto mais alto o que era um inferno porque parecia que seus músculos dilaceravam sua pele. O que não pareceu o suficiente para ele se esticar um pouco para segurar o que se revelou ser um desenho de Owen. A quem também não via há muito tempo e era outra origem de alívio sem precedentes. - Até ele sabe que o branquelo ruivo é maior e melhor. - ele apontou para a imagem que parecia mais adequada à sua fisionomia do ponto de vista infantil. Ele era consideravelmente mais baixo que Scott e Scott tinha os cabelos realmente vermelhos, como da mãe deles. Malcolm sempre dizia que era o ruivo que não tinha dado certo, sua genética o interrompendo pela metade, pois não dava para notar tais traços a não ser pelo excesso de sardas no rosto que compunham até seus lábios. - Você acha mesmo que eu não faria isso? - ele arqueou uma sobrancelha inquisitivamente. - Eu poderia me gabar, claro, mas até Margaret cuidou do garoto usando sei lá que feitiço porque aquela garota também é doida. - ele meneou a cabeça negativamente, mas não de um modo que corroborasse algum tipo de efeito negativo daquela questão. De fato estava lisonjeado pelo reconhecimento, mas não tinha como não sentir o agridoce estalar na sua boca seca graças ao estresse daquela situação. - Tha thu di-beathte! - ele respondeu em um raro instante que se usava do gaélico como fonte de expressão e havia ternura em cada ênfase da sentença. - E o mesmo para o desenho. Quando eu estiver livre e me sentindo produtivo, eu mando outra lembrancinha que pode ser uma cabra ainda bebê, não sei. - ele brincou, mas era bem capaz que desse mesmo um baby goat a Owen. - Mas agora você resolveu estragar tudo ao mencionar esse cidadão. Lorenzo. - Malcolm dobrou o desenho cuidadosamente e se poupou de uma nova risada com esgar de escárnio. - Eu nunca ouvi falar desse tal de Lorenzo e me choca que ele tenha precedente para ter um exército ao ponto de vistoriar o Mungus no que me parece agora anterior ao timing da sua chegada. - e aquela informação era puramente de Scott que tivera que apresentar os andares do Mungus a um italiano que parecia não compreender muito bem um escocês. - Estou tranquilo, claro, pois, se você estivesse aqui sem ao menos um auror, bom, eu teria que acionar a pessoa mais desagradável que habita este mundo e ele se chama Aiden Cross. - e pensar no auror sempre o divertia, porque não era possível existir outra figura carrancuda como aquela. - Pelo visto, você está querendo ser promovida e vai me usar de estepe. Não ligo. Espero ser lembrado no discurso. E, boireannach beag, não dá para ser mais colaborativo quando eu quero ir pra casa e cuidar das minhas cabras, cavalos, ovelhas, e depois assumir meus trabalhos. Eu só quero sair daqui o mais rápido possível e, como deve saber, eu não ligo que seja com algumas dores ali, outras acolá. - Malcolm tinha muito forte aquela questão de ser à prova de fogo e ninguém parecia ser capaz de tirar isso dele. Nem algumas costelas fora do lugar e um braço quebrado. Por isso era realmente insuportável ficar naquele ambiente que não lhe inspirava em absolutamente nada a não ser lembrar que fora tombado e que tinha que se erguer para dar a famosa volta por cima. - E, se essa fosse sua real mensagem, você poderia ter ficado em Porto Rico e não estou dizendo isso para ser desagradável. Eu ainda não tive as últimas de Margaret e não sei o que pode acontecer quando ouvirem seu nome por aqui. - e a preocupação que queria se tornar latente, ao ponto das suas orelhas começarem a ficar vermelhas, não ribombou em uma nova escalada de contra-argumentos devido à incisividade de Elissa em contar os motivos de estar ali. Sentiu o toque quente da palma dela em seu rosto, inebriando-o momentaneamente. A respiração se entremeou na garganta por alguns segundos, impulsionando um engolir a seco, agindo como se fosse a alavanca de segurança contra o tremor na boca do seu estômago que denunciava o que claramente ele não diria. Seu medo verdadeiro nunca fora de fato ser extirpado do planeta, mas sim que Elissa assim fosse para ser a sua lição. E não teria como qualquer tipo de Poção remediar a culpa que se assomaria. - Scott tem que ser promovido a grande fofoqueira desse hospital. - ele murmurou, tocando suavemente o pulso de Elissa com a mão boa. Seus dedos deslizaram pela região até encontrar o pulso do coração dela, tornando tudo aquilo verossímil e acordante com o tempo. - Você não precisava se pôr em risco para ter uma visão exclusiva da minha cara atropelada, mas não nego que este é o momento mais satisfatório da minha carreira. Eu jamais concordaria com sua presença aqui por qualquer motivo antes de ter certeza se estava tudo bem. Bom, o que me resta é confiar minimamente em quem te trouxe aqui. Esse tal de Lorenzo. - repetir o nome de alguém era a típica estratégia de quem precisava de confirmação para investigar algo que não ornava. E o tal do espião italiano não ornava e seria certamente a lição de casa que teria que fazer assim que tivesse alta. - Hei. - ele tocou o queixo dela brevemente para se manter no campo de visão dela. - Está tudo bem, boireannach beag! Ainda mais agora que meu ego está suficientemente alimentado, não poderia agradecer mais. - com um ínfimo esforço, Malcolm empurrou uma mecha que escapou detrás da orelha de Elissa. Deteve-se para olhá-la atentamente, deslizando o polegar por algumas pintinhas ao redor das bochechas dela. - Como disse, está tudo bem e eu estou bem. É ótimo ter você aqui porque me dá certeza de uma nesga de normalidade vindo aí. De certo modo, tudo acabou. O que resta é esperar a poeira baixar. - era o conselho de Margaret que continuava mudando todas as ordens dos Fraser, bagunçando as hierarquias e tirando todo o poder de sua mãe. - E obrigado por ter vindo, boireannach beag. Se eu estivesse em plenas condições e sem o hálito de xarope, certamente a beijaria. - e lhe restou beijar suavemente o pulso dela, o que lhe custou uma profunda falta de ar por ter ser curvado para tal feito. - Mas, como você quer saber de um latino horroroso, vou ter que esperar para movimentar meus contatinhos do Departamento de Aurores.
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- Madre de dios! É uma lástima que esteja afastada do trabalho e impossibilitada de inspirar o pior de seu gênio aos meus cuidados. – Elissa pressionou os lábios contendo um sorriso, mas sua expressão entregava o quanto divertia-se com a audácia do mais velho. – Inclusive, gostaria muito de inspirar o pior desse gênio no que deve ser o momento mais divertido do seu dia; o famigerado banho de esponja. – dessa vez permitiu que um sorriso travesso se espalhasse por seus lábios cheios. – Aliás, espero que esse seja um trabalho exclusivo de Scott e outros enfermeiros homens ou no futuro será um tantinho constrangedor saber que minhas colegas de trabalho respeitosamente já avaliaram o seu material, assim como o senhor parece andar as avaliando. – pontuou, com um ligeiro humor marcando seu timbre e que era corroborado pela maneira com que arqueava as sobrancelhas. Sua expressão logo se suavizou o que combinava com seu estado de espirito conforme aquela visita se estendia. Passado o receio inicial da situação em que ele se encontrava ser mais grave do que fora antecipado para si, além do receio de não ser bem-vinda, Thorne possuía a impressão que quase nada havia mudado na maneira como se relacionavam. Era fácil. Simples. Confortável. Como finalmente voltar para casa depois de um dia realmente infernal. – Por Dios! Não sei como as coisas funcionam na Escócia, Malcolm Philip, mas segurar na mão alheia também significa uma tentativa de proporcionar conforto, sabe? É apenas essa a minha intenção. Na mais pura inocência, cariño! – disse, liberando um suspiro que falsamente a fazia parecer consternada. – Muy bien, se soubesse que o encontraria todo saidinho achando agradável olhar para as outras curandeiras, além, é claro, de devidamente casado, teria seguido o conselho sábio e de boa influência de Popovich sobre, usando as palavras dela, me colocar mais para jogo. – um ar de divertimento pontuou suas feições a lembrança da recomendação da mais velha. Embora não tivesse seguido aquele conselho em especifico, não havia como negar que Olivia trouxera-lhe luz em um momento em que encontrara-se muito perto de seu limite emocional. Norte de pensamento do qual distanciou-se assim que o ouviu falar de seu orgulho grifino, o que prontamente a fez revirar os olhos em exasperação pura. Não que tivesse qualquer coisa contra a casa de Godric Gryffindor, contudo, como todo pertencente a casa de Rowena Ravenclaw, coragem não era exatamente a característica que mais admirava. No entanto, era inegável que Malcolm era uma personificação daquela casa, tanto para o melhor quanto para o pior. E era pensando nesse pior que se perguntava se ele não agiria de maneira impulsiva ao finalmente ter alta, afinal, era de se supor que aqueles indícios de raiva e irritação que ele deixava transparecer não eram apenas direcionados a internação. Como alguém que lidava constantemente com vítimas de variados eventos traumáticos e/ou violentos, Elissa possuía a compreensão de que algumas dessas vítimas possuíam a necessidade de revidar o que lhe ocorrera. Thorne sentiu-se ligeiramente tensa uma outra vez, o que a fez respirar profundamente. Aquela era uma preocupação com a qual lidaria em outro momento, especialmente depois que pudesse acompanhar a evolução do comportamento dele com o passar dos dias. Assim, focara-se outra vez exclusivamente no que ele lhe dizia. O ligeiro biquinho que ele ostentava a fez sorrir logo antes de pressionar a ponta de seu indicador sobre os lábios macios do mais velho. – Hum. Respeito muito Joaquim, inclusive, entre vocês dois ele é meu favorito. – disse, com um menear de cabeça que corroborava suas palavras, logo antes de liberar a leve pressão que seu dedo fizera contra os lábios dele. Seguindo sua recomendação Elissa esticou-se para buscar pelo celular. A curiosidade marcava sua expressão com a famigerada ruguinha entre suas sobrancelhas. – Muy bien! Meu sexto sentido sempre me disse que havia algo de muito forte entre você e Darius. Não há como negar que formam um belo casal, e não há maneiras de querer destruir tão sólida relação, pero, sobre Brianna, a propósito belo nome, como vocês dois conseguiram um bebê? Vocês sequestraram uma criança? Adotaram? Ou, pelo bem da sua recuperação, Darius teve um bebê? – enquanto questionava a ruguinha entre suas sobrancelhas tornava-se mais proeminente e só desapareceu no instante em que seu olhar recaiu sobre as fotos no celular do ex-grifino. A bebê que deveria ter por volta de cinco ou seis meses era totalmente adorável, cheia de dobrinhas, bochechuda e com grandes olhos claros. Um sorriso largo moldou-se nos lábios de Elissa, assim como uma singela nostalgia da época em que Owen tinha a mesma idade. – Oh, Malcolm, ela é muy hermosa! Uma pequena cópia de Darius. Por dios! Felicitaciones papá! Bien, mesmo tão pequena ela deve sentir sua falta, é inegável. Pero, ela pode vir visitá-lo aqui. Ou seja, por enquanto sem traumas para essa pequena preciosidade. – disse, sem desviar o olhar das fotos, e sentindo-se um tanto relutante ao precisar devolver o celular ao mais velho. Logo um largo sorriso jocoso pontuou seus lábios. – Mal posso esperar para acompanhar você e Darius como pais ciumentos de uma adolescente. – disse, em um tom provocador enquanto movia as sobrancelhas artimanhosamente. Não era difícil supor que os dois surtariam quando Brianna tivesse o primeiro date, especialmente se fosse com um garoto. Elissa liberou uma respiração profunda e em seguida seu olhar voltou a encontrar o do mais velho. – Ela tem sorte de tê-lo como pai. Assim como Owen tem por tê-lo como tio. – disse, com ternura e uma óbvia sinceridade. A ex-corvina sentia-se aliviada em perceber que na ausência da controversa figura paterna seu filho encontraria bons exemplos em seu avô, seus primos, e especialmente nos tios por parte de pai. A última coisa que queria era privá-lo por completo de uma convivência com a família de Theodore. – Pero, me parece claro que Owen precisa conviver um pouco mais com a minha família para entender que homens brancos e ruivos, com raras exceções, não são lá grandes coisas. – pontuou, em um óbvio tom de ironia que era corroborado pelo minúsculo sorriso que pontuava o canto dos seus lábios. – Bien, não era sua obrigação assim como não era de Margaret. Sou grata a ambos. – e realmente o era. Todas as vezes em que Owen fora para a Escócia Elissa se mantivera de coração apertado até o retorno dele para casa. Saber que as poucas pessoas com quem tinha bom relacionamento naquela família zelavam por ele na sua ausência a tranquilizava. Contudo, era inegável que estava um tanto surpresa pela participação de Margaret. Assim, aquele era mais um fato pelo qual se tornava grata a ela, e agradecê-la pessoalmente era algo que faria em algum momento do futuro próximo. Apesar de distraída por aquele pensamento, sua atenção voltou a recair sobre Malcolm assim que o ouviu falar em gaélico. Embora sua compreensão daquele idioma fosse parco naquele instante fora simples compreendê-lo. Um sorriso bonito moldou-se nos lábios de Thorne, um instante antes de transformar-se em um surpreso entreabrir de lábios. – Malcolm Philip, por Dios, por mais adoráveis que bebês cabras sejam eu não tenho como cuidar de uma. Owen mal sabe ir ao banheiro sozinho, ele não está habilitado para ter um bichinho. – ainda que intentasse soar resoluta, a verdade é que sua percepção de que aquela era uma péssima ideia vinha do fato de que realmente não teria onde criar um animal que precisava de espaço. Assim, ficava claro que aquela era uma situação a ser debatida posteriormente. – Uh, por Dios, Lorenzo fez o quê?! – embora houvesse uma ligeira surpresa em seu timbre, Elissa possuía a consciência de que deixá-la com uma única sombra seria insuficiente para o primo. A ex-corvina liberou uma respiração profunda seguida de um revirar exasperado de olhos. – Bien, conhecendo Lorenzo posso assegurar que logo menos ele fará questão de se apresentar pessoalmente. Com todas as credenciais. – embora considerasse que o primo cometia alguns excessos, Elissa não reclamaria pois reconhecia tudo o que ele vinha fazendo por si. – Ele tem uma energia similar a de Aiden, sabes? Sempre mantendo tudo sob controle. Os dois são ótimos. E Aiden, assim como Lorenzo, não era favorável ao meu retorno. Veja bem quantos machos alfas você me fez contrariar, Malcolm Philip! Espero no mínimo ser bem recompensada no futuro. – disse, calmamente, mas sem disfarçar a sutil provocação em sua última frase que era corroborada pelo ligeiro sorriso irônico que marcava o canto de seus lábios. Novamente a ex-corvina colocou a mão sobre a dele, dessa vez entrelaçando os dedos gentilmente. – Malcolm, teoricamente você só depende de si mesmo para sair daqui. A maneira como seu corpo responde ao tratamento é o que vai indicar o recebimento da alta. Você está evoluindo bem, o que é ótimo. Mas a equipe precisa se assegurar que seus ferimentos internos não vão romper novamente. Eu sei que deve ser impossível para alguém tão ativo se manter tanto tempo em uma cama, mas é o necessário no momento. E, mesmo quando sair daqui você vai precisar de paciência antes de voltar a cuidar dos seus animais, e principalmente para voltar ao trabalho. Não posso prometer nada, mas verei com a equipe responsável se há ao menos uma previsão de alta, tudo bem? – disse, pacientemente, da mesma maneira que costumava lidar com alguns de seus pacientes. Elissa sentia falta do trabalho da mesma maneira que Malcolm o fazia, o que a levava a ter certa compreensão do quanto deveria parecer impossível para ele manter-se naquele hospital por muito mais tempo. – Scott estava preocupado com seu estado, e ele sabia que ficaria furiosa se ninguém me dissesse nada. Eu sei que preciso me precaver, que não deveria me expor até que tudo atinja alguma normalidade, mas não conseguiria me manter em Porto Rico ciente do que te aconteceu. – pontuou, no timbre calmo de costume, contudo, a lembrança da apreensão que sentira ao receber as mensagens de Scott fez com que colocasse um pouco mais de firmeza no entrelaçar de seus dedos aos dele. O conforto e o acolhimento daquele toque trazia à tona emoções com as quais evitara lidar pelos últimos meses. Elissa era sempre muito bem resolvida sobre sentimentos, contudo, com Malcolm a situação tomava um rumo distinto ao que era acostumada. Os toques singelos dele para sentir seu pulso, empurrar a mecha solta de seu cabelo, tocar as pintinhas em seu rosto ao alcance, pareciam servir não apenas para aquecer sua pele, mas para fazê-la perceber o quanto sentira falta daquela proximidade. O quanto sentira falta dele. Um sorriso singelo pontuou seus lábios logo antes de curvar-se apenas o suficiente para beijá-lo suavemente no pescoço, como costumava fazer em circunstâncias normais. Ali, tão perto, apesar do cheiro insipido de hospital, ela reconhecia o cheiro característico do Fraser. Ao voltar ao campo de visão dele, Elissa retomou o acariciar suave de sua face coberta por sardas. – Nos resta dar tempo ao tempo, e esperar que realmente fique tudo bem. – disse, meneando a cabeça para corroborar suas palavras. Não havia mesmo o que pudessem fazer além de esperar. Além do mais, tirando os indícios de raiva e irritação ele realmente lhe parecia bem. Restava buscar por maneiras de distrair a mente para que o foco não ficasse apenas no que acontecera. – Hum, acho que você vai precisa preencher seu tempo aqui pelos próximos dias. Distrair a mente, ler um livro. Inclusive, posso te emprestar um. Meu primo caçula, que é indiano, me deu um livro bastante interessante e sugestivo no meu último aniversário; o kama sutra. – o ar de divertimento voltou a tomar conta de suas feições, e era corroborado pelo óbvio tom de voz jocoso. Ravi realmente havia lhe presenteado com aquele livro, segundo ele tal leitura mudaria sua vida, mas ela sequer chegara a ler mais que algumas poucas páginas. – Quem sabe pode inspirá-lo para o que a vida reserva para depois da sua alta, cierto? Não sei se Darius ou seus contatinhos do Departamento de Aurores são flexíveis, pero, quem sabe você dê sorte! – a ex-corvina moveu as sobrancelhas sugestivamente antes de liberar uma risada baixa e suave. Ela voltou a curvar-se, dessa vez para beijá-lo suavemente no canto dos lábios. Ao afastar-se ostentando um sorriso afável, Elissa puxou a poltrona reservada para o acompanhante para um pouco mais perto da cama, o suficiente para que devidamente acomodada pudesse voltar a segurar a mão dele. – Muy bien, cariño, se você não estiver muito cansado e pronto para me jogar nos braços do meu futuro caliente amante latino, gostaria de saber um pouco mais sobre Brianna. Me parece essencial saber se você é digno ou não da estrelinha de pai que não faz mais que a obrigação.
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doctorlissa · 4 years
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thejammybastard‌:
Um. Dois. Três. Quatro. Uma contagem regressiva diferenciada para um Malcolm que vinha tendo outro tipo de pavio testado. Aquele que se indignava em estar refém de uma cama tão quanto ter alguma parte de si imóvel. Era negligente, de fato, sobre passar tempo de molho ou de cuidar de algum membro que saísse do lugar. Poderia não ser mágico, mas acreditava que todas as poções do mundo eram o suficiente para colocá-lo no lugar. Mantê-lo inteiro. Aguentava as dores imediatas ao efeito, dando a contrapartida de que não suportava ter que se fazer inteiro no mesmo ritmo que o pior de seus funcionários — na lerdeza. Pior ainda se tivesse que acompanhar o progresso ou contar com a entrada e saída de curandeiros que lhe enfiavam qualquer coisa goela abaixo, mas nada de sua alta. Não sabia de certo quanto tempo se passara, pois era melhor não saber considerando o seu humor oscilante e suas tentativas funestas de se arrancar da cama para fugir do Mungus. Definitivamente era melhor saber de absolutamente nada, porque sua mente, nas raras vezes que tinha a consciência livre de outras poções e outras drogas, se abria em memórias da surra que ganhara de prêmio dos Fraser e assim ruminava. Poderia não ter se abalado tanto, ao menos no ínterim entre dormidas e despertadas, pois sempre gargalhava. Era previsível. E ele, como idiota, caíra no previsível. No instante que Margaret Fraser assumira o clã, ele deveria ter se escondido nem que fosse por algumas semanas — o que não afetaria em nada sua rotina de trabalho já que do mesmo fora dispensado devido à ladainha de “ser líder do clã”. Gargalhava como um completo idiota, o que abismava até mesmo seu irmão, Scott, o único que não soltava os cachorros. A quem recorrera quando se safou de socos, pontapés, feitiços, uma desordem que queria exclusivamente fatiá-lo — e mantê-lo vivo para acompanhar os efeitos colaterais. Era dado a surras. Só não era dado a ficar de molho por conta delas e era o quanto se via tão às avessas por não se importar tanto com o fato de que fora emboscado — porque pensar que fora um imbecil completo funcionava como anestésico a quem não se sincronizara com a realidade. A contagem regressiva soava como a única coisa tátil de Malcolm, impelida sempre quando escutava o ranger da porta do quarto. Era quando pensava no como afugentaria a pobre alma que se atrevia a perturbá-lo. A diferença daquela vez, que nada tinha a ver com sentir menos dor e menos puto da vida, era que sua visão não enquadrou um rosto aleatório ou do irmão. Sua testa franziu para ter certeza de que não alucinava, mas o sangue esquentando de ínfima raiva foi o bastante para saber que sua visão estava ótima e que Elissa Thorne estava prostrada perto do seu leito. - Hum! - Malcolm resmungou ao hey de Elissa. Um bico se projetou temporariamente, seguido de um morder de lábio tenso que denunciava que pensava. E era odioso porque seus neurônios pareciam dentro de uma cápsula cheia de água. - Boireannach beag! - ele emendou, sendo capaz de recordar prontamente como chamava a mulher à sua frente, que lhe roubou uma risadinha rara, sem indícios de raiva, devido ao seu comportamento hospitalar nem um pouco inédito entre ambos. - Bom, se vamos começar a jogar as coisas na cara um do outro desse jeito, eu tenho ótimos argumentos. Como você ter se tornado fugitiva quando me disse que não era uma fujona. - o tom era de brincadeira e fazia referência ao fato de que sabia onde Elissa se alojara durante os últimos meses. Não trocaram uma comunicação sequer e tivera que confiar cegamente na sorte de ambos. Parecia que ao menos um ponto fora atendido, pois conseguiu suspirar minimamente de alívio em vê-la inteira. Com o mesmo semblante e tom de voz. Mesmo que os medicamentos funcionassem como um tipo de conforto, definitivamente rever Thorne funcionava melhor que a quantidade de drogas que o fazia morrer de sede. Até aquele momento, não sabia que precisava de uma paz específica já que, entre seus devaneios sobre a surra, terminava sempre indagando se ela estava bem e segura. - Mas, antes que tente quebrar meu outro braço, você merece meus parabéns por cumprir o papel de se certificar que seu pior paciente passa bem. - Malcolm ergueu o braço quebrado e foi a pior coisa que fez. Afinal, parecia que mover aquela porcaria atiçava a famosa coceira. - Só que você chegou meio tarde para reavivar a nossa chama, pois eu estou casado e tenho um bebê agora. - ele disse de um modo preguiçoso que se espalhou em seus lábios. Por mais que quisesse se esticar para atingir qualquer parte do corpo da ex-corvina, estava aí outra coisa que se tornara um inferno na terra. - Bom te ver, boireannach beag! Pelo visto fez o seu melhor em aproveitar o Sol, bons drinques, e espero que tenha enchido a cara por mim algumas vezes. Um de nós tinha que se divertir. - e nunca no mundo Malcolm sentia falta de uma dose de uísque como naqueles últimos dias. - Agora, voltando a ser chato e desagradável, ainda mais considerando o assunto que a fez se refugiar imediatamente, o que em nome de Santa Margaret você faz aqui? - e o tom de desaprovação era pungente, embora ele soubesse a que tantas andava os Fraser graças às visitas constantes de Margaret. - Eu espero que você esteja escoltada até os dentes, pois não quero terminar na ala psiquiátrica de vez por causa de um surto.
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Por um instante Elissa apenas manteve-se em silêncio enquanto apurava as reações de Malcolm. Não fora difícil perceber os sinais de que a internação o deixara mais rabugento do que poderia considerar como normal, o que não era-lhe uma novidade afinal tivera que encarar o mau humor do mais velho naquele sentido na única vez em que o obrigara a passar a noite em observação. À época, logo após o resgate de Margaret Fraser, ele encontrava-se física e psicologicamente exaurido, precisando de cuidados que se recusava a receber. Interná-lo para observação de uma única noite fora o máximo que conseguira depois de muita persuasão - o que a levava a concluir que a internação atual só fora possível pela gravidade de alguns dos ferimentos e pelos remédios que muito provavelmente o deixavam entorpecido demais para uma tentativa de fuga. Percepção que a deixava aliviada de não ter estado no hospital no momento em que ele dera entrada. Por mais que tivesse preparo para agir em situações como a dele, separar o pessoal do profissional não era das tarefas mais simplórias, especialmente para um alguém como ela que vinha vivendo no limite psicológico pelos últimos meses. Elissa liberou um suspiro resignado e em seguida esticou uma das mãos apenas o suficiente para tocar no braço engessado do Fraser, o impedindo de continuar a movimentá-lo. – Malcolm, você precisa manter esse braço em repouso. O gesso é justamente para que não o movimente sem necessidade. Não sei se serve de incentivo para que aquiete esse bendito braço, pero, bien, a melhora dele está intrinsecamente ligada à sua futura alta hospitalar, então, fique quieto hombre! - disse, sustentando a ruguinha de preocupação entre suas sobrancelhas. Seu tom de voz calmo soava também como quem confidenciava um detalhe importante quando na verdade, apesar do repouso do braço o liberar mais cedo do uso do gesso, a recuperação do membro em si era provavelmente o menor entre os problemas do Fraser. Após ajeitá-lo na posição anterior, esperando que ele seguisse sua recomendação, Elissa voltou a encará-lo. Embora pudesse dizer que estava acostumada a vê-lo com o rosto lesionado, aquela ainda era uma imagem que a incomodava. Ao ouvi-lo, arqueou as sobrancelhas em um trejeito ligeiramente divertido. – Bien, vamos dizer que estou positivamente surpresa que meu pior paciente esteja sobrevivendo sem minha supervisão. Além, é claro, de satisfeita por encontrar todos os seus pedaços no devido lugar. - pontuou, com um semblante de falsa seriedade enquanto meneava a cabeça para corroborar o que dizia. Ela pressionou os lábios para conter um breve sorriso. - Já quanto a seus ditos ótimos argumentos, Malcolm Philip, possuo uma defesa muito simples, além de óbvia. Bien, apesar de não gostar de me comportar como uma dita fujona, como todo ser humano com os parafusos no lugar tenho algo intitulado como instinto de sobrevivência, conhece? Muy bien, foi seguindo tal instinto, e com um breve incentivo de Olivia Popovich, que entendi que precisava bancar a fujona para manter-me intacta. Até o momento sou um caso de sucesso! - disse, no tom de voz calmo de costume, contudo dessa vez sem se esforçar para conter o sorriso que deixava claro que o estava pentelhando, por assim dizer. - Se não fosse por isso, possivelmente estaria numa posição similar à sua, pero, sem contar com sua mais que admirável e invejável resistência física. - e, contando todas as vezes em que Malcolm dera entrada naquele hospital com algum ferimento causado por briga era mesmo de se admirar que a situação não fosse mais grave. Norte de pensamento que causava-lhe uma apreensão que transparecia em suas feições pela ruguinha que voltou a formar-se entre suas sobrancelhas. Levada por aquela emoção, e sem se questionar a respeito se deveria ou não, gentilmente ela envolveu a mão dele por entre as suas. Aquele toque apesar de tenro, suave, parecia dar àquele reencontro uma pincelada a mais de realidade. Sentir a frieza da pele dele contra a quentura da sua demonstrava-se uma maneira eficaz de apaziguar todo o estresse acumulado em si. Embora boa parte do receio que sentira naquele ínterim de tempo envolvesse a segurança de Owen, era muito óbvio o quanto também se preocupava com o homem diante de si. Não houvera um único dia naquele período de afastamento em que não ponderara sobre como ele se encontrava, e que não temesse que a situação fugisse de seu controle. A falta de notícias fora seu tormento particular. De certa maneira, era como se aquele escocês voluntarioso houvesse se tornado um de seus pontos frágeis, algo que um ano antes jamais acreditaria ser possível. Era também surreal que tivessem aquela relação de proximidade a pouco menos de um ano e que tantos desarranjos já houvessem ocorrido até ali. Elissa sentia como se tivesse envelhecido cinco anos nos últimos meses, e nem as semanas em Porto Rico pareciam ter servido para fazê-la relaxar. – Hum?! – foi o que disse assim que a voz dele a retirou de seus pensamentos. Uma óbvia confusão marcara seu semblante enquanto assimilava as palavras do mais velho. Ela pendeu a cabeça para o lado, como se assim pudesse enxerga-lo melhor. – Excusame? Madre de Dios! Presunçoso da sua parte achar que quero reavivar alguma coisa não é mesmo, Malcolm Philip?! – disse, logo antes de dar um tapinha suave na mão dele que continuava entre as suas. Respirou fundo. – Bien, hombre, você entende que está numa posição de vulnerabilidade em que posso muito bem espetá-lo nas costelas e alegar que estou apenas o examinando e não o torturando, certo? – questionou ao arquear as sobrancelhas enquanto o observava. – Male male, ao menos não dá para chamá-lo de covarde. – disse, estreitando os olhos enquanto o observava. O sorriso preguiçoso que ele ostentava nos lábios a fez revirar os olhos em exasperação. – Sorte sua que meu coração latino é resistente o suficiente para não se partir diante de sua frieza escocesa. Así, creo que devo felicitá-lo pelo casamento e pelo bebê, especialmente se for um bebê humano e não mais um dos seus adoráveis bebês cabras. Por outro lado, também sinto muito pois claramente entre nós dois, numa possibilidade perdida de reavivar a chama, quem sai em desvantagem não sou eu. Además, pelo seu pouco caso com meus sentimentos farei questão de recomendar aos meus colegas que o mantenham aqui por um intervalo de tempo mais longo. Sem previsão de alta. – pontuou, calmamente, e, embora mantivesse certo divertimento em seu timbre, e tivesse movido as sobrancelhas em um trejeito sapeca, Thorne logo percebeu que se aquela fosse de fato uma situação real era muito provável que seu alegado coração latino se partiria. Assim, uma breve careta pontuou suas feições um instante antes de gentilmente soltar a mão do Fraser para que pudesse ajeitar as mechas soltas de seu cabelo. Suspirou. – Bien, gostaria de detalhes para entender se preciso procurar consolo nos braços de um caliente amante latino, ou para identificar se o excesso de medicamentos o está fazendo delirar. – disse, meneando a cabeça afirmativamente como para corroborar o que dizia. Um sorriso singelo pontuou o canto dos seus lábios ao ouvi-lo dizer que era bom revê-la. Havia, é claro, alguma verdade no que ele imaginava que foram os seus dias em Porto Rico, entretanto, por mais que amasse sua terra natal, Elissa estava mais que acostumada a vida que levava no UK e sentia falta de sua antiga rotina. Viver em Porto Rico a deixava com a eterna sensação de que faltava algo. – Hum, meu refúgio no momento me parece muito mais com um exílio do que com um lugar para passar férias, pero, não há como negar que estar lá foi menos estressante do que seria continuar aqui. As praias são lindas, relaxantes, contudo, meu consumo excessivo de piña coladas nesse período pode virar um problema no futuro. Pero, a melhor parte foi ter um pouco mais tempo para cuidar de Owen. – ao falar do filho um sorriso bonito e mais largo pontuou suas feições. Nas últimas semanas tivera muito mais tempo para conviver com ele, e vê-lo aprender algo novo a cada dia era reconfortante. – Aliás, falando em Owen, tenho algo dele para você. Na verdade, nem sei se ainda devo entregar agora que está aí todo convencido que tem seu próprio bebê. – disse com um ligeiro revirar de olhos enquanto buscava pelo pedaço de papel que guardara em sua bolsa. Aquele era um dos muitos desenhos que a criança vinha fazendo pelos últimos meses, e condiziam com a faixa etária dele. Contudo, não negaria que havia se surpreendido ao ver entre desenhos seus, e de sua família, dois indivíduos ruivos que Owen indicava que eram os tios deixados no UK. Ao achar o papel ela prontamente o colocou sobre o tórax do mais velho. – Aparentemente ele sente falta do tio Malco e do tio Cott. O que me lembra que preciso agradecê-lo por ter ficado de olho nele todas as vezes em que ele precisou ir para a Escócia. Gracias, hombre! – agradeceu com uma sinceridade que era perceptível no brilho de suas orbes castanhas. Os períodos em que Owen ficava com a avó eram sempre angustiantes demais para si e saber que ele tinha o tio por perto deixava-a mais aliviada. – Bien, quanto aos seus questionamentos, em primeiro lugar; Lorenzo não me deixaria colocar o pé para fora de meu refúgio sem supervisão. Eu entendo a necessidade e tenho aceitado o excesso de cuidados nesse sentido, mas foi simplesmente detestável vir até aqui acompanhada de uma sombra. Espero que essa informação seja o suficiente para tranquilizá-lo. – e, conhecendo Lorenzo, não era difícil supor que sua proteção ia além da companhia de sua nova sombra, algo no qual não gostaria de pensar naquele instante. – Em segundo lugar; é bem óbvio que vim até aqui para evitar que você leve os meus colegas de trabalho a se internarem na ala psiquiátrica devido ao estresse que tem sofrido por lidar com seu gênio. Custa muito ser mais colaborativo? – e, embora em seu timbre fosse perceptível certo divertimento, ela esperava que ele fosse capaz de perceber que precisava pegar mais leve com curandeiros e enfermeiros, afinal, estavam todos dando o melhor para que ele se recuperasse, especialmente por ser familiar de um dos funcionários. Ao fitá-lo uma outra vez, Thorne permitiu-se por um instante apenas encarar as orbes azuis de que tanto gostava, e das quais tanto sentira falta. – Malcolm, eu vim por você. – disse, liberando um ligeiro suspiro. Elissa levou a mão ao rosto dele, acariciando gentilmente a região livre de equimose. – Eu não poderia continuar lá sabendo que você foi emboscado. Precisava vê-lo para ter a certeza que Scott não estava me escondendo nada ao dizer que o pior já havia passado. – ao calar-se precisou engolir em seco. A apreensão que aquela situação gerava parecia pesar um pouco mais sobre si naquele instante, obrigando-a a piscar por vezes repetidas para afastar a ardência em seus olhos. A ex-corvina voltou a respirar fundo, dessa vez no intuito de recompor-se. – Bien, espero que essa informação não infle demais o balão do seu ego, assim como espero que não gere qualquer crise em seu casamento. – concluiu, impondo um ligeiro humor as palavras que esperava que suavizassem o que fora dito anteriormente. – Enfim... er, você me fez perguntas demais e me deu informações não solicitadas, mas não respondeu meu único questionamento. Sei que os remédios dopam suas dores físicas, e também sei que há um enorme desgosto em precisar ficar aqui mais um tempo, pero, para além disso, como se sente, hombre?
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doctorlissa · 4 years
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@thejammybastard​
Era um tanto estranho para Elissa encontrar-se uma outra vez no Mungus, especialmente porque estava ali para uma visita e não para reassumir seu posto de medibruxa da Instituição. A ex-corvina ainda possuía mais duas semanas de licença antes que de fato precisasse retornar ao seu cargo ou, no pior dos cenários, desvincular-se do trabalho que tanto apreciava e do qual tanto sentira falta durante sua estadia em Porto Rico. Se dependesse de seus parentes, tanto paternos quanto maternos, era certo que não estaria no hospital naquele instante, não quando era inexistente qualquer certeza de aquele já era novamente um ambiente seguro para si. Além disso, levando em conta o desdobramento que fizera sua presença ali necessária era de se presumir que o perigo continuava a ser real demais para que se arriscasse deliberadamente. Ponto que a levara a uma longa argumentação a respeito, calorosa como de costume, com Lorenzo, seu primo, e do qual só saíra “vencedora” ao ceder a demanda de fazer aquela visita de maneira supervisionada – o que a deixava claramente descontente. Descontentamento que só não era maior por ter conseguido convencer sua nova sombra a não adentrar consigo ao leito que visitaria, deixando-o em companhia de um desconfiado Scott, assim que ele a deixara minimamente a par dos pormenores que o haviam levado a procurá-la. Embora as palavras de Scott e o prontuário de internação a informassem que a situação era estável, e a melhor possível quando se comparava ao quadro com que se deparara quando William Fraser passara por situação parecida, Thorne ainda encontrava-se claramente preocupada no instante em que batera suavemente a porta do leito de Malcolm. Mesmo ciente de que ele precisara ser sedado algumas vezes, já que aparentemente era o paciente mais voluntarioso em internação no momento, para o caso da sedação ter se dissipado ela preferia dar a ele um instante para ficar ciente de que teria companhia. Elissa liberou uma respiração profunda logo antes de empurrar a porta e assumir uma postura um tanto mais profissional. Apesar de não ter pensado duas vezes antes de decidir que voltaria para vê-lo, a ex-corvina sentia-se ligeiramente insegura àquele respeito. Meses consideráveis haviam transcorrido desde a última vez em que ela e Malcolm haviam dividido o mesmo ambiente, gerando assim certo receio de que sua visita não fosse bem-vinda. Receio que ficou em segundo plano assim que adentrara ao leito. Embora estivesse ali muito mais por razões particulares, Thorne facilmente assumia a postura profissional, assim, ao aproximar-se da cama escrutinava o que era visível dos machucados. Algumas abrasões cutâneas e equimoses espalhavam-se por ambos os braços, um deles protegido por uma grossa camada de gesso, tratamento resguardado apenas para os pacientes mais resistentes, o que a fez revirar os olhos muito brevemente. Elissa sabia muito bem o quanto Malcolm era resistente a qualquer tratamento que fosse além da ingestão de uma poção milagrosa. Postura que num passado recente a deixara exasperada por vezes demais. Logo seu olhar recaiu sobre a face do Fraser, ali também eram perceptíveis abrasões e equimoses, o que a fez se questionar quantas vezes mais o veria naquele estado. Novamente uma respiração profunda lhe escapou. Ainda que não pudesse verificar o mais grave dos ferimentos; as benditas costelas, que havia dito a ele ao menos meia dúzia de vezes que precisava tratar direito para evitar lesões mais sérias no futuro, ele lhe parecia bem. Fisicamente inteiro. Quanto ao mental, não era difícil presumir que qualquer atendimento fora descartado por parte do mais velho. Como uma especialista na área, restava a ela observar e ajudar, caso necessário. Ao aproximar-se um pouco mais, apoiando as mãos na grade de proteção da cama, pela primeira vez em dias ela sentira certo apaziguamento em suas emoções. Alivio que tornou suas feições e postura menos tensas. Ao percebê-lo mover-se, dando indicativos de que estava desperto, Thorne voltou a direcionar seu olhar para o rosto do mais velho. – Hey. – murmurou depois de um instante em silêncio em que apurara certa confusão nos olhos claros do Fraser. – Ouvi dizer que você tem sido muito pouco colaborativo com meus colegas de profissão.  – pontuou, arqueando brevemente uma de suas sobrancelhas. Um sorriso mínimo, mas afável, pontuou o canto de seus lábios. – Entonces, bien, vim conferir se há alguma veracidade nessa história ou se é apenas mais um caso em que ingleses se utilizam do direito de reclamar do gênio peculiar dos escoceses. – embora mantivesse um tom leve em seu timbre, a ruguinha entre suas sobrancelhas deixava transparecer certa apreensão. – Sendo assim, se possível, gostaria de ouvir sua versão dos fatos. Como se sente Malcolm Philip?
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doctorlissa · 4 years
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fragmentedos‌:
Se havia algo que provavelmente nunca mudaria na personalidade de Olivia era sua habilidade de observar. Poderia confirmar com tamanha precisão que muitas das crianças do canto da sala aprendiam uma lição e outra sobre sagacidade e adivinhação dos comportamentos humanos — se assim se mantivessem concentradas e interessadas o suficiente. Seu tempo em Hogwarts lhe servira de lição de casa a céu aberto, pois, desmemoriada, e sem ter ideia de como parara no que chamava, sem hesitar, de um inferno particular totalmente passível de ser ignorado, conquistara sua primeira missão que era não confiar em ninguém. Com isso, tivera que aprender a se defender. Às vezes, se perguntava o que teria acontecido se tivesse caído em uma Sonserina da vida visto que não conhecia ninguém daquela Casa que fosse menos paranoico — até com a própria sombra. Algo que Popovich se identificava como ninguém, embora nunca trocasse a Casa da qual não-se-formara justamente pela liberdade de ter se mantido no canto da sala por tempo suficiente em não ser incomodada. Salvo Aiden Cross a quem criara o único laço longo e duradouro. Ambos eram praticamente o Lado A e o Lado B um do outro e não foi difícil ter sua atenção capturada por quem parecia tão rabugento e muito contente em ser ignorado quanto ela. A diferença residia nas nuances, como se encontrar em um “date” com Elissa Thorne. Ao contrário das adolescentes que temiam amizades femininas, Olivia nunca fizera questão de fazer amizade com qualquer ser humano. E não era só uma questão de desconfiança constante. Trabalhava melhor sozinha. Lidava melhor com seu espaço sozinha. Traços que não se alteraram, nem mesmo quando em tempos atuais o “sozinha” se tornara uma palavra dividida ao meio por motivos de Charlie Tyler. Ainda assim, a ex-corvina tinha suas questões, maneirismos e necessidades — que se embasavam unicamente em ter seu espaço. Não era dada a muitas atenções, mas o convite de Thorne lhe pareceu intrigante o suficiente para dizer não. Sem contar que não tinha propriamente nada contra a mulher exausta à sua frente. Nunca conversaram. Nunca se olharam. E sua vida seguiu normalmente sem ter necessidade sobre aquele tipo de interação. Em contrapartida, aprendera uma lição e outra sobre ser cordial. - Isso significa que você precisa se colocar mais para o jogo, como diria os malas dos jovens. - respondeu Olivia, atraída pelo suspiro de cansaço da ex-corvina. Aprumou-se na cadeira, cruzando o braço sobre a mesa. Seu olhar era sempre de um scanner, por mais que soubesse perfeitamente como ser discreta em suas análises. - Não é tão segredo assim, mas faz bem de vez em quando fingir que não existe problemas. Você acha que a maioria das pessoas sobrevive como? - continuou, seguida de um gole moderado da sua cerveja. Escolhera o tipo mais amargo, como se fosse para conciliar com seu humor naquele exato dia. Um humor tão suspeito quanto sua habilidade de tentar manter uma conversa com quem nem conhecia direito. - E, tendo em vista que você me parece ter sido atropelada por um trator, um pouco de entretenimento gratuito deveria ser parte da sua to do list. Eu juro que o máximo que pode acontecer é alguém ousado demais querendo tomar um murro na cara, só pelo choque de valor, ou alguém dando em cima de você, para também tomar um murro na cara, ou brigas, vômitos. Acredite em mim: dá para se divertir as custas dos outros. - e Olivia não escondia que se divertia demais quando o assunto era desgraça alheia. Seu humor era extremamente duvidoso em boa parte do tempo, pondo em cheque uma personalidade que estava longe de ser calma como a versão exposta naquela noite. Que não se incomodora tanto assim ao ser chamada de Liv. Suas sobrancelhas se arquearam prontamente, pois era como se Elissa nem tivesse notado que ultrapassara um tipo de linha de intimidade que contraía seus ombros - que automaticamente se curvaram para cima, como se emparelhasse suas defensivas. Não se ofendia se alguém a procurasse para pedir alguma coisa e parecia que aquele era o caso. O que a aliviou. Seu olhar a perscrutou mais uma vez, analisando aquele mesmo cansaço que se estampava nas olheiras e na rigidez de quem parecia em paranoia. E Elissa tinha motivos de sobra para estar paranoica, ao menos pelas parcas informações que ainda a alcançavam sobre os desdobramentos na Escócia. Não era todo dia que conseguia encontrar Malcolm, e vice-versa, mas tinha consciência de um dado e outro. Não se considerava o perfeito exemplo de maternidade, mas, considerando que tinha um filho que reunia em seu DNA três sangues de clã, informação nunca era demais. A diferença é que não se sentia amedrontada. Já tinha sido sequestrada uma vez. Sabia o que era tortura de todos os tipos. O seu trabalho tornara sua pele mais grossa para tolerar aquele tipo de coisa, mas, claramente, Elissa ainda era sensível e estava exposta. Ou não teria feito aquele tipo de pergunta. - Hum… Não esquenta! Não é todo dia que sou entrevistada sobre minha vida. Sinto-me deveras interessada no momento. - Olivia sorriu por detrás do copo de cerveja e tomou um novo gole antes de respondê-la. - Primeiro: eu não sei o que deu na minha cabeça na época em que larguei toda minha formação em Hogwarts, mas eu tinha consciência completa de que lá não era meu lugar. A única coisa que eu levei comigo foi meu apreço por armas letais e eu prefiro um revólver a uma varinha. - e ela poderia falar de um revólver por horas a fio, porque era realmente o amor da sua vida. - Como eu era nova, há aquele instinto de sobrevivência e de querer provar pontos. Porém, eu não tinha a quem provar pontos, mas tinha um instinto de sobrevivência. Foi difícil por muitos anos, porque Hogwarts não te prepara para o lado externo. Você fica lá, naquela bolha, e ninguém sabe se virar fora daquilo. A não ser que seja mestiço ou propriamente um nascido-trouxa. O que eu posso contestar depois de ter passado meses dando aula no DI. - era difícil para ela se lembrar daquela parte de “professora do DI”, pois tinha sido a pior ideia de Minerva. Mas não havia como contestá-la quando precisava de asilo para não ser assassinada por quem assassinara no fim das contas. - Não acredito que seria uma dificuldade para você viver no mundo trouxa visto seus antecedentes. Mas depende do que você quer. Se for para se esconder, eu recomendo. Como disse a você uma vez, eu conheço lugares que uma pessoa pode ficar sem risco. E, com toda licença, considerando que imagino que família incrível possa ter engatilhado esse desejo, não será muito complicado. Afinal, os Fraser não são tão interligados ao mundo trouxa, a não ser que você tenha Margaret Fraser como inimiga. - e pensar em Margaret lhe roubou um sorrisinho tacanho, pois era bizarro demais reconhecê-la como uma espécie de meia-irmã. Ainda mais quando as duas mal conseguiram parar de se bicar durante seus respectivos períodos no DI. A garota era simplesmente insuportável. - No momento, eu acredito que vale a pena sim. E não há dificuldade em se apaixonar pelo mundo trouxa. Ele tem tudo o que você praticamente precisa. Como se esquecer de quem você é. O único porém é a ausência de Fidelius atualmente, mas, com as medidas corretas, não há muito erro em simplesmente viver uma vida desse jeito. Honestamente, você está pedindo conselho para uma pessoa nada parcial nesse quesito. Nem no inferno eu voltaria para o mundo bruxo e rejuvenesço sempre um ano quando lembro que saí de lá. - silenciou, por exigências pessoais de não começar a descascar o mundo bruxo que seguia mantendo distanciamento. E, de fato, sequer recordava salvo por Charlie que ainda transitava por lá para sua eterna dor de cabeça. - Posso saber o motivo do interesse além de querer esconder Owen?
Uma risada sutil escapou a uma Elissa que logo se viu ponderando sobre quando fora a última vez em que, usando a expressão escolhida por Popovich, “colocara-se para jogo”. Embora pudesse considerar as poucas vezes que se aventurara a sair em companhia de Patrick, tendo como ápice a festa repleta de adolescentes em que conhecera Malcolm, a verdade era que Thorne não se abria completamente para a ideia de diversão desde que Theodore entrara em sua vida. Inclusive, detalhes da noite em que se conheceram eram bastante similares ao cenário em que se encontrava naquele instante, a diferença ficava por conta da localização uma vez que à época costumava circular pela noite bruxa. A partir do instante em que seus caminhos se cruzaram o relacionamento de ambos evoluíra com muita rapidez, não dando a ela a possibilidade de refletir com calma e lucidez sobre os rumos que tomavam. Com o avançar da convivência começaram os comportamentos abusivos dos quais só se dera conta quando tirá-lo de sua vida já não era possível. Durante aquele período perdera as amizades mais próximas, e com elas se fora o desejo de frequentar ambientes públicos, principalmente pelas altas chances de Theodore iniciar uma discussão que atrairia a atenção de todos ao redor. À época Thorne também não costumava sair sozinha justamente por temer mais rebuliços e mais constrangimentos por parte do Fraser. Métodos comuns de dominação e intimidação masculina, que não aceitara passivamente, mas que em determinado momento foram eficazes em sufocar o melhor em si. Nem mesmo a morte do Fraser lhe devolvera o incentivo de ter uma vida social ativa, afinal, precisara adaptar-se as mudanças que a maternidade exigira ao mesmo tempo em que precisava lidar com uma ex-sogra que parecia disposta a tomar o lugar do filho no que dizia respeito a infernizá-la. Aquele período turbulento moldara seu comportamento atual e lhe parecia bastante claro que se não fosse pelo acompanhamento psicológico ao qual era submetida desde a infância certamente teria muito menos capacidade de superar todas aquelas intempéries. Por mais que se considerasse equilibrada, especialmente quando levava em conta tudo o que vivera, vez ou outra vivia momentos em que os problemas voltavam a sufocá-la. A ex-corvina liberou uma respiração profunda. Embora a ideia ali fosse aproveitar a noite, era completamente impossível desligar-se cem por cento das problemáticas que vivenciava. Assim, na busca por uma possível solução, mantivera-se atenta ao que Popovich dizia sobre sua experiência entre os trouxas, dando atenção especial à ideia de esconder-se em meio a eles. Fugir não era a maneira que costumava lidar com o que quer que fosse, por vezes precisava de um tempo para reorganizar a mente, mas deixar tudo para trás nunca fora muito o seu estilo. No entanto, a questão eternamente sem solução com os Fraser parecia já ter consumido o máximo de si. - Bien, até onde sei, não possuo qualquer problema com Margaret. Anos atrás ela até mesmo me auxiliou a conseguir provas de que a convivência com a família paterna não seria saudável para Owen. Inclusive, a isso sempre serei grata. Foi o que usei no processo contra minha ex-sogra, mas, ainda assim, o juiz acabou cedendo a ela dois finais de semana por mês. - os dois piores finais de semana de todos os meses para si, afinal, o receio de que não o devolvessem a perseguia. Naquele ponto já não tinha tanta certeza se ele seria usado para algum propósito de clã, mas sabia que aquela senhora infernal faria de um tudo para desestabiliza-la usando o garoto. Qualquer um que a conhecesse sabia que Owen era o seu dito ponto fraco. No entanto, era muito baixo que a própria avó o usasse para tal propósito. Já quanto a Margaret Fraser, realmente acreditava que estavam em bons termos, apesar de sua confiança nos membros daquela família ser limitado a poucos indivíduos. Norte de pensamento que a recordava uma outra vez de Malcolm. Tempo considerável havia transcorrido desde a última vez em que dividiram o mesmo espaço, e apesar do silêncio que em muito a deixava no escuro, acreditava que depositar confiança nele não havia sido um erro. Confiança que certamente pareceria ilógica para quem via a situação de fora, assim como por vezes também parecia para si, mas que, naquele ponto, era o que a impedia de agir intempestivamente. Norte de pensamento no qual não queria aprofundar-se, afinal, suas questões com Malcolm iam muito além da posição dele como membro dos Fraser. Thorne voltou a levar seu drinque aos lábios, dessa vez sorvando um gole mais longo. A ligeira ardência e o calor em sua garganta eram bem-vindos. Apesar do muito que tinha em mente, não deixara de dar atenção a narrativa da mais velha, especialmente ao que condizia ao período de adaptação no mundo trouxa. Elissa colocou o drinque sobre a mesa antes de retornar a se dirigir a Popovich. - Bien, agradeço por sua disponibilidade. Pero, durante esses anos afastada, precisou abdicar completamente do uso da varinha? Para quem basicamente viveu a vida inteira entre os bruxos o não uso da varinha gera certa sensação de impotência, ao menos me sentiria assim, creo. Por outro lado, caso seja a intenção, me parece o necessário para não deixar qualquer tipo de rastro. Você passou por esse processo de desacostumar e reacostumar quando voltou ao mundo bruxo, ou não houve necessidade de deixar de usá-la? - questionou, pois se tonar independente da varinha, da magia, seria uma das partes mais difíceis do processo caso optasse por medidas extremas. - E, madre de dios, devo dizer que sua empolgação ao referir-se ao seu revólver me deixou um tanto intrigada sobre que tipo de emoções o uso de um pode despertar. - disse, franzindo muito brevemente o cenho. Apesar de sua ligação com o mundo trouxa, Elissa não possuía uma opinião ampla sobre armas de fogo, embora, tivesse em mente que o melhor seria evitá-las. Mas, levando em conta o pouco que sabia sobre a profissão que Popovich exercia, não era tão difícil entender o porquê de uma visão tão positiva a esse respeito. No entanto, não negava que aquelas pequenas informações tratavam de deixá-la curiosa, em um nível profissional, a respeito da personalidade da figura diante de si. - Hum, vean bien, creo que não há grandes problemas em responder seu questionamento. - Elissa liberou mais uma respiração profunda enquanto afastava do rosto alguns fios soltos de seu cabelo. Embora não tivesse pedido, esperava contar com a discrição de Popovich.  – Cierto! Buen, em resumo, não sei com clareza o que está acontecendo na Escócia por agora, mas, do meu ponto de vista, me parece que independentemente de quem se tornar líder, o meu problema com aquela família não deixara de existir tão cedo. - pontuou e, ainda que houvesse certa firmeza em seu timbre, pela maneira que deslizava os dedos pelo tampo da mesa era perceptível o quanto aquela questão vinha mexendo com seus botões. Embora não fosse expressar em palavras, quando avaliava de que maneira as coisas possivelmente evoluíam em território escocês, preferia que Margaret alcançasse a liderança. Ao menos era o que parecia-lhe ideal quando pensava em maneiras de diminuir a influência de sua ex-sogra. Para além disso, sua preferência também existia por motivos particulares. Voltou a respirar fundo. - Escucha, para que Owen e eu ficássemos seguros, precisei abrir mão de certos aspectos da minha vida. Acontece que, apesar dessas concessões, não tenho certeza se o estamos ou estaremos em um futuro próximo. Faz semanas que não durmo direito. Desde que o fidelius caiu sequer levo Owen para a minha casa. Me sinto mais segura sabendo que ele está em um ambiente em que há mais de um bruxo, isso no caso improvável de um ataque. Eu estou claramente paranoica, não é a primeira vez, e detesto a sensação. Queria que tudo fosse exagero de minha parte, mas minha paranoia vem sendo alimentada pela presença constante, no Mungus, de um indivíduo que, no passado costumava ser próximo ao pai do meu filho. Certa vez questionei sobre quem ele era, o que fazia, e Theodore me respondeu que era um amigo, um faz tudo. Obviamente, sabendo o que sei agora, creio que minha ideia de faz tudo deve ser bem diferente dos Fraser. Enfim, esse sujeito passou a frequentar o ambiente algumas vezes por semana depois que minha ex-sogra deixou bem claro que estive atrapalhando os planos dela. Queria acreditar na possibilidade de coincidência bizarra. Mas já tive experiências o suficiente com essa família para saber que provavelmente não o é. - e, apesar de até então o homem em questão não ter-lhe feito nada, acreditava que a ideia que queriam passar era a de que estava sendo vigiada - provavelmente não apenas em seu local de trabalho. Para quem vinha guardando toda aquela nova situação para si mesma, era surpreendente que tivesse aberto tão facilmente para Olivia - o que certamente indicava o quanto precisava conversar com alguém. - Muy bien, estive considerando essa ideia de me ausentar por uns tempos, por mais que não goste de dar a entender que estou me acovardando diante de uma possível ameaça. - se não fosse por Owen, do jeito que era cabeça dura, era certo que estaria lidando com a situação de uma maneira completamente diferente. - A única coisa que gostaria era de poder criar meu filho longe dessa bagunça, de evitar que ele sofra com algum tipo de alienação parental por parte da avó. Por outro lado, levando em conta minha própria experiência, é impossível não me questionar se não é autoritário por minha parte querer privá-lo da convivência com a família paterna. Minha mente está cheia de contradições, como pode perceber. - encolheu os ombros, como quem se desculpava, antes de tomar um outro gole de seu drinque. - Como se essa questão já não fosse suficiente, ainda há a questão purista. Não há nada oficial a respeito, mas me parece que as coisas vem se agravando. No início desse movimento nós recebíamos pacientes com lesões leves e medianas, agora há uso contínuo de maldições imperdoáveis, proibidas. Fora os casos que sequer chegam ao Mungus, e que certamente o Ministério da Magia trata de abafar. - não era difícil deduzir que o número de desaparecido deveria ser muito maior que o divulgado. Aquelas eram pessoas que em maioria não possuíam parentes no mundo bruxo uma vez que vinham do trouxa, além de outras minorias e espécies mágicas. Um caos completo. - Pensei que conseguiria separar os âmbitos diferentes da minha vida. A mulher, a mãe, a profissional. Mas a mãe e a mulher acabaram se tornando uma só, e a profissional sabe e vê coisas que assustam as outras duas. O meu racional não quer que mude minha vida inteira para fugir de uma ameaça, no entanto, o meu emocional entende que a ameaça está acima do que posso resistir como indivíduo. De qualquer maneira, não posso proteger Owen se for pega no meio do fogo cruzado. Imagino que não seja complicado transformar qualquer coisa que me aconteça em uma casualidade do atual momento conturbado. - e aquela era uma ideia que vinha ponderando muito a respeito. O certo era que, apesar de usar Owen para tentar ter algum controle sobre si, sua ex-sogra certamente não o machucaria, no entanto, caso algo acontecesse a si, seria muito mais fácil para ela ter acesso ao neto. Parte de si temia aquela possibilidade, a outra entendia que era uma extensão do comportamento paranoico. Thorne sentia-se exausta, além de inegavelmente exposta. Suspirou, enquanto esfregava as pálpebras com o indicador e o polegar. Ao voltar a encarar a mais velha havia um óbvio constrangimento marcando suas feições. - Sinto muito, Olivia. Juro que não a chamei até aqui para enchê-la com teorias da conspiração. Realmente sinto muito. Em troca prometo que me responsabilizo integralmente pela conta. - e, apesar de ainda sentir-se um tanto constrangida, e do pedido de desculpas ser genuíno, assim com a disposição em assumir a conta, a ex-corvina liberou uma breve risada. - Agradeço por ter se disponibilizado a compartilhar sua experiência, levando em conta o quão pouco nos conhecemos, você não precisava fazê-lo. Ao menos tenho uma visão um pouco mais abrangente da ideia. - pontuou, sentindo-se estranhamente menos tensa, ao menos quando se comparava ao que vinha encarando pelas últimas semanas. - Bien, sendo mais leve, tive uma breve experiência no mundo trouxa assim que terminei Hogwarts. Foram seis meses no meu país de origem com a minha família paterna, em maioria trouxas, e mais seis meses viajando pela América Central e do Sul. Foi uma boa experiência, apesar de não tão imersiva quanto a sua, e um gasto considerável nas minhas finanças. - disse, com um breve sorriso saudosista de uma época em que seu maior problema era convencer sua mãe de criação que possuía responsabilidade suficiente para passar um ano fora sem torrar toda a herança de seus pais. - Enfim. Deixemos minha paranoia de lado. Como vai Jamie? – e perguntar pela criança era uma saída fácil, embora não estivesse muito claro para si a maneira como Olivia encarava a maternidade. – Además, falando em Jamie, acredita que Aiden sugeriu que, caso eu precise, leve Owen para que os dois brinquem na casa dele? Confesso que não esperava esse tipo de cortesia advinda de Aiden Cross, e que adoraria espiá-lo lidando com duas crianças de 3 anos de idade.
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doctorlissa · 4 years
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@fragmentedos​
Elissa observava o ambiente a sua volta com certo interesse enquanto bebericava sua gin tônica. A ex-corvina mal lembrava da última vez em que se aventurara a sair de casa para algo que não envolvesse trabalho ou sua família. Não que desgostasse de trabalhar e de passar tempo com os seus, contudo, sua rotina tornara-se maçante, muito por causa dos desdobramentos recentes do mundo bruxo, o que tornava momentos raros como aquele necessários. Serviam como um respiro em meio ao caos. Caos esse que, particularmente, ia além da ameaça purista comum a todos. Thorne possuía questões muito pontuais que envolviam o seu eterno desentendimento com os Fraser, especialmente com a figura de sua ex-sogra. Embora não recebesse mais informações do que desdobrava-se pelos lados da Escócia, a ex-corvina se mantinha preocupada e vigilante. Especialmente quando para sua ex-sogra não parecia o suficiente que tivesse se afastado de Malcolm - e vinha esforçando-se para não pensar mais do que deveria no ex-grifino. As ameaças a sua segurança continuavam a ser feitas, apesar da sutileza do método adotado, e vinham sempre acompanhadas de certa demora em devolver Owen ao seu convívio. Era um estresse constante que vinha deixando-a um tanto paranoica e que a fazia começar a ponderar sobre medidas um pouco mais extremas. Norte de pensamento que roubou-lhe um suspiro cansado. Não era em seus problemas que queria fixar-se naquele instante, eles anulavam toda a ideia de ter uma noite agradável. Assim, bebericou mais um gole sútil de sua bebida antes de colocar a taça sobre a mesa. A folga do dia seguinte era o que a impulsionava a ingerir álcool. – Madre de Dios! - exclamou em um espanhol cantarolado. - Faz tanto tempo que não saio à noite que confesso que a princípio me senti completamente inadequada para o ambiente. - disse, liberando uma risada suave em seguida. Ao contrário de si, sua acompanhante parecia muito confortável desde o momento em que adentraram ao pub escolhido por ela. Para sua própria surpresa, o encontro nos corredores do Mungus meses antes acabara a levando a construir uma relação amistosa, e nada esperada, com Olivia Popovich. Apesar de ambas terem idades similares eram claramente muito diferentes uma da outra, porém, existia um equilíbrio interessante entre as personalidades destoantes. - Pero, bien, não há como negar que é revigorante ver pessoas conscientes e se divertindo para variar um pouco. – disse, com uma breve careta pontuando suas feições a lembrança de seu último plantão, em que dois jovens bruxos deram entrada na emergência com sérias lacerações causadas por Sectumsempra. Ambos seguiam em estado grave, e até onde sabia, o Esquadrão de Aurores ainda não possuía pista dos culpados. Para quem trabalhava no Mungus ficava cada vez mais clara a intensificação das tensões no que enxergavam como uma nova guerra. O que indicava ainda mais caos por vir, e Elissa já não sabia se poderia continuar lidando com a situação por muito tempo. Linha de raciocínio que a recordou de algo que gostaria de questionar Popovich a respeito. - Liv... - chamou e aguardou a atenção dela voltar a recair sobre si. - ... não precisa responder se for muito pessoal, mas, você é a única pessoa que conheço a quem posso questionar a respeito. Entonces, pela sua experiência, diria que vale a pena deixar o mundo bruxo... - a ex-corvina baixara ligeiramente seu tom de voz já que estavam em um estabelecimento totalmente trouxa. - ... e viver apenas entre os trouxa? – concluiu, o que era um questionamento repleto de interesse genuíno. Não era como se estivesse realmente considerando abandonar a magia por completo, mas o mundo bruxo parecia cada vez menos hospitaleiro e, acima de qualquer coisa, precisava prezar pela segurança de Owen, especialmente se pudesse afastá-lo dos Fraser.
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doctorlissa · 5 years
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thejammybastard‌:
Malcolm despertou de seus devaneios assim que sentiu o toque de Elissa em alguma parte do seu pescoço. Não se moveu, pois recobrava a visão que tinha criado linhas pontilhadas, cujo foco principal era o último fio de uísque do copo. Ingeriu-o, antes de triscar suavemente o pulso da mais nova e curvar, de maneira muito automática, a cabeça em reflexo do beijo que injetou outro tipo de adrenalina em seu sistema nervoso. De um tipo que conhecia muito bem e que nada tinha a ver com o caos que sua mãe provocara minutos atrás. Era um tipo de adrenalina muito atrelado à ex-corvina, específico, enriquecido de expectativa tão quanto da fuga da racionalidade que, por vezes, perdia ao entrar na lambança das suas emoções que elevavam seu humor a um aspecto extremamente duvidoso. Ficou um tempo naquela posição, regulando sua respiração. Largou o copo vazio na mesinha de centro e ponderou se devia beber mais uma dose a fim de amortecer os resquícios ruins daquela noite. Respirou fundo, fungando em seguida, deixando a mão passar pelo seu rosto em um movimento exaustivo. Tinha se esquecido completamente da habilidade da Sra. Fraser em sugar suas energias. Tinha se esquecido, inclusive, do impacto que aquela maluca deixava no rastro. Um tipo de rastro que seria uma praxe a ser ignorada, como tudo que representava o mundo dela, mas havia outra linha que pulsava e que não seria facilmente afagada porque não o envolvia diretamente daquela vez. E aquele lado da moeda era onde residia o verdadeiro inferno de uma resolução que, intimamente, sabia que ocorreria. Porém, não esperava que fosse daquela maneira. Não com tanta baixa guarda. Bufou, esfregando o rosto mais uma vez antes de sentir o indicador de Thorne triscar seu queixo. Olhou-a atentamente, apurando aquele desolamento que parecia sufocar o ambiente. - Não subestime meu querido irmão. Ao menos, não esse. Infelizmente, ele tem um grande defeito que é agradar todo mundo. O efeito compensatório de quem acha que tem culpa no cartório. Créditos a melhor pessoa do mundo que você acabou de matar a saudade. - Malcolm respondeu com um Q de divertimento misturado com sarcasmo. O mood pentelho ainda se fazia presente de certo modo, mas determinados aspectos da sua família, como aquele que envolvia Scott, o deixavam fora de si. - A única forma de esquecer o que aconteceu hoje é enchendo a cara. O que eu faria tranquilamente, mas até nisso o Ministério da Magia tem me atrapalhado. A qualquer lugar, a qualquer momento, pode surgir um maldito Patrono requerendo a minha presença. Infelizmente, até quando eu estou de folga. - emendou o norte de pensamento que declarava algo que Elissa sabia muito bem visto que a deixara várias vezes para atender trabalho em campo. Permitiu que a sua mão se envolvesse a dela e apertou o toque. Era reconfortante, como sempre era, para um alguém que não era dado a perder o cerne ao ponto de precisar de uma corda de retorno. Justamente porque era quando tinha cerne demais das coisas que explodia com facilidade. Querendo ou não, Thorne parecia compensar aquela questão para um alguém que sempre se considerou independente em todas as áreas da vida, sendo o balanço que não sabia que precisava até a situação na Escócia cair sobre sua cabeça. - Hum. - ele resmungou, coçando o queixo com a mão livre. - Vou continuar entendendo que você quer ir embora. - uma sobrancelha do ex-grifino se alteou inquisitivamente. Não queria soar ofensivo, nem nada, mas seu modo de trabalho lhe trouxe a habilidade de capturar determinadas repetições. Repetições essas que poderiam entregar muito de uma pessoa em dado momento. Como uma criança contemplando o mesmo doce o tempo inteiro e o adulto ignorar como se nada daquilo estivesse acontecendo. Era o mínimo que, às vezes, conseguia fazer para transferir trabalho para o Esquadrão de Aurores. Por ter um senso de justiça muito forte, o Fraser não conseguia simplesmente atuar exclusivamente dentro do seu campo. Era sua condição básica, se fosse pensar bem, para compensar o que honestamente não gostava tanto de fazer. Não na quantidade que o trabalho vinha chegando, exigindo uma eficácia que poderia beirar a drásticos erros. - Depende da vantagem. Mas você está correta sobre sombrear quem acabou de se tornar centro das atenções. Ela vai me chantagear colocando você com a cabeça na guilhotina e está aí algo que não estou muito inclinado a permitir. Até onde sei, não tenho sangue Tudor para colocar qualquer mulher na guilhotina só porque meu reinado corre risco. - seu comentário era regido de parco entretenimento, especialmente porque replicara uma linha de pensamento que poderia ser muito bem narrada na voz de Margaret Fraser. Lentamente, se virou no sofá, deixando uma perna flexionada e cotovelo apoiado a encosto para repousar a cabeça na palma aberta. Seguiu ouvindo-a, aquiescendo vez e outra, formando suas próprias opiniões. Olhou para a porta, mais por ter tido a impressão de que ouvira alguém pisar no jardim da cabana, sem perder o fio da meada do que Elissa claramente precisava botar para fora. Não seria ele a interrompê-la. Até porque ele precisava saber como ela se sentia com tudo aquilo para oferecer algum tipo de conforto. Para saber como deveria se mover para conter os possíveis danos colaterais. Ou… Terminar fazendo o que ainda não queria e que sabia que, talvez, teria que fazer. Manter aquele relacionamento depois do flagrante da sua mãe soava surreal. Impossível. Principalmente quando se sentia egoísta, a primeira realização que tivera assim que entraram naquela cabana. Existia uma criança naquela sinuca de bico. Fato que o consternou o suficiente para deixá-lo ainda mais enrubescido ao ponto de, delicadamente, soltar a mão de Elissa. Levantou-se. Precisava de movimento. Precisava tirar aquela sensação de angústia que o abordou ali mesmo sem que soubesse qual seria tal angústia. Liberou a respiração profundamente e se voltou para a mais nova com uma impassibilidade que não ornava com sua postura enrijecida. - Longe de mim permitir que algo aconteça com Owen. - murmurou, cruzando os braços. Respirou fundo novamente, seus lábios formando uma linha tensa. Sabia muito bem onde iria depois dali. Ele não perderia a chance de causar um inferno na Escócia. - Bheil gu dearbh? - ele deixou escapar em gaélico e pediu desculpas porque não se usava daquela língua com quem não a compreendia. - Para sua sorte, meu tino de convencimento está fatalmente apagado no momento, especialmente porque é a terceira vez que você me diz sobre ir embora. Se não falhei nas contas, óbvio. - seu tom não era irritadiço na maldade, mas havia um teor de ofensa que ele mesmo não saberia explicar. Não quando seus neurônios tinham um único foco e esse foco era tentar minimizar a quantidade de danos que, quanto mais a ex-corvina falava, mais parecia se alastrar. E era incômodo para cacete. - Nada pro seu bico? - indagou um tanto exaurido com aquela colocação. - Boireannach beag, eu sei que sou bonito, elegante, cheiroso e muito carismático, mas eu sou apenas um fetiche ruivo para algumas e um ignorante aos olhos dos ingleses. Quase um Viking se eu fosse mais barbado ou algo desse tipo. Ou mais vermelho igual meu irmão. Acho que se eu tivesse um quilo de barba, você me chamaria de nojento ou de piolhento. - e, ao dizer isso, um riso esvaiu nasaladamente junto com um menear desacreditado de cabeça. Liberou a respiração como se fosse uma desistência e voltou a se sentar, mas na quina da mesa de centro. Queria ficar de frente para ela. Para ter uma melhor visão de seu rosto que se tornara uma das melhores coisas da sua rotina. - Você quem deu bola para mim. Eu só queria um beijo de quem é muita areia para o meu pobre caminhão. Mas não vamos começar com esses comparativos ou terminaremos lamentando pelas beldades que não somos. - sutilmente, se curvou e empurrou uma mecha de cabelo para longe do rosto de Elissa. Deslizou o polegar suavemente pelo maxilar dela e sorriu fracamente. Afastou-se quando ela tocou as próprias pálpebras, revelando o cansaço aparente que certamente compartilhavam. - Viu só? Você acabou de comprovar o fetiche por ruivos ao mencionar as sardas!!!! - a exclamação saiu com mais energia que o esperado, mas sem sinal de ofensa. Claramente aquele viés de conversa conseguiu relaxá-lo um pouco. Minimizar aquela irritação que sabia que não se afunilaria nem com toda aquela garrafa de uísque. - Então, como troco, eu posso dizer que gosto de espanhol. Porque é excitante e você deixa partes ilícitas de mim em brasa. Mas está aí algo muito fútil a se dizer e estou dizendo isso somente para agradá-la. Se eu começar a enumerar suas qualidades, bem, acho que te convenço a ficar aqui um tanto mais. - um novo sorriso pontuou seus lábios. Lascividade que fustigou em seus olhos. - E você prova mais uma vez que não sabe brigar, porque tem que ser a séria da relação. - revirou os olhos em um modo teatral. Tomou um instante para forçar seu pensamento e acessar o que vinha acontecendo na Escócia diante da pergunta inesperada de Thorne. Muitas coisas pareciam ocorrer ao mesmo tempo, mas, desde o retorno de Margaret, ele vinha marcando pouca presença. Ia a não ser que sua mãe o convocasse. Esfregou as mãos, expressando um ponderamento sobre o que deveria ou não contar à Elissa. Hesitação que não se justificava, pois, até onde sabia, sua traseira seguia na rédea e, depois daquela noite, era sua cabeça que estaria prestes a ser separada do corpo. Fitou Thorne no exato instante que a mesma o encarou. Não queria ser consumido pelas emoções que reprimia mais para não gerar preocupações extras. Ou algum comportamento que não era capaz de dominar. Sua mãe estalara um misto de muitas e de outras emoções que só com um pingo de paz conseguiria ordená-las. Muito embora conseguisse separar as que se relacionavam a jovem à sua frente e que tornava aquela hesitação um mal necessário. - Dizendo no modo politicamente chique, Margaret quer tomar o poder dos Fraser. Ideia que, a princípio, considerei impossível por todos os motivos óbvios. Contudo, desde que ela retornou ao clã, ela não tem perdido tempo. Seja lá o que ela ficou matutando no Mungus, certamente ela começou a botar em exímia prática. Pelo que sei, não tem sido tão difícil convencer clãs menores a não se associarem a dois outros clãs que não perderão a chance de matar todos os Fraser. - e Malcolm tinha certeza que algo daquele tipo aconteceria. Os Fraser eram inúteis e os Mackenzie nunca esconderam o desejo de extirpá-los do planeta. - Tem sido meses de campanha e não tenho a menor ideia de quando ela se pronunciará. Se não houvesse problemas com mulheres no poder, obviamente que minha barra estaria limpa a tempos. Nada mais reconfortante que ver Davina e Margaret brigando por tão pouco. - deu de ombros, porque realmente não se importava com liderança. Nunca quisera aquilo e nunca lhe fora ofertado de bom grado. - Não é garantia de nada. Infelizmente não é. E não me exime de assumir as condições da minha mãe que, sem dúvidas, se duplicarão após hoje. - e um suspiro de lamento lhe escapou, fazendo-o se levantar novamente. A raiva outrora tão rasgante e pungente não pulsava mais dentro de si, pois voltara ao ponto de inconformismo. Principalmente por perceber que os dois realmente atingiram uma bifurcação. - Mesmo que eu tenha sido um pentelho completo sobre você querer ficar ou não, eu compreendo sua necessidade de partida. Não somente pelo histórico que possui com a minha mãe, mas por toda uma questão de preservação e de segurança. Eu jamais combateria isso. Ou tentaria lhe provar o contrário do que não existe. Por agora, eu não vejo muita saída, Elissa, a não ser impedir que um novo choque aconteça e imagino que saiba o que quero dizer. - Malcolm voltou a ocupar o lugar de antes, mas mantendo o corpo virado para a Elissa. - Eu não posso prometer nada. Nunca ousei prometer porque estava muito ocupado tendo bons dias com você. Ótimos dias, melhor dizendo. Eu não sou uma pessoa projetada para o futuro. Eu penso no aqui e agora. E penso que muito de vivência de clã me deu esse discernimento. Cedo demais, mas não menos cabível. - sem saber se deveria, tomou a mão dela novamente e sentiu a fricção do contato. Era agridoce como toda aquela situação. - Seria injusto também deixá-la decidir, mas eu não tenho mais a dizer a não ser que o que mais quero agora é mantê-la protegida. E mantê-la protegida seria me afastar de você. - e as palavras o enfureceram ao ponto de fazê-lo fechar os olhos. Queria tanto esmurrar alguma coisa que deveria ter pressionado a mão de Thorne um tanto mais forte. Sua mãe era um ser fora de sério e ela não tinha a menor ideia de onde sua ira seria direcionada. Não era Theodore. Nem muito menos Davina. Tinha material e falta de empatia o suficiente para liberar o que ainda se mantinha engasgado. - Eu preciso que isso seja uma conformidade, porque, como disse, eu quero que fique. Eu quero que fique comigo. Mas há muitos denominadores no meio de nós dois que faz do que eu quero um artigo de luxo. E seria muito arrogante eu dizer que consigo te proteger, mas, hoje, ficou provado que não. Eu estou sendo vigiado. Elissa - eram raras as vezes que ele a chamava pelo nome e deveria ter feito isso uma dezena de vezes naquela conversa sem se tocar. -, eu sinto muito de verdade. Eu deveria ter cuidado melhor dessa situação. Inclusive, ter cuidado de você melhor, mas eu sou uma anta que nunca teve um relacionamento-não-relacionamento, e você me golpeou ao ponto de eu não conseguir acessar minha nobre racionalidade. Não sei o quanto isso é bom ou ruim, mas, por agora, é ruim, porque eu gostaria de ter uma solução para você. - o ar de desalento diminuiu a vermelhidão do seu rosto, mas não queria dizer que estava mais relaxado. Não dava para ficar relaxado depois daquele caos. Nem na hora de encarar firmemente a quem sabia que se tornaria efeito colateral dos Fraser. De novo. Mas tinha que continuar seu raciocínio. Tinha que ao menos se fazer claro em um quesito. - Eu gostaria de ter uma solução para nós. Mesmo que esse nós soe muito errado também por todos os motivos óbvios. Mas eu nunca me importei com essa parte, de soar errado, porque estava ocupado demais em me importar exclusivamente com você. Então, por mais que eu aparente ser o rei das soluções, infelizmente eu não tenho dessa vez. A não ser seguir como uma bifurcação solicita. E, antes que pense que eu quero isso, como deve ainda pensar muitas bobagens sobre mim, com todo direito do mundo, saiba que não. Eu ainda quero tê-la por perto, boireannach beag, mas não posso colocar sua família em risco.
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Era de se esperar que Elissa sentisse algum alívio assim que dera vazão ao que consumira seu juízo desde o momento em que a Sra. Fraser se fizera presente naquela cabana. Entretanto, diferente do que poderia se considerar como seu ‘normal’, expressar-se apenas tornara toda a problemática que os envolvia ainda mais palpável, o que, inevitavelmente, realçava a sensação de angústia que parecia destacar-se em meio à sua desordem interior. Causar-lhe angústia, aliás, parecia uma especialidade daquela senhora que só surgia em seu caminho para aplicar doses certeiras de caos. Fora assim por Theodore. Por Owen. E repetia-se por Malcolm. O comum a todos aqueles encontros caóticos era o mesmo fato, nada do que aquela senhora fazia era por se importar com os filhos e com o neto, mas por acreditar que sua presença atrapalhava planos que apenas serviriam para suprir os objetivos que ela havia traçado para benefício próprio. Questões que eram surreais demais para uma Elissa que jamais compreenderia o que fazia uma mãe agir daquela maneira. Só podia supor que exigia um nível de frieza e desprendimento materno que apenas uma análise psicológica minuciosa seria capaz de explicar – algo que certamente não poderia ser feito por Thorne quando claramente jamais conseguiria ser apenas profissional quando o assunto era aquela senhora. Por mais que Elissa evitasse o máximo possível nutrir sentimentos negativos por determinados indivíduos, a Sra. Fraser ocupava um lugar semelhante ao de Laila numa escala de pessoas que acreditava que extirpadas do planeta fariam dele um lugar melhor – pensamento pelo qual sempre acabava se repreendendo, e que jamais expressaria em voz alta. Enquanto ponderava àquele respeito, a ex-corvina mais uma vez limitara-se a observar os movimentos do mais velho. Focar-se nele era também uma forma de suprimir, mesmo que momentaneamente, as emoções que ainda não se sentia preparada para lidar. Além disso, como alguém que por vezes era excessivamente empática, ao ponderar pela perspectiva dele, percebera que muito provavelmente não saberia lidar com todo aquele peso que era colocado sobre os ombros do ex-grifino. As demandas que a Sra. Fraser tentava incutir a ele contra sua vontade, e que envolviam o bem-estar de tantas outras pessoas, eram um fardo pesado demais para se carregar sozinho, principalmente quando se precisava abrir mão de tantos aspectos particulares. Tal Percepção dera pungência não só àquela angústia que tentava suprimir, como também a tristeza pelo entendimento de que na realidade não existia uma bifurcação diante deles, mas sim um maldito beco sem saídas. Thorne respirou fundo, e em seguida projetou o corpo para a frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, e o queixo em seus punhos fechados. A intenção de pronunciar-se ficara contida pelo desejo de apenas absorver o toque suave do ex-grifino ao colocar uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, assim como o resvalar da ponta de seus dedos frios em sua pele quente. Elissa fechou os olhos por um breve instante, como se assim pudesse capturar a exata sensação que aqueles toques tenros reverberavam por sua pele. A bem da verdade era que queria guardá-la como uma lembrança que, infelizmente, estava consciente que jamais seria acessível a perfeição – o que, de certa maneira, corroborava para aquela angústia que, conforme ponderava a respeito, compreendia que se tratava da aflição do que, de quem, perderia. Thorne envolveu os dedos ao redor do pulso do Fraser, sentindo a pulsação que parecia tão fora de compasso quanto à sua. Mais uma vez manteve-se em silêncio, de olhos fechados, apenas reconfortando-se com aquela troca sutil. A ex-corvina poderia ter se mantido daquela maneira por muito mais tempo, contudo, ao ouvir os comentários a respeito de seu espanhol, e de seu suposto fetiche por ruivos, viu-se obrigada a encará-lo. Por um breve instante capturou aquele brilho lascivo em seus olhos, o que a levou a arquear uma das sobrancelhas sugestivamente enquanto dava de ombros. Um breve sorriso brincou no canto de seus lábios. Apesar dos pesares, era impossível ignorar por completo aquele viés mais leve e provocativo de ambos. Entretanto, por mais que sua vontade fosse se ater àquela bolha de provocação mútua, ainda havia muito a ser dito, o que a levou mais uma vez a focar sua atenção ao que ele tinha a dizer sobre a Escócia. Embora tivesse se informado o máximo possível a respeito do Regime de Clãs na ocasião em que precisara lutar judicialmente pela guarda de Owen, muito daquele sistema continuava a ser-lhe confuso. Se não fosse pelo auxílio da citada Margaret Fraser, e de sua avó Thorne, que era uma conceituada historiadora da magia, muito daqueles pormenores lhe continuariam sendo um conjunto de palavras incompreensíveis. Uma pequena ruga formou-se no cenho da ex-corvina, não que duvidasse da capacidade de Margaret Fraser em assumir o clã, mas, em relação a qual momento desde sua internação no Mungus sua mente estivera estável o suficiente para que pré-definisse um plano. Embora não tivesse cuidado mais de perto do caso da mais nova, como um alguém que se especializara no trato da mente, era impossível não preocupar-se com o que a motivava. No entanto, restava-lhe confiar na avaliação que a liberara do Mungus meses antes. – Bien, me parece que os Fraser vão enfrentar algum conflito interno antes de qualquer coisa ser definida. – disse, em um tom de voz baixo, depois do que parecera uma eternidade em silêncio. Ater-se àquele ponto era também uma maneira de organizar seus pensamentos. – Penso que seria interessante ter uma mulher à frente de um clã que, até então, tem sido extremamente patriarcal e machista. E se há alguém que pode vencer a resistência alheia imagino que seja Margaret. – e apesar de todo o inferno que vivenciara no ano anterior, e por mais que se preocupasse com o estado emocional dela, Elissa sabia que Margaret era extremamente resoluta e inteligente. Uma mulher que não mediria esforços para ocupar o lugar que bem entendesse. – O que, bien, imagino que não fará sua mãe desistir dos próprios objetivos agora que eles parecem mais alcançáveis. Eu sinto muito que nosso envolvimento venha a agravar sua situação, era, definitivamente, a última coisa que queria. Mais que isso, sinto muito por não existir absolutamente nada que possa fazer por você. – disse, calando-se assim que percebeu que o desalento que sentia ganhava proporção. Thorne pressionou os lábios em uma linha fina, e voltou a fechar os olhos para conter aquela ardência incômoda que poderia muito bem se transformar em lágrimas que não queria derramar. Lágrimas que não eram apenas o retrato daquele desalento que parecia se alastrar pouco a pouco por seu sistema, mas que também eram um reflexo do quanto sentia-se de mãos atadas. Sensação que era conhecida e que detestava. Em outras circunstâncias, era muito provável que seria muito mais resistente em não permitir que toda aquela maldita situação os engolisse, contudo, ali, muito além de em Malcolm e em si, precisava pensar em Owen. Aquela criança era sua prioridade. Sempre seria. Mantê-lo seguro ia muito além de qualquer outro desejo seu. E era em Owen, e na segurança dele, que buscava focar-se para não permitir que aquela desordem emocional a engolfasse por completo. Ao reabrir os olhos, em reflexo do fato de que Malcolm voltara a ocupar um lugar no sofá, o brilho das lágrimas contidas permanecia em suas orbes castanhas. - Bien, a não ser que conte sugerir uma passagem apenas de ida para Porto Rico. Mas não tenho certeza se corresponde mais ao desejo de tirá-lo dessa insanidade, ou em algum fetiche tropical meu com sua hermosa figura. - pontuou, no que deveria soar como uma brincadeira em uma tentativa de suavizar a seriedade do que tratavam, contudo, falhava tanto no tom de sua voz, quanto no olhar que o oferecia. Thorne liberou um suspiro cansado, e em seguida, pela quarta vez naquela noite manteve-se em silêncio enquanto o ouvia, sua única ação fora a de virar-se para que pudesse vê-lo com mais clareza. Escrutinar a aparência do mais velho naquele instante ia muito além do deslumbramento com as feições bonitas, mas, como uma checagem do que não era dito em palavras. Embora vez ou outra naquela conversa Malcolm tivesse tentado parecer impassível, a expressividade de suas feições entregava-lhe muito. A raiva parecia a emoção predominante, e para além do que considerava como um gênio difícil comum aos homens Fraser, e levando em conta como ela mesmo se sentia, Elissa compreendia que era alimentada pela sensação de impotência. A ex-corvina voltou a pressionar os lábios porque, ouvi-lo pronunciar o que sabia que era melhor para ambos, doía bem mais do que imaginava que seria possível. Naquele instante, ter sua mão envolvida pela dele embora transmitisse certo conforto, segurança, não aplacava seu desalento, assim como não parecia aplacar a raiva que enxergava no semblante do mais velho. Respirou fundo, como quem intentava conter-se. De uma maneira muito suave, Elissa resvalou os nós dos dedos de sua mão livre pela maçã do rosto do ex-grifino, e assim manteve-se até que o olhar dele recaísse sobre si. – Hum, eu nunca saberei dizer qual a cor dos seus olhos. Às vezes parecem manter um tom vivo de azul, efusivos, magnéticos. Outras vezes, como agora, parecem tão claros, quase translúcidos, que é impossível distinguir um tom exato. É meio impossível desviar o olhar, sabia? Aposto que sim. – murmurou, enquanto seguia encarando-o. – Talvez eu tenha um grande fetiche por homens ruivos e sardentos, ainda mais aqueles que detém todas as suas autodeclaradas qualidades, pero, se quer saber, foram esses benditos olhos que conquistaram a minha atenção em um primeiro momento... Philip. – confessou, sem fazer ideia exatamente do porquê, e utilizando-se do primeiro nome que o ex-grifino lhe dera. Um ligeiro sorriso melancólico brincou no canto dos seus lábios. Pensando naquele primeiro encontro, era surreal o caminho que haviam percorrido até ali. – Malcolm... – chamou, mesmo que a atenção dele já estivesse em si. - ... só a Deusa sabe o quanto gostaria de ser a teimosa de costume, e bater o pé tantas vezes sobre não precisar ser protegida que o faria revirar esses belos olhos em exasperação, assim como provavelmente tingiria toda sua face de vermelho pela irritação. Eu sei que posso cuidar de mim mesma, e apesar das circunstâncias diferentes, também não é uma primeira vez que preciso me cuidar com relação a um perigo que vem da sua família, da sua mãe. Além do mais, sob nenhuma circunstância consideraria a minha proteção como um dever seu. Vean bien, realmente gostaria de contrariá-lo de todas as maneiras possíveis, entrar em um longo argumento a respeito, pero, minha vida não é só minha. Owen precisa de mim, e preciso estar segura por ele, com ele, mesmo que no momento signifique abrir mão do que me faz bem. – embora fosse sua intenção manter a voz o mais firme possível, conforme pronunciava-se mais real tornava-se a sensação de que havia algo entalado em sua garganta. Engoliu em seco. – Sinto muito que em algum momento dessa conversa tenha dado a impressão errônea de que quero ir embora. Não quero. Mesmo consciente de que é o correto a se fazer, ainda não quero. – e, por um breve instante, considerou que talvez fosse muito mais fácil dar as costas ao mais velho se ele, de alguma maneira, tivesse correspondido a uma imagem negativa que projetara no passado. Suavemente Elissa desprendeu sua mão da dele, para que, com as mãos livres, pudesse conter as lágrimas sorrateiras que acumulavam-se no canto de seus olhos. Embora pudesse se considerar emotiva, nunca gostara de chorar diante de outras pessoas. – Diante de todas as circunstâncias, nunca esperei que me fizesse promessas, Malcolm. E muito menos gostaria que as fizesse agora. Como disse, eu possuía essa ideia de que tínhamos um dia de cada vez e que deveria estar pronta para quando esses dias acabassem. Contudo, dificilmente as coisas saem como planejado. Eu não esperava... – calou-se, assim que percebera que falaria mais do que deveria. - ... sentir o que sinto no momento. – completou, balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto voltava a pressionar suas pálpebras. – Malcolm... – voltou a chamar, assim que o encarou uma outra vez. Elissa envolveu a mão dele por entre as suas, acariciando-a gentilmente. - ... sem mais desculpas. Eu também gostaria de ter uma solução para nós, até porque não é da minha natureza esperar tudo de bandeja no meu colo. De maneira alguma vou permitir que se culpe por coisas que estão fora do seu controle. Do nosso. Está tudo bem. Bien, na verdade, não está, mas compreendo que não há o que possamos fazer no momento, que o afastamento é a única solução para nos manter seguros. Escucha, sei que você é todo intenção de me manter protegida, pero, preciso que se preocupe menos comigo, e foque mais em se manter inteiro, cierto? – disse, com um tanto a mais de seriedade pois sabia que aquela seria uma preocupação constante para si. Por ter acompanhado todo o processo de William com os Fraser, era impossível não temer que algo daquela natureza acontecesse com Malcolm. Norte de pensamento que, junto a angústia que ainda sentia, a impelira a mover-se sobre o sofá, diminuindo a distância que os separava. Com gentileza, Thorne emoldurou o rosto dele em suas mãos pequenas, acariciando-o sutilmente com a ponta dos polegares. Seu olhar mais uma vez estava preso ao dele, e um brilho sutil marcava suas orbes castanhas. – Para mim, apesar dos motivos óbvios, não há nada de errado em usar ‘nós’ para nos mencionar. É o que temos sido pelos últimos ótimos meses, Malcolm. Esse tempo que tivemos juntos, apesar de parecer curto demais, é algo que, a não ser pela existência de maneiras de alterar memórias, ninguém pode tirar de nós. Não se preocupe, como disse anteriormente, acredito e confio em você. Ficaremos bem, cariño.?! – pontuou, sem em nenhum momento desviar seu olhar do dele. Embora houvesse uma óbvia honestidade em suas palavras, aquela última frase não soara em seus ouvidos da maneira que deveria, parecia muito mais uma indagação que uma afirmação. – Escucha, queria pedir uma coisa... – disse, por mais que naquele instante passasse por sua mente que aquele talvez fosse o momento ideal para cortar o contato físico entre ambos, Elissa mantivera uma das mãos no rosto do ex-grifino, acariciando afetuosamente a linha de seu maxilar. - ... seja lá o que for decidido entre os Fraser, unificação, não unificação, Margaret ou você na liderança, eu prefiro descobrir por você, caso seja possível. – pediu, pois, mesmo que tivesse a intenção de trabalhar a ideia daquele afastamento como permanente, o desenrolar daquela situação contradizia tal ideia, e, Elissa sabia que em algum momento do futuro próximo precisaria de uma conclusão definitiva. Os “e se” remanescentes acabariam tornando-se fonte de angústia permanente. – Además, me resta pedir, implorar caso necessário, - rolou os olhos, exasperada. - para que se cuide. Mantenha a calma. Não permita que sua mãe o enlouqueça, e lembre-se que, apesar da necessidade de afastamento do momento, isso não significa que estou fechando por completo a porta de comunicação. - disse, mesmo ciente de que naquele primeiro momento o ideal era que se mantivessem completamente afastados, para que acostumassem a ideia de que não faziam mais parte um da vida do outro. Contudo, por mais que soubesse que Malcolm estava mais que acostumado a cuidar de si mesmo, era impossível para ela não se importar e preocupar. - Você sabe onde me encontrar, e continuarei disposta a ouvi-lo. – disse, com sinceridade, ao mesmo tempo em que aproveitava-se do fato de que estavam tão perto um do outro para apoiar sua testa no ombro dele. Movimento que se provara um erro uma vez que ali, tão perto, o cheiro dele misturava-se ao amaciante de roupas, e era bom, reconfortante, seguro. Respirou fundo. – Bien, não sei muito bem como isso funciona, términos amigáveis são uma novidade para mim, pero, imagino que esse seja o momento em que devo ir embora. Rápido, e, supostamente, indolor.  – murmurou, e um biquinho trêmulo formou-se em seus lábios assim que virou o rosto o suficiente para observá-lo uma outra vez. - Pero, por mais que esteja ciente que você tem aquela belíssima garrafa de uísque, e a companhia de Scott, depois de tudo o que aconteceu hoje, não gostaria de deixá-lo sozinho com possíveis pensamentos irritadiços. Assim como não quero o mesmo para mim. Por hoje, gostaria de ficar, ao menos até que as responsabilidades nos chamem para a realidade. – disse, deixando transparecer tanto em seu olhar quanto em seu tom de voz o quão sentia-se esmorecida, exaurida. Transparecia também o quanto seria complexo para si lidar com toda aquela questão. – Não fique muito convencido, você ainda me deve uma pizza, e só preciso de um momento a mais para me despedir do meu suposto grande fetiche em vikings ruivos.  
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~ ❉can I go where you go?❉ ~
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doctorlissa · 5 years
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thejammybastard‌:
Malcolm tinha se esquecido completamente da última vez em que fora colocado em comparação ao seu irmão mais velho e falecido Theodore Fraser. Um tipo de comparação que sempre tivera intento de inspirá-lo a se sentir pior ou, no mínimo, assumir tal papel tão bem caracterizado pela sua mãe. Mulher que tivera a pachorra de deixar supostamente muito claro minutos atrás, ao empacar na soleira que pertencia a outro irmão que não era reconhecido na árvore genealogicamente falida dos Fraser, pegando-o em uma situação de flagrante que certamente caíra como uma luva do ponto de vista dela que ganhara razão e circunstância para provar o que na sua mente parecia uma verdade absoluta, de que invejava e almejava tudo que um dia pertencera ou se destinara ao irmão que poderia muito bem ter se tornado líder daquele maldito clã se ainda fosse vivo. Acusações que, em sua juventude, poderiam ter trazido um tipo de impacto mais profundo, como o complexo de inferioridade. Não fora o caso, pois passara tanto tempo excluído da narrativa da sua família que acabara descobrindo uma seleção de podres que fortaleceram com o tempo seu desejo de vazar daquele cerne caótico. O motivo principal foi ao descobrir sobre Scott, pois, a partir disso, muito do seu conceito de família de clã se alterara. Enquanto Theodore e Davina passaram a almejar ascensão com o passar dos anos, o que ele mais queria era sumir daquele lugar e, automaticamente, prover uma vida melhor a Scott. Algo que aconteceu quando terminara os estudos em Hogwarts, não perdendo tempo em se mudar para o centro de Londres e estabelecer uma longa carreira de duas vias no Ministério da Magia. Uma mudança que era vista com péssimos olhos para alguém extremamente enraizado naquele sistema, pois o comum era almejar liderança tão quanto um casamento que unificasse mais famílias para manter estabilidade social e financeira. Sua mãe se incumbira para que ele se tornasse desinteressante e nunca se importara. Não quando ter uma infância e uma adolescência lhe soou mais atraente que se meter entre os irmãos mais velhos que nunca o deixaram em paz com suas humilhações gratuitas. Por essas e outras que Malcolm se impulsionara para o mais longe possível daquela ladainha e isso fomentara e muito seu caráter e lhe dera mais razão de se construir. Mas era em instantes como aquele, em que rolava mais uma sessão gratuita de humilhação, que o ex-grifinório se perguntava se tudo tivesse sido diferente. Se ele não tivesse tido um choque desde cedo e almejasse o que “não era seu”. Capaz que se tornasse tudo que sua mãe o acusara desde sempre. Não sabia, afinal, como todo bom Fraser, tinha grande inclinação de perder o temperamento e nunca fora o mais paciente com ninguém dali. Ainda mais com Theodore a quem implicara uma enorme e debochada distância. No fim, ele sabia que nada do que fora dito era verdade, mas a Sra. Fraser tocara em seus nervos sensíveis. Nervos esses que tinham um único refletor: Elissa Thorne. A pessoa real que ficara preocupadíssimo com aquela súbita visita que pedira uma dose de uísque e um ponto de evasão em forma de copo quebrado na pia. O lado bom da ex-corvina ter marchado rumo ao banheiro foi lhe dar tempo para se recuperar, pois sentia suas veias infladas e seu rosto queimando. Se não tivesse encerrado aquilo, capaz que poderia ter liberado labaredas contra a velha senhora que repetira seu ciclo de achismo. Tão quanto aproveitara a catapulta do momento para ofender alguém que realmente nada mais tinha a ver com os Fraser. Ao menos, diretamente, pois, naquele ínterim, ambos continuaram a se ver. Ambos continuaram a ter alguma coisa. Tudo fluíra desde o Natal até a informação de que teria que ser líder dos Fraser, mas não sem uma gota de tensão. Tensão essa que era responsável em enrijecer seus músculos e tornar um tanto mais difícil respirar por causa daquele misto de emoções que muniam seu ser de muita raiva. Raiva por ter sido amarrado pelos calcanhares por aquela família que nunca lhe dera nada a não ser dezenas de motivos para se manter o mais distante possível dela. Era um completo inferno e tinha consciência que nem todo uísque do mundo, nem mesmo o que poderia ter a dizer, apaziguaria aquele maldito incêndio. Ele deveria ter interrompido tudo. Era o que sempre pensava quando a via. Mas o desejo de estar com ela era sempre mais forte. Mesmo não sabendo exatamente como mensurar o que parecia se tornar cada vez mais palpável, como as batidas ensurdecedoras do seu coração que pareciam pressionar sua caixa craniana. O que era um segredo não era mais um segredo e a sensação de mãos atadas era o resultado final. Resultado que nada se comparava ao sentimento ruim que criava uma ansiedade cotidiana por temer que algo como aquilo acontecesse. E acontecera. Entregando não somente um poço de desolamento, como também confirmando que estava sendo muito mais que vigiado. Estava sendo perseguido. Ao ouvir barulho de passos, Malcolm arrumou a postura e limpou alguns respingos de uísque na sua camisa com o pano de prato já que sua varinha estava dentro da jaqueta localizada na sala em que avistou Elissa se dirigir ao cantinho do uísque como bem dizia a Scott. Era naquela cabana que vinha se refugiando com mais frequência, pois se lembrava de uma parte de terra que tinha na Escócia e que vinha evitando justamente para não ter mais do seu espaço invadido. Não disse nada, observando-a atentamente, e um sorriso de canto brotou em seus lábios tensos quando a ouviu resmungar sobre a bebida. - Boireannach beag, é uma vergonha você reclamar de uísque quando tenho a singela impressão de que você é fã de pimenta das fortes. - disse mais para cobrir o espaço vago do silêncio. Não havia humor na sua fala. Nem em sua postura taciturna que se enrijeceu um tanto mais ao vê-la caminhar em sua direção. Não recusou o copo e bebeu um pouco do uísque, liberando o típico estalido de satisfação. - Um drinque no inferno. Esse é o nome do filme. - respondeu ele, deixando o copo na pia e voltando a cruzar os braços. Não em defensiva. Essa era sua frequente postura para absolutamente tudo. Tomou outro tempo, olhando de rabo de olho e percebendo que o desalento era mais evidente que o esperado no rosto de Elissa. Realização que o irritou ainda mais e o fez abafar o bufo ao esfregar o punho fechado contra o nariz. - Ah, eu sei que é difícil para você ficar no modo silencioso. Não que eu me incomode, porque você faz todo o trabalho. - brincou, sorrindo fracamente. - Mas eu entendo. Não há muito o que dizer ou o que fazer. A não ser eu pedir desculpa. Eu sabia que uma hora isso aconteceria, mas não imaginava que fosse estratégico. Aquilo foi estratégico. - apontou para onde seria a porta claramente puto da vida. Pegou o copo novamente, incendiando mais suas emoções com a bebida, e o largou no mesmo instante em que Thorne tocara seu rosto. Foi quando respirou fundo, tentando acertar aquele vulcão interior, mas sem muito sucesso. Intuitivamente, inclinou a cabeça e largou um beijo no pulso da ex-corvina, prendendo-o em seguida para segurar a mão dela. - Você deveria ter me dito que era uma celebridade no mundo bruxo, pois eu daria um jeito de estacionar meu barquinho em outro lugar. - continuou tentando resgatar seu mood pentelho, mas sem tanto sucesso. Principalmente quando a encarou, pois pareceu ver tudo desmoronando verdadeiramente. E sentiu o incômodo em forma de um deslocamento súbito no centro do seu peito. Um movimento que poderia significar muitas coisas, mas uma delas, mais tátil, era remorso que gerara um espasmo que o fez apertar um pouco mais o encontro das mãos. - Você pode e deve ficar se assim quiser, boireannach beag. Eu não estou doido ainda para pedi-la, por gentileza, sair da minha vista. A visão é muito boa para que eu simplesmente dispense por causa de uma velha maluca. - e dizer que sua mãe era maluca o fez rir singelamente. Não mentia, porque tinha 200% de certeza de que aquela mulher era biruta. Principalmente para insistir em ofensas que não o atingiam - e que ele sabia que estaria gargalhando no dia seguinte. - Eu entendo bem o nosso esquema. Você foge. Eu corro atrás como não quer nada. Só peço, por favor, que não faça isso hoje, porque eu não conseguirei alcançá-la. - foi a vez dele em revirar os olhos, mas com certo entretenimento. - Honestamente, acho maravilhoso quando você pergunta se estou bem, porque é a partir daí que começo a falar como um furacão. Só que hoje não sou importante. Eu estou bem. Não é a primeira vez que escuto o que escutei. Por outro lado, o que posso fazer no momento é tentar me defender dizendo que jamais passou pela minha cabeça começar um jogo, ou qualquer coisa que a juventude use hoje em dia, para me aproveitar de você em reflexo da minha grande inveja de Theodore. Se você chegou a pensar nisso, pare. Além de ser uma ofensa para nós dois, acredito que seria mais provável você fazer jogo comigo para se vingar. Vai me dizer que não? - uma sobrancelha dele se arqueou inquisitivamente, o que não disfarçava o retorno sutil do seu modo pentelho. - Isso partiria o pobre coração de um homem que não curte esse tipo de palhaçada. De todo modo, você me parece muito cansada, querendo ficar quieta em um canto, e tudo bem. Tome seu tempo, Elissa. Muito embora eu possa ofertar uma massagem nas costas. - tinha noção de que não havia mais espaço para aquele tipo de brincadeira, ainda mais depois do que ocorrera, mas era mais forte que ele. - Eu preciso saber se você está bem. Considerando todo seu histórico e etc.. - um histórico que não sabia com detalhes e nunca se prezara a questionar. Não quando vários comportamentos de Thorne deixaram muito claro que Theodore era uma lembrança agridoce. Mas nada cancelava a curiosidade que, se fosse esclarecida, com certeza iria desovar o túmulo do seu irmão. - Minha mãe certamente acha que você atrapalhará os planos dela e peço que não esquente com isso. Meramente porque já tem quem queira destruir os planos dela e é uma questão de tempo. - secretamente se referia à Margaret. A única pessoa possível que poderia acabar com toda aquela dor de cabeça. - Mas isso também não anula o fato de que devemos conversar sobre o que vem depois. E acredito que é aí que entra a possível veracidade de você querer ficar ou ir embora. Eu sei que coloquei nós dois em risco, tão quanto Owen, e isso foi de uma irresponsabilidade tremenda. Mesmo que eu tivesse dado meus motivos, eu deveria ter te interrompido no processo e sei que corro o risco de ganhar um soco ao dizer isso. Afinal, eu não mando no que você sente e eu não sou essa pessoa. Porém, meus motivos, que parecem mais intensos, ganharam vez e isso não vem ao caso. O que vem ao caso é que minha mãe chegará cantando vitória na Escócia, crente de que me encarcerou de vez. - porque Elissa com certeza acabara de se tornar a cereja do que se transformaria em uma chantagem de alto calibre e não diria isso para não piorar mais o clima. - Eu esperava que essa montanha-russa descarrilasse, mas não desse jeito. Não sem eu ter um tipo de controle na queda e eu sinto muito que você tenha que passar por isso de novo. E por uma razão muito da idiota, Santa Margaret! - a irritação voltou a assomá-lo, inspirando-o a entornar o resto do uísque. - Não precisamos discutir isso agora. A noite foi cheia o suficiente para nós dois. - foi a maneira que Malcolm encontrou para desconversar, pois parecia que não queria a resposta que poderia envolver um imenso pé na bunda. Logo, soltou as mãos educadamente e foi para a sala, chamando-a para ocupar o sofá. - Ao menos, teremos pizza. E eu espero que Scott não tenha dado de cara com aquela velha doida dos infernos.
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- Suas propostas são sempre muy muy tentadoras. Principalmente quando parecem inviáveis. – murmurou, referindo-se a proposta de massagem feita pelo mais velho, depois de manter-se em silêncio por alguns minutos. Espaço de tempo em que além de ouvi-lo com atenção, aproveitara para escrutinar a ele e ao ambiente. Apesar de ainda sentir-se fora de sintonia, a ex-corvina continuava sendo hábil em prestar atenção a outros, principalmente quando a pessoa em questão era alguém por quem prezava. O copo quebrado na pia da cozinha corroborava a impressão que a postura enrijecida e a expressão taciturna de Malcolm haviam lhe dado no primeiro momento. Algo que era denunciado também pela vermelhidão que marcava suas orelhas e pescoço. Não era a primeira vez que presenciava sinais de que o mais velho perdia parte do controle quando irritava-se. Inclusive, parecia-lhe que era algo típico do gene Fraser, pois presenciara aquele destempero em ao menos quatro dos homens daquela família com quem convivera, e entre eles incluía o pequeno Owen e suas birras ocasionais. Naquele caso em específico, acima de tudo, aqueles eram sinais que a informavam que apesar do que Malcolm dizia sobre estar bem, o que ocorrera naquele início de noite mexera em alguns de seus botões. Ainda que pudesse e quisesse questionar mais a respeito, Elissa entendia que aquele provavelmente não era o melhor momento. Sendo assim, aproveitou-se do fato de que sua mão fora envolvida pela dele para fazer movimentos circulares com a ponta do polegar em seu dorso, especialmente nos pontos que reconhecia como de relaxamento. Parecia-lhe válida qualquer tentativa de proporcionar a ele conforto. – De qualquer forma, cariño, me parece que você precisa de uma massagem muito mais que eu. Além disso, sabemos quem é especialista entre nós. – completou, relembrando muito por cima um momento em específico da primeira vez em que o atendera no Mungus. Thorne mantinha em seu timbre o tom falho de quem brincava, o que era corroborado pelo arquear de uma de suas sobrancelhas. Embora soubesse que aquele tipo de comentário não cabia ao momento, de certa forma, fazê-lo dava-lhe alguma sensação de normalidade. Mesmo que houvessem problemáticas e mais problemáticas que teoricamente deveriam inviabilizar a relação entre ambos, tudo fluía com muita naturalidade quando estavam juntos. O que dava-lhe uma segurança que não costumava sentir com mais ninguém. Linha de raciocínio que a levou inconscientemente a aperta a mão dele com um tanto a mais de força. Ainda que pudesse se considerar muito mais centrada do que em relação a quando a Sra. Fraser se fizera presente, a verdade era que quanto mais se via inclinada a refletir sobre os pormenores de toda aquela discussão, mais tornava-se consciente da desordem emocional engatilhada pela presença dela. Uma desordem que era palpável por envolver muito mais que lidar apenas com suas próprias emoções. Com delicadeza Thorne tocou com a ponta do indicador de sua mão livre na têmpora de Malcolm. Um sorriso tenro, e ao mesmo tempo melancólico, pontuou o canto de seus lábios. – Bien, a essa altura dos acontecimentos não deve ser nenhuma novidade que me preocupo com seu bem-estar, e que gosto de ouvi-lo. Entendê-lo, para ser mais exata. Você e o que há nessa mente são sempre importantes. Especialmente hoje. Contudo, se você me diz que está bem, então não há motivos para contestar, pero, como de praxe, vale lembrar que estou aqui para o que precisar. – enquanto se pronunciava seu olhar seguia preso ao do mais velho, corroborando a verdade do que dizia, transparecendo o quanto realmente importava-se. – Mira, não me choca que essa não seja a primeira vez que tenha ouvido esse tipo de coisa de sua mãe, pero, não posso negar que me deixa bastante injuriada por você. Não deveria ser assim, Malcolm. Não mesmo. Inclusive, sinto muito que isso tenha se repetido por minha causa. – e realmente sentia, embora estivesse ciente que sua presença era apenas o catalisador do momento, e que a Sra. Fraser era de longe um péssimo exemplo de como exercer a maternidade. O que só a deixava ainda mais firme na ideia de que agira corretamente em limitar o máximo possível o convívio que Owen teria com aquela figura. Um dos muitos motivos que levavam aquela senhora a enxergá-la como uma inimiga. Norte de pensamento que, inevitavelmente, a levava a ponderar sobre os gatilhos certeiramente acionados por toda a situação vivenciada ali. Ainda que nos últimos anos tivesse aprendido a lidar com os traumas de seu passado recente, inevitavelmente, as lembranças continuavam a ser dolorosas. O relacionamento com Theodore, relembrado diversas vezes pela Sra. Fraser, fora marcado por inúmeras situações que davam-lhe a impressão de que estava presa e sufocada. Sensação que chegara em seu ápice quando se descobrira grávida. Embora não pensasse muito a respeito, principalmente quando Owen tornara-se a figura central em sua vida, em um primeiro momento, sua reação a descoberta da gravidez fora moldada por rejeição e desespero. Um desespero que nunca sentira antes, e que envolvia sobretudo a ideia de que com uma criança jamais conseguiria desvencilhar-se de seu ex-namorado. Theodore a tinha cercado de todas as maneiras possíveis, encurralando-a a beira do que considerara como precipício. Em meio ao caos emocional da época, chegara a cogitar o aborto com uma solução do problema, contudo, por mais desesperada que o estivesse, sabia que não se perdoaria por ceifar a vida de um inocente que era também parte de si. Levar a gravidez adiante fora um tormento, e mesmo depois da morte de Theodore, onde acreditara que estaria livre, precisara lidar com a presença e exigências da Sra. Fraser. Embora o estivesse fragilizada, especialmente pelas complicações da gestação, e pela sensação de que, além de sua família não havia mais ninguém com quem contar, assim como não cedera a Theodore, não cedera a mãe dele. Ainda que possuísse uma personalidade pacifista, Elissa era sempre muito resoluta em suas decisões - às vezes era até mesmo cabeça dura, mas fora essa postura que a impedira de ser totalmente manipulada pelos Fraser. Era também um dos motivos pelo qual sempre escolhia respeitar seu próprio tempo, como fizera em relação a Malcolm. Diante de toda a bagagem que tinha, e que claramente contava contra ambos, precisara ter a certeza que o passo que daria em direção a ele não era em falso. Que não estava, mais uma vez, caminhando para seu próprio tormento. Assim, ainda que optasse, até então, por não rotular seus sentimentos, estava ciente de que não se colocaria na posição em que se encontrava se o que sentisse não fosse palpável e significativo. O que, de certa maneira, a atemorizava. Principalmente quando parecia que existiam muito mais obstáculos do que poderiam lidar. – Malcolm? – voltou a chamar, com a voz rouca de quem tinha algo entalado na garganta. Engoliu em seco. Thorne pendeu a cabeça brevemente para a direita, como se assim pudesse enxergá-lo melhor. Como acontecia quase todas as vezes, ao menos por um instante deixara-se perder no brilho singular das orbes azuis do Fraser. Suspirou. – Em algum momento dos últimos meses dei a entender que tenho esse tipo de suspeita a seu respeito? – questionou, franzindo brevemente o cenho, enquanto mantinha-se o encarando. Com o polegar seguia acariciando o dorso da mão dele, e ali já não sabia se o fazia para relaxá-lo ou para si relaxar. Seu questionamento visava compreender se havia enviado algum sinal errado ao mais velho, o que poderia ser um reflexo da época em que se conheceram, onde tentar manter alguma distância fora sua forma de proteção. – Escucha, você citou o meu histórico, e acredito que não saiba muito mais do que já te disse. Talvez um dia nós tenhamos essa conversa, mas, no momento, acredito que os ânimos já estiveram exaltados o suficiente. – calou-se, momentaneamente, porque embora não tivesse dito nada demais, tocar naquele assunto era sempre como cutucar as bordas de uma ferida que, apesar de cicatrizada, nunca deixaria de doer. Embora não tivesse vivido apenas abuso emocional e psicológico durante o relacionamento com Theodore, eram apenas essas lembranças que haviam marcado-a de forma definitiva, deixando tudo o que era bom resguardado muito ao fundo de sua mente. - Enfim, male male, meu histórico tem um peso imenso em quem sou hoje e na maneira que tomo as minhas decisões. Um dos motivos pelo qual precisei de um tempo para organizar a minha mente depois que nos beijamos. Por mais que tenha sido algo que queria, são tantas as implicações que precisei dar um passo para trás antes de intentar dar outros para frente. Isso eu sei que você sabe. No mais, bien, você deveria saber que se por um segundo sequer tivesse passado pela minha mente que está me usando de alguma maneira, nós não estaríamos tendo essa conversa. Bien, nós provavelmente sequer teríamos chegado na parte do beijo. – a ex-corvina meneou a cabeça brevemente para corroborar o que dizia, ao mesmo tempo em que deslizava a ponta da língua por seus lábios que pareciam ressecados. Por mais que sempre assumisse a posição de quem se pronunciava, algumas questões eram sempre mais sensíveis que outras. - Confiança é algo muito importante pra mim, Malcolm, especialmente pelo meu histórico. É crucial. Caso não tenha ficado claro para você antes o quanto, espero que fique agora, especialmente porque, bien, independente do meu conflito com sua família, confio em você. Sua mãe pode dizer o que for, mas é apenas você quem pode mudar essa realidade. – “e de verdade, espero que não o faça,” findou, em pensamento. Ali, havia um pouco mais de seriedade no timbre e na expressão que marcava o rosto da ex-corvina. Confiança era realmente muito importante para Thorne, e no caso deles, com tantas questões desfavoráveis, era também uma demonstração da profundidade de seus sentimentos. – Bien, además, nunca fui muito favorável a vingança, mesmo quando talvez tenha direito a uma. Nesse caso, ainda seria uma baita vergonha para Rowena Ravenclaw, já que claramente o feitiço voltou-se contra a feiticeira. – completou, em um tom quase jocoso, que era uma tentativa de amenizar o discurso anterior que expunha muito de si. Não que fosse sua intenção mascarar suas emoções, mas diante das complicações que envolviam aquela relação, e como pareciam caminhar sobre uma corda bamba, não era sua intenção tornar tudo ainda mais complexo. – Agora, respondendo sua pergunta, eu não estou no meu melhor momento, mas muito pouco tem a ver com as ofensas direcionadas a mim. A Sra. Fraser já deixou claro inúmeras vezes o que pensa ao meu respeito, e, sinceramente, prezo pela honestidade. – o que, naquele caso em especifico, apenas reforçava sua ideia de que jamais deveria baixar sua guarda para aquela mulher. – O bom em tudo isso é que, no futuro, não sentirei qualquer remorso em deixá-la fora da lista de convidados dos aniversários de Owen. – disse, sarcasticamente, rolando os olhos em exasperação. Apesar dos pesares, todos os anos Elissa se perguntava se não deveria ter alguém da família paterna nas festinhas de Owen. Cenário que se modificara uma vez que agora tinha noção que aquela família se estendia para além de Theodore, Davina e os pais. Ainda era-lhe bizarro que durante os anos envolvida, direta ou indiretamente, com aquelas pessoas jamais tivesse escutado uma só palavra sobre a existência de Scott e Malcolm. Até mesmo Davina fora citada no máximo em duas ocasiões por Theodore, a ponto de fazê-la esquecer de sua existência. – Escucha.. – murmurou, voltando a atentar-se para a figura do mais velho, à lembrança de algo que ele havia dito poucos minutos antes. Elissa deu um passo a mais em sua direção, encurtando um pouco mais a distância que os separava. – ... nada do que aconteceu aqui me é uma total surpresa, embora, devo admitir que, até o aparecimento de sua adorável mãezinha, estive confortável em uma bolha aparentemente segura. Enfim, não é responsabilidade sua o que sua mãe faz ou diz, então, não precisa se desculpar. Você não me expôs a qualquer risco que não estivesse ciente, Malcolm. Não irei socá-lo, contudo, acredito que é importante deixá-lo ciente de que em nenhum momento me senti pressionada por você de qualquer maneira. Pelo contrário, você respeitou meu tempo, meu momento, e pra quem tem ressalvas como eu, é muito significativo. Además, nós assumimos os riscos juntos. Para o melhor, e para o pior. – completou, apertando a mão dele, como quem intentava passar conforto mais uma vez, antes de soltá-la. Embora estivesse sendo honesta quando dizia que sempre estivera ciente dos riscos, aquela era a primeira vez em que realmente precisavam encarar uma situação adversa. Como bem dissera, até então, estavam protegidos e confortáveis em sua própria bolha. Lidar com a Sra. Fraser era, acima de tudo, um choque abrupto de realidade. Desconfortável, porém, necessário. E, por sua experiência com aquela figura, estava ciente que as investidas dela não se encerrariam ali. Malcolm tinha razão em acreditar que aquele fora um ataque estratégico, e era muito fácil acreditar que entre os próximos passos daquela senhora estaria intimidá-la usando Owen como moeda de troca. Norte de pensamento que deu pungência a sensação de enjoo que pouco a pouco crescia em si. No final das contas, ingerir o uísque fora uma péssima ideia, não só o amargor em sua boca parecia mais intenso, como seu estômago parecia em rebuliço. Elissa respirou fundo, e em seguida buscou por um copo d’água no filtro ao lado da pia. Enquanto ingeria lentamente o liquido, a ex-corvina observava a movimentação de Malcolm em direção a sala. Embora estivesse cansada, e seu maior desejo fosse mesmo ficar quieta em um canto, não parecia que tinha de fato tal direito. Ao caminhar em direção a sala, depois de livrar-se do copo na pia, a ex-corvina parou novamente diante do mais velho, que encontrava-se acomodado no sofá. Dessa vez, além da postura enrijecida havia aquela veia um tanto mais grossa que pulsava em seu pescoço, denunciando mais uma vez que ele não estava tão tranquilo quanto intentava aparentar. Thorne sentou-se ao lado dele, e com a ponta do indicador tocou brevemente naquela veia saltada do pescoço, antes de curvar-se para depositar um beijo suave na região. Gesto tenro que costumeiramente fazia por aquele ser o ponto do corpo do ex-grifino que alcançava sem esforços. Ali, naquele breve instante, fora prontamente inebriada pelo cheiro do mais velho. O que só servia para aumentar o seu desejo de esquecer, ao menos momentaneamente, o que o próprio Malcolm definira como “o que vem depois”. Elissa afastou-se, e em seguida deitou a cabeça no encosto do sofá, usou-se do indicador da mão esquerda para mover o queixo do mais velho o suficiente para que se encarassem novamente. – Scott provavelmente precisará ir longe para encontrar pizza de brócolis em uma cidade pequena como essa. Yo creo, para a sorte dele, que as chances de encontrar com a mãe são quase nulas. – comentou, para quebrar o silêncio que havia se restabelecido pelos últimos minutos. Em outras circunstâncias provavelmente brincaria um pouco mais a respeito das opções de sabores normalmente escolhidas pelo mais velho, contudo, naquele momento, parecia que restava muito pouco de seu ânimo. Com gentileza, foi sua vez de envolver a mão dele na sua. Contato de pele contra pele que proporcionava a si o conforto do qual precisava. – Escucha, eu queria sentar aqui com você e apenas tentar esquecer o que aconteceu hoje. Com sorte precisar lidar com tudo isso apenas em algum outro momento. Pero, dificilmente vou ter uma noite de sono sossegada se não tirar algumas coisas da minha mente. – pontuou, em um tom de voz baixo enquanto o encarava. – Bien, penso que se fosse mais esperta provavelmente aproveitaria do fato de que “hoje você não me alcançaria” para ir embora. Ao menos, diante das circunstância, teoricamente seria mais aconselhável para nós dois, cierto? - questionou, buscando em seu rosto uma resposta que na realidade não queria receber. - Vea bien, você obviamente conhece sua mãe muito melhor que eu, no entanto, eu e ela também temos o nosso histórico. Sei o quanto ela pode se exceder para que as coisas continuem num caminho pré-estabelecido, e, inegavelmente, nesse momento, ela possui vantagens sobre nós. Não é tão difícil presumir quem ela usará contra você, e muito menos quem ela tentará usar contra mim. – continuou, deixando fluir o que vinha espiralando em sua mente pelos últimos longos minutos. - De certa maneira, sinto como se estivéssemos diante de uma bifurcação, como se precisássemos tomar caminhos distintos. Manter Owen seguro sempre será a minha prioridade, no entanto, não posso permitir que sua mãe, ou qualquer outra pessoa, exerça de forma direta ou indireta controle sobre a maneira que devo conduzir minha vida. Já tive o gosto amargo dessa experiência antes, e não há chances de permitir que aconteça de novo. - murmurou, e sequer saberia dizer se de fato soava coerente, uma vez que toda aquela questão precisava ser ponderada com mais calma. Agir intempestivamente era o caminho mais curto para cometer erros. – Enfim, desde nossa última conversa a respeito, e apesar do meu duplo interesse na situação, venho evitando fazer questionamentos sobre o que se desdobra na Escócia. Nesse meio tempo tenho convivido com a ideia de que temos um dia por vez até não termos mais nenhum. O que, teoricamente, deveria ter me preparado para desdobramentos como o de hoje. Não fique muito convencido, ou fique... - rolou os olhos, exasperada. - ... mas, quis acreditar que nesse momento seria mais simples ir embora. – completou, e por mais que estivesse se esforçando para se manter centrada, seu tom de voz transparecia certo desalento. Thorne desviou o olhar do dele, focando-se no teto, enquanto piscava por vezes repetidas para se livrar da ardência e do cansaço na região. - É desconcertante que mesmo agora não queira ir, mesmo ciente, desde o início, de que em algum momento precisaria. – murmurou, com honestidade, mesmo que ainda evitasse encará-lo. Com delicadeza desprendeu sua mão da dele, para que pudesse usar das pontas de seus dedos para pressionar as pálpebras cansadas. - Hum, talvez eu esteja um pouquinho apegada as suas sardas. Exclusivamente a elas, é claro. - pontuou, com um ligeiro ar jocoso, dando de ombros em seguida. – Todas essas questões me parecem tão surreais, que evoluímos do nível teatro escocês de baixa qualidade para o latin telenovela com exagerada dramaticidade. Você, cariño, seria o galã cobiçado de quem deveria ter mantido a minha distância. Nada pro meu bico. – disse, curvando os lábios em um breve sorriso sem real humor. Depois de tudo o que dissera, aquela era sua tentativa de suavizar o ambiente uma outra vez. Elissa voltou a respirar fundo, dessa vez em busca de recompor-se. – Escucha, você disse algo sobre alguém querendo atrapalhar os planos da sua mãe, não foi? Posso saber do que se trata ou é algo que não pode compartilhar? – questionou, ao recordar-se de mais um ponto da conversa que parecia ter se perdido em meio a sua desordem interior. A ex-corvina ajeitou-se sobre o sofá, se colocando uma outra vez de frente para o mais velho. – Eu quero ficar, Malcolm... – reforçou o que já havia dito anteriormente, contudo, naquele instante seu olhar estava uma outra vez preso ao dele - transparecendo muito mais do que se permitiria articular em palavras. – ... pero,  antes de qualquer coisa, preciso entender se há um caminho do meio nessa insanidade. 
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~ ❉can I go where you go?❉ ~
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doctorlissa · 5 years
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@thejammybastard
Elissa não saberia mensurar quanto tempo havia transcorrido entre a saída intempestiva da Sra. Fraser e o momento em que decidira caminhar em direção ao pequeno banheiro de visitas da cabana de Scott. Tampouco saberia dizer por quanto tempo encontrava-se ali, encarando no reflexo do espelho uma expressão soturna que muito pouco combinava consigo. Uma sensação amarga de déjà-vu a rondava, trazendo-lhe de volta lembranças de quase um ano antes, da noite catastrófica de sua formatura. Momento que detalhadamente não se combinava ao atual, mas que, em aspectos gerais, encontrava-se similaridades. Nos dois casos sua paciência havia sido testada até o limite, e em ambos exaltara-se de uma maneira que muito pouco condizia com seu comportamento do dia-a-dia. Por mais educada que o fosse, Thorne não possuía sangue-frio, e jamais permitiria que qualquer pessoa tentasse humilhá-la. Ainda que toda a questão de sua formatura tivesse se desdobrado em um ambiente excessivamente público, e que sua reação e os desdobramentos posteriores fossem algo com o qual ainda precisava lidar meses depois, a situação com sua ex-sogra parecia muito mais densa uma vez que, para além da humilhação, havia uma clara tentativa de intimidação. Ainda assim, nada que chegasse a chocá-la de fato, uma vez que, ser ameaçada por aquela senhora, não era-lhe uma novidade. Era a repetição de um ciclo que se iniciara logo após a morte de Theodore, intensificara-se em seus meses finais de gravidez, e chegara em seu ápice em uma disputa judicial pela guarda de Owen. No entanto, nos últimos meses, as discordâncias entre ambas haviam se apaziguado, e Elissa sabia que muito disso vinha do que se desdobrava pelos lados da Escócia. Não que tivesse ilusões de boa convivência, contudo, acreditava que a tendência de apaziguamento teria se mantido se não fosse pelo fato de que, contra todas as possibilidades, atravessara a linha tênue que deveria manter-lhe na segurança da desimportância. E por desimportância referia-se a não ser capaz de interferir direta ou indiretamente nos planos daquela senhora. O que, em sua defesa, nunca fora uma intenção sua. As coisas apenas tinham acontecido sem que pudesse, quisesse, ou conseguisse refrear. Desde o princípio, a ex-corvina estivera ciente das possíveis implicações de se envolver com Malcolm Fraser, ainda assim, assumira aquele risco, e agora precisava lidar com as consequências dele. Embora não possuísse arrependimentos, Thorne questionava o sadismo do Universo em, mais uma vez, colocá-la no meio de uma questão dos Fraser. Elissa fechou os olhos, e pressionou suas pálpebras com as pontas dos dedos no mesmo instante em que liberava uma respiração profunda. Uma vez que sua mente acalmava-se, e que a irritação ainda existente cedia espaço para o desalento, a lembrança do que fora dito pela mais velha tornava-se mais contundente. Uma considerável parte do que fora discutido no calor do momento ainda era-lhe incompreensível uma vez que tanto Malcolm quanto a Sra. Fraser esbravejam em gaélico escocês. Contudo, como a venenosa que aquela senhora era, fizera questão de pontuar muitas questões para a compreensão de Thorne. Ali, enquanto voltava a encarar seu reflexo, perguntava-se o que levava uma mãe a ter uma preferência tão descarada por um dos filhos a ponto de humilhar e rebaixar o outro. Apontar que Malcolm tinha inveja de Theodore, e queria tudo o que supostamente pertencia ao outro, era uma maneira muito baixa de tentar machucá-lo. Além disso, era também uma maneira nada sutil de tentar plantar duvidas em si a respeito da conduta do ex-grifino, de fazê-la acreditar que era um joguete nas mãos dele. Meses antes talvez aquela técnica tivesse funcionado, principalmente quando se levava em consideração todas as pequenas mentiras que Malcolm lhe dissera. No entanto, com a convivência, aprendera a confiar no mais velho, e aquela confiança apenas ele seria capaz de minar. Junção de fatores que, de certa maneira, fazia com que toda a questão entre mãe e filho pesasse em sua mente muito mais que as ofensas direcionadas a si. Na verdade, entre o muito que lhe fora dito, ser chamada de oportunista trouxera algum divertimento a questão, principalmente quando se levava em consideração que nunca exigira um centavo dos Fraser para a criação de Owen. E continuava a não querer nada da maior parte deles que não fosse distância. Linha de raciocínio que a tornava sua própria contradição, principalmente porque se encontrava em um espaço que pertencia a um Fraser não reconhecido pela família, e emocionalmente envolvida com um outro Fraser, irmão do pai de seu filho, e que parecia muito próximo de perder a própria autonomia. Embora estivesse ciente que aquele relacionamento-não-relacionamento com Malcolm possuía uma espécie de prazo de validade, devido a posição que ele possivelmente assumiria na Escócia, os desdobramentos daquela tarde tornaram aquela questão muito mais palpável para si. Real. Uma nova respiração profunda escapou a ex-corvina. Ainda que tivesse muito a processar, que se sentisse exaurida de energias, encontrava-se também mais equilibrada em suas emoções. Em comparação ao seu desentendimento com Laila, em que fora movida por uma raiva descomunal, ali, sentia-se muito mais inclinada ao desalento do que a revolta - o que claramente dizia muito sobre si mesma, e os níveis de seu envolvimento emocional com toda a questão. Metodicamente a ex-corvina lavou as mãos e o rosto, enxugando-se com a tolha pendurada ao lado da pia. Embora ainda sentisse alguma tensão em seu corpo, a expressão em seu rosto deixara de ser soturna e abraçara certa melancolia. Sentimento do qual, provavelmente, não se livraria tão cedo. Ao voltar a sala, Elissa fez uma nota mental de que deveria se desculpar com Scott posteriormente. Era desastroso que tivesse saído de sua casa para se comportar de uma maneira muito pouco educada no espaço alheio. Enquanto se encaminhava da sala para a cozinha, onde imaginava que Malcolm estaria, seu olhar recaiu sobre a mesinha, onde sobre uma tábua, se encontrava gelo e uísque. Normalmente, Elissa apenas bebia socialmente, contudo, naquele momento, sentia que precisava ingerir algo forte. Por conhecimento de causa, sabia que aquele bendito uísque era forte o suficiente. Encheu o copo no que correspondia a apenas três dedos de bebida e em seguida levou aos lábios, bebericando um gole longo. O sabor amargo tomou conta de suas papilas gustativas, assim como a ardência logo se fez presente em sua garganta. – Madre de Dios! – praguejou, baixinho, assim que abaixou o copo. Elissa voltou a respirar fundo, e manteve o copo, que segurava com muito mais força que o necessário, na mão ao direcionar-se a cozinha, onde encontrou o ex-grifino. Pela primeira vez desde que a Sra. Fraser se retirara do recinto, Thorne o encarou. Em momento algum a expressão taciturna que marcava as bonitas feições do mais velho a intimidou. Elissa aproximou-se, oferecendo a ele o copo com o uísque que não tinha qualquer intenção de continuar a beber. – Bien, por Dios, não era dessa maneira que imaginava que tomaríamos o famigerado drinque. – um ligeiro e singelo sorriso melancólico marcara o canto dos lábios da ex-corvina. Apesar do tom de voz calmo, e da tentativa de soar tanto divertida quanto sarcástica, era perceptível que não encontrava-se em seu melhor. Ainda assim, naquele instante, apesar do muito a ponderar que fora-lhe dado, Elissa preocupava-se em averiguar de quais maneiras a Sra. Fraser conseguira atingir o filho. Thorne diminuiu um tanto mais a distância entre ambos ao colocar-se exatamente a frente dele. Delicadamente deslizou a ponta do indicador por seu queixo, sentindo o ligeiro pinicar da barba por fazer. Contato tenro que, de certa maneira, a ajudava a se sentir mais calma. Centrada. Com gentileza pressionou o dedo na região, apenas o suficiente para que o olhar dele encontrasse o seu. As orbes azuis que sempre prendiam sua atenção possuíam um brilho singular que, ao menos naquele instante, não conseguia decifrar. – Malcolm? – chamou, baixinho, certificando-se de que a atenção dele estava totalmente em si. – Hey, escucha... - interrompeu-se, em uma tentativa de organizar os pensamentos antes de pronunciar-se. De um instante para o outro parecia que o cansaço, sempre presente graças ao seu acúmulo de funções no Mungus, a dominava. - ... eu, bien, não sei o que fazer, o que dizer. Isso é bastante raro, você sabe. - pontuou, revirando os olhos exasperada demais com o todo da situação. No entanto, estava sendo honesta, como de costume. - Não sei se devemos conversar sobre o que houve, ou se é melhor esperar os ânimos acalmarem. Tambien não sei se devo ficar ou se devo ir. - seu timbre fraquejou brevemente, deixando transparecer o quão drenada de energias estava. Thorne cruzou os braços rente aos seios, não em uma posição defensiva, mas como quem intentava se manter firme. - Escucha, antes que essa ideia passe na sua cabeça, deixe-me esclarecer que não estou fugindo. - assegurou sem desviar seu olhar do dele. Fugir não era mesmo seu padrão de comportamento, mas sabia que tinha dado essa ideia ao mais velho depois do beijo compartilhado no Natal. - Por ora, por mais que possa soar pendeja, preciso me certificar se você está bem.
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doctorlissa · 5 years
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thejammybastard‌:
- Estou realmente honrado por vê-la quebrar uma regra pessoal ao reconhecer que sou absurdamente cativante. Grato demais pela sua consideração, pois eu sirvo bem para servir sempre. - Malcolm comentou assim que Elissa diminuiu a distância que havia entre ambos. Apesar de debochar de uma situação que tinha consciência de que era muito séria, não se sentiria nem um pouco ofendido se Thorne optasse por aquele tipo de checagem. Era uma praxe que se tornara muito urgente devido aos desdobramentos que ainda percorriam o mundo bruxo e que pareciam não ter hora para terminar. O que era tão exaustivo quanto os planos futuros de uma Escócia dominada por clãs. Era o mais do mesmo. Em ambos os casos. Claramente frustrante, especialmente para quem preferia ficar de fora daquele caos. No caso do Fraser, ele dançava conforme as duas músicas, mas, sem dúvidas, preferia manter seus dois empregos a lidar com sua mãe e as promessas de uma Escócia de clã finalmente unificada e pacífica. De ouvir que era o futuro de alguma coisa quando se preveniu para não ser futuro de ninguém, ainda mais da sua família. Era demais para acreditar em curto espaço de tempo. Principalmente porque tinha exemplos de sobra de que nada daquilo soava como um sono pacífico com cheiro secular. Inclusive, de que ele seria o futuro de alguma coisa quando, na menor chance, sabia que daria no pé. - Mas posso dizer algumas coisas para garantir que eu sou eu. Porém, acredito que você não curtirá tanto assim, porque envolve ¼ de intimidade. Se você estiver disposta a passar vergonha por mim tudo bem. - emendou com um sorriso maroto. Seu olhar mantinha-se fixo ao rosto de Elissa e julgou que, ao menos naquele dia, ela não deveria ter encarado as trevas completa. Presumia isso por ser um dia de folga, algo que não sabia como funcionava porque não se via sem trabalhar. Até no tédio estava envolvido com alguma coisa, como foi o caso de uma insistente Olivia que não desgrudou do seu pé no intuito de fazê-lo obter informações sobre a família Cross. - E longe de mim ser stalker. Eu prefiro ser presente visto que suspense não é lá muito minha cara. - seu rosto se moldou em uma careta que nada infligia a um desgosto verdadeiro e que logo minguou assim que a ouviu dizer sobre convites para ir até a casa dela. - Ah, então você tem interesse em conhecer a minha casa? - perguntou com uma sobrancelha arqueada. Poupou-se de sorrir, se fingindo de sério diante daquela nova circunstância. - Mesmo não tendo nada demais na minha casa, a não ser a estátua do Darius, você é muito bem-vinda lá. Posso oferecer um uísque durante sua visita, pois de culinária não entendo nada. Bom que tenho um senso de humor maravilhoso. Por outro lado, eu tenho outro buraco que é mais divertido que o que tem na cidade. É lá onde mora as minhas vacas. - e era para onde se escondia quando se via perto do limite e parecia que aquele tempo se aproximava conforme sua mãe passava a corda ao redor do seu pescoço. Distraindo-se brevemente, se lembrou de outro tempo, que parecia muito distante agora, e que se relacionava a Theodore. Aquele pedaço de terra no meio do nada sempre gerara aborrecimentos entre os irmãos. Provocações que faziam Malcolm crer que Theodore de alguma forma sempre almejara sua liberdade e queria porque queria fazê-lo se sentir menor. Fazê-lo almejar ou invejar o que era dele, uma liderança que rodopiara anos depois para parar em seu colo. De graça. Era fato que o azedume dele sempre falhara porque Malcolm não poderia se importar menos com qualquer aspecto burocrático dos Fraser. - Não se preocupe, boireannach beag, eu posso me fazer de surpreso quando você me convidar de novo para visitar o seu lar. Você me dará a chance até de me vestir melhor e de passar perfume. - concluiu, sem muito interesse em seguir por aquele viés assim que ela se aproximou mais. Acompanhou cada movimento dela em sua direção muito atentamente, sorrindo de canto assim que a mão da ex-corvina pesou em seu ombro e depois passeou pelo seu torso. Pensou em se levantar, mas se ateve a puxá-la mais para junto de si pela cintura. Era uma altura adequada, especialmente quando ela se curvou em sua direção, permitindo-o se ludibriar por alguns segundos pelo perfume que exalava de seu cabelo. Fios escuros e macios que empurrara para fora dos ombros dela, mas não sem antes capturar e relembrar como era sua textura. Correspondeu ao beijo, impelido a aprofundar um pouco a troca, mas se conteve assim que a mais nova dera sinal de afastamento. - Você, Elissa Thorne, é malvada. - murmurou, deslizando o polegar suavemente pelo queixo dela. Depositou um breve beijo ali, em cima de uma pinta, revelando um sorriso contido em seguida que expressava o lembrete mental de que não poderia enrolá-la com mais uma informação inédita da sua mãe. Uma senhora sempre tão dedicada em controlar o destino de cada um de seus filhos. Um completo aborrecimento hereditário que minou um pouco seu humor. - Eu pensei que você me deixaria aqui ao relento, o que aumentaria minha crença de que estou envolvido com uma pessoa muito da maligna. - comentou assim que se levantou e se colocou ao lado dela. Só entrou assim que fora convidado, mas não sem antes depositar um beijo rápido na bochecha dela, quase perto da orelha. - Você? Bagunceira? Sistemática do jeito que é? Conta outra! - zombou, sua gargalhada ecoando lar adentro. Mesmo que tivesse permissão de se fazer à vontade, em nome da etiqueta cedida pela proprietária da casa, Malcolm se absteve a ficar a um canto da sala. Não por timidez, mas porque daquele ângulo dava para ter uma noção do ambiente. Do seus detalhes tão quanto da sua energia. Imergiu em suas observações particulares e nem sequer notou que estivera sendo vigiado pelo famoso olhar atento da mulher à sua frente. - O que está ocorrendo aí? - perguntou e tocou o canto da sua própria testa para fazer menção à mente de Elissa. - E, a propósito, onde está meu sobrinho? Eu vou ficar arrasado se ele não estiver aqui. - em um rompante, vasculhou o bolso da jaqueta e entregou a ex-corvina uma embalagem de chocolate. - Sei que você é toda controladora, mas eu comprei um chocolate para ele. Espero que não fique triste mesmo consciente de que seu presente sou eu e isso basta. - dramatizou. Drama falso que só foi despertado assim que avistou um brinquedo praticamente escondido ao pé da mesa de centro. Por mais que estivesse curioso em saber onde estava Owen, era evidente que a criança não estava ali. Ele não tocava muito no assunto que o envolvia tanto para não ser invasivo quanto para não correr o risco de pisar em ovos. Sem contar que, de novo, havia sua mãe que nunca apagara sua clara obsessão por quem era seu neto. Ela o queria por perto, era verdade, mesmo consciente de que o filho de Thorne não tinha idade para não ser nada além de uma criança. O que era sua opinião, discordante com os mais velhos que não perdiam tempo em tornar seus filhos projetos de líderes. Atropelando-os, não lhes dando direito nem de se preocupar com quem seriam quando crescessem. Uma opinião que refletia sua vivência diferente, quase alternativa, no mundo dos Fraser. Afinal, crescera sem aquele peso e seguira sua vida dentro das suas crenças e dos seus desejos. - Hum… - o resmungo escocês se fez presente. Malcolm coçou a nuca e, finalmente, liberou um suspiro exausto. Tinha noção da proximidade do seu limite, mas não conseguia se dar ao luxo de parar por um só momento a fim de respirar adequadamente. - Eu estou bem cansado. - respondeu e cruzou os braços. Fitou-a, acompanhando sua nova movimentação que rendeu um toque tenro em seu queixo. Manteve a mesma posição, quase rígida, enquanto escolhia as melhores palavras para diminuir o efeito bombástico do que sabia quanto ao terreno que Elissa aparentemente parecia muito intentada a sondar. Não queria entrar naquele assunto, porque estava ali justamente para fugir dele. A questão é que ela e ele estavam conectados no que seguia transcorrendo as suas costas e, se acreditasse em karma, provavelmente diria que tinha assuntos pendentes com Thorne vindo de outras vidas. - Antes de entrar no papo sério, você acha que estou aqui por uns amassos? - Malcolm não deixou a informação passar batida. Riu e, com isso, voltou a relaxar, consciente de que sua reação a deixaria meio pau da vida, mas foi mais forte que si. - Eu deveria processá-la por pensar tão mal de mim. Eu vim aqui, querendo meu beijo de boa noite, como um bebê insuportavelmente dengoso, para ouvir que a minha verdadeira intenção é passar a mão no seu corpo maravilhoso. Elissa, eu posso não ser santo, ou muito honesto, mas eu gosto de deixar minhas intenções claras. Se esse fosse o caso, não estaríamos conversando. - disse, com muita serenidade. Liberou um assovio, assim que a mediu de cima a baixo, o que aumentou o brilho dos seus olhos tão quanto a lascividade em sua expressão. - Boireannach beag, eu só queria te ver mesmo, mas não recusarei se me der a chance de curtir alguns benefícios. - murmurou, de um jeito quase sedutor, assim que a rodeou e empacou atrás dela. Sorrateiramente, a beijou ao pé da orelha ao mesmo tempo em que acariciava seus braços. Demorou naquela posição para que pudesse sentir a textura da pele dela contra a sua e respirou profundamente, relutando contra o desejo que sempre despertava quando ficavam tão próximos. Não deveria estar fazendo aquilo, pensou em completa censura, visto que carregava uma bomba que teria que lançar mesmo naquela noite, e tratou de retornar ao seu campo de visão. - Você nunca perderá a chance de jogar minha mentira inocente na cara. Santa Margaret! - e, ao contrário daquilo irritá-lo, honestamente o divertia. - Sem minhas mentirinhas virgens não teríamos essa amizade amistosa com benefícios. - riu-se, o som aumentando gradativamente conforme notava que a mais nova nem sabia ao certo o que dizia, quicando entre várias reticências que tentavam trazer algum tipo de sentido. Sem pressa, encurtou mais a distância entre ambos e a envolveu pela cintura. - Você ainda diminui minhas sábias palavras. Assim fica difícil dobrar a meta das minhas frases prontas. - rebateu, suas mãos subindo, firmes, pela extensão das costas dela. - Mas tudo bem, é legal ver você toda defensiva, pois claramente meu hobby é quebrar suas pernas. - roubou-lhe um selinho carinhoso e devolveu o espaço pessoal dela. Podia sentir sua pele do rosto quente por causa do toque dela naquela região. - Não sei se você está pronta para ouvir o que tenho a dizer, ainda mais quando faz claramente pouco caso de mim, mas, como ninguém aqui me parece disposto a ser amante de ninguém, bom, minha mãe está planejando para além da minha coroação como líder um casamento. - por mais que usasse seu tom zombeteiro habitual, Malcolm sentiu seus músculos dos ombros enrijecerem. Tanto porque tinha raiva daquilo quanto pelo que a mente artimanhosa da sua mãe planejava caso se negasse. A Sra. Fraser ainda não tinha ideia do que acontecia entre Thorne e ele, e, no mínimo, seria escandalizador por todos os motivos óbvios. Sempre fora tratado como alguém que sempre quis ser Theodore e a amizade amistosa com benefícios que rolava ali afirmava o que não era verdade. Malcolm nunca quisera ser como seu irmão, mas todo mundo achara que sim. Por um tempo, até crera que sim de tamanho que era o esforço dos seus pais em anulá-lo. Principalmente a sua mãe, que parecia ter se esquecido totalmente daquilo. De uma hora para a outra, se tornara o filho de ouro. Como se nada do que ela provocara na sua infância, e na dos seus outros irmãos, tivesse acontecido. O que era revoltante de incontáveis maneiras que o deixaram bem puto ali mesmo. - Eu preciso me fazer confortável na Escócia o mais breve possível e estou adiando, inclusive, minhas demissões. - e era outra coisa que vinha pentelhando seu juízo porque não queria abrir mão de nenhum de seus cargos. - Minha intenção é negar tudo isso, porém, minha mãe deve ter uma carta para cada chance que eu disser não. Recentemente, eu recebi o documento do pacto e eu mandei com alterações. E estou fazendo isso desde que essa palhaçada começou. Duncan Mackenzie está adiantado no processo e eu estou sendo o empata-foda, o que só piora minha situação. Eu preciso dançar junto com os Mackenzie, ou algo assim, e não tenho feito nada além de adiar o que parece cada vez mais inadiável. - sem pensar duas vezes, se fez confortável no sofá. Esfregou o rosto com certa grosseria e bufou. Apesar da sua clara putice, com ele não existia delongas, porque era muito racional. Sem contar que convivera com mentiras escabrosas entre os Fraser para saber o quanto elas poderiam destruir tudo em questão de segundos. Por isso mesmo que mentia quando era caso de vida ou morte. Necessidade, algo preciso para um Inominável. - Se quiser ouvir o lado politicamente mais sério, eu posso dizer também. Owen tem uma cláusula de proteção que pretendo estender aos demais dito herdeiros. Não sei se isso funcionará, mas possivelmente sim se eu me aceitar como líder dos Fraser. - revirou o olhos, porque achava tudo aquilo ridículo. E parecia não ter uma maldita saída. - O que me faz perguntar uma coisa: quanto eu preciso rebolar para Margaret Fraser ter alta? Eu preciso dela e ela não me pareceu relutante em querer participar dessa transição quando assim propus. Eu não entendo nada. Ela entende e ela tem me tornado o procrastinador da história. - recordar do estado de Margaret ainda lhe dava calafrios. Automaticamente, se fazia lembrar de Davina, que logo menos trocaria aliança com Duncan. Algo que tentara evitar, mas sua mãe não dera chance de manobra. - De algum modo, ela diz que tem coisa incoerente e são essas incoerências que ando retornando. Creio que ela pode ser mais útil nessas cláusulas que eu. Ainda mais porque ouvi dizer que ela te ajudou no caso de Owen, então, acredito que temos uma única pessoa que poderia assegurar esses trâmites. O que seria um risco, não mentirei, porque ninguém quer saber dos herdeiros de Joseph. O que é contraditório, pois William é líder de direito e não dispenso que, depois do ataque a cabana que ele morava, ainda há o desejo de encontrá-lo. E, se ele estiver com a menina Mackenzie, serão dois coelhos em uma cajadada só. - Malcolm soou técnico, porque se tratava de uma somatória simples e repetitiva. Contudo, não queria dizer que não estava preocupado porque estava. E era essa preocupação que o deixava todo dia mais exausto. Theodore fora morto antes mesmo que pudesse assumir e aquilo nunca lhe parecera uma afronta de outro clã. Até porque, naquela época, tudo ocorria com fluidez. Na fase de Joseph que tudo começou a descambar e os Fraser remanescentes intentavam recuperar o que não existia de dignidade por meio da tal fusão. Tudo, de certa forma, era uma preocupação ambulante que vinha duramente tentando esconder. Camuflar entre seus outros trabalhos, tornando-o um pouco duvidoso graças ao seu humor tempestivo. - A título de curiosidade - se curvou, apoiando os cotovelos sobre as coxas. Observou Elissa, até conseguir o contato visual dela. Apesar das suas incertezas, o ex-grifino queria se fazer mais claro. Apesar de ter pensado em adiar aquela informação em nome de um clima melhor, não era o humano que se acercava de enrolações e, diante da mais nova, resolveu resgatar a informação extra sobre casamento. Não tinha conveniência naquilo, ainda mais porque seu tempo corria mais rápido e isso incluía a cobrança sobre seu poder de decisão - que não existia, pois, a cada dia que passava, sua mãe tentava responder por ele mesmo. Perguntava-se até onde aquele limite iria, pois, qualquer coisa que falasse, era certo que seria usado contra si e não podia incluir Elissa nesse bolo. Por mais que tudo que passara a surgir entre eles fosse leve e divertido, existia uma responsabilidade camuflada que ele mesmo parecia cada vez mais disposto a anular de sua consciência. Não era do pensamento de que não tinha nada a perder, mas era do pensamento de menos efeito colateral possível. E poderia simplesmente cortar aquele dito mal pela raiz já que, desde o início, tivera consciência de que se envolver com a ex-corvina seria uma furada graças ao background que possuíam. Mais precisamente um quem, que seguia sombreando-os e não era um sentimento confortável. Embora levasse tudo na esportiva, era humano e não estava conseguindo ter uma nova consciência que o fizesse simplesmente aceitar, sem dar um pio, abdicar da sua vida real e que incluía um relacionamento-não-relacionamento com Thorne. Talvez, falar o ajudasse a entender e assim seguiu em frente. -, eu não tenho a menor intenção de casar. - se levantou e arriscou se aproximar da ex-corvina. Por mais que ainda não compreendesse o que se passava entre Elissa e ele, tudo maquiado pelo papo de amizade amistosa, seu caminho até a casa dela deveria ser um significante. Ela tinha sido a primeira pessoa que pensou naquele dia, algo que vinha ocorrendo com mais frequência graças ao que vivia entre os Fraser. Poderia dizer que já estava ligado demais a ela, mas existia a verdade de que ele nunca fora de outra pessoa a não ser dele mesmo. Tudo era confuso, mas sempre atirava com o que pensava e esperava que fosse o suficiente. - O motivo é bem simples: eu prefiro ficar com você e a nossa amizade amistosa. O que pode soar nada cavalheiresco, porque você já acredita que estou aqui pelo amasso. Mas… É o que minha breguice permite no momento e isso pode não ser relevante pra você. Mas pra mim é e gostaria que soubesse. Principalmente porque o meu não querer no momento não é um poder, e não tenho a menor intenção de magoar você. - Malcolm tocou a sobrancelha arqueada e sorriu contidamente. Um sorriso que camuflava um pouco o estranho nervosismo que passou a sentir e que não demoraria a corar as pontas de suas orelhas. - Eu não tenho ideia do que acontece entre nós dois, mas eu pensei em você na hora de refutar o casamento, mesmo que mentalmente. Isso deve significar alguma coisa. - se calou e começou a andar pelo ambiente. Parou diante da estante em que havia fotos de Elissa com quem julgou ser componentes de sua família. - Normalmente não nego meus pensamentos fixos, porque eles costumam me dizer alguma coisa. Pode ser que eu esteja caidinho por você ou estou sendo um baita iludido ou um mero aventureiro. - se virou, colocando as mãos nos bolsos da calça. Via-se em um raro instante de seriedade. - Mas, de modo geral, sabemos que eu não posso inseri-la na minha montanha-russa que está muito perto de descarrilar. Como já disse, eu sou uma pessoa que lida com riscos muito bem, mas não posso fazê-lo consciente de que você não estará em nenhum momento segura. - concluiu, pensando no quanto mais de negativas teria que dar a sua mãe sem nenhuma cabeça ser desmembrada do corpo no processo. Subitamente, olhou para a porta, se lembrando do comentários sobre seus camaradas. - Quanto aos meus camaradas, eles estão bem. E, antes de ir, eu vou aceitar uma água. - particularmente, não tinha muito mais a dizer e era um tanto lamentável. Por ser tão focado em trabalho e em rotina, Malcolm não parava muito para ouvir seus próprios sentimentos. Não que os relutasse, mas nunca tinha tempo, o que se tornava um acúmulo que disparava a sua raiva. E, naquele silêncio, parecia que ganhara todo o tempo do mundo para compreender ao menos o básico. No caso, de que não queria ir embora. - Bom, eu não sei se ficarei depois disso. Nem sei se poderíamos continuar com esse jogo, mais porque minha mãe é a real stalker da parada. Mas, como disse, eu gostaria de ficar, com você, ao menos por hoje, porque eu não sei o dia de amanhã.
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Ainda era curioso e surpreendente para Elissa a forma quase imediata que seu corpo correspondia ao mais simples estímulo proporcionado por Malcolm. Era intenso de uma maneira que parecia-lhe inexplicável, que a assustava e inebriava em proporções iguais. Destoava de suas outras experiências com o sexo oposto, o que era mais um motivo para tentar se conter no que condizia ao ex-grifino. Porém, tornava-se complexo manter-se extremamente racional quando a fagulha de eletricidade, que aquecia sua pele, parecia continuar a reverberar em seu corpo mesmo depois de se afastarem. Uma respiração profunda escapou a ela antes que voltasse a se movimentar pelo espaço que dividia a sala e a cozinha de sua casa. Um espaço que, como Malcolm bem pontuara, era sistemática demais para deixar bagunçado, contudo, era impossível não deixar algo fora do lugar quando se vivia com uma criança de quase três anos de idade. Thorne apoiou-se ao balcão da cozinha onde colocou o chocolate que trataria de entregar a Owen no dia seguinte. Se recordasse, pontuou uma vozinha no fundo de sua mente. Naquele instante parecia um tanto improvável que se recordasse de fazer aquela entrega quando, contrariando suas expectativas, o mais velho parecia disposto a ao menos dar-lhe uma atualização do que acontecia na Escócia. Queria ouvi-lo, entendê-lo, ajudá-lo, porém, diante das implicações que os rodeava, teria compreendido se fosse mais cômodo para Malcolm não compartilhar. Eram raras as vezes em que Elissa cometia equívocos ao ler outras pessoas e, a convivência vinha fazendo-a perceber que Malcolm era o tipo de pessoa que costumava lidar sozinho com os próprios problemas, um alguém que não tinha o costume de ser cuidado, e era provável que esse também fosse o motivo pelo qual ele se utilizava de bom humor para camuflar certos incômodos. Embora aquela fosse uma relação estritamente pessoal, era difícil desligar-se de seu viés profissional, e era esse viés que lhe fazia ponderar sobre quanto mais de pressão ele suportaria sem estourar. Apesar de não questionar demais a respeito, a ex-corvina possuía uma ligeira ideia de como os desdobramentos na Escócia exigiriam e preencheriam cada espaço da vida dele, fazendo-o sufocar. No entanto, ter aquela noção não a preparara para o fato de que se sentiria extremamente incomodada em perceber o quanto tudo aquilo cobrava dele. Em perceber o quanto seria roubado do mais velho e, de certa maneira, também seria roubado de si. A ex-corvina pressionou os lábios com certa força, tornando-os uma linha rígida. Por mais que desde o primeiro instante estivesse ciente de que compartilhavam algo que dificilmente se sustentaria por causa do background de ambos, não era confortável ouvi-lo informar que a Sra. Fraser tinha planos para casá-lo. A informação não a surpreendia, não quando conhecia a estranha obsessão que os integrantes daquela família possuíam por casamentos. Theodore a infernizara com a ideia de que precisavam casar, o que quando parara para pensar a respeito recentemente não lhe entregava qualquer sentido, afinal, não era de clã, e não possuía o que acrescentar àquela família que tratava casamento como um negócio. Além disso, possuía o exemplo de William, torturado por dias por não corresponder ao desejo familiar de assumir a liderança, por se recusar a casar com uma mulher que não escolhera. Lembrança que a fizera sentir os pelos de sua nuca arrepiarem-se no mais puro temor. Se com William, onde não existia qualquer sombra de intervenção Mackenzie, os Fraser chegaram ao extremo para concretizar os planos familiares, não podia sequer imaginar o que reservariam a Malcolm se ele continuasse a não corresponder ao esperado. Norte de pensamento que prontamente empalideceu a face de uma Elissa que sentia o estômago embrulhar. Era difícil conceber que seu filho era cobiçado por aquele sistema abusivo que não respeitava a um só indivíduo. Um sistema que não respeitaria Malcolm. Que não a respeitaria. E ali seu pensamento voltava a linha tênue que sabia que não deveria ter atravessado e que ainda assim o fizera. Era tarde demais para retroceder. Elissa liberou o ar, que sequer havia percebido que prendia, pelos lábios entreabertos. De repente sentia-se em uma espécie de turbilhão emocional e para tentar se desprender de tal sensação começou a se mover uma outra vez pelo ambiente. Tirou os saltos e os colocou atrás da porta de onde tirou os seus chinelos, e em seguida caminhou em direção a geladeira onde tratara de guardar o chocolate e pegara a jarra com água. Colocou-a sobre o balcão assim que encheu um copo para si. Enquanto bebericava a água, vislumbrou a figura de um Malcolm que parecia não saber muito bem qual lugar deveria ocupar naquela sala. A lógica voltava a recordá-la que ele realmente não deveria estar ali. Porém, para além da lógica, existia o fato de que não gostaria que ele fosse a lugar algum. – Bien, você sabe que não sou responsável direta pelo tratamento de Margaret mas, como também sabe, sou eternamente grata a ela por ter me ajudado a manter a guarda de Owen e por isso me mantenho o mais informada possível. Até onde sei, não será complicado conseguir a alta dela. Fisicamente ela está bem. No entanto, mentalmente a questão é um tanto mais delicada. - pontuou, demonstrando certa calma, depois de um considerável espaço de tempo em silêncio. Escolhera se pronunciar primeiramente a respeito de Margaret porque era mais simples, ao menos a princípio, dar indicativos do que tinha um real conhecimento. Ater-se àquele viés também dava-lhe tempo para acalmar mente e emoções. – Ela ainda inspira cuidados. O que ela viveu gerou uma série de traumas e transtornos que precisam de tratamento contínuo. Imagino que para liberarem-na você terá que se responsabilizar por mantê-la em tratamento. Ela pode vir a ser resistente, como por vezes ainda é, mas é essencial para que tenha alguma qualidade de vida. Uma vez fora do hospital é essencial mantê-la ocupada, mas recomendaria o cuidado de evitar situações que podem vir a se transformar em gatilhos. – informou, e era mesmo crucial que Margaret não abandonasse o tratamento no meio. Sequelas e traumas como os que ela adquirira poderiam facilmente acompanhá-la para o resto da vida. No entanto, embora estivesse disposta a endossar a alta se fosse necessário, não negaria que possuía receio do que um retorno a Escócia causaria a jovem Fraser. - Quanto a William, imagino que ele se encontre inalcançável no momento, assim como Georgia. Penso que você precisará conversar com ambos em um futuro próximo. Na verdade, talvez seja melhor fazer isso o quanto antes. Posso ajudá-lo nesse sentido. - e era tudo o que diria sobre os dois adolescentes. Embora confiasse em Malcolm não era seu direito tornar a gravidez de Georgia de conhecimento de outras pessoas. Ainda mais quando estava consciente de toda a questão sensível que acompanhava aquela gestação. Tanto por Georgia possuir questões psicológicas, que se não tratadas adequadamente poderiam tornar caótico o período gestacional, quanto por temer o que aquela informação causaria uma vez no cerne de Fraser e Mackenzie. – Ah, você perguntou por Owen, e sinto muito em decepcioná-lo, mas ele realmente não está aqui. Creo que poderia inventar uma desculpa qualquer para a ausência dele, mas prezo por sermos honestos um com o outro, e quando digo que confio em você não é da boca para fora. Bien, resumidamente, não me sinto segura em trazê-lo para casa desde que perdi a proteção do Fidelius. Sei que pode soar como exagero da minha parte, mas... – interrompeu-se, e limitou-se a encolher os ombros como quem se desculpava por um comportamento que poderia parecer irracional com relação a proteção do filho. Era um comportamento que a fazia andar sobre a linha tênue da superproteção, mas que acreditava que era necessário quando lidava com famílias que possuíam poderio superior ao seu. – Aliás, agradeço que tenha se preocupado em criar uma cláusula que proteja a ele e aos outros herdeiros, porém, não consigo sentir alívio com essa informação quando estou ciente do que essa proteção custa. - disse, e ali conjecturava que a liberdade de seu filho e dos outros herdeiros claramente custaria a do próprio Malcolm. Injusto, ponderou, e detestava injustiças. Enquanto ponderava àquele respeito deu a volta ao redor do balcão que separava a cozinha e a sala. Por um instante apenas acompanhou com o olhar enquanto o ex-grifino acomodava-se no sofá. De onde se encontrava possuía uma melhor visão do rosto dele. Dali conseguia identificar o cansaço que o mais velho dizia sentir. Um cansaço que imaginava que ia muito além do físico. - Duh, você me perguntou o que se passa aqui - usou-se do indicador para tocar com suavidade em sua têmpora esquerda. -, bien, no momento eu quase lamento que você não tenha vindo pelos amassos. – disse, arqueando brevemente uma de suas sobrancelhas, no que deveria soar como uma brincadeira. Porém, como ainda se sentia em uma espécie de turbilhão emocional, não tinha a certeza se soara como esperado. – Estou brincando. Aliás, ainda discutiremos esse tópico adequadamente. – disse, recordando-se da breve irritação que o comentário dele causara em si. Nada que fosse realmente relevante, era apenas Malcolm a empurrando para fora da zona em que se acomodara nos últimos anos. – Bien, para falar a verdade, há várias coisas se passando na minha mente nesse momento. Até um pouco mais que o normal. Pero, irei resumir a três. Em primeiro lugar agradeço que tenha me esclarecido questões que estavam fora do meu alcance. Como disse, prezo por sermos honestos, e não gostaria de receber a informação de um possível casamento por outra pessoa. – e falar naquele dito casamento parecia tornar a informação um tanto mais real, o que lhe gerara um novo embrulho no estômago. Embora não estivesse surpresa com aquela possibilidade era impossível não reagir negativamente a ela. – A segunda questão em minha mente envolve o fato de que me sinto incapaz de compreender sua mãe. A forma como ela costuma agir não faz sentido para mim. Como mãe não faz. Não é uma função materna determinar cada passo que os filhos darão na vida. Muito menos colocar nossos anseios acima dos deles. É nocivo. Desculpe, eu sei que ela é sua mãe, mas é uma mulher completamente impossível. – pontuou, com um tanto a mais de veemência. A ex-corvina já possuía inúmeras ressalvas com a Sra Fraser e aquele novo leque de informações apenas somava negativismo a forma que a enxergava. Thorne fechou os olhos e pressionou as pálpebras com as pontas dos dedos enquanto liberava mais uma respiração profunda. Ações que tinham como objetivo acalmar aquele turbilhão que continuava a ganhar intensidade dentro de si. Ao reabri-los, seu olhar direcionou-se uma outra vez a Malcolm. – E, bien, há você. – disse, em um tom de voz ligeiramente mais baixo. Elissa deu dois passos em direção ao sofá em que Malcom seguia acomodado. Seu olhar seguia preso ao dele e era um tanto difícil manter a concentração no que queria dizer. E ali, diante do que possuía em mente, talvez precisasse do cuidado de quem pisava em ovos. – Hombre, é impossível não me preocupar com você diante de tudo que pode acontecer. Não digo isso apenas por existir a chance de que precisemos nos afastar para que assuma as posições que sua família demanda, mas porque penso que vi e ouvi o suficiente sobre clãs para temer o cenário que se desenha. Eu estava no Mungus na noite em que resgataram William. Pensei que ele não sobreviveria. Haviam inúmeras lacerações, cicatrizes que nunca vão abandonar o corpo dele, e uma hemorragia interna difícil de conter. Tudo o que foi feito a ele foi por recusar o que é oferecido a você agora. Tenho certeza de que é completamente capaz de lidar com a situação, de evitar um destino parecido, mas é impossível que não me preocupe. Para o seu eterno convencimento, sua segurança também é importante para mim. – Elissa meneou a cabeça vezes seguidas como forma de corroborar o que dizia. E ali, tanto o tom presente em sua voz quanto a maneira que o encarava deixava transparecer o quanto realmente se importava com o ex-grifino. – Además, Malcolm, você está me dando informações políticas e burocráticas, mas muito pouco me diz o quanto isso o afeta em nível pessoal. Tudo bem, eu entendo. Me parece, e posso estar equivocada, que você está acostumado a cuidar de si mesmo. Que usa desse apurado senso de humor para passar a impressão que certas questões não o atingem tanto quanto na verdade o fazem. Vean bien, você está sendo impelido a abrir mão de aspectos da sua vida que me parecem que te são importantes, e por maior que seja seu nível de controle próprio, em algum momento chegará no seu limite. Isso também me preocupa. Não é uma critica, e muito menos intento mudar sua maneira de agir. É só, bien, uma lembrança de que não precisa necessariamente lidar com tudo sozinho. Posso não ser de grande ajuda no cenário geral, mas estou aqui por você. – completou, novamente encolhendo os ombros como quem se desculpava porque sabia que talvez tivesse ido um pouco além do que deveria. A ex-corvina ainda possuía muito em mente, mas a prudência a impelia a ponderar antes de voltar a abrir a boca. Porém, sequer tivera tal chance pois Malcolm parecia ter algo mais a dizer. Logo direcionou toda à sua atenção ao mais velho. Por um momento considerável manteve o olhar preso a dele, inebriada pelo brilho presente em suas orbes azuis. Naquele instante ouvi-lo fora agridoce. Agridoce pois ao mesmo tempo em que percebia que estavam em páginas similares no que correspondia ao que sentiam um pelo outro, o que fora o suficiente para acelerar seus batimentos cardíacos, também percebia que o tempo para entender e vivenciar tais sentimentos parecia curto. Mínimo. Percepção que a fez engolir em seco. A ex-corvina novamente manteve-se em silêncio enquanto o acompanhava andar pela sala antes de posicionar-se a frente, mas a certa distância, de si. – Malcolm. – chamou, com afabilidade, atraindo a atenção dele para o seu rosto uma outra vez. Um sorriso breve, que expressava a melancolia que sentia, marcou os lábios cheios de Thorne. Melancolia que era também perceptível no brilho em seu olhar. – Escucha, é bastante ultrajante que exista em você alguma dúvida de que é sim relevante pra mim ouvi-lo afirmar que não tem a intenção de se casar e que prefere manter o que temos. É claro que é relevante. É óbvio. Muito mais do que você imagina. Assim como também deveria ser óbvio que não quero que você case, porém, reconheço que talvez não seja meu direito pedir isso. Não quando parece haver tanto em jogo. - e a sensação de que tudo aquilo era bastante injusto voltou a norteá-la. Porém, estivera ciente desde o inicio das possíveis implicações, restava aprender a lidar com elas. - Vean bien, sei que me mantenho na defensiva mais do que deveria, mas, a essa altura dos acontecimentos, já deveria ter percebido que você não estaria aqui, que não estaríamos tendo essa conversa, se duvidasse das suas intenções comigo. – meneou a cabeça, expressando sua incredulidade, enquanto dava alguns poucos passos em direção a ele. Estavam bem mais próximos que antes, mas sem que invadisse o espaço pessoal dele. Aproveitou-se daquela proximidade para escrutinar suas feições com atenção. Seu olhar demorou-se um tanto a mais nas pontas coradas de suas orelhas, o que levou um brevíssimo sorriso aos seus lábios. – Agradeço sua intenção de me manter segura, assim como agradeço que não tenha a menor intenção de me magoar. No entanto, acredito que nada disso está sob seu controle. – disse, com uma tranquilidade que novamente destoava das emoções que avolumavam-se dentro de si. – É tarde para preservar meus sentimentos. Talvez seja tarde para os seus também. – completou, prendendo seu olhar ao dele, como se assim pudesse demonstrar um pouco a mais do que dizia. – Penso que estivemos andando sobre uma linha tênue desde que o atendi pela primeira vez no Mungus. Ao menos, no meu caso, desde então tive em mente que precisava manter uma distância emocional de você, por todos os motivos óbvios, mas sentimentos não são domáveis. Eles costumam se sobrepor a razão. É, talvez você esteja caidinho por mim, e tudo bem, eu também estou por você. – ditou, com simplicidade. Elissa costumava sentir-se muito à vontade com as próprias emoções, no entanto, naquele viés romântico travara-se desde a experiência com Theodore. Era no mínimo irônico que se sentisse desperta naquele sentido justamente por Malcolm, que a cada dia mais enxergava como um contraponto ao irmão. – Não posso definir sozinha o que acontece entre nós, mas, aparentemente, enxergar a situação como uma amizade amistosa com benefícios é o meio termo que temos direito por ora. É pouco, ao mesmo tempo que é muito. – divagou, ponderando que realmente era aquela a definição que melhor cabia. Não parecia-lhe o suficiente, não quando seus sentimentos por Malcolm evoluíam conforme conviviam. Mas diante de toda a situação que os englobava era muito mais do que poderiam e deveriam ter. Norte de pensamento que a fez sentir a necessidade de aproximar-se dele. Com gentileza usou-se de seu indicador para empurrar ligeiramente o queixo de Malcolm para baixo e em seguida colocou-se na ponta dos pés para encostar sua testa a dele. Ali, tão perto, era impossível não ser capturada pela presença dele. Lentamente deslizou as pontas dos dedos pelos braços dele, cobertos pelo casaco, até que entrelaçasse seus dedos aos dele. – Queria ter uma solução para o seu problema. Nosso. Mas tudo que consigo pensar é em levá-lo para Porto Rico, e mantê-lo o mais longe possível desse inferno. – murmurou, apertando suas mãos nas dele como se assim pudesse passar algum conforto. – Inclusive, excelente cenário em que poderia realizar a fantasia de vê-lo usando apenas uma bermuda de banho. Imagino que o sol realce suas adoráveis sardas. – completou, com um ligeiro humor que não disfarçava o fato de que continuava tensa. Afastou-se, ajeitando sua postura, apenas o suficiente para que tivesse um melhor vislumbre do rosto de Malcolm. – Escucha, não sei por quanto tempo mais podemos levar isso adiante, ainda mais com a possibilidade de sua mãe descobrir, mas, como disse, é tarde para preservar os meus sentimentos. Mandá-lo ir embora agora ou no futuro, a sensação será quase a mesma. Você pode ficar por hoje. Enquanto nada for definitivo na Escócia você pode voltar sempre que quiser me ver. Sempre que precisar de mim. Sempre que quiser esquecer do mundo lá fora. – disse, com o olhar preso ao dele, sentindo-se pouco a pouco tragada por aquela conexão que parecia existir entre ambos. Gentilmente Elissa soltou as mãos do mais velho para que pudesse abraçá-lo pela cintura. Apoiou a testa em seu tórax, o que se provara um erro porque ali fora acertada de maneira certeira pelo cheiro dele. Um cheiro que mexia com seus sentidos, que a fazia sentir a adrenalina espalhando-se por sua corrente sanguínea. Suavemente a ex-corvina depositou um beijo na região, por cima da camisa, e em seguida voltou a colocar-se na ponta dos pés para que o beijasse no pescoço. Pele quente e macia que voltou a beijar, dessa vez exatamente sobre uma veia pulsante. Puxava com as pontas dos dedos o tecido da camisa que ele vestia conforme traçava um caminho de beijos entre o pescoço e o queixo do ex-grifino. Mordiscou-o, brevemente, no queixo antes de voltar a encará-lo. - Para quem se designa como presente você está é sendo muito do presenteado. - disse, e existia em si uma intensidade que parecia ser corroborada pelo brilho sutil de lascividade em suas orbes escuras. - Bien, seus camaradas que me desculpem, e sua água pode esperar um tantinho. No momento preciso atenuar ligeiramente a minha fama de maligna. - completou, antes que encerrasse qualquer distância entre os dois para que pudesse beijá-lo apropriadamente.
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doctorlissa · 5 years
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thejammybastard‌:
- Santa Margaret, boireannach beag! Eu realmente achei que seu estagiário tirou uma da minha cara ao me dizer que você estava de folga. Acredito que minha bunda congelou depois de 10 horas de espera. - Malcolm se anunciou na semi-escuridão assim que reconheceu a figura de Elissa. Com a queda do feitiço Fidelius por toda a comunidade bruxa britânica, não foi nem um pouco complicado se fazer à vontade ao pé da escada da casa dela. E, para evitar sustos, colocou-se na claridade, pois assim seria fácil identificá-lo. Ao menos, era o que esperava assim que o distanciamento se encurtou e ofereceu seu melhor sorriso de pentelho. - Sei que não devo aparecer na porta da sua casa. Obviamente não porque você nunca me convidou, o que é um detalhe importante, mas por, bem, você sabe. - deu de ombros em referência ao que deixou reticente. Thorne sabia o que ele queria dizer, mais precisamente sobre a caminhada política que os Fraser continuavam a traçar - codependente a ele. A cada dia que passava, tal fato o angustiava, mais do que gostaria. Mais do que poderia imaginar visto que não era somente sua pessoa que responderia pelas novas cláusulas que surgiam inspiradas naquela fusão. Uma cláusula mais esquisita que a outra, o que o levava a postergar seu esperado envolvimento. Nunca quisera ser líder de um clã que sequer via como seu. Ao menos, não com todo aquele peso hierárquico graças ao fato de que crescera à parte de tudo aquilo. Mas a angústia se plantou e crescia a cada visita de sua mãe, que fazia cobranças que sempre dera graças a Deus por nunca ter sido envolvido - e sempre rira da cara do irmão. Somado ao fato que seguia com sua rotina absurda de trabalho, o ex-grifino tinha noção de que se aproximava de uma estourada de limite. E deveria ser por isso que seguira até ali em vez de bater ponto na Escócia. - Estou consciente de que posso ganhar um tapa, mas aceito continuar aqui. Além do mais, tomei minhas medidas para não ser seguido e tem uns camaradas meus de vigia. - emendou, com um pouco de atraso visto que ficara perdido entre seus pensamentos. - Mas sei que você não vai resistir minha cara de abandono e de quem só quer um beijo na boca pra dormir como um anjo. - declarou como se anunciasse uma receita de bolo. Malcolm já era normalmente cara de pau. Dando mais brecha, ele quebrava os limites do seu natural descaradamento. O que não deveria acontecer. Ao menos, não de acordo com um dito futuro que pouco a pouco se tornava impossível de contornar. Quanto mais via sua mãe, mais sua liberdade era ameaçada. Principalmente a liberdade que tinha de certo modo com Elissa e se viu engolindo em seco só de pensar na sua mais recente novidade - e que deveria contar a ex-corvina o mais breve possível. Só não sabia se seria naquela noite, pois almejava um segundo de paz. - Por outro lado, se preferir também posso dizer a verdade. Que é muito dolorosa porque eu desviei meu caminho da Escócia pra te ver. Pronto, dizendo a verdade, nada mais que a verdade. Agora você escolhe qual é a melhor opção. Ou, pra garantir a terceira chance, você pode me fazer companhia, totalmente a troco de nada. - concluiu. Sua insolência não tinha limites, nem em tempo ruim. 
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- Madre de Dios. - Elissa murmurou, em um misto de nervosismo e alivio, ao se aproximar o suficiente e identificar que a criatura à sua porta era Malcolm Fraser. Uma respiração profunda escapou a ex-corvina. Desde a queda do fidelius vinha convivendo com uma insuperável sensação de insegurança, que estava muito mais atrelada as suas questões com os Fraser do que ao atual momento do mundo bruxo. Por mais que estivesse judicialmente assegurada contra aquela família, sabia que, se quisessem, agiriam contra si sem que ninguém pudesse resguardá-la. Por conta disso, por mais que a deixasse saudosa e um tanto angustiada, fazia semanas que não trazia Owen para sua casa. A segurança dele era primordial para si, e enquanto não tivesse garantias de que não corriam risco, não o deixaria no que poderia ser visto como posição vulnerável. Podia, é claro, ser uma resposta exagerada e irracional de sua parte, mas era impossível para si não encarar os Fraser, especialmente em vias de uma fusão com os Mackenzie, como um problema - um que se iniciara muito antes da morte de Theodore. Mantê-los distante de si, especialmente de Owen, era sua prioridade. Ao menos era assim que pensava na maior parte do tempo. Contudo, era inegável que tornava-se extremamente contraditória quando o assunto era o homem em sua porta. Por mais que fosse resistente a aproximação com os Fraser, especialmente os ligados a Theodore, existia o que poderia considerar com o ponto fora da curva, e era exatamente ali onde Malcolm se encontrava. Não havia explicação lógica para mantê-lo ao seu redor. Era ainda mais ilógico o fato de que depositava nele uma confiança que raramente oferecia a figuras do sexo masculino. Contudo, naquele ponto, Elissa simplesmente parara de tentar entender e apenas se permitira vivenciar o momento. - Hombre, levando em consideração a quantidade de vezes que seu humor duvidoso o intimidou, duvido muito que ele teria a coragem de mentir para você. Pero, creio que seria uma vingancinha muito justa. - disse, a respeito de seu estagiário, enquanto caminhava em direção ao ex-grifino. – Por cierto, será que sempre precisarei recordá-lo que o aparelhinho trouxa que carrega no bolso serve para entrar em contato? Se tivesse mandado mensagem teria vindo mais cedo, o que impediria a possível gangrena do seu belíssimo traseiro escocês. Hm, precisa que eu cheque se está tudo em perfeito estado da cintura para baixo? – questionou, arqueando uma das sobrancelhas, como se o desafiasse, em um gesto que não disfarçava o quanto estava achando divertido. Divertimento que fora substituído por um semblante um pouco mais sério enquanto encurtava a distância entre ambos ao subir alguns degraus da escadinha de acesso à sua casa. - Bien, a prudência me diz que deveria testá-lo para saber se você é realmente você. Pero, tenho a impressão que qualquer um usando polissuco não conseguiria capturar à sua... - a ex-corvina estreitou os olhos enquanto o encarava. - ... como posso dizer, hum, admirável insolência, creo. - um sorriso bonito moldou os lábios cheios de Thorne. Nos últimos meses, devido à situação que se agravava no mundo bruxo, muito pouco sobrava tempo para divertimento. Porém, por mais que Malcolm soubesse como irritá-la, ele também a divertia. O que era muito bom, pois dava-lhe a sensação de conforto em meio a turbulência. - Hm, você não vai ganhar um tapa, ao menos não no momento, mas estou considerando se, por conseguir o meu endereço, devo colocá-lo na minha longa lista de stalkers. - murmurou, e embora mantivesse certa descontração, uma breve careta pontuou suas feições a lembranças dos ditos stalkers. Pensamento do qual distanciou-se para dar atenção a figura de Malcolm. Por mais que ele soasse descontraído como de costume, não lhe passara despercebido certa tensão por parte dele. Era claro que poderia ser um reflexo do fato de que ele realmente não deveria estar ali. Ao menos não quando estava envolvido nas questões dos Fraser, menos ainda pela situação um tanto delicada que os envolvia. - Pero, vou considerar sua presença como um imenso upgrade com relação a última vez que tive uma visita inesperada. - murmurou, um tanto distraída em seus pensamento. Porém, recobrou sua total atenção ao ouvi-lo dizer que trouxera companhia. Logo a ex-corvina olhou ao redor, tentando identificar qualquer pessoa que destoasse da vizinhança, porém, estava escuro demais para isso. – E, bien, talvez estivesse esperando uma ocasião especial para convidá-lo para uma visita. Talvez você tenha arruinado essa possibilidade. De qualquer forma, você também nunca me fez um convite desses. Estamos quites. – disse, retomando a conversa, enquanto rolava os olhos em falsa exasperação. Elissa subiu os últimos degraus da escadinha, postando-se diante do mais velho. Encarou-o, e precisou de certo esforço para não se deixar desnortear pelo brilho singular presente em seus olhos azuis. A ex-corvina apoiou as mãos nos ombros de Malcolm, e as deslizou lentamente em direção ao torso, como se estivesse desamassando seu casaco. Inclinou-se brevemente em direção a ele, internamente agradecendo pelos saltos que a desobrigava de ficar na ponta dos pés para alcançá-lo. Puxou-o, com delicadeza, apenas o suficiente para que pudesse depositar um beijo singelo em seus lábios. – Creio que ainda está cedo para um beijo de boa noite, portanto, ao menos por ora, se contente com um de boas-vindas. Vamos ver se faz por merecer. - murmurou, como se contasse um segredo. O sorriso voltou a pontuar seus lábios e fora acompanhado por uma breve piscadela. Elissa afastou-se de Malcolm e caminhou em direção a porta. Tirou a varinha do bolso do casaco e executou alguns feitiços, recomendados por Aiden, para que pudessem entrar. Voltou a guardar a varinha, e em seguida virou-se em direção ao mais velho. - Bien, longe de mim ser a mal-educada que o deixa na rua depois de horas esperando. Entre hombre. - convidou, enquanto empurrava a porta para que ele adentrasse. - Sinta-se à vontade, e tente não reparar em qualquer possível bagunça. - apesar de mal parar em casa, por causa do excesso de trabalho no Mungus, tudo parecia bem organizado, ainda mais naquele momento em que Owen muito pouco voltava para a casa. A ex-corvina tirou o casaco, pendurando no gancho atrás da porta, e em seguida voltou a encarar o mais velho. Franziu o cenho, como quem ponderava. Era muito perceptiva, e novamente tinha a impressão de que algo o incomodava. Embora evitasse questionamentos a respeito do que transcorria na Escócia, possuía consciência que era uma questão de tempo até que Malcolm fosse sufocado pela situação. Elissa receava por ele, assim como também o fazia por William, Georgia e a criança que ambos esperavam. - Está tudo bem? Você está bem? - questionou, gentilmente, enquanto voltava a se aproximar dele. Com delicadeza tocou o maxilar do ex-grifino com a ponta de seu indicador. Gesto tenro, simples, mas, assim como o selinho anteriormente dado, aquele contato entre peles aquecia à sua. – Escucha, fico lisonjeada que tenha desviado o seu caminho da Escócia até aqui só pra me ver, me faz querer dar aquele beijo que você pediu. Porém, também me faz pensar que, talvez você tenha desviado o seu caminho porque além dos amassos, e me sinto bastante constrangida em usar essa palavra, talvez você precise, não sei, reclamar sobre o dia, expulsar as chateações. - pontuou, calmamente, enquanto o encarava. - Pero, como disse naquele dia em que conversamos sobre a balela dos transportes mágicos... - voltou a estreitar os olhos a lembrança de que só descobrira a real profissão do ex-grifino porque Olivia Popovich deixara escapar. Mentira descabida que a deixara reticente, mas que não a impedira de esclarecer a questão na primeira oportunidade. - ... a nossa amizade amistosa com benefícios.... - voltou a rolar os olhos, dessa vez em exasperação genuína por usar aquele termo. - ... é delicada por dezenas de fatores, e uma boa comunicação nos ajudará a manter os problemas a distância. Ou, ao menos, sob controle. - meneou a cabeça por vezes seguidas para corroborar o que dizia, algo no qual realmente acreditava. - Escucha, aquela bela e brega analogia que você fez sobre o cinto de segurança, bien, é recíproca. Embora pequena, posso ser um excelente cinto de segurança para você. Então, se conversar pode vir a deixá-lo menos tenso, porque me parece que você o está, então conversemos. Sou uma ótima ouvinte e quero ajudá-lo no que for possível. Agora, se você ainda não se sente à vontade para dividir qualquer coisa, então espere o seu próprio tempo. - completou, pressionando brevemente algumas das sardas que ele possuía no queixo. Sempre que estavam tão próximos era acometida pelo desejo de contar e beijar cada maldita sarda que marcava a pele do mais velho. Suspirou. - Sem pressão, cariño. – murmurou, antes de afastar-se apenas o suficiente para devolver a ele o espaço pessoal. - Bien, creio que posso lhe fazer a companhia totalmente a troco de nada, embora, talvez precise me explicar o que exatamente quer dizer com isso. - arqueou as sobrancelhas em um misto de desafio e curiosidade. – Además, aceita alguma coisa? Uma bebida talvez? E, ah, devemos chamar seus camaradas? - o último questionamento fora moldado por um óbvio sarcasmo. - Não tenho certeza se é educado deixá-los ao relento. - completou, com um mínimo sorriso irônico marcando o canto de seus lábios.
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doctorlissa · 5 years
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fragmentedos‌:
Não houve delongas para que Olivia seguisse o caminho que Elissa abrira assim que as introduções entre ambas se encerraram. Honestamente, não achava que acabaria acompanhando-a pelos calcanhares, pois, considerando que nem Thorne sabia onde estava Malcolm, não existia mais nada que fosse do seu interesse naquele lugar. Uma meia mentira, por assim dizer, pois a ex-corvina seguiu entremeada ao encontro inusitado meramente para saber até onde o mesmo iria. Era curiosa nata e esse traço da sua personalidade se exacerbava quando tinha alguma informação privilegiada ou quando estava à frente de um processo. Naquele caso, o fato de que a mulher ao seu lado estava envolvida com um parente seu. Era bizarro ter aquela curiosidade, mas não tanto quanto reconhecer o cara em questão, que movera sua visita ao Mungus, como um parente. Evitava pensar no combo codinome família que ganhara de uma hora para a outra, mas, seja lá qual fosse a trama do universo, Malcolm entrara na sua vida como se estivesse lá a tempos. Muito do confortável. Apesar da petulância da parte do primo distante, Popovich conseguia ser um tanto amena com quem chamava de imbecil ou de pentelho o tempo todo, e devia ser porque se reconhecia em algumas atitudes dele. Inclusive no fato de que ele escondia determinados assuntos profissionais para agir na surdina quando necessário. Enquanto ele era um mercenário, ela aprendera a se camuflar e se disfarçar para ter o que queria. Informação. E ambos trabalhavam extremamente focados em dianteiras que, considerando o clima do mundo bruxo e mais o que achava que descobrira sobre os Cross, eram muito mais que necessárias. Quebrar burocracias era seu estilo de vida e, quanto mais gente disposta a se comprometer com tal aspecto, mais se ganhava pontos com sua pessoa. Tudo bem que tinha horas que Malcolm a irritava, mas esse deveria ser o segredo para que Olivia conseguisse funcionar entre alguns humanos. Aiden era um exemplo de relação de anos, que, claro, ia mais além dos rompantes irritados de ambos. Um humano consciente não os aguentaria por tanto tempo e era aí que Malcolm tinha outros créditos por ter o raro talento de lidar com os dois. De quebra, porque ele criava um contraposto divertido quando ela mesma criava comparações de comportamento com relação a Cross. - Ah, como ele está grande. - disse, de repente, ao espiar Elissa por cima do ombro da mesma. Olivia tinha se empinado um pouco na direção do celular da mais nova em reflexo a uma foto que não precisava de muito para sacar que se tratava do filho dela. - O tempo passa rápido. - concluiu o comentário, se afastando de Thorne e indo se servir. Não era adepta do café puro e acabou escolhendo a versão que dosava um pouco de leite. Perdeu-se entre as opções do que poderia comer e, depois de bancar um pacote de bolacha, demorou para encontrar sua companhia que já estava acomodada a uma mesa. Feito isso, se sentou, anuindo para sinalizar de que acompanhava o fluxo das palavras da ex-corvina. - Não deve ter ocorrido nada de drástico e isso dificulta ainda mais minha busca pelo peregrino Fraser. - respondeu, retomando o ponto de vista de Thorne que não se poupara em esclarecer seus questionamentos anteriores. Abriu o pacote de bolacha e o girou no centro da mesa para oferecer a mulher à sua frente. Nem chegou a dar a primeira mordida quando se viu presa ao comportamento tenso da mais nova. Ergueu o olhar, revelando sobrancelhas arqueadas, ao ter apurado o fato de que ela claramente titubeava para anunciar o conhecimento sobre seu procurado. Sentiu vontade de rir. Sem motivo algum e tratou de consultar o relógio para saber o quanto “logo menos” seria o mais rápido possível para que o dito cujo aparecesse com a maior cara de pau. Um cara de pau que parecia estressar Elissa à sua maneira. Conclusão oriunda pela forma como ela se movia ao ter que pensar nele para lhe dar respostas. - Encaminhar sua alma para o inferno? - foi mais forte que Olivia se segurar aquele trecho de informação. Não existia malícia, claro, mas o cérebro de Popovich era podre em alguns quesitos. Ainda mais quando estava se segurando ao máximo para tirar onda com a cara de Thorne - e nem podia fazer isso, tinha consciência, mas estava sendo difícil de resistir. - Em que sentido? Ele é mais desagradável que aparenta? - mordeu a bolacha para afugentar seu sorriso sapeca que poderia ter sido vislumbrado em questão de segundos. - É uma colocação bem interessante dada as circunstâncias daquele mercenário. - bateu as mãos para afastar os farelos e se apoderou do café, queimando um pouco a língua. - Merda. - praguejou, limpando os cantos dos lábios em seguida. - Então, obrigada por essas informações. Acho que acabarei esperando o dito cujo e não precisa se preocupar comigo. Pode voltar ao exercício honorável da sua profissão assim que achar que deve. - lançou uma piscadela para a ex-corvina e ingeriu mais um gole de café, que caiu muito melhor. Arriscou um outro e quase se engasgou com a menção ao tal arame que existia em seu dedo e que ela mesma não tinha tido a menor intenção de remover. - Ah, obrigada. - agradeceu, com um Q de confusão. Aos olhos de Olivia, era apenas um arame amarrado no dedo, mas não negava que Charlie era criativa. Óbvio que isso deveria ser mais fácil de capturar pelos olhos de terceiros, pois Olivia não tinha olhar artístico. - É um anel de castidade. - mentiu e poderia ser levada a sério se não fosse a teatralidade do seu tom. - Se a pessoa que me deu descobrir que estou dando em cima de outra, bem… - seguiu adiante, se fazendo mais confortável na cadeira apesar de apurar em si o conflito acarretado pelo súbito desconforto correspondente ao simples anel-de-arame. Por ter tido uma vida sempre na penumbra, sem enriquecer os fuxiqueiros e falsos interessados com informações que só cabiam a ela, chamar a atenção daquele jeito sinalizava outra coisa da qual não sabia lidar. Seus lábios se tornaram uma linha fina de tensão ao que parecia levar muito bem, mas nunca fora uma pessoa aberta. Nunca pensara que um dia teria um anel-de-arame no dedo para simbolizar a afirmação de um relacionamento que a inspirava, inclusive, a passar seu tempo vago procurando um apartamento para dividir com sua oficial companheira. Aqueles status, ainda mais a atualização do que tinha com Charlie, que parecia muito mais alinhado e real quando estavam juntas, era muita coisa para quem vivera com praticamente nada. Ao menos, no quesito afeto. E ali estava a prova de que, uma vez sozinha, ainda agia como se fosse sua própria pessoa. Sem amarras. Era nítido que não estava pronta para a partilha e o que lhe restava era confiar no processo. O problema é que não era a pessoa de confiar no processo às cegas, pois precisava de um plano com a assertividade do começo, meio e fim. Por essas e outras que se via no único looping pessoal do momento: não fazer cagada. Algo que ainda duvidava. - Jamie está com a babá. - voltou à realidade de súbito e se endireitou. Notou que tinha sido assertiva demais dentro do seu famoso distanciamento pessoal. - Não é uma experiência pra lá de boa, mas me tranquiliza saber que ainda há quem tome conta dele. Às vezes, ele fica com Charlie, a amiga do infeliz Mackenzie, e isso me deixa mais aliviada. - Aiden e Olivia tinham profissões que os sugavam por inteiro. Ela não sabia sobre Cross, então, só conseguia responder por si. Ter uma babá era eficiente, mas não colocara a viseira a fim de não ver que era meio problemático. Mesmo com uma companhia daquela, Jamie seguia sozinho e Popovich sabia como ninguém o efeito que aquilo poderia causar. Ainda assim, tentava ser presente dentro dos escapes da sua rotina, mas, sempre quando estava cara a cara com seu filho, via a verdade de que não nascera para ser mãe. Desde que assassinara seu stalker, aquilo se intensificara, porém, não ignorava mais Jamie como fizera nos meses conseguintes àquela trama. Mas era evidente que a ligação entre mãe e filho seguia ausente e devia demais aos esforços de todos os envolvidos. Inclusive, agradecia, pois, se fosse mãe solteira, tinha certeza que Jamie teria ido para a adoção e estava aí algo que não sentia culpa de pensar. Não quando retornava para a questão de ser sua própria pessoa. Sem dependentes. - A propósito, como você consegue ter essa rotina e ainda cuidar de Owen? - o questionamento tinha mais genuinidade que Olivia gostaria de admitir. Afinal, sempre achou que podia lidar com tudo do seu jeito. A maternidade especialmente, pois nunca tivera una referência. - Falarei com Aiden para fazer esse favor a todos nós para essas crianças que precisam uma da companhia da outra. - e nem sabia se estava falando algo com nexo, pois não era dada também a assuntos que envolviam a maternidade. - Mas, mudando de assunto. Sei bem dos limites que ultrapassamos para que algumas coisas funcionem e dos sacrifícios com relação a escolhas. Minha escolha foi cair fora do mundo bruxo, mas encontrei os mesmos pepinos além dessa redoma mágica. Eu só acabei escolhendo meu trabalho no fim de tudo. O que é bom. Às vezes não. Mas ainda estou em um campo versátil. Sempre sonhei ser atriz. - e mesmo que falasse daquela forma era impossível saber o que Olivia fazia. Quando alguém perguntava, o máximo que dizia é que era obliviadora. Uma mentira fácil demais de ser contada no mundo bruxo. Ao menos, para os bruxos mais tapados. - Já pensou em contratar alguém que a ajude por aqui? Sabemos que o Ministério regula recursos e penso que é aí que os funcionários precisam fazer demandas. Para não dizer que precisam se rebelar. Afinal, só é um novo normal se a hierarquia localizada mais embaixo da pirâmide assim permitir. - deu de ombros e os manteve contraídos para cima por alguns segundos. Como se esperasse que Elissa preenchesse as reticências, sendo que nem deu tempo disso ocorrer, pois sua mente vagueou até encontrar uma ponta fina naquele papo que seguia meio estranho de se ter com quem nunca gastara um minuto do seu tempo. - Sobre os fatores além das paredes, imagino que esteja tratando de uma tal fusão que tem como objetivo matar Nicholas Mackenzie do coração. No aguardo desse evento. - por vezes, suas antipatias lhe escapavam por entre os dentes e era o caso do referido meio-irmão. Não suportava o garoto e, intimamente, aguardava a chance de esmagá-lo pelo pescoço. - Bem, não tenho muita informação, mas Malcolm me disse que a deixou a par do essencial. Não sei mais o que o cidadão anda fazendo, mas, pelo pouco que o conheço, o bendito está focado em tirar mais suco daquela velha que ele chama de mãe. Não capturei nenhum perigo. - e poderia dizer mais, mas não estava disposta a entregar sua árvore genealógica. O máximo que poderia fazer era ficar de olho, especialmente porque ambas se encontravam no mesmo barco por terem herdeiros. Algo que a fez revirar os olhos porque os Fraser eram um pesadelo ambulante. Era até bom só ter Nicholas do lado Mackenzie para odiar. - Sei que é muita tensão e cansaço pro seu lado, mas você pode dar seus pulos sim. Seu segredo estará a salvo comigo. - apesar da suposta ingenuidade, ela entregava a verdade de que não tinha intenção de sair espalhando o que acontecia entre Malcolm e ela. O que não apagava sua intenção de zoar sobre porque tudo ainda era surreal e pedia algumas piadas internas. E sabia exatamente com quem jogar aquele jogo: com o desembaraçado Malcolm. - Não precisa ser exatamente dentro dessas paredes. Minha nossa, Elissa, você precisa sair do Mungus ou um dia a encontrarei incrustada na parede. - meneou a cabeça negativamente enquanto liberava um risinho insolente. - Eu conheço uns lugares que você pode ir sem risco de encontrar Rita Skeeter na esquina. Se estiver interessada, bem, é o máximo de cordialidade que posso ceder nessa minha reencarnação. Fazer com que as pessoas deixem de ser elas mesmas por um dia é meu melhor serviço. Depende das intenções do cliente. E juro que não sou cafetina! - riu do seu próprio comentário e afundou o som em mais uma golada de café.
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- Espero que você esteja certa, pois, egoisticamente falando, eu gostaria de voltar pra casa no horário correto para variar. - um ligeiro suspiro, que expressava seu cansaço, lhe escapou ao mesmo tempo em que dava de ombros. Embora realmente apreciasse o trabalho que fazia, Elissa aproximava-se de seu limite físico e psicológico. Se sua rotina continuasse naquele ritmo, o próximo passo seria apresentar um quadro de estafa, algo que definitivamente não desejava. Infelizmente, solicitar folga parecia impossível na atual conjuntura. - Caso você esteja correta, na verdade, creio que facilita a sua busca. Com menos trabalho Malcolm costuma aparecer mais cedo. - comentou, meio despretensiosamente, enquanto ponderava sobre aquele outro possível detalhe a respeito do Fraser, que Popovich deixara escapar com naturalidade. Era como se a mais velha acreditasse que estava plenamente informada dos pormenores a respeito da vida de Malcolm, e a percepção de que na verdade não sabia de nada naquele viés profissional, e não tão profissional assim, era o suficiente para fazê-la se questionar o porquê daquelas omissões, e se não existiam questões muito mais relevantes que ignorava por falta de conhecimento. Diante de seu histórico com os Fraser, a linha entre confiança e desconfiança se tornava tênue com facilidade. Não queria ser injusta e fazer julgamentos prévios, mas era impossível não dar peso negativo àquelas mentiras e omissões. O que apenas tornava toda a questão entre os dois mais complexa. Restava esperar pela presença do ex-grifino para quem sabe encontrar explicações razoáveis. Enquanto isso, bastava concentrar-se na companhia, e no fato de que ainda possuía muito trabalho a fazer. Seus problemas pessoais deveriam, ao menos por ora, ficar em segundo plano. Thorne voltou a levar seu café aos lábios, sorvando um gole longo. Em seguida colocou a xícara sobre a mesa, e voltou a focar sua atenção em Popovich. A ex-corvina pressionou os lábios, como quem continha um sorriso, resposta natural ao semblante de quem se divertia da mais velha. Estava ciente de que dera motivos para questionamentos ao informar que Malcolm encaminhava a sua alma para o inferno, e para sua própria surpresa, não se sentira tão incomodada em se aprofundar naquele viés de conversa. Era, provavelmente, motivada pela falta de julgamento presente em Popovich. - Uhum. Provavelmente em um caminho direto, e sem remissão, ao famoso inferno. - disse, meneando a cabeça brevemente. Um sorrisinho discreto formou-se no canto de seus lábios. - Ah, não, ele não é exatamente desagradável. Pelo contrário. É mais, como você mesmo o chama, pentelho. Malcolm certamente tem a capacidade de fazer um santo cometer pecado, e é bem aí que até as mais puras almas são encaminhadas para o inferno. - informou, e ainda que parecesse que estava falando sério, o arquear de suas sobrancelhas, e o ar de riso que marcava suas feições, deixava claro que estava apenas brincando. Tratar a situação daquela maneira era a única forma possível de afastar qualquer desconforto. – Duh, como disse, logo menos ele surge no horizonte. Bien, não me seria uma má ideia fazer-lhe companhia até lá, pero, realmente terei que voltar ao exercício da profissão, para fazer a ronda da noite, porém, ainda tenho alguns minutinhos livre. - como naquelas últimas semanas encontrava-se responsável apenas pela ala de saúde mental, era um trabalho com foco maior na área que realmente dominava. O que, em tempos como aqueles em que todos ocupavam funções variadas, quase considerava como um privilégio. Norte de pensamento do qual distanciou-se ao ser capturada uma outra vez pela voz da mais velha. Arqueou as sobrancelhas, expressando sua breve surpresa. - É uma maneira interessante de se referir a um anel de compromisso. - foi o que se limitou a dizer, pois capturara certo desconforto por parte de Popovich. O que a fazia se recordar que desde os tempos de Hogwarts Olivia sempre fora reservada. Ninguém sabia muito sobre ela, além, é claro, que era a única criatura que parecia ter acesso a Aiden Cross. Fato que muito pouco se alterara agora que eram todos adultos, e o qual não julgava. Resguardar-se era essencial em um mundo em que pouquíssimas pessoas provavam-se de confiança. De bom grado Thorne aceitou os biscoitos oferecidos pela mais velha, andava tão estressada e atribulada que, por vezes, esquecia-se de obrigações básicas, como se alimentar de três em três horas. Enquanto mastigava, manteve a atenção ao que Popovich dizia a respeito de Jamie, e surpreendeu-se ao ouvi-la citar Charlie Tyler, a melhor amiga de Nicholas Mackenzie, por quem nutrira curiosidade por uns bons anos. A dinâmica entre aqueles dois ainda não lhe parecia totalmente clara, embora pudesse enxergar padrões problemáticos, para dizer o mínimo. Não teceu comentários àquele respeito, mas, o questionamento seguinte, um que não esperava, lhe capturara por completo. Não era uma pergunta invasiva, ao menos não considerava de tal forma, mas era uma questão que lhe pesava sobre os ombros todos os dias. Era nela que morava o seu maior receio em ser falha. - Chica, sendo completamente honesta, muito provavelmente estaria falhando por completo na minha função materna se não tivesse suporte familiar. - disse, e novamente havia aquele ar de confissão ao qual não era muito dada. Porém, além do cansaço que parecia inspirá-la a ser mais aberta com quem não possuía proximidade, havia o fato de que estava diante de uma das poucas pessoas que talvez compreendesse o que dizia. - Ultimamente a maior parte do meu tempo tenho passado aqui, o que me priva de ser mais presente na vida de Owen. Durante alguns meses eu o deixei na creche aqui do Mungus, porque facilitava a minha vida em vê-lo mais vezes por dia, porém, com o agravamento da situação atual, acho mais seguro mantê-lo com a minha família. Sendo assim, me resta estabelecer alguma rotina de mãe e filho. Dependendo do meu itinerário do dia, tento ao menos colocá-lo pra dormir, contar uma historinha, dar banho, preparar as refeições dele. Qualquer coisa. Pero, ainda assim, não consigo dissipar a sensação de que estou sendo ausente, relapsa, e como você disse, o tempo passa rápido, eles crescem rápido. E venho perdendo momentos únicos do crescimento dele. - concluiu, e embora não tivesse qualquer intenção em ser ainda mais transparente, era perceptível em seu semblante que aquela era uma situação que não digeria bem. - A função de sustentá-lo é apenas minha, não há como fazer nada de muito diferente. Agora, não precisa ser especificamente Aiden a levar Jamie para brincar com Owen. Se por caso você precisar deixá-lo com alguém por um fim de semana, eu adoraria recebê-lo. Acho que seria ótimo para os dois passarem mais tempo juntos. Crianças precisam interagir socialmente com outras da mesma idade. - completou, deixando implícito um convite a ex-corvina. Seu leque de amizades femininas diminuíra drasticamente depois do tormento que vivera com Theodore, e de toda a experiência com a maternidade onde Owen passara a ser sua prioridade. E, ali no Mungus, o vexame de sua formatura tornara impossível relacionar-se. Por isso, não custava-lhe sinalizar uma porta aberta para uma figura interessante como Popovich, mesmo tendo em vista que eram bem diferentes uma da outra. – Buen, honestamente, acredito que ninguém aqui chegou a ponderar a respeito disso. – disse, se referindo a ideia de solicitar um aumento de pessoal para o Ministério da Magia. Ideia que caíra-lhe muito bem, mas que não fora o suficiente para fazê-la não se atentar ao pouco de informação que Popovich dera a respeito de si mesma. A curiosidade comum a si fez-se presente, porém, uma outra vez, preferiu se abster de tecer comentários. Tudo ao seu tempo, ponderou. – Creio que estamos todos sobrecarregados, e tão acostumados ao processo padrão de admissões que exigir uma maior demanda de profissionais sequer pareceu possível. Gracias, chica, verei o que é possível se fazer. – e era certo que o faria antes que se encerrasse o seu plantão. Profissionais de saúde, mais do que os de qualquer outra área, sobrecarregados poderiam vir a cometer erros fatais, o que só agravaria a crise já vigente no mundo bruxo. Crise que apesar de complexa lhe deixava um tanto menos receosa, em um viés particular, do que o que vinha se desenhando para os lados da Escócia. – Pensei que ele receberia a notícia aqui, inclusive pedi a Malcolm que me alertasse com antecedência para evitar grandes estragos. – comentou, a respeito de Nicholas, com quem se preocupava uma vez que fora liberado muito antes do término de seu tratamento. Conhecendo o histórico de seu ex-paciente, temia que uma recaída fosse inevitável. A antipatia presente no tom de Olivia não lhe passara despercebida, porém, parecia algo comum a quem conhecia, e não possuía paciência, para o poço de complexidade que era Nicholas Mackenzie. - Uhum. Creio que ele tenha me dito o essencial. – murmurou, a respeito de Malcolm, e por mais que não fosse intenção sua, por um breve instante se viu ponderando se realmente havia sido informada do essencial. Condenou-se por tal pensamento logo em seguida. – Não é algo que está completamente dentro do meu leque de compreensão, pero, não me parece nada animador quando dois clãs nada pacíficos decidem unir forças. Espero muito estar enganada, pero, até que tudo isso tenha um desfecho, seguirei apreensiva. – especialmente por Owen, mas não apenas por ele. Por mais que tivesse imposto certo distanciamento aos Fraser, via-se cercada por alguns indivíduos daquela família, e nutrindo muito mais que sentimentos amistosos por um em particular. A conversa com a Sra. Fraser sempre lhe voltava a mente, e não lhe parecia que ela deixaria o filho decidir o próprio caminho. Thorne sabia muito bem o quanto aquela mulher podia infernizar a vida alheia. A ex-corvina voltou a liberar uma respiração profunda, que logo fora substituída por uma risadinha. – Bien, agradeço sua discrição. – respondeu, calmamente, expressando-se com uma clara sinceridade. Diante de toda a problemática ao redor de sua relação com Malcolm, o melhor, ao menos momentaneamente, era manter a cautela, e preservá-los do que certamente criaria certo conflito em âmbito familiar. Por mais que sustentasse as próprias decisões, Thorne não fazia ideia de como sua família reagiria ao seu envolvimento com um outro Fraser, e uma rusga com os seus era uma complicação que não precisava. Além disso, no que considerava como agravante, ainda havia a mãe de Malcolm, que certamente não possuía nada de elogioso a dizer ao seu respeito. – Essa me parece uma possibilidade real. Infelizmente. – disse, achando certa graça do comentário da mais velha a seu respeito. No ritmo em que iam as coisas, ela e o Mungus logo menos acabariam sendo um só. Com aquele pensamento ainda em mente, Thorne voltou a buscar o celular no bolso, e percebeu que faltava pouco para o reinício de seu turno. – Muy bien, chica. Eu ainda tenho cinco minutinhos livres, e os aproveitarei para tomar nota desses tais lugares, que não fazem parte do portfólio de uma cafetina, em que posso dar meus pulos, exercitar músculo quase mortos, e me permitir ser o que bem entender. Pode começar, sou toda ouvidos. – disse, com um óbvio divertimento, porém, sem deixar de prestar atenção ao que Popovich tinha a dizer.
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doctorlissa · 5 years
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Olivia teria ignorado o entoar de seu nome pelo simples fato de que não era dada a interações gratuitas. Seu modo de operação era sempre em busca de alguma informação, tudo muito assertivo e breve, o que justificava sua súbita presença no caótico Mungus. Ao girar nos calcanhares, deu face à voz e se surpreendeu, pois, em suas idas e vindas naquele lugar, Elissa e ela não trocaram nenhuma palavra além das ditas cordialidades. Notando-a, com seu olhar sempre muito do analítico, capturou em si a falta de incerteza em seu comportamento receptivo visto que, em um passado não tão distante assim, ou ignoraria para assim evitar o diálogo ou se veria receosa por desconhecer o interesse em ser chamada. Suas defesas subiriam, especialmente para manter mais uma identidade falsa a salvo. Ao contrário da única e última vez em que conversaram, Olivia não reagiu em seu modo chispante. Inclusive, notou o quanto se tornara adepta àquele não tão novo nome, respondendo a ele como se sempre fosse seu, como se nunca tivesse sido batizada em nome de um asilo que ainda lhe era muito significativo. Apesar de ainda não curtir ser chamada aleatoriamente, não negava que dera de cara com a obra do destino, pois a pessoa que a inspirara a ir até ali tinha um tanto a ver com Elissa Thorne, sua ex-colega de Casa e a quem nunca tivera intimidade. - Elissa. - cumprimentou-a, sem tirar os olhos da figura que agora sondava. Uma praxe sua no intento de adivinhar de antemão o que alguém traria para a conversa. Ainda mais quando esse alguém se arriscava a torná-la pública, sem receio de tomar uma patada gratuita. - Você me parece muito animada em ver a ovelha negra do mundo bruxo. - declarou, sem julgamentos. Não tinha nada contra a mulher à sua frente e se auto-surpreendeu novamente por não ter se usado de seu tom chispante, que mantinha quem bem entendesse afastado e dominado ao que tinha a dizer. Fitando-a ainda, se recordou de novo da última vez que conversaram e percebeu que as emoções do passado realmente não remetiam às do presente. Naquela época em que trocaram poucas palavras, Popovich não conseguiu seguir adiante, pois vivia em paranoia e em tensão com relação a sua fake ID. Não duvidava que tivesse sido deselegante em algum momento, o que tornava aquele chamado ainda mais milagroso da parte de quem dividira apenas anos escolares. Anos estranhos, pois parecia que nunca estudara em Hogwarts. Que vivera naquela selva de criar relações, memórias… Coisas das quais nunca foram sua prioridade, pois queria se tornar um alguém. Seu próprio alguém. Uma busca que lhe roubou todos os anos e, sem resultados, nem sequer ficara para sua própria formatura. - Hum. Não tudo bem assim, porque eu vim procurar um pentelho que, claramente, não deve estar aqui. - a afirmação de Olivia tinha certo duplo sentido. Afinal, Malcolm Fraser e Elissa Thorne andavam se pegando, pensamento adaptado em suas próprias palavras, pois Aiden jamais seria tão coloquial para tratar de um assunto como aquele. Com tal memória, se viu reprimindo um sorrisinho conspiratório, que entregava que sabia de algo mais sobre a ex-corvina e que não diria pelo bem daquela interação. O que seria impossível, refletiu, pois o fato de seguir perambulando naquele hospital também se devia a quem ela parecia muito interessada em trocar algumas palavrinhas. - Malcolm Fraser. No caso. Scott não conseguiu me ajudar, mas, por mais estranho que possa parecer, ele me indicou procurá-la. - uma sobrancelha sua se arqueou, meio que entregando o que sabia e que fingia não saber. Claramente, e finalmente, querendo colher a informação extra. Intento que a deixou mais atenciosa que o dito normal. - Não o encontrei no Ministério e o imbecil não responde as minhas mensagens. Acredito que não deve haver muito job extraoficial por essas redondezas ou ele me atenderia como se estivesse prestes a morrer. - e, por extraoficial, Olivia creditava ao talento de quem era seu primo como um mercenário. Era daquele job extraoficial que vinha atrás, se locomovendo de sua Londres para o caótico mundo bruxo que mantinha o mesmo espírito de não acolhê-la. E era sempre bom perceber que nada tinha mudado, pois correspondia em não acolhê-lo. Mesmo depois de descobrir tantas verdades sobre suas origens, seu ponto de vista sobre a magia seguia resoluto. - Você por um acaso o viu por aqui? Dando sopa com alguma desculpinha de trabalho em nome dos Obliviadores? - do interesse, o tom de Olivia transitou para um puramente enfadonho e se empertigou, como a figura constante de autoridade que representava. Independentemente do lugar onde estivesse. - E, me perdoe, eu não consigo lidar muito bem com… - pausou para buscar alguma palavra que não fosse burocrática demais. Afinal, Thorne estava sendo simpática e a última coisa que queria era ser o Grinch e assassinar o espírito de quem ainda se atrevera a sorrir na sua direção, roubando-lhe nada menos que um risinho sem graça, pois não havia sido projetada para cordialidades. - Essas perguntas de tudo bem, como tá o tempo e afins. - deu de ombros como quem se desculpava. Em seu modo de operação normal, apenas chegava e não se apoiava em delongas. - Mas, como fui claramente mal-educada, você está bem? - Olivia voltou a arquear a sobrancelha enquanto a scanneava. Percebeu o cansaço em cada traço do rosto de Elissa e, repentinamente, se lembrou do que estava rolando entre os clãs escoceses - e que também lhe servira de motivo para colocar Malcolm dentro do espremedor de laranja dias atrás. Por ambas terem filhos que poderiam se comprometer com aquele papo de fusão, espantou-se com sua própria genuinidade que ia além de saber os efeitos do claro trabalho árduo e prolongado que a mais nova estava comprometida. - Ah, o café está de bom tamanho. Não posso negar cordialidades quando elas me são bem dirigidas. As coisas continuam caóticas por aqui, não? Como você consegue lidar com tudo isso, mulher? Não que duvide da sua capacidade, pois, veja bem, eu imagino que entendo sua posição mais que qualquer outra curandeira desse recinto. Em contrapartida, eu dou meus pulos e acho que você deveria dar os seus também. Afinal, corvinos sabem se divertir quando ninguém está olhando. - e um sorriso malicioso brotou no canto dos lábios de Popovich, afundando a covinha que existia ali. Por mais que se retivesse a não se meter na vida alheia, não negava que a ideia de Elissa e Malcolm era divertida, o que se fazia esquecer muito rapidamente de que ambos brincavam com o perigo. Confirmando a bendita sina de que ninguém aparentemente tinha juízo ao ser detentor de sangue escocês.
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Embora pudesse considerar que existia certa lentidão na conexão entre os seus neurônios, graças ao princípio de exaustão que a norteava, Elissa encontrava-se muito da atenta a mulher diante de si. Mesmo que a última real interação entre ambas tivesse acontecido a bastante tempo, mais ou menos dois anos pelo que conseguia recordar, era completamente possível para si tecer comparações a respeito da postura de Popovich naqueles dois momentos distintos. Como pouco se conheciam, e nunca houvera uma real proximidade entre ambas, não existia de sua parte qualquer expectativa para o tipo de reação que receberia, e, sendo quem era, levando em conta a área em que trabalhava, estava mais que acostumada a lidar com todos os tipos de pessoas. Porém, não negaria que a cordialidade da mais velha fora uma agradável, e extremamente bem-vinda, surpresa. Por outro lado, a percepção de que ela sabia um tanto mais do que deveria, sobre um assunto de cunho particular seu, não fora assim tão agradável de se ter. Ainda que Olivia tivesse sido bastante discreta em suas insinuações, e que pudesse muito bem ter passado batido, ainda mais quando não estava assim tão alerta, Thorne era treinada para entender o que se mantinha nas entrelinhas. Não era como se a ex-corvina desejasse manter sob segredo absoluto o fato de que algo a mais acontecia entre si e Malcolm Fraser, porém, diante do momento que atravessavam, de todo o peso agregado a fusão Mackenzie-Fraser, e dos resquícios desagradáveis de burburinhos que ainda existiam a seu respeito por aqueles corredores, parte de si temia o tipo de repercussão que a exposição do que, até então, vinha sendo muito bom para si, geraria. Poderia considerar que agia como um mecanismo de defesa, ao menos naquele princípio, em que pareciam existir muito mais fatores contras que a favor dos dois. Contudo, era claro que estava ciente de que não eram exatamente discretos, não quando Malcolm estava sempre por ali, mesmo que pudesse alegar que as visitas constantes serviam para trazê-lo para mais perto de Scott e Margaret. Apesar da ligeira adrenalina que a percepção de que não possuía tanta privacidade quanto imaginara engatilhara em seu sistema nervoso, a ex-corvina soubera manter seu semblante o mais neutro possível. O único sinal de que havia captado a mensagem fora um ligeiro arquear de sobrancelhas. Até mesmo porque a informação seguinte, a respeito da função de Malcolm no Esquadrão de Obliviadores, capturara muito mais de sua atenção. Não era uma novidade para a ex-corvina que o mais velho omitia certas informações de si, e nunca lhe parecera crível a balela a respeito do Departamento de Transportes Mágicos. Podia, é claro, ter esclarecido essa questão com o ex-grifino em algum momento anterior, mas esperava, e gostaria, que partisse dele aquele esclarecimento. O mais interessante, era que o dito por Olivia apenas corroborava uma ligeira desconfiança que tinha, e que capturara nas conversas com o ex-grifino e com as demais pessoas que o conheciam e conviviam com ele. Não lhe parecia haver motivos para criar tempestade em um copo d’água, porém, para funcionar, a relação entre ambos precisava de imensas doses de confiança, e mentir sobre algo tão trivial não parecia um bom presságio. Novamente a ex-corvina fora hábil em não deixar transmitir em seu rosto o que passava por sua mente, mas era muito provável que sua postura um tanto mais rígida fosse capturada pelo escrutínio de Popovich. De qualquer maneira, aquele era um assunto que ponderaria a respeito quando estivesse uma outra vez sozinha. Nada adiantava se desgastar naquele instante. – Uh, bien, levo a vida lidando com todos os tipos de personalidades possíveis, ovelhas negras não costumam me intimidar. – disse, referindo-se ao comentário inicial da mais velha. Seu timbre carregava a calmaria que era inerente a si, e o sorriso breve voltou a moldar o canto de seus lábios. – Quanto a animação, credito ao fato de que é, de certa maneira, revigorante encontrar um rosto conhecido, e diferente dos únicos que tenho visto pelas, já perdi completamente a noção de quantas, horas. – continuou, e ali não faltava com a verdade. Um dos maiores problemas em se manter em regime de plantão era conviver por horas ininterruptas com o mesmo grupo de pessoas. Embora Thorne fosse bastante sociável, todo o estresse causado pelo vexame de sua formatura modificara a maneira como enxergava seus colegas de trabalho. E os poucos por quem ainda resguardava alguma consideração raramente dividiam consigo a escala de plantões. Situação ao qual havia se habituado, mas que não negava que ainda era-lhe desagradável. – Ah, ótimo! – exclamou, diante da resposta positiva da mais velha ao seu convite para o café. Logo colocou-se em movimento em direção ao refeitório, e esperou que Popovich a alcançasse antes de retomar a conversa. – Para falar a verdade, no momento não faço ideia de quanto tempo mais aguento lidar com essa rotina maluca. Não me entenda mal, realmente amo o que faço, mas o momento atual é caótico demais. Esse hospital nunca esteve tão cheio, e a demanda de pacientes é absurdamente superior a de profissionais. Por vezes tenho a sensação de que entraremos todos em surto coletivo. A equipe inteira está exausta, pero, creio que esse é o novo normal entre os staffs do Ministério. – disse, em um tom de voz mais baixo, como quem fazia uma confissão. Thorne não era dada a reclamações, ainda mais quando lhe faltava intimidade com quem lhe ouvia, mas fora estranhamente fácil o fazer com Popovich. O que posteriormente poderia alegar ser uma obra de seu cansaço. – E ainda há os fatores que vão além dessas paredes. Acho que você entende. – disse, um tanto incerta, pois não possuía muitas informações a respeito de Popovich, porém, sabia que ela convivia com Aiden Cross que irritantemente sempre estava a par de tudo, e com Malcolm. Além disso, lembrava do envolvimento dela nos casos de Georgia, William e Margaret, o que tornava fácil supor que ela estava por dentro do que acontecia na Escócia. – Seria ótimo poder dar, como você disse, meus pulos, e me divertir quando não há ninguém olhando. Pero, descobri que é humanamente impossível fazer qualquer coisa entre essas paredes e manter segredado. Inclusive, tenho quase certeza que ao menos metade das fontes de fofoca de Rita Skeeter vivem por aqui. – completou, e mesmo que houvesse um ligeiro tom de brincadeira marcando seu timbre, informava algo que, ao menos em partes, era verdade. Skeeter costumava pagar uma boa quantia de galeões a quem se mostrava colaborativo. Prática que era bastante inaceitável quando fazia parte da ética dos profissionais de saúde manter sigilo. Mais um motivo para se manter reticente com alguns de seus colegas. – Aliás, voltando um pouquinho na conversa, não considero que você soou mal-educada, pero, talvez, excessivamente direta e honesta o que, na atual conjuntura, devo confessar que aprecio. – disse, recordando-se uma outra vez de Malcolm e sua mentira. Lembrança que a fez liberar uma respiração profunda que expressava uma ligeira contrariedade. Thorne pendeu ligeiramente a cabeça para o lado, para que pudesse fitar melhor Popovich. – Farei nota mental para não repetir esse tipo de cordialidade caso nos topemos uma outra vez. Creio que não será difícil de recordar uma vez que já me utilizo dessa prática com Aiden. – enquanto falava a ex-corvina meneava a cabeça como forma de corroborar o que dizia. Existiam algumas óbvias similaridades na formas de agir de Aiden e Olivia, porém, a ex-corvina lhe parecia menos fechada que Cross. – Respondendo sua pergunta, está tudo bem. Creio que ficará melhor quando a cafeína agir em meu organismo. – deu de ombros, e em seguida empurrou a porta que as separava do refeitório do Mungus. Enquanto se encaminhavam para o balcão de pedidos Thorne tirou o celular do bolso para verificar a hora. Por um instante distraiu-se ao fitar a imagem de Owen em sua tela de bloqueio. Apesar de receber notícias dele de hora em hora, sua preocupação era uma constante. – Agora, respondendo à pergunta que realmente te interessa, e que a fez gentilmente me acompanhar, ... – disse, sem qualquer intenção de alfinetá-la, enquanto guardava o celular uma outra vez no bolso do jaleco. - ... até o momento ninguém do Esquadrão de Obliviadores apareceu por aqui hoje. Normalmente eles aparecem para acompanhar pacientes trouxas, e vem sempre acompanhados de alguém do Departamento de Ligação com os Trouxas. – explicou, de forma bastante didática, e mal se dando conta de que procurava caminhos para evitar chegar no real objeto de interesse de Popovich.  – Quanto a Malcolm Fraser... – e ali, mesmo que não fosse sua intenção, era perceptível um ligeiro constrangimento de sua parte. - ... poderia dizer que se Scott não consegue localizá-lo ninguém mais o fará, e que só posso supor que ele se encontra ocupado em alguma missão oficial. Infelizmente não falta trabalho para os Obliviadores. – Thorne pausou sua resposta para que pudesse fazer o seu pedido, o de costume, café preto, forte e sem açúcar, que serviria para despertá-la. Esperou até que Popovich também fosse servida para que pudessem se encaminhar até uma das mesinhas dispostas pelo salão do refeitório. Assim que se acomodou a ex-corvina retomou o assunto. – Pero, pelo horário, acho que é seguro garantir que logo menos ele aparece por aqui. – continuou, como se sequer tivessem sido interrompidas. Embora existisse em si um ligeiro desconforto, que se expressava na maneira que esfregava os dedos pela nuca por baixo dos cabelos, Thorne em momento algum deixou de encarar Olivia. – Ele sempre vem visitar a prima, o irmão, e encaminhar a minha alma para o inferno. – deixou escapar, liberando um risinho baixo e discreto, que estranhamente a fizera se sentir menos tensa. – Se você tiver paciência, basta esperar um pouco mais. – completou, retomando ao seu timbre a calma de costume. Thorne levou seu café aos lábios, bebericando um gole singelo. A junção da quentura, com o sabor forte da bebida, era-lhe muito bem-vinda. Ao recolocar sua xícara sobre a mesa o olhar da ex-corvina recaiu sobre as mãos de sua ex-colega de casa, e o aro ao redor do dedo anelar direito dela logo capturou sua atenção. – Ah, bem bonito seu anel. Me parece um belo trabalho artesanal. – comentou, educadamente, e tomando o cuidado de não soar excessivamente invasiva. Porém, o anel era realmente muito bonito, e acabara lhe parecendo uma alternativa para mudar a direção da conversa. – Enfim, já compreendi que você não curte muito esse tipo de pergunta, e prometo ser mais criativa quando meu cérebro estiver uma outra vez em pleno funcionamento, pero, como vai Jamie? Faz tempo que Aiden não o leva para brincar com Owen. – e ali pisava no que acreditava ser o mais perto de terreno seguro ao redor de Popovich.
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