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Meridiano
Sentada num banco de concreto no parque da cidade em que nasci, observo o chafariz que está à minha frente. Vista óbvia. A água entre pedras sendo jorrada para cima e caindo novamente em água. Ao redor, algumas plantas verticais e o gramado aparado, verde. Pais tomam chimarrão e conversam, enquanto seus filhos andam de bicicleta em volta do chafariz. Paisagem circular. O sol já está atrás do morro, o tempo nublado, alguns pássaros levantam voo das árvores à beira do rio. Pergunto-me se eles veem o sol enquanto voam. Silêncio. Dia feio. Eu deveria estar sentada no chão, alcance comum ao das crianças, que enxergam o mundo de baixo pra cima. Os adultos são obrigados a ver o mundo do meio, nem tão do alto, como os pássaros, nem tão de baixo, como as crianças. Essa visão meio bonita, meio triste. Um meridiano inabitável entre expectativa e realidade.
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Solidez
Incômodo de não caber no próprio corpo. Desconforto. Me mordo e sou real. Estou deitada na cama. Desejo de entrar no colchão, estado-de-colchão, tornar-me objeto. Empurro-me com força, preciso tentar. Minha mão se torce, contorce, não encontra descanso, expressão. Não consigo. Minhas pernas inquietas enrroscam-se entre si. Enrrolam o fino lençol. Insuficiente. Meus pés, blocos de gelo, conservam a solidão do inverno cru. Meu corpo, sólido, se deposita sob a superfície da cama -- objeto inatingível, campo de batalha, terra escura.
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Ouvi dizer que colocaram meu amor numa estante de brechó
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