Razão #139 banhando-se nas próprias lágrimas
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"Eu sou melhor em tristeza seca do que em raiva fria, por isso que os meus olhos permaneceram secos até agora, secos como peixe defumado.
Eu não estou triste. Atordoada, muito distante de mim mesma, não acreditando realmente que você está agora tão longe, tão longe, você está tão perto. Eu quero te dizer apenas duas coisas antes de ir, e então eu não irei falar mais sobre isso, prometo.
Primeiro, eu espero muito, eu quero e preciso ver você de novo, algum dia. Mas, lembre-se, por favor. Eu jamais pedirei para ver você – sem orgulho, pois eu não tenho isso com você, mas o nosso encontro irá significar alguma coisa apenas se você desejar isso. Então, eu esperarei, e quando você quiser, apenas diga. Não vou pensar que você me ama de novo, nem mesmo que você tem que dormir comigo, e nós não temos que ficar juntos por um longo período – apenas tem que ser como você sente isso, e quando você sente.
Não, eu não posso pensar que não vou vê-lo de novo. Eu perdi o seu amor, e isso foi (e é) doloroso, mas eu não devo perder você. De qualquer forma, você me deu tanto, Nelson, o que você me deu significa muito, e você nunca poderá pegar isso de volta. Então, sua ternura e amizade são tão preciosas para mim que eu ainda posso me sentir feliz e severamente grata quando eu olho para você dentro de mim. Eu espero que essa ternura e amizade nunca me abandonem.
Para mim, é desconcertante e eu sinto vergonha, mas é a única verdade: Eu amo você tanto quando eu cheguei em seus braços desapontados, com todo o meu ser e todo o meu coração sujo; eu não posso fazer menos. Mas eu não vou te incomodar, querido, e não faça cartas como um dever, apenas escreva quando sentir vontade, sabendo que isso me fará muito feliz.
Todas as palavras parecem bobas. Você parece estar tão perto, tão perto, deixe-me ficar perto de você também. E me permita, como no passado, ficar no meu próprio coração para sempre."
Sua Simone"
Simone Beauvoir para Nelson Algren
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- quantas vezes você me disse que me amava tanto? -
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En definitiva, las mentiras nos ayudan a vivir
Las chicas del cable (via nights4city)
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(...) te entregar todos beijos que eu não te dei...
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O Elefante
Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.
Carlos Drummond de Andrade
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