"Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida
As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos
O bonde passa cheio de pernas
Pernas brancas pretas amarelas
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração
Porém meus olhos
Não perguntam nada
O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode
Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco
Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração
Eu não devia te dizer
Mas essa lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo"
(Poema de sete faces. Carlos Drummond de Andrade)
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The Royal chapel of the Château of Versailles is a masterpiece without reservations. Its construction began in 1689 until 1708, and was consecrated in 1710. The Corinthian colonnade of the grandstand level is of a classic style that anticipates the neoclassicism that evolves during the 18th century.
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Como uma criança,
Defronte ao mistério, à indagação, à essência...
Corro às gargalhadas ao som do riso teu.
Voo como pipa a dançar no vento.
Sou um balão
Que sobe ao céu
Sem rumo ou direção.
Eu quero alma,
Vislumbro o véu.
Cobiço espírito, e não o chão.
Mas com a graça de um adulto,
Calo.
E gozo a contemplação.
Quando teus olhos falam,
E em instantes calam,
Sinto na minha alma o elo.
Que é mesmo a razão?
Reginaldo Lima.
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Ando tão cansado!
Cansado de acordar,
E não viver.
De tanto sonhar,
E não ser.
De tanto amar
Sem conceber,
Ando tão cansado.
Vislumbro um futuro,
Sem canto,
Sem cor,
E vazio.
Do horizonte, o pôr do sol
diz-me adeus.
Sorrindo, penso: "Meu Deus!"
Então uma lágrima sob o chão desaba
E faz brotar uma flor azul
Reginaldo Lima
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Viver de liras. De tristezas n'alma.
Pensar na treda ilusão do amanhã, E sonhar.
E no sonho, sentir ser pássaro e voar. Ser aparado pelo chão!
Seco e árido, mas meu.
Chão no qual sinto o pó sob os meus pés,
A que tão logo converter-me-ei.
Nessa terra, não sou barão, nobre ou rei.
Sou verme! Sustentado por uma casca pobre e fétida.
Todavia, tenho alma.
E por isso sonho que o amanhã virá.
Talvez não menos triste e opaco quanto o que foi e o que é, mas ainda assim, suportável.
A minha vida é miserável!
Porém não mais do que a daqueles
Que tudo tem sem, entanto, ter nada.
Tudo o que tenho (e sou) são versos.
E, por isso, sou mendigo sendo rei.
Tenho ainda sonhos, que não voam, mas são sublimes.
Apesar da vida ser um quadro em preto e branco,
As rosas são vermelhas,
E nas manhãs de sol quando a chuva cessa,
Os pássaros cantam
A ode de um novo dia.
Eu morro e renasço todos os dias!
Sou menos odes que elegias.
Tenho cravadas no peito
Uma flecha, uma espada e uma lança
Que, em vão, nenhuma delas alcança
Este coração tão insólito.
Fui lançado à vida
De súbito. E disseram-me:
Viva. Hoje, anseio encontrar-me
Com a morte, tão gloriosa saída.
Senti ainda nessa vida,
O que a torna suportável: o amor.
Mas o vi nascer e, tão logo, morrer.
Quando, enfim, tornar-me éter, espírito,
Substância fluída,
Deixarei, afinal, essa vida,
Para só assim, viver.
Reginaldo Lima
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