Tumgik
richardanarchist · 4 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 4 days
Text
Poema das árvores
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos, e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores, e então crescem as flores, e as flores produzem frutos, e os frutos dão sementes, e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas. Sem verem, sem ouvirem, sem falarem. Sós. De dia e de noite. Sempre sós.
Os animais são outra coisa. Contactam-se, penetram-se, trespassam-se, fazem amor e ódio, e vão à vida como se nada fosse.
As árvores, não. Solitárias, as árvores, exauram terra e sol silenciosamente. Não pensam, não suspiram, não se queixam. Estendem os braços como se implorassem; com o vento soltam ais como se suspirassem; e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós. Nas planícies, nos montes, nas florestas, A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós E entretanto dar flores.
António Gedeão
0 notes
richardanarchist · 5 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 5 days
Text
Como um vento na floresta
Como um vento na floresta, Minha emoção não tem fim. Nada sou, nada me resta. Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos Há grandes sons de folhagem, Também agito segredos No fundo da minha imagem.
E o grande ruído do vento Que as folhas cobrem de som Despe-me do pensamento: Sou ninguém, temo ser bom.
Fernando Pessoa
1 note · View note
richardanarchist · 7 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 7 days
Text
moons and flowers these are the true ones the masters
Matsuo Basho
9 notes · View notes
richardanarchist · 7 days
Text
when planting one handle it like a baby wild cherry tree
Matsuo Basho
2 notes · View notes
richardanarchist · 7 days
Text
a butterfly flies only in the field of sunshine
Matsuo Basho
9 notes · View notes
richardanarchist · 8 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 8 days
Text
Pássaro
Aquilo que ontem cantava já não canta. Morreu de uma flor na boca: não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede, e, em verdade, tendo asas, fitava o tempo, livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência: não foi nada. E o dia toca em silêncio a desventura causada.
Se acaso isso é desventura: ir-se a vida sobre uma rosa tão bela, por uma tênue ferida.
Cecília Meireles
2 notes · View notes
richardanarchist · 9 days
Text
🫀🔂
"Land Of Fruit And Honey" by Roy Ayers.
0 notes
richardanarchist · 9 days
Text
Wild Swans
I looked in my heart while the wild swans went over.
And what did I see I had not seen before?
Only a question less or a question more;
Nothing to match the flight of wild birds flying.
Tiresome heart, forever living and dying,
House without air, I leave you and lock your door.
Wild swans, come over the town, come over
The town again, trailing your legs and crying!
Edna St. Vincent Millay
6 notes · View notes
richardanarchist · 12 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 12 days
Text
Desenho
Fui morena e magrinha como qualquer polinésia, e comia mamão, e mirava a flor da goiaba. E as lagartixas me espiavam, entre tijolos e as trepadeiras, e as teias de aranha nas minhas árvores se entrelaçavam.
Isso era num lugar de sol e nuvens brancas, onde as rolas, à tarde, soluçavam mui saudosas… O eco, burlão, de pedra em pedra ia saltando, entre vastas mangueiras que choviam ruivas horas.
Os pavões caminhavam tão naturais por meu caminho, e os pombos tão felizes se alimentavam pelas escadas, que era desnecessário crescer, pensar, escrever poemas, pois a vida completa e bela e terna ali já estava.
Com a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa! E o papagaio como ficava sonolento! O relógio era festa de ouro; e os gatos enigmáticos fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.
Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros, e os grandes cães ladravam como nas noites do Império. Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes moravam nos jardins sussurantes e eternos.
E minha avó cantava e cosia. Cantava canções de mar e de arvoredo, em língua antiga. E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos e palavras de amor em minha roupa escritas.
Minha vida começa num vergel colorido, por onde as noites eram só de luar e estrelas. Levai-me aonde quiserdes! – aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.
Cecília Meireles
7 notes · View notes
richardanarchist · 12 days
Text
🫀🔂
0 notes
richardanarchist · 12 days
Text
Romantismo
Seremos ainda românticos — e entraremos na densa mata, em busca de flores de prata, de aéreos, invisíveis cânticos.
Nas pedras, à sombra, sentados, respiraremos a frescura dos verdes reinos encantados das lianas e da fonte pura.
E tão românticos seremos, de tão magoado romantismo, que as folhas dos galhos supremos que se desprenderem no abismo
pousarão na nossa memória — secas borboletas caídas — e choraremos sua história, — resumo de todas as vidas.
Cecília Meireles
2 notes · View notes
richardanarchist · 13 days
Text
an old river making big eyes at the willow
Matsuo Basho
5 notes · View notes