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Luto na infância - Conteúdo produzido para o UNICEF Brasil.
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COVID-19 - Conteúdo produzido para as redes sociais do UNICEF Brasil.
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*Conteúdo produzido por mim para o Grupo D.O.M., em projeto com a Endemol Shine Brasil.
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serifadas · 6 years
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A Língua Portuguesa e suas ramificações
Entre predicações e subordinações, desde cedo somos ensinados que a língua portuguesa, herdada de nossos colonizadores, é somente a gramática normativa. Entretanto, o que não nos é dito, é que a língua portuguesa brasileira permite diversas variantes linguísticas de cunho cultural e social.
São Paulo, a capital referência em diversidade no Brasil, nos permite avaliar todo tipo de variante linguística e dialeto nos burburinhos nos bares, padarias e pontos de ônibus; basta estar de ouvidos atentos para verificar a vasta quantidade de linguagens proferidas que adentram as fissuras da norma culta e gramaticalmente dita como correta.
Embora todo tipo de linguagem seja fundamental no processo comunicacional de cada grupo social, o “certo” e o “errado” da língua portuguesa ainda é, de forma obsoleta, nos instruído durante o processo de letramento e massificado e imposto pelas grandes mídias, criando mitos sobre a língua e um preconceito linguístico aos que não seguem sua norma culta e formal.
O preconceito linguístico fica evidente quando nos deparamos com situações em que saímos de nossa zona de conforto e nos deparamos com uma cultura distinta, levando ao estranhamento e até mesmo ao julgamento instantâneo, que nos é ensinado nos primeiros processos educacionais. Estas distinções, ocasionadas pelo processo de integração social e cultural de cada grupo, nos propicia ramificações sobre a língua portuguesa.
Outra barreira a ser quebrada é o conceito de cultura que frequentemente é confundida com erudição e intrinsecamente afeta a definição de língua e seus “certos” e “errados”. A cultura, assim como a linguagem, são construções sociais e não devem ser julgadas como corretas ou não, e sim valorizadas por proporcionar a diversidade da língua e a individualidade de um povo.
De fato, não há nada que fale mais sobre uma pessoa ou grupo do que sua expressão por meio da oralidade e escrita. A comunicação é primordial para a sua construção como indivíduo frente a sociedade, desta forma, o carapanã é tão pernilongo quanto o muriçoca, a mandioca é tão aipim quanto a macaxeira e a diversidade da língua portuguesa deveria ser orgulho à nação.
~ Sofia Rossas Leite ~
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Segundo a Organização Mundial de Saúde, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo até 2020. Saiba mais sobre este transtorno mental com o psiquiatra e coordenador do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina, Kalil Duailibi.
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serifadas · 6 years
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Ela relata que antes do tratamento seus dias não tinham cores. Não no sentido metafórico. Era literal. A terapia e o medicamento trouxeram as cores das árvores e dos muros novamente. Logo no começo do tratamento notou a diferença em sua vida. Acordar já não era um peso tão grande. Percebeu que conseguiu, aos poucos, resolver seus problemas do dia a dia. Apesar deste feito ter demorado mais ou menos seis meses, notou que a forma como via as adversidades mudou bastante. Antes sentia que qualquer obstáculos ou divergência era muito maior do que realmente era. Agora, consegue lidar com eles de maneira mais forma e tranquila. Brinca dizendo que seu objetivo de vida é ter estabilidade emocional, para que as mínimas coisas não a afetem tanto. O tratamento tem ajudado a construir esta meta.
Ingrid relata que a entrevista para ela é um teste, pois foi diagnosticada há pouco tempo, fevereiro de 2016, com depressão clássica de intensidade leve. Para ela, não foi nada fácil aceitar o diagnóstico e começar o tratamento. Relata que apesar de aparentar ser aparentemente simples ouvir “seu diagnóstico é este e os remédios que deve tomar são esses”, ela demorou mais dois meses e meio para começar o tratamento medicamentoso. Naquele período sentia-se confusa, pois durante toda a vida foi contra a utilização de remédios até para dor de cabeça. Inúmeros questionamentos começaram a rodeá-la. “Será que devo tomar estes remédio? Será que ele fará com que eu pare de sentir as coisas boas também? Será que meus pais vão entender que eu preciso deste remédio ou acharão que falharam comigo?”. A solução para este impasse veio com a mãe de uma amiga dela, farmacêutica, e que disse: “se você fará uma cirurgia, você toma anestesia. Quando você faz um tratamento psicológico, uma terapia, não deixa de ser uma cirurgia. Então, por que não tomar uma anestesia para passar por este processo?”.
Quanto ao papel dos amigos e familiares, com seu jeito tímido de ser, ela conta esta história como resposta sobre como amigos podem ajudar pessoas que tenham depressão. Em uma noite aleatória que não se recorda bem quando foi, ela e seus pais brigaram. Teve que passar o jantar inteiro utilizando as técnicas de respiração que aprendeu na terapia para não chorar. Porém, assim que saiu de casa, desabou. Ligou para um amigo pedindo para que ele a encontra-se, mesmo sendo quase meia noite. Encontrou com seu amigo e ele a escutou por todo o tempo em que ela disparava freneticamente tudo o que precisava falar. Ele a ouviu atenciosamente por quase uma hora. Ao final, ele não a julgou. Deu a sua opinião pessoal sobre tudo que ela estava vivendo, mas ressaltando que independente dos problemas, ela merecia continuar vivendo e tinha diversas qualidades. Ingrid revela que a afirmação dele de que ela é uma pessoa gentil, a refez avaliar seus valores e ajudou a reconstruir sua autoestima. A autoimagem negativa é comum em pacientes com depressão clássica, e como demonstrado nesta história, as vezes um simples elogio pode ser um dos degraus necessários para que a pessoa conseguia se reerguer.
A melhor ajuda, segundo Ingrid, é perceber que existem pessoas que realmente querem te escutar e que ajudam a enxergar seu lado bom, pois neste momento, é difícil conseguir enxergá-lo sozinha. Sendo assim, uma dica para aqueles que convivem com pessoas depressivas, é tentar compreendê-las, verdadeiramente, dentro do possível e ajudá-las a recriar sua autoestima. Quanto aos pais, não conversaram muito sobre seu diagnóstico. Ela simplesmente contou que foi no psiquiatra e que precisaria tomar remédios. Acredita que não houve reboliço por parte deles, pois seu pai também toma antidepressivos.
Outra ajuda que Ingrid encontrou foi na terapia cognitiva. Para ela, esta terapia funciona melhor do que a análise por oferecer ferramentas para utilizar no cotidiano. Basicamente, a terapia cognitiva é baseada em reestruturar a visão que o paciente tem sobre si e as situações que vive no presente, pois acredita que não é o acontecimento que é negativo na vida daquela pessoa, mas a forma como ela vê e lida com isso.
Diferentemente da visão geral de que o suicídio é algo premeditado por pessoas que não sentem mais sentido em viver, o relato de Ingrid mostra que não. Este pensamento não era consciente e que tão pouco ela fazia planos de como ocorreria. Apenas sentia que algo ruim poderia e, no fundo, gostaria que acontecesse. Apesar de toda a dificuldade que a depressão trouxe em sua vida, ela conseguiu enxergar um lado positivo neste período que está vivendo e no anterior ao tratamento. A depressão trouxe a necessidade de expor para fora o que não suportava mais dentro de si. A arte foi seu instrumento. Textos e desenhos foram sua primeira forma de lidar com a doença. Por meio deles, tentava se fazer compreendida por aqueles que estavam ao seu redor. Mas, mais do que isso, a fez perceber como estava realmente se sentindo e que precisaria de outros tipos de ajuda.
Seus olhos pequeninos e puxados, transbordam e se ampliam diante da sua compreensão em relação ao outro. Embora a entristeça relatar que a falta de calor humano, de carinho familiar na infância e atualmente também, podem ser um dos fatores sociais para o seu diagnóstico, ela conta que entende e não julga seus pais e as pessoas ao seu redor. Respeita a humanidade e os limites de cada um. Ingrid afirma que somente alguém que já viveu e sentiu o que a depressão nos faz, pode compreender e não julgar seu transtorno. Quando ela diz isso, não julga os comentários preconceituosos ou a falta de tato das pessoas, exatamente porque ela não deseja que um dia alguém possa compreender a depressão como ela, pois para isso a pessoa teria que ser depressiva também. E isso ela não deseja a ninguém.
Há questões culturais do meio oriental, há a cobrança do mercado de trabalho. E ainda assim ela não culpa nenhum dos lados. Em suas próprias palavras: é a vida de gente grande. Até que ponto não há uma prevalência maior por parte do mundo moderno ou da cultura oriental em ser gatilho para estes transtornos. Por que não os dois?
Quanto aos amigos, recorda que um dos momentos que realmente a ajudou nessa trajetória com a depressão é tão simples e puramente humano: ouvir, sentir que seu amigo realmente prestava atenção ao que ela dizia e que se importava com isso. Apesar da escuta ser primordial, ela se emociona ao lembrar que no momento que ele disse que ela era gentil, foi ali que ela se deu conta de que era uma pessoa que merecia viver tanto quanto as outras, porque agora ela havia descoberto ao menos uma qualidade em si.
Seus desenhos minimalistas, elucidam de maneira bela e profunda sobre o que ela sentia. Um papel em branco, com uma menina minúscula desenhada em um canto da página. Na cabeça dessa menina vão se amontoando pedras, no começo pequeninas e posteriormente enormes. Era assim que a depressão a fazia se sentir. Quantas vidas será que um elogio sincero, um silêncio amigo de quem mais quer ouvir do que falar, ou a arte foram capazes de salvar?
*Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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serifadas · 6 years
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Mariana Fava, 22 anos, foi diagnosticada com ansiedade quando estudava para o vestibular. Apesar de não saber explicar com precisão a primeira vez que sentiu os sintomas de ansiedade, como palpitação no peito, tremedeira e respiração ofegante, ela sabe que foi naquele período de estudos intensos que sua primeira crise de ansiedade aconteceu. Acredita que uma das razões para este transtorno ter surgido em sua vida se deve por sempre ter feito inúmeras tarefas ao mesmo tempo. Dentre elas, estava a ginástica rítmica. Com o período de vestibular, teve que abandonar a ginástica para focar somente nos estudos.
Ao sair da ginástica rítmica, seu tempo e foco passou a ser exclusivamente para os estudos. Entretanto, ela não conseguia nem se concentrar e nem se organizar. Aquele tempo a mais que adquiriu ao abandonar o esporte, não se converteu para o que deveria e quanto menos ela conseguia gastá-lo de maneira produtiva, mais ansiosa se sentia. Esse problema foi se tornando uma bola de neve. Mariana conta que seu diagnóstico ocorreu em 2012, quando terminou o colegial, e foi graças a sua mãe. Por ela ter contato com psiquiatras em seu trabalho, percebeu que o nível de ansiedade sentido por sua filha não era normal e poderia ser patológico. O diagnóstico foi realizado por um psiquiatra que trabalhava com sua mãe.
Admite que naquele primeiro momento aceitou fazer o tratamento até porque sem ele, ela não conseguia se manter focada para estudar. Porém, quando entrou na faculdade, continuou por um breve tempo mas decidiu parar com o Fluoxetina, que era o remédio que tomava. Mariana não realizou o “desmame”, termo utilizado por psiquiatras para a diminuição dos medicamentos e posteriormente parar totalmente. Ao parar com o remédio por conta própria, aconteceu o chamado “efeito rebote”. Significa a volta de algo e neste caso a ansiedade. Só que desta vez ela não veio sozinha, trouxe consigo a depressão.
A depressão descobriu há aproximadamente oito meses e começou seu tratamento, tanto com remédio quanto com terapia, que faz duas vezes na semana, há três meses. Os principais sintomas que sentiu foram relacionados ao aumento de apetite e a perda de prazer na leitura. Ela relata que sempre sentiu prazer ao comer, porém, de uns tempos para cá, passou a descontar na comida as suas frustrações e angústias, o que a levou a engordar alguns quilos. Com o aumento de peso, sua autoestima diminuiu bastante. Na depressão clássica, é comum o relato de pacientes que têm uma autoimagem depreciativa. Com os padrões de beleza, que pregam por mulheres magras, o caso de Mariana ficou preso em um looping. Quanto a leitura, ela também percebeu um dos sintomas da depressão aí. Antes o hábito de ler era rotina em sua vida. Com a depressão, começou a não conseguir mais se concentrar na leitura e, com isso, seu interesse foi desaparecendo.
Uma das áreas da vida que mais afeta sua ansiedade e a depressão é o mercado de trabalho. Por ser uma pessoa perfeccionista, dificilmente consegue estar satisfeita com o que entrega em seu serviço. Conta que desde os tempos de estágios na faculdade, não era sempre que cumpria somente as 6 horas obrigatórias, chegando a sair às 23h de seu expediente. A ansiedade a faz focar-se integralmente no trabalho o tempo que aguentar, já a depressão a deixa desanimada e muitas vezes teve que ir ao banheiro chorar sozinha. A junção das duas doenças a faz sentir-se culpada por não conseguir entregar tudo dentro do prazo estabelecido. Em contrapartida, ela também acredita que gosta de ficar tanto tempo no trabalho, mesmo que isso a desgaste ainda mais, porque ali, normalmente, consegue pensar menos em seus problemas pessoais.
Em algum dia que não mencionou, sua mãe leu que cachorros poderiam ajudar no tratamento da depressão. Decidiram o adotar e isso ocorreu a pouco tempo. Relata, de maneira sorridente, que ele tem a ajudado muito em vários sentidos. A depressão havia tirado sua vontade de realizações simples e rotineiras, como levantar da cama. E, que por sentir necessidade de passar boa parte do tempo em seu quarto, sentia-se muito sozinha. Seu cachorro tornou-se a razão para ter uma meta de levantar todos os dias. Ela precisa colocar a ração dele, levá-lo para passear, que ela ressalta que a ajudou a voltar a exercitar-se por meio da caminhada, e que ele a faz companhia.
Sobre amizade e familiares, o assunto é controverso. Há quem entendeu e ajudou, assim como também há aqueles que se afastaram. Mariana compreende que eles não têm como entender completamente aquilo que ela sente e suas necessidades porque eles não  têm depressão e ansiedade. Dentre as suas decepções quanto aos amigos, ela relata que alguns a culparam pela situação em que se encontra e por não ter procurado ajuda antes. Outros simplesmente não sabem o que dizer ou como lidar com sua doença. Alguns que disseram estar presente em todos os momentos, porém foram se afastando com o tempo. Mas também houve quem provasse o significado de amizade. Ao ser questionada sobre ações que a ajudam, ela relembra de um dia que teve uma crise. Ligou para um amigo, falou que não estava nada bem e que precisava encontrá-lo naquele noite com urgência. Ele aceitou e ela foi para sua casa. Chegando lá, ele nada perguntou. Passaram a noite jogando videogame, assistindo filme e conversando. O simples fato de tê-la recepcionado, sem julgamentos ou questionamentos, e feito coisas para que esquecesse o problema, foi o suficiente.
A religião também se mostrou uma grande aliada na luta contra a depressão. Ela frequenta o centro espírita Grupo Socorrista de Castelã, que fica no Sumaré em São Paulo. A filosofia espírita a ajudou a afastar os pensamentos suicidas. Mariana conta que esses pensamentos vêm geralmente quando está dirigindo. Quando está no volante, normalmente escuta músicas que não são tristes mas que relatam as suas vivências. Algumas vezes, em semanas que lhe são mais difíceis, como foi a semana anterior a esta entrevista, ela pensa que poderia bater o carro ou que algum outro acidente ocorresse. Não que ela realmente gostaria de cometer suicídio, mas pensar que todos os dias serão iguais a faz sentir menos vontade de estar viva e que poderia colocar um fim nisso. Este centro que frequenta toda terça a ajudou, por meio dessa crença, a não desejar que algo ruim acontecesse com ela. Esta religião prega que se ela cometer um atentado contra a própria vida, voltará na próxima para cumprir o que faltou e revivenciar os problemas não resolvidos.
*Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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serifadas · 6 years
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Ideias de cunho sexual envolvendo um parente martelavam na cabeça da menina de oito anos. Ela chamava de “pensamentos” as ideias perturbadoras que a assombravam. Por serem frequentes, sentia a necessidade de contar para os pais o que estava ocorrendo em sua mente. Hoje a estudante de administração pública Letícia Vilar, 20 anos, lembra que não sabia muito bem o que era sexo na com aquela idade e não entendia por que tinha a mente voltada para o tema, mas, diz ter vergonha de entrar em detalhes sobre a época.
Ouvindo os relatos e percebendo o sofrimento da filha em 2004, os pais de Letícia decidiram procurar uma psicóloga para orientar a família e entender o que estava acontecendo. A primeira profissional ouviu com atenção, mas ao final da conversa disse que não poderia ajudar a menina. Os pais ficaram arrasados, mas não desistiram de procurar uma resposta. Buscaram novos profissionais e, após um ano, finalmente encontraram uma psicóloga com a qual Letícia se identificou e se sentiu acolhida.
Em pouco tempo de conversa os “pensamentos” ganharam um nome científico: era Transtorno Obsessivo Compulsivo, TOC, distúrbio mental derivado da ansiedade fazendo com o que portadores da doença tenham imagens e ideias recorrentes em sua mente que precisam ser obedecidas com rigor provocando sofrimento e comportamentos repetitivos. Consequentemente, a pessoa começa a ter prejuízos em sua vida, como queda no rendimento do trabalho ou do desempenho escolar e problemas em se relacionar com outras pessoas.
Com a terapia uma vez por semana, Letícia melhorou, mas aos dez anos de idade a psicóloga encaminhou a garota para um psiquiatra. O trabalho em conjunto com o médico, acreditava, poderia beneficiar a paciente. Foram receitados remédios para controlar as crises. Entre trocas de medicamentos e dosagens para tentar amenizar as crises causadas pela doença, Letícia se viu estável por algum tempo. As crises vinham principalmente quando acontecia algo importante em sua vida, algo comum em qualquer transtorno ansioso.
Aos 13 anos, na sexta série, Letícia teve sua pior crise. Limpava a casa com um enorme rigor, seguindo os pensamentos obsessivos e atitudes compulsivas causadas pelo TOC. Esperava os pais irem dormir e esfregava alguns cômodos, não se lembra ao certo quais, utilizando litros e litros de álcool para exterminar qualquer evidência de sujeira, fungo ou bactéria. Tudo tinha que cheirar esterilizado,  e era feito silenciosamente para os pais não ouvirem. Mas as noites de limpeza não duraram muito tempo. Seus pais, percebendo o barulho e a falta dos produtos de limpeza, começaram a questionar sobre o que estava acontecendo. “Está muito sujo. Eu preciso limpar”, respondia.
No banho, a garota que antes se ensaboava com sabonete em barra, de repente passou a utilizar cerca de vinte frascos por semana da versão líquida do produto, que era comprado pelo pai, obedecendo às necessidades da filha. O colchão onde Letícia dormia amanhecia encharcado de álcool, já que ela passava a noite banhando a cama com o produto e tentando secar com o secador. O sofá da sala começou a ficar manchado por conta do uso de detergente. Além disso, começou a se atrasar para os compromissos devido ao banho que demorava em média cinquenta minutos.
Em 2014, no terceiro ano do Ensino Médio, Letícia e suas amigas esperavam a viagem de formatura para Cancún, no México. As amigas não paravam em falar sobre biquínis e inseguranças típicas da fase adolescente e Letícia que, até então, não tinha parado para pensar tanto sobre o seu corpo, começou a voltar seus pensamentos obsessivos para a comida e para a imagem que refletia no espelho. Com isso, vieram as perguntas repetitivas para os seus pais sobre a quantidade de comida em seu prato, o vômito forçado esporadicamente e palavras odiosas sobre si mesma que circulavam em sua cabeça vinte e quatro horas por dia.
Sendo tratada com remédios há dez anos e terapia há doze, atualmente Letícia consegue diferenciar o TOC de sua personalidade ou vontade. No final de 2016, largou o curso de do jornalismo na ESPM para fazer Adminstração Pública na Fundação Getúlio Vargas, GV – havia se desiludido com as matérias na faculdade. Quando estava prestando o vestibular para a GV, em 2017 vinham os pensamentos autodestrutivos, como “Não vou passar”, “Eu não sou boa o suficiente”, “Eu sou horrível”. Entretanto, em um momento de consciência, ela conseguia compreender que tudo aquilo estava pensando a respeito de si mesma era da doença e não era verdade, pois sempre foi muito esforçada e uma ótima aluna.
Apesar de já ter feito outros tipos de terapia, Letícia diz que ter optado pela terapia cognitiva comportamental (TCC), que iniciou no primeiro semestre de 2017, tem ajudado bastante. A nova abordagem está fazendo com que ela enxergue a diferença entre o que é propriamente dela e o que é do transtorno obsessivo compulsivo.
A TCC também a auxiliou a lidar com as frequentes recaídas, já que a vida nem sempre é linear e os altos e baixos fazem com que as crises voltem.
Em 2016, por exemplo, Letícia fez uma viagem para a Europa com a irmã de vinte e dois anos. Elas começaram pela França, para passar o ano novo em Paris e depois percorreriam Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Suíça, Holanda e Itália. Entretanto, os vinte e um dias de ônibus e trem entre sete países foram de muito sofrimento para Letícia. Ela sabia que estava passando por lugares incríveis, mas o TOC, o frio e a saudade do ex-namorado faziam com que ela só quisesse ficar trancada no quarto do hotel ou se recusasse sair do ônibus nas paradas em pontos turísticos. Querendo voltar para o Brasil, Letícia brigou com a irmã e recorreu ao pai que a fez repensar sobre a volta para a casa e a convenceu a terminar a viagem.
O apoio da família e dos amigos, conta, foi fundamental para a sua recuperação quando as coisas estavam mais críticas, quando ela tinha treze anos e a questão da limpeza começou a ser um problema. O fato de o seu pai compreender a sua doença e a levar até a farmácia para comprar quantos sabonetes líquidos quisesse significou muito, por exemplo.
Os amigos também sempre a apoiaram e estiveram dispostos a ouvi-la quando ela precisasse desabafar. Para Letícia, as pessoas deveriam parar de banalizar os transtornos mentais falando que “acha que tem TOC” ou outra doença mental só porque curte o armário arrumado seguindo uma sequência de cores, por exemplo. “Ter TOC é muito mais complexo do que as pessoas pensam. Não é frescura, não somos mimados ou ingratos, nós temos uma doença que precisa ser tratada e discutida. É importante falar sobre também.”, relata Leticia.
Hoje em dia, os pensamentos obsessivos relacionados ao seu corpo voltam esporadicamente, mas Letícia tenta controla-los continuando seu tratamento e se ocupando com a faculdade, que está tomando muito do seu tempo atualmente. Ela, que se considera “namoradeira”, também usa seu tempo para se divertir, sair com os amigos e paquerar, como qualquer pessoa em sua idade.
*Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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serifadas · 6 years
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- Bom dia, bom dia a todos! - inicia o palestrante.
- Bom dia. - responde a plateia.
- Dormiram bem? Tudo tranquilo, tudo em paz? - questiona novamente o homem, em pé.
- Na paz. - responde o coro de rapazes de todas as idades sentados na sala de TV.
- Só por hoje eu sou o Gilvan. Ainda não troquei de nome. Porque eu poderia ser o cara que tá na rua, que não tem nome e ninguém vê. Aliás, eu seria um “nóia”, eu receberia um nome. E seria aquela pessoa que quando chega todo mundo fecha a cara e que se torna alguém que ninguém gosta de estar perto. Mas só por hoje eu sou o Gilvan e é por ele que eu estou sempre buscando.
Assim finaliza a palestra um dos ex-funcionários da Comunidade Terapêutica Oigres, uma das clínicas de reabilitação em que trabalhou.
Gilvan Taveira é um homem grande, de aproximadamente 1,80m, forte, de olhos claros e barba branca que evidencia os 41 anos que já se passaram. Hoje, trabalha como coordenador da Clínica Espaço Nova Conquista, uma pousada para dependentes químicos em Mairiporã, na Serra da Cantareira, região metropolitana de São Paulo. Gilvan conversa com internos, dá palestras sobre saúde, psicologia e espiritualidade, faz reuniões com familiares dos “meninos”, como costuma chamar aqueles que descansam na comunidade terapêutica, para estreitar o vínculo entre os indivíduos em tratamento, a casa e a família, e executa serviços administrativos, como verificar as compras necessárias para a clínica se manter durante o mês.
A rotina de trabalho em Mairiporã nos dias úteis é brevemente interrompida pela folga, que é alternada entre um final de semana na casa de sua tia e o próximo na  casa de sua mãe, ambas em São Paulo. Durante o tempo livre, se reencontra com a filha de 14 anos que é criada pela avó paterna, também estuda Serviço Social à distância na Universidade Paulista (UNIP), graduação que adiou várias vezes e hoje consegue cursar. Vai dessas casas para o trabalho e vice e versa, sem outros roteiros ou destinos a fim de cumprir uma regra que estabeleceu consigo mesmo: ficar longe de qualquer distração que possa desencadear em uma nova recaída.
Até pouco tempo mudava de cidade a cada oportunidade de trabalho que surgia. Já morou em Curitiba, Iguapé, no Brás e na Zona Sul de São Paulo. Na mesa de som, aos 27 anos, Gilvan operava como técnico de áudio de bandas consagradas como Skank, O Rappa, Cidade Negra e outros nomes importantes. De dia, viajava para trabalhar e, à noite, saia para curtir com o seu primo em baladas, festas e bairros badalados na capital paulista. Nesse meio tempo, passou a usar maconha para relaxar e cocaína para estimular, até chegar ao crack e ter às ruas como teto. Ele conta, sem maiores detalhes, que ao começar a roubar e ameaçar sua família para conseguir dinheiro e comprar droga, ele foi expulso de casa.
A dependência química não era à toa. O diagnóstico feito por um psiquiatra em 2006 na Unidade de Dependência de Drogas (UDED) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) constatou seu vício patológico em cocaína, maconha e crack. Além disso, o médico detectou ansiedade e depressão crônica. Por isso, Gilvan encontrava nas drogas ilícitas um tratamento para aliviar momentaneamente os sintomas dos seus transtornos mentais. Com o decorrer do tempo, seu método independente se tornou caro demais e ele buscou ajuda para ficar livre das drogas e tratar seu corpo e sua alma de uma forma mais prudente e responsável.
Gilvan começou então as sessões de terapia e o tratamento medicamentoso com Cloridrato de Paroxetina e Carbamazepina. Como muitos pacientes, não se estabilizou no primeiro medicamento. Seu corpo só se dá bem até hoje com 100mg de Sertralina diariamente, um antidepressivo que inibe a recaptação da serotonina, neurotransmissor que tem entre outras funções, a regulação do sono, do humor e do apetite.
Entre seus principais sintomas, ele cita a impulsividade, a instabilidade do humor e a incapacidade de lidar com frustrações ou perdas. Também comenta sobre a angústia que sente ao estar em aglomerações, preferindo passar a semana afastado da capital a pegar um ônibus cheio diariamente e não se sentir seguro. Ainda sim, observa que não consegue trabalhar em um “serviço formal” por não ser capaz de lidar com muitas cobranças.
Sua primeira crise depressiva aconteceu aos 17 anos, ao terminar um relacionamento. Perdeu a esperança e a vontade de viver, passando a se isolar emocionalmente e a usar drogas e álcool para tentar seguir com a vida.  Ele  lembra que naquela época ainda não se falava em depressão e só ia ao psiquiatra quem tinha muito dinheiro ou estava em surto psicótico.
Uma recaída em 2016 também foi motivada por um término de relacionamento. No início do ano tentou estreitar laços com uma moradora de Curitiba, chegando a tentar trabalhar na cidade para ficar mais próxima da pessoa amada. Mas ao quebrar os vínculos, Gilvan encarou a realidade voltando a sentir os sintomas da depressão e da ansiedade e a usar drogas até ser preso no CDP1 de Guarulhos (Centro de Detenção Provisória), onde ficou em regime fechado por quatro meses. A prisão foi consequência de um de seus momentos de euforia, em que no decorrer de 14 dias usou droga, alugou um carro e ainda sob efeito de álcool e do crack, não devolveu o automóvel e acabou sendo pego pela polícia com um mandado de prisão.
Na penitenciária viveu os piores dias da sua vida. Trancafiado com 58 homens, a cela pequena não tinha ventilação ou acomodação. O banheiro era um cubículo com uma privada sem água corrente e no chuveiro caia água suja apenas duas vezes por dia. Ele não tinha atividades para desempenhar, muito menos atendimento médico e acompanhamento psicológico. Não aprendia nada que prestasse à sociedade e era presa fácil para entrar em algum esquema e acabar aumentando sua pena. “Não troco meu pior dia na rua pelo melhor dia encarcerado”, afirma Gilvan.
Apesar dos maus tratos em cárcere, noites mal dormidas e lágrimas que caiam em um misto de raiva, saudade e tristeza, ele continuou tomando Sertralina todos os dias após o café da manhã. O medicamento foi garantido após uma triagem da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) e era distribuído pelos “setorianos” do 1533 (código usado para se referir ao aspirantes do PCC).  Lá, quem mandava e lutava por um sistema sem opressão era a bandidagem. Era o PCC que garantia enfermaria e medicamento para quem precisasse. “Creio que se não tivesse meu medicamento lá, eu teria feito algo ruim. Você pensa em suicídio, em homicídio. Você só quer sair de lá. Não importa como”, reitera Gilvan.
Hoje em dia, Gilvan faz tratamento medicamentoso e terapia-cognitivo-comportamental a cada 15 dias. Ele reestruturou sua vida a partir das suas necessidades, pois acredita que a tecnologia e os estímulos cotidianos têm grande peso no aumento dos diagnósticos de transtornos mentais. Desta forma, prefere se manter afastado ao máximo de seus gatilhos e do dia a dia de correria e de instantaneidade que o mundo moderno cobra a todo instante e que a sua ansiedade faz questão de reforçar.
Apesar de desempenhar uma função importante no trabalho e melhorar aos poucos a vida de muitos internos na Clínica Nova Conquista, ele minimiza suas dores. Um dos meios mais comuns de autossabotagem sintomática nas pessoas com ansiedade e depressão. Compara seus problemas aos dos pacientes do APAE de Atibaia, associação que visa à inclusão da pessoa com deficiência intelectual e que Gilvan frequenta com certa regularidade, pois se sente bem fazendo parte de ações solidárias.
É objetivo e firme em suas falas ao discorrer sobre seu novo estilo de vida que de excesso só cabe o cigarro. E passa a confiança de um pai quando diz ver a felicidade nas pequenas coisas, como acompanhar o crescimento de sua filha, poder cursar a graduação que sempre quis e trabalhar em um lugar onde pode reerguer muitos colegas que chegam em um estado em que Gilvan já esteve uma vez. Seu olhar triste e solitário é pequeno diante do potencial de seu sorriso tímido e do coração cheio de esperanças.
*Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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serifadas · 6 years
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Antes do diagnóstico de transtorno de ansiedade social e crises dissociativas, Luís Gaspar, 27 anos, era editor de redação de uma agência publicitária. Pesando 106 quilos, trabalhava em média 20 horas por dia. Dor no peito, a falta de ar e os batimentos cardíacos acelerados eram frequentes, assim como o isolamento social e a esquiva de ambientes com muitas pessoas ou que exigiam o toque como convenção social, como cumprimentos e abraços, por exemplo. O pensamento acelerado não o deixava dormir mais do que 3 ou 4 horas por dia, e só conseguia a base de muito álcool antes de ir para a cama.
Hoje em dia, Luís dorme 6 ou 7 horas por dia e controla suas crises de ansiedade com exercícios de respiração, muay thai e culinária. Dedica a maior parte do seu tempo lendo para o mestrado de jornalismo e entretenimento que faz na Cásper Líbero, onde pesquisa a gastronomia como forma de comunicação afetiva. Ele também dá oficinas de escrita criativa para turmas de no máximo 15 pessoas e, eventualmente, faz uns freelas para agências publicitárias e assessorias de imprensa.
Encorajado pelo melhor amigo, um psicólogo, foi após uma crise de pânico que Luís finalmente resolveu buscar ajuda para tentar entender o que acontecia com o seu corpo e sua mente desde pequeno. Em fevereiro de 2016 ele estava saindo de um estacionamento e travou ao ver um carro vindo em sua direção, do outro lado da rua. A via de mão dupla era espaçosa, mas Luís jurava que os carros iriam colidir. Os cálculos apressados martelavam em sua cabeça a imagem de um acidente, e o impedia de dirigir. Ele então, ligou para o amigo pedindo ajuda e foi levado em segurança para a casa. Após alguns dias, iniciou o tratamento psicológico com sessões semanais de terapia junguiana que perduram até hoje.
A terapia foi o início de um processo de autoconhecimento auxiliado com o tratamento medicamentoso que começou a fazer em novembro de 2016. Ele foi encaminhado ao psiquiatra após ter uma das mais fortes crises de dissociação que já teve.
As crises dissociativas são episódios de alteração de consciência em que o indivíduo se desvincula do seu “eu primário” e pode esquecer durante esse período quem ele é, quem são pessoas conhecidas, onde ele está, o que está fazendo em que dia está ou que horas são.
Além disso, podem experimentar a sensação de estar “fora” do próprio corpo e realizar tarefas sem consciência. É como se, ao reviver um evento traumático, a identidade se separesse da memória, a pessoa se transformasse em duas e tudo aquilo que está sendo sentido fosse um sonho. Ela pode sair de casa sem saber quem é, sumir por uns dias, voltar e nunca saber que passou um tempo fora, por exemplo.
O fato aconteceu quando Luís chegou em casa em uma sexta às 20h e só acordou no domingo às 19h30. Foram quase 48 horas fora de si, sem saber quem era, onde e em que dia e hora estava. Ele relata não lembrar de muita coisa, mas acordar com muita dor no maxilar, nos músculos e na mão. No mesmo domingo, ele ligou para o melhor amigo e sua psicóloga e contou o que tinha acontecido. Além disso, também passou com um ortopedista e descobriu que talvez ele tivesse socado uma parede com muita força e, por isso, não conseguia mexer a mão. Também soube através de um amigo que cursa TI que durante o tempo em que ele ficou “fora”, Luís tinha ligado para ele e falado sobre antropologia gastronômica, assunto que seu amigo considerou incompreensível. Após unir a terapia semanal com os diários 30 mg de cloridrato de duolexetina, Luís mudou completamente de vida. No mesmo dia que pediu demissão, passou em uma farmácia para se pesar, foi até a academia, se matriculou e plantou a sua horta. Desde então, ele emagreceu 20kg em 2 meses, voltou a malhar, decidiu entrar no mestrado, começou a cuidar da sua casa, a falar com as pessoas e sua relação com a família também melhorou muito.
Hoje, Gaspar consegue identificar a ansiedade no controle de sua vida a partir dos 9 anos de idade. Através da sua mãe, resgatou a memória de infância de um evento em família que acontecia em sua casa, quando, de repente, Luís sumiu e foi encontrado pela mãe do outro lado da rua chorando desesperadamente e se recusando a voltar para a casa alegando que estava passando mal por ter muita gente junta na sala.
O intenso sofrimento diante de situações sociais já era um indício de sua ansiedade, assim como a agressividade, o desinteresse e a falta de concentração que tinha durante o ensino médio, que teve que terminar por meio de um supletivo. Ele lembra sua adolescência difícil, em que era julgado de “playboy rebelde” quando não conseguia ir para a escola, tirar boas notas e ficava frequentemente doente por conta da ansiedade. Ele confundia os sintomas do transtorno mental com a sua própria personalidade. Acha que era realmente o menino transgressor que não gostava de estudar, como muitos diziam.
A sua crise mais marcante foi aos 15 anos de idade, no segundo colegial, em que de 12 matérias no currículo, ele estava reprovando em 9. Um certo dia ele fez uma prova de física e tirou 9. “Eu não sei o que aquilo significou para mim, mas eu tive um surto. Eu enlouqueci.” Ao chegar em casa, passou dias chorando. Foi sua primeira crise de dissociação. Sua mãe perguntava o que estava acontecendo, mas Luís não sabia bem quem era aquela pessoa. Foi aí que Luís decidiu parar de estudar pela primeira vez. Ele passou 3 dias sem sair de casa e sem falar com ninguém. Hoje ele sabe que tudo aquilo era fruto de sua ansiedade. Ele não conseguia lidar com a situação, com aquelas pessoas e nem com os elogios.
Por ter sido diagnosticado apenas aos 26 anos, Luís foi aprendendo a lidar com a sua ansiedade sozinho. No trabalho, a doença provocava um anseio inexplicável e ele transformava o transtorno em um diferencial. Ele matava sua sede com a enorme carga de trabalho, que, na época, não considerava anormal. Seu apelido na agência era “Gaspar – o trabalhador”. O ritmo acelerado fazia trabalho por dois, agradando os chefes pelo extraordinário desempenho.
Durante o processo criativo a ansiedade era vivida em níveis altíssimos, causando enorme sofrimento e desgaste mental que, só pode ser percebido, após meses de psicoterapia. Luís recebia as demandas, colocava seu fone de ouvido e passava 4 horas trabalhando fora de si. Seus colegas de trabalho brincavam: “O Gáspar vai entrar na bolha/aquário.” Durante esse período ele não reagia a qualquer estímulo externo. Os cutucões eram impenetráveis no mundo que dedicava ao seu trabalho, e que era só seu. No final do processo, ele entregava 4 ou 5 apresentações (número muito acima do esperado pela chefia) e voltava a responder quem eventualmente o chamasse.
Em 2015, durante 9 meses, teve uma escola de inglês em uma sociedade com o seu pai. Luís entrava às 7h da manhã e saia 00h. Abria e fechava a escola todos os dias. Era o orgulho da franqueadora. Um certo dia, teve que retirar um cálculo que tinha ficado entre sua bexiga e seus rins. A ansiedade era tão presente que mesmo após a cirurgia, portando uma sonda vesical, Luís foi trabalhar. Sua “sorte” é que na época uma de suas assistentes ameaçou fechar a escola caso Gaspar não fosse para casa descansar.
Ele conta que, aos poucos, foi percebendo que sua rotina de trabalho e o hábito de beber até dormir não eram saudáveis. Mas o mais difícil foi sair do emprego na agência. Ele teve que pedir para sair mais de uma vez, pois seus chefes – que sabiam do seu transtorno ansioso – achavam que aquilo era só mais um desafio que Luís tiraria de letra e, portanto, ele deveria continuar no cargo. Até o dia em que o que era considerado antes eficiência, foi descoberto como uma doença mental – a ansiedade.
Com o decorrer do tempo, Luís não conseguia mais entrar na “bolha”. Quando Luís percebeu que quanto mais ele se curava da ansiedade, pior ele ficava no trabalho, ele decidiu sair definitivamente e mudou totalmente seu estilo de vida.
Atualmente, ele trabalha até onde acha necessário, sem ultrapassar os seus limites. Está em um em relacionamento sério e julga estar feliz pela compreensão e por ter alguém que o acolha em todos os momentos. – já que sua namorada também tem transtorno de ansiedade. Em outros momentos, ele se aproximava de alguém, mas ao ter alguma crise, já se afastava para não ter que lidar com mais essa carga. Além de não querer ter um relacionamento mais sério por medo do toque, algo que lhe causava uma angústia muito grande.
Antes do tratamento, Luís tinha crises ansiosas todos os dias. Hoje em dia ele tem crises uma vez a cada 15 dias. “Você vai ganhando compreensão sobre si mesmo e começa a ver em que lugar você pode e não pode se colocar. A gente começa a perceber que tipo de pessoa você quer por perto, que tipo de trabalho você pode aceitar...”
Ele faz freela através de um amigo que recebe muitos. Então, de vez enquanto, ele recusa alguns trabalhos para se proteger ou não gerar gatilhos. Ele quase não assina mais seus trabalhos para se certificar que as pessoas não fiquem mandando e-mail. “Eu descobri que o contato social me faz mal, então eu tenho que saber que tipo de contato eu vou ter.”
No momento, ele receia em parar de tomar o medicamento que controla suas crises e dissociações. Seu maior medo é que sendo a dissociação um processo de psicose, ele venha a “quebrar”, dissocie e nunca mais volte, como os esquizofrênicos. “Se o seu corpo não te defender o bicho pega. Se você não se cuidar uma hora você vai quebrar. Não tem jeito. Hoje meu maior medo é ter uma crise e não voltar, porque é um lugar péssimo de se estar.”, diz Luís.
*Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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serifadas · 6 years
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Ela veste um sorriso largo, cabelos longos, pretos e recém-lavados, blusa em tons de azul, dois brincos em cada orelha, um colar e um relógio prata. Penteia o cabelo molhado, retoca o pó no rosto e se olha no espelho para checar se falta algum detalhe para a gravação. Está pronta para esse desafio.
Alessandra Veronesi, 34 anos, passa a tranquilidade e o gosto pela vida em seu olhar para o infinito, como alguém que admira o mar. Oceano esse que contempla todos os dias ao sair de casa e ir para o serviço, locomovendo-se por Santos, onde é gestora de pessoas e insere jovens aprendizes e estagiários no mercado de trabalho. Nascida e criada em São Paulo, sabe se virar no ritmo acelerado da cidade grande, mas preferiu trocar o trabalho no Call Center da TAM, no Aeroporto de Congonhas, para ganhar menos, mas reduzir o tempo gasto no trânsito e poder andar na areia da praia todos os dias, há sete anos, quando mudou-se para a baixada santista.
Sua serenidade e descontração transmitem toda a calma adquirida por priorizar sua saúde e a qualidade de vida na cidade litorânea. Em 2005, após uma viagem a Buenos Aires que fez acompanhada de uma amiga para celebrar seu aniversário de 22 anos no exterior, a comemoração tornou-se um tormento antes de entrar no avião que partia para a Argentina.
Alessandra estava sentindo algo ruim se aproximando, por isso foi até a capela do aeroporto e rezou antes de embarcar. Durante as 3 horas de voo e a chegada no hotel, ela relata momentos de terror na viagem que fora marcada por sensações de desmaio, tonturas, falta de ar, coração acelerado e dores no peito. Após descansar um pouco no hotel, foi até o shopping, comeu alguma coisa e voltou de táxi passando mal novamente. No dia seguinte, fez o citytour  com sua amiga e aparentemente estava tudo bem, até que deitou na grama em uma das praças de Buenos Aires – ela não se recorda qual – e sentiu tudo girar novamente. Mais uma vez teve que voltar para o hotel. De lá, telefonou para uma amiga que morava na cidade e foram até uma farmácia verificar os sinais vitais. Tomou um calmante natural que o farmacêutico recomendou e foi até um apartamento onde foi surpreendida com uma festa surpresa. Embora feliz pelo carinho dos amigos, ela não passou mais de dez minutos no local. Pediu desculpas aos convidados, agradeceu pela festa e voltou para o hotel ainda sentindo mal estar. No dia seguinte, pegou o primeiro voo para o Brasil.
Foi então que a sua saga começou.
Sentindo-se muito mal com os principais sintomas de uma crise de ansiedade, passou uma semana longe do trabalho para buscar respostas junto a médicos. Atendida pelo plano de saúde empresarial, Alessandra passou por clínicos gerais que a medicaram com calmantes e não indicaram nada além de estresse momentâneo. Passou também em um neurologista que só apalpando uma pequena bolinha em sua cabeça, sem pedir exame nenhum, a diagnosticou com câncer, deixando-a mais apavorada ainda. Ao buscar uma segunda opinião, descobriu que era um simples calo ósseo em seu crânio e que só deveria ser retirado caso ela se incomodasse esteticamente.
Só então sua mãe sugeriu um psiquiatra. “Para mim, a sugestão foi um balde de água fria. Achei um absurdo. Eles achavam que eu tava louca?!”, relembra Alessandra, rindo da situação.
Seguindo o conselho da mãe, Alessandra foi ao psiquiatra e finalmente conseguiu uma resposta que fazia sentido. Ela tinha Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de Pânico. Teria que se afastar do trabalho por no mínimo 3 meses, para dar início ao seu tratamento medicamentoso e ao acompanhamento psicológico duas vezes por semana.
Em abril de 2005, a primeira quinzena com os remédios foi de muito sofrimento e incompreensão. Ela não entendia porque ela precisava ficar em casa, até que a assistente social do seu trabalho lhe disse que assim como alguém que se corta com uma faca precisa de afastamento, ela também tinha um corte, e apesar de ser invisível, a cicatrização também era necessária. Ainda sim, os efeitos adversos do Cloridrato de Fluoxetina estavam causando tremedeiras, espasmos musculares e alucinações ao dormir. Mas foi a partir do 16º dia que ela relata uma melhora significativa.
O apoio de sua mãe foi fundamental para sua recuperação que esteve ao seu lado durante todo o processo que teve altos e baixos durante os meses de afastamento do trabalho, três em 2005 e um ano e três meses em 2013. Só queria ficar no quarto, não saia de casa e cada passo era um esforço imenso. Foi aos poucos aprendendo a conviver com as crises de pânico de 10 minutos que tinha em média duas a três vezes por dia e o novo corpo, que havia ganhado mais 45 kg por conta da medicação. “No começo eu sofri muito com a mudança no corpo. Depois eu me conformei e fui viver minha vida.”, conta ela.
Ao ver se ver melhor, Alessandra, como muitas pessoas que têm transtornos mentais, passou uma época por conta própria tomando os remédios em dias alternados ou deixava  o medicamento de lado por alguns dias, uma estratégia de auto-sabotagem que culminou em uma recaída forte, acarretando em crises piores do que as primeiras que teve. Acompanhada de profissionais, contou a verdade e, trocando doses e fórmulas, conseguiu se estabilizar novamente.
Durante o processo, casou-se com seu atual ex-marido. Escolheu estrategicamente uma igreja pequena para que não desse tempo de passar mal na caminhada até o altar e durante toda a cerimônia. Apesar disso, quando colocou os pés na igreja o nervosismo e sua ansiedade falaram mais alto. Os passos bambos até o altar foram acompanhados de tremores e sudorese. Vendo o sofrimento e o olhar difuso e desesperado de Alessandra, o padre se apressava para terminar o ritual antes que as sensações de desmaio se tornassem uma síncope completa.
Ela também viajou até Foz do Iguaçu com seu ex-esposo e sua ex-sogra. Durante a viagem, os três sofreram um sequestro relâmpago. Ao ver-se naquela situação, enquanto os outros respeitavam os comandos de silêncio dos bandidos, sua reação foi falar sem parar, cuspindo palavras sem sentido algum durante todo o trajeto que os criminosos percorreram de carro.
Também teve momentos muito felizes quando pulou carnaval em Salvador, depois dos primeiros meses fazendo tratamento medicamentoso e visitas ao psicólogo. Como boa parte dos casos, não acertou de primeira e teve que batalhar para conseguir ver-se livre dos sintomas da ansiedade e do pânico. Ela trocou de psiquiatra, mudou diversas vezes de medicamento e foi testando para ver até onde ia, reconhecendo sempre suas pequenas vitórias cotidianas.
Hoje, ela vive dentro dos seus limites, agora sem bebidas alcoólicas, coca-cola e cafeína que fez questão de eliminar da sua vida logo no início do tratamento devido ao risco desses componentes desencadearem mais crises ansiosas. Muito consciente de suas limitações e seus privilégios, Alessandra ingere duas caixas de Cymbalta por mês, um antidepressivo que age no sistema nervoso central e é indicado para depressões mais severas. Cada caixa do medicamento custa em média 140 reais (preço reduzido por conta do recente lançamento do genérico), ela ainda gasta mais 120 reais por sessão de terapia cognitivo comportamental que faz quinzenalmente, 110 reais por uma caixa com 60 comprimidos de Bipium, um medicamento receitado pelo seu psiquiatra para auxiliar no emagrecimento e os 320 reais pelas consultas particulares no psiquiatra. No total, 950 mangos para lá de salgados para garantir a convivência com a doença e ter uma vida (quase) livre de crises de ansiedade e pânico.
Ela viaja muito por conta do trabalho, sai com os amigos de São Paulo, curte a praia e é grata por cada minuto em paz, vivendo-os como se fossem os últimos de sua vida. Alessandra acredita que sua melhora foi devido a três fatores que chama de “Triângulo de sustentação”: o tratamento psiquiátrico (com visitas frequentes ao médico que adequava medicamentos e doses de acordo com sua necessidade), a terapia (onde se descobriu capaz de conviver com as doenças mentais que tinha, lidar com as crises que durariam no máximo 10 minutos e conheceu a potência de seu próprio ser, uma pessoa alegre, ativa e com sede de viver) e a espiritualidade (que através da energia de passes que sua mãe recebia em um centro espírita foi limpando tudo o que havia de ruim, agarrando-se na fé e contribuindo para sua recuperação).
Vivendo há 12 anos com transtorno de ansiedade e pânico, ela reitera que o apoio externo é muito importante durante o tratamento de doenças mentais. Os parentes e amigos próximos não devem ignorar os sintomas, menosprezar a dor ou comparar os sentimentos com outra pessoa em sofrimento, por exemplo. “Eu já ouvi: Puxa, Alessandra, mas você já foi em um hospital visitar crianças com câncer? Já foi em alguma favela?”, relembra ela. Esse tipo de fala é extremamente nocivo a qualquer um. Além disso, ela também aponta que para ajudar é preciso ler e se informar sobre saúde mental (recomenda o livro “Mentes Ansiosas” de Ana Beatriz Barbosa Silva) e sempre estar firme e passar confiança, sem se compadecer demais e vitimizar a pessoa. *Texto produzido em conjunto com Roberta Minhoto para a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero*
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