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#El pela Romero ok
geniousbh · 16 days
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⸻ 𝒍𝒔𝒅𝒍𝒏 𝒄𝒂𝒔𝒕 𝒂𝒔 𝒃𝒐𝒐𝒌 𝒕𝒓𝒐𝒑𝒆𝒔 📖✒️
( parte 1, parte 2)
parte 3 (e última): francisco romero e matías recalt
obs.: olá misses bumbuns, todas bem? quero avisar que esta semana meu cachorro e minha mãe ficaram doentes ao mesmo tempo o que me fez entrar num estado de melancolia onde eu só conseguia ouvir car's outside e pensar em scenarios tristes, e a corda estourou pro lado do francisco, então já aviso que a prompt dele saiu direto da sadolândia, ok?
obs.²: minha próxima canetadinha será com ele, emabaixador dos muleques piranha, matías recalt, mas não vai sair tão rápido quanto a kukufer x student porque preciso fazer aulas da pós e ler "a interpretação dos sonhos" do freud. mas irá sair! além disso, muitíssimo obrigada pelo apoio nos últimos dias, me sinto muito feliz de poder escrever e ter pessoas que apreciam, significa muito pra mim <3
tw.: nenhum.
𝒇𝒓𝒂𝒏: first love + wrong time, right person
quando você o viu pela primeira vez tinha oito anos de idade. neto do caseiro da propriedade dos seus avós. mesmo para a idade, ele já era considerado bem alto, mas não era isso que lhe chamava a atenção. seu coração de menina se encantava sempre que ele ia com o avô consertar as cercas ou cuidar de algum animal nos celeiros. os cabelos loiros com alguns cachinhos e os olhos azuis cristalinos que te faziam lembrar de banhos de piscina e verão, ainda que fosse começo de julho.
depois de duas semanas de férias na fazenda, você e ele eram inseparáveis. gostavam de explorar toda a região, desde os currais até a beira do rio onde ele sempre te provocava sobre ter sapos, cobras e de uma vez que ele jurava ter visto um jacaré. era tão leve e inocente, tão doce, estar na companhia dele. mesmo da vez em que você tropeçara e um ralado enorme e feio abrira em seu joelho, porque isto o fizera lhe carregar de cavalinho até em casa, ou então quando sua mãe te excomungava, berrando e gesticulando, por chegar completamente enlameada pro jantar, porque minutos antes era o rapazinho quem te acompanhava na aventura de procurar poças para pular enquanto riam juntos.
no ano seguinte era a mesma coisa, a amizade de vocês se nutria por vários meses, ansiosos para que chegassem as férias e pudessem contar tudinho um ao outro sobre o que tinham passado, sobre brinquedos novos, sobre a escola e coleguinhas. você tinha até mesmo comprado um diário para escrever seus dias, com a promessa de que levaria para a fazenda e leria junto com ele para não se esquecer de nada.
no entanto, no inverno do seu décimo aniversário sua avó descobria uma doença, e a propriedade era colocada à venda a fim de custear o tratamento, o que significava também que você não mais voltaria lá nas férias seguintes ou em qualquer outro ano. seu único consolo fora quando, no último dia de estadia lá, antes que seus pais ajudassem seus avós com o restante da mudança, o loirinho pedira que você o acompanhasse até um ipê rosa enorme e florido nos fundos do pasto.
você em prantos enquanto a mão maior que a sua te puxava até debaixo dos galhos da tal árvore. a cada brisa mais forte pequenas pétalas e flores caíam sobre as duas crianças. ele se curvava e enxugava seu rosto com as mangas da blusa comprida. "ssshhh, tranquila, tranquila", o garoto soprava baixo, na tentativa de te acalmar. "me duele verte llorar así, hm?", e na verdade você queria entender como ele poderia estar tão calmo?
francisco romero, que já era dois anos mais velho, te abraçava e então pegava algo no bolso de sua calça. sutilmente, segurando sua mão pequena e colocando um anel feito de cordas e fibras de trepadeira, que ele mesmo tinha se dado o trabalho de fazer, em seu quarto dedo direito. "esto no es un adiós! te encontraré en el futuro, nena!", seguido de um selar muito breve e salgado (por causa das suas lágrimas); seu primeiro beijo.
e não só fora seu primeiro beijo, como também seu primeiro amor. nenhum dos dois precisava dizer que era, até porque não saberiam naquela época. mas ainda tinha a memória vívida de quando ele correra por vários metros acompanhando o carro onde você deixava a fazenda, gritando "hasta luego"s e "cuidate"s e de como as férias do ano seguinte haviam sido horríveis, e de que você não mais tinha escrito em diários desde então.
por estes motivos, vê-lo ali, depois de quinze anos, na sua festa de noivado, era como estar numa espécie de sonho induzido. o rosto não mudara tanto, tirando que agora ele sustentava um bigodinho ralo, e obviamente também tinha crescido ainda mais, mas os cachos angelicais e os olhos ainda eram os mesmos.
francisco caminhou até você que se levantou exasperada, caminhando apressada e dificultosamente por conta do vestido longo que usava até que o abraçasse. os braços longos não tardavam em retribuir e uma das mãos agora pousava na sua cabeça, afagando seus fios. até mesmo o cheiro de terra molhada com um aroma doce de flores nele continuava igual. e, como se regressassem anos, não disseram nada, nem se explicaram, já que ambos sabiam que faziam parte de uma trágica história de amor.
contudo, quando a festa ia se encerrando e a maior parte dos convidados já tinha ido embora, e seu noivo estava conversando com amigos perto do bar, francisco reaparecia com uma caixa de madeira e se sentava ao seu lado na mesa de toalhas brancas. sorrindo sem jeito e colocando o objeto sobre a superfície antes de empurrar na sua direção.
você o fitava curiosa, uma sensação de cócegas dançando bem na boca do seu estômago, e quando finalmente abria, via ali dentro vários cadernos. tinha de todos os tipos, todas as cores, alguns estavam visivelmente mais desgastados e manchados do que outros. "son diarios... después de que te fuiste, pensé que sería más fácil poder escribir como si estuviera hablando contigo", um riso nasalado o escapava enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas, como da última vez em que tinham se visto. "nunca dejé de pensar que te volvería a encontrar".
e bem ali estava, o segundo eu te amo que vocês trocavam. seu choro era comportado, embora a vontade fosse de sair correndo e esperniando, os dedos com as unhas feitas com francesinhas agarravam e puxavam a caixa para si. você murmurava um obrigado fraquinho e ele se inclinava para selar sua bochecha antes de sair e deixar o buffet.
dia 5 de abril de 2024, a última nota do diario mais recente "nena, me contaram que você alugou a antiga fazenda dos seus avós para ter sua festa de noivado! confesso que mesmo depois de tanto tempo essas notícias ainda me pegaram de surpresa. enfim, eu escrevo esse último recado não só para parabenizar a mulher que você se tornou e a sua conquista, mas para te contar sobre aquele dia de julho anos e anos atrás. você me perguntou se eu não iria chorar e por que eu estava tão calmo, e eu menti. foi a única vez que eu menti, eu não estava tranquilo e eu queria muito chorar... eu chorei depois que o carro sumiu de vista! naquela época, com 12 anos, eu ainda não sabia o que eu sentia, não sabia o porquê de ficar com as mãos suadas quando andava até a casa principal pra te chamar pra brincar, não entendia porque ouvir sua risada me fazia querer rir junto, hoje eu sei. eu sempre vou te guardar com carinho. te amo. seu, fran."
➵ (/me escondendo de vocês com vergonha, toda capenga, manca e anêmica) e a pior parte foi que você não tinha tido a coragem de dizer que até então havia guardado o anelzinho de plantas, hoje já todo seco, na sua caixinha de jóias, mas quem sabe numa próxima vida ele seja a sua pessoa certa no tempo certo...
𝒎𝒂𝒕𝒊́𝒂𝒔: enemies to lovers + fake dating
seu mês estava começando da pior maneira possível e você tinha quase certeza que era por não ter gravado aquela maldita trend no tiktok "it's the first of the month". não existiam explicações racionais pra que seu ex estivesse na cidade e ainda por cima com a nova garota dele. ficava muito pior quando você descobria que seus amigos, que ainda eram amigos dele também, tinham o convidado pra resenha de mais tarde.
desde que felipe tinha se mudado para outro estado e cortado todos os laços contigo sua vida não tinha mudado em absolutamente nada. nada que ele pudesse olhar e pensar "uau, ela tá diferente", e isso estava te deixando fula da vida. você ainda era universitária, ainda não tinha arrumado a merda de um estágio e morava no mesmo bairro desde que se reconhecia por gente. o que te levava à sua segunda dor de cabeça do dia: matías recalt.
saiu a passos pesados de seu quarto, batendo chinelo até estar na porta da casa do garoto, espalmando a mão no portão e batendo, na esperança de que ele fosse ouvir com o som que ele tinha colocado no último volume. a música era diminuída e passos ocos soavam antes da passagem ser aberta pelo menino que vestia apenas bermuda. a carinha de pilantra e o sorrisinho canalha de sempre. "ay bebita, así terminarás haciendo que la puerta se caiga", ele implicou enquanto cruzava os braços e se recostava no metal. "que pasó, eh?".
matías tinha a mesma idade que você, tinham frequentado o fundamental juntos, mas foram para colégios diferentes no ensino médio, ele era seu completo oposto. você era reservada, ele conseguia resumir todos os eventos da vida dele para um uber numa corrida de sete minutos, você gostava de ler, ele preferia jogar pes e fifa, você curtia umas músicas melancólicas e alternativas, ele colocava funk e reggaetton pra vizinhança toda ouvir quase todos os dias. a competição que vocês nutriam enquanto crianças foi evoluindo pra algo ainda mais idiota depois de mais velhos, fazendo com que ambos só não conseguissem ficar no mesmo ambiente sem se alfinetar ou brigar.
contudo, quando ele deitava a cabecinha de lado, te medindo ali, uma ideia péssima surgia em sua cabeça, e sua falta de opções provavelmente faria com que você falasse em voz alta. ele tinha planos pra mais tarde? se ele prometesse não abrir aquela grande boca de sacola dele, ele bem que podia fingir seu novo namorado, né? coisa boba, só pelo tempo que vocês ficassem na resenha.
o outro erguia as sobrancelhas e abria um sorriso de fora a fora quando você terminava de falar, pensando que era muito bom pra ser verdade. aquilo seria motivo pra ele te açoitar pro resto da vida, até que vocês fossem bem velhinhos e ficassem na mesma casa de repouso por ironia do destino. "a qué hora te recojo entonces, mi noviazita?", você revirando os olhos com a escolha de palavras antes de dar as costas e sair dizendo que mandaria no whats dele.
o que o recalt não contava era que quando ele fosse te buscar às sete você estaria tão absurdamente linda, além de cheirosa pra cacete. o vestidinho de alcinhas que cobria quase nada das suas coxas roliças apesar de ter alguns babadinhos na barra, e a maquiagem que você tinha feito, toda delicadinha com um batom corando seus lábios faziam ele apertar o guidão da moto e morder o inferior engolindo seco. nenhum comentário sobre foi feito, ao passo que ele lhe fazia se segurar bem nele com a desculpa de não acabar caindo e te observando pelo retrovisor de minuto em minuto.
quando chegavam, você entrelaçava seus dedos nos dele, que por alguns segundos não se lembrava de acordo nenhum e sentia o coração ir parar no esôfago. mas ele aguentava bem, fazia uma batida de morango pra vocês dois dividirem e se apresentava pro seu tal ex, falando exatamente a historinha que você tinha inventado e mandado junto do endereço e horário pra ele no celular. ainda que não precisasse realmente, já que o pobre coitado claramente gostava de você há mais tempo do que se lembrava, mas sempre preferiu ficar no joguinho de gato e rato que vocês começaram num dia qualquer da quarta série.
isso, até que você fosse dançar com as suas amigas na pista de dança improvisada, jogando o quadril na direção onde os meninos, e pipe e a namorada nova estavam. o moreno observou durante uma música inteira, a expressão se fechando e não gostando nada quando ouvia um comentário sórdido de um deles sobre como você andava mais gostosa. caminhou até você e te segurou o pulso com firmeza, arrastando seu corpo até o estacionamento, aos protestos e tapas no ombro, mas no primeiro muro que via te prensava contra e te tomava os lábios num beijo profundo.
as mãozinhas parando de bater e tentar se soltarem até estarem relaxadas sobre os ombros dele, a boca se entreabrindo pra receber a língua quente e curiosa do vizinho irritante e um olhar de implorando por pica quando se separavam do ósculo, ainda que você perguntasse o porquê. "eres una tonta, cuántos besos necesito darte para que lo entiendas?"
➵ e no terceiro beijo, muito afoito, que vocês deram essa noite, matías teria te convencido de ir pra casa dele. vocês teriam fumado umzinho ouvindo alguma banda grunge da sua escolha e no auge da brisa você iria propor que ele continuasse "fingindo" ser seu namorado no dia seguinte na praia com a galera, até que o fingimento não tivesse prestando de mais nada e ele aparecesse com um punhado de flores (usurpadas de um canteiro alheio!) na sua porta. "isso não faz parte do acordo, recalt", "porra de acordo, menina, vai se arrumar que vou te levar no cinema".
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arte-inmortal · 3 years
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El pela Romero
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focusonlyangel · 4 years
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— O que te traz aqui hoje, senhorita Castro?
Te carreguei comigo nas noites sombrias, gritei seu nome nos dias silenciosos, estive ali mais para você do que pra mim, e enfim, te vi indo para longe, tão longe que meus gritos já não eram altos suficientes para que o seu coração me ouvisse, e de repente, aconteceu o que eu mais temia: eu te perdi. E me perdi.
— Tive um pesadelo que me perseguiu o dia inteiro.
Você está falando sério?! Apaixonado?
— O que houve neste pesadelo?
Sim, apaixonado, Thayse. Eu estou apaixonado, e não dê risada! É sério.
— Uma briga.
Meu Deus, Gabriel. Eu não acredito. Você... Caramba, você é um idiota.
— Falta de ar.
Thayse, está surtando? O que está havendo?
— Pernas falhas.
Me solta, Gabriel... me deixe em paz. Você é cego mesmo. Idiota.
— Uma luz...
Thayse, olha o carro!
E foi assim que acordei, após um pesadelo qual parecia muito real. A pessoa qual meus sonhos se idealizavam seria a mesma que num pesadelo confuso, assumiu amar outra pessoa. E se isso não fosse um pesadelo, torcia muito para que fosse.
Olhei para o relógio sobre o criado mudo, passava das seis e quarenta, um brecha de luz invadia minha janela, pelo chão havia algumas roupas e sapatos espalhados, e eu sequer lembrava do meu quarto estar essa bagunça. Caminhei até o banheiro em passos falsos, minha cabeça girava com as paredes do quarto e conseguia ouvir vozes de longe, ao que parecia ser uma discussão sobre o café da manhã.
Quanto a frase "nada é tão ruim que não possa piorar", é tão real quanto aos fatos. Nada é realmente tão ruim, que não possa piorar. E ali estava eu, encarando a minha imagem cinco anos mais velha no reflexo do espelho. Meu cabelo estava mais longo, mais escuro do que ele realmente era, minha pele mais escura desconsiderando a palidez que tomava minha face neste momento... E para uma pessoa ansiosa, não basta os poucos detalhes, o ar falta os pulmões, as pernas falham, as mãos suam, a cabeça gira e eu surto.
— Thayse, você vai se atrasar para a faculdade! — a voz de minha mãe ecoava pela casa. Sentia meu estômago embrulhar, sentia o cheiro dos crepes suíços e gritava por clemência, seria outro pesadelo ou eu estaria ficando louca?
Caminhei pelos corredores da casa, observei os móveis posicionados em lugares diferentes, ouvia vozes muito diferentes do meu costume, sufoquei um gemido medroso e me mantive firme sobre minhas pernas. Quando chego à cozinha vejo a imagem de três versões mais velha dos meus familiares; Ellora, a menina doce de cabelos cacheados, tinha uma versão juvenil de cabelos lisos e escuros, sua feição me transmitia duvida, confusão ou talvez um "que cara é essa, maluca?", do seu lado estava Michel, meu irmão caçula que em minhas lembranças estava sete centímetros mais baixo, sua aparência não mudou muito, ainda tinha em sua postura toda a essência de criança viciada em jogos online, seu sorriso largo ao me dar bom dia era tão profundo quanto as covinhas de suas bochechas. E logo á frente deles, sentada em uma cadeira diferente das de madeira quais eu lembrava, estava minha mãe, um pouco mais velha, impaciente e cansada, coisas que seu sorriso matinal não a entregava, sua roupa de serviço tomou uma nova cor de azul, seus cabelos mais curtos e eu suspeitava que a mesma tivesse o cortado, suas unhas estavam pintadas de vermelho e seus tênis esportivos me garantiam de que ela não havia comprado nenhum outro há quase um ano. Senti meus olhos arderem, queria chorar, e gritar, e chorar, chorar, chorar...
— Terra chamando Thayse Riveira de Castro. — fui pega pela voz de Ellora que me chama a atenção. Sua voz mudou, seu jeito de agir, minha irmã do meio era linda. — Eu vou comer seu bolo, eu não estou brincando.
— Está tudo bem, filha? Você está pálida.
— Ela é branca, mãe. — a voz de Michel interpela.
— Que dia é hoje? — indago.
Ellora se inclina para trás tendo a visão de um calendário pequeno acima do balcão. — Quinze de maio. Terça-feira.
— De qual ano?
— Como assim, "de qual ano"? 2018. — Ellora me olha novamente confusa. — Você bebeu? Ainda é sete horas.
Não podia ser, não, não, não... eu mal teria feito quinze anos, como eu poderia ter dezenove de um dia para o outro? Esse cabelo, os móveis, meus irmãos... meu Deus, eu!
— Bom, eu estou indo. Beijo nos três. — minha mãe se levanta com pressa. — Você os leva para a escola? — ela se direciona a mim. Eu assento que sim. — Ok, qualquer coisa me liga. Michel, não esquece de escovar os dentes. Beijos.
Assim que minha mãe, Angêla sai pela porta sinto os olhos de Ellora pousarem sobre mim, e com certeza algum julgamento quanto ao meu comportamento repentinamente estranho.
Ouso perguntar sobre os namoradinhos? Sobre o ensino médio? Sobre as garotas malvadas da escola? Ou ela seria uma das garotas malvadas? Será que ela já fez sexo? Torço fortemente para que a resposta seja...
— Sim. — ela interrompe meus pensamentos.
— O quê?!
— Sim, eu quero leite. — ela responde a pergunta que eu havia sequer notado que teria feito. Michel tinha ido escovar os dentes e sequer notei a sua ausência também, eu estava flutuando dentro de mim mesma. — Posso usar a sua jaqueta jeans? Vou ao shopping com a Letícia.
— Letícia?
— É. Minha amiga... — seus olhos desconfiam dos meus. — Thayse, tem certeza que está em capacidade mental para enfrentar o dia de hoje? Eu posso ligar pro hospício.
— Para, eu estou bem. — pego um pão dentro do saco posto sobre o balcão e coloco-o dentro da boca. — Eu vou me arrumar e já saímos.
Corro para o meu quarto com pressa. Abro meu guarda roupa e me deparo com roupas muito diferentes das que eu tinha, algumas ainda as mesmas, outras mais ousadas e outras um pouco mais comportadas. Haviam tênis e saltos, chinelos e rasteirinhas, coisas que com quinze anos eu só usaria all star. Visto uma calça jeans e uma regata preta, e por fim, calço um tênis da Nike que eu não fazia ideia que eu tinha. Pesco meu celular em cima da cama, noto que a foto do plano de fundo são meus irmãos abraçados com a minha mãe, e por sorte ele é desbloqueado com a minha, pois se houvesse uma senha eu com certeza não lembraria dela. Busco o nome de Gabriel em meus contatos e não o encontro, era como se ele sequer falasse comigo, visto que nem mensagens dele eu teria.
Escovo meus dentes com força e muita pressa enquanto digito o nome de meus amigos nas pesquisas, quando de repente encontro Diana nas minhas mensagens com a última que dizia "te espero no Romero", creio que seja a escola próxima na qual estudamos - ou estudávamos, eu acho. Ligo para ela e após três toques ouço sua voz madura atender o telefone.
— Bom dia, amiga! Tudo bem?
— Diana?! Meu Deus, sua voz está tão diferente!
Ela ri. Como uma criança. — É, amiga, a sua também está. Parece assustada.
— Eu?! Não, não... eu só, tipo, de repente, acordei com vinte anos. Bizarro, não é?
— Ai, Thayse! Engraçadinha como sempre. — ouço-a rir mais baixo. — Vai levar seus irmãos pra escola? Eu posso passar aí para te buscar.
— Ah. Sim! Sim! Por favor... — cuspo a saliva de pasta de dente dentro da pia de mármore.
— Ok! Estou aí em dez minutos.
Os dez minutos se passaram arrastados, sentia Ellora cada vez mais desconfiada das minhas atitudes e eu quase gritava para a mesma que eu também não estava entendendo.
Diana chega com o seu carro, e assim que entramos ouvimos Estilo Vagabundo do Mv Bill tocando na rádio, aquela música era o dueto que eu e o Gabriel adorávamos fazer um com o outro. Seguimos o trajeto até a escola sem muita conversa, após deixá-los lá iríamos direto para a faculdade, por sorte vasculhei minha bolsa e encontrei minhas matérias, eu atualmente estudava Letras e trabalhava numa das editoras mais famosas de São Paulo, a Sucesso. Lembro que com treze anos passava em frente a essa editora e com brilho nos olhos eu imaginava estagiando ali, com profissionais incríveis. E estava feliz por mim, até então.
Chegamos à faculdade às oito e dez, minha primeira aula segundo meus horários começaria às oito e meia, o que me daria vinte minutos de oportunidade para entender o que se passava em minha vida atualmente. Caminhamos até o pátio da universidade e avistamos Ana, Nathaly e Thomas sentados em um dos bancos discutindo sobre algo.
— Todo mundo sabe que eles eram tóxicos um com o outro. — Ana diz olhando para Nathaly, que me vê e abre um sorriso largo.
— Quem são tóxicos? — Diana pergunta aos nossos amigos.
— Chuck Bass e Blair Wolf. — as duas respondem em uníssono.
— Chuck Bass de Gossip Girl? — pergunto-as e elas afirmam. — Quem se importa com isso? É o Chuck Bass!
— Cale a boca, Thayse. Você é melhor que isso. — Ana me repreende. — Mesmo que defenda até as merdas de Thomas.
— Ei, não fale assim com ela. Alguém tem que ser advogada do advogado. — tive que rir. — Falando em quem nunca erra, olha quem vem aí.
Um cara alto, branco e cheio de tatuagens se junta a nós. Aparentemente seu nome é Bruno e ele conhece todos nós, e possui muita intimidade com Thomas e Nathaly, vendo aquele grupo reunido tive que perguntar sobre Gabriel.
— Alguém sabe do Gabriel?
— Gabriel? Gabriel Montez?
— Sim, o Gabriel... — mordo o inferior da bochecha nervosa. — Eu queria falar com ele.
Todos dão risada, exceto o cara chamado Bruno.
— Boa sorte. — diz Thomas.
O sino toca.
— Você é engraçada, amiga. — Ana esfrega as mãos pelas minhas costas num ato solidário, eu diria, mas logo some com o restante do grupo entre a multidão de jovens.
— Nós vamos ao Warner Burguer's hoje. — Bruno sussurra para mim, o olho confusa. — Eu, Gabriel, o grupo... Seria legal se aparecesse por lá...— seus olhos encontram os meus. — Mesmo que Gabriel não queira.
E por quê ele não iria querer?
— Ah, claro. Obrigada pelo convite, tento passar por lá.
— Às oito?
— A-ham, pode ser. — afirmo.
— Te vejo lá. — ele me lança uma piscadela, e eu posso afirmar com total segurança de que aquilo foi um flerte. De repente homens de vinte anos começaram a flertar comigo, isso não dá cadeia? Ah, não... eu tenho vinte anos. Alguém dá pra me acordar desse sonho?
Caminho até a sala 067 com alguns outros alunos que me conheciam, a grande maioria do Romero e outros por puro status social das redondezas da cidade. De repente sou surpreendida pela imagem de Pedro sorrindo em minha direção e eu teria certeza que não era pra mim até as seis e trinta e nove da manhã, depois disso, tudo me parecia possível nessa realidade alternativa. Aceno num gesto preguiçoso para o cara alto e ele retribui com um beijo jogado com a mão. Espera, espera, espera... eu e Pedro nos odiamos, o que está havendo aqui?
Pedro some entre as portas da sala 070 e eu adentro a sala do meu curso. A professora que nos aguardava era ruiva e muito bonita, seu corpo em forma chamava nossa atenção - sim, nossa. Aparentemente nessa vida eu já tenha me assumido Bissexual até para eu mesma -, ela inicia a aula com frases motivacionais e se posso arriscar, aquela era de Mário Quintana. Algumas meninas arriscam me pedir a matéria da aula passada, e mesmo sem saber de qual se tratava entrego minhas anotações à elas que agradecem num sorriso doce. Fico bestificada com tamanha educação das pessoas na Universidade, logo que o eu mais adorava no Ensino Médio era as brigas e piadas de alunos inconvenientes, além das aulas de Literatura e Filosofia, claro.
As horas passam voando e quando olho para o relógio digital na parede já são 13h. Eu estaria almoçando essa hora, mas aparentemente tenho um compromisso a mais: a Sucesso. Estou ansiosa para o meu primeiro... quero dizer, para mais um dia neste emprego.
Tento encontrar meu grupo de amigos mas logo desisto quando vejo que já são 13:10, e quem me conhece bem sabe que atrasos não me agradam principalmente quando sou eu que estou atrasada, sim, amigos, isso se chama Transtorno de Ansiedade.
Sou pega de surpresa pelo Pedro, que parece animado e muito agitado, se eu fosse julgar diria que ele estaria sob o efeito de drogas, mas preferi não saber nada sobre isso.
— Não me espera mais, é isso? — ele me pergunta.
— Eu deveria? — estreito meus olhos, sua aproximação era estranha. Ele se importava?
— Me desculpa por ontem, eu não queria dizer aquilo. — o Pedro está me pedindo desculpas? Senhor Jesus Cristo, o está acontecendo aqui? — E você sabe, eu não sou a pessoa mais indicada para não sentir ciúmes.
Ciúmes???
— Do que você está falando, Pedro?
— De você e do Bruno. Eu agi feito um idiota comparando ele ao Gabriel, mas você sabe... sou seu melhor amigo, eu me preocupo.
sou seu melhor amigo, eu me preocupo...
Thayse, está surtando? O que está havendo?
e mesmo que você me ache um idiota, e eu sei que eu sou...
Me solta, Gabriel... me deixe em paz. Você é cego mesmo. Idiota.
eu espero que você supere esse momento e não me deixe, eu não conseguiria viver sem seus crepes suíços...
Thayse, olha pra mim, olha pra mim... respira, respira. Thayse, não me deixe, a ambulância já está vindo. Thayse, olha pra mim!
— Thay! Você está me ouvindo? — as mãos de Pedro me tocam os ombros. Ele parece preocupado. Engraçado. — Eu te levo até o trabalho.
— Ah, eu devia esperar a Diana... — tento me esquivar de sua gentileza.
— O quê? — sua feição era confusa. — A Diana já foi embora. Aliás, eu sempre te levo ao trabalho.
— Leva?
— Boba. — ele estende a mão para mim, eu a seguro e sou guiada até seu carro. Caminhamos até lá literalmente de mãos dadas, e isso parecia normal, eu me sentia como se fosse. Pedro era atencioso, apesar de muito lembrar de que nos odiávamos com veemência. Ele me olhava com calma, como se este pudesse me salvar de qualquer coisa, inclusive de mim mesma e o observando ali, eu agradeci.
Quando entramos no carro sinto o aroma perfumado invadir minhas narinas, era algo parecido com menta ou hortelã, não fui capaz de diferenciar. Seu sorriso era convidativo, Pedro me deixava muito confortável mesmo que parece errado. Dito isso, ele pegou em minha mão e disse: — Eu sei que não mereço, mas poderia dizer que estou perdoado?
Eu não sabia o motivo qual lhe devia o meu perdão, mas fiquei comovida quanto as tentativas de redenção.
— Está, sim.
Digo, nervosa. Sentia minha pele arrepiar com cada olhar piedoso que Pedro lançava a mim.
— Ótimo! — ele diz num gesto comemorativo. — Está entregue, gatinha. Te busco mais tarde?
— Gatinha? — faço cara de entojo.
— Desculpa, chatinha. — ele me retribui com a mesma feição. — Você vai embora de ônibus então.
— Não é um problema. — desço do carro, mas antes mesmo que eu pudesse fechar a porta ouço Pedro dizer psiu.
— Te levo comigo.
Pedro Henrique Morales Santiago acabou de dizer a frase que eu e Gabriel dizemos um ao outro desde que tínhamos dez anos? Sério? Que universo paralelo é esse que este cara de vinte e poucos anos, cuja a versão mais nova eu odiava e desejava que pagasse por cada piadinha de mau gosto que me fez chorar em posições fetais, de repente, se torna a versão mais perfeita do meu antigo melhor amigo? Alguém me acorda?!
Eu tinha que responder mas algo me impediu, talvez o fato de que ele olhou para o relógio do rádio e arrancou seu carro rapidamente dali como se estivesse atrasado. Aliviada: essa é a palavra.
Não há sobre o que detalhes em relação à Sucesso, ela era um ambiente de trabalho amplamente confortável e cem porcento disponibilizado aos seus profissionais. Capacitado à todos, com benefícios abertamente direcionados à carreira destes dentro e fora do ambiente profissional, garantindo uma vida e estabilidade melhor do que as metas impostas por elas. Meu chefe se chama Daniel, ele é simpático e muito amigável, me chama de Tata e admira muito o meu trabalho, sua secretária Flávia possui quase a mesma dosagem de simpatia, senão mais dócil, eles me tratam como filha e eu sou facilmente rendida pelo carinho de ambos.
Meu primeiro dia de trabalho foi mais confortável do que a primeira aula na faculdade, mesmo que eu soubesse que não era a minha primeira vez em nenhum dos dois. Me sinto bem num ambiente familiar, era como se eu soubesse o que fazer, o que dizer e como me comportar lá dentro. Sendo o emprego dos meus sonhos, sou uma estagiária suspeita a falar deste emprego.
Me sinto tão a vontade que quase não noto que já passa das sete. Flávia me avisa que meu expediente já havia chegado ao fim e que eu deveria ir para casa, no fundinho eu estava um tanto quanto triste de estar deixando aquele lugar mas me convenci de que estaria melhor quando eu voltasse.
Saí pela porta rotatória do lugar com o coração nas mãos, algo em mim transbordava esperança e logo se desfez em completa decepção quando percebi que não havia nenhum HB20 branco me esperando ali. Talvez desejos se realizassem, mas cinco passos longe dali pude ouvir buzinas e assobios que eu tinha certeza - e fé - de que seriam para mim. E eram. Olhei para trás e lá estava o Pedro Henrique acenando para mim e um gesto apressado, acredito que estaria estacionado em um lugar proibido. Corri até seu carro e quando entrei suspirei de alívio.
— Você veio. — disse ofegante, aliviada e feliz. Ele estava ali, mesmo que eu o dissesse para fazer o contrário.
— Eu sempre venho. — ele me olha desacreditado, e eu não consigo deixar de fazer o mesmo. — Você vai ao Warner hoje? — ele pergunta e eu respondo que sim com a cabeça. — Ótimo, vou te levar em casa, você se arruma e nós vamos juntos, pode ser? — respondo novamente que sim e ele me dá um sorriso de canto, então arranca seu carro dali e seguimos em direção a minha casa.
Pedro dirige ao som de Tupac, e sua dancinha meramente vergonhosa faz com que eu queira rir, mas não o faço, apenas o observo ali do banco passageiro e me sinto feliz, por ele e por mim. Talvez ser sua amiga não fosse de tão ruim. Ele estava lá por mim, e eu tentava de todas as maneiras entender o que nos levou a isso. Não era o momento de perguntar, eu acho.
Sempre tive o meu sensor altruísta maior do que eu mesma, mesmo que isso não se aplicasse ao Pedro nem nos meus pesadelos mais terríveis, mas percebo que o erro foi meu, ou melhor, dele. Pedro sempre foi mais insensível do que essa versão me mostrava e eu odiava estar ali para repreender suas atitudes mais repulsivas. Sempre estive por todos como nunca estiveram por mim, e estava tudo bem, isso não me fazia mal, mas algumas vezes era quase impossível estar ali para mim mesma também. Vendo ele nessa versão mais simples e absurdamente amigável e amorosa, penso que estaria feliz por tê-lo.
Demoramos cerca de vinte minutos ou mais para que seu carro finalmente estacionasse na frente de minha casa. Vejo que as luzes estão todas acesas e que há movimentação pelas sombras perambulantes. Convido Pedro para entrar e ele sequer pensa duas vezes antes de aceitar, percebo que ele já era alguém bem-vindo em minha casa pela forma que ele se anima ao sair do carro.
Entro pela porta e logo sou pega pelos olhos preocupados de minha mãe. Não sabia que ela estaria em casa, pelo que me lembro a maioria dos dias de semana ela estaria de plantão. Noto seu semblante cansado e sinto vontade de abraçá-la, mesmo que esse não seja o gesto familiar entre nós duas.
— Pedro! — Ellora abraça Pedro assim que o vê, ele retribui o carinho com balanços para lá e para cá com a menina no ar.
— E aí, mocinha! Cresce mais não? — ele a solta no chão e ela o entrega uma cara feia e língua pra fora.
— Veio encher o bucho, é? — ela o provoca.
— E desde quando Pedro Henrique passa por aquela porta sem vontade de comer, dona Ellora? — minha mãe também o provoca em meio aos risos.
— Tia Anjo, assim você me ofende.
Pedro chama minha mãe de Tia Anjo, igual ao Gabriel. Surreal.
— Mas não. Nós vamos encontrar o bonde na Warner. — ele diz me olhando em conforto. — Vou só esperar a gatinha ali... — ele pisca para mim, provocativo. — se arrumar.
Dito isso subo às pressas para o meu quarto, deixei os três ali conversando, mesmo que a ausência de Michel fosse notável eu sabia que ele estaria em seu quarto jogando algum jogo.
Passeio as mãos pelo guarda-roupa e quase grito de tanto desespero, céus, quanta roupa! Tudo bem, eu tenho um emprego, mas não creio que tenho tantos eventos para roupas de festas - a menos que eu vá em alguma, posso considerar. Escolho um jeans preto, uma blusa preta com detalhes brilhantes, uma jaqueta de couro que eu sempre quis aos quinze anos, muito bonita. E por fim, um coturno de salto alto que deixava todo o meu corpo mais esbelto. Não sei se eu me vestia assim frequentemente, mas é assim que a Thayse de quinze anos provavelmente se vestiria.
— O dono da Warner morreu? — Ellora lança um de seus comentários debochados.
— Ele não, mas a alma da Thayse provavelmente. — o Pedro vai no seu embalo e eu o dou o dedo médio. — Estou brincando. Você está linda. Vamos?
— Vamos.
— Que horas vocês voltam? — dona Ângela pergunta.
— Cedo. — diz Pedro num tom brincalhão.
Pedro cheirava à Malbec puro, creio que passara tanto perfume que se impregnou em sua própria pele. Abracei ele de lado e caminhamos até o carro. A Warner não ficava tão longe da minha casa pelo o que eu lembrava. Meus amigos e eu tínhamos sempre o costume de nos encontrarmos lá algumas vezes por mês, mesmo que alguns não se dessem tão bem uns com os outros. E era o que estávamos fazendo, indo ao encontro de amigos que não se davam tão bem uns com os outros.
Chegamos lá em poucos minutos, avistamos Ana e Thomas chegarem junto conosco, os cumprimentamos e entramos juntos. Alugamos a mesa maior para que todos pudessem ficar juntos, Nathaly e Diana também estavam por ali, Bruno e um amigo também, pelo o que pude notar esse amigo estava com Diana, e Pedro não se importava com isso, pelas minhas lembranças eles já tinham namorado. Bruno estava ali disposto a mim e pela intimidade que tentava a mim, devíamos ter algo também. Pedimos nossos hambúrgueres e algumas bebidas, cada um com um lanche diferente do outro, eu pedi o clássico e Bruno se ofereceu a pagar para mim, neguei, obviamente. Tento uma conversa com ele e percebo o quão engraçado ele é. Ele me conta sobre suas tatuagens e as fugas da polícia e eu não consigo deixar de ver graça nele.
Minutos após, me pego ansiosa pela chegada de Gabriel, evito perguntar sobre ele para que o meu grupo de amigos não tornasse a rir de minha cara. Mas logo o vejo atravessar a porta e entro em desespero pela sua versão mais velha. Ele era lindo, muito lindo, tanto quanto meus amigos sentados à mesa, mas este é em toda a sua forma levianamente juvenil. Levantei às pressas para ir ao seu encontro e noto os olhos curiosos do meu grupo de amigos.
— Gabriel?! Meu Deus! Você está... e-nor-me.
— Thayse? — ele me estreita seus olhos verdes numa careta brava, e muito bonita. Céus, o quanto eu amo este homem. — Está tudo bem?
— Não, não está. — minha voz está embargada. Percebo que sua feição é tão confusa quanto de todos os outros que encontrei hoje. — Eu acordei nessa vida, com vinte anos, um emprego, meus irmãos muito mais velhos do que eu lembrava e pra ser sincera a versão da Ellora é três vezes mais insuportável...
— Thayse, eu...
— E aí tem essa vida social, a qual eu não tinha antes. O Pedro é meu melhor amigo e quais seriam as hipóteses disso acontecer? Nunca. Você era meu melhor amigo...
— Calma aí, como é que é?
— Eu só lembro de ver uma luz...
— Ela bebeu? — ele sussurra para o grupo ao nosso lado.
— E acordar aqui. Nessa vida, nesse mundo. Sem você.
Ele dá risada, uma risada irônica e surpresa, como se não acreditasse em nada do que eu tivesse dito. E ele não acreditava. — Uau, você ficou louca?
— Como é? — sinto meu peito apertar com sua reação.
— Thayse... — ele me olha compassivo. — Você me odeia.
Não, Gabriel, eu não te odeio. Eu não te odeio! Eu te amo, com forças que já não habitam dentro de mim. E se eu tivesse pulmões gritaria este amor tão alto que até nossos ancestrais conseguiriam recuperar os pulsos. É você, sempre foi. Na mais doce e singela forma de amar alguém, sem que haja limites para que eu diga que te amo até nas suas formas mais dolorosas. Eu te vi com a alma quando muitos se negavam a te olhar com calma, eu entendi que seu caos não eram feitos de desastres, eram feitos de dores que ninguém jamais quis cuidar, e eu quis, Gabriel. Eu cuidei. Quando o céu escurecia eu via de longe o brilho do seu par de olhos verdes, e dizia: senhor, verde nem é minha cor favorita, mas todas as noites que encontro esses olhos, ela se torna a cor mais linda que pude ver em vida. E mesmo que nessa vida, você não acredite, e de repente tudo seja cinza, quero que saiba que eu jamais te esqueceria.
— Oi, meu amor... — uma garota ruiva para ao lado de Gabriel. — Já fez nosso pedido?
O olhar de Gabriel ainda está fixo sobre mim, era como se ele tivesse ouvido cada palavrinha que meus pensamentos pronunciaram e num descuido eu pude ver, aqueles malditos olhos verdes me dizerem: eu sei.
— Hãm?! Não... é, não... acabei de chegar. — ele diz, um pouco nervoso com a situação. — É, hum... Thayse, você conhece a Bianca?
— Não... — respondo no mesmo tom nervoso. — É, me desculpe... eu sou a Thayse.
— Bianca. — ela me estende a mão. — Namorada do Gabriel.
Namorada do Gabriel? Que porra é essa?! (sim, eu falo palavrões, surpresa!) Desde quando o Gabriel tem namorada?
E tudo se repetia mais uma vez: meus movimentos ficaram lentos, mas eu conseguia sentir meu coração correndo mais rápido do que minhas pernas, minha voz estava em ausência assim como o oxigênio dos meus pulmões.
Falta de ar.
Sim, apaixonado, Thayse. Eu estou apaixonado, e não dê risada! É sério.
As pernas falhas.
Me solta, Gabriel... me deixe em paz. Você é cego mesmo. Idiota.
Uma luz.
Thayse, olha o carro!
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Alimente-se contra o cansaço
Não há dúvidas de que a principal forma de manter o pique para encarar o corre-corre da rotina é garantir um sono de qualidade. Mas, para vencer de vez o cansaço, é preciso rever alguns outros hábitos por trás da leseira que atinge a maioria da população – uma pesquisa recente do Ibope apontou que 98% dos brasileiros entrevistados se sentiam esgotados. “Junto com outros fatores, a alimentação possui papel fundamental para manter nosso nível de energia elevado”, afirma a nutricionista Maria Fernanda Naufel, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De maneira geral, dietas monótonas, restritivas ou extremamente pesadas patrocinam a sensação de fadiga. “Não variar os alimentos causa deficiências nutricionais importantes, principalmente de vitaminas e minerais”, justifica a nutricionista Amanda Romero, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). Já fechar a boca drasticamente, avisa a especialista, compromete as funções mais básicas do organismo. No outro lado da balança, comer sem pudor promove o ganho de peso. “E isso prejudica a ação de hormônios envolvidos na geração de energia”, esclarece Amanda.
Portanto, não é exagero buscar estratégias à mesa para renovar o combustível físico e mental. Se a moleza for incontrolável, claro que vale procurar um especialista – até porque, às vezes, a indisposição extrema é sinal de condições mais sérias. “Deve-se investigar a possibilidade de anemia, hipotireoidismo, depressão, apneia do sono… Até a menopausa pode levar a um cansaço danado”, informa a médica Cíntia Cercato, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Recado dado, vamos destrinchar os hábitos, os macetes e os alimentos que não deixam a bateria arriar.
Não pule o café da manhã
Segundo Antonio Herbert Lancha Jr., professor titular de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da USP, longos períodos de jejum – como aqueles que fazemos enquanto dormimos – interferem demais na nossa capacidade de raciocínio e produtividade. Por isso, após acordar, o organismo necessita de um gás para dar largada à maratona que se segue.
“O café da manhã é considerado uma das principais refeições para evitar a fadiga e a falta de concentração ao longo do dia”, diz Maria Fernanda, da Unifesp. Investir nesse momento ainda traria um ganho indireto: evitar exageros no almoço, situação que favorece a exaustão. Agora, quem ignora o desjejum e sente que “está tudo bem, obrigado” também não deve forçar a barra.
A refeição matinal não precisa ser um banquete de hotel. Veja três sugestões:
Menu 1: Iogurte desnatado com frutas (morango, banana, maçã, entre outras) e granola sem açúcar.
Menu 2: Meia fatia de mamão com uma colher (sobremesa) de chia, pão sírio integral com creme de ricota e uma xícara de café sem açúcar.
Menu 3: Omelete com um ovo, uma colher (sopa) de chia, uma colher (sopa) de creme de ricota e ervas finas. Um chá para acompanhar.
Capriche nos vegetais
Ao buscar razões para a fadiga que vão além da falta de sono, cientistas têm encontrado indícios de que um corpo inflamado predispõe ao desânimo. Para a nutricionista clínica Daniela Muniz, de Florianópolis, faz sentido. “Um organismo nessa situação exige muito mais do indivíduo em termos metabólicos”, nota.
O efeito? Momentos de letargia. Entre os fatores capazes de gerar processos inflamatórios, estão obesidade, sedentarismo, tabagismo e… uma dieta desequilibrada. Falamos de um menu à base de processados e congelados e pobre em frutas, verduras e legumes. Portanto, um bom primeiro passo seria inverter essa proporção – ora, vegetais reúnem substâncias consideradas anti-inflamatórias. O nutricionista Gustavo Pimentel, da Universidade Federal de Goiás (UFG), também aconselha apostar nos peixes ricos em ômega-3. Sardinha e atum fazem parte da lista.
Confira algumas dicas de como convidar o reino vegetal à rotina:
A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de cinco porções de vegetais ao dia.
Uma sugestão é ingerir três porções de frutas. Quando der, mantenha a casca, que concentra fibras.
Duas porções são de legumes e verduras. Sempre varie para ter acesso a nutrientes diferentes.
Invista nos probióticos
O nome diz respeito aos micro-organismos vivos que, ingeridos na quantidade certa, favorecem a microbiota, a famosa flora intestinal. Assim, cooperam com a saúde como um todo.
Mas onde o cansaço entra na história? “Uma microbiota em equilíbrio torna a absorção de nutrientes pelo intestino mais eficaz”, revela Maria Fernanda, da Unifesp. Isso se traduz em energia para o corpo funcionar.
A nutricionista Adriane Antunes, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembra que as bactérias do bem ainda estimulam grande parte da produção de serotonina que ocorre no intestino. “E ela é conhecida como hormônio da felicidade e do bem-estar”, frisa.
Para a microbiota não ficar em desarmonia, tem que recorrer a antibióticos com prudência e cuidar da dieta. Os itens abaixo possuem probióticos, mas, segundo Adriane, o cardápio precisa ser diversificado e rico em vegetais – suas fibras servem de alimento para as bactérias bacanas proliferarem.
Saiba onde você pode encontrar os probióticos:
Iogurtes: Veja a embalagem, pois muitos deles já levam probióticos. O consumo deve ser regular.
Leite fermentado: Um potinho pequeno já fornece a dose adequada. Frequência é a palavra de ordem.
Kefir e kombucha: Em geral, são produzidos em casa. Por isso, cuidado: podem propiciar o crescimento de bactérias indesejadas. Como costumam conter álcool, são contraindicados para crianças, grávidas e mulheres que amamentam.
Carboidrato é importante, sim
O pobre nutriente, encontrado em pão, massas e tubérculos, constantemente é alvo das dietas da moda. Só que tirá-lo de cena tem um custo alto, porque a quebra do carboidrato gera glicose, nossa principal fonte de energia.
“Até podemos obtê-la a partir de proteínas e gorduras, mas essa via metabólica demanda mais do nosso organismo”, diz Lara Natacci. Para ter ideia, só o nosso sistema nervoso precisa de aproximadamente 760 calorias de glicose por dia para funcionar em perfeitas condições.
Então, para a disposição não minguar, o ideal é contemplar os carboidratos em todas as refeições – em parceria com fontes de proteínas e gorduras. Tudo em equilíbrio, combinado?
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Tome café com inteligência
Você é do time que recorre a ele para render até o fim do expediente ou não piscar duro durante as reuniões? Ok, isso não é razão para repreensões: a presença de cafeína faz dessa bebida uma exímia estimulante cerebral. Em resumo, ficamos ligadões de verdade.
Mas o ponto forte do cafezinho é, ao mesmo tempo, seu calcanhar de aquiles. Isso porque o excesso de cafeína está associado a efeitos adversos – entre eles, dificuldade para dormir.
Daí já viu: a produtividade do dia seguinte cai, você se entope de café de novo e o círculo vicioso continua. “Para quem é muito sensível à cafeína e tem problema de insônia, melhor consumir a bebida até a hora do almoço”, sugere Pimentel.
Beba mais água
Em vez de jogar uma água no rosto quando a canseira chegar ao limite, experimente encher um copo com o líquido e entorná-lo. “A desidratação leve ocasiona sede, dores de cabeça, tontura, fadiga e sonolência”, afirma Silvia. Não é difícil entender o porquê.
A água é o principal componente do sangue. Uma ingestão adequada, portanto, é fundamental para manter bonitinho o fluxo sanguíneo. Na prática, há otimização do transporte de nutrientes para todas as áreas do corpo, incluindo o cérebro.
Uma ressalva: não adianta beber litros de sucos e refrigerantes. A água pura é a melhor fonte de hidratação – veja, abaixo, o cálculo de quanto tomar por dia. Para a nutricionista da Famerp, outras bebidas parceiras são os chás (naturais, feitos com ervas) e águas aromatizadas com frutas picadas e especiarias.
Foco nos micronutrientes
Não raro, o desânimo tem como pano de fundo a deficiência de vitaminas e minerais. Para botar essas substâncias dentro do corpo, a pesquisadora Amanda Romero, da USP, defende um maior rodízio de alimentos na rotina, já que cada um fornece uma gama de componentes diferentes. Abaixo, veja os micronutrientes com maior poder de fogo contra a fadiga.
Suplementos alimentares: Eles ajudam a corrigir déficits em casos específicos – mas a indicação deve vir de um especialista. O ideal, segundo os entendidos, é tentar equilibrar primeiro via alimentação.
Ferro: Segundo Amanda, ele é crucial para a produção de ATP, a “moeda energética” das células. Além disso, garante um transporte eficiente de oxigênio pelo corpo. A versão heme, de melhor aproveitamento, está em carnes e vísceras. O tipo não heme, de feijão, ervilha e lentilha, tem absorção limitada. Para mudar isso, inclua fontes de vitamina C nas refeições – ou logo após.
Vitaminas do complexo B: Também participam da fabricação do tal ATP e exercem papel de destaque no sistema nervoso. “As vitaminas B1, B2 e B6 são as mais influentes na conversão de glicose em energia”, diz a pesquisadora Amanda. Está presente em quase todos os vegetais, grãos integrais, carnes e ovo. Para minimizar a perda dessas vitaminas, quando possível, prefira itens in natura.
Vitamina C: “Atua na síntese de carnitina, que é utilizada pela célula para produção de ATP”, detalha a nutricionista da USP. Ela ainda cita seu poder antioxidante, responsável por combater radicais livres e revigorar o organismo. Marca presença especialmente em frutas, como laranja, limão, acerola, kiwi, mamão, maracujá e morango.
Magnésio: É valiosíssimo para o metabolismo energético. Entre suas funções, ajuda o corpo a usar direito a glicose obtida e é essencial para a musculatura. É encontrado em vegetais folhosos verde-escuros, cereais integrais, legumes e nozes. Alimentos ricos em proteínas e prebióticos com amido resistente (como banana verde e raiz de alho e cebola) facilitam sua absorção.
Alimente-se contra o cansaço publicado primeiro em https://saude.abril.com.br/bem-estar
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Filme: Núpcias de Escândalo
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Depois de passar raiva assistindo esse filme esta semana, e depois de me ver mandando mensagem pra Lahy de madrugada fazendo uma review enorme e entediada de Malévola, eu decidi que eu realmente preciso de um espaço pra comentar despreocupadamente sobre os filmes que eu assisto, quaisquer que sejam.
A minha resistência em fazer isso se deu pelo simples fato de que os filmes que eu assisto são grandes velharias. Às vezes são filmes tão velhos que eu tenho problemas pra achar, porque a comercialização no exterior ou é mínima ou é cancelada, e no Brasil... O acesso a filmes clássicos no Brasil é bem triste.
É claro que eu não vou só postar sobre esses filmes velhos, mas, conformem-se: eles são a maioria gritante do que eu assisto. De qualquer forma, eu pretendo ir trazendo pra cá as reviews que já fui deixando no Filmow até agora, às vezes elaborando um pouco mais. É possível que eu também faça resenhas de filmes de zumbi, quando eu finalmente terminar de assistir as sequências do George Romero, por exemplo.
Ademais, a razão de eu estar colocando estas reviews aqui, bem no meu site de escritos, é pela mais pura preguiça de fazer um site novo só pra isso, e porque mesmo os filmes que não são LGBT*/Queer/Yaoi estão ligados aos meus trabalhos. Eu totalmente converto idéias de filmes de romances heteros pra yaoi, afinal. Por fim, é mais fácil de eu continuar postando constantemente, enquanto eu não consigo publicar estórias mais apresentáveis.
Agora, vamos ao filme:
Eu pensava que todos os escritores bebiam aos excessos pra baterem nas suas esposas.
Título original: The Philadelphia Story
Direção: George Cukor
Data de lançamento: 26 de Dezembro de 1940
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Então: Esse é um filme que começa bem quando a moça mimada rica, chamada Tracy Lord (Katharine Hepburn), está enxotando seu marido, C. K. Dexter Haven (Cary Grant), de casa. Algum tempo depois, ela arranja outro pretendente, mas o sem-vergonha do ex-marido dela ressurge na casa pouco tempo antes do casamento, trazendo consigo dois jornalistas: o escritor Macaulay Connor (James Stewart) e a fotógrafa Elizabeth Imbrie (Ruth Hussey). E esse é todo o cenário pra um “humor refinado” que eu não achei.
Eu já tinha assistido esse filme um bom tempo antes, mas foi tão atraente que eu me esqueci dele. Só que eu tive que assistir de novo, e de uma maneira mais avaliativa — então decidi aproveitar a oportunidade pra fazer uma review no Filmow dizendo o porquê de eu, pessoalmente, achar esse filme chato pra caralho.
Primeiro, eu tenho que dizer que: depois de ver tantos filmes com o Cary Grant, eu criei uma antipatia extrema por ele. Gosto de shippar ele com o Randolph Scott, mas só. Isso porque, desde os primeiros filmes, em 1932, esse homem tem a mesma cara de "bela" paisagem (pra época, porque ele definitivamente não em agrada nem nisso) e usa os mesmos tons de voz e maneirismos. É claro que bons diretores conseguem fazer ele ser menos molenga, mas é basicamente isso: Cary Grant tá mais pra escultura grega do que pra bom ator.
Aliás, eu acho que a combinação do elenco principal foi péssima. Grant, Hepburn e Stewart me pareceram parados demais, mesmo que a personagem da Katharine Hepburn seja tagarela. Acho que se os diretores tivessem colocado, sei lá, Fred MacMurray (♥♥♥) no lugar de alguém, por exemplo, aí sim os três teriam uma dinâmica mais ativa. A que mais me chamou a atenção foi a Ruth Hussey. Então, acho que até com um elenco todo de filme B esse mesmo roteiro poderia ter sido mais atraente. Porque não funcionou. Os três não tiveram química. A Katharine visivelmente deu o seu melhor (embora não tenha sido um melhor ao estilo Levada da Breca, ou Bringing Up Baby, de 1938), mas eu nunca consegui sentir ela como Tracy. E o James Stewart? Sempre com o seu quê cômico, mas é outro bom ator que tá sempre muito na área de conforto. Hitchcock quem soube exigir mais dele, ainda ele também fosse bom em alguns filmezinhos pouco conhecidos.
De resto, eu não vi humor nenhum. Ou o meu senso pra humor refinado tá bem quebrado, ou esse filme forçou piadas sem de fato conseguir alcançá-las. A gente sabe quando frases de efeito são ditas, porque de alguma forma elas recebem destaque. E a gente sabe quando é pra rir. Eu não ri. Uma coisa é fazer humor refinado, sutil, como em vários filmes por aí (um drama como Kitty Foyle, lançado no mesmo mês, teve frases mais bem humoradas do que esse); outra coisa é não ter nem humor e nem sentido. Onde tá a graça em "Eu pensava que escritores bebiam aos excessos pra baterem nas suas esposas.". No máximo eu me identifiquei com: “Eu não posso me dar ao luxo de odiar ninguém, eu sou apenas uma fotógrafa.”.
E esse filme é tão sem noção de comédia que o fracasso já tá na primeira cena: com a Tracy literalmente jogando as coisas do Dexter pra fora de casa, e ele querendo bater nela. Em outra cena, ela simplesmente joga o novo pretendente no barro porque “a roupa dele tá limpa demais”, e em seguida a gente fica vendo o cara tendo dificuldades pra montar um cavalo. Como se não bastasse isso, o roteiro faz com que a Tracy e o Macaulay fiquem bêbados, mas nem um deles convence como bêbados.
Eu não tô pedindo uma comédia pastelão — que nem Charles Chaplin (que a maioria das pessoas deve conhecer mais, embora fossem comédias inteligentes), ou, como melhor exemplo, os filmes dos Irmãos Marx. Mas eu realmente não vi graça nessas coisas. A não ser que seja um humor cuja intenção não é rir. Então deveriam inventar uma nova categoria que não “comédia”, pra esse filme.
Aliás, o humor do filme parece se embasar todo em humilhar a personagem da Katharine. Eu já vi muitos filmes clássicos que meus amigos não suportariam por considerarem machistas, mas eu sou de boa na lagoa, fui estudante de História, eu entendo contextos. Mas eu nunca vi um filme maltratar tanto e tão sutilmente sua protagonista, e tentando fazer isso ser engraçado. Já começa com o personagem do Cary Grant querendo socar ela. “Ok, briga de casal.”, pensei. Mas daí a irmãzinha da Katharine no filme também vive implorando pro Dexter dar um soco nela. Depois, o pai da Tracy, que fugiu com uma outra mulher, resolve aparecer e humilhá-la porque ela tem rancor dele. E isso fora tudo o que acontece no final. É um caso em que eu preferia um final óbvio àquele final que todo mundo que viu esse filme costuma dizer estar "muito à frente de seu tempo".
E ele não é um filme à frente de seu tempo. É só mais um filme em seu tempo que tentou fazer algo diferente. De fato, ele teve essa diferença no desfecho, mas há vários filmes que cumprem isso muito melhor, desde os anos 20. Eu super aconselho começar pelos filmes da Barbara Stanwyck do início dos anos 30, ou mesmo outro filme onde o Cary Grant atuou, chamado Entre Duas Águas (The Devil And The Deep), de 1932. Aliás, os filmes dos anos 30 adoram criticar a sociedade, porque eles ainda estavam resistindo ao Hays Code. Então vale à pena conferir.
Mas humor refinado mesmo é O Picolino (Tophat), de 1935. Vai por mim.
Pra mim, esse filme foi extremamente chato.
MAS!...
Pode ser uma boa pra quem tá começando em clássicos, e não tem comparativos, nem teve tempo de criar antipatia por atores.
E, é claro, pode ser ótimo pra quem não sofre desse mesmo criticismo todo que eu.
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