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A banalidade do mal na sociedade brasileira contemporânea.
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Por William Oliveira/texto e fotos, para Universo em Crise. Em parceria com Coletivo MIRA.
A Banalidade do mal foi um termo cunhado por Hannah Arendt na década de 60 para representar o que levou pessoas aparentemente comuns a apoiar o regime nazista, vou aqui fazer uma reflexão ligando elementos que vivemos hoje na sociedade brasileira com a base de seu pensamento, mas sem a pretensão de estar reproduzindo fielmente seu discurso. Para os que se interessarem pelo assunto deixarei alguns links no final do texto com conteúdo sobre a autora e suas obras.
Em 1963 Arendt surpreende o mundo depois de assistir ao julgamento de um burocrata nazista que foi responsável por mandar milhares de judeus a campos de concentração, na chamada solução final. Após acompanhar os depoimentos de Adolf Eichmann em Jerusalém ela chega à seguinte conclusão, aquele homem ali que está sendo jugado não é diferente dos demais presentes no tribunal, ele é um homem comum, um bom pai, um excelente funcionário, um cidadão que segue as leis e vai à igreja aos domingos. Então o que o diferencia dos homens que se negaram a seguir as ordens do governo nazista? A diferença está no que ele abdicou, abdicou de pensar, pois o que nos diferencia dos outros animais é nossa capacidade de pensar, e ao negar a humanidade do outro enxergando nele somente o inimigo e seguindo ordens sem questionar, abrimos mão da nossa consciência crítica e passamos a ser apenas repetidores do pensamento dominante, retirando de nos mesmos a humanidade que negamos ao outro. Diferindo dos pensadores da época ela chega à conclusão que o mau que habita os apoiadores do regime nazista não é um mal absoluto, mas um mal banal.
O que é a banalidade do mal?
A banalidade do mal nada mais é do que a conclusão que o mal é banal, segundo Arendt o mal não é uma força mística que emana das profundezas e faz com que seres humanos se transformem em monstros capazes das maiores atrocidades, o mal está dentro de todos os indivíduos o que diferencia os que sedem a este mal e os que lutam contra ele é a capacidade crítica de se questionar.
Arendt cita alguns elementos totalitários que geram espaço para a construção dessa banalidade do mal, elementos esses: banalização do terror, manipulação dos coletivos e massificação da politica. Esses elementos totalitários existem também em regimes não totalitários como o nosso, podemos ver com facilidade o totalitarismo nas abordagens policiais nas periferias, na diferenciação que há nos tribunais brasileiros onde se juga de maneira diferente negros e brancos e até mesmo na nossa imprensa, que trata de maneira totalmente diferente notícias relacionadas a classes sociais diferentes, reservando um espaço menor nos jornais quando a notícia trata de um crime sofrido por minorias ou até mesmo com uma abordagem mais agressiva quando o assunto tratado se refere a uma classe social com menor poder financeiro, um bom exemplo são as notícias relacionadas ao tráfico, quando trata-se de um traficante da alta sociedade ele se torna jovem de classe média ou estudante, já os da periferia são traficantes.
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No pensamento de Hannah Arendt estamos de certa maneira apoiando estas atitudes totalitárias todas as vezes que nos silenciamos diante de tais atitudes, toda vez que nos reservamos o direito de não refletir sobre a opressão que sofre o outro, estamos a apoiar a atitude do opressor. Quando nós negamos a refletir sobre nosso entorno estamos abrindo espaço para regimes que tem interesse em impor suas ideias através da força, legitimando a violência com pensamentos como, armar a população, bandido bom é bandido morto e exclusão de minorias, por exemplo LGBTQI+, ao negar direitos básicos a pessoas LGBTQI+ estamos lhe negando a humanidade, estamos de certa maneira apoiando o discurso que eles são de uma classe inferior e por isso não devem partilhar dos mesmos direitos, do mesmo espaço ou até mesmo do mesmo direito a vida que o resto da população. Então não adianta dizer que não é homofóbico, mas toda vez que vê pessoas de um gênero diferente do seu exigindo seus direitos você relativiza essa luta, essas minorias são pessoas iguais a você e ao lutar pelos direitos dessas pessoas você vai está lutando pelos seus próprios direitos.
Nosso país é um dos que mais mata homossexuais no mundo e isso está diretamente ligado a uma consciência da impunidade por parte dos agressores, pois eles sabem que o investigador, o juiz e a opinião publica, vão ter um olhar diferente pra cada orientação sexual. Estamos Regredindo como sociedade cada vez mais, deixando de lado a Ética e o senso de coletivo nos fechando em pequenas bolhas que são incapazes de observar as falhas dentro dos grupos que participamos. Criamos cada dia mais elementos de separação, o que só torna a experiência do viver cada dia mais difícil, vivemos em uma democracia e neste modelo de sociedade a política tem como principal papel dialogar, formamos grupos políticos e elegemos senadores, deputados e presidente de diversos partidos e viés sociais para justamente governar para toda a gente, o papel de qualquer governo é antes de tudo tornar o espaço ocupado por seus governados um espaço de todos, onde possamos partilhar da melhor forma a experiência do viver, sem que os interesses de nenhum grupo seja posto acima dos interesses da humanidade.
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Como que mesmo imerso em ideologias eu faço reflexões internas sobre meus atos e os do grupo que sigo?
Nos seus textos Hannah Arendt reflete sobre a pluralidade de nos humanos, que nos faz estar em constante mudança, a nossa sociedade é ordenada através de códigos e valores que são mutáveis e vão se reordenando com o passar do tempo, o que é lícito hoje amanhã pode ser contra a lei o que é malvisto hoje amanhã pode ser o padrão a ser seguido, essas regras vão sendo modificadas conforme circunstâncias e desejos dos homens. Nem sempre o que é lei está de acordo com nossos valores internos, temos diversos exemplos de crimes humanitários que foram legalizados durante determinado período da história, escravidão, extermínio de judeus, pena de morte, essas regras além de mutáveis com o tempo também são especificas para determinados contextos sociais, portar maconha é crime aqui no Brasil (para algumas classes sociais) o que leva diversos jovens da periferia para cadeias superlotadas de criminosos que cometeram diversas barbaridades, o que em muitos casos serve como uma escola do crime levando muitos desses jovens a cometer crimes mais graves ao sair, já em alguns lugares do mundo a maconha é legalizada e se tornou um negócio muito lucrativo, na década de 70 os Estados Unidos comandado por Richard Nixon declarou guerra as drogas levando consigo o mundo inteiro a seguir essa linha, e hoje poucas décadas depois tem um dos mercados mais lucrativos de Canabis do mundo, então antes de nós movermos pelas normas temos sempre que consultar nossa consciência, leis e normas serão sempre multáveis, eu posso cometer as piores barbáries do mundo e ser aplaudido, mas uma consciência crítica sempre vai revelar minhas falhas.
Toda nossa consciência ela é também uma segunda criação, tudo que eu tenho é a minha existência, percebemos que valores, códigos e políticas são mutáveis, muitas vezes sem a nossa intervenção direta, mas mesmo sem essa intervenção eu ainda tenho responsabilidade sobre aquelas mudanças. Nós tomamos decisões e não podemos tomar essas decisões pela mera repetição de slogans ou seguindo a maioria. Parece simplista, mas serve como um ótimo guia a premissa, não faça com os outros o que você não quer que seja feito com você, não criminalize seu irmão só por não ser você naquela situação, antes de julgar faça o simples exercício de se imaginar naquela posição e se fosse eu, como eu me sentiria diante desta situação? Não tenho uma religiosidade tão aprofundada, mas o mandamento amar ao próximo como a ti mesmo, pode te guiar nos momentos de dúvida. Não tenho a pretensão de te dizer em quem votar, mas rogo que não vote em candidatos que preguem o ódio e criminalizem a pobreza, lute por direitos não por privilégios, pois só com direitos iguais pra todos poderemos ter uma sociedade justa e mais humana, nunca haverá justiça enquanto eu acreditar que só é Justo quando é a meu favor.
Alguns links com obras e aulas sobre o assunto: https://pt.book4you.org/s/Hannah%20arendt/?type=phrase&languages%5B0%5D=portuguese &extensions%5B0%5D=epub&extensions%5B1%5D=mobi
https://youtu.be/toVanA_7Y28 https://youtu.be/AzRzJZQMBuw
https://youtu.be/t3GHggzRb1I
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brasilsa · 2 years
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companhiadasletras 116 ANOS DE HANNAH ARENDT
Considerada uma das pensadoras mais influentes do século XX, Hannah Arendt nasceu na Alemanha em uma família judia rica e intelectualizada. Ingressou na Universidade de Berlim em 1924 e lá foi aluna de Heidegger e Jaspers, grandes influências em sua vida e obra. Refugiou-se nos Estados Unidos em 1941 e foi professora da New School for Social Research, em Nova York.
A vida de Hannah Arendt se estende por um período imprescindível na história do mundo ocidental, que abrange não apenas a ascensão do regime nazista e as crises da Guerra Fria, mas a formulação de reflexões fundamentais sobre o valor e a culpa da humanidade diante desses episódios.
Com olhar sempre lúcido, Arendt investigou questões sempre atuais, como a capacidade do Estado de transformar o exercício da violência homicida em mero cumprimento de metas e organogramas. A partir disso, em uma mescla brilhante de jornalismo político e reflexão filosófica, acompanhou o julgamento do nazista Adolf Eichmann e elaborou o conceito de "banalidade do mal", ameaça maior às sociedades democráticas descrita na obra “Eichmann em Jerusalém”.
Autora de outros clássicos como “Origens do totalitarismo”, “Sobre a revolução” e “Homens em tempos sombrios”, foi a filósofa política e escritora responsável por escrever a história definitiva dos movimentos políticos totalitários.
💬 "Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência – ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos."
📸 Jerry Bauer
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