O elixir da juventude está dentro de nós....
Telômeros são as "pontas" dos cromossomos que protegem o material genético e modulam a longevidade das células.
Há tempos, os alquimistas acreditavam na existência de um elixir da juventude, que supostamente se encontrava no chamado ouro potável, cujas propriedades permitiriam a cura e a regeneração do organismo, prolongando a vida. Na alquimia, o ouro era considerado um metal puro e perfeito, associado ao sol e à imortalidade.
Acredita-se que o ouro potável, por ser uma forma mais refinada e purificada de ouro, poderia transmitir essas propriedades aos humanos, proporcionando-lhes juventude eterna.
Nessa mesma linha de pensamento, alguns filósofos antigos acreditavam em um suposto elixir da longa vida, também conhecido como a água dos filósofos, que traria longevidade aos seus consumidores. Na Bíblia, inclusive, o precioso elixir foi referido como "a água da vida".
Mas histórias a parte, o fato é que nunca ninguém conseguiu produzir até o momento um elixir da longa vida, talvez porque o segredo dessa longevidade esteja muito perto. Dentro de nós!
Os telômeros são formados por sequências repetitivas de bases nitrogenadas de DNA (TTAGGG) localizadas nas extremidades dos cromossomos. Essas sequências repetitivas de nucleotídeos atuam como "capas protetoras" do material genético localizado no restante do cromossomo, desempenhando papel importante na estabilidade e segurança dos genes durante a divisão celular (mitose), assim como na "regulação" da longevidade das células.
À medida que as células se replicam por mitose ao longo do tempo, os telômeros tendem a encurtar gradualmente. Isso ocorre porque antes da mitose, mais precisamente na fase S da intérfase , a DNA polimerase (enzima responsável pela replicação do DNA), não consegue completar a replicação até o final do cromossomo. Como resultado, as extremidades dos cromossomos são gradualmente perdidas a cada ciclo celular (são perdidos de 50 a 100 nucleotídeos a cada divisão celular).
Quando os telômeros se tornam muito curtos, as células podem entrar em senescência (um estado de parada do crescimento) ou sofrer apoptose (morte celular programada). Estudos científicos demonstraram que o encurtamento dos telômeros está relacionado ao envelhecimento e ao desenvolvimento de doenças associadas à idade.
As células-tronco e certas células do sistema imunológico, no entanto, são dotadas de telomerase, uma enzima que pode "regenerar" os telômeros mantendo a integridade dos cromossomos nessas células. A telomerase adiciona sequências repetitivas de DNA às extremidades dos cromossomos, compensando o encurtamento natural que ocorre durante a replicação do DNA.
A atividade da telomerase é geralmente alta em células-tronco embrionárias, permitindo que elas permaneçam com telômeros longos. Assim, as células-tronco embrionárias preservam a capacidade de se dividirem e se diferenciarem em diferentes tipos de células. Já as células-tronco adultas e principalmente as células permanentes diferenciadas apresentam níveis menores de telomerase quando comparadas às células´ embrionárias.
Diversos estudos científicos demonstraram que o encurtamento dos telômeros ao longo do tempo está também indiretamente relacionado ao desenvolvimento de algumas doenças, entre elas:
Doenças cardiovasculares: o encurtamento dos telômeros tem sido associado a um maior risco de doenças cardiovasculares, como doença arterial coronariana, hipertensão arterial e acidente vascular cerebral.
Câncer: telômeros mais curtos estão frequentemente presentes em células cancerígenas. O encurtamento dos telômeros pode levar a instabilidade genômica, o que favorece a ocorrência de mutações que contribuem para o desenvolvimento do câncer.
Doenças pulmonares: pacientes com doenças pulmonares crônicas, como fibrose pulmonar idiopática e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), geralmente apresentam telômeros mais curtos em suas células pulmonares.
Doenças neurodegenerativas: há evidências sugerindo que o encurtamento dos telômeros pode estar envolvido em doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Síndromes genéticas: certas síndromes (raras) estão associadas ao encurtamento dos telômeros, tais a Síndrome de Werner, a Síndrome de disqueratose congênita e a Síndrome de Bloom.
Recentemente, pesquisadores da USP verificaram que animais com carência da enzima telomerase nas células-tronco da medula óssea geram número insuficiente de células de defesa (leucócitos), ou geram células de defesa menos eficazes, além de problemas no fígado. Linhas de pesquisa em outras universidades espalhadas nos Estados Unidos e Europa apontam que a diminuição da atividade da telomerase nas células-tronco da medula óssea pode ter consequências negativas, tais como:
Envelhecimento do sistema hematopoiético: com o encurtamento dos telômeros nas células-tronco da medula óssea ao longo do tempo, as capacidades de autorrenovação e de diferenciação em células sanguíneas diminuem. Isso pode contribuir para o envelhecimento do sistema hematopoiético e para o desenvolvimento de doenças relacionadas à idade, como a anemia.
Aumento do risco de doenças hematológicas: a diminuição da telomerase nas células-tronco da medula óssea pode estar associada a um maior risco de desenvolvimento de certas doenças hematológicas, como a Síndrome Mielodisplásica (SMD) e a leucemia mieloide aguda (LMA).
Disfunção imunológica: a diminuição da atividade da telomerase pode afetar a capacidade das células-tronco da medula óssea de produzir células do sistema imunológico (leucócitos). Isso pode resultar em uma diminuição da resposta imunológica eficiente e em aumento da suscetibilidade a infecções e doenças relacionadas ao sistema imunológico.
No entanto, é importante ressaltar que a relação causal direta entre a diminuição da telomerase nas células-tronco da medula óssea e o desenvolvimento de doenças ainda precisa ser completamente esclarecida.
Pesquisadores da University College de Londres, no Reino Unido, liderados pelo Dr. Alessio Lanna, acenaram com um método preventivo promissor contra o envelhecimento do sistema imunológico. Esses cientistas descobriram que no combate a determinados agentes invasores, determinadas células do sistema imunológico (macrófagos e células dendríticas) podem "transferir telômeros" para os chamados linfócitos T (células de defesa fundamentais) por meio de vesículas membranosas extracelulares. Essa transferência resulta em aumento do comprimento de determinados telômeros dos linfócitos T em até 30 vezes mais que a ação da enzima telomerase.
Após a incrível descoberta, a equipe da University College passou a investigar e a purificar as vesículas carregadas de telômeros. A ideia é tentar adicioná-las aos linfócitos T para aumentar a longevidade dessas células em estado natural, independentemente da ocorrência de uma infecção. No decorrer da pesquisa, os cientistas concluíram que as vesículas membranosas carregadas de telômeros poderiam ser administradas com sucesso, por exemplo, quando combinadas com uma vacina, de modo a prolongar a duração da resposta imunológica do imunizante.
Mas será que, em tese, seria possível aplicar para fins preventivos ou regenerativos a enzima telomerase nas células de algum paciente?
Bem, sim!
Mas o fato é que ainda não há relatos de ensaios clínicos que utilizaram essa abordagem, afinal mexer com telomerase e telômeros não é tão simples assim!
A aplicação da telomerase como uma abordagem terapêutica ainda é uma área de pesquisa em andamento. É verdade que teoricamente a aplicação ou a ativação da enzima telomerase poderia prolongar a vida útil das células e retardar o encurtamento dos telômeros, reduzindo os efeitos do envelhecimento e prevenindo certas doenças associadas ao encurtamento dos telômeros.
Só que a utilização indiscriminada da telomerase poderia também resultar em efeitos negativos à saúde, pois sabe-se que algumas células cancerígenas são capazes de ativar mecanismos que preservam os telômeros, permitindo que continuem se dividindo indefinidamente. Esses mecanismos incluem a ativação da enzima telomerase. Nesse caso, adicionar telomerase extra poderia significar "apagar o fogo com gasolina", isto é, estimular a atividade da telomerase em células normais também poderia aumentar o risco do desenvolvimento de tumores.
No entanto, a pesquisa sobre a manipulação da telomerase e da extensão dos telômeros continua em andamento, e várias abordagens estão sendo exploradas para o desenvolvimento de tratamentos potenciais.
Tudo é recente! A descoberta dos telômeros e a relação deles com o envelhecimento ocorreu na década de 1970. Os cientistas Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak foram premiados com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2009 pela descoberta da telomerase e do papel dos telômeros na proteção do material genético. Desde então, muitas pesquisas estão sendo financiadas para entender melhor a função dos telômeros e da telomerase.
Embora ainda haja muito a aprender sobre telômeros e telomerase, avanços na tecnologia permitirão melhor entendimento sobre os impactos desses elementos à saúde humana.
O que acontecerá nas relações humanas, o dia em que a ciência mostrar formas seguras e eficazes das células preservarem seus telômeros? Envelheceríamos de forma mais lenta? Nesse caso, o sonho dos alquimistas seria alcançado? O que viria depois?
Leia também:
1-https://jornal.usp.br/ciencias/cientistas-descobrem-efeitos-importantes-da-doenca-dos-telomeros-no-sistema-imunologico/ (acesso em 06 de julho de 2023)
2-https://www.scielo.br/j/rbhh/a/rrjrCBxN8KFgtKh8FmccNwG/?lang=pt (acesso em 06 de julho de 2023)
3-https://oglobo.globo.com/saude/medicina/noticia/2022/09/longevidade-descoberto-mecanismo-que-retarda-envelhecimento-do-sistema-imunologico-mostra-estudo-da-nature.ghtml (acesso em 06 de julho de 2023)
4-https://genotipia.com/genetica_medica_news/transferencia-de-telomeros/ (acesso em 06 de julho de 2023)
5-https://www.ucl.ac.uk/news/2022/sep/new-mechanism-extends-life-immune-system?_ga=2.107367938.1640029816.1688673765-1213671299.1688673765 (acesso em 06 de julho de 2023)
6-https://sentcell.life/about/ (acesso em 06 de julho de 2023)
7-https://www.nature.com/articles/s41423-022-00949-z (acesso em 06 de julho de 2023)
8-https://www.ucl.ac.uk/news/2022/sep/new-mechanism-extends-life-immune-system (06 de julho de 2023)
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Crean ratones con dos padres gracias a células madre: ¿Podría esto aplicarse a humanos en el futuro?
Científicos han creado ratones bebés con dos padres por primera vez convirtiendo células madre de ratón macho en células femeninas en un laboratorio. Si bien esto plantea la posibilidad lejana de hacer lo mismo en humanos, los expertos advierten que solo nacieron muy pocos embriones de ratón y nadie sabe si la misma técnica funcionaría en células madre humanas.
No obstante, “es una estrategia muy ingeniosa que se ha desarrollado para convertir células madre masculinas en células madre femeninas”, dijo Diana Laird, experta en células madre y reproducción de la Universidad de California, San Francisco, que no participó en la investigación. “Es un paso importante tanto en la biología de células madre como en la reproducción”.
Los científicos describen su trabajo en un estudio publicado en la revista Nature. Primero, tomaron células de la piel de las colas de ratones machos y las transformaron en “células madre pluripotentes inducidas”, que pueden desarrollarse en muchos tipos diferentes de células o tejidos. Luego, a través de un proceso que implicó su cultivo y tratamiento con un fármaco, convirtieron las células madre de ratón macho en células femeninas y produjeron óvulos funcionales. Finalmente, fertilizaron esos óvulos e implantaron los embriones en ratones hembras. Alrededor del 1% de los embriones - 7 de 630 - se convirtieron en crías de ratón vivas. Los ratones parecían crecer normalmente y podían reproducirse de manera normal.
En un comentario publicado junto al estudio de Nature, Laird y su colega Jonathan Bayerl, dijeron que el trabajo “abre nuevas vías en la biología de la reproducción y la fertilidad” para animales y personas. En el futuro, por ejemplo, podría ser posible reproducir mamíferos en peligro de extinción a partir de un solo macho. “Incluso podría proporcionar una plantilla para permitir que más personas”, como parejas del mismo sexo masculinas, “tengan hijos biológicos, evitando los problemas éticos y legales de los óvulos de donantes”, escribieron.
Pero también plantearon varias precauciones. ¿La más notable? La técnica es extremadamente ineficiente. Dijeron que no está claro por qué solo una pequeña fracción de los embriones colocados en ratones gestantes sobrevivieron; las razones podrían ser técnicas o biológicas. También destacaron que aún es demasiado pronto para saber si el protocolo funcionaría en células madre humanas. Laird también dijo que los científicos deben ser conscientes de las mutaciones y errores que pueden introducirse en una placa de cultivo antes de usar células madre para hacer óvulos.
El estudio es el último en probar nuevas formas de crear embriones de ratón en el laboratorio. El verano pasado, científicos de California e Israel crearon embriones de ratón "sintéticos" a partir de células madre sin esperma del padre, óvulo de la madre o útero. Esos embriones imitaron a los embriones de ratón naturales hasta 8 ½ días después de la fertilización, conteniendo las mismas estructuras, incluyendo una como un corazón latiente. Los científicos dijeron que el logro podría sentar las bases para crear embriones humanos sintéticos para la investigación en el futuro.
Referencia:
Murakami, K., Hamazaki, N., Hamada, N. et al. Generation of functional oocytes from male mice in vitro. Nature (2023). https://doi.org/10.1038/s41586-023-05834-x
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