Snow Love
Era possível ver a neve caindo do lado de fora. Quem diria que um local como aquele teria uma das nevascas mais lindas que eu já vira.
Era véspera de Natal. Eu vestia o meu suéter vermelho, separado especialmente para aquela ocasião, e um short jeans por baixo.
O fogo crepitava na lareira. A xícara de chocolate quente, com os mini marshmallows boiando, mantinha minhas mãos aquecidas.
Me sentei na pequena poltrona próxima à janela e mantive meu olhar na neve, que caía sob a cidade grande. Dei um gole no chocolate e me permiti lembrar de tudo o que acontecera naquele ano.
Sabe, eu nunca fui muito fã do Natal. Nunca foi a minha época do ano favorita e só ficou pior quando meu tio faleceu próximo ao dia 25. Entenda que minha família não é muito próxima de mim, ele era meu porto seguro e fazia todas as festas em família valerem a pena. Era o motivo de todas as minhas risadas, dono dos melhores conselhos e, sempre que eu duvidava sobre algo, ou me questionava, ele sabia exatamente o que me dizer.
E então ele morreu... Eu fui morar sozinha. Me distanciei da minha família. Não comemorei outro Natal novamente... até aquele.
O que mudou na minha vida para que eu voltasse a comemorar o Natal? Bem, para isso preciso voltar para dezembro do ano passado.
Foi o dia em que eu a conheci.
Ela era o espírito mais belo e puro que poderia existir. Nós nos conhecemos quando ela começou a trabalhar numa das minhas cafeterias favoritas e onde eu ia todos os dias para ler e beber uma xícara de chocolate quente enquanto comia um croissant. Todas as manhãs, desde que começara a trabalhar lá, ela trazia meu pedido e eu sempre estava lendo um livro diferente.
Toda vez que me via com um livro diferente, ela citava uma das suas frases favoritas dele, como se tivesse tudo pronto na ponta da língua. E em janeiro do ano seguinte, eu finalmente criei coragem e a chamei pra sair comigo.
A levei aos meus lugares favoritos, desde parques a restaurantes. Vimos filmes que amávamos, desde heróis a romances. Ela tinha uma risada contagiante. Me disse que o Natal era sua época favorita do ano. Ela sempre parecia ficar mais radiante naquela época específica, me lembrava disso desde o momento em que a conheci.
Alguns meses depois, a convidei para morar comigo no meu apartamento. E preciso dizer que ela deixou o lugar cada vez mais alegre. Criamos tradições em quase todos os feriados e estávamos planejando até nossa própria tradição de Natal. Ela me surpreendeu com diversas coisas de decoração da época. Seus olhos em meio aos muitos pisca-piscas ficavam mais brilhantes. Seu sorriso iluminava ainda mais o lugar e sua risada me contagiava, como sempre. Ela me deu um motivo para querer comemorar novamente.
Mas nem tudo foram rosas.
Pouco antes do Natal, eu senti dores fortes. Achava que era apenas algo relacionado ao estresse que passava no meu trabalho. Até o dia em que travei, senti o braço formigar e não me lembro de mais nada daquele dia.
Até o momento em que acordei no hospital. Aqueles belos olhos me encarando, preocupados e tristes. Algo sério tinha acontecido, eu sabia disso.
Acontece que eu tive uma parada cardíaca, resultado do meu coração querendo começar a falhar. Ela chorou tanto enquanto me contava. Ficou ao meu lado todos os dias durante o tratamento, cuidando de mim, até o dia em que recebi alta.
A única forma de me recuperar, seria com um transplante, mas aquilo era algo muito raro e difícil de conseguir, ainda mais pela compatibilidade.
Voltei para casa faltando 10 dias para o Natal. Novamente, ela cuidou de mim...
Até o dia em que estava sozinha no apartamento e recebi a ligação do hospital. Haviam achado um coração compatível e eu precisava ir urgentemente para lá.
Peguei um Uber e me dirigi até lá, enquanto tentava ligar para ela e avisar sobre o transplante. Ela provavelmente estava trabalhando e com o celular descarregado, já que todas as ligações caiam na caixa postal.
Cheguei e já me levaram para preparar para cirurgia, que foi um sucesso. Pensei em como agradeceria... pelo menos a família daquela pessoa que me salvara. Quando acordei, o médico dissera que eu estava bem, mas quando pedi para saber quem era o doador, meu mundo caiu.
As lembranças se interromperam ali, quando senti a lágrima rolar pelo meu rosto. Sequei com o canto da manga do suéter e coloquei a xícara na mesinha. O apartamento ainda estava decorado. Me levantei, olhando para a decoração, e me aproximei da árvore, cruzando os braços. Eu havia terminado... em homenagem a ela. E quando me aproximei, meu pé acabou encostando em algo. Olhei para baixo e havia uma bela caixa vermelha, com um laço dourado no topo e um envelope branco no meu nome nele.
Peguei a caixa e abri o envelope retirando o cartão que havia ali.
“Feliz Natal, meu amor!
Meu coração é e sempre será somente seu!
Com amor,
B. M.”
Senti uma lágrima rolar novamente e um leve sorriso se formar em meu rosto. Abri a caixa e lá tinha um porta retrato com uma foto nossa no parque. Nós duas fazendo caretas engraçadas, junto com várias outras memórias e, no fundo da caixa, uma frase que fez meu coração bater mais forte:
“Cuide bem do meu coração.”
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