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#freud me tira dessa
meninacrista-oficial · 2 months
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Das coisas que guardo no peito
Há muito tempo não escrevo, mas hoje me veio uma vontade tão voraz de desabafar (ou desabar), que não pude me conter. 
Uma sensação de engasgo percorre minha garganta e um peso se hospeda em meu peito, uma vez, eu li um texto de Clarice que dizia que "não se guarda as palavras, ou você as fala ou as escreve ou elas te sufocam". Eu tenho o péssimo costume de guardar sentimentos pelo simples fato de não conseguir encontrar palavras para descrevê-los, mas hoje estou disposta a despejar tudo para fora em uma tentativa de me livrar desse sufoco. 
Este ano faz exatos 10 anos que te conheci, as pessoas dizem que o tempo cura tudo, mas sabe de uma coisa? Eu discordo totalmente, eu acredito que o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções. Por muito tempo me fiz de "anestesiada", acredito que foi uma forma do meu corpo se proteger da dor, mas por algum motivo, eu venho pensando em você nos últimos meses com mais frequência do que eu gostaria. Freud escreveu que "emoções não expressadas jamais morrem", então irei expressá-las, vai que por sorte eu pare de pensar em você? O jeito é confiar que vai dar certo, confiar chorando. 
Eu sempre lidei muito bem com a solidão, com minha própria companhia, sempre fui aquela menina de "alma idosa", que aprecia os detalhes, as miudezas da vida, que ama o barulhinho da chuva e um bom filme de romance; que prefere um livro a frequentar lugares movimentados. Nunca me interessei em ficar por ficar, sempre fui muito desconfiada e seletiva, até então nunca tinha me encantado com o amor. Foi aí que você apareceu e mudou tudo, você se tornou minha pessoa favorita em questão de semanas.
Você tornou minha vida melhor só por estar nela, então eu soube: Eu guardei o meu amor para você, dentre tantos, eu escolhi você. Queria que fôssemos estranhos mais uma vez, só para poder te conhecer novamente, mas dessa vez do jeito e no tempo certo. É tão curiosa a forma que você me afeta, a conexão que eu tinha ao sentir a tua presença quando chegava, mesmo sem saber que você estava no ambiente, eu te procurava em meio as pessoas e via você. Nossa história começou tão bonita, digna de um livro de romance como você dizia, pena que o nosso romance não teve um final feliz como eu gostaria.
Os teus olhos, a tua gentileza, o teu dom de iluminar qualquer lugar por onde passa, o teu jeito todo expansivo — tão diferente do meu, a tua calmaria que contrasta com a minha intensidade... Tudo em você me cativou. Você nunca saberá o quanto te amei, nunca saberá das noites não dormidas, de o quão triste foi aquele adeus; aquele último abraço tão apertado que me aninhou, nunca sairá de mim. 
Quando te conheci eu já sabia que você seria meu marido ou o pior término da minha vida, o "destino" quis que você me fosse a segunda opção. Você não devia ter conquistado meu coração, você devia ao menos ter me contado que não pretendia ficar, antes que eu já te considerasse um lar. Em ti fiz minha casa, só que você se foi e me deixou aqui desabrigada.
Eu não lembro de muitas coisas dessa época, acredito que foi mais uma armadilha do meu cérebro pra me proteger do sofrimento, mas sabe do que eu não esqueço? Da sua indiferença, da sua recusa em olhar para mim, da sua falta de coragem em ao menos se despedir de maneira digna. Eu não acredito que o oposto do amor seja o ódio, mas sim a indiferença, e isso dói. Outra dor que guardo é do "e se", e se tivesse dado certo? O que poderíamos ter construído se ficássemos? As saudades mais dolorosas são das coisas que nunca foram... 
Você foi embora sem olhar para trás, apagou tudo, me apagou da sua história, você simplesmente fugiu, foi covarde. Isso só me prova que ou você não me amava como dizia ou você estava tentando se proteger, só que ao mesmo tempo estava me magoando. Aquilo tudo foi uma tentativa de não se machucar? Porque se foi: "Parabéns!", espero que tenha dado certo para você! Você foi egoísta e aumentou ainda mais o meu sofrimento. Eu sei que não tínhamos nenhuma chance de dar certo, eu sei! Mas realmente precisava me tratar daquele jeito?
Por muito tempo evitei certas pessoas, porque elas perguntavam de você e explicar tudo doía tanto... Não foi você que ficou. Não foi você que suportou as perguntas indelicadas. Não foi você que viu a pessoa que ama com outra. E pelo visto, não foi você que amou de verdade. Sim, você demonstrou ser um monstro comigo e eu não merecia. Lidar com o término, ausência, rejeição e falta de perspectiva não é dor que qualquer um suporte.
"Não me deixe preencher com vazios o espaço que é só teu, não se encante em outro canto se aqui comigo você já fez morada", era a música que eu ouvia sem parar quando você se foi. 
Ainda me lembro do quão dolorosa foi aquela noite, nunca vou esquecer do dia em que fiquei sem resposta, em que senti meu corpo tremer, meu estômago revirar e lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto, se você tivesse visto como eu chorei por você naquela maldita noite, você se odiaria. Eu me perguntava: Como você conseguiu deixar de me amar tão rápido, se sempre dizia me amar tanto? Eu sou tão fácil de ser esquecida? Ou você só estava me mostrando que eu nunca fui tão importante assim? 
Tudo piora ao perceber que talvez você nem sequer lembre o quanto me fez mal, para você talvez só tenha sido uma noite de sábado normal, mas para mim foi uma noite cruel que sempre me lembrarei — não com raiva ou rancor, mas com tristeza e decepção. Por mais que eu tente, eu nunca irei entender quais motivos você teve para me machucar daquela forma tão devastadora.
Logo você encontrou alguém, enquanto eu chorava, você conhecia outra pessoa, isso foi insuportavelmente doloroso para mim. Aí então eu mudei, foquei nos estudos, no trabalho e em manter a mente ocupada. Até tentei manter contato com você, mas aquilo me machucava, ainda mais sabendo que sua vida tinha mudado, que você tinha alguém. Eu só tinha uma única escolha: Ocultar os meus sentimentos e te deixar livre, eu não podia te prender, se você me amasse como tanto falava eu não precisaria lutar por uma posição na sua vida. 
Como pode tanto "amor" ser reduzido a insignificância? Eu não queria sua piedade ou sua amizade por pura obrigação, eu queria o seu amor. Mas o seu amor pertence a outra agora e espero que você esteja feliz. É tão doloroso olhar o amor partindo em uma direção que não é a sua... Amor é libertar, amor é voo, e você voou. 
Do nosso amor, eu fui a última a ir embora. Poucas coisas são mais difíceis do que abrir mão de alguém por gostar muito da pessoa e reconhecer que ela não pode ficar, mas pior ainda é não querer desistir de alguém mesmo sabendo que ela já desistiu de você... Existem momentos que precisamos tomar decisões como um adulto, mesmo que essa decisão te faça chorar feito uma criança; dói, mas é necessário.
Ainda assim, com todas essas feridas causadas por você, eu me sinto culpada por tudo, errei muito e o passar dos anos me fez enxergar muita coisa. Sei que você também pode ter feridas causadas por mim, então peço que perdoe-me por não ter tido maturidade naquele momento, perdoe-me se em algum momento alguma palavra ou ação minha te fez duvidar do meu amor. 
Eu devia ter me declarando mais, eu devia ter demonstrado mais, eu devia ter confessado abertamente a você o que agora eu só posso escrever para mim mesma... Bom, agora é tarde demais. É por este motivo que eu resolvi escrever esse texto imenso e ridículo cheio de palavras ínfimas e estúpidas que você nunca irá ler: Há amores que gritam no peito, mas que são mudos por fora, são como pássaros presos em gaiolas que nunca vão voar. 
Mesmo com tantos arrependimentos, ainda sinto orgulho de mim, eu nunca precisei ferir outro coração para aliviar o meu, eu disse "eu te amo" pouquíssimas vezes na minha vida, mas em todas as vezes eu amei de fato, verdade eu dei. De todas as coisas que deram errado pra mim, eu dei certo, eu entendi que o importante não é o que nos fizeram, mas o que a gente se torna apesar de tudo: Eu escolho o amor, o perdão e a bondade. Mesmo quebrada por dentro, meu coração só carrega intenções e sentimentos bons. Tenho fé de que tudo tem um propósito, e que um dia eu hei de entender o motivo de tudo isso. 
Dói tanto te lembrar; eu abandonei todas as minhas defesas e orgulho por você, eu vivia no aguardo de um sinal, de ver você voltando. Eu esperei por você por tanto tempo... Porém, não há sentido em esperar por alguém que nunca virá. Eu realmente espero amar alguém um dia como amei você, e espero que ele não desista de mim como você fez. Tentei me refazer longe de ti na esperança de me curar, mas no fundo eu sabia que eu jamais seria a mesma, você deixou um vazio no meu peito que talvez ninguém jamais conseguirá preencher. 
As vezes me pego pensando: Será que está feliz? Que tem filhos? Que sente-se realizado no trabalho? Que sente-se em casa onde mora? Que participa da igreja? Que tem bons amigos? Eu nem te conheço mais, não sei nada sobre você. Começamos como dois estranhos e terminamos assim também...
Te "desenterrei" do âmago do meu ser, e me pergunto será que tenho um espaço aí dentro? Uma lembrança? Um aperto no peito? Por favor, não diga que sou tão esquecível, quanto o teu silêncio me fez sentir. As vezes, eu me pergunto se alguma vez pensamos um no outro ao mesmo tempo... Quanta bobagem. Eu tenho que te enterrar de novo, eu preciso. Mesmo com tanto para ser dito, mesmo com tanto para perguntar; precisamos saber o limite e o momento certo em que devemos nos silenciar. Eu preciso entender que há questões que não precisam ser resolvidas, mas sim esquecidas.
Não entendo o porquê de estar sentindo essa agonia, de pensar tanto em você sem motivo algum depois de tanto tempo. Oro para que Deus tire esses sentimentos de mim, relembrar disso tudo corrói, dilacera. Eu era bem mais feliz quando o meu peito estava adormecido. "E" "se" duas palavras tão pequenas que tem o poder de te assombrar pelo resto da vida...
Eu realmente espero que essa dor que estou sentindo no momento seja a dor de abandonar o amor que eu sinto, a dor de esvaziar o coração, de finalmente ficar livre. Eu quero acreditar que eu estou apegada ao amor que sentia por você e que alforriar esse sentimento me traz a sensação de luto. Eu realmente quero acreditar que esse amor está finalmente saindo de dentro de mim, já que externamente essa história já acabou há muito tempo, mesmo sem a minha escolha; eu espero que um dia eu possa me livrar desse sentimento... Caso contrário, nunca serei inteiramente feliz e sempre carregarei um vazio, uma parte escura no peito. 
Te encerro aqui N, te guardo na memória, espero que as feridas que ficaram um dia tornem-se cicatrizes, e que elas me sirvam de lembrete de que nem todo amor dará certo. Me despeço do amor mais forte que já senti, mas que pelo visto somente eu senti. Eu deixarei que morra em mim o desejo de te encontrar novamente, eu não quero viver uma vida inteira amando alguém de longe, que está feliz sem mim. Eu não quero passar 20, 30 anos fingindo que superei e tentando aprender a amar outra pessoa, mas sabendo que ela não é o meu verdadeiro amor. Eu definitivamente não quero isso para minha vida. 
Independente do que a vida nos reserve, saiba que sempre estarei aqui para o que precisar, eu sempre estarei aqui para segurar a sua mão, mesmo que você tenha soltado a minha. Torço pela sua felicidade, talvez um dia nos veremos por aí, quem sabe...Tu sempre terá a minha saudade, te encontro na eternidade. 
Para sempre te dedicarei a música: "E onde quer que a vida te levar, o meu coração vai junto, para sempre vou te amar". Amo-te, ano após ano — incansavelmente, mas te amar não vai te trazer de volta; então que Deus me ajude.
E agora, ao final desta carta, aos prantos, cheguei a infeliz conclusão: Acho que sempre amarei você. Não sinto o mesmo sentimento que eu tinha anos atrás, mas continuo sentindo que de alguma maneira meu coração sempre pertencerá a você. Há pessoas inesquecíveis, há amores que não nasceram para ficar juntos e para isso não há cura. 
 "Eu percebi que não importa aonde esteja, ou o que esteja fazendo, ou com quem esteja. Eu vou sempre, verdadeiramente, completamente, amar você" (Simplesmente acontece, um dos meus filmes favoritos). 
Voe! 
Te cuido em oração,
TP.
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"Tens morada em mim", meu amor, que eu já não via há muito, me disse assim. Apesar da inicial declaração receio ter sido despejada. Não acredito ter havido revanchismo. Não. Ele mesmo disse não se tratar disso e eu acredito nele. Apenas me foi dado por ele o que levei a crer ser meu desejo.
Me comportei mal. Fui rancorosa, nada empática disse preferir as ruas escuras da solidão, o albergue das companhias breves e passageiras que até comovem, fazem bem, nos nutrem com bocados de vida, têm sua importância, mas não movem, ou removem.
Naquele momento me declarei instantâneamente doutora dos assuntos do coração, cheia de autoridade, que além de pedir que seguisse com sua vida, arrematei lhe recomendando doses homeopáticas de solidão.
Não me dei conta de que ele já vinha experimentando uma variedade bem perniciosa dessa terapêutica: a solidão que pode-se experimentar estando acompanhado.
Ou seja, somado ao que ele de alguma forma, em alguma medida, experimentara anteriormente, acabei indicando uma overdose. Fui negligente, iatrogênica. Isso é o que dá não fazer uma boa anamnese dos sentimentos de quem se quer bem. Mas ele não me escutou. Já segue se abrigando em outro alguém. Sorte a dele, soube que é alguém especial, fácil de se relacionar e incrível.
Não sinto ter vivência suficiente para definir o que pudesse significar amar. Aliás, dá para fazer isso? Me parece tão subjetivo e constantemente aberto a acréscimos. Arrisco dizer o que um pouco para mim parece fazer sentido: concordo com a ideia de inundar, transbordar, promover mudança, movimento.
O amor vem e nos propõe sair do lugar, o que nos assusta numa proporção parecida com o quanto nos causa alegria cheia de brilho e energia e vida, às vezes até dolorosa porque a inércia, apesar de aconchegante e quentinha, ao contrário assemelha-se à morte em vida.
Esse reencontro me fez dar conta de que escolhi a indigência do afeto em todas minhas relações até aqui. Ou a maioria delas, principalmente as familiares e românticas. Indigência do afeto do outro, do autoamor. Todo reencontro com ele me traz questões, me tira do lugar de alguma forma. Sempre foi assim. Sempre.
Ao contrário do que foi relatado até aqui, num rompante incomum de autoamor, me propus um primeiro, mas significativo, passo em direção a um processo que penso ser grande porque extenso: me inscrevi numa lista para pacientes que aguardam psicanálise.
Que o entusiasmo e Freud possam me guiar nessa longa e tortuosa estrada. Que eu possa fazer algo, ao menos para mim, do que me sobrou de nosso reencontro, meu amor. Devo isso a mim e aos que terão o prazer ou desprazer de cruzar ou continuar cruzando meu caminho daqui para frente.
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umadosedemim · 1 year
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Um percurso sobre mim, com base nos aprendizados de psicanalise
Estamos intimamente ligados com nossa psique. Somos em suma maioria aquilo que pensamos, mais do que qualquer coisa que dizemos, lemos, vemos ou ouvimos. Certo que; somos constituídos de pensamentos e isso molda nossos comportamento. Lacan, por exemplo, diz que: " eu aguardo, mas não espero nada", ele quer nos ensinar que tudo que é da ordem do outro individuo, que não você, escapa do nosso controle. Foi aqui, nesse trecho, que compreendi que "a espera, desespera, por isso; Aguarde!.
Paulo Passos, reinterpretando Lacan, me ensinou que o ato sexual em si, é mera projeção do imaginário. A líbido quando encontra a linguagem, passa a ser Pulsão. Eu não entendia essa expressão Pulsão, até que as minhas dúvidas foram sanadas pela pesquisa ( o estudo liberta você, ao te libertar de suas dúvidas). Pulsão é uma palavra utilizada, para considerar o ato sexual humano, além do natural e necessário para a reprodução. Ele é código, é depósito de expectativas, é simbólico, é procurar o indivíduo erótico perfeito, um encaixe perfeito. Somos todos sujeitos da falta, da saudade, carentes de um contato mais intimo com o outro. Parceiros sexuais pulsantes, são sujeitos desejantes, o amor nos basta, para além do biológico, somos emocionais.
O ser humano, eu, você, sentimos, ressentimos, tem emoções, somos atravessados por experiências mais amplas que a nossa existência puramente racional. Só o amor permite ao gozo condescender ao desejo. Lacan é muito cirúrgico nessa frase, que reflete de forma muito pontual nossas relações contemporâneas.
Muitas vezes a obstinação por um bem estar, pode esconder a fantasia de um controle que não possuímos ou a dificuldade de lidar com a vida como ela é. Todo Excesso esconde uma falta. Independentemente da natureza desse excesso, há sempre algo a ser dito, todo recalcamento produz sintomas, mas enfrentar cada um desses sintomas é muito mais difícil do que bancar excessos, do que viver permeado de nossas próprias vontades ocultas, que temos medo de revelar. Sentir falta, não possuir ou não compreender o outro, é um sentimento muito pouco oneroso, ao ponto de fazer-nos reavaliar nossa própria natureza e conciliar nossa realidade com excessos que não nos fazem sentido.
Sem a fantasia, não existiria desejo. Sem desejo não há pulsão. Para quem estudou ou lembra de matemática, compreende que cada uma dessas palavras é diretamente proporcional. Portanto, sem fantasia não há pulsão ( o termo mais próximo do subjetivo 'Amor" ). Se tu ama alguém, já amou ou ainda ama, saiba que o itinerário do teu desejo, da tua psique, vai criar a impossibilidade desse teu amor, não te deixar mais. Quando o amor já não mais puder existir, por infinitas razões, ele prevalecerá no individuo como um fantasma, num constructo particular e intransferível único. Verdade pois, que ninguém jamais compreenderá a fantasia dos outros, portanto o amor e a sua realidade, nada mais seriam do que uma impositividade moral, de quem tenta ( por inúmeras razões, subjetivas ou não ) transportar seu "fantasma" para o outro.
Freud alerta-nos que: a fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar, ele demonstra que a vida é um caminho só de ida,. Quem tentar abrigar-se no imaginário, infantiliza-se, tornando-se fraco e invariavelmente estúpido frente a realidade da vida e sua complexidade. Refugiar-se na fantasia, dopa o sujeito e tira dele a capacidade de evitar equívocos, devaneio, miragens repetitivas. Fugir daquilo que se sente é sempre mais doloroso que o conteúdo que te fez sentir. A vida não perdoa quem não vive. Enfrentar seu caos emocional é oneroso.
Viver bem não é um privilégio de poucos, mas é inviabilizado pela ignorância de muitos.
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M de Muitas. M de Mulher. Ser humano feminino. Dias difíceis esses. Não há como ficar indiferente ao que está acontecendo. No Brasil, no Mundo. Com as mulheres. Sororidade. Qualquer apoio que se possa dar a todas as mulheres que precisam, que conhecemos e que não conhecemos.
Não há o interesse social, de uma sociedade feita por homens e para homens, que as mulheres encontrem sua potência. Sua realização. Há interesse que sejamos reprimidas. Silenciosas e silenciadas. Nosso papel é atendê-los. Somos santas ou vadias. Fecha as pernas! Tira a mão daí! Não pode isso! Não olhe dessa forma! Não sinta! Quanta repressão. Parem de colocar as mulheres em caixas. Somos diferentes umas das outras e diferentes até de nós mesmas. Freud explica? Acho que não, devemos deixá-lo bem confuso. Somos bruxas. "Queimamos os sutiãs" como forma de protesto. Quem não "queimou o sutiã" nessa pandemia? Mulheres, eu imploro: ateiem fogo. Liberdade.
O nosso corpo é e pode ser uma forma inesgotável de prazer. Falar de sexo é tabu ainda.
Lugar de mulher é onde ela quiser. Mas tem que querer mesmo. Ninguém é obrigado a nada.
Nossos corpos não dizem respeito aos homens com os quais nos relacionamos. Não são propriedades.
Somos nós que sentimos as dores, os anseios, os medos. Em pleno século XXI, seguros de saúde exigem um termo de consentimento assinado pelo marido para inserção do DIU em mulheres casadas. Eu acordo, eu lavo, eu alimento, cuido, hidrato meu corpo todos os dias. Não quero ter filhos. Posso colocar um DIU? Assina aqui para eu sair de mini saia de couro preta. Me autoriza a lavar o cabelo hoje? Posso comprar um carro, um apartamento com meu dinheiro? Tirar férias? Temos independência. Que fique claro!
A situação no Afeganistão é aterrorizante para todos os civis, mas, para as mulheres, significa a perda de direitos reconquistados nos últimos 20 anos, desde que o grupo extremista foi destituído do poder.
Cabul- Proibiram a música, esportes, as meninas foram impedidas de ir à escola, de trabalhar, exceto se forem absolutamente necessárias, como médicas e enfermeiras. Sem mulheres na TV, nada de vestidos, nem maquiagem e para sair nas ruas devem estar acompanhadas de um homem.
As meninas são silenciadas, não fazem parte de reuniões onde há homens, muito menos podem falar. Lembra de Malala? Seu pai decidiu dar a ela as mesmas oportunidades e direitos que seus irmãos homens receberam. Escrevia um blog contando como era a vida das meninas lá sob pseudônimo. 
Recebeu um tiro na cabeça. Sobreviveu. Isso aconteceu em 2012. Em 2014, Malala ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Malala é uma mulher normal. Teve liberdade de fala. A burca, vestimenta que cobre todo o corpo, inclusive os cabelos e apresenta uma tela estreita, à altura dos olhos, através da qual se pode ver, serve para dar invisibilidade à mulher. Muitas de nós, mesmo não estando em Cabul, vestimos burcas. Nos escondemos. Vivemos numa sociedade que veladamente nos cobre. Precisamos discutir, falar abertamente. A trajetória é longa. Há otimismo. Mudar essas realidades de repressão e violência, de impedimento do ser é mais que necessário. Todas nós estamos vivendo isso. Mulheres contra mulheres não vai nos fazer avançar. 
Quando encontramos nossa força interior, acontece a mudança de chave. Questionar essas migalhas históricas que recebemos é fundamental. Merecemos mais. Temos o poder de transformar.
Citando Simone de Beauvoir "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida." Fonte: Posso publicar esse texto? Esqueci de pedir autorização...
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tireideum-livro · 3 years
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Gostava da minha independência, do meu jeito despachado e de fazer as coisas à minha maneira, mas desejava ter alguém para me ouvir e dividir o cotidiano.
Freud, me tira dessa! - Laura Conrado
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pombaquegira · 2 years
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"Deito de costas, deixando meu rosto ficar ensopado de lágrimas. Sem sólidos, nem gritos, apenas água. Tento imaginar até quando é possível chorar. Será que existe uma categoria no livro dos recordes? "
- Freud me tira dessa! 📚📖💭
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psbrunno · 6 years
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De acordo com Freud, nas coisas que eu falava, sonhava e até brincava transpareciam os registros que estavam no meu inconsciente. As dores, as frustrações, os desejos... Ficava tudo ali acompanhando a gente. (...) E eu vivia escondendo o que sentia. (...) Pensei até no Freud (...). De certa forma, ele me inspirava a me conhecer!
freud, me tira dessa - laura conrado
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savemywaltz · 3 years
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O feminino e os papéis que não escolhemos representar
No século XIX Freud indagou: “O que querem as mulheres?”. Após 30 anos estudando e dialogando com o feminino por meio da Psicanálise, não ficou claro qual era a lógica do desejo que conduzia esses seres tão distintos e peculiares, mas diante de tamanha repressão não é por acaso que tais desejos tenham sido carregados por uma aura de mistério.
Posteriormente, Lacan percebeu como a lógica do desejo no feminino é individual em cada sujeito, abundante em camadas, como Babuskas (bonecas russas).
Mas não podemos falar do feminino sem remeter ao contexto sócio histórico, filosófico e cultural (Zeitgeist) que envolve a sociedade através do tempo.
A lógica patriarcal e fálica está presente no mundo ocidental como um ciclo vicioso um sistema hierárquico que busca colocar a mulher como rainha da vivência privada, seja como mãe, cuidadora, objeto de afeto ou proteção, uma imagem que reverbera sempre a favor do masculino. Às mais rebeldes, cabia o papel de bruxa, prostituta, amante ou desejo sexual. Isso faz parte de um dualismo existencial que envolve a simbologia do que é o ser mulher: ora santa, ora puta, ora bruxa, ora deusa.
Ao longo da história, sempre houve um grande problema na imagem da mulher como ser desejante. A esfera criacionista, artística, visionária estava fechada para os homens e cabia a mulher um papel muito importante do mundo privado: o de musa. O papel dela era de inspirar e motivar a força masculina a ser sua melhor versão e, por muitas vezes, a falha do homem era colocada na inaptidão da mulher em realizar isso (tanto como esposa, como mãe).
Na literatura, Flaubert, com um olhar atento ao Zeitgeist da época contou a história de Madame Bovary e fez constatações preciosas sobre a insatisfação de precisar cumprir um papel que a sociedade lhe coloca devido ao gênero.
A personagem Emma Bovary era multidimensional, possuía vários desejos e na impossibilidade de realizá-los sucumbiu aos excessos e a fuga por meio de relações extraconjugais. O pioneiro do realismo romântico mostra as falhas da lógica burguesa, do casamento e dos papéis atribuídos a cada gênero.
Já na literatura não ficcional, uma figura que me fascina é a escritora e (quase) psicanalista Anaïs Nin, que escreveu contos eróticos, romances e diários, relatos de suas experiências amorosas, pensamentos, contradições e a inconstância que perpetuava sua existência, assim como um vazio.
Ela se coloca tanto como ser desejado quanto ser desejante, sendo fragmentada pelo desejo de ser amada, cuidada e acolhida numa sociedade castradora e patriarcal (suas produções literárias se concentram dos anos 20 aos anos 50) e pelo desejo de ser criadora, artista e completa em si.
Hoje em dia, possuímos um acervo de literatura e ciência feita por mulheres e a contraposição entre o “mundo dos homens” (objetividade, política e guerra) e o “mundo das mulheres” (amor, doação, sonho, intimidade) não se mostra estática, mas faz parte de uma noção normativa, cis, que não há a obrigação de pertencer, mas não tira as dores e o desamparo de não caber numa noção normativa da sociedade.
A verdade é que mulheres ainda são vistas como santas ou putas. Bruxas, loucas, histéricas, musas ou chatas.
Historicamente, não se sabiam o que as mulheres queriam pois nem elas sabiam, a posição nunca foi de ser desejante. E como citou Naomi Wolf: “O que uma mulher é ensinada não é a desejar, mas desejar o desejo do outro por ela.”
O Zeitgeist da época nos instiga a uma reformulação dessas noções, o desejo do capitalismo de englobar minorias antes esquecidas como atuantes econômicos nos traz a possibilidade de alterar noções estruturais e isso parte do indivíduo para o coletivo, uma mudança de paradigma na forma de existir no mundo, seja como mulher, como homem, ou não binário.
Todo o acervo histórico, literário, artístico, oriental e ocidental mostram a multiplicidade do ser humano, a possibilidade de sermos muitos, as camadas por trás dos papéis os quais acreditamos pertencer, papéis que aparentemente exercem controle social, mas trazem feridas emocionais que se perpetuam por gerações.
Talvez seja, mais do que nunca, na polarização política em que vivemos, nesse ciclo vicioso de uma Berlin segregada por crenças, a hora de perceber nossos desejos, nossos limites e buscar o debate sem esquecer jamais que os piores males que aconteceram na sociedade foram pautados pela falha em comunicar-se com o outro.
THAIS NOVIS NEVES P. LIMA DINIZ
SCOTTI, Sérgio. Psicanálise, desejo e estilo. Psychê, São Paulo , v. 9, n. 15, p. 77–92, jun. 2005 .
FINGERMANN, Dominique. Desejo e Repetição. Stylus (Rio J.), Rio de Janeiro , n. 28, p. 67–77, jun. 2014 .
TICÔNIO, Alcione. O feminino em Anais Nin, 2014 https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/235/6173/1/20632081.pdf
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roselihernandez · 4 years
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FREUD, ME TIRA DESSA! de Laura Conrado, pela Amazon Ulimeted. Foi o romance de introdução da autora no mundo literário há mais de dez anos e também lhe rendeu vários prêmios. Continua sendo um livro atual e contagiante. 📚📚 Cat, uma jovem extrovertida, não entendia o porquê de seu nome ser tão antigo. Por ser sempre deixada por seus namorados foi em busca ajuda em um psicologo. Entre as sessões e tendo que lidar com realidade no dia-a-dia... 💖💖 Ela percebe seus verdadeiros amigos, as relações de trabalho, o envolvimento familiar e a valorização como pessoa ao mesmo tempo identificando os sentimentos de todos à sua volta. 💜💜 Entre tudo isso ela também passa por uma paixão platônica por seu analista, profissional até a raiz do cabelo... 💙💙 Numa narrativa entre o riso e as lágrimas muito bem dosada trata assuntos sérios sem ser cansativo dando veracidade ao assunto. Adorei, por isso recomendo muito... E você, conhece a obra desta jovem autora? Conte-me aqui 👇👇 . . #freudmetiradessa #lauraconrado #romanceatual #leituradigital #amoler #adorolivros #ebook #books #romance #superação #vencendodificuldade #leremcasa #romanceseromances (em Mogi das Cruzes, São Paulo, Brazil) https://www.instagram.com/p/CC8TSE2jV2X/?igshid=1e4s2uk5rszo5
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leiturasdakah · 4 years
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arquivoememoria · 4 years
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“essa redistribuição se faz sempre por corte. Duas margens são traçadas: uma margem sensata, conforme, plagiária (trata-se de copiar a língua em seu estado canônico, tal como foi fixada pela escola, pelo uso correto, pela literatura, pela cultura), e uma outra margem, móvel, vazia (apta a tomar não importa quais contornos) que nunca é mais do que o lugar de seu efeito: lá onde se entrevê a morte da linguagem. Estas duas margens, o compromisso que elas encenam, são necessárias. Nem a cultura nem a sua destruição são eróticas; é a fenda entre uma e outra que se torna erótica. O prazer do texto é semelhante a esse instante insustentável, impossível, puramente romanesco, que o libertino degusta ao termo de uma maquinação ousada, mandando cortar a corda que o suspende, no momento em que goza.”
(...)
A margem subversiva pode parecer privilegiada porque é a da violência; mas não é a violência que impressiona o prazer; a destruição não lhe interessa; o que ele quer é o lugar de uma perda, é a fenda, o corte, a deflação, o fading que se apodera do sujeito no imo da fruição. A cultura retorna, portanto, como margem: sob não importa qual forma.
(...)
Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura. Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas, do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem.
(...)
Sociedade dos Amigos do Texto: os seus membros não teriam nada em comum (pois não há forçosamente acordo sobre os textos do prazer), senão seus inimigos: maçadores de toda espécie, que decretam a perempção do texto e de seu prazer, seja por conformismo cultural, seja por racionalismo intransigente (suspeitando de uma “mística” da literatura), seja por moralismo político, seja por crítica do significante, seja por pragmatismo imbecil, seja por parvoíce farsista, seja por destruição do discurso, perda do desejo verbal.
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deixa entrever a verdade escandalosa da fruição: que ela poderia muito bem ser, abolido todo o imaginário da fala, neutra.
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O prazer não é uma pequena fruição? A fruição é apenas um prazer extremo? O prazer é apenas uma fruição enfraquecida, aceita – e desviada através de um escalonamento de conciliações? A fruição não é senão um prazer brutal, imediato (sem mediação)? Da resposta (sim ou não) depende a maneira pela qual iremos contar a história de nossa modernidade. Pois se eu digo que entre o prazer e a fruição não há senão uma diferença de grau, digo também que a história está pacificada: o texto da fruição é apenas o desenvolvimento lógico, orgânico, histórico, do texto de prazer, a vanguarda não é mais do que a forma progressiva, emancipada, da cultura do passado: o hoje sai de ontem, Robbe-Grillet já está em Flaubert, Sollers em Rabelais, todo o Nicolas de Stael em dois centímetros quadrados de Cézanne. Mas se creio, ao contrário, que o prazer e a fruição são forças paralelas, que elas não podem encontrar-se e que entre elas há mais do que um combate: uma incomunicação, então me cumpre na verdade pensar que a história, nossa história, não é pacífica, nem mesmo pode ser inteligente, que o texto de fruição surge sempre aí à maneira de um escândalo (de uma claudicação), que ele é sempre o traço de um corte, de uma afirmação (e não de um florescimento) e que o sujeito dessa história (esse sujeito histórico que eu sou entre outros), longe de poder acalmar-se levando em conjunto o gosto pelas obras passadas e a defesa das obras modernas num belo movimento dialético de síntese, nunca é mais do que uma “contradição viva”: um sujeito clivado, que frui ao mesmo tempo, através do texto, da consistência de seu ego e de sua queda.
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Com o escritor de fruição (e seu leitor) começa o texto insustentável, o texto impossível. Este texto está fora-de-prazer, fora-da-crítica, a não ser que seja atingido por um outro texto de fruição: não se pode falar “sobre” um texto assim, só se pode falar “em” ele, à sua maneira, só se pode entrar num plágio desvairado, afirmar histericamente o vazio da fruição (e não mais repetir obsessivamente a letra do prazer).
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A emoção: por que seria ela antipática à fruição (eu a via erradamente toda do lado da sentimentalidade, da ilusão moral)? É uma perturbação, uma orla de desvanecimento: alguma coisa de perversos, sob os exteriores de bons sentimentos; talvez seja mesmo a mais retorcida das perdas, pois contradiz a regra geral, que quer dar à fruição uma figura fixa: forte, violenta, crua: algo de necessariamente musculado, tenso, fálico. Contra a regra geral: nunca se deixar iludir pela imagem da fruição; concordar em reconhecê-la por toda parte onde sobrevenha uma perturbação da regulação amorosa (fruição precoce, retardada, emocionada, etc.): o amor-paixão como fruição. A fruição como sabedoria (quando consegue compreender-se a si mesma fora de seus próprios preconceitos)?
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Quanto mais uma história é contada de uma maneira decente, eloqüente, sem malícia, num tom adocicado, tanto mais fácil é invertê-la, enegrecê-la, lê-la às avessas (Mme de Ségur lida por Sade). Esta inversão, sendo uma pura produção, desenvolve soberbamente o prazer do texto.
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Como é que um texto, que é linguagem, pode estar fora das linguagens? Como exteriorizar (colocar no exterior) os falares do mundo, sem se refugiar em um úl timo falar a partir do qual os outros seriam simplesmente relatados, recitados? Desde que nomeio, sou nomeado: fico preso na rivalidade dos nomes. Como e que o texto pode “se safar” da guerra das ficções, dos socioletos? – Por um trabalho progressivo de extenuação. Primeiro o texto liquida toda metalinguagem, e é nisso que ele é texto: nenhuma voz (Ciência, Causa, Instituição) encontra-se por trás daquilo que é dito. Em seguida, o texto destrói até o fim, até a contradição, sua própria categoria discursiva, sua referência sociolingüística (seu “gênero”) é “o cômico que não faz rir”, a ironia que não se sujeita, a jubilação sem alma, sem mística (Sarduy), a citação sem aspas. Por fim, o texto pode, se tiver gana, investir contra as estruturas canônicas da própria língua (Sollers): o léxico (neologismos exuberantes, palavras- gavetas, transliterações), a sintaxe (acaba a célula lógica, acaba a frase). Trata-se, por transmutação (e não mais somente por transformação), de fazer surgir um novo estado filosofal da matéria linguareira; esse estado inaudito, esse metal incandescente, fora de origem e fora de comunicação, é então coisa de linguagem e não uma linguagem, fosse esta desligada, imitada, ironizada.
(...)
Alguns querem um texto (uma arte, uma pintura) sem sombra, cortada da “ideologia dominante”; mas é querer um texto sem fecundidade, sem produtividade, um texto estéril (vejam o mito da Mulher sem Sombra). O texto tem necessidade de sua sombra: essa sombra é um pouco de ideologia, um pouco de representação, um pouco de sujeito: fantasmas, bolsos, rastos, nuvens necessárias; a subversão deve produzir seu próprio claro-escuro.
(...)
Paradoxo: esta gratuidade da escritura (que aproxima, pela fruição, a da morte) o escritor cala-a: ele se contrai, exercita os músculos, nega a deriva, recalca a fruição: são pouquíssimos os que combatem ao mesmo tempo a repressão ideológica e a repressão libidinal (aquela, naturalmente, que o intelectual faz pesar sobre si mesmo: sobre sua própria linguagem).
(...)
Nenhuma significância (nenhuma fruição) pode produzir-se, estou persuadido disso, numa cultura de massa (a distinguir, como o fogo da água, da cultura das mas sas), pois o modelo dessa cultura é pequeno-burguês. É a característica de nossa contradição (histórica) que a significância (a fruição) esteja inteiramente refugiada em uma alternativa excessiva: ou numa prática mandarinal (proveniente de uma extenuação da cultura burguesa) ou então numa idéia utópica (a de uma cultura vindoura, surgida de uma revolução radical, inaudita, imprevisível, sobre a qual aquele que hoje escreve só sabe uma coisa: é que, como Moisés, não entrará aí).
(...)
Todas as análises sócio-ideológicas concluem pelo caráter deceptivo da literatura (o que lhes tira um pouco de sua pertinência): a obra seria finalmente sempre escrita por um grupo socialmente desiludido ou impotente, fora de combate por situação histórica, econômica, política; a literatura seria a expressão dessa decepção. Estas análises esquecem (e é normal, visto que são hermenêuticas baseadas na pesquisa exclusiva do significado) o formidável anverso da escritura: a fruição: fruição que pode explodir, através dos séculos, fora de certos textos escritos entretanto para a glória da mais sombria, da mais sinistra filosofia.
(...)
a linguagem encrática (aquela que se produz e se espalha sob a proteção do poder) é estatutariamente uma linguagem de repetição; todas as instituições oficiais de linguagem são máquinas repisadoras: a escola, o esporte, a publicidade, a obra de massa, a canção, a informação, redizem sempre a mesma estrutura, o mesmo sentido, amiúde as mesmas palavras: o estereótipo é um fato político, a figura principal da ideologia. Em face disto, o Novo é a fruição (Freud: “No adulto, a novidade constitui sempre a condição da fruição”). Daí a configuração atual das forças: de um lado, um achatamento de massa (ligado à repetição da linguagem) – achatamento fora-de-fruição, mas não forçosamente fora-de prazer – e, de outro, um arrebatamento (marginal, excêntrico) rumo ao Novo – arrebatamento desvairado que poderá ir até a destruição do discurso: tentativa para fazer ressurgir historicamente a fruição recalcada sob o estereótipo.
(...)
Quando, num debate, alguém representa qualquer coisa a seu interlocutor, não faz mais do que citar o último estado da realidade, o intratável que existe nela. Do mesmo modo, talvez, o romancista ao citar, ao nomear, ao notificar a alimentação (ao tratá-la como notável), impõe ao leitor o último estado da matéria, aquilo que, nela, não pode ser ultrapassado, recuado (não é por certo o caso dos nomes que foram mencionados anteriormente: marxismo, idealismo, etc.). É isso! Este grito não deve ser entendido como o próprio limite da nomeação, da imaginação. Haveria em suma dois realismos: o primeiro decifra o “real” (o que se demonstra mas não se vê) e o segundo diz a “realidade” (o que se vê mas não se demonstra); o romance, que pode misturar estes dois realismos, junta ao inteligível do “real” a cauda fantasmática da “realidade”: espanto com o fato de que se comesse em 1791 “uma salada de laranjas com rum”, como em nossos restaurantes de hoje: isca de inteligível histórico e teimosia da coisa (a laranja, o rum) em estar aí.
(...)
Mesmo se repusermos o prazer do texto no campo de sua teoria e não no de sua sociologia (o que arrasta aqui a uma discussão particular, aparentemente desprovida de qualquer alcance nacional ou social), é efetivamente uma alienação política que está em causa: a perempção do prazer (e mais ainda da fruição) em uma sociedade trabalhada por duas morais: uma majoritária, da vulgaridade, outra, grupuscular, do rigor (político e/ou científico). Dir-se-ia que a idéia do prazer já não lisonjeia ninguém. Nossa sociedade parece ao mesmo tempo calma e violenta; de toda maneira: frígida.
(...)
A fruição do texto não é precária, é pior: precoce; não surge no devido tempo, não depende de nenhum amadurecimento. Tudo é arrebatado numa só vez. Este arrebatamento é evidente na pintura, a que se faz hoje: desde que é compreendido, o princípio da perda se torna ineficaz, é preciso passar a outra coisa. Tudo é jogado, tudo é fruído na primeira vista.
(...)
Se fosse possível imaginar uma estética do prazer textual, cumpriria incluir nela: a escritura em voz alta. Esta escritura vocal (que não é absolutamente a fala), não é praticada, mas é sem dúvida ela que Artaud recomendava e Sollers pede. Falemos dela como se existisse. Na Antiguidade, a retórica compreendia uma parte olvidada, censurada pelos comentadores clássicos: á actio, conjunto de receitas próprias para permitirem a exteriorização corporal do discurso: tratava-se de um teatro da expressão, o oradorcomediante “exprimia” sua indignação, sua compaixão, etc. A escritura em voz alta não é expressiva; deixa a expressão ao fenotexto, ao código regular da comunicação; por seu lado ela pertence ao genotexto, à significância; é transportada, não pelas inflexões dramáticas, pelas entonações maliciosas, os acentos complacentes, mas pelo grão da voz, que é um misto erótico de timbre e de linguagem, e pode portanto ser por sua vez, tal como a dicção, a matéria de uma arte: a arte de conduzir o próprio corpo (daí sua importância nos teatros extremoorientais). Com respeito aos sons da língua, a escritura em voz alta não é fonológica, mas fonética; seu objetivo não é a clareza das mensagens, o teatro das emoções; o que ela procura (numa perspectiva de fruição), são os incidentes pulsionais, a linguagem atapetada de pele, um texto onde se possa ouvir o grão da garganta, a pátina das consoantes, a voluptuosidade das vogais, toda uma estereofonia da carne profunda: a articulação do corpo, da língua, não a do sentido, da linguagem. Uma certa arte da melodia pode dar uma idéia desta escritura vocal; mas, como a melodia está morta, é talvez hoje no cinema que a encontraríamos mais facilmente. Basta com efeito que o cinema tome de muito perto o som da fala (é em suma a definição generalizada do “grão” da escritura) e faça ouvir na sua materialidade, na sua sensualidade, a respiração, o embrechamento, a polpa dos lábios, toda uma presença do focinho humano (que a voz, que a escritura sejam frescas, flexíveis, lubrificadas, finamente granulosas e vibrantes como o focinho de um animal), para que consiga deportar o significado para muito longe e jogar, por assim dizer, o corpo anônimo do ator em minha orelha: isso granula, isso acaricia, isso raspa, isso corta: isso frui.
Barthes, O prazer do texto 
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rsn-writer-blog · 6 years
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- Zeca Trinta -
Uma tarde de domingo, sempre entediante, ainda mais por ser meu aniversário, quantas primaveras? 30 primaveras, dessas 30 primaveras, quais foram profícuas? Não sei. Decido me levantar, fazer um café, imagine que ato maduro, tomar um café? Quando adolescente, nunca pensará em fazer um café, nem se quer tomá-lo, mas necessito de algo menos amargo, já me basta o amargor dos meus dias.
Ouço um som estridente, o pote de café mexe-se, penso, será um rato? Ora, nessa cidade não há como comprar mais café, tudo já fechou, porém vou desenredar o que há nesse pote. Ao abrir a tampa vejo um ser minúsculo, como um humano, com minha face, trajado de um fraque, bengala e cartola. Me dirijo ao quarto, vou até meu banheiro, lavo meu rosto, estou delirando de tédio, será que isso é possível? Caberá a mim desvendar. Chego próximo a lata, ouço uma fala:
- Hey, me tira daqui, não aguento mais ficar aqui dentro a sua espera.
- O que é, quem é você?
- Sou chamado por muitos de Zeca trinta, mas pode me chamar de sua crise dos 30 anos.
- O que?
- Isso que você ouviu, sou a crise dos 30 anos, prazer.
- Devo estar enlouquecendo!
- Não está, pelo menos até onde eu sei, só está ficando velho e aliás essa pança que só avança? Diferente de sua vida.
- Que desacato, quem pensas ser?
- Já disse, além de velho, gordo e agora surdo?
- Sou a crise dos 30, as vezes venho antes, as vezes depois, depende da sua idade mental, a sua é bem adiantada, já lhe adianto que sou quase 40. Bom, vou lhe explicar, eu apareço para quem ainda precisa pensar na vida, existem pessoas que ficam perdidas até os 30, não fizera nada ainda de importante nessa vida, verdade, o que você fizera?
- Nada fiz, apenas espero resposta de emprego, que por sinal ainda não vi nem fumaça, cansado dessa vida de dependência, cansado de inação, além de ficar nessa casa, ser faxineiro deles. Fiz faculdade, um curso que não sabia muito bem o que se faz profissionalmente, adorei o curso? Sim, digo que foi sorte, formei e até agora nada. Meus dias são esses, acordo, tomo café, limpo, assisto, faço minhas refeições e durmo. Nada de mais, veja que minha vida se tornou um grande horário político na televisão, sabemos que é mentira, porém ainda votamos nos mesmos.
- ZzzzZZZZzzzzZZZZZ.
- Acorde, que ultraje.
- Desculpe, suas palavras, queixas me fazem suplantar em estado onírico. Sua vida realmente é desinteressante, segure em minha mão, vamos fazer uma viajem, agora feche os olhos.
- Onde estamos, vejo em terceira pessoa, quem esse rapaz?
- Ele se chama Ériko, ele mora no oeste de São Paulo, uma cidade chamada Ribeirão Preto, veja ele.
- O que ele está a fazer, não consigo ver direito.
- Ele está à espera de uma pessoa, está usando um traje preto, é noite, vão até uma festa, ele espera sua amada. Você já amou alguém?
- Isso me fez lembrar de José Augusto, um rapaz, que entrelacei meus desejos, com minha breve atitude, diante da minha acomodação frequente. Ele era artista, eu, seu objeto de arte.
- Por que vocês não estão juntos?
- Por que eu sempre reclamo e as oportunidades escorrem entre meus dedos.
- É você nunca foi a pessoa mais engajada, sua vida sempre foi um poço com um espelho na borda superior. Quando você olha para cima, apenas vê a si mesmo e a escuridão. Sabe o que diferencia você de Ériko?
- Tudo.
- Tudo o que?
- Pessoas diferentes.
- Não, o que difere é: um vive, outro existe, ele não deixa de viver o que tem vontade, existe quem pensa e não faz, quem pensa e faz, quem apenas faz e quem apenas pensa. Sabe quem é você? Nenhum, você não tem a sede de viver para pensar, planejar, muito menos energia para fazer sem pensar. Apenas existe, tenta o mínimo ao seu redor, o 05 sempre está bem, para quê ver o que tem depois disso, pois, para você é importante o final e não o processo para o findar-se.
- Nossa, não sabia que o Zeca era o Freud, desculpe, não quero terapia. Eu sei o que preciso fazer para melhorar minha vida, não faço, porque, porque...
- ... porque você não quer ser melhor do que é atualmente. O comodismo nos faz preso em nossas carapaças de medos e tristezas. Aqui, tudo é feito para dar o menos errado possível, veja, estou aqui mudando sua rotina de forma mínima e já lhe causa desconforto. Exemplo disso saberá que sempre irá ter café no pote, por que sempre tem alguém que possa enchê-lo para você, fazendo que não arrume uma forma de obter café de forma independente. A vida passa por nós e não a vemos, sentimos apenas os esbarros, até podemos tropeçar, se tiver alguém que possa nos levantar, ficaremos de pé, caso contrário, ficamos no chão mesmo, por aqui não é tão ruim assim.
- Já acabou?
- Acho que sim, quer que eu vá embora?
- Sim, por favor.
- Não me oferece nem um pouco de café?
- Não.
- Tudo bem eu irei, porém, espero não voltar aqui aos 40, 50, 60 ou 70. Não se lamente, pois, depois disso tudo eu posso aparecer e não irá ser confortável.
Aos 89 anos, sentado na lareira, arrumou nesses anos um trabalho que não lhe agradava, não dava nem a possibilidade de conhecer outros lugares, viajar, era necessário para se manter, manter seus filhos, tem esse porém, todavia não queria mais meninos, arrumou uma esposa, teve 03 filhos, todos moram no mesmo terreno, que era de sua mãe, que falecerá vendo seu filho sucumbir ao comodismo. Está sentado, tomando uma xícara de café que conseguira da vizinha, ouve um barulho no pote do café, sua companhia toca, decide gritar:
- Zeca, é você? Pode entrar.
Tomando seu café sente uma dor no seu peito, olha para cima e vê a morte. Zeca, o que é isso? Não é o Zeca:
- Disse a você que não seria confortável me ver de novo.
Morreu tomando seu último café emprestado da vizinha, morreu confortável, sem crise, em paz, morreu a sua existência, pois, vida, nunca tivera.
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share-her · 7 years
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Xuxa Lopes, Luciana Fregolente e Renata Castro
Xuxa Lopes, Luciana Fregolente e Renata Castro
O Sem Censura desta quarta-feira recebe o nutrólogo Alexandre Merheb para falar sobre a dieta da proteína e sobre a proibição do uso de suplementos alimentares.
A jornalista e escritora Laura Conrado conversa com Leda Nagle sobre o livro “Freud, me tira dessa”.
A peça “Popcorn, qualquer semelhança é mera coincidência” será o assunto da atriz Xuxa Lopes.
As atrizes Luciana Fregolente e Renata…
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o-inspirador · 9 years
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Ele disse que poderíamos ser amigos. E eu queria quebrar o copo na cabeça dele.
Laura Conrado
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