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#historiasemquadrinhos
jadautin · 1 year
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Laerte, eu não preciso te entender! (Ou o porquê da nossa necessidade de compreensão).
Esse texto não é sobre tretas. É sobre Laerte, arte, e comunicação. Ou quase, se eu fizer me entender.
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Eu adoro essa tira. Foi uma das primeiras que li da Laerte, uma artista que passei mais tempo lendo suas tiras no Instagram do que gostaria de admitir.
Em uma primeira olhada, é apenas uma grande brincadeira com a linguagem, utilizando-se da expressão "Cair a ficha" em um contexto mais absurdo. Porém, pesquisando sobre essa tira em específico, se percebe uma carga política muito maior do que se aparenta. Ela foi publicada em junho de 2013, no auge dos protestos que seriam a base para o anti-petismo, e esse serviu como o berço do bolsonarismo. E não é apenas alguma voz na minha cabeça estabelecendo esta relação, já que vários autores discutiram posteriormente essa profética tira (Bibliografia ao final do texto), e a própria Laerte é uma figura politizada desde seu início de carreira na década de 80, nos dias atuais sendo abertamente contra a figura do Bolsonaro, desde a época do Impeachment da Dilma alertando de forma sutil o que ocorreria na política brasileira após as Jornadas de Junho
Com isso em mente, agora deixo uma reflexão: Meu pensamento inicial, tratando a tira meramente como um jogo de palavras e imagem, estava errado? Alguém que lesse essa tira e não entendesse a carga política por trás dela, está equivocado? Na minha visão, não, não está. Em primeiro lugar, as tiras da Laerte Coutinho não possuem uma limitação de interpretações, e elas podem significar coisas diferentes para pessoas diferentes (A própria não vê nenhuma conexão de linguagem naquilo que faz). Em segundo lugar, destaco a diferença de tempo. Eu não sabia que a tira era de junho de 2013, e nesse ponto muitas pessoas no Brasil nem mesmo se recordam do que foram as Jornadas de Junho ou tem noção do seu impacto da política nacional, e as tiras e charges publicadas em jornais possuem a característica de serem atuais em seus temas. Portanto, até mesmo para muitos leitores que receberam essa tira no dia em que foi publicada, não entenderam sua provocação. A ficha ainda não tinha caído.
Recentemente, essa artista tem sido alvo de um meme muito curioso: As pessoas começaram a bombardear seus posts de tiras no Twitter com imagens dizendo se entenderam ou não, com variações em meio a isso.
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A artista comentou sobre essa onda em uma entrevista, onde sua principal reclamação foi de que era um bombardeio, não uma conversa. Ela está correta, afinal, os memes se disseminam na cópia, e são representações extremamente simples feitas para serem entendidas por um grupo de pessoas usuárias da internet, sejam esses grupos amplos ou não. Mas a questão aqui não é reclamar sobre o meme, pois eu não estou aqui para receber acusações de "estragar o meme" ou qualquer desculpa de quem se sente muito engraçado dentro da internet. Aqui queria pensar o entendimento da arte. ou melhor, a nossa necessidade de entendimento.
A cultura ocidental se baseia em valores ainda muito clássicos e naturalistas. Toda a nossa ideia de desenho, escultura, poesia ou teatro vem de uma idealização de culturas greco-romanas, e com uma representação que busca mostrar da forma mais fidedigna possível a realidade, a exemplo dos renascentistas ou neoclássicos, que instituíram essa como a "regra" na hora de se fazer arte. Muitos podem argumentar que esses movimentos artísticos são muito antigos, e que não impactam mais o nosso imaginário, mas isso é mentira. Para qualquer um que desenhe, como é meu caso, é muito visível que nossos estudos de anatomia, perspectiva linear, pintura e etc., tirando algumas poucas exceções, ainda são essencialmente para representar a realidade de forma verossímil. Ou seja, o artista valorizado, o "gênio artístico", ainda é aquele que representa a realidade de forma quase fotográfica, em detrimento de artistas com estilos menos realistas.
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Com isso em mente, nossa cultura é constantemente perseguida por essa visão de entendimento realista da arte, e se entranha em nossas percepções da arte. Um exemplo disso é, depois de mais de um século de existência, a pintura "Abaporu" ainda é alvo de constantes críticas de cunho naturalista, afirmando que a obra é ruim por não significar nada para o locutor ou por não seguir as técnicas acadêmicas instituídas nos períodos do renascimento e do neoclassicismo.
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Dentro desse contexto, as histórias em quadrinhos são historicamente diminuídas como forma de arte por esse caráter técnico e de representação. Por muito tempo, os pesquisadores de literatura consideravam as HQs uma leitura menor em relação aos textos literários, os pesquisadores de artes visuais viam a arte sequencial-simultânea como algo menos artístico em comparação às artes moldurais, como ilustrações isoladas e pinturas, e os pesquisadores e artistas de quadrinhos eram mínimos em comparação as duas anteriormente citadas.
Laerte é uma das artistas que, dentro do contexto brasileiro, traz em suas tiras um imaginário surrealista e de cotidiano em conjunto. Em suas tiras, constantemente se retratam os momentos em que a comunicação falha, seja ela gestual, visual ou verbal. Eis um exemplo:
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Suas tiras possuem um foco no ruído, como dito em um vídeo sucinto, mas bem feito, do HQ sem roteiro. Ela retrata momentos em que nossa linguagem não consegue suportar nossa necessidade de comunicação em diversos momentos, e as transições por meio dos quadros consegue aumentar o absurdo, e esse mesmo absurdo aumenta o ruído. É apenas uma interpretação pessoal, mas perceba que essa interpretação só surge da falta de clareza explícita nas tiras. Ironicamente, a artista consegue passar o que deseja de forma direta, ao mesmo tempo que distorce o caminho para chegarmos até essa representação, coisa que seria impossível em artes que só tem como base a representação fiel da realidade. Sem a realidade, Laerte consegue ser absurdamente humana e comunicativa.
Em suma, o entendimento de uma tira ou história da Laerte não é necessário, tampouco o ponto principal de suas obras. A artista possui outros focos, e a perspectiva limitada, que muitas pessoas infelizmente ainda possuem sem perceber, faz parecer razoável tirar sarro desse surrealismo de sua obra. Laerte e sua geração de quadrinistas brasileiros nos convida a abandonar padrões pré-estabelecidos, e abraçar personagens e situações absurdas que conseguem ser sofisticados na mesma medida que se comunicam com a população de forma muito ampla, essencial de uma boa tira de jornal. Não se preocupe exclusivamente com o entendimento da arte, e se permita ver outras facetas do que aprecia. Perspectivas diversas geram entendimentos diversos, visões distintas. E talvez seja isso que Laerte realmente deseje ver com sua arte, e não uma massa homogênea de memes que buscam, de forma imparável e muitas vezes inútil, observar a arte em um maniqueísmo de compreender ou não compreender.
Isso sim, eu não entendo.
Para Laerte, com carinho,
João Adauto
Referências
Instagram da Laerte: Laerte Coutinho (@laerteminotaura) • Fotos e vídeos do Instagram
A ficha: A ficha, a grande ficha, em algum momento… ela precisa cair – ESCUTA. (wordpress.com)
O texto menos sensacionalista que achei citando todo o caso: A Laerte não entendeu o meme sobre não entender suas tirinhas (nucleo.jor.br)
Definição básica do neoclassicismo: Neoclassicismo: as ideias e valores por trás da arte – Gare Cultural
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keliv1 · 2 months
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Na edição janeiro/fevereiro do Projecto ACBD, de Portugal, o tema foi "O Duelo", com roteiro de Marco Fraga da Silva e eu e mais uma galera desenharam essa HQ divertida!
Confira os resultados aqui
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lobonerd · 1 year
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Invincible: Hq vs Animação. #invincible #omniman #markgrayson #primevideo #amazonprime #hqs #historiasemquadrinhos #quadrinhos #series #animações #nerdbr #geekbr #srsupergeek https://www.instagram.com/p/CeO9sbKOPVP/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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francysart · 1 year
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Cinco dias na CCXP 22
Se me contassem há alguns anos que em dezembro de 2022 eu estaria lançando uma HQ autoral no Artists Valley do maior evento da cultura pop do Brasil em São Paulo, eu com certeza não acreditaria. Sempre ouvi que "A CCXP é o vestibular dos artistas brasileiros." , "A CCXP é o mais importante evento geek e de quadrinistas do Brasil" e isso me fez querer ver de perto a grandiosidade da ComicCon Experience.
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Essa é a segunda vez que sou selecionada, em 2021 a vacinação contra covid-19 ainda estava iniciando e havia muitas incertezas sobre o controle da pandemia, então o evento foi virtual e pude participar do conforto da minha casa em Barcarena, naquela edição inaugurei minha loja online e fiz lives falando de Purpúreo e Niara na plataforma da CCXP.
Desta vez, com a pandemia controlada pude participar do evento em sua casa, no São Paulo expo na capital paulista e preciso dizer que estar lá presencialmente não foi nada fácil. comecei a me preparar desde que recebi o e-mail de aprovação em Junho, foram 3 meses só preparando minha HQ pra publicação, depois produzi artes originais e fanarts para produtos, materiais de visualização da mesa, divulgação e tudo isso enquanto trabalhava em tempo integral [...] por muitas vezes achei que não ia conseguir terminar a tempo, mas graças a Deus não sou uma pessoa que se abate ou desisti tão fácil assim. T.T (thank`s God!!)
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Os anos de trabalho como designer gráfico, que exerço há 10 anos, me deram certa segurança (e algumas neuras) para trabalhar com gráficas e esse foi outro desafio que tive que enfrentar, trabalhar pela primeira vez com uma gráfica online pra economizar tempo e dinheiro com meus produtos, tudo precisava chegar a tempo e com qualidade impecável e fui muito feliz nas escolhas que fiz, fruto de incansáveis pesquisas.
Outro desafio foi a logística, para chegar ao São Paulo expo, estando hospedada em Guarulhos, precisava ir de carro até a estação de metrô do Tucuruvi, ir até o final da linha e ai pegar um Uber ou o ônibus Oficial da CCXP até o evento, posso dizer que fiquei muito boa tanto em andar de metrô quanto em subir ladeiras.
Algo que não considerei ao me aventurar no meu primeiro evento fora do estado foi exatamente a minha condição física, segurei muito bem a onda durante todo o evento, mas quando retornei pra minha cidade ficou obvio o estado de exaustão em que me encontrava. Vou lembrar de me preparar melhor fisicamente da próxima vez.
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Eu realmente queria ter fotografado e gravado mais durante o evento, porém lá dentro tudo é muito grandioso, precisava andar muito até o pavilhão, nos horários de pico mal dava para sentar, muitos menos sair da mesa, tinham vários artistas e stands que queria visitar, famosos e tentadores, fazer parte de um evento como esse foi algo fantástico, tanto em experiência quanto em significado, estar com tantos artistas incríveis e bem sucedidos dentro do cenário artístico brasileiro representa muito pra mim, fiquei encantada desde o momento que entrei na quarta-feira até o momento que saí no domingo.
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instagram
Essa é uma daquelas experiências que quero reviver na memória pra sempre <3
Até mais!! ^,^
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worldbidi · 1 year
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lucascucaferreyra · 1 year
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Semana que vem começa o último curso (online e ao vivo) do ano! Inscrições e mais infos em https://lucasferreyra.com/teoriadascores Vem que vai ser massa!
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josecelestino · 2 years
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dabliocsub-77 · 2 years
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heroedan · 4 months
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EDIÇÃO 1: O COMEÇO (Post 1)
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taieditora · 1 year
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deborabiltisart · 1 year
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Monteiro (Spin-Off)
Oie, sou a Débora, escritora do codinome “BloodBee”. Estou publicando a história “Monteiro Spin-Off” no Wattpad e no Spirit Fanfic. A história se passa dentro de um universo de fantasia, alguns personagens são baseados em seres do Folclore Brasileiro.
Quem puder ler e dar suas opiniões agradeceria muito, vou deixar os links. <3
A ilustração foi feita por mim, logo passarei a história escrita para a história em quadrinhos. 
No Wattpad: https://www.wattpad.com/story/320843984-monteiro-spin-off
No Spirit Fanfic: https://www.spiritfanfiction.com/historia/monteiro-spin-off-de-herdeiro-do-ouro-24154766 
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luisousarte · 1 year
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mais um ano que se vai 
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keliv1 · 4 months
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Mais uma edição do Projecto ACBD, ação de Portugal que une pessoas de países de Língua Portuguesa que gostam de desenhar com quem gostam de escrever para fazer HQ.
A edição nov/dez 23 tem o tema "Normal", com roteiro de Filipe Duarte (Portugal) e foi massa rabiscar essa história. Os demais participantes são Bruno Maio e Jorge Rodrigues.
Confira as outras participações minhas aqui no blog!
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allegeek · 2 years
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História em quadrinhos ou HQs Disney Big. . . #culturageek #nerdbr #quadrinhosgram #historiaemquadrinhos #hq #hqbr #historiasemquadrinhos #superheroi #gibis #quadrinhos #hqs #quadrinhos #hq #comics #nerd #marvel #geek #dccomics #vingadores #dc #marvelbrasil #marvelcomics #nerdbrasil #geekbrasil #homemaranha #batman #gibis #gibi #filmes #herois #art #superherois #disney (at QG Do Alle) https://www.instagram.com/p/CfkH3B-uK_P/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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francysart · 2 years
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Niara, o real e o imaginário
Quem imaginaria que em 2020 iríamos passar por uma pandemia? Ninguém poderia, mas muita coisa triste aconteceu nos anos em que ela durou, para o setor cultural foram inúmeras perdas materiais e imateriais. Durante esse período a Lei de incentivo cultural Aldir Blanc surgiu como alternativa para gerar renda para os trabalhadores da cultura do pais inteiro e foi graças a ela que a HQ Niara pode emergir do caderno de ideias de uma museologista.
"Alguma coisa brilhante surgiu na água, embaixo dela, era um peixe que, incrivelmente mandou que ela pegasse a arma e não soltasse de forma alguma ou não escaparia das visagens"
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O processo de seleção para o financiamento iniciou ainda em 2020, lembro que sempre tive receio sobre submissão de projetos culturais em editais, na universidade de Artes visuais tive uma disciplina inteira destinada a esse fim, inclusive os rigorosos critérios de avaliação. Com o projeto Niara foi a primeira vez que me arrisquei a concorrer a um financiamento, mas graças a um perfeito trabalho de equipe, o coletivo Serendi foi contemplado.
A história da Niara começa quando a museologista, artista e fã do estúdio Ghibli (o que pode ser notado nas páginas da hq) Lívia Guimarães apresentou uma ideia para um grupo de cinco amigas. Elas, sua irmã Louise, Julia lustosa, Marina Pantoja e Francy Botelho se conheceram na cena local dos quadrinhos paraenses e sempre compartilharam a vontade de transformar o patrimônio cultural do local em que vivem em algo eterno nas páginas de quadrinhos.
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A ideia surgiu enquanto assistia uma aula de Educação patrimonial em 2018, do curso de museologia da UFPA, e nossa professora comentou sobre como as comunidades se relacionam com seus patrimônios de uma forma muito diferente do olhar institucionalizado - Lívia Guimarães
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A HQ Niara levou 07 meses para ser concluída, cada etapa da produção foi dividida entre as integrantes do coletivo, houveram imprevistos, atrasos, cobranças, mas todas as etapas de produção foram cumpridas com excelência. Além da produção da HQ, o projeto que recebeu o nome de  Niara e o imaginário amazônico, produziu vídeos com as artistas envolvidas e ofertou 2 minicursos de quadrinhos ministrados de forma online e gratuita para crianças e adultos das cidades de Belém e Barcarena. O lançamento oficial ocorreu nos dias 27 e 28 de setembro de 2021, na biblioteca pública de Barcarena e na gibiteca do Centur em Belém.
A HQ também foi exposta na 24ª Feira Pan-amazônica do livro e das multivozes e tema da exposição da Semana do Quadrinho Nacional no Centur em 2022.
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adaodelimajr · 2 years
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Alguns dos meus trabalhos em livros, HQs e outros. Se tiver interesse é só clicar nas capas para comprar. :) Link do Portfolio na bio @adaodelimajr https://delimajrdesign2.wixsite.com/adaodelimajr #livro #hq #quadrinhos #comics #fumetto #fumetti #gibi #historiasemquadrinhos #livroinfantil #ilustrado #desenho #zine #fanzine #cardgame #jogo #jogodecartas #revista #didatico #revistadidatica #marvel #dccomics https://www.instagram.com/p/CeUQBzgsTKX/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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