De Ponta-cabeça II
A tribo já não tinha mais paciência para aquele menino do movimento que, de quando em sempre, virava a tribo de “ponta-cabeça”.
Essa falta de empatia se resumia aos rígidos costumes “apresentados” aos seus desde tenra idade e que, de vez em sempre, eram ordeiros, obedientes e criados para servir à tribo.
Por alguns anos o menino ponta-cabeça foi tolerado, mas nunca aceito. Até aquele ano...
Ano em que a escassez de água foi persistente, endurecendo ainda mais as pessoas da tribo, desidratando ainda mais os pensamentos e enrijecendo tolerâncias.
Bani-lo não era uma opção, não seria parte do costume da tribo. Mas porque não presentear” todo esse movimento com uma missão inviavelmente nobre e de impossível retorno?
E assim foi feito... com o indelével deserto à frente apontaram a direção e apresentaram a missão: encontrar água e trazê-la para salvar a tribo.
Léguas...sol...areia...dias...noites. Da tribo agora, só a distância, vagas memórias e saudade. Mas seguiu o intrépido, característica primal daqueles do movimento, focando sua incomum energia no objetivo.
Quando suas últimas energias escorriam pela areia pesada do deserto, o que parecia impossível agora estava a sua frente... ÁGUA!!! Era tanta que tinha certeza que, além de saciar sua tribo, poderia também transformar todo deserto. Os grandiosos sonhos dos meninos do movimento...
Mas como iria transportar tamanha quantidade de água? Teve uma ideia simples, pois fazia aquilo por uma vida inteira, mas... já não tinha mais tamanha energia... seria sim seu último e eterno ato.
Olhou a velocidade e direção do vento e completou sua missão. Colocou o mundo todo de ponta-cabeça. A água então escorreu para o anil céu, transformando-se em nuvens e sendo levada pelo maral vento. Depois do seu eterno e derradeiro movimento em prol dos seus, dissipou-se, tornando se movimento puro, ventos e nas marés.
Algum tempo depois, as nuvens e a chuva chegaram à tribo, o deserto se transformou, a “ordem” voltou, o mundo em sua posição “normal”. Mas, esse mundo jamais seria o mesmo. Seria sem graça, com menos energia, menos sonhador. E nunca mais pôde ficar de “ponta-cabeça”.
Pena do mundo.
jan. 27, 2023
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O Bruto 2
Agora já não precisa das sombras
Anda já descortinado
Jaz a noite taciturna
Mas o noturno mantém seu hábito
O olho e a boca
Mesmo brilho e o escancaro
Já se torna perceptível
Mas no mesmo esconderijo
Piedade? Dó?
- Ô dó!
A não ser se o ser não "ser" quem parece, ou não, ser.
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O Bruto
Imperceptível ao primeiro olhar
A noite esconde o bruto
Pronto para saltar e causar o susto
Com um brilho ocular, e a boca escancarada
A fera mira a presa
A vida esbulhada pelo possesso ser
Sem piedade nem dó.
- Ô dó!
A não ser se o ser não "ser" quem parece, ou não, ser.
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Dança das Cadeiras
Eles crescem...
Em um passe de mágica!
Onde outrora era prisão, agora é trono, passarela.
As janelas se abrem e ficam maiores, apresentando o mundo para eles.
E o mundo floresce, ávido para recebê-los.
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Sono
No meio da noite, meio com sono, veio tropegando. Aninhou na metade do sofá pra cá, apertando-me ao canto. Procurou meu ombro e foi chegando, tendo eu que desalinhar meu pescoço com o resto da minha coluna. Meus braços formigavam enquanto assistia seus pesados olhos brigarem contra o sono. No final, sorri de alegria pelo momento.
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Imaginação Infantil 2
Por Clara:
- 🧚🏻♀️Pai, me ajuda...a pecinha do jogo caiu debaixo do sofá.
- 👨🏻Filha, mas e se eu gastar toda a minha força para levantar o sofá? E se me chamarem, sei lá, para salvar alguém, um avião caindo ou prender um ladrão?
🧚🏻♀️(me olha por uns segundos)
- 🧚🏻♀️Para, pai!!! É só comer e dormir...💤
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A Motoca
Ele era corajoso, intrépido, explorador e a motoca representava uma nova fase da sua vida. Durante seu dia, passava diversas vezes por ela, namorando e balbuciando palavras de carinho. O dinheiro que ganhava, invariavelmente, ia parar na motoca. Seu coração pulsava quando dela se aproximava.
Porém, aos que o cercavam, havia preocupação. Todos temiam como ele se portaria com a motoca em suas mãos. Desencorajavam-no, tentando mostrar a ele o quão perigoso poderia ser aquela "brincadeira".
Já a motoca, se perguntada, iria preferir permanecer lá, no alto. Mesmo sendo pressiona pelo passado e o futuro. Mesmo sendo incansavelmente questionada pelo tempo, que disparava por segundo: - O que você está fazendo agora?
Era melhor assim, continuar a ele inacessível. Melhor que em suas mãos, pois assim, antes da virada do ponteiro, aquela motoca frágil, poderia acabar quebrada, ao ser lançada no chão.
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Os Anões de Pés Grande
Em uma terra devastada pela previsibilidade, surgiu uma civilização, que alterou os rumos do certinho, do arrumado e do “tudo no lugar”. Eles não deixavam pedra sobre pedra, e moviam tudo de um lugar para o outro, por muitas vezes, fazendo-os desaparecer. Com rostos angelicais, conquistavam, faceiramente, quem cruzasse seus caminhos. Essa civilização tinha característica marcante, pouca estatura e enormes calcantes. Esses são os Anões de Pé Grande
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