Cap 06 - DOIS COELHOS. UMA TACADA.
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Finalmente você teve uma noite de sono descente. Chegava a ser ridículo a forma como seu corpo sucumbiu depois do tratamento que Javier lhe deu.
Entendendo o efeito Javier Peña. Ele definitivamente era alguém marcante. O corpo desenhado, musculoso, os ombros delineados, bíceps e peitoral. Mãos grandes e firmes. O cabelo. O rosto. O cheiro. O beijo. O sexo. Você teria memórias sexuais por um bom tempo, que te arrepiavam e te excitavam só com a lembrança, do tom de voz falando em seu ouvido, a sensação do pau de Javier te preenchendo como ninguém nunca havia preenchido, os sons que ele fazia enquanto afundava em você.
Jesus. Era imoral o efeito que ele causava. Você entendia as suas vítimas. As súplicas e a procura por um momento a mais com ele.
Agora você não sabia como proceder. Como deveria agir? Fingir que nada aconteceu? Deixar que seja algo que vocês lidem apenas nas quatro paredes da sala de arquivos? Era casual? Partindo do histórico de Javier Peña, era possível que ele nunca mais olhasse para você.
Infelizmente você trabalha com ele no mesmo setor, na mesma sala, e ele precisa de você. O que fazia você pensar em como ele deveria estar desesperado.
Mas em contrapartida você também lembrava das coisas que ele te disse enquanto vocês estavam tomados pelo desejo e tesão. Inclusive o fato que ele queria você desde o primeiro dia em que te viu, segundo palavras dele. Mas isso não significa que seja romanticamente, poderia ser apenas mais uma conquista. Da qual você dificultou para ele por 3 longos anos.
Você precisava ir à farmácia antes de iniciar seu dia, comprar uma pílula do dia seguinte.
Você não sabia se locomover direito em Medellin, mas sabia o básico. Mercado, farmácia, e os restaurantes que você gostava. Era o essencial.
Então você estacionou alguns metros antes da farmácia usual que você frequentava. Desceu do carro, caminhou para atravessar a rua, quando um carro preto se jogou na sua frente do nada.
Você parou. Deu alguns passos para trás, observando sem entender. Dois homens armados desceram do veículo vindo em sua direção, você começou a ter um mal pressentimento e tentou correr mas eles te alcançaram e seguraram.
"Não, não" você falava "me solta, me solta" você começou a gritar.
Os dois homens erguerem você do chão com facilidade. Você se debatia no ar.
"Cálmate" um deles falou.
Enquanto colocavam um saco sobre sua cabeça.
"Tranquilo" um outro repetia.
Você foi tomada pelo medo quando já estava sentada no banco de trás do veículo no meio desses dois homens.
Seu espanhol era péssimo, e eles falavam castelhano também, então você não entendia quase nada.
Você estava desesperada. Por que estavam levando você? Eles queriam informações? Você era apenas a assistente, não fazia sentido nenhum... As lágrimas desciam sobre seu rosto abafado em baixo do saco.
***
Era quase 9h da manhã e Javier ainda não havia te visto. O que era bizarro, já que as 6:30 da manhã você já estava martelando seus dedos nas máquinas de escrever. Os nervos do rosto dele começavam a repuxar.
Javier tem certeza, que você nunca se atrasou para nada na vida.
"O que está acontecendo?" Murphy pergunta para o colega, sentando-se em sua mesa em frente à Javier.
Ele não responde a princípio. Olhando para o seu lugar habitual.
Murphy segue o olhar de Javier, e entende.
"Talvez ela tenha ido para alguma reunião, ou tenha ido de última hora para Bogotá. Por que está preocupado com a pessoa que mais te da dor de cabeça?"
Peña olha para o companheiro, de canto se olho. E se levanta caminhando até a sua mesa.
Incrivelmente organizada. Completamente diferente da dele. Ele tateia alguns papéis em cima da mesa, abre uma das gavetas ao lado, encontra sua agenda. Folheia até a data de hoje.
"Você está maluco?" Murphy está ao lado dele agora, "Mexendo nas coisa dela, sem autorização, isso deve ser contudo confidencial. Se ela descobrir ela vai fazer da sua vida um inferno por uma semana"
Peña aperta os lábios em uma linha fina franzindo a sobrancelha. Ainda analisando as anotações da sua agenda. Ele passa uma das mãos sobre os bigodes.
Ele sabe que algo não está certo. Você estava com ele na madrugada passada. Não daria tempo de você ir até Bogotá. Nem haveria voo. Assim tão cedo. Não havia nada anotado em sua agenda que indicasse o motivo do sumisse.
Onde você estava?
Javier deixou sua agenda na gaveta, e alcançou seu telefone, ligando para a Embaixada.
"Agente Peña, preciso de uma informação"
"O que você está fazendo?" Murphy sussurrou em estado de choque.
Peña o ignorou.
"Preciso saber se a assistente do Embaixador tem alguma atividade programada para hoje na embaixada"
Murphy jogou as mãos no rosto. Balançando a cabeça.
"Certo. Obrigado." Ele colocou o telefone no gancho.
Os olhos agora apavorados.
"Alguma coisa aconteceu" Javier murmurou, mas para si do que para o parceiro, desceu correndo até a mesa dele, e pegou a jaqueta.
Murphy alcança o parceiro no meio do caminho, segurando seu braço.
"Onde você está indo? Ficou maluco, a garota deve estar em algum lugar"
Peña olha firmemente para onde as mãos de Murphy encontraram seu braço e puxa para si.
"Volto logo" Peña saiu.
Ele foi até seu dormitório, e você não estava lá. Ele ficou confuso, não sabia se você não tinha voltado desde a madrugada de ontem, ou se você era extremamente organizada. Porque sua cama estava feita, e os objetos da sua mesa de cabeceira estava impecavelmente distribuídos em distâncias iguais.
Javier escolheu a segunda opção. Você era extremamente metódica.
Ele foi até o estacionamento, seu carro não estava lá.
Javier caminhou até a guarita, e perguntou pra o guarda.
"Você viu um Chevrolet 78 saindo da base?"
"Sim, ela saiu as 7h e não voltou desde então"
Peña colocou as mãos na cintura. Caralho. Onde você tinha ido? Por que não tinha voltado ainda?
"Ela disse para onde estava indo?"
"Não, senhor."
Porra!
Javier sabia. Ele sentia que você não estava segura. Só de imaginar as coisas que os sicários ou cartéis são capazes de fazer, as mãos dele fechavam em um punho tão forte que ele sentia o gosto da carne.
Ele foi direto a sala do Coronel Garrillo. Explicou a situação.
"Se você verificou a agenda dela, pode ser que ela tenha tirado a manhã de folga" Carrillo sugeriu.
Peña balançou a cabeça.
"Não, ela nunca tira folga"
Carrillo ri, balançando a cabeça.
Javier se enrijece.
"Peña, Peña, Peña... você nunca muda"
Javier descruza a perna, e se inclina na direção do Coronel, não deixaria que a fama dele, resvalasse em você por conta dele. Não deixaria que duvidassem da sua índole e do seu caráter.
"Ela é uma boa mulher. Vive para esse trabalho desde que chegou aqui. Ela não sairia sem voltar a tempo de trabalhar. Eu a conheço. Estou com um mal pressentimento."
Carrillo levanta as sobrancelhas.
"Vamos esperar até depois do almoço, se ela não voltar, mandamos buscas pela cidade, combinado?"
Javier bate os dedos sobre a mesa no mesmo momento que assente para o coronel, levantando-se e saindo da sala.
Javier passa os dedos sob o maxilar. Enquanto está sentado fumando um cigarro em sua mesa.
Esperar.
Era o que ele precisava fazer. Mas toda vez que ele olhava para a sua mesa sem você, o estômago dele dava um nó. Esperar era perder tempo.
O telefone tocou, e ele nem esperou terminar a primeira chamada.
"Peña" ele se apresentou.
"Agente Peña, aqui é Don Berna"
A respiração de Peña parou. Don Berna era um comparsa de Judy Moncado, uma das pequenas gangues que faziam parte do Cartel de Medellin.
"Tenho uma proposta que pode te interessar"
"Que surpresa"
Peña não deixaria a oportunidade de ser petulante.
Don Berna passou um endereço de uma lanchonete para que eles se encontrassem.
Peña não se atrasou.
A lanchonete era simples, havia poucas pessoas dentro. A música de fundo tocando, típica Colombiana.
Javier avistou Don Berna, ele nunca havia o visto pessoalmente, apenas por fotos, mas não era difícil de identificar.
"¿Que passa Peña? Esperando mais alguém?"
"¿No y tu?" Javier estava em pé ao lado da mesa, com as mãos na cintura.
"Não. Não é necessário, tenho amigos em todos os lugares" Don Berna mexia o açúcar em sua xícara de café.
Javier tentava não esboçar a ironia em seu rosto. Essa era uma conversa furada apenas para indicar intrinsicamente que ele poderia não estar com alguém ali, mas que se algo acontecesse com ele ali, saberiam que havia sido Javier e isso teria consequências.
"Pero, siéntate, sente-se para que você prove o melhor café de Medellin." Don Berna sobe um tom a voz "Ana Luz, prepare um café para o meu amigo."
Javier se senta.
"Você tem algo além de café pra me oferecer?" Os braços cruzados em frente ao corpo.
"Veja Agente, não sou um informante qualquer, e não estou atrás de nenhuma recompensa. Não."
"Então por que estamos aqui?" Javier da de ombros.
Don Berna se inclina sobre a mesa.
"Agente, você e eu somos como a serpente e o gato. Se a serpente tiver oportunidade matara o gato. Se o gato tiver oportunidade marata a serpente. Mas as vezes os dois veem um rato bem grande." Ele cantarolou a última palavra. "E as vezes os dois querem comer"
Javier estava perdendo a postura. Ele começou a entender onde Don Berna estava querendo chegar. Ele sabia que essa metáfora era sobre você. Ele entendeu que você estava com Don Berna, com os capangas dele.
"Onde ela está?"
"Tranquilo"
Javier descruzou as pernas e se inclinou sobre a mesa se aproximando de Don Berna.
"Onde. Ela. Está?" Javier disse entredentes.
Don Berna riu. E se encostou na cadeira.
"Ela está bem, não se preocupe"
Javier queria socar o rosto desse narco filho de uma mãe, até que ele falasse onde você estava mas ele precisava se controlar porque sua vida poderia estar em risco.
"O que você quer?" Javier perguntou.
"Preciso de sua ajuda, e a sua ajuda será beneficente para mim e para você também" ele fez uma pausa torturando o Agente "Se você me ajudar, eu devolvo sua garota, e você ainda conseguirá fazer uma grande apreensão."
"O que você precisa?"
"Preciso que você invada um laboratório. Te passo a localização, e você só precisa invadi-lo."
Peña franziu a testa. Ele jamais iria questionar se isso te trouxesse de volta para ele sã e salvo. Mas ele precisava explicar para os demais.
"Como isso irá te ajudar?"
"O laboratório era meu, mas Pablo tomou, e se vocês apreenderem, ele saíra no prejuízo."
Era tudo que ele precisava. Ele nem pensou muito. Apenas fez tudo que pode o mais rápido possível.
Peña voltou para a base na Academia o mais rápido que pode. E começou a sugerir a operação.
"É aqui." Ele apontou para a imagem retirada do satélite "vamos fazer um inventário depois, para sabermos o que foi apreendido"
"Como você sabe disso?" Murphy perguntou.
"Através de um informante" o tom de voz rouco.
"Vamos lá" Carrillo incentivou.
E vocês partiram. Para ele seria fácil entrar e te resgatar. Era isso que ele tinha mente. E quando te resgatasse, explicaria depois se fosse o caso a ligação entre a apreensão e você estar justamente nesse cativeiro.
De qualquer forma, os homens estavam posicionados, e vocês estavam prestes a invadir a casa.
Foi fácil render a equipe que trabalhava lá. O único problema era que você não estava lá.
Porra. Porra!
Javier entrou em todos os quartos da casa, no sótão, no porão, procurou do lado de fora, em todos os lugares, e você não estava lá.
Ele queria sair correndo de lá, e ficar plantado naquele café até que encontrasse com Don Berna, e fizesse ele dizer onde você estava.
Mas ele precisava ficar ali, e finalizar a operação. Javier passava as mãos pelo cabelo, suspirando com os olhos fechados.
"Seu informante é uma mina de ouro" Murphy falou, enquanto tragava o cigarro.
"Sim, ele é bom" Peña sorriu, observando as apreensões.
"Você não parece feliz" Murphy falou.
"Eu estou. Eu estou" Javier deu dois tapinhas nas costas do companheiro, e saiu.
***
Murphy e Peña voltaram a base, num clima nada agradável.
Murphy havia saído dar um "passeio" com o Coronel Carrillo, e um dos sicários de Pablo Escobar, e provavelmente nós já sabíamos onde isso tinha dado.
Javier tentava se distrair do fato que você não estava sob os olhos dele, mas sendo refém de narcotraficantes em Deus sabe onde. Rezando silenciosamente para que você estivesse segura. Pois ele mataria qualquer um que tivesse encostado em você.
***
Passou aquele dia. Você não voltou. Javier pensou que eventualmente depois de Don Berna saber que o ataque ao laboratório tinha sido bem sucedido ele te libertaria. Mas isso não aconteceu.
Então Javier juntou o útil ao agradável.
Carrillo montou uma operação de resgate para você. Javier contou sobre a possibilidade de você estar com algum cartel.
Carrillo aumentou os ataques em todas as bases de Pablo, matando cada sicário que aparecesse na frente. Mas passaram-se dias e não encontravam você.
Javier não dormia. Escutava todas as ligações das escutas. Atendia todos os telefonemas. Ele não parou de trabalhar e procurar por qualquer pista que levasse até você.
Ele não conseguia imaginar como você estava. Houve toda uma mobilização até mesmo em Bogotá para que as buscas ficassem mais intensas. Mas não havia um sinal de você.
"Vamos encontrá-la" Murphy falava quando percebia que Javier estava perdido em pensamentos.
Javier apenas assentia.
Não era justo com você. Você não merecia. Por que não sequestravam ele? Ou qualquer outra pessoa. Mas você? O coração dele apertava com a ideia de onde você poderia estar. Se estava se alimentando. Se com sua língua afiada iriam te respeitar e não bater em você. Se iriam aguentar não te matar.
Ele fechava os olhos balançando a cabeça.
Carrillo estava empenhado em te encontrar. Mas também estava empenhado em aproveitar a oportunidade para desfalcar Pablo Escobar.
Messina foi chamada a Bogotá, pra uma conversa com Crosby.
"Os agentes tem algo a ver com isso?" Crosby perguntou.
"Não que eu saiba" Messina era impassível.
"Se Peña e Murphy estiverem certos, eles são os únicos em quem o babaca confia" Crosby falava sobre o coronel.
"Acho difícil o coronel Carrillo se esquecer dela. Ela é agradável e competente em todos os âmbitos, e tem ajudado muito as operações, tem tido um papel fundamental"
"É exatamente o que ele quer, manter todos sob as asas dele, com a garantia de que são amigos e parceiros, assim ninguém questionara os meios que ele tem usado, mas advinha? As pessoas já estão começando a questionar como um departamento não consegue encontrar uma garota do governo dos Estados Unidos que está sumida há 7 dias"
Messina ficou em silêncio.
"Se Carrillo quer andar pelas ruas matando cada sicário que ele encontrar, Deus o abençoe. Mas nossa agente precisa estar de volta a base, e não quero que os ataques sejam vinculados aos nossos agentes. Eles não podem estar mais juntos nas operações"
***
Edward o responsável pelo Central Spike, convocou Javier, Murphy e Carrillo para passar novas informações.
"Estava tudo parado por esses dias. Mas houve um telefonema três vezes na mesma noite, todos na mesma vizinhança" ele terminou de explicar.
"Eles não se controlam" Murphy sorriu.
Javier estava desligado. Ele não conseguia mais lidar com essa situação. Ele precisava encontrar você. Nada mais passava pela cabeça dele. Se Pablo e você aparecessem na frente dele hoje, ele escolheria você um milhão de vezes.
Com o seu sequestro, vocês ficaram proibidos de sair da base. Mas Javier recebeu um telefonema de Gabriela, uma mulher que ele se encontrava antes de vocês terem transado aquele dia na sala de arquivos.
Gabriela chamou para que ele fosse até a casa dela, que estava com saudades.
"No puedo bebita, estoy trabajando"
Mas ela insistiu. E Javier cedeu.
"Messina também chamou a sua atenção por sair da base?" Murphy questionou.
"Sim"
Javier pegava sua jaqueta e um envelope na mesa, com pressa.
"Onde você vai?"
"Sair. Da base"
Murphy revirou os olhos balançando a cabeça.
Ainda bem que Javier cedeu. Gabriela teve contato com uma garota que passaria informações sobre onde Pablo estaria, e em que horário.
As informações batiam, as escutas de Central Spike apontavam uma conversa de Pablo pelo telefone.
Javier só pensava em como tudo era difícil sem você ali, e como seu trabalho era diferenciado. Coisas que eles levavam horas, você levaria minutos. E como ele gostaria que você estivesse ali, para participar desse momento. Nunca antes houve uma pista tão quente, que levasse a Escobar.
Em conjunto com isso, o ramal de Peña tocou.
Era Don Berna, com a promessa de que ele daria o endereço se onde você estava.
As coisas aconteceram muito rápidas.
Javier correu até Edward passando o endereço mencionado por Don Berna, para que ele mandasse o avião sobrevoar e verificar alguma pista.
Algumas horas depois, em meio as organizações e escutas para a operação de Pablo, Edward chamou Peña para escutar a gravação.
"Ela está bem, viva, só.. essa filha da puta não está comendo a alguns dias, mas está bem"
"É ela" O peito de Javier apertou.
Javier bateu nas costas de Edward e saiu correndo em direção a sala do coronel Carrillo. Vocês convocaram uma reunião.
Na sala estavam Javier, Carrillo, Messina, Murphy e Trujillo.
Javier repassou as duas gravações de Escobar e a ligação que indicava seu cativeiro.
"Os pontos são próximos podemos matar dois coelhos em uma tacada só" Javier estava ansioso.
"Temos que sair agora" Carrillo falou.
"Sim" Javier já foi seguindo para a porta.
"Vocês dois vão ficar aqui" Messina falou calmamente, para Javier e Murphy.
"Você está de brincadeira comigo?" Javier exclamou.
"Se Crosby descobrir, podemos ser mandados para casa" ela explicou.
"Crosby não precisa saber de merda nenhuma" Murphy falava indignado.
Messina se levantou pra falar.
"Isso é uma ordem"
Javier e Murphy ficaram chocados e paralisados.
Carrillo olhou para eles.
"Ficaremos em contato pelo rádio. Vou trazer ela pra casa." ele falou para Javier.
E saiu.
"Jesus!" Javier exclamou como um suspiro. Andando de um lado para o outro, passando as mãos pelo cabelo.
***
O que confortava Javier era que quem estaria la era Carrillo. Somente isso.
"Sairemos em 20 minutos"
Javier escutava Carrillo pelo rádio. Sentado com o corpo sobre a mesa, tão focado no rádio que não percebia Murphy andando de um lado para o outro atrás dele. Edward sintonizando as escutas, ou a presença de Messina na frente dele.
O comboio partiu em direção ao primeiro alvo. Você.
As viaturas faziam um caminho de minhoca por entre as ruas de Medellin.
"Estamos nos aproximando do alvo"
Javier escutou. Fechando os olhos, com o aparelho grudado no rosto.
Que ela esteja viva. Por favor.
Javier não se perdoaria se não conseguisse te salvar.
Carrillo estacionou, e posicionou os homens com vista pra sniper sobre outras casas e telhados próximos. E também alguns homens que o acompanharia pelas suas.
"Estamos na frente do endereço"
Carrillo não precisaria dar essa informação. Mas ele pensou em Peña.
Eles arrombaram a porta, e o tiroteio começou.
Você estava em um quarto no andar de cima, com os olhos vendados as mãos e pés amarrados. Fraca demais para conseguir se levantar, e sentar-se.
Você ouvia vozes, tiros e pés correndo. Algo no seu interior dizia que este era o seu fim. Existiam muitas possibilidades. Outro cartel invadir a boca. Os sicários brigarem entre si. Alguém vir te buscar, mas depois de sete dias, você não pensava mais nisso.
-
Os três primeiros dias foram aceitáveis. Ninguém te bateu. Traziam comidas aceitáveis, e te retiravam para ir ao banheiro. Mas no quarto dia alguns homens tentaram se aproveitar de você, bebados e drogados. Nessa altura você estava solta sem apresentar nenhum tipo de ameaça, apenas com os olhos vendados.
Mas quando os homens se aproximaram de você com intenções sujas, você lutou. Como se sua vida dependesse disso. Com unhas e dentes. Literalmente. Você arrancou um pedaço da orelha de um homem. E arranhou tão fundo o rosto se outro que você tinha certeza que ele jamais conseguiria olhar no espelho sem lembrar o motivo da cicatriz.
"No" um deles segurou o braço do que apontava a arma para você "No podemos matarla"
Mas isso te trouxe consequências. Eles não podiam te matar, mas podiam te punir de outras formas. Bem você. Tapas. Socos. Chutes. Te amarraram. E não te soltavam para ir ao banheiro ou comer. Você estava sem banho, fedida, e fazendo xixi por dias em si mesma. O prato de comida sempre vinha com uma surpresa, cuspe, ou insetos.
E nessa altura, você já preferiria morrer do que continuar nessa situação desumana.
-
Quando a porta do quarto que você estava foi arrombada. Você escutou passos se aproximando de você, lentos.
Coronel Carrillo viu a situação que você estava. Uma garota como você nunca deveria ter sido submetida a isso.
"Jesus" ele exclamou.
O rádio ligado, o tempo todo. Peña do outro lado, respirava com dificuldade. O peito apertando.
"Não toque em mim" você falou, se movendo lentamente para ficar em um canto do quarto. Mas por algum motivo, a pessoa não respeitou.
Javier ouvindo sua voz no rádio, conseguiu relaxar, ele soltou o ar pela boca, e apoiou a cabeça com as mãos, ainda segurando o rádio próximo da testa.
Então você gritou.
"Sai. Não toque em mim"
"Shhhh"
"Me solta seu desgraçado" você se debatia como um peixe fora d'água usando suas últimas energias e força. "Por favor"
"Sou eu, Carrillo, está tudo bem, vim te tirar de daqui"
Ele tirou sua venda, seus olhos demorando para se adaptar.
"Você está bem? Está ferida? Consegue andar?"
Você não tinha reação. Estava com medo de ser uma alucinação.
Carrillo passou os braços por baixo das suas costas.
"Ela está aqui" ele gritou.
Trujillo entrou no cômodo. Franzindo a testa. Perturbado com sua situação.
"Como ela está?"
Você ouviu a voz de Peña pelo rádio, de Trujillo.
"Viva"
Ele respondeu.
A resposta de Trujillo não tranquilizou Javier. Ele sabia. Ele já viu muitos cativeiros. E ele teve medo da sua situação.
Carrillo percebeu que você não conseguiria se mover, e pegou você no colo.
Você murmurou. Com dores corporais.
"Está tudo bem, eu tenho você, é rápido" Passando a outra mão atrás dos seus joelhos.
Javi ouvia seus murmúrios. Ainda de olhos fechados imaginando toda a cena como se estivesse la com você.
Era a situação mais tensa e agonizante que Messina e Murphy tinham registrado. Nunca tinham visto o Agente Peña dessa forma. Murphy começava a dimensionar a seriedade do caso do amigo. E pensou se fosse Connie no lugar. O estômago dele revirou.
Murphy caminhou até Javier e apertou o ombro do parceiro num gesto tranquilizador.
"De um uniforme para ela vestir" Carrilho falou.
"Sim senhor" Trujillo, ajeitou uma camisa em você.
Suas roupas rasgadas e sujas demais.
Você não lembra se conseguiu dormir nesse lugar. E provavelmente não. Quando Carrillo colocou você sentada, no banco do carro, passando o cinto por você, seu corpo parecia ter sido tirado de baixo de um caminhão que pesava sobre você.
"Você está segura agora, vamos te levar para casa, me ouviu?"
Você assentiu.
Finalmente conseguindo respirar.
"Vamos buscar outra pessoa agora, descanse"
Carrillo passou a mão pelo seu cabelo. Fechou a porta. E entrou no banco da frente ao lado do motorista.
"Alvo 1 recuperado"
Peña abriu os olhos. Jogando a cabeça para trás.
Messina franzia a testa para ele.
"Desculpe" ela murmurou, sabendo agora como ele deveria e queria estar lá.
"Vamos por San Juan"
Voce estucou a voz de Trujillo no rádio.
"Entendido. Tomem cuidado rapazes"
Agora era Murphy quem falava.
"Como está a situação?”
"Tudo está tranquilo. Murphy, esta noite você paga a bebida"
Era a voz de Tujillo.
Você ouve Carrillo rindo no banco da frente. Cansada demais pra estar com olhos abertos.
"Não esqueça os charutos dos sicários pra mim e pra Peña"
Murphy parecia contente.
"Claro, bonito"
Trujillo foi interrompido com o barulho ensurdecedor de uma bomba, que explodiu no carro em frente ao dele.
Você se agarrou ao banco, vendo o veículo ir para os ares, e o amarelo claro do fogo explodindo em combustão com ar.
"Está pegando fogo!"
Javier e Murphy escutaram pelo rádio.
Carillo olhou para trás para você, que estava com os olhos estralados.
Um caminhão se posicionou na entrada da rua impedindo a passagem de vocês.
"De ré" ele gritou.
Mas outro caminhão parou atrás de vocês. Vocês estavam cercados.
"É uma emboscada"
Trujillo gritou no rádio.
E os tiros começaram.
"Carrillo responda. Carrillo! Trujillo! Estão ouvindo?"
Você ouvia a voz de Javier no rádio.
O barulho das automáticas te deixaria mais surda do que a bomba. Era o maior tiroteiro que você presenciou.
Javier e Murphy ouviam o tiroteio.
"Droga! Falem comigo!"
Murphy se virou para Messina
"Precisamos de reforços"
Javier estava debruçado sobre o rádio os olhos fechados.
"Carrillo?"
Ele chamava.
Os tiros acertando os vidros ao seu lado, quebrando-os sobre você. O sangue do motorista espirrou em você, após o tiro acertar em cheio na cabeça.
Você levou as mãos aos ouvidos, e se abaixou no banco de trás.
Houve mais uma explosão, do motor do carro atrás de vocês.
Você escutou Carrillo abrir a porta do veículo. Você se arrastou no banco de trás, para alcançar a pistola no coldre do agente que foi morto no banco do motorista.
Segurou a pistola, com as mãos trêmulas, abaixada, tão encolhida que você diminuiria duas vezes o seu tamanho.
Você escutava os disparos, e queria gritar pois sabia que Carrillo do lado de fora do carro, só tinha um fim, ele seria morto.
Houve um último disparo, e então você ouviu o som do corpo caindo no chão.
Peña estava com as duas mãos apertando os olhos.
"Porra!"
Ele saiu da sala de rádio. Caminhando sem rumo pela base. Você tinha morrido. Era o que ele pensava. Morrido.
Os olhos dele embaçaram. Ele estava desesperado. Se eles tivessem ido poderiam ter resgatado você e voltado para a base enquanto Carrillo ia atrás de Pablo.
Mas em contrapartida, Javier começou a se sentir culpado, pela emboscada que ele colocou todos vocês. Foi um contato dele. Foi uma informação dele. E agora você estava morta. Carrillo estava morto.
Era culpa dele.
Você escutou um caminhão se mover. Mas não tinha coragem de se levantar. Não conseguia se mover. Seu corpo tremia inteiro ao mesmo tempo que estava travado. Você não sabia o que fazer.
O barulho de passos sobre os vidros trincados, se aproximando do carro onde você estava. Você estava hiper consciente ouvindo tudo ao seu redor. O fogo estralando. O barulho do metal rangendo. E agora os passos. Sua cabeça se movia rápido, enquanto você procurava a direção da origem do som.
A silhueta de três homens invadiram as sombras que o fogo fazia queimando na sua frente, você conseguia saber que eles estavam atrás de você, na porta onde você estava encostada. Você fechou os olhos.
"Mire me" você escutou.
E automaticamente abriu os olhos, obedecendo através da adrenalina e medo que corriam nas suas veias. Mas não viu nada. Não era com você.
"Que me mire!" a voz era familiar.
"Le pediste a un niño que me diera esto"
Seu coração parou. Seria possível?
Você tentou se mover o mínimo possível, para olhar pelo vidro da janela da porta, acima de você.
Você sabia quem era. Era ele. Era Pablo Escobar. Ali na sua frente. Você parou de respirar.
Seus olhos estralaram quando você entendeu o que ia acontecer.
Pablo engatilhou a arma. E mirou na cabeça de Carrillo.
Você colocou uma mão na boca, para que continuasse fazendo o maior silêncio absoluto, possível.
"Te estoy devolviendo" Pablo falou. E atirou.
O som te fez saltar em susto no carro. Você fechou os olhos.
"Y esto es para mi primo Gustavo."
E você escutou mais 9 disparos em sequência.
Houve um silêncio.
Barulho de sirenes ao fundo.
Você ficou abaixada, encolhida, com a mão na boca, os olhos fechados, segurando a pistola inútil.
Você não sabe quanto tempo você ficou ali. Ouvia aos poucos mais próximo e mais próximo, o barulho de carros se aproximando. Sirenes. Pessoas falando e correndo. Mas não conseguia se mover.
Peña corria de carro em carro, até chegar no último, vendo Carrillo morto estirado no chão. Ele caminhou mais de vagar. Digerindo a imagem. Sabia que você estava próximo, você estava no carro com Carrillo. E então ele viu sua cabeça, atrás do banco do motorista.
Ele deu a volta rápido, e hesitou para abrir a porta. Suas costas caíram para trás. Ele te segurou.
"Ei ei ei" seu corpo nos braços de Javier, ele sentia o seu soluço, e todo o seu corpo tremer, "Sou eu, estou aqui, olhe para mim"
Você afundou sua cabeça no peito dele, o cheiro da colônia familiar. Só os seus braços se soltaram o suficiente do seu corpo, para afundar seus dedos na carne dos ombros dele.
"Preciso te ver cariño, olhe para mim" ele se ajoelhou no chão. "AJUDA!" Ele gritou.
Murphy avistou vocês dois, e saiu correndo chamar um socorrista.
Você chorava. E você nem tinha percebido que estava chorando. Era impossível controlar, você não conseguia parar. Não conseguia abrir os olhos. Queria se esconder pra sempre. Seus joelhos grudados em seu peito.
As mãos de Javier passavam pelo lado da sua bochecha.
"Meu bem, por favor, preciso que você abra os olhos" ele murmurou com os lábios encostados na sua cabeça.
Javier tentou te afastar para verificar seu corpo, mas você continuava na mesma posição que estava dentro do carro. Afundando ainda mais as mãos no ombro dele. Ele colocou você no colo dele enquanto estava sentado no chão, e te balançava lentamente.
Então ele alcançou a arma que estava nas duas mãos, que você segurava firmemente na mão.
"De para mim cariño, eu cuido disso agora" você soltou automaticamente.
"Você está ferida? Está machucada?" Ele apalpava suas costas, olhando as mãos procurando sangue. Encontrou quando apertou seu braço e você choramingou se encolhendo mais, as mãos dele manchada de sangue.
Ele levantou a manga com cuidado e viu que era apenas um ferimento de bala de raspão.
O socorrista se aproximou de vocês, com a maca.
Javier balançou a cabeça.
"Ela não vai deitar aí" Javier falou.
"Preciso que ela deite pra que eu examine e verifique os traumas" o homem falava.
"Tem alguma socorrista mulher?" Javier olhava por entre os carros enquanto ainda segurava o bolinho que você formava no colo dele.
O socorrista assentiu. Gritando o nome de uma mulher.
"Meu bem, vou levar você para cuidarem de você ok?" Ele falava calmamente, o tom de voz rouco e baixo. Javier foi se levantando, e você apertava mais ainda o ombro dele.
Ficariam as marcas das suas unhas cravadas na carne dele, mas ele não se importava, o que importava era que você estava viva. Ele caminhou com você até a ambulância móvel.
Sentou-se com você no colo dele.
Peña estudava você.
Você estava mais magra. Os olhos fundos. As bochechas menores. Seu olho direito estava roxo. Seus lábios estavam partidos em um corte no canto esquerdo.
Agrediram você.
Haviam marcas sobre seus pulsos, provavelmente de onde você estava amarrada. Suas roupas estavam rasgadas, e seus braços arranhados. Sinais de que você tentou se defender.
Tentaram abusar de você.
Ele segurou seu pulso, puxando suas mãos que se fecharam em volta dos dedos dele. Javier analisou, suas unhas estavam ensanguentadas.
Sinais de que alguém se feriu feio. Bom. Ele deu um beijo leve nos seus dedos.
Javier passava os dedos sobre seu cabelo.
A socorrista se aproximou.
"Preciso que você abra os olhos para mim"
Você ouviu. Mas você passou tanto tempo vendada, e agora você estava com tanto medo, que parecia certo continuar com os olhos fechados.
Peña fez um carinho passando os dedos sobre suas sobrancelhas. Você não parava de tremer.
Ele falou no seu tom favorito, os lábios roçando o topo da sua cabeça.
"Olhe para mim, cariño, por favor, vamos cuidar de você"
Você se esforçou. Única e exclusivamente porque queria muito ver Javier. Olhar para ele. Para os olhos mais bonitos que você já viu. Aos poucos você foi abrindo os olhos, tentando se adaptar a luz.
"Isso" ele continuava passando os dedos pelas suas sobrancelhas como se estivesse tentando te acalmar "é isso, você está indo bem"
A claridade te incomodava, mas você viu o rosto dele. Você engoliu em seco.
Javier assentiu para a socorrista.
Você estava com o rosto colado no peito dele, o encaixe perfeito da sua cabeça e o contorno do pescoço dele, como se pertencesse aquele lugar.
A socorrista passou a luz sobre seus olhos, para verificar traumatismo. Mas está tudo certo.
Ela ergueu a blusa do seu braço.
E você não desviou um minuto o olhar do rosto de Javier. Ele também te olhava, mas as vezes observava e falava com a socorrista.
Ela pressionou o produto para esterilizar o local onde a bala passou de raspão por você. Você se encolheu. Puxando o ar pela boca, franzindo o rosto em dor.
"Está tudo bem, vai passar, é rápido, prometo" Javier estava atento a você, tentando sempre te reconfortar.
Depois de um bom tempo. Você sentia seus músculos se destravando. E uma dor descomunal, em seu corpo, sua respiração saia estremecida. Aos poucos, você foi se sentando, Javier finalmente tirou você do colo dele, e te deitou na maca, onde a socorrista fez uma nova avaliação em você.
Javier estava abaixado na altura de sua cabeça, na maca, com as mãos na sua cabeça. A socorrista colocava um acesso em você, para soro. Você precisava se hidratar.
"Eles tocaram em você?" Javier perguntava com os olhos mais tristes que você já havia visto ele carregar.
Você balançou a cabeça em negativa.
Ele passava a mão pelo seu cabelo. Olhando para a socorrista, enquanto finalizava os primeiros socorros em você.
"Ela está bem? Como ela esta?" Ele perguntou para a moça.
"Está em choque, algumas lesões, mas nada grave"
Javier procurava seus olhos, que estavam vidrados perdidos no nada, com algumas lágrimas persistentes ainda escorrendo pelo seu rosto.
"Você está bem, está tudo bem, estou aqui com você, vai ficar tudo bem..." ele falava enquanto te olhava, e procurava sua alma, que estava fora do corpo.
Você conseguia ouvir Javier, conseguia sentir o peso de sua mão quente e grande nos seus braços, o carinho que ele fazia em seus cabelos, conseguia sentir o cheiro de sua colônia, e o barulho do ranger do couro de sua jaqueta com seus movimentos, mas eu não conseguia sentir nada dentro de si, era um vazio oco, e cheio de medo.
Os barulhos dos milhares de tiros disparados pelas semi automáticas, ainda ecoando na sua cabeça fazendo um grande zunido no seu ouvido. A sensação do quente do sangue do motorista espirrando em você. O som da bala perfurando a cabeça dele. Flashbacks que passavam pela sua cabeça.
Em algum momento sua boca se moveu. E Javier se mexeu para se aproximar mais de você.
"Eu ouvi eles..." sua voz saiu como um murmúrio, enquanto o socorrista mexia no seu braço.
Seus olhos ainda vidrados no nada.
"Ouviu quem?" Javier se sentou agora, ficando sobre você, dançando os olhos entre seus olhos, curioso, preocupado "quem você ouviu cariño?"
Ele se ajeitou se inclinando ficando mais próximo de você, talvez tentando ouvi-la melhor, já que sua voz não passava de um murmúrio.
"Eu ouvi Pablo se aproximando de Carrilho..." seus olhos marejaram você sentiu seu nariz arder, seu peito doendo puxando uma respiração errática, sua voz vacilou, "eu ouvi ele engatilhar a arma, e dizer que aquilo era por Gustavo" seus olhos finalmente encontraram os de Javier, suas lágrimas escorreram por seu rosto. "Foi ele"
Javier ficou em silêncio por um tempo, engoliu em seco. E finalmente segurou seu rosto. Seu lábio roxo, rachado com a ferida.
"Shhhh" ele passou o polegar limpando as lágrimas que escorriam "Está tudo bem"
"Eu não fiz nada..." suas palavras saiam com o ar da sua boca, "Eu podia tê-lo salvo, eu podia ter atirado em Pablo e acabado com aquilo ali" você balançava a cabeça freneticamente, enquanto as lágrimas escorriam.
"Não, querida, está tudo bem..." Javier acariciava seus cabelos, e puxou seu rosto para que suas testas estivessem unidas.
"Eu não fiz nada, eu não fiz porra nenhuma..." você estava chorando, sem conseguir se controlar, puxando o fôlego desesperadamente.
"Hey! Você está a salvo, querida. É tudo que importa, está tudo bem, respire para mim ok?" Javier falava baixo e grave, calmamente, ele inspirou para que você imitasse os movimentos dele.
Mas você simplesmente não conseguia buscar o ar para os meus pulmões. Tudo era lágrimas, embaçado, e dor.
"Eu não..." saiu entre suspiros desesperados.
Javier olhou para a socorrista, e ela assentiu para Javier, que te levantou um pouco da maca envolvendo você em um abraço, apertado. Acariciando sua nuca, os dedos entrelaçados entre seus cabelos.
"Está tudo bem agora, estou aqui, vamos pega-los, prometo." A voz rouca e baixa de Javier entre seus cabelos.
Aos poucos o calor dele, foi te confortando, e te deixando amortecida. O cheiro dele, te acalmando.
A socorrista, mostrou para ele sobre suas costas, um calmante, e ele assentiu. Se afastando de você o suficiente para que a socorrista alcançasse seu braço, para aplicar em você.
"Não..." você balançou a cabeça freneticamente com os olhos arregalados.
Javier segurou seu rosto firme com as mãos nas suas bochechas.
"Vai ajudar, vou cuidar de você, confie em mim" ele disse olhando fundo em seus olhos, limpando as lágrimas.
Olhando para ele e para o socorrista, você piscou algumas vezes, e acabou cedendo, você assentiu.
A socorrista aplicou em você. E em poucos minutos, o zumbido em seu ouvido foi se dissipando lentamente, seus olhos ficando pesados.
Javier foi sentindo seu corpo cedendo. Ele foi te deitando novamente na maca gentilmente.
"Está tudo bem, estou aqui" a voz de Javier foi ficando distante.
"Fique comigo" você segurou o braço dele.
"Não vou a lugar nenhum" ele murmurou.
Sentindo a mão quente dele envolver seus dedos frios, os seus olhos fecharam e tudo ficou em silêncio.
Paz.
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