˛ * ⠀🎥 ( 𝐦𝐚𝐫𝐠𝐚𝐫𝐞𝐭 𝐪𝐮𝐚𝐥𝐥𝐞𝐲, 𝟐𝟔 𝐚𝐧𝐨𝐬, 𝐞𝐥𝐚/𝐝𝐞𝐥𝐚 ) era uma vez… uma pessoa comum, de um lugar sem graça nenhuma! HÁ, sim, estou falando de você 𝐑𝐄𝐘𝐍𝐀 𝐀𝐍𝐃𝐄𝐑𝐒𝐄𝐍 𝐃'𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐈𝐒. você veio de 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐑𝐄𝐒, 𝐈𝐍𝐆𝐋𝐀𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀 e costumava ser uma 𝐂𝐈𝐍𝐄𝐀𝐒𝐓𝐀 𝐅𝐑𝐀𝐂𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐀 𝐄 𝐃𝐎𝐍𝐀 𝐃𝐄 𝐔𝐌 𝐁𝐀𝐑 por lá antes de ser enviada para o mundo das histórias. se eu fosse você, teria vergonha de contar isso por aí, porque enquanto você estava 𝐄𝐒𝐂𝐑𝐄𝐕𝐄𝐍𝐃𝐎 𝐑𝐄𝐕𝐈𝐄𝐖𝐒 𝐍𝐎 𝐋𝐄𝐓𝐓𝐄𝐑𝐁𝐎𝐗𝐃 𝐄 𝐅𝐀𝐙𝐄𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐄́𝐃𝐈𝐀 𝐒𝐓𝐀𝐍𝐃 𝐔𝐏, tem gente aqui que estava salvando princesas das garras malignas de uma bruxa má! tem gente aqui que estava montando em dragões. tá vendo só? você pode até ser 𝐂𝐀𝐑𝐈𝐒𝐌𝐀́𝐓𝐈𝐂𝐀, mas você não deixa de ser uma baita de uma 𝐓𝐄𝐈𝐌𝐎𝐒𝐀… se, infelizmente, você tiver que ficar por aqui para estragar tudo, e acabar assumindo mesmo o papel de 𝐀 𝐏𝐑𝐈𝐍𝐂𝐄𝐒𝐀 𝐅𝐄𝐑𝐀 na história 𝐁𝐄𝐋𝐀 𝐄 𝐀 𝐅𝐄𝐑𝐀… bom, eu desejo boa sorte, porque você VAI precisar!
Filha de pais divorciados, Reyna não teve dificuldade em escolher quem seria o seu "favorito". A mãe não poderia se importar menos com os dois filhos que deixou para trás ao decidir fugir com o amante, mas mesmo antes disso, o seu pai, Timoteo, sempre foi a maior inspiração da garota. Ele era dono de uma locadora em um dos bairros baixos de Londres. Era muito frequentada no início dos anos 2000... até que deixou de ser graças aos serviços de streaming.
Ainda assim, o amor de Reyna pelo cinema criou-se a partir daqueles corredores com estantes cheias dos mais variados filmes. O seu pai era um cinéfilo antes desse termo sequer existir e era uma tradição da família Angelis assistir a um filme todas as noites. Reyna adorava! O irmão, Ronan, nem tanto; mas ele era bem mais novo e mais energético. Então as noites de filmes passaram a ser algo de Reyna e Timoteo. E eram as discussões sobre os longas que unia pai e filha.
Como quase toda criança, ela desejava ser atriz um dia. Reyna gostava muito dos filmes de comédia romântica e encenava suas cenas em seu quarto. Escrevia os seus próprios roteiros também com coisas que, na época, ela achava engraçadas, românticas ou assustadoras. Agora nem tanto, é claro, ela nem ousa abrir aqueles cadernos antigos... Essa vontade de atuar em grandes filmes se converteu na vontade de ser roteirista de grandes filmes... E então diretora. Reyna queria ser cineasta. Estava determinada e foi por isso que estudou muito para entrar na melhor faculdade inglesa para tal.
E ela estava prestes a lançar o seu primeiro curta-metragem, um romance, em um festival importante, ainda na faculdade, quando as notícias do acidente a levaram para um rumo completamente diferente. O pai e o irmão perderam a vida em uma viagem para verem a mãe de Ronan e Reyna, uma que ela se recusou a fazer.
Daí em diante, Reyna não conseguiu se manter na faculdade. Ela estava quase se formando, mas estava triste. Deprimida... E suas notas começaram a cair, o que resultou na perda de sua bolsa no último semestre. Teve que trancar e dar um jeito na própria vida, afinal, recusando todas as ligações da mãe, ela agora estava sozinha.
Tendo herdado a locadora do pai após a morte dele, Reyna viu uma funcionalidade diferente para o espaço. Ninguém mais precisava de locadoras com tantos serviços de streaming por aí, mas o local era... único. Vintage. Era o atrativo perfeito para um bar. De repente, a sua vida ganhou um sentido novo. Reyna investiu o seu dinheiro da herança no estabelecimento e, assim, abriu o Blockbuster Pub — um bar temático para os amantes de cinema... e de stand-up e poesia moderna nos Sábados, é claro! Porque apesar de ter desenvolvido maior apreço por dirigir dramas e terror na faculdade, ela ainda se dava muito bem com roteiros de comédias românticas e sempre os esboçava em seus cadernos; especialmente quando tinha alguma musa em mente para as grandes cenas de demonstrações românticas.
O pub passou a ser frequentado por londrinos e turistas que ficavam sabendo do lugar temático, decorado com alguns dos maiores sucessos ingleses e hollywoodianos de todos os tempos. Além disso, podiam sair de lá com um DVD ou uma fita cassete — era totalmente vintage.
Alguém esqueceu um livro no balcão do bar na noite em que Reyna fechou o Blockbuster mais cedo apenas para dar uns beijos na garota bonita que tinha dado em cima dela. Estava escorada contra o balcão de olhos fechados. Sons de prazer deixavam os seus lábios quando o maldito livro brilhou e Reyna surgiu no meio de um mundo mágico.
Será que ela tinha morrido durante um orgasmo?!
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Teve vontade de rir com a pergunta defensiva do semideus, ele parecia bem preocupado em ter sua sede de sangue novamente frustrada. No fundo, Asami não se importava verdadeiramente com o destino final daquela lâmina. Poderiam duelar até a morte, o rapaz e Jo, se assim desejassem – desde que fizessem isso longe das crianças. Só que ele começou a explicar, daquele jeito evasivo de quem não queria dar muitos detalhes, e a perspectiva de Asami girou cento e oitenta graus no segundo em que ouviu uma pequena palavrinha. Tinha até mesmo se empertigado na cadeira. E se o homem tivesse prestado atenção o suficiente, certamente teria notado o faiscar que cruzou brevemente seus olhos. — Ela traiu sua confiança? — repetiu, quase uma telespectadora surpresa com a reviravolta do resumo da novela. Sua maldição podia ser coisa do passado, mas Asami ainda via a lealdade como um dos traços de personalidade mais importantes que alguém poderia apresentar, e, em contrapartida, como a pior das falhas de caráter. — Nesse caso… — Colocou a mão em concha ao lado da boca teatralmente e estreitou os olhos. — Conheço alguém que consegue colocar qualquer veneno numa adaga. Posso apresentar você a ela algum dia. — Piscou, sorrindo-lhe cúmplice.
— O que você disse? — Algo na frase proferida por ele ressoou profundamente em Asami. Num segundo estava na forja. No outro, seus cabelos balançavam com a brisa fria da noite e os pés estavam ensopados e sujos de areia da praia. Havia alguém à sua frente, mas ela não conseguia distinguir suas feições. Tampouco teve tempo para gravá-las, vez que a imagem rapidamente se desfez em fumaça. Asami moveu a cabeça numa negativa, desviando o olhar e direcionando e ele um gesto de mão que pedia para ignorar aquele pequeno lapso. — Deixa pra lá. — riu, um pouco sem graça. — Sei que TDAH é coisa normal de semideus, mas ultimamente venho me superando. — A pontinha de sua língua ainda formigava. Ela umedeceu os lábios para se livrar daquela sensação.
Colocou a adaga aparentemente perfeita sobre a bancada. Enquanto abria a gaveta anexa em busca de um bloquinho e uma caneta, foi escutando a explicação com um curvar sutil no canto dos lábios. Conhecia flertes quando os ouvia, e estava começando a desconfiar que talvez existisse intenções naquela visita à forja que iam além de um ajuste na arma. — Oh, então você é fluente em japonês? — Ergueu as sobrancelhas e partiu os lábios, divertindo-se com a ideia de pegá-lo no pulo. Asami estalou a língua nos dentes e fingiu ponderar. — Ou isso, ou andou pesquisando o significado do meu nome, e se foi o caso devo dizer que estou bem impressionada... Os outros clientes não costumam ir tão longe atrás das minhas referências profissionais. — Ao fim, um sorrisinho metido pintava seus lábios. Ela respirou devagar e a expressão mudou para uma mais saudosa, como se perdida em boas memórias. — Mas sim, significa. Minha mãe passou um tempo em Tóquio na época da faculdade, estagiando numa das fábricas da Toyota. Ela sempre contava dessa época com um sorriso bem grande no rosto. Era fofo. — Na casa em Daytona Beach, havia um boné com o símbolo da empresa que ficava guardado no nicho mais alto do guarda roupa, numa caixa cheia de fotos antigas, cartinhas de amigos e pequenos objetos que um dia tinham pertencido a Emerald. Asami costumava vesti-lo enquanto desmontava os motores dos carros; quando ainda pensava que seus dotes para engenharia tinham vindo da mãe.
— Hemera… — Dando enfim a atenção que a lâmina merecia, a trouxe para perto dos olhos. — Sabe, algumas histórias contam que Hemera é, na verdade, filha do Caos. — Comentou absorta. O fato tinha simplesmente pipocado em sua mente, trazendo consigo a imagem do interior do chalé daquele mesmo deus. Estava repleto de mobílias vermelhas e uma música de The Weeknd tocava baixinho através do aparelho de som. Asami tentou em vão lembrar quando, ou por qual motivo, tinha sequer entrado naquele lugar. Estava vazio desde que se conhecia por semideusa. Piscou algumas vezes, precisava se concentrar ou, dali para o fim do dia, acabaria perdendo um dedo. — Fica à vontade. Um pouquinho a mais de fumaça não vai me incomodar. — respondeu bem humorada, ainda observando o dourado “luz do dia e ciclo da manhã” brilhar refletindo a iluminação artificial que vinha do teto. E foi quando algo estranho aconteceu.
Hefesto, seu pai, era o deus dos metais, e Asami tinha orgulho em afirmar que jamais se esquecia de uma arma na qual tinha posto as mãos. Era mais instintivo do que factual, na verdade. Cada lâmina emanava a própria assinatura energética, formigava lugares específicos da derme. E enquanto sentia o peso nas palmas, a Alcott soube, apenas soube, que já tinha visto aquela adaga antes. Que já a havia, em fato, a consertado antes.
Mas quando? Olhou para frente, para o rapaz, a confusão estampada no rosto. Para piorar, foi justo na hora que o viu retirar o cigarro de uma caixinha delicada e antiga, sendo atingida pelo Déjà vu mais forte de toda a sua vida. Atordoada, dera até mesmo um passo para trás.
Tão rápido quanto um raio, o homem à sua frente desapareceu e deu lugar a outro. Não, não era outro. Notou pelos traços que era o mesmo rapaz, só que… Jovem, não o daria mais que vinte e cinco anos. Seus olhos verdes a observavam com expectativa e um sorriso malandro pairava no rosto. Aquilo era uma lembrança? Na realidade, acho que eu posso sim te ajudar. Ela ouviu a própria voz ecoando pela forja. Está mais fresquinho agora?
Começou a ser puxada para longe daquela lembrança e fez seu máximo para agarrar-se a ela. Sentia como se tentasse segurar a mesma fumaça que, agora, saía pelos lábios do homem: a cada novo esforço, a massa gasosa simplesmente escorria pelos dedos e mudava de forma. Sua visão se tornou turva por um momento, embaralhada pelas diferentes memórias que vinham, desapareciam e reapareciam numa frequência digna de curto circuito. Asami fechou os olhos com força e levou a mão até as têmporas latejantes, arfando de dor. A adaga escorregou e foi amparada pela bancada, tilintando um som metálico.
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𓏲 ๋࣭ ࣪ ˖ 𐙚 ⌜ 𝐀𝐕𝐈𝐒𝐎𝐒: swann!namoradinho e o último romântico do mundo, literatura brasileira (escolhi dom casmurro mesmo pq foi o que eu lembrava passagens de cor), bebida alcoólica, dirty talk (elogios, dumbification), masturbação fem + fingering, spit kink, muita saliva, finger sucking, tapinhas, pegada no pescoço, daddy kink implícito(?). Termos em francês ou inglês — belle, astucieuse et correcte (bela, astuciosa e correta), french kiss (beijo francês), oui (sim), ça va e d'accord (tudo bem, beleza, okay, etc), bijou (joia) ⁞ ♡ ̆̈ ꒰ 𝑵𝑶𝑻𝑨𝑺 𝑫𝑨 𝑨𝑼𝑻𝑶𝑹𝑨 ꒱ tive um final de semana de merda, queria algo romântico e safadinho, então me deixei levar. revi aquela minissérie capitu, recomendo pra quem nunca viu ─ Ꮺ !
⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀⠀ ⠀───── 𓍢ִ໋🀦
VOCÊ GUARDA O EXEMPLAR DE ‘CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE’ no canto da mesa. Volta os dedos na direção da taça, levando um gole à boca, ao passo que os olhos recaem na figura do homem que folheia a última obra lida nesse pequeno ‘clube do livro’ que vocês criaram. Está sendo assim por meses, desde a primeira edição, quando deram partida com a literatura do país dele; Les Misérables.
“Ahm”, o vinho lhe escorrega goela abaixo, coloca a taça de volta onde estava, “o que achou?”, quer saber. Swann une o sobrolho, o foco dos olhos claros perpassa por todas as palavras que as páginas vão revelando. É impossível ignorar as anotações em letras miúdas feitas de lápis nos cantinhos dos parágrafos, algumas frases sendo destacadas com o marca-texto fluorescente, post it colados pra todo canto. Te arranca um sorriso, até murmura um nossa, olha como ele estudou…
“Ainda bem que me deixou marcar”, te olha, a expressão de confusão desaparecendo por míseros segundos pra dar espaço para um alívio, mas logo retornando ao cenho enrugado quando torna-se para o livro já marcado pelo tempo, “Esse foi muito mais difícil que o outro… Eh… Muitas palavras… Olha, marquei muitas palavras”, vai explicando, apontando para as próprias anotações, “Li com um dicionário na mão, e ainda não foi o suficiente. Muita coisa eu ainda não entendi.”
Você apoia o cotovelo na beirada da mesa, o corpo tombando de canto para que possa observá-lo melhor, “É porque a Conceição Evaristo é desse século, o Machado escreveu ‘Dom Casmurro’ no século dezenove”. Descansa a lateral da face no punho cerrado. “O que você não entendeu?”
O homem estica o braço para alcançar os óculos de armação redondinhas, veste. O indicador desliza pela página levemente amarelada, procurando por uma passagem em específico, “Olha, essa parte…”, finalmente se localiza com o primeiro exemplo. Aperta os olhos para recitar: “‘Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.’”, te encara com clara incompreensão, “Vá?”, repete o termo lido, “‘Vá’ de ir? Não entendi.” E você ri, o que o faz repuxar um sorriso também, e tem mais, te garantindo enquanto procura por outro trecho. “Aqui.”, se prepara pra ler, com um pigarreio, “‘Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem.’”, no automático olha pra ti de novo e admite outra vez não entendi. “Quer dizer, eu entendi”, começa a especificar depois que você desatina a rir, “tipo, eu entendo as palavras, mas não consigo assimilar… entende? Me sinto muito burro.”
Você faz que sim, se recuperando do riso. “É uma linguagem complexa mesmo, relaxa”, tranquiliza, “Nesse que você leu agora”, até aponta para o exemplar nas mãos dele, “dá pra notar como o Bentinho era tão fissurado na Capitu que até mesmo se comparava a ela, e que se via menor dentro da própria categoria de gênero que ele se identificava… Tem toda uma visão de masculinidade aí, e o fato do Machado trazer uma personagem feminina que foge do Romantismo que rolava antes, porque ele é do Realismo, né? Mas não quero ser palestrinha”, sorri, e ele exibe um pequenino, quase que te acompanhando, a atenção totalmente moldada às tuas palavras. “Mas a gente pode compreender essa parte também como uma das explicações raiz pro ciúmes doentio dele por ela. Às vezes, pra mim”, a palma da mão recosta no peito, “ao mesmo tempo que se pode até recortá-lo como muito apaixonado ao ponto de ser obsessivo, também dá pra entendê-lo como meio que incomodado pela presença dela. Já que ele se sente inferior, achar um defeito, um desvio de caráter, tipo o adultério, seria uma forma dele se sentir melhor.” E, quando você termina, ele ainda está te encarando. Melhor então, contemplando.
O pescoço alongado de leve na sua direção, como se quisesse fisicamente ouvir as suas palavras. Os olhos detendo de um brilho especial, os lábios repartidos para respirar mas está puxando o ar pelo nariz mesmo, de respiração serena. Se tivesse que classificar, é um olhar de admiração praticamente, somado a um quê de perdido no mar de informações que vazaram da sua boca. Para, bobo, você dá um tapinha no ombro dele, ao que o francês agarra o seu pulso, rindo, captura para beijar nem que seja a ponta dos seus dedos antes que possa fugir do bote masculino.
“Você é de muito intelecto”, ele pende a cabeça pro lado, o riso se reduz a uma linha estendida nos lábios finos, enrugando o canto da boca sem mostrar os dentes, “É lindo esse teu cérebro… Me dá tesão”, e você faz careta, rebaixando a postura, os ombros, sobre a cadeira, os olhinhos revirando feito não estivesse contendo um sorriso tolo de se propagar na sua face. Minha namoradinha inteligente, te sussurra, se inclinando pra beijar bem na bordinha do seus lábios, e ser empurrado de volta pra encostar as costas no assento.
“Mas, vai”, você vem pra mudar de assunto, “quero saber sua opinião sobre o maior debate da literatura brasileira… Acha que ela traiu ele ou não? Justifique a sua resposta.”
Swann suspira, o foco dos olhos clarinhos dissipando do seu rosto para os objetos na mesa de jantar. Toma o garfo em mãos, enrolando no macarrão gourmet à la francesa que fizeram pra finalizar o dia. Bota a sua coxa por cima da perna dele, de tão próximos que costumam estar sentados pras refeições em conjunto. Dividindo o mesmo prato, tal qual um só corpo, leva a comida à sua boca, a qual você recebe, hm?, reforça num murmuro, porque mastiga. Ele dá de ombros, “O que você acha? Eu acho o que você acha.”
Você umedece os lábios, sorvendo, “Não vale, quero ouvir você.”
E o homem expira o ar dos pulmões, os dedos esfregando os olhos por baixo da armação dos óculos, em clara frustração. Corre a mão pelos cabelos grisalhos, bagunça as mechas mais curtinhas de uma forma que você julga adorável a desordem. “Eh, esse livro comeu todos os meus neurônios pensantes”, quando esmorecido assim, o sotaque francês sobressai na entonação, “Não consigo pensar nada, quero pensar o que você pensa”, te olha, a palma da mão tocando a sua coxa, “você está sempre certa mesmo”, enumera com os dedos conforme te adjetiva belle, astucieuse et correcte.
O seu sorriso vem fácil, se abrindo pela face. Por que, se já acostumada a ouvir adjetivos parecidos no cotidiano, ainda se deixa abater ao ponto de sentir as bochechas quentes? Aham, sei, resmungando só pelo charme de manter uma pose quando por dentro está derretida. Fingindo não curtir a aproximação alheia, o roçar da pontinha do nariz dele na sua, num beijinho de esquimó. Ou da maneira com que apoia ambas as mãos nos seus joelhos, por cima da calça de linho, e dedica as íris turquesa a te apreciar.
Você devolve a mirada, porém com pouco crédito, a sobrancelha arqueando. Pega nas mãos do homem, no intuito de movê-las para longe e retornar à discussão, mas as dele enroscam nas suas e te confiscam os pulsos. “Vai ficar me encarando assim, ou o quê?”
Ele pisca, como se se libertasse de um feitiço, “perdão, perdão”, diz, “é que eu me perco nos seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, e o seu sorriso dobra de tamanho, rindo, ao acenar negativo com a cabeça, tentando se soltar do aperto para cutucá-lo, não acredito que você meteu essa, mas presa à força do outro, refém do jeito que ele chega pertinho, pertinho do seu rosto, exibindo aquele sorriso em linha, contido. Parece sondar a sua face outra vez, entretanto em busca de um ângulo de ligação. Os olhos se movem para a sua boca, deixa óbvias as intenções, entreabrindo os próprios lábios toda vez que ameaça contato.
Vira um joguinho instigante. Assim que você acha que vai colar nos dele, Swann apenas passa a língua no lábio e alterna o enfoque, pendendo a cabeça pra cá e pra lá. A boca fica a milímetros perigosos, se abre mais, igual fosse dar o bote, mas tudo que vem é um sorriso cafajeste. Você tenta empurrá-lo, externar a sua ‘falta de paciência’, só que falha novamente, e ainda recebe uma mordidinha mal dada no queixo.
Ele ri, o som de uma risadinha doce que expele ar através dos lábios entreabertos, a postura recuando um pouco e retornando pra perto de novo, feito um menino atentado. Beija pelo seu pescoço, soprando ar contra a sua pele quando está rindo, ao te notar desviando o rosto, o olhar. “Você fica, eh…”, ri uma vez mais, a mente se esforçando pra se lembrar do termo em português a que tanto gosta de te associar, ao que você saca na hora, bicuda, e ele repete que nem aluno, “...bicuda.”, o bom humor tão contagiante que não te permite manter a marra por muito tempo, desmanchando-se no riso, no flagra da face alheia ruborizada. Toca com o indicador pelo caminho do seu nariz até a ponta, se inclina no espontâneo para beijar no cantinho da sua boca enrugada pelo sorriso. A proximidade permanecendo essa, enquanto te assiste recuperar a seriedade. O olhar dele, agora, aparenta mais cobiçoso, igualmente encantado contigo, porém carregado de um bocadinho de luxúria, como se o cérebro fantasiasse no meio-tempo em que você se recompõe.
O seu olhar também tempera, o foco viaja dos dele para os lábios finos, para a armação redondinha dos óculos que tanto o favorece visualmente. Pega nas bordas onde ficam as charneiras, retirando pra fazer graça com as lentes na frente das suas próprias vistas — uma brincadeirinha que até pode fazê-lo rir, mas a melhor reação é a de dar um tapinha na sua bochecha e desviar da sua repreensão.
Você atua tal qual quem leva como ofensa, e rapidamente o teatro se desvai ao tê-lo pertinho para outra provocação de um beijo. Os lábios dele se separando conforme os seus se descolam também, a sua língua empurrando os dentes, a atenção oscilando entre aquilo que é demasiado objeto de desejo e a imensidão turquesa. O nariz masculino resvala no teu, a língua até toca na sua quando esticada indecentemente, o chupar dela, no entanto sem nunca de fato te prendar o ósculo. Beija eu, você sussurra, no que ele responde te beijar? Pra quê?, cínico, a mão fechando no seu pescoço e a saliva vazando pra cair na ponta da sua língua e ser sorvida.
As bocas se encostam, a respiração falhando, antes de dançar a língua na tua de novo, devasso, e, por fim, estalar os lábios. Pega na sua mandíbula, te devora profundo. Um tipo de beijo que você, na sua vida toda, só trocou com ele, que impecavelmente gosta de chamar de ‘french kiss’. A troca hipnotizante de sorrisos, os estalidos úmidos. Tão babadinho que, ao se afastar, um fiozinho de saliva ainda resiste ao máximo até desaparecer.
Te desconcerta, deixa boba, porque mantém os olhos cerrados por mais um pouco, os beicinhos meio inchadinhos e visivelmente molhados. A sua rendição, claro, não passa despercebida, te rende outro tapinha na bochecha, ao qual dessa vez você consegue apanhar a mão dele ainda no ar e, embora sorria e desfrute internamente, repreende com um ‘não’ somente pra cortar o regozijo alheio. “Oui, ça va, ça va”, ele ecoa, com a voz caramelo, arrastada, como quem compreende, “d'accord”, mas só com as palavras porque o riso denuncia o dissimulação e a mão livre também te acerta na bochecha.
Você explode os sentimentos, uma mistura intoxicante de libido e irritabilidade que resulta no seu levantar da cadeira para segurar nos cantos do rosto dele e prendê-lo em outro beijo. Ele paira as mãos na sua cintura, puxa seu corpo para mais perto. Poderia te acomodar no colo, feito seu joelho se apoiando na coxa masculina parece pedir, mas a ideia libidinosa que vem alugando um espaço na mente desde que a temperatura do ambiente começou a subir requer que te prenda contra a mesa da sala de jantar. Que, sem quebrar o ósculo cheio de apetite, empurre os objetos sobre a madeira pra qualquer canto — a taça tombando, vinho respinga no chão de taco; o barulho das louças se chocando, os óculos parando não se importa onde. Tem que haver espaço suficiente para que você possa deitar as costas na superfície, que ele consiga desabotoar a sua calça e te ajudar a se livrar da peça o mais rápido possível, sem nem mesmo ter tempo de prestar a atenção na cor da calcinha ao levar tudo junto.
Só desgrudam quando o peito dói, a busca por fôlego vence a ganância. Mas é incapaz de deixar a sua boca sozinha, o que é um alívio porque saliva, inquieta, só com a visão dos dedos se aproximando. Nem precisa se esforçar para detê-los, Swann os afoga no seu calor, é chupado, lambuzado, a pontinha da sua língua desenhando em um ou outro, bem obscenozinho mesmo. Da mesma forma, os olhares não se apartam. Está encarando-o passar a própria língua nos dedos da outra mão para poder te tocar entre as pernas.
Você desprende os lábios num protesto mudo, o cenho se franzindo conforme a atenção segue para acompanhar o movimento do pulso alheio lá embaixo. Flagra, de canto de olho, o homem parodiar a sua expressão, caçoando, o som da risadinha soprada atravessando os seus ouvidos quando só consegue ter forças para se escorar na gola da camisa dele. Parece dobrar a intensidade do toque só pra te desnortear mais ainda. O polegar pressionadinho no seu clitóris, em círculos ritmados, estimulando. E, daí, quando fica gostoso, o compasso se perde pra que ele possa estalar um tapinha na sua buceta.
Você sobressalta, desprevenida, a boca indica que você quer retrucar, provavelmente alguma frase terrivelmente agramatical de tão alucinadinha, mas nem para isso Swann dá corda, cobrando silêncio com o indicador parado rente aos próprios lábios, fingido, como se nem tivesse sido ele mesmo que te causou uma reação dessas.
Pega no seu pescoço, tornando a te masturbar como antes, para em poucos segundos o barulhinho úmido, por mais sutil, denunciar o estrago melado que está causando entre as suas pernas. Não te beija, apesar de próximo o suficiente para isso, a mão larga a sua garganta para escorregar pelo canto do seu rosto. Contornar na volta do seu ombro, namorando a alça da sua blusa de decote em ‘v’ até, finalmente, deslocá-la e trazer o seu seio para fora. Vem com a boca de imediato, ao que você se contrai, o dedo à meia altura para demandar não morde, querendo muito estar séria para dar a ordem, mas está sorrindo, tola, e na primeira oportunidade que ele tem de abocanhar é pra rodear o biquinho duro com os dentes e sugar forte, pra te ouvir choramingando, com os fios dos cabelos dele presos entre a palma da sua mão.
E piora, acredite. É deliciosamente cruel ao ponto de enfiar dois dedinhos de uma vez bem fundo, lá em cima, e socá-los feito nem tivesse entrenhado num deslize só. Ah, papa–, você começa, abatida demais para somente se lembrar do bom senso quando já está quase por terminar a palavra, engolindo a tempo o finalzinho da última sílaba.
Swann ergue o olhar, te mira. A expressão vai de uma surpresa fictícia pra um sorriso que se estica praticamente em câmera lenta ao se dar conta do que ia ouvir se você finalizasse o termo. “O que ia dizer, hm?”, não deixa de alfinetar, “fala”, e você faz que não, sorrindo também, travessa. Os olhos dele se afiam, falso, “não esperava isso de você, bijou. Ah, que suja…”, estalando a língua, feito desapontado, “você dizendo uma coisa dessas…”
“Mas eu não disse.”
“Mas pensou”, rebate, no timing ideal. “Sabe o que isso significa? Hm?”, e você murmura de volta hm. Ele aponta com o dedo na sua têmpora, “que essa cabecinha da minha namorada tão inteligente na verdade guarda um cerebrozinho que se derrete fácil, fácil depois de um mísero carinho, neném”. A fala depreciativa te esquenta mais, lê verdade nas palavras alheias e isso torna a sensação ainda mais instigante. “Olha”, o tom masculino é de puro deboche disfarçado de cuidado, “se não parar de se comportar assim, meu amor, eu vou começar a pensar que é o papa…”, e corta propositalmente no final da última sílaba, canalha, o que te arrebata, pois se agarra à camisa do homem, lamuriando feito uma cadelinha no cio, me fode, fode, me come, reprisando a vontade imensa de ser consumida ali mesmo, em cima daquela mesa bagunçada na sala de jantar.
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