Tumgik
#projetoleitura
desesperamor · 4 years
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Tô evitando te ler de verdade por saber que não será como Cecília e Caio, "eterno", de forma que até hoje leio. Então, te leio sem abraçar as palavras. É que eu sei que tuas fases te levarão daqui, você excluirá os textos e frases e apagará os rastros. Teu jeito incomum de ser, de quem recomeça constantemente, foi o que me encantou antes de tudo.
Guilherme Araujo
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marcofranco24 · 5 years
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Nem a liberdade nos liberta.
ocram
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sadico-aristocrata · 4 years
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Sudare
                                                            I
Primeiro você vai precisar encher metade de uma garrafa com gasolina. Em seguida, vai ser necessário embrulhar um tablete de cloro com um pano e enfiar na boca da garrafa, e nesse ponto vai ser preciso forçar um pouco, com a intenção de manter o tablete preso no gargalo. Depois, basta você atirar a garrafa em algo que queira incendiar. O tablete de cloro entra em contato com a gasolina e explode. Pronto, você tem seu próprio Coquetel Molotov e já pode colocar fogo na casa do presidente, incendiar bancos, tornar mais acalorada a vida na prefeitura. E, após essa breve lição de como ser um revolucionário, naquela noite apenas comi algumas bolachas e simplesmente fui dormir.
O dia seguinte foi um dia como qualquer dia. Levantei, lavei meus longos cabelos, que na época rendiam vários “moça, com licença...” na rua. Olhando-os no espelho, os achei muito belos. Fiz café e saciei meu primeiro vício dentre os vários que contarei nessa história. Masturbei-me, e já saciei também o segundo. Assim que entrei no ônibus, coloquei meus fones de ouvido, inseri Pink Floyd na minha mente, e já estamos no terceiro. Chegando lá, comi um pão de queijo e entrei para atender. Várias horas, várias ligações. As internets que não conectam. As ligações que não se concluem. Os saldos de recarga? Pra onde eles foram? Senhora Maria está indignada pois paga um plano caríssimo de trinta reais e está sem conexão há cerca de meia hora. Senhor Claudio está muito puto pois a caixa postal dele não funciona. Senhor John Lennon não sabe que eu e todos os meus colegas rimos muito de seu nome no mute. Ao fim, o som do deslogue, o melhor do dia.
Meus longos cabelos, a essa hora, não estão mais tão belos quanto logo pela manhã. Minha testa está mais oleosa, mas mesmo assim vou direto para a universidade. Alimento-me no restaurante, rio com alguns amigos, fumo maconha e vou pra aula chapado: única forma dela ser divertida. Uma, duas aulas de sistemas produtivos. Outras três de gestão de projetos. Um ônibus e depois outro para casa. O Ozzy Osbourne grita na minha orelha cansada de ouvir sobre o Toyotismo. Os crushs do ônibus vivem na mesma velocidade em que morrem. Chego em casa e me questiono: como será que se faz uma bomba caseira? Como se deu o processo evolutivo das araucárias? Com quantos paus realmente se faz uma canoa? Depois de saciar meu vício por inutilidades, sacio meu vício por bolachas de maisena e por masturbação e vou dormir, de novo.
No dia seguinte tudo se repete e acontece mais uma vez. Igual, mas diferente. O cabelo lava-se, as ligações, atende-se. A dona Maria insiste que não consumiu seus dados. O sr. Josenilton continua a ofender todos os atendentes e ainda reclama do mau atendimento. O Pink Floyd, ouve-se. O Elton John também. O sol que nasceu, se põe. Os livros, se lê. As contas, resolve-se, pois sem cálculo não se faz um engenheiro de produção. O dia morre, minha libido se cansa, as bolachas acabam e logo o dia nasce mais uma vez. A rotina preenche meu tempo, preenche meu espírito, preenche quase tudo, mas vigora em mim um certo vazio, incompreensível, como que um buraco em minha alma.
Na frente do espelho, questiono: e se cortar metade do cabelo? E se começar a prendê-lo? Levemente cansado da normalidade, como Jimmy, rendo-me, e apenas continuo. Os dias continuam. Contínuo, continuei, e num dia breve, no RU: uma notificação do Instagram. Caio, amigo da Patrícia, que faz artes cênicas. Meio estranho, meio magro, meio novinho. Muito gostoso, me chama no direct, e mais que depressa o chamo em casa. Um beijo, dois. Uma hora de conversa, duas. Estava eu apaixonado? Sim, mas não queria reconhecer isso.
Nos meus dias, sentia Caio atender comigo. O respondia mais rápido que respondia meu supervisor. Sentia-me inseguro sobre tudo. Sentia tesão por ele. Sentia empatia. Sentia a mais perfeita conversa que já havia tido com alguém. Ele possuía minhas masturbações, minha mente, meus sonhos. Obcecado, o fitava de longe sempre que podia. Longínquo, sonho longínquo. Em dias anteriores de baixa autoestima o via e achava impossível. Naqueles momentos em que o fitava, enchia-me de mim mesmo e acreditava tudo poder. Fiz-me esquecer das sensações de solidão de outrora. Fiz-me esquecer da carência que antes me assombrava.
Entretanto, minha onipotência, na época, durou só uma semana. Patrícia convidou-me a uma festa, assim como convidou Caio, mas esqueceu de avisar um ao outro. Caio tinha outro date. Eu descobri dias antes que Caio ia nessa mesma festa, e nesse momento era somente ansiedade e ignorância. Caio dedicou seu amor, carinho e beijos a outro homem, na minha frente, e me deixou completamente de lado. Naquele momento senti ódio, senti raiva e me fiz beijar todos os homens que consegui. Senti-me o mais impotente dos seres, a chorar por alguém o qual nunca tive qualquer compromisso.
Fiz-me em mil dramas, reclamei com meus amigos, humilhei Caio por todo lugar que consegui, mas no fundo só fiz humilhar a mim mesmo. Queria Caio como queria um troféu, mas ganhei só um par de frustrações. Queria naquele momento não mais Caio, mas o corpo de Caio, para encapuzá-lo, pegar por suas pernas, fazê-lo contar “um... dois... três...” e jogá-lo de cabeça para baixo de cima do viaduto. Fazê-lo sentir medo seguido de dor e vazio. Fazê-lo sentir qualquer coisa, já que me sentia sozinho e insosso naquele momento.
Caio despertou em mim com um aspecto ainda mais profundo a longínqua solidão que consegui abandonar no início da faculdade. Antes da engenharia, fiquei os cerca de seis meses entre o fim do ensino médio e o início do segundo semestre em um imenso ócio e temor do fracasso. Passar na universidade na segunda metade do ano foi mais que um alívio, foi uma salvação. Naquele período, iniciei uma coleção de livros e os lia sempre. Iniciei meu blog onde escrevia meus textos melancólicos e poesias de gosto duvidoso. Iniciei a coleção de filmes no palácio da minha mente, e os via sempre que possível. Comecei dentro de mim todos os fantasmas advindos do “sentir-me só”, e não saia de casa para nada, nem queria também. Mas, após seis meses, deixei tudo para trás, lá na distante cidade interiorana de Avanhandava rumo a uma maior e ainda assim interiorana Londrina, onde encontrei amigos, sexo, drogas, álcool, dinheiro, um curso de graduação, felicidade e um rumo na vida. Meus cabelos, antes curtos, alongaram como que por mágica. Não assistia mais filmes ou lia livros como antes, nem escrevia mais meus textos. Meu corpo permaneceu esguio, fraco, mas por alguma razão os homens passaram a gostar dele. Nem eu gostava de mim mesmo, aliada ainda a minha baixa estatura, mas se alguém no mundo enxerga tesão em mim, quem sou eu para discordar? Fitava momento ou outro o vazio da existência, uma quase que abstinência do amor que nunca tive, mas sempre diluía essas sensações em milhares de outros afazeres.
Porém, naquele instante Caio mostrava essa falha nos meus planos, o tempo todo por mim ignorada. Mostrava que, apesar de cheio de tudo, minha vida até então era meramente completa de nada, cheia de ninguém, imersa em gente que estava sem estar, se importava sem se importar.
Caio fez-me lidar com minha tristeza movida pra baixo do tapete, e tornei a fazer isso, escondendo-a com sexo, sexo e mais sexo. Sem qualidade, sem tesão, sem querer muito. Só sexo por sexo, como quem come por gula. Quando me cansei dos pênis e ânus masculinos, dediquei-me a alguns ombros e tórax para encostar e fazer carinho, mais uma vez. Tive o Alexandre, o intelectual que me fez aprender sobre Focault, mas que no fim só queria fuder comigo também. Teve um dos vários Lucas, que me amou de verdade, depois amou me odiar e voltou com um ex-namorado enquanto ainda conversava comigo. Teve o Leandro, que foi intenso e leve ao mesmo tempo. Rolamos muito nas gramas da universidade assim como deitamos muito nos sofás do centro acadêmico, mas no fim tudo terminou rápido como sempre, e nenhuma dessas relações durou mais de um mês.
Depois de todos eles, me cansei de novo de tudo, fui me drogar de novo mais e mais, experimentar diferentes quantidades de sêmen no meu rosto e uma enorme variedade de locais públicos para se transar. E, claro, todo esse tempo ainda trabalhando, mesmo que mal e sem objetivo algum, da mesma forma também estudando, com várias dependências e sendo um belo exemplo de como não se termina uma faculdade. Meu corpo ficava cada vez mais magro, meus cabelos cada vez mais longos.
Durante esse período, naturalmente eu tinha férias da faculdade no começo, final e meio de ano, mas as férias do trabalho eram raras, difíceis e nunca coincidiam com o recesso acadêmico. Até que, após dois anos de inconveniência, as duas coincidiram no mês de dezembro. Voltei para Avanhandava, onde revi toda a minha família que eu não abraçava com tanto afinco há anos. Recebi todas as críticas possíveis ao meu corte de cabelo, ao meu jeito drogado e largado de ser, ao meu iminente fracasso como profissional e o meu já consolidado fracasso como filho. Meus pais mostraram-se cada vez mais decepcionados comigo à medida que os contava das atitudes pouco ortodoxas que tomei durante esse período sozinho, mas todas essas palavras no fim foram desnecessárias, pois o olhar de tristeza e choro da minha já me era motivação suficiente para mudar de atitude.
                                                            II                
O retorno das férias do trabalho foi mais traumático do que eu imaginava. O ato de atender era tão estressante e pouco recompensador de forma que eu já havia me esquecido. Meus dias, naquele janeiro de tédio, resumiam-se a acordar, atender, voltar para casa e ir dormir. Em dias esparsos eu ia ao shopping, ao cinema, ao McDonald’s, mas nada muito emocionante, nada muito diferente, nada que afete minha integridade física.
No decorrer dos dias, voltei a ler meus livros e me interessei ainda mais por eles. Comecei a ouvir MPB, e o Chico Buarque, junto do Caetano Veloso, me encantaram, e até hoje não sei dizer qual dos dois prefiro.
Meus dias se passaram, se passaram. Amarguei em solidão por alguns momentos, mas o entretenimento e a profundidade dos livros e filmes na minha cabeça tornavam-me pleno, e aquilo bastava. As aulas voltaram, assim com as festas open, os livros acadêmicos e os trabalhos em grupo. Regado a sono e café, enfrentei tudo com maestria, beijei algumas bocas aleatórias, mas eu terminei bem após todas as festas, terminei bem após todas as matérias, enfim, fui um bom menino. Por esses dias, meu sentimento de solidão foi trocado pela correria do dia a dia, pela exigência mental dos estudos, pelo imediatismo da modernidade.
Em um novo julho de recesso, o ciclo se repetia: meus amigos retornaram para suas respectivas distantes cidades e eu continuei aqui, só, em um ciclo de atender, voltar para casa e ir dormir. Não consegui trocar meu sentimento de solidão por nada, e nenhum cristo mantinha-me entretido por aqueles dias. Baixei o Grindr, mas nenhuma viva alma me parecia interessante. Baixei também o Tinder, e com ele vieram vários e vários matches, mas ninguém com uma personalidade que me instigasse, ninguém realmente interessante, ninguém que realmente surpreendesse e tocasse o fundo das minhas sensações.
Os dias, mais uma vez, apenas foram se passando, até que em um breve momento o Tinder mostrou-se eficiente. Combinei com um jovem, de 19 anos, a cerca de 75 km de distância. Ele tinha um corpo magro, natural, não definido como de quem frequenta academias. Tinha cabelos lisos e longos, uma estatura um pouco maior que a minha. De início, conquistou-me com um sorriso enorme e largo que mostrava em suas fotos. Seu rosto não era exatamente o padrão de beleza da sociedade atual, e nem satisfazia o estereótipo de qualquer etnia que se imagine. Era, para mim, perfeitamente brasileiro, fruto de uma miscigenação indefinida, e indefinidamente interessante, indefinidamente atraente.
O rapaz pareceu se interessar pela conversa que mantínhamos. Cristian, residente da cidade de Maringá. Não morava tão perto assim, mas também não morava tão longe. No início, trocamos apenas informações de aspectos da nossa vida. Eu, callcenter e futuro engenheiro. Ele, sushiman e desistente do curso de filosofia. Também ateu, também de esquerda. Mostrou-se meio místico, crente em coisas sobrenaturais as quais não tenho tanta estima, mas nesse momento algo em sua personalidade já havia me fisgado, e sentia que essa mesma isca já o havia tomado também.
As conversas prolongaram-se para além do Tinder, para além do Whatsapp, para além das horas disponíveis numa madrugada. Trocamos interesses musicais e descascávamos cada vez mais nossas almas um para o outro, e cada tatear das minhas mãos em seu âmago afagava em mim a sensação de completude, afastava a sensação de solidão, alimentava um embrião de afeto e acendia o incenso de nossos desejos sexuais. O recomendei Jorge Ben, Tábua de Esmeralda, e logo Menina Mulher da Pele Preta grudou como tinta nanquim na cabeça de Cristian.
Uma semana, duas. Uma tonelada, duas de ansiedade em vê-lo. As sensações cresciam e cresciam dentro de mim, e os 75 km de distância não me impediam de sentir seu cheiro. Cristian inebriava minha casa com seus odores que nunca senti, e às vezes até o conseguia tocar.
Porém, por fim, Cristian corta o dedo trabalhando. Fiquei extremamente preocupado. Ele foi até um posto de atendimento, deu pontos e no fim ficou tudo bem. A surpresa boa foi, entretanto, que Cristian ganhou uma semana de atestado médico, e ao ouvir esse aspecto da notícia seguido do convite para ir até seu apartamento fez meu coração palpitar aceleradamente. Estava eu apostando alto dessa vez. Eu ia para Maringá, uma cidade que nunca havia ido antes, ver alguém que nunca vi antes, me hospedar em sua casa por três noites, já que meus planos eram de ir na quarta após o trabalho e só voltar sábado de manhã, antes do trabalho.
O tempo correu como um foguete por 48h, para então correr como uma tartaruga manca pelo restante. Ao sair do trabalho, às 16h, o relógio não caminhava mais. A minha ideia era de ir para Maringá de carona, mas até aquele momento eu não tinha tal carona. Voltei para casa de ônibus, e dessa vez não consegui ouvir música alguma. Pensava apenas em como iria para lá, o quê iria levar, como seria encontrar Cristian e como tudo poderia dar errado em diversos pontos.
Paranoico, cheguei em casa. Decidi levar algumas poucas peças de rouba e minha caixa de som bluetooth. Enquanto respondia uma mensagem de Cristian, recebi uma notificação no celular: havia conseguido a carona. Às 19h30 minutos saímos de Londrina, e me vieram à cabeça memórias de quando cheguei nessa cidade pela primeira vez, ou das vezes em que voltei de Avanhandava de ônibus e senti um profundo afeto por esse local onde não nasci, por seus prédios velhos e ruas empoeiradas, por seus ônibus amarelos e calçadas pouco seguras. As luzes do trânsito acenderam em mim um espírito de esperança inexplicável e fomos indo.
Conversas aleatórias com meus colegas de viagem parecem ter encurtada meu tempo no carro. Minhas piadas ruins de sempre pareceram fazer sucesso. Afinal, qual poderia ser a doença do filósofo triste, senão a rinietzsche? Após pouco mais de uma hora, cheguei em Maringá, e o que vi não me surpreendeu muito. A fama da cidade é quase de uma “Suíça paranaense”, mas o que eu vi foram prédios novos e ruas planas e largas. Senti falta do charme londrinense, mas a beleza de Maringá pareceu inegável para mim.
- Olha, vira à esquerda e depois à direita. Isso, acho que é nessa esquina aqui – disse eu à motorista, olhando no Google Maps. Após despedir-me dos amigos e seguidores do Instagram que havia acabado de fazer, desci do carro.
- Querido, já tô aqui embaixo.
- Tô descendo.
Cristian apareceu, como que do nada. Deu-me um abraço, um beijo no rosto e me convidou para entrar. Ele parecia ter mais espinhas do que eu imaginava. Pareceu também ser mais alto do que acreditava ser. Seu cabelo era idealmente liso e lindo. Até então eu estava apaixonado pelo Cristian virtual, mas aquele curto instante de tempo não fez apaixonar pelo Cristian real. Passamos pelo portão, pelo porteiro. Ele chamou o elevador e apertou o primeiro andar, o que me fez expressar pela primeira vez a crítica que repetiria várias e várias vezes dali em diante:
- Por que você não vai de escada?
- Por que iria de escada se posso ir de elevador?
- Porque o elevador gasta horrores de energia elétrica - e não aprofundamos mais a discussão, de forma que até seus últimos dias, Cristian subia até o primeiro andar sempre de elevador.
Entramos, sentamos, comemos o rondele que ele havia preparado, mas não conseguíamos dialogar muito:
- Cadê seu colega de apartamento?
- Tá no quarto dele.
- Ah sim – e momentos longos de silêncio preenchiam o ambiente, que ficava um pouco estranho a cada instante.
Nos deitamos no sofá, onde o abracei: - Não gosto de ficar se pegando no sofá, vai que alguém aparece - e sem entender muito bem, concordei.
- Vamos na minha cama? – achei um pouco precipitado, mas concordei.
Após um curto corredor escuro, chegamos em seu quarto, que parecia arrumado somente para a minha presença ali. Nos deitamos, apagamos as luzes, e nossos diálogos não decolavam muito. Continuei insistindo, os momentos de silêncio continuavam. Em momentos, parecíamos apenas jovens deitados olhando para o teto escuro. Aos poucos, fomos conversando mais e mais, e mais profundamente. A cada segundo, sentia meu corpo se aproximar do dele, até o momento em que estávamos colados, até o instante em que meus braços estavam sobre seu corpo. No mesmo ritmo lento, minhas mãos caminhavam sob seu tronco, ainda vestido, e meu tato, que antes o havia conhecido somente por imaginação, como que pelo resultado de dias de ansiedade o tocava físico, real.
Após um tempo que podem ter sido minutos ou horas, cansado e lambuzado pelos fluídos corporais de nossos corpos, o questionei:
- Diga-me cinco palavras que vierem na sua mente.
Extremamente ofegante, respondeu:
- Serotonina, adrenalina, oxitocina... – e acredito que ele não percebeu que não totalizaram-se cinco palavras.
- Eu tenho uma sugestão melhor, que tal: vamos logo ir tomar banho. – disse eu, olhando para os fluídos corporais que nos cobriam, mas, com preguiça, não fomos naquele momento. Descansamos e continuamos só a conversar. Naquele momento, senti-me indecente, senti-me safado, e uma culpa cristã me fez sentir “fácil demais”, mas também me senti profundamente apaixonado agora pelo Cristian real, de carne, osso e pele afagável.
Naquela quinta-feira, ele se dedicou a me apresentar a cidade. Na sexta, andamos ainda mais pelo centro, andamos pela UEM, fomos ao shopping. Na praça de alimentação, olhamos pelo vidro o Parque do Ingá, e naquele momento o questionei: - Quando que isso aqui que a gente tem vai se tornar um namoro?
- Não sei não.
- Olha, vi aqui na minha agende e hoje eu tô livre, assim como amanhã. – e após rirmos, voltamos andando até seu apartamento.
No fim da tarde, em seu apartamento, ele veio até mim de repente, me abraçou, e olhando nos meus olhos perguntou: - Você quer namorar comigo? – e minha resposta, obviamente, foi sim. Cometi um erro que foi fatal para propiciar a destruição de tudo aquilo que estava construindo. Estudos, trabalhos, profissão, liberdade, tudo.
                                                            III
Já no sábado, às 5h45 acordei voluntariamente, e já comecei a chorar. Parecia incabível à minha mente encontrar minha razão de existir e depois abandoná-la. Arrumei minhas coisas, tomei café com Cristian e fui ao banheiro. Quando voltei ao quarto, conferi em minha bolsa se nada estava faltando, e percebi que ali estava um estranho objeto de bambu, o qual eu não sabia o nome mas sabia que servia pra fazer sushi.
- Droga, era pra você ver só quando chegasse em casa – eu achei aquilo maravilhoso, o abracei, beijei e voltei a chorar – é um sudare.
Cristian não chorou, mas com seus olhos vermelhos quase lacrimejando me acompanhou até o ponto de encontro. Sua expressão de despedida naquele momento me faz ainda triste hoje, mesmo depois de tudo o que fiz, de tudo o que aconteceu.
Voltei para casa segurando meu choro no carro. Fui trabalhar, e durante o atendimento tive que me ausentar várias vezes para ir ao banheiro enxugar minhas lágrimas e me recompor. Esses primeiros dias foram difíceis e foram acompanhados por tristeza, solidão e saudades da pessoa que eu mais amei na minha vida, mais amei até hoje inclusive.
Com o tempo, fomos tornando mais profundo ainda o conhecimento um do outro sobre nossas personalidades. Abrimos entre nós todas as inseguranças. Traçamos planos para o futuro. Ansiosamente, nos vimos na semana seguinte, em que ele veio até Londrina.
Assim que chegou, ele deitou na minha cama e, deitados, nos deixamos levar. Abraçados, magneticamente fomos levados aos beijos, depois ao sexo. Durante o dia, da mesma forma que ele me fez conhecer Maringá, o fiz conhecer Londrina, e a cada momento eu me apaixonava mais e mais, e parecia ser recíproco.
Com o tempo, os momentos em que nos víamos caiu na normalidade. Não chorávamos mais nas despedidas, mas ainda assim adorávamos a presença um do outro, além das palavras de amor e da atração sexual. Esse mesmo tempo fez acentuar características das nossas personalidades que eram, de uma certa forma, conflitantes, mas que eu estava inteiramente disposto a contornar. Ele impulsivo, eu lógico e pragmático. Ele fechado em si mesmo, ao que sempre abri todos os meus sentimentos no momento em que os sentia. À medida que essas diferenças foram se acentuando, senti que Cristian ia me percebendo cada vez mais arrogante e louco, e talvez ele estivesse certo.
Com o tempo, voltei a escrever textos em meu blog. Textos de amor completamente ensandecidos, que Cristian lia e dizia gostar. Naqueles dias, Cristian preenchia cada pensamento do meu dia. Sentia sua presença a cada instante, queria conversar com ele a cada momento, obsessivamente.
Nossas diferenças foram se acentuando ainda mais, e essa obsessão pareceu incomodá-lo com o passar do tempo. As sensações nele foram murchando, ficando cada vez mais frias e frias. Eu sempre tinha um impulso e uma vontade de consertar tudo. Já ele mostrava-se cada vez mais desanimado, e dizia que já não sentia vontade de ajustar nada por mim. Isso me enlouquecia, me fazia chorar, e até hoje me faz assim.
Em um dia comum, enquanto voltava do trabalho de ônibus e conversava com Cristian, questionei:
- Está tudo bem com você?
- Sim sim, amor, me sinto ótimo.
- Você não parece ótimo, parece triste. É algum problema com seu trabalho?
- Não, no trabalho tá tudo certo.
- E existe algo que eu possa fazer para que você se sinta melhor?
- Eu tenho medo da resposta para essa pergunta.
Naquele momento, Cristian já havia conversado com uma amiga sua e decidido terminar comigo, como só veio a me contar semanas depois, onde basicamente me disse “minha amiga falou ‘foda-se ele, pense em você’ e concordei”. Ao fim da conversa, por insistência minha, decidimos dar um tempo de uma semana, e friamente Cristian desligou a ligação.
Esse tempo que demos um para o outro mostrou-se traumático para mim. Diariamente escrevia em meu blog textos que descreviam minha sensação. Ao fim desse tempo, chamei Cristian e confirmamos o fim de nosso efêmero namoro. Chorei, chorei muito naquela noite e nos dias que se sucederam. Combinamos de ser amigos, mas isso não se confirmou, e Cristian apenar se isolou de mim, e conversamos em pouquíssimos momentos desde o término até a escrita desse texto.
Eu não queria ter terminado, e alimento essa sensação até os dias de hoje. Continuei minha vida melancolicamente, escrevendo meus textos, chorando pelos cantos. Sentia-me como um viciado em abstinência. Eu não era apenas apaixonado por ele, mas por todo o ritual que envolvia estar com ele, todas as sensações que ele me causava. O bom dia que recebia sempre, o boa noite, o te amo, tudo.
Tentei mais de uma vez trocar a ausência de seus pequenos gestos em meu dia por sexo, mas em todas falhei. Tentei entreter-me com meu dia a dia, com os textos do blog, com cinemas, séries, com tudo. Nada tirava aquela sensação da minha cabeça, nada. Como que pancadas de um martelo, aquilo doía em meu cérebro, atormentava meus dias, perseguia-me. Tentei mais sexo, até contratei um garoto de programa, mas o ato de transar era puramente entediante. O sexo resumia-se a um pênis ereto e um olhar triste para a parede, por onde se passava diante de mim todo o filme do término. Cristian me dizia de novo aqueles mesmas palavras, daquela mesma forma. Via em minha memória a mim mesmo chorando, e enquanto penetrava o garoto de programa eu não conseguia evitar ser transportado para dias atrás, onde o ponto o qual minha vida girava ao redor foi demolido.
Nada tirava aquela sensação da minha cabeça, por meses e meses. Terminado o semestre da faculdade, o tédio tornou a assombrar minha cabeça, e aquela sensação tornou-se forte em mim em todo o tempo em que eu não estava trabalhando. Minha vida agora se resumia a atender e chorar, além de escrever textos tristes. Essas sensações, ao invés de se reduzirem, foram apenas aumentando e aumentando. Parei de ir ao meu trabalho para passar os meus dias olhando para o teto, gritando em meu travesseiro, enxugando minhas lágrimas com a camiseta.
O sudare que havia ganho anteriormente de Cristian era mantido no criado-mudo do meu quarto. Tentei dar alguma utilidade a ele, já que não faço a menor ideia de como fazer sushi, e mantê-lo comigo é também uma forma de sentir meu agora ex-namorado aqui, pertinho de mim, como um jeito de amenizar minha abstinência, mas era insuficiente.
Comecei a usar o dinheiro do aluguel e das despesas fixas de casa, pagas pelos meus pais, para comprar drogas, como maconha, LSD, craque. Perdi o serviço de internet, perdi a luz da minha residência, perdi minha própria residência. Logo, perdi o que restava da minha sanidade, me perdi de mim mesmo, tranquei a faculdade indo até ela vestido com os trapos que sobraram sobre o meu corpo. O estilo “roqueirinho” de antes agora era só um rascunho. Meu cabelo antes limpo e hidratado agora era apenas oleosidade, sujeira, bagunça. Roubei algumas pessoas para conseguir dinheiro e, consequentemente, mais drogas. Naqueles tempos, queria eu pedir em namoro uma pedra de craque. Trazia-me ela a mesma sensação de completude que Cristian.
Assim fiquei por alguns meses, até que, num dia qualquer, meus pais apareceram, praticamente me sequestraram, me deram um banho e me levaram para Avanhandava de carro.
                                                            IV 
Já limpo, durante toda a viagem apenas dormi, e me abstive de qualquer diálogo com meus pais. Já em Avanhandava, fui obrigado pela circunstância a acordar e fitar os olhos vermelhos e desesperados da minha mãe, chorando. Ouvi muito deles, de novo, sobre decepção, trabalho, as esperanças que eles tinham em mim e o que me tornei. Eu poderia descrever aqui cada uma das coisas que foram ditas, mas não é necessário. Novamente, nada disso teve o profundo significado de ver as feições da minha mãe daquele jeito. Nada mais me precisava ser dito. Aquele olhar dela me fez sentir um trapo de gente e enxergar dois caminhos apenas, sendo eles o suicídio ou “tomar um rumo na vida”.
Se fosse em Londrina, eu teria seguido pelo suicídio, mas em Avanhandava, na prática, eu tinha apenas uma opção. Voltei, então, a morar com meus pais, como que voltando 3 anos no tempo. Minha mãe me arranjou um emprego como empacotador no supermercado, de forma que teve praticamente que implorar para tal. Dessa forma, começou-se a moldar uma nova rotinha para mim.
Com o passar dos meses, comprei um novo celular e um computador, onde podia me comunicar com antigos amigos que fiz em Londrina e acessar mais uma vez meu blog. Meu celular e computador anteriores provavelmente tornaram-se posse de algum traficante londrinense.
Dali por diante, meu dia começava com minha mãe me acordando. Tomava o café que ela fazia e depois ia a pé para o trabalho. Lá, parecia ver sempre as mesmas pessoas, as mesmas senhoras, os mesmos senhores. As mesmas perguntas imbecis. As mesmas operadoras de caixa lentas e idiotas. Eu não suportava as pessoas naquele lugar, muito menos naquela cidade. O emprego em que eu não queria trabalhar, na cidade em que eu não queria morar, mas era o que estava ao meu alcance.
Eu voltei a escrever. Não voltei a ser promíscuo, ao menos não enquanto morava com minha mãe. Não voltei a usar drogas, e não sentia abstinência delas, mas de Cristian sim, sentia total abstinência. O craque, a maconha, o estado de ficar chapado fez-me esquecer Cristian no exato momento em que faziam efeito. Em Londrina, isso queria dizer praticamente cem por cento dos meus dias. Em Avanhandava, as lembranças dele me inundaram novamente, como que o rompimento de uma barragem, como que a explosão de uma usina nuclear.
Em meus dias de noiado, troquei qualquer pertence meu por drogas, sejam livros, celular, carteira, discos de vinil, tudo. Entretanto, eu levava meu sudare no bolso por aí, dialogava com todo mundo, oferecia, tentava vender. Exercitei todo meu timbre comercial, mas por razões até compreensíveis, ninguém dava dinheiro para um drogado em troca de um sudare. Como resultado, ele continuou comigo em Avanhandava e ainda estaria comigo hoje se não o tivesse incendiado, mas isso é uma história para outro momento.
Novamente em meu quarto, com o sudare em mãos, tentava dá-lo um novo significado, uma nova função: jogo americano? Suporte para copo? Mas ele continuava sendo para mim o melhor presente que já ganhei, lembrança dos melhores momentos que já passei em um amor que perdi pra sempre.
As lembranças de Cristian tomavam, mais uma vez, completamente o meu dia. Eram como um lutador de boxe que me acompanhava em todos os lugares e me acertava um soco no queixo a cada cinco minutos. Perseguia-me, atormentava-me. Os momentos com ele se reconstruíam na minha frente, como um filme, de novo. Ao menos uma vez ao dia eu me dedicava, quase que religiosamente, a ir a um canto chorar, como que numa forma de alívio. Ao chegar em casa, via meu sudare sobre o novo criado-mudo, lembrava dos momentos em que o ganhei e do quão emocionante isso foi, e gentilmente chorava, como num culto ao sudare.
Apesar das memórias antigas a avassaladoras, consegui até, de uma certa forma, recompor minha vida. Tinha agora uma renda, fontes de entretenimento. Fiz novos amigos no trabalho, assim como revi meus amigos dos tempos de adolescência. Meu cabelo ainda era grande e belo, assim como retomei meu estilo “roqueirinho”. As lembranças do meu insucesso amoroso eram a única coisa a estragar, a me destruir. Passaram-se meses e meses, e essa sensação de fracasso, de incompletude nunca passava. Nunca deixava de surgir na minha mente o momento do começo, o momento do término. Nunca deixava de me masturbar pensando nele. Nunca deixava de reverenciar o sudare em riste no meu quarto, com um tom de tristeza e luto.
Ao meu redor, via o tempo todo casais, e com o tempo os via terminando, depois começando com outros, terminando, recomeçando, terminando, recomeçando, e durante todo esse tempo eu aqui, em luto por uma relação vazia e breve, destruído por tão pouco, e não conseguia enxergar perspectivas disso mudar. Procurei uma psicóloga, mas não parecia surtir qualquer efeito. Lutei com todas as minhas forças contra esse trauma, essa sensação de amor e ódio que me tomava, e nada.
Com os meses, fui sentindo saudades da minha vida em Londrina. Do cinema e do McDonald’s, do Grindr e do Tinder, da faculdade e do callcenter. Percebi que aquela realidade era fruto de um sonho, de uma perspectiva que eu tinha para mim mesmo. A perspectiva de alguém que supera as próprias limitações, a própria realidade. Que através de seu esforço, sai de uma cidade do interior para estudar, conseguir um bom emprego ou até saltar em voos maiores. Percebi, então, que isso construiu a minha vida daquela forma, e apenas essa mesma determinação me daria aquela vida de volta, ou ainda algo melhor.
Decidi confinar as lembranças de Cristian em um pequeno compartimento da minha mente, em quarentena, e fazer todo o restante de mim continuar, para num futuro próximo atirar todo esse lixo no mar.
                                                            V
Dali em diante, determinado, cuidei de aperfeiçoar cada aspecto da minha vida, por menor que ele seja, por mais que não fosse parte da minha natureza cuidar dele, a começar pelo meu corpo. Sempre odiei exercícios físicos, mas agora eu ia à academia diariamente, treinar por cerca de 2h. Comecei a dedicar uma parcela do meu dia para ler livros de filosofia, sociologia e literatura, como uma forma de também exercitar e tornar sã minha mente. O restante do meu salário, que não era gasto com ajudas na despesa de casa, livros ou academia, eu mantinha em fundos de renda fixa ou investia em bolsa de valores, hobbie que também comecei a cultivar. Comprei uma máquina de cortar cabelo e aparei todos os meus pelos corporais, inclusive os da cabeça. Vi cair meus longos cabelos e observar-me careca no espelho, mas o que acreditei que fosse me fazer chorar, me soo indiferente. Quase tudo ao meu redor soava indiferente, a exceção do sudare, sempre soberano.
Após cerca de 1 ano, juntei cerca de 20 mil reais. Era agora careca, bem mais culto, razoavelmente bombado, e a lembrança de Cristian era mantida ali, encarceirada, esperando para ser condenada na fogueira. O sudare era mantido, da mesma forma, no criado-mudo do meu quarto. Ele ficava lá, mantido em pé, como que um santo de barro em seu altar.
Munido de meu próprio dinheiro, mostrei meu dedo do meio em riste para meus pais e mudei-me de novo para Londrina. Dessa vez morava em um apartamento melhor, dividindo-o com outras duas pessoas. Destranquei a faculdade, arranjei rapidamente um estágio em engenharia de produção, e sem mais distrações continuei o curso até seu término. Ao fim, me formei mas não fiz festa de formatura e nem comemorei com ninguém, pois não havia nada ainda a festejar: meus objetivos ainda não estavam cumpridos. Ainda tinha assuntos a resolver comigo mesmo.
Fui efetivado na empresa como engenheiro de produção, depois tornei-me gerente. Com a tranquilidade e o dinheiro que aqueles dias me trouxeram, pude começar a planejar a “solução final” para tudo, para tornar vazio de significado o sudare que eu mantinha como um totem no meio do meu apartamento. Após cerca de um ano de serviços prestados como gerente e também de um ano de planos, recebi férias do trabalho e enxerguei ali a oportunidade perfeita. Eu ia enfim completar o significado dos meus dias, extrair cirurgicamente a lembrança de Cristian da minha cabeça, ou ao menos ressignifica-la.
                                                              VI
Em um fim de semana, peguei meu carro e fui até Maringá. Em um bairro distante do centro, comprei à vista uma casa de madeira de um morador local. Sem contratos, sem assinaturas, sem recibos. Apenas um dinheiro que dizia “essa casa agora é minha, me deixe em paz”.
Para mobiliar minha nova residência, fui ao shopping e comprei uma cadeira e um criado-mudo. Esses dois seriam suficientes. Sobre o criado-mudo coloquei o sudare, e mantive ele lá, para que seja meu objeto de adoração. Também no shopping comprei calça, sapatos e blusa pretos, além de uma touca para o rosto todo. No mercado, garrafas de vinho, panos de limpeza, álcool, cordas, sacos plásticos, uma mangueira e aproveitei para abastecer o carro. Deixei todas essas coisas na minha nova casa, levei as garrafas de vinho comigo e fui me hospedar em um hotel no centro da cidade. Tomei todo o vinho das três garrafas naquela noite e, a beira do coma alcoólico, dormi profundamente.
No dia seguinte, acertei com o hotel, e aproveitando que já estava no centro, procurei por algumas horas por alguns tabletes de cloro. Ao encontra-los, os levei junto das garrafas de vinho até minha casa de madeira. Assim que cheguei, finalmente apliquei meus conhecimentos de aprendiz de revolucionário e fiz meus próprios três coquetéis Molotov. Viatcheslav Molotov ficaria orgulhoso.
Naquele mesmo dia, ali pelo bairro mesmo, comprei uma faca, a melhor que consegui, e também uma arma. Juntos, todos os itens já eram suficientes para que eu pudesse fazer o que queria fazer, e restou-me agora apenas colher algumas informações e agir.
Nas fases iniciais do meu planejamento, mais ou menos um ano atrás, observei nas redes sociais que Cristian trabalhava ainda no mesmo restaurante. Não consegui saber direito em que função, assim como também não sabia onde ele morava. Portanto, nessa fase em que estava quase concluindo minhas ideias, restava-me preencher a lacuna dessas informações. Além disso, também sabia que ele estava casado com um homem e que pareciam estar felizes.
Como me recordava que Cristian trabalhava dois anos e meio atrás na unidade do restaurante que ficava próximo a UEM, o esperei por lá, dentro do meu carro, próximo do horário em que ele terminava o expediente, por volta das 23h. O aguardei até cerca de 1h da manhã, e nada. “Talvez ele esteja de folga”, pensei comigo mesmo, o que era provável, já que se tratava de um domingo.
Para não dar margem ao erro, o esperei no dia seguinte, muito bem escondido, desde às 7h da manhã. Para minha felicidade, o vi chegar às 8h e sair, por volta das 10h30 para ir almoçar. Acompanhei seus passos de longe. O percebi mais forte que antes, mais belo, mas ainda assim menor em musculatura que eu. Diferente de mim, ele ainda mantinha seus cabelos longos. O vi entrar em um carro. Corri para o meu próprio e segui o acompanhando de longe, onde o vi chegar em um prédio de alto padrão no centro da cidade. O fiquei esperando lá fora e o segui de volta ao restaurante, onde o esperei pelo restante do dia. Quando terminou o expediente, por volta das 17h00, o segui novamente até seu apartamento e permaneci aguardando. Alguns minutos depois o vi sair em seu carro, junto de seu então marido.
Segui o carro até um supermercado que ficava ali perto e os vi sair de mãos dadas. Os segui, e dentro do supermercado os fitei disfarçadamente. O marido tinha olhos levemente puxados e mais ou menos a mesma estatura de Cristian. Sua pele era um pouco mais clara. O cabelo, curto e um pouco ondulado. Parecia tímido, calado. Como tinha informações suficientes, retornei para meu carro e dirigi até minha casa de madeira. Dormi por lá mesmo, no chão.
No dia seguinte, acordei e me senti absolutamente pleno, como que a dois passos da realização pessoal. Criei o melhor perfil possível no Grindr, coisa que não fazia já há semanas. Homossexuais fortes e sarados sempre fazem sucesso, e levei três ou quatro pessoas naquele dia para o quarto. Arranjei todo o tipo de droga e usei naquela noite.
No outro dia, às 18h, peguei um dos coquetéis e levei comigo até a frente do restaurante em que Cristian trabalhava. Lá, pensei “seria muito melhor se fossem garrafas de saquê”. Era um restaurante japonês, afinal. Coloquei a touca que cobria inteiramente meu rosto, aguardei próximo do restaurante o horário do seu fechamento, quando a rua fica praticamente deserta. Saí do carro, peguei um tijolo que tinha ali próximo, na calçada. Voltei ao carro, lancei o tijolo no vidro lateral do veículo de Cristian. O vidro tornou-se dois mil pedaços. O alarme ressoou quarteirões, mas logo o fogo ocupou-se em calá-lo. O presente Molotov me inebriava num cheiro delicioso de gasolina. No mesmo momento, acelerei meu carro para longe dali e não pude apreciar também a cara de surpresa de Cristian. Numa espécie de aposta, dirigi até o apartamento em que o casal morava.
Ao sair do restaurante e ver seu carro incendiado, Cristian ligaria para seu marido, que em um ato de desespero iria até seu cônjuge. Cristian sempre impulsivo e maluco, de maneira nenhuma conseguia pensar com frieza em momentos de crise. Ele iria só gritar “meu deus, meu carro pegou fogo, o que eu faço, alguém me ajuda”. Se o rascunhozinho de marido o conhecesse bem, pensaria da mesma forma e iria lá ajudar.
Como planejado, com uma expressão de desespero, o marido de Cristian aguardava impacientemente pelo seu Uber na esquina escura de seu prédio. Silenciosamente, saí do carro e fui até ele. À força, tapei sua boca com um pano alcoólico que preparei minutos antes e o levei até o carro. Lá, apontei minha arma, o vendei e fiz permanecer em silêncio no trajeto até a casa de madeira. Na casa, eu tinha a tranquilidade para fazer o que quisesse, inclusive manter um diálogo.
- Oi – disse eu, após sentá-lo na cadeira, tirando sua venda. Muito assustado, ele não disse nada.
- Você pode ficar calmo querido, não vai acontecer nada com você.
- Então por que me trouxe até aqui?
- Não faça perguntas difíceis, deixa eu pensar – eu realmente não sabia bem porque tinha feito isso com ele, eu só queria fazer.
- Veja bem. Ali, naquele criado-mudo, tem um item, um objeto santo. Eu converso com ele, todos os dias. Ele fala comigo, dentro da minha mente, onde quer que eu esteja, e ele me mandou fazer isso.
- Mas é só um sudare, eu sei, meu marido trabalha em um restaurante japonês.
- Sim, eu sei, eu sei.
- E como?
- Você continua fazendo perguntas muito difíceis.
- Você é maluco, e essa é a única explicação. Você é esquizofrênico! – disse o jovem branquelo aos berros.
Com minha mão esquerda acariciando minha barba nascente, incumbi à direita a tarefa de fazer alguma coisa. Peguei a faca, disposta no chão, e num só golpe atravessei a cabeça do rapaz, verticalmente, de cima para baixo. Após calá-lo, o envolvi num saco plástico, coloquei no meu carro e o joguei no rio mais próximo.
Aquele assassinato me foi frio, quase que como um entretenimento, mas me fez refletir: eu conseguiria ter esse mesmo diálogo com Cristian? Continuaria igualmente frio e inerte? Se o sudare é meu santo, Cristian é meu deus, e eu teria de enfrenta-lo. Teria de ser o próprio diabo nessa vez.
Após minha pequena distração, voltei para o hotel, onde dormi, descansei, e me preparei para o dia seguinte. Descansei por todo o dia seguinte, e lá pelas 23h50 peguei meu carro e fui até o restaurante onde Cristian trabalhava. Lá, aguardei todo mundo sair, absolutamente todo mundo. Munido da minha arma, aguardei defronte até cerca de 2h da manhã. Usei meu celular para criar uma conta no 99, chamei um carro, e assim que entrei, dei dois tiros na cabeça do motorista. Depois não foi muito difícil: tirei o cadáver do volante, tomei o controle do carro e acelerei com tudo contra a entrada do pequeno restaurante. Depois do impacto, retornei ao meu carro e o Sr. Molotov fez seu trabalho.
Após essas loucuras todas, eu sabia que precisava ser rápido em terminar o que estava planejando. Mais cedo ou mais tarde a polícia iria me encontrar, me destruir. Então, somente peguei meu carro e esperei na frente do prédio de Cristian, e somente aguardei, sentado.
Passaram-se as horas, e pude ouvir uma cidade mais agitada que de costume. Bombeiros, policiais, pessoas murmurando. Apenas ignorei e aguardei, até que, em certo momento da madrugada, vi Cristian sair, provavelmente para comprar cigarros. Novamente, não foi muito difícil. Dessa vez eu era bem mais forte que ele. O imobilizei, calei com um pano alcoólico e o temor de uma arma e, mais uma vez, levei o homem até a residência de madeira.
Como aprendi bem a fazer antes, o sentei na cadeira, amarrei e, antes de remover sua venda, apenas disse:
- Oi – Cristian também ficou em silêncio.
- Tudo bem com você? – e permaneceu em silêncio.
- Você sempre me deixou no vácuo. Custa alguma coisa responder? – e tomei apenas mais silêncio.
- Responde, porra! – gritei, peguei minha arma e dei três tiros para cima.
- Sim, tá tudo bem, tudo bem, eu converso, converso, meu deus, o que tá acontecendo, o que você quer – e, ao fim, o fiz dizer palavras desesperadamente.
- Eu só quero conversar. Você pode?
- Posso – disse ofegante.
Juntei minhas duas mãos, gesticulei pensando. Passei minha mão pelos meus cabelos nascentes, olhei para seu rosto assustado.
- O que é aquilo? – disse eu apontando para o sudare.
- É um sudare.
- Pra quê ele serve?
- Fazer sushi.
- E eu não faço a menor ideia de como se faz sushi – disse eu balançando a cabeça. Cristian apenas deu de ombros.
- E você sabe por que raios eu tenho um sudare?
- E eu devia saber?
- Devia. Foi você quem me deu.
- Nossa, que bacana, e que sudare merda eu te dei, desculpa.
- Você ainda não sabe quem sou eu?
- E eu devia saber?
- Devia! – e me reconheci irrelevante naquele momento.
- Chamo-me Gabriel do Nascimento Silva. Nós namoramos cerca de 2 anos atrás, e foi aquilo ali que você me deu quando fui no seu apartamento pela primeira vez, quando você morava na rua Paranaguá – daí ele fez caras estranhas, tentou se recordar, e se lembrou das minhas feições.
- Meu deus, eu lembro de você magro e cabeludo. Também lembro de você obsessivo, mas a esse nível, meu deus, meu deus. Socorro! – começou a gritar.
- Deus não existe e aqui somos só eu e você, e se não calar a boca uma dessas balas vai entrar diretamente na sua testa – ele se calou.
- E o que você quer comigo tantos anos depois?
- Não sei, não sei. Sabe, depois de tudo, ficou só uma lembrança dentro de mim, um filme, uma voz, uma frustração. Depois daquilo, minha vida mudou completamente, completamente.
- Por uma relação de dois meses?
- Sim, vai entender.
- E eu mal me lembro de como ela foi.
- Por que?
- Não sei, eu só não me lembro. Muito mal ainda me lembro de quem você é. Desculpa, mas você foi só um ponto meramente irrelevante na minha vida.
- Fui?
- Sim. Você foi uma foda interessante, provavelmente. Eu tava carente, provavelmente, mas foi só isso.
- Só?
- Sim, aceita isso! – e voltou a gritar
- Não foi só isso, não foi só isso!
- Sim, foi, você é e sempre foi um merda! Aceita isso!
- Você praticamente destruiu minha vida, tudo o que eu tava construindo, tudo. Eu abandonei tudo por conta do que você me deixou, do que você me tornou, da lembrança de você.
- Se você é louco eu não tenho culpa! – e continuou a gritar.
- Tem sim, tem total culpa! – respondi no mesmo tom.
- Não, lamento. Relações começam e terminam. Todo mundo começa e termina relações, muito mais profundas que a nossa inclusive. Só você é a afetada, só você se vitimiza e não consegue continuar. Desculpa, se você é assim, não é culpa minha.
- É sua culpa sim! – gritei, e escorria uma lágrima no meu rosto.
- Não, desculpa, desculpa – e repentinamente começou a rir.
- Que foi?
- Gente é cada coisa, cada coisa. Meu marido sumiu, meu restaurante pegou fogo.
- Olha pro chão.
- O que tem?
- Sangue.
- E?
- Você é viúvo agora, bebê – ele ficou segundos sem entender, mas quando percebeu, começou a chorar.
- E você fez isso? Por quê?
- Não sei! Por você, fiz por você!
- Por mim?
- Não sei – e fui passando a mão pelo meu rosto, enquanto chorava.
- Você sempre foi patético, completamente patético, a grande vítima de tud... – e o interrompi com um tiro no rosto, depois outro.
O joguei, em seguida, no chão. Coloquei o sudare sobre ele. Peguei o último coquetel Molotov, me afastei da casa e lancei. Em seguida, apenas sentei no meio-fio do outro lado da rua. Chorando, continuava ainda a lembrar dos meus dias felizes com Cristian. Aguardei ali, sentado, minha condução até a delegacia. Aguardei, ali, completamente ciente do meu fracasso. Cristian cintilava ainda na minha cabeça tanto quanto o fogo que consumia seu corpo.
sadico-aristocrata
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Creio que a questão da intimidade com Deus se resume a uma questão de tempo. Dizemos que não temos tempo para buscar a Deus, mas a verdade é que dedicamos tempo para fazer as coisas que são mais importantes para nós. Ainda que todos nós tenhamos de combater as distrações todos os dias, se conhecer Deus e ouvi-lo for importante para nós, encontraremos tempo para fazer isso. Não tente encaixar Deus no seu roteiro, mas em vez disso, encaixe o seu roteiro em torno do seu tempo com Ele. Conhecer Deus é um investimento de longo prazo, portanto não desanime se você não tiver resultados instantâneos. Esteja determinado a honrá-lo com o seu tempo e você colherá os benefícios.
Joyce Meyer - Ouvindo Deus a cada manhã.
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sofrias · 5 years
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Ela era uma musica que ninguém queria ouvir, um livro que ninguém queria ler, uma conta que ninguém se preocupou em resolver.
Eu me chamo Hortência (Sofrias)
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allisser · 6 years
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vivendo a vida ao acaso,
segui uma trilha qualquer,
sem muito me importar.
e, então,
havia você no meio do caminho.
no meio do caminho, havia você.
há você.
e foi só então que percebi:
eu estava enganado todo esse tempo...
você não estava no meio do caminho
-e nem tinha como estar-!
afinal de contas, 
essa trilha foi capaz de mostrar
que o meu caminho é você.
sempre foi você.
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camsoliveira · 2 years
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Todo ano seleciono 12 livros encalhados na estante para ser o desafio literário #skoob. Um incentivo para ler mais e melhor. A seleção deste ano está especial: a maioria clássicos ou não ficção e muitos #camalhaço, um verdadeiro desafio. #projetoLeitura #skoob https://www.instagram.com/p/CYsJ29CtCgT/?utm_medium=tumblr
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iludida-por-plutao · 6 years
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O tempo passa
Passa que a gente nem vê
Tentamos aproveitar
Mas a única coisa que conseguimos
É ver o tempo passar
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teacolher · 6 years
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Perceba que algo não está certo. As noite parecem mais longas, os dias não se cansam de serem dias, o sol demora se pôr e você demora chegar. Alguma coisa não está certa. Meus olhos estão cheios de insônia, minha febre aumentou, meu coração disparou. Algo não está certo. Comecei a sair, andei até o ponte 37, suspirei um pouco e sorri. Algo não está certo, mas decidi seguir.
Perdida no espaço. Noite de caos.
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caixadeexcertos · 6 years
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Ficou escuro e um vento forte dominou as ruas. Começou a chover. O silêncio dominou as conversas das pessoas que por ali passavam. Nada além da canção a ecoar, uma orquestra magnífica da água a escorrer pela calha e os pingos a cair nas varandas e calçadas. Estava calmo, as crianças brincavam nas poças enquanto suas mães gritavam seus nomes. E tudo parecia grande nos detalhes na manhã de mais um dia.
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acervodeamores · 6 years
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Você não vai querer seguir adiante com esse plano de "me conhecer melhor" como você mesmo diz, e isso eu garanto. Pode ir parando por aí com essa coisa de que eu sou incrível, inteligente, simpática e tudo mais. Na primeira crise existencial, eu aposto que você vai dar um jeito de cair fora. Não vai aguentar o tranco. Eu sou problema, entende? Pensa numa pessoa complicada, complexada e de quebra insegura? Sou eu. Você não vai entender minhas manias, nem meus trejeitos. Pra você ter uma ideia, eu não como salsicha no dia-a-dia, a não ser que seja em cachorro quente. Detesto feijão, mas amo o tropeiro. Eu assopro sorvete pra tomar e leio lista telefônica. Desiste. Aqui você não vai entrar, eu não vou deixar.
Meu mundo está fechado pra visitação
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marcofranco24 · 5 years
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O mundo transborda dor e prazer; Um depende do outro, como contrastes, para a preservação de sua total potência e singularidade. Apenas enxergarmos com, somente, um dos olhos, é, automaticamente, se cegar de seu outro olho.
ocram.
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r3sgatando-te · 6 years
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A simplicidade
Eu gosto de acordar cedo, gosto de me levantar e falar com Deus assim que estou de pé, eu gosto de abrir a janela do meu quarto e contemplar a linda manhã, a bela vista para o sol, eu gosto de me sentar à mesa e gosto de admira-lá e ver o quanto está recheada de coisas gostosas e ao redor dela pessoas especiais como minha família, gosto daquele pão quentinho da padaria, o meu pão favorito de sal com margarina acompanhado com uma xícara de chocolate. Humm, que delícia !
Eu gosto de ir ao colégio, rever os meus amigos e está ao lado deles e aproveitar a companhia de todos, dá muitas risadas e rir da risada do outro; eu gosto de ler um bom livro em um lugar tranquilo onde eu possa viajar através dos versos lidos, eu gosto do barulho da chuva ao anoitecer indo dormir; eu gosto de ir á igreja junto com minha família, participar dos ensaios ao domingos; eu gosto de andar de bicicleta e fazer um bom piquenique ao ar livre ...
Em fim, eu olho em minha volta, observo cada detalhe, paro, penso e vejo que o que dá realmente sentido a vida são as coisas mais simples que muitas vezes menosprezamos, são elas que realmente dão sentido à nossa vida .
- De minha autoria ♡
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"Porque tive vergonha de pedir ao rei exército e cavaleiros para nos defenderem do inimigo no caminho, porquanto já lhe havíamos dito: A boa mão do nosso Deus é sobre todos os que o buscam, para o bem deles; mas a sua força e a sua ira, contra todos os que o abandonam." Esdras 8:22
Um comboio teria sido proveitoso por muitas razões para o bando de peregrinos, mas uma vergonha santa não permitiu que Esdras fosse em busca de tal auxílio. Ele temia que o rei bárbaro pensasse que sua profissão de fé em Deus fosse mera hipocrisia, ou imaginasse que o Deus de Israel não era capaz de preservar Seus adoradores. Ele não conseguia convencer sua mente a apoiar-se em um exército de carne em uma questão tão evidentemente relacionado ao Senhor e, portanto, a caravana saiu sem proteção visível, guardada por Aquele que é a espada e o escudo de Seu povo. Devemos nos preocupar com o fato de que poucos cristãos sentem esse santo zelo por Deus; mesmo aqueles que em certa medida caminham na fé, ocasionalmente arruínam o brilho de sua vida ao almejar a ajuda de homens. É muito abençoador não ter acessórios ou esteios, mas colocar-se em pé na Rocha Eterna, sustentado somente pelo Senhor. Algum cristão buscaria doações para sua igreja, caso se lembrasse de que o Senhor é desonrado quando buscam o auxílio de César? Como se o Senhor não pudesse suprir as necessidades de Sua própria causa! Deveríamos correr tão apressadamente a amigos e relacionamentos pedindo ajuda, se nos lembrássemos de que o Senhor é magnificado por nossa confiança tácita em Seu braço solitário? Minh'alma, espere apenas no seu Deus. "Mas", alguém dirá: "não devo fazer uso de algum recurso?" Seguramente sim; mas nosso erro raramente está em negligenciar recursos; muito mais frequentemente erramos por tolamente acreditar nos recursos, em vez de crer em Deus. Poucos são os que negligenciam exageradamente o braço da criatura; mas muitos são os que pecam grandemente ao conceder-lhe grande importância. Aprenda, caro leitor, a glorificar o Senhor deixando recursos inutilizados se, ao utilizá-los, você desonrar o nome de Deus.
Charles Haddon Spurgeon - Dia a dia com Spurgeon, manhã e noite.
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sadico-aristocrata · 6 years
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Peixes em mercúrio
Nada do que você faça é, ou poderia deixar de ser, algo que não poderia já esperar.
Nada do que você fez ultimamente me tocou mais do que estapeou antes, e sempre tenderá a ser, cada vez mais, nada além de mais do mesmo que já me acostumei, e você nada mais pode acrescentar à construção do meu eu, nada mais.
Nada do que você tem feito foi, ou poderia ter sido, de forma diferente, pois trata-se somente daquilo que você é e o limite do que é capaz de oferecer. Da arte, da astúcia, do lixo e do clichê que você é capaz de oferecer.
Nada do que esperei de você um dia, ou espero ainda hoje, é factível ou real. Tenho plena consciência disso. Mas o que move o ser humano se não sua esperança em ser feliz?
Nada do que você vá fazer é surpreendente, porque suas lógicas e crises são bem humanas, humanamente circulares, e tal círculo sempre, sempre passa por mim alguns meses depois.
Parece tudo tão vazio vindo de você. Sorriso, toque, abraço, beijo, tudo. Olhando pra trás, tudo parece vazio e sem alma, como parece lógico ser, e tudo em mim se recorda de tudo com toda a alma e sentimento que possuo, sorriso, toque, abraço, beijo, tudo, tudo como se fosse ontem, como parece ilógico ser.
Sadico-aristocrata
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allisser · 6 years
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muitas vezes nos submetemos a 
situações inadmissíveis
por “necessidades” -que nos são impostas-.
podemos até chegar a reconhecer 
o quão esdrúxulas são
tais circunstâncias,
entretanto,
quando temos a oportunidade de
escapar,
reincidimos no erro,
pelo simples fato de acreditarmos
que aquilo é “normal”.
no fim das contas, 
clarice sempre esteve certa:
“A gente se acostuma, mas não devia.”
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