Tumgik
#ovelhas incandescentes
virgemaoscem · 4 months
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Um lado meu cansa de ser, embora seja, extremamente aberto. Mas em outro sentido: de que se move até a pessoa e logo se prontifica a muita coisa. Por algum motivo, achei que isso fosse bom e bonito necessariamente.
Há algo de encantador nas pessoas que se expõem. Que são sinceras, verdadeiras, transparentes. Elas podem aquecer o ambiente. Movem-se por princípios racionais e espirituais. Parecem planetas gasosos, estrelas incandescentes.
Guardei isso. E resolvi dar as costas. Porque ainda que veja todo o brilho, faço uma oposição. Preferiria ser o rei dos escorpiões ao rei dos leões. Veja como é oposição porque conserva uma unidade: a extravagância que reúne ao seu redor a possibilidade de protagonismo.
É uma dualidade. Fazer o necessário, fazer o possível. Ir até o outro, o outro vir até mim. Sorrir e autoelogiar-se, sorrir e ser elogiado. E eu tenho esta estranha sensação, este estranho brilho, esta estranha autoconfiança, uma espécie de cor amarelo-dourado ao redor. Atraí pessoas muito, muito íntimas com o mesmo dote. Três ou quatro, pra ser objetivo.
Com o tempo, senti-me alheio a este mesmo brilho. Meu cabelo escureceu e se alisou naturalmente. Foi-se embora o loiro e o cacheado. Fui ficando... estranho. Talvez porque quisesse fugir destas qualidades.
Me magoei bastante. Percebi o que ser o centro das atenções também pode causar. Vi uma série de pessoas no círculo do grupo, no círculo da relação. Parte deste brilho vinha forte e... auto-alienado de suas fontes. Parecia que a energia era sugada ao redor do centro e devolvida para quase todo mundo.
Quase... tem sempre aquele. Provavelmente, a oniVida me colocou aí pra aprender. Os que estão fora, estando dentro, são peças chave de qualquer unidade social. Eles carregam o piano nas costas pro pianista tocar.
Minhas experiências de violência escolar tiveram este padrão. Posteriormente, tornei-me estepe de figuras chaves em grupos. A mesma coisa, com suas especificidades naturais.
Mas, no fundo, era elas também. A ovelha está junto do lobo porque é lobo também.
Os dois são cansativos, os dois me levaram ao fim. Os dois colapsaram. Acho que é isso que queria fazer. Cortar a barba, a cabelo. Deixar esta dualidade pra trás. Revoluir a estrutura e vibrar melhor estando em ambas as posições: como satélite, como Sol. E talvez, no momento, seja esquecer um pouco essas coisas.
Esta paz veio com a partida para um lago, dia de neblina, percepção de que... somos todos girinos. Mesmos os mais velhos. O que quero dizer com isso, boa pergunta: mas é realidade.
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fairiesarebarefoot · 10 months
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E, mais uma vez, eu precisei deixar Cecília sair de alguma forma. Nem ao menos escrever eu conseguia, logo, ela teve de encontrar sua maneira de não implodir de vez. Confesso que finalmente me ver em tons carmins aliviou os mais masoquistas dos meus demônios.
São tantas coisas que me fazem afundar novamente nesse mar de covardes que já nem sei endereça-las propriamente. O que me traz conforto são os momentos que conseguem deixar minha mente inebriada. Se não for pela pele, que seja pela alucinação.
[...]
Tenho a sensação que toda vez que evito me colocar em palavras é porque temo confrontar o que Cecília insiste em me despejar. E a cada nota distorcida que inunda meu cérebro, menos respostas eu encontro pra tudo aquilo que perturba o que achei que era certo.
Desde quando eu nem era capaz de imaginar que Cecília existia, eu já negava veementemente que seria alguém comum. Costumava dizer pra mim mesma que daria um jeito, que faria do mundo um lugar não melhor, mas, ao menos, mais suportável. Hoje, já não sei julgar se era pretensão ou apenas ingenuidade de minha parte.
Mesmo tendo me tornado tudo aquilo que desprezava, sou grata a minha versão de dezesseis anos que encontrou nas palavras um reduto, um esconderijo de si mesma, o nascimento de Cecília. Não que ela não existisse, mas antes ela só se manifestava como a executora de mim. (Tenho tanto a escrever sobre ela, mas, ao mesmo tempo, tenho pavor.)
[...]
Mas o meu ódio hoje é direcionado a outrem. É para aqueles a quem me fazem olhar no espelho e encarar uma ovelha, não mais uma mulher. Sucumbi a eles em troca do meu direito de existir na mesma terra que enraíza os ipês que colorem o mundo.
Vendo meu corpo e minha mente, vendo todas as vezes que o Sol se levanta imperioso em um dia tão azul que apenas o inverno poderia proporcionar. Vendo também todas as vezes que esse mesmo Sol se banha em sua própria luz e colore seu fundo nos tons mais melancólicos e incandescentes que existem. Vendo a meia noite da Lua quando ela se torna cheia, fazendo com que nem que todas as luzes da cidade estejam mortas, as ruas ainda assim estariam iluminadas. Vendo todos os momentos que me dão vontade de continuar pisando nesse chão, mas todos os dias preciso me esquivar do fato de que apenas existo e me contento em viver apenas quando esse mar de covardes se abranda.
O que me resta é olhar pela janela e ser enfeitiçada pelo véu que o amanhecer gelado derrama pelo fim da noite. Eu ainda não quero mais ficar, mas já não quero ir embora. Enquanto não encontro uma resposta pra esse enigma suicida, me perco na fantasia de encontrar Cecília em chamas e finalmente a cumprimentar.
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vaemboranuvem · 7 years
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Um martelo, três pregos, um tronco de árvore e uma trave de madeira. Quando foi que ocorreu a um sujeito habilidoso girar um prego entre os dedos, desviar os olhos do prego a fim de olhar o martelo que golpeava com força a cabeça do prego e não ver mais à frente o trabalho de carpintaria, e sim um de seus irmãos pregados em uma cruz? Quem terá sido o primeiro pescador a nutrir a ideia de que seria ótimo cravar anzóis, grandes ou pequenos, na carne humana? Quem terá sido o ferreiro que ergueu pinças incandescentes da forja e foi tomado pelo desejo de com ela esmagar os seios de suas irmãs? Qual seria o nome do domador de cavalos a quem ocorreu a ideia de usar o açoite nas costas do menino de recados ou emprestar animais selvagens para que as autoridades dilacerassem os braços e as pernas dos viventes? Que naturalista enxerga na água e no fogo instrumentos para afogar e chamuscar o próximo, vê no vento e nos frutos da terra meios para fazer uma pessoa perecer sedenta ou envenenada? A quem ocorreu aproveitar todas essas coisas úteis para atormentar o próximo até a morte? Por que essas coisas se convertem tão facilmente em instrumentos letais nas mãos do homem? Por que é que uma faca não pode ser apenas um instrumento para entalhar madeira, desossar ovelhas ou colher angélicas? Por que razão a lâmina afiada do cutelo tem que sempre abrir caminho até a jugular de nossos irmãos? E como é possível que esses instrumentos assassinos retornem ao mundo das utilidades práticas?
SJÓN. Pela boca da baleia
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