Tumgik
#posso nem da um migué e nao ir
Vai lá, cuida das criancinhas, é fácil.
Sabe aquela música do Zeca Pagodinho que diz assim: "Eu já passei por quase tudo nessa vida..." não só passei por quase tudo, como já fiz de quase tudo também. Pq oooooooo muié cheia das profissão igual eu, não tem.
Já tive uns 10 tipos de trabalho diferente nesses quase 2 anos. O mais traumatizante, com certeza, foi o de babá. Aqui existe dois termos para as babás. 1° Aupair - nesse tipo de trabalho, a babá mora com a família. 2° Minder - nesse a babá mora na sua própria casa e recebe por hora. Como qualquer outro trabalho.
O tipo mais lasquera com certeza é o Aupair. Pq a gente fica escrava da família e ganha uma miséria. Qual foi o meu caso. Pra vocês terem uma idéia. Eu recebia 140 euro por semana pra trabalhar das 8 da manhã até as 6 da tarde. Ok, eu tinha casa e comida free, mas ainda assim era muito pouco. Comparando com a Minder, elas ganham no mínimo de 10 euro a hora e podem chegar até 15. Dependendo da experiência, se tem curso de primeiro socorros e dirige.
Mas primeiro deixa eu situar o pq fui ser aupair. Depois da confusão da escola, estava trabalhando em um restaurante paquistanês. Mas trabalhava só fim de semana, e a grana não dava pra nada. Quando chutei o balde na escola, pensei que seria interessante viver a cultura real do país e de quebra, melhorar meu inglês, morando com uma família irlandesa. Como não teria despesas e realmente estava mais interessada na experiência do que na grana, aceitei o trabalho com a família de duendes. Pq duendes? Eles fazem parte da cultura irlandesa, e acho apropriado para essa familiazinha. No começo tudo são flores. E isso vale para relacionamentos e trabalhos. A duende mãe foi me buscar em casa com a minha mudança, meu quarto na casa deles, era quase do tamanho do apartamento que eu estava morando. As crianças duendes me receberam com muitos abraços e desenhos de boas vindas. Até pensei, me dei bem agora... mas como diz o meu cunhado.. "errrrrrrouuu, pequeno gafanhoto." Logo eu fui vendo onde fui me meter. O meu trabalho era o seguinte, acordar as crianças, arrumar, dar café e o pai levaria pra escola. Enquanto eles estariam na escola, eu teria que arrumar a casa (sim) lavar as roupas da família (sim) e fazer a janta (aqui não se almoça, se janta. E isso pode ser a qualquer horário. As vezes as 3 da tarde eles estão jantando.) Depois disso eu teria que buscar as crianças (um menino e uma menina de 4 e 6 anos) na escola e ficar com eles até um dos pais chegarem. Beleza? Beleza! As crianças não eram anjinhos, estavam longe disso. Mas quando eles inventavam de não querer acordar e ir pra escola, ou não querer escovar os dentes ou pentear o cabelo ou esse uniforme é muito feio... era um inferno. A menina as vezes fazia birra e se trancava no quarto. Eu chamava uma vez, não quer sair do quarto? Ok, fica aí. Mas por mais terroristas que eles podiam ser, não passavam de crianças normais, que as vezes são umas pestes as vezes um amorzinho. O menino dizia que era meu namorado, me agarrava pelo pescoço e queria me beijar. Falava que eu tinha o melhor abraço do muuuundo. Hahahaha Irish é bicho estranho, quando são crianças são assim, depois que crescem, precisam estar podres de bêbados pra ter coragem de ir conversar com uma mulher. Tse, tse, unbelievable! O que costumo dizer quando conto essa história pra alguém, é que se todo o problema fossem as crianças não seria nada. Tudo beeeeemmm que hoje não posso nem ver uma criancinha correndo e gritando "mommy, mommy.." que me dá até um frio na espinha e tenho vontade de me esconder de baixo de alguma coisa. Tudo beeeemmm que deuzulivre, não quero ter filhos neemm a pau juvenal, socorro, vazei, isso não é pra mim não #mejulguem. Mas meu problema meeeexxxmo foi a família. Ou melhor, meu problema meeiixxmo, foi a mãe. Mãe duende, desgramada, filhote do capiroto. Na primeira semana que estava lá, meu primeiro fds de folga. Chega a mulambenta que nãotomavabanhoselimpavacomlencinhodebebe #prontofalei. Pergunta, "mas o que tu vai fazer no final de semana?" Acreditei em um interesse genuíno, sem interesses, apenas para saber quão bem adaptada estava eu a ilha verde. Eu disse, sábado vou sair com uns amigos -, mentira, eu tinha um date do tinder mesmo -. Mas no domingo não vou fazer nada não. O que ela disse? "Ahh, que bom. Então tu pode fazer um baby-sitter. (Baby-sitter é cuidar das crianças esporadicamente por algumas horas.) Mas eu não pago por Baby-sitter ok? Isso é incluso no salário semanal. Mas não precisa fazer nada não. Só deixa eles não TV e depois de uma hora manda eles dormirem." Sim, minha gente, eu iria trabalhar for free. Mas tudo bem, pq de fato só fiz isso, eles não davam trabalho pra ir pra cama, só pra sair dela. Hahahaha Ok, vida que segue. Duas semanas depois disso, ela vem e me fala. "Camila, eu e o pai duende vamos viajar por um final de semana. Tu pode ficar com as crianças duendes?" Ok, fico, sem problemas. "Ah, ótimo. Pode deixar que eu vou te pagar em horas off em dezembro, ok?" Ooooooooiiiiiieee? Tá doidona fiaa? Estávamos em setembro, ela não ia me pagar em dinheiro, mas sim em dias de folga em dezembro, dias esses que ela iria escolher. Simmm minha gente. A mulher devia ter tomado alguma droga forte. Eu teria que emendar duas semanas direto e não ia receber nem um Eurico extra. Fiquei me batendo de ódio, mas aceitei, estava ali não tinha nem um mês, tinha passado a minha vaga na minha casa, logo, não tinha pra onde ir se quisesse mandar a vaca pro inferno. Isso foi uma segunda feira, na sexta ela apareceu em casa dizendo, "Camila my dear, tenho más notícias pra ti." Pensei: kié, não vai me pagar pela a semana que tô trabalhando tbm, diaba? Ela disse: "A ala do hospital em que eu trabalho vai fechar (ela é enfermeira), já falei pro duende pai, que eu não vou trabalhar fora da minha área. Mas caaalma, vão confirmar isso segunda. Se isso acontecer, vou ficar em casa com as crianças e não vou mais precisar de ti depois de sexta." A primeira coisa que veio na minha cabeça foi... além de não saber que existe água e sabão pra tomar banho, também não sabe mentir, né o desgrama?! Maaageeente que hospital fecha uma ala durante o final de semana e na semana seguinte não tá mais funcionando? A pergunta me veio na ponta da língua de voltou: vai matar todos os pacientes? Bem tua cara, bruxa má. Como já estava ligada no migué da loka, na sexta mesmo comecei a procurar casa. E aí veio o segundo problema... não tinha casa. Encontrar um lugar pra morar em Dublin nunca foi fácil. Na crise que teve em 2008, afetou principalmente o setor imobiliário, e o país ainda continua meio bambo das pernas.
Em setembro de 2015 o negócio estava pior do que normalmente é. A imigração estava mudando as regras de visto para estudantes. Ao invés do visto de 1 ano, como era, o visto passou a ser de 8 meses. Muitos estudantes adiantaram a vinda pra ilha verde, pra conseguir pegar o visto de um ano. Isso gerou um pequeno caos, a cada vaga que aparecia, tinha no mínimo 20 pessoas querendo ela. Eu não ia conseguir casa em uma semana nem se eu fosse o Macgyver. A casa da família duende era mais afastada do centro, então todos os dias, depois do trabalho, lá ia eu pegar um ônibus e vir pro centro ver casa. Chegou a quinta feira da semana seguinte, último dia de trabalho, e eu ainda estava sem lugar pra mudar. No dia anterior eu tinha falado com ela, explicado a situação, e perguntado se eu poderia ficar até na segunda. Ela disse que não. Eu até poderia deixar minhas coisas pra buscar na segunda, mas teria que ir dormir na casa de amigos. Na quinta, enquanto as crianças estavam na escola, fiquei no Facebook olhando os grupos de aluguel e sites, pra quem sabe conseguir algo. Como sempre, eu deveria estar fazendo algum serviço de casa pra ela, não fiz! Ela estava cagando pra mim, não estava? Quando chegou em casa, eu disse que não tinha feito nada pq estava procurando lugar pra morar e ela não tinha me dado tempo suficiente pra achar uma casa. Ela me puxou em um canto e me deu o maior xingão. Disse que estava no horário dela, tinha que fazer as coisas dela. E que era mentira que ela não tinha me dado tempo pra achar um lugar. Até que abriu o jogo... disse, "quer saber pq estou te demitindo? Tu não está se doando 100% para os meus filhos. Eu perguntei pra minha filha o que tu fica fazendo quando se tranca no quarto, ela disse que tu fica no sofá mexendo no celular." Eu juro que não sabia se ria ou chorava da loucura da mulher. Ela estava me acusando de não ter sido uma boa mãe para os filhos dela. Naquela hora, eu já me considerava uma homeless (pessoa que mora na rua) de qualquer jeito, então eu concordava com tudo o que ela falava. Comecei a tratar como se ela fosse um paciente doente mental severo.. que estivesse dizendo que era Deus. Só concordava dizendo, "nossa, com certeza..." "ahh minha querida, não se preocupa não. Amanhã estou indo embora... " virei as costas e fui arrumar minhas coisas, enquanto pensava "Fudeu". Aí entra meu segundo anjo da guarda, que já perdi as contas de quantas vezes me salvou, Ana Paula Paiva. A Ana era minha roommate, antes de eu abandonar meu lar pra ir morar com aquela família lazarenta. Por sorte, o apê que eu morava com ela e com um paquistanês mercenário, tinha uma salinha. No dia seguinte, juntei as minhas tralhas pra ir embora. Ela nao tinha me pago ainda, mesmo depois de eu ter pedido. Tinha combinado com um brasileiro que fazia transfer, quase um Uber de interncambista de Dublin. E nada de ela me dar meu dinheiro. Fui pedir pela segunda vez, dizendo que o rapaz já estava chegando e eu precisava ir. Já te pago, My dear. Foi a resposta. Ela ia sair pra buscar o menino na escola. Veio até no meu quarto e disse. Eu vou te pagar só quando tu estiver indo, agora tô indo na escola buscar o moleque. Eu falei: mas o rapaz já tá chegando, eu preciso do meu dinheiro agora. Ok, então tu espera ele na rua com as tuas coisas e o teu dinheiro. Ou espera eu voltar, não quero ninguém entrando na minha casa. Eu optei por esperar na rua. Coloquei todas as minhas malas do lado de fora, quando sai ela foi dar uma geral no quarto.. quase perguntei se estava tudo lá. Quando o rapaz chegou, eu estava sentada na minha mala, na calçada esperando. Voltei para a minha antiga casa para dormir no chão da sala, até conseguir uma cama em um quarto, em outra casa...
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