Tumgik
#terceirização de perfumes
love-m-e-tender · 6 years
Text
Você consegue entender?
O dia começa sem tardar, e sem tardar, a realidade já puxa pra fora da cama. Vamos logo, sem embromação, coloque as calças, não se esqueça de abotoar. Em cima da estante pegue as chaves, opa, da outra. Agora a camiseta, não essa, aquela ali mesmo, isso, agora o desodorante. Não se esqueça de pagar o aluguel, pegue tudo que precisa e coloque na mochila/bolsa, vamos. Que beleza, o chão está sujo de novo e você se esqueceu de lavar as louças de ontem, não dá tempo de comer, rápido, feche a casa, há muitos roubos na vizinhança ultimamente. O que você está esperando? Ande logo.Chegou. Arruma essa postura. Bom dia. Opa. O meu intento faz do desconforto, novamente, sua guarnição. O espírito de época começa, em meu palco, a sua epopeia. Os vãos são lotados, e o cansaço já esvazia, e a metrópole já invade meus brônquios. Os ponteiros são atrasados, e os prazos apressam, e todos olham pra baixo. Ombros sobressaltados, hostis, tensionados, alertas e senis. A falta de pudor não tem poupado sequer os desconhecidos na rua. Paralização. Contramão. Terceirização. Balançar. Ligação. Promoção. Verticalização. Estagnar. Facção. Obrigação. Alienação. Globalização. Faturar. Utilizar. Manutenção. Remuneração. Gentrificação. Estacionar.  A procissão demora, e a janela continua travada. Não existe mais verde, e o amendoim sem casca é dois reais, e as pessoas se espremem, e há tão pouco espaço, nossos aperitivos são saturados e a nossa fome é tão espaçosa. Tão diferentes, do mesmo jeito, fome de transgênico, biodegradante. E nos banners se lê: "a vida tem um sabor que todos podem sentir. taste the feeling" E ela tem gosto de engarrafamento, congestionada em céu de monóxido de carbono, seco pela falta de palavras e de chuva quase o ano todo, com um resto de pasta no fundo da garganta. A mente divaga, e a sociedade já exige, curta, compartilhe, opine, divulgue, compre, conecte, atualize, troque, coma, exista, “Felicidade” de audiência. É proibido burlar a caverna digital. e o saudosismo - olha só, chegaste já há esta hora? - nos atiça, afinal de contas, as contas não costumavam ser tão altas, as lotéricas não eram tão escassas, as mochilas não pesavam tanto nas vértebras dos jovens e a velhice não pesava tanto nos ombros de quem já trabalhara tanto. Mas é assim que funcionam as coisas, ansiedade me queima nas sombras da selva de alvenaria. E funcionando desse jeito, insistindo no arquétipo, vivendo do enlatado, a gente pega no batente, engole a rotina pela suposta zona de conforto, o tempo segue sublimando, esquartejamento de segundo, escorrendo por entre os dedos, os músculos da face se congelando, monitorando cada passo, uma engrenagem dessa máquina que não quebra, suprimindo a rebeldia amordaçada, obsoleta, as ordens, invariáveis, inconcussas, incontestes, obedecendo, e os olhares, aos poucos, vão se descosturando. Sobre esse verniz da força do hábito, a gente se acostuma, teclando a nossa sentença, em ir se escorando do mesmo lado da mesa, sentando num mesmo rangido da cadeira, nos mesmos vértices da sala, com os mesmos perfumes, encarando as mesmas modernidades, lixando a mesma retina, absorvendo os mesmos teores nutricionais, ketchup e maionese? Conversando os mesmos barulhos, com as mesmas pessoas, projetando os mesmos futuros, andando pelos mesmos corredores, fingindo os mesmos fingimentos. “Tudo bem e você?” Reclamando dos mesmos problemas, dos mesmos desânimos, evitando as mesmas distâncias. Voltando pelos mesmos semáforos, namorando as mesmas liquidações, débito ou crédito? Esperando os mesmos finais de semanas, e sentir a mesma tranquilidade de sempre, volátil, efêmera, deitando do mesmo lado do lençol, com as mesmas horas de sono a mais, procrastinando no mesmo sofá ou espremendo os mesmos risos enferrujados, com as mesmas trivialidades e os mesmos drinks, ouvindo as mesmas músicas, tropeçando nos mesmos cantos, encomendando o mesmo sabor de pizza, com ou sem borda? Assistindo as mesmas séries, trocando as mesmas meias dúzias de mensagens com os mesmos velhos amigos, digerindo o mesmo silêncio, soluçando as mesmas ideias desconexas, medicando-se pras mesmas dores de cabeça. E quando começar a semana, a gente segue vivendo, vivendo do mesmo, a mesma mesmice. A sobremesa do refeitório foi, pela quarta vez nessa semana, monotonia, e é incrível como as pessoas seguem escolhendo, com tanto esmero, o que comer de fast food, sabendo que quase tudo neste cardápio possui o mesmo gosto. No final, é a vida que, em parcelas, com juros altos, vai se gastando, desgastando.
Lindo dia, não?
Ao chegar o fim de tarde, nesse mosaico da existência, me desmonto um pouco mais, a casa continua do jeito que estava, sou parte dela. O noticiário jantou comigo hoje, e num grito desesperado de socorro, confessou a mim tantas coisas, e falou, falou-me sobre a nova doença dos muros, e a invenção de novas doenças, falou-me sobre o lançamento, o tumulto nas lojas de liquidação, as travessias pelo mediterrâneo, a criança com o rosto ensanguentado, a diplomacia pela falta de diálogo, a doutrina pela falta de ceticismo. Falou-me sobre a paz fantasiada com fardas, armada, o medo fantasiado de ódio, intolerância, a mudez e a surdez diante das diferenças de sotaque e de fronteira, a distorção do credo, a condenação injusta, o perdão na ponta da lança, as costas viradas a quem suplica, a hipocrisia do discurso, pautado na potência vocal. Falou-me sobre os exercícios militares, as palavras acopladas em mísseis, o xadrez geopolítico, os tratados rasgados, a história renegada, o diálogo do terror, o paladar da incerteza, o terceiro mundo e existência de tantos outros mundos dentro de um só, todos igualmente esquecidos. Falou-me do contrabando, do superfaturamento, da greve, da bala perdida, da bancada, do vazamento, da periferia, do custo, do financiamento, da infraestrutura, da seca, do cartel, do latifúndio, da especulação, da fila, da falta, do abandono. Grande ironia, se o amor está no ar, a nossa miséria chega por ondas eletromagnéticas. Consolara-me também, falou sobre o serviço da dívida pública, a iniciativa privada, o establishment, as zonas de baixa pressão, o novo satélite descoberto, os gols da rodada, o campeão mundial, e a novela das nove (mesmo não assistindo). Até amanhã. A gente escuta tanta coisa durante o dia, sem entender nada. Eles sabem de tudo o que eu não sei.
Não. Não!
Pois eu sei.
Sim, eu sei! Eu sei que hoje consideram todo comportamento como patológico, sintomático, mas que a nossa verdadeira desgraça está em cultuar essas filosofias de frases prontas, fórmulas de sucesso rápido e personalidades agradáveis. Agradável? Ora, não quero agradar a nada e nem ninguém! Muito menos a sua proposta boçal de conduta robotizada. 
Não, eu não tenho o seu padrão de consumo, tampouco atingi a produtividade exigida. Não exerço pleno domínio aos riscos, coleciono luxações nos meus ossos do ofício. Não sou, não mereço e não quero ser exemplo de coisa alguma. Não sou nome de rua, praça ou biblioteca. Não me atraio pelos seus métodos de decadência sofisticada nem sou reconhecida no borbulhar dessa soberba. Não tenho todas as respostas engatilhadas na ponta da língua. Jamais troco meus ensaios pelas suas simulações. Não tenho os atributos requisitados. Não sou aquilo que querem que eu seja, sou aquilo que sou capaz de ser. Sou gente. E confesso que estou farta de semideuses fabricados. Reverencio somente o desdém que os pássaros e o ácido da chuva têm pelos seus bustos de granito barato. E sim, eu sei que ao lado do cemitério há uma floricultura 24 horas. E ao lado das flores, não restam muitas abelhas para contarem a história de um homem, que perdeu as estribeiras e colocou a si mesmo como medida de todas as coisas. Tolo, porque escolhera uma escala tão pequena? Não percebes que agora, nem mesmo seguindo os pontos cardeais, não conseguirás achar o caminho dos cômodos, nem deitará na cama satisfeito, repousando na plenitude do pertencer, e não possuir? Não percebe que as suas pegadas não ficarão marcadas no asfalto dessa rodovia? E que somente as reticências cravadas em sua garganta servirão de assinatura para uma obra prima não terminada e longe de ser considerada bela? Me nego, sim, me nego a ter revestimento de aço, racionar sentimentos, e mandar minha alma ao degredo, por isso ela ainda persiste. Me nego a penhorar toda a essência em troca de dias úteis e tempo hábil, para poder usufruir coisas de descarte programado, ter sonhos medíocres produzidos em massa, e descartar a mim mesma a cada manhã na frente do espelho. Me nego a ser isenta dessa contemporaneidade pueril, a viciar minhas causas na embriaguez dos "ismos", a ter que descer goela abaixo a ração indigesta do progresso, ser o círculo torto do compasso, encontrar apenas no vento seco um resquício de afeto, de contato, florescer o amor em vasos pequenos. Me nego a tratar dessa minha humanidade pulsante e completamente diferente do comum. Existem diversas mentes brilhantes, de diversas maneiras, e apesar de toda essa bagunça de palavras fibrilais e ranzinzas, minha mente é genial.  Voltando ao fim do dia...
Pois não? Olá, acho que você esqueceu isso hoje cedo. Ah... sim, eu acho que sim.
Bom, obrigada. De nada.
Preciso tomar banho, já é tarde. Um banho rápido, porque a estação é de estiagem, e frio, porque o resistor ainda tá queimado. Estou “viva”. Sinto a matéria, a água percorrendo minha pele. Gotejando. Coloco a toalha sobre a janela, não há nenhuma tabacaria, não fumo.  O despertador adormece. Boa noite, que neste céu de neblina, abaixo da ponte aérea, não caiam das sacadas muitas estrelas na avenida. O dia termina, sem nenhum minuto a mais, e por um minuto, sinto a vida tranquilizar um pouco do meu caos, pelo menos nos segundos em que pego no sono, consigo desacelerar minha mente e pensamentos diversificados, levando embora a ansiedade e depressão de carregar esse fardo de ser tão cheia, mentalmente falando. Calcular tudo que ocorre no seu dia é pesado, e o preço a se pagar também. 
2 notes · View notes
leilianelopes · 6 years
Link
0 notes
Photo
Tumblr media
PRECISANDO ENTREGAR PEQUENOS VOLUMES, CONTE COM O SERVIÇO DE ENTREGA RÁPIDA HC EXPRESS! 📲 27 3315.0132 | Solicite um orçamento. 📩 [email protected] 🏍💨🚛💨🏍💨🚛💨📦📦📦 CURTE www.facebook.com/hcprestadoraltda SIGA www.instagram.com/hcexpressmotoboy #delivery #logística #distribuição #entregarápida #caminhao #utilitários #moto #capixabadagema #terceirização #compartilhem #vendas #lojavirtual #cosmeticos #farmacias #marítimo #flores #arquitetura #revista #perfumes #ecommercebrasil #moda #farmaceutico #joias #calçados #mercado #estrategia #marketing #varejo #autopeças #atacadoonline
0 notes
Photo
Tumblr media
PRECISANDO ENTREGAR PEQUENOS VOLUMES, CONTE COM O SERVIÇO DE ENTREGA RÁPIDA HC EXPRESS! 📲 27 3315.0132 | Solicite um orçamento. 📩 [email protected] 🏍💨🚛💨🏍💨🚛💨📦📦📦 CURTE www.facebook.com/hcprestadoraltda SIGA www.instagram.com/hcexpressmotoboy #delivery #logística #distribuição #entregarápida #caminhao #utilitários #moto #capixabadagema #terceirização #compartilhem #vendas #lojavirtual #cosmeticos #farmacias #marítimo #flores #arquitetura #revista #perfumes #ecommercebrasil #moda #farmaceutico #joias #calçados #mercado #estrategia #marketing #tecnoologia #varejo #autopeças #atacadoonline
0 notes
Photo
Tumblr media
PRECISA ENTREGAR PEQUENOS VOLUMES? CONTE COM O SERVIÇO DE ENTREGA RÁPIDA HC EXPRESS! 📲 27 3315.0132 | Solicite um orçamento. 📩 [email protected] 🏍💨🚛💨🏍💨🚛💨📦📦📦 CURTE www.facebook.com/hcprestadoraltda SIGA www.instagram.com/hcexpressmotoboy #transporte #logística #distribuição #entregarápida #motoboy #utilitários #motobike #capixaba #terceirização #compartilhem #vendas #lojavirtual #cosmeticos #farmacia #laboratorio #flores #padaria #revista #perfumes #cestadecafedamanha #cosmetologia #farmaceutico #chocolate #mercado #estrategia #marketing #buquedeflores #varejo #autopeças #atacadoonline
0 notes