Tumgik
fuipraterapia · 4 years
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Sessões de Terapia
Chovia lá fora. Forte. Nós sentíamos o barulho quase ecoar pela sala. Eu conseguia ouvir a chuva ecoando em mim, o que fazia com que ecoasse na sala, porque era como se ela também estivesse vazia. Porque ainda não havia nada para ser dito. Ou era eu quem não queria mesmo dizer nada. Há vezes em que o medo de se entender fala mais alto do que a vontade de sair do lugar. Acho que ela sabia muito bem como era essa sensação. Então ela deixou que o silêncio tomasse conta do lugar por algum tempo. Eu estava pensando muito. Ou ao menos gostaria que ela achasse que estava pensando muito. A essa altura eu já me esquecera completamente dos assuntos anteriores. A minha cabeça costumava fazer isso. Quase como se me fizesse dar dois passos para trás quando eu tentava avançar para frente. 
Sinto que talvez ela tenha cansado. Não a minha cabeça. Mas ambas continuavam. Um olhar de curiosidade que se misturava com algum tipo de medo. Não sabia se era de mim. 
 Não havia música ali. Acho que gostaria que tivesse música. Lá estava eu, fugindo cada vez para um pouco mais longe de mim. 
- E então... - Ela teve uma ideia. Uma ideia que iria me arrancar alguma coisa, mas eu também tinha tido uma ideia.  
- Eu gosto da chuva. Do barulho, do barulho da chuva.
[senti que ela ia dizer alguma coisa. Mas completei.
- Ela ocupa o lugar dos silêncios constrangedores.
E mais uma vez, nós estávamos no horário. 
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fuipraterapia · 4 years
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Sessões de terapia.
A vontade que eu tenho é de ir contra a maré que eu fiz. Regredir aos bons tempos de sol e frio, longe de todos os pesadelos criados por mim. Voltando atrás de todos os planos, dos quais, no primeiro passo que não condisse com a dança, eu quis correr. Do que eu sou. Das coisas que eu criei. Eu me construo assim, pela fuga de todos os fracassos que eu fiz. É assim que o mundo desaba, todos os dias. O que me faz levar o copo de chá a boca na terapia para que assim, eu possa me distrair da vontade insistente de chorar enquanto admito coisas que eu profundamente não gostaria de admitir. Todos conhecemos essa sensação. Eu, por exemplo, me destabilizo do fracasso - dos mais simples de todos; construtores de avalanches inteiras. O choro vem por consequência.
—  O que eu pensei comigo mesma é que, quando todo o plano, a expectativa criada por você, começa a sair da linha... você se desespera.
A voz serena dizia. Era calmamente compreensiva porque, há algum tempo nos conhecemos bem. Todas elas costumam ter esse tom familiar. Ela não me culpa. Apenas me decifra. Decifra coisas que eu não gostaria de falar diretamente, mas que se encontram nas entrelinhas das histórias que eu conto.
Da frustração que transformei em mim.
Sobre o que eu sou. As coisas que eu criei.
nmk
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