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gracefulspring · 3 years
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[Novel] Watashi no Shiawase na Kekkon - Capítulo 1 - Português
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Capítulo 1: Me transformando em uma noiva
“Prazer em conhecê-lo, eu sou Saimori Miyo.”
Ela tentou o seu melhor para se prostrar tão lindamente quanto ela poderia no tatame.
...Era óbvio que ela era indesejada, não havia necessidade de confirmação. Contudo, ao menos ela não queria parecer indelicada.
“...”
O homem que poderia ser o seu marido em potencial manteve seus olhos nos livros em sua mesa. Como se ele não tivesse notado a presença dela.
Miyo manteve sua cabeça baixa, sem mover um único músculo até que ela ouvisse um som.
Infelizmente, ela estava acostumada a ser tratada dessa maneira. Negligenciada e ignorada. Além disso, ela sentiu que era mais apropriado para ela se portar desse jeito, ao invés de se comportar como se ela desejasse um primeiro encontro.
“Até quando você vai permanecer assim?”
Após um tempo, essas foram as palavras que vieram de cima da cabeça dela. Então, ela ergueu sua cabeça e encontrou os olhos dele pela primeira vez antes de curvar sua cabeça uma vez mais.
“Minhas mais profundas desculpas”
“... eu não pedi para você se desculpar”
O belo noivo suspirou e pediu que ela erguesse a cabeça.
Uma vez mais, Miyo pousou seus olhos em seu noivo, Kudou Kioka, um homem com beleza além da imaginação. Ele tinha a pele clara como porcelana, longos cabelos da cor clara do chá e um par de olhos azuis pálidos. Sua aparência geral era de clara coloração, combinada com aqueles traços delicados, dava a falsa ilusão de ele não ser um homem.
Ainda assim, haviam rumores sobre ele ser impiedoso e ter um coração frio - qualquer um de quem ele não gostasse seria descartado.
Porém, não se pode julgar um livro pela capa, Miyo pensou.
Ainda que fosse um fato que houvesse algumas mulheres que desistiram de se casar com ele num prazo de três dias. Miyo não tinha outra escolha. Ela não tinha um lar para onde retornar, nem um porto seguro para se esconder. Além disso, não importa o quanto sofrimento a aguardava no futuro, ela só podia permanecer nesse lugar.
                                                            ***
“O que é isso?!”
Shaa, um líquido quente caiu em sua face e peito.
Miyo enfiou a cabeça no chão sem gemer pela dor ou esboçar qualquer reação.
“Isso está muito amargo! Eu não posso beber um chá como esse!”
“Minhas mais profundas desculpas!”
“Refaça-o imediatamente!”
O chá deveria ter o mesmo gosto de sempre. Contudo, ela imediatamente compreendeu que era apenas sua meia-irmã sendo irracional enquanto ela se apressava para a cozinha como uma criada.
“Geez, você não consegue nem mesmo preparar chá propriamente. Você não tem vergonha?”
“Realmente, que visão horrível!”
Ela podia ouvir sua madrasta e sua meia-irmã a ridicularizando pelas costas, mas fingiu não ouvir nada. Enquanto isso, seu pai continuava com sua refeição sem se importar. As coisas já eram assim há muitos anos e Miyo já havia deixado de esperar qualquer coisa dele há tempos.
A família Saimori era uma bem conhecida família com uma longa história e Miyo era a sua primogênita.
A união entre seus pais havia sido de natureza política. Como a família Saimori era formada por pessoas com habilidades, esse casamento foi arranjado com a intenção de manter aquela linhagem única. O pai dela tinha uma amante na época, mas apesar do quão duro ele houvesse lutado contra, no fim ele não podia desafiar a decisão da família. Assim, relutantemente ele concordou em se casar com a mãe dela.
E assim, Miyo nasceu de um casamento sem amor.
No começo, Miyo certamente foi amada… provavelmente… Ainda que aquela memória fosse turva, ela ouviu que seu pai era muito gentil e que sua mãe a amava profundamente. No entanto, quando sua mãe morreu ainda jovem devido a uma doença e o pai dela se casou de novo com sua antiga amante, tudo mudou.
Sua madrasta a detestava por ser a filha da mulher que a havia separado de seu amante. Enquanto isso, o pai de Miyo se sentia culpado por ter concordado com o casamento arranjado, então ele não diria nada contra a madrasta dela. E talvez, a filha que o amor da vida dele lhe deu fosse mais adorável. Seguindo o nascimento e crescimento de sua meia-irmã, ele gradualmente deixou de se importar com Miyo.
Kaya, sua meia-irmã, era muito mais bela e bem-educada do que Miyo. Em adição, ela possuía a Visão Paranormal, coisa que Miyo não havia herdado. Não demorou muito para ela começar a olhar com desprezo para Miyo, junto com sua madrasta.
Miyo iria fazer dezenove anos esse ano. Se ela fosse uma senhorita de outra boa família, seria esperado que ela se casasse. Contudo, para Miyo que era tratada como uma criada, seu casamento era um assunto inexistente. Como ela não era paga pelo trabalho que fazia, ela não poderia deixar a casa mesmo que quisesse.
“Desculpe pela demora.”
Ela colocou o novo chá na mesa de Kaya. Sua meia-irmã não disse nada, mas sim bufou em resposta.
Miyo tinha certeza que ela viveria o resto de sua vida silenciosamente como uma criada. Assim ela tinha meio que desistido de tudo.
Uma vez que seu pai, madrasta e meia-irmã terminaram de tomar seu café-da-manhã, Miyo limparia tudo com os outros criados e depois iria varrer a área perto do portão principal.
Ela raramente fazia tarefas dentro da casa. O motivo era - se ela inadvertidamente encontrasse sua madrasta ou Kaya, elas começariam a lhe dar ordens e as coisas ficariam complicadas. Os outros criados também estavam conscientes disso. Talvez por preocupação com ela, Miyo era designada para lavar as roupas ou limpar a área externa.
“Olá.”
Miyo estava silenciosamente limpando a área externa quando um visitante veio no meio do dia, quando o Sol estava radiante.
“Ah… Olá, Kouji-san.”
Miyo se curvou para o jovem rapaz de sobrancelhas caídas e com um sorriso fraco em sua face.
Kouji era o segundo filho da família Tatsuishi. Como a família Saimori, a família Tatsuishi tinha uma longa linhagem composta de pessoas que haviam herdado habilidades especiais. Ele também era amigo de infância de Miyo e Kaya.
Acima de tudo, ele tratava Miyo como a filha da família Saimori. Ele era um homem gentil para quem valia a pena desnudar o coração.
“O clima está agradável e quente hoje.”
“Sim, é uma grande ajuda para secar as roupas rapidamente.”
Ele era a única pessoa com quem ela podia conversar assim agora. Ele havia tentado proteger Miyo diversas vezes desde que a família dela havia começado a tratá-la como uma criada. O resultado disso foi o Chefe da família Tatsuishi o repreendendo, “Não faça comentários sobre a família das outras pessoas.” Apesar disso, Miyo ainda o enxergava como amigo dela.
“Ah, isso é só uma pequena lembrança minha. Por favor aceite se você gostar.”
“... doces?”
Kouji lhe entregou uma caixa lindamente colorida.
“Isso mesmo. Eu sinto muito, são os doces ocidentais que estão na moda ultimamente. Eu ouvi que eles estragam facilmente.”
“Por favor não se desculpe. Muito obrigada. Eu vou dividi-los com os outros criados.”
“Un, por favor faça isso.”
Nesse ponto, Miyo subitamente notou que alguma coisa estava acontecendo.
“Há algo acontecendo hoje?”
A aparência de Kouji hoje parecia mais bem arrumada do que o normal. Era raro para ele vir vestido em um terno ocidental. Em resposta à pergunta de Miyo, a expressão de Kouji escureceu enquanto ele estranhamente desviava o olhar.
“Ah, um, bem… Eu tenho n-negócios importantes para tratar com seu pai.”
A atitude dele também estava diferente. Apesar dele ter uma personalidade um tanto quieta, ele era alguém que falava claramente. Enquanto Miyo inclinava sua cabeça levemente em confusão, Kouji se apressou para a mansão dizendo: “Eu vou vê-la mais tarde.”
Ela imediatamente imaginou o que poderia estar acontecendo. Mas rapidamente voltou a limpar, pensando que não tinha nada a ver com ela.
Miyo era a filha mais velha da família Saimori. Contudo, sua ascendência era tudo que ela tinha. Fora isso, ela não era bem-educada, não tinha talento nem boa aparência, ela não era diferente das filhas de famílias pobres. O mundo em que ela vivia não poderia ser mais diferente do de Kouji.
Após um tempo, uma criada saiu da mansão para chamar Miyo.
“Miyo-san, danna-sama¹ está chamando você.”
“Eh?”
“Ele disse para ir para a sala de estar imediatamente.”
“E-eu entendo.”
Por alguma razão, ela tinha um mal pressentimento e o sentimento de pavor instantâneamente encheu a mente dela.
Miyo que era normalmente tratada como uma criada, ou menos que isso, basicamente nunca era chamada para se encontrar com os convidados. Ela só poderia sentir horror ante uma situação fora do normal.
Ela estava zangada com suas pernas por tremerem incontrolavelmente, mas se endureceu e de algum jeito conseguiu chegar a sala de estar.
“Por favor me perdoem, aqui é Miyo.”
O pai dela respondeu com um “Entre”, através da porta de deslizar. A voz dele soava curta e dura, fazendo os dedos dela na porta ficarem frios com a ansiedade.
Na sala de estar, o pai dela e Kouji, sua madrasta e Kaya, sentavam juntos.
Como esperado, ela sentiu que algo ruim estava prestes a acontecer com ela. Mas ela escondeu seu medo sob uma máscara inexpressiva e se sentou longe de sua madrasta e meia-irmã, que estavam franzindo as sobrancelhas em desprazer. Então o pai dela abriu sua boca severamente.
“Essa ‘conversa’, não se trata de outra coisa senão de casamento e do futuro dessa casa. ...Miyo, eu acho que é melhor para você ouvir isso agora.”
Casamento.
Miyo foi pega de surpresa por essa palavra.
Medo e ansiedade emergiram em seu coração, e talvez uma ponta de esperança. Talvez, apenas talvez, ela pudesse deixar essa casa e encontrar um lugar para ela mesma em algum lugar lá fora -ela prontamente cortou aquela linha de pensamento. Não havia chance de algo assim acontecer. Um milagre tão conveniente.
Na silenciosa sala, a voz do pai dela ressoou claramente.
“A família Saimori decidiu adotar o Kouji como nosso genro… E será Kaya quem irá ajudar essa casa como esposa dele. Quanto a você...”
-Ah, como esperado.
Mesmo que ela devesse estar preparada para isso, ainda assim era como se um buraco negro tivesse se aberto a seus pés. Medo e desespero afligiram o coração dela. Enquanto o coração de Miyo se obscurecia, ela estava tão fora de si que sequer notou a orgulhosa face de vitória que Kaya tinha.
Já fazia um tempo que Miyo havia percebido as intenções de seu pai de tomar Kouji, o segundo filho da família Tatsuishi, como seu genro. E talvez por causa disso, sem que ela percebesse, uma fraca esperança havia brotado nela.
Talvez ela fosse capaz de se casar com o generoso e mente-aberta Kouji.
Talvez ela fosse permitida a assumir a posição de senhora da família Saimori.
Talvez Kaya se casasse fora da família em outro lugar, então Miyo não teria que viver o resto de sua vida sendo comparada com Kaya.
Talvez, um dia, ela fosse capaz de falar com o pai dela do jeito como eles faziam antes.
...Que estúpido da parte dela. Nenhuma dessas coisas jamais seria possível.
“Miyo, você vai se casar fora da família… A família na qual você estará se casando é a família Kudou. Com o chefe da família, Kudou Kiyoka-dono.”
Estava começando a ficar difícil para ela mesmo levantar a sua cabeça.Ela curvou sua cabeça profundamente até o chão e respondeu: “Sim.”
“Minha nossa! Isso não é ótimo? Você vai se casar naquela família Kudou.”
Kaya fingiu celebrar de propósito.
A família Kudou era de fato de um status mais alto do que ambas as famílias Saimori e Tatsuishi. A família Kudou era uma que ostentava quantidades impressionantes de ativos e influência. Contudo, o chefe da família, Kudou Kiyoka, era conhecido por ser uma pessoa cruel e impiedosa. Quanto ao casamento dele, haviam rumores de que muitas mulheres de boas famílias fugiram após três dias na companhia dele.
Ainda assim o pai dela lhe dizia para se casar com tal homem. Uma vez que Miyo deixasse a casa, eles provavelmente não a deixariam colocar os pés nas terras dos Saimori nunca mais.
Miyo sabia bem que não havia forma de seu compromisso com o chefe da família Kudou sair bem, desde que ela nem mesmo havia atendido uma escola para meninas.
“É muito desperdício para alguém tão inútil quanto você, mas seria falta de educação recusar.”
A madrasta dela parecia muito feliz. Miyo sabia claramente o quão desagradável ela era para sua madrasta.
“Ah, é claro, eu não vou permitir que você se recuse… Vá empacotar suas coisas imediatamente. Quando você terminar de empacotar, você seguirá para a residência Kudou.”
Ela não podia dar voz a quaisquer objeções.
Miyo havia pensado que talvez as coisas ficariam mais fáceis para ela quando ela deixasse a casa Saimori. Porém, com a família com a qual ela estaria se casando sendo a Kudou, era melhor não criar nenhuma expectativa.
Ela provavelmente seria expulsa de lá ou morta pelo noivo que segundo rumores era cruel. Na verdade, poderia ser melhor se ela ainda fosse ser tratada como uma criada.
De qualquer jeito, o futuro na mente de Miyo era desolador.
“Miyo.”
Após deixar a sala de estar com uma desculpa, Miyo foi chamada por trás por Kouji que a perseguia.
“Kouji-san?”
Quando ela se virou, Kouji parecia mais estranho do que nunca enquanto sua face se desfigurava com dor.
“Eu sinto muito, por ser tão… inútil. No fim, eu não pude fazer nada… mesmo agora, o que eu deveria dizer…”
“Você não tem nada pelo que se desculpar, Kouji-san. Eu simplesmente fui azarada, isso é tudo.”
Miyo tentou assegurá-lo com um sorriso, mas não conseguiu fazê-lo pois seus músculos faciais tinham endurecido.
Parando para pensar nisso, quando foi a última vez que ela havia sorrido?
“Não se trata… de sorte.”
“Não importa… Eu não estou particularmente preocupada sobre isso, desde que talvez eu seja mais feliz na casa do meu noivo.”
Palavras que nem mesmo haviam passado pela cabeça dela escorregaram por seus lábios desintencionalmente, quase como se fosse para serem ouvidas por outros.
“... Você não se ressente de mim?”
Kouji disse com uma expressão de quem está à beira das lágrimas.
Por algum motivo, ele esperava que Miyo fosse criticá-lo, perguntar por que ele não a havia salvado.
Contudo, Miyo não podia se permitir preocupação por ele no atual momento.
“Eu não culpo você. Há muito tempo eu me esqueci de sentimentos como ressentimento.”
“... Eu sinto muito. Eu realmente sinto. Eu queria te ajudar e rir com você normalmente, como nós costumávamos fazer. Eu… por você -”
“Kouji-san”
Era Kaya quem veio por trás e chamou o nome dele.
“Sobre o que vocês estão conversando?”
“... Ah”
Kouji mordeu os lábios enquanto engolia suas palavras. O sorriso de Kaya era lindo, mas parecia que estava misturado com um terrível veneno.
“N-nada.”
Como alguém de uma prestigiada família, ele era tanto capaz quanto de boa aparência. E isso era provavelmente a única fraqueza dele: Kouji era tímido porque ele era muito gentil.
Se ele desse voz a suas opiniões nessa situação, ele definitivamente machucaria ou Kaya ou Miyo. Precisamente porque ele entendia isso, ele escolheu permanecer em silêncio.
Miyo não sabia o que ele estivera prestes a dizer. De qualquer forma, ela não queria saber.
Para alguém tão gentil quanto ele, mesmo que ele nunca tivesse abordado a raiz do problema, ele a havia salvado muitas vezes.
“... Kouji-san”
“Miyo… ?”
“Obrigada por tudo que você fez por mim até agora.”
Isso era tudo que Miyo podia dizer no momento.
Não havia mais volta.
Miyo não parecia conseguir dormir naquela noite.
O quarto dela já estava vazio. Depois de empacotar seus poucos pertences, não havia restado nada.
Todos os kimonos deixados por sua mãe haviam sido jogados fora ou tirados dela por sua madrasta ou sua meia-irmã. Todos os outros acessórios de valor também…
Tudo o que ela tinha em seu nome era o seu corpo e roupas de criada bem como roupas casuais que seus colegas de trabalho haviam lhe dado. Ela também tinha um fino conjunto de kimono que seu pai havia lhe dado. Aparentemente, se ela fosse para a casa Kudou vestida de forma inapropriada, isso danificaria a reputação da família Saimori.
Foi nesse ponto que ela foi finalmente convencida. Seu pai sabia o tempo todo que ela não tinha nenhuma roupa decente, e ainda assim ele escolheu fazer vista grossa para isso.
Quando ela não pôde pegar no sono no fino futon com o qual ela havia se acostumado, de alguma forma, suas memórias lampejavam através de seus olhos como luzes de corrida.
Memórias felizes estavam fora de alcance. Tudo o que ela tinha eram memórias de dor. Ela não esperava que amanhã fosse um dia melhor, que a felicidade viria a partir de amanhã. Miyo só foi dormir, esperando que sua vida acabasse logo. Isso é tudo.
Era como se ela estivesse indo ao encontro de sua morte.
Ela queria zombar de seus próprios pensamentos, mas ela não podia fazer nem mesmo isso.
Fonte: Lilies are Flowers
Tradução: Graceful Spring
Notas:
[1]"Danna" pode significar tanto "mestre" quanto "marido", aqui foi empregado no sentido de "mestre".
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gracefulspring · 4 years
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[Novel] Heavy Sweetness: Ash-Like Frost - Prólogo - Português
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Prólogo: A Origem da Morte Prematura da Flor
A lua fria iluminava a mais escura noite, na descida da geada[1].
No palácio das Cem Flores, as vinte e quatro damas florais se ajoelharam nos ladrilhos brilhantemente coloridos do grande salão, uma após a outra. Elas prenderam suas respirações, observando com extrema atenção. Uma rajada de brisa noturna passou, as sombras das árvores de fora oscilaram, espalhando o luar. No meio do salão, uma cortina translúcida da cor da água oscilou levemente, enquanto a pessoa por trás respirava debilmente.
Aquela mulher estava deitada de lado, coberta pelo acolchoado colorido de nuvem em sua cama. Seu grampo de cabelo era um ramo de ameixa negra, seus olhos se moveram levemente, meio abertos e meio fechados. Seus traços faciais eram inigualáveis, ainda que ela estivesse pálida e muito magra, sua expressão e porte eram refinados, o que fazia com que os outros fossem incapazes de desviar o olhar. Uma neblina branca do luar se espalhou sobre sua testa levemente franzida.
De repente, a respiração dela ficou apressada, o persistente aroma no grande salão gradualmente se tornou mais forte com cada respiração dela, o aroma coletivo de mil flores desabrochando de uma vez. O aroma se tornou mais e mais forte, e as vinte e quatro damas florais, que haviam se prostrado, correndo o risco de quebrar a etiqueta levantaram suas cabeças, uma após a outra. Elas olharam para a cortina, incapazes de esconder a preocupação em suas faces, mas não se atreveram a fazer um único som.
Magnólias, flores de damasco, jasmim, cássia, rosas mudança, camélias japonesas, lótus e rosas… Atrás da cortina de dossel, mil flores diferentes se apressaram em florescer, mas estas estavam rapidamente murchando, suas pétalas caindo em torrente, inundando o salão num mar de flores. A cena era ao mesmo tempo resplandecente e desamparada.
Após a queda da última pétala da flor de narciso, a flor de ameixa carmesim do inverno floresceu em pleno esplendor; porém suas pétalas, também, logo caíram. Após a última gota de vermelho relutantemente descer até o mar de flores, a mulher sob o dossel estremeceu, então tossiu um bocado de sangue. Uma flor de gelo apareceu entre suas sobrancelhas. Logo se transformou em uma gota de um claro cristal roxo, o qual a mulher apertou com seus dedos translúcidos, trazendo-a até o seu peito.
Em um instante, o cristal se transformou em um recém nascido.
“Alteza!” Mu Dan[2] chorou, então abriu a cortina para se ajoelhar perante a cama. Ela estendeu a mão para pegar o bebê que dormia profundamente com seus olhos fechados. Então olhando para a mulher estendida na cama, cuja face estava rapidamente perdendo toda a cor, não pôde mais conter as lágrimas de rolarem por suas faces.
“Me prometam isso,” disse a mulher. “De hoje em diante, a identidade da minha filha deve ser escondida para sempre. Quem quer que a revele deverá ter sua alma completamente destruída!” A respiração da mulher na cama estava muito fraca, sua voz não era alta, mas ainda retinha um tipo de força e dignidade. 
“Nós prometemos, Alteza! Seus subordinados irão obedecer o seu decreto! Se quebrarmos nossa promessa, destruiremos nossa própria alma!” As vinte e quatro damas florais, incluindo Mu Dan, que ainda segurava o bebê, curvaram-se respeitosamente.
A mulher na cama olhou para aquelas que haviam feito tal juramento com lágrimas cintilando por baixo de suas pálpebras, como se estivesse aliviada: “Eu me sinto muito confortada. Todos, levantem-se. Mu Dan, venha aqui”. Ela ergueu sua mão e acenou fracamente, fazendo as pétalas de flor dançarem com o movimento.
Mu Dan segurou o bebê e se aproximou da cama. “Alteza?”.
“Faça-a engolir isto.” A mulher colocou uma pílula carmesim em sua mão. Mu Dan obedeceu e a colocou na boca do bebê, usando orvalho para ajudar o bebê a engoli-la. 
A magra face da mulher mostrou um sorriso aliviado, tão leve que era difícil de perceber: “Essa é a Pílula da Insensibilidade. Quem quer que a tome será desprovido de qualquer afeição ou amor.”
A respiração de Mu Dan contraiu-se ao ouvir isso. “Alteza, isso…”
“Sem sentimentos, ela será forte, e sem amor, sua vida será livre e fácil. Essa é a maior benção que posso lhe dar. Minha criança não pode ser como eu fui…” Como se sofrendo imensa dor, sua fronte subitamente se franziu, e com sua pálida e fraca mão cobriu seu coração.
“Alteza!”
A mulher lentamente expirou: “Não importa. Hoje é a descida da geada?”
“Sim.” Ding Xiang[3] respondeu da extremidade da cama.
A expressão nos olhos da mulher ficou obscura, como se ela estivesse imersa em memórias. Após ter estado em silêncio por um momento, ela acariciou as bochechas como pétalas de flor do bebê e fracamente abriu sua boca: “O nome dela será ‘Jin Mi’.”
“Sim! Nos regozijamos com o nascimento da jovem deusa Jin Mi!” Exclamaram as vinte e quatro damas florais, se curvando graciosamente.
“Não tem necessidade. Ela não será nenhuma deusa, e depois que minha alma for desintegrada, eu peço que nunca a coroem como a nova Deusa Floral.” Ela acenou com a mão, os braceletes de jade em seus pulsos tilintavam como o som do sussurro da chuva, leve e livre. Ela sorriu tristemente e disse: “Uma fada despreocupada será o bastante.”
“Alteza, por favor reconsidere. Você deixaria nosso reino sem um mestre?” Xing Hua[4] exclamou preocupadamente.
“Eu já me decidi. Depois que eu me for, as vinte e quatro de vocês irão fazer turnos na administração das flores e na direção das quatro estações.” A respiração da mulher estava tênue e fraca, porém a resolução em sua voz não deixava espaço para argumentos. Ouvindo a palavra “vão” vinda de sua boca, ninguém teve coragem de questioná-la. Elas responderam “sim!” em uníssono, algumas vozes engasgadas com as lágrimas.
“Prendam Jin Mi dentro do Espelho D’Água[5],” a mulher continuou, “e não permitam que ela deixe o Reino Floral pelos próximos dez mil anos.”
Pelos cálculos da deusa, Jin Mi estava destinada a sofrer uma provação dentro dos próximos dez mil anos. Mesmo que ela já tivesse dado a Pílula da Insensibilidade para Jin Mi, ela ainda se sentia inquieta. Porém prender Jin Mi dentro do Espelho D’Água, protegida por uma barreira encantada, certamente a manteria segura da provação do amor certo? Com esse pensamento, os lábios da mulher se curvaram em um sorriso e seus brilhantes olhos lentamente se fecharam…
E assim, na primeira geada do ano 208.612, a Deusa Floral, Zi Fen, morreu e cem tipos de flores morreram com ela.
Ainda assim, na mesmíssima noite, a Corte Celestial celebrou com um banquete a união do Deus da Água, Luo Lin, com a Deusa do Vento, Lin Xiu…
O Reino Floral fez luto pela perda de sua Deusa; pelos 10 anos seguintes, nenhuma flor floresceu. Somente com a passagem desses 10 anos o mundo lentamente readquiriu suas cores.
A grama do Outono cresceu ano após ano; o Sol se pôs dia após dia. Num piscar de olhos, 4.000 anos haviam se passado.
Durante este tempo, os oceanos se transformaram em campos, os campos viraram oceanos, e assim por diante. Gradualmente, as mudanças feitas pelo tempo perderam sua novidade. Os deuses nos céus foram para a corte e atenderam a seus negócios. Seus dias passaram pacificamente, num sentimento de tédio.
Todos secretamente desejam que algo extraordinário acontecesse. E então, seus desejos se transformaram em realidade. O Imperador Celestial perdeu o seu filho.
No ano 212.612, o filho do Imperador, Fênix, estava se banhando nas Chamas de Nirvana -queimando por 49 dias nas chamas dos ramos sicômoro -quando de repente, as chamas foram extintas e Fênix, o Deus do Fogo, desapareceu sem deixar um único traço.
O Imperador estava furioso.
Tradução: Graceful Spring
Fonte: Read Light Novel | From the Eye of the Snail
OBS.: Fiz a tradução com duas fontes para tentar deixar a obra com o máximo de detalhes da forma mais inteligível possível.
Notas:
[1] Em chinês “Shuang Jing”. Segundo tradicional calendário chinês, corresponde ao 18º dos 24 termos solares, sendo o último termo do Outono, caindo aproximadamente em 23 de Outubro. Mais info (inglês): http://www.tju.edu.cn/english/info/1012/1159.htm
[2] Peônia
[3] Lilás
[4] Flor de Damasco
[5] NT-Graceful: Vou assumir a tradução adotada na série “Ashes of Love”, espelho d’água (em chinês, “shui jing”), mas a tradução segundo dicionário é “poço d’água”. Mais info (inglês): https://chinese.yabla.com/chinese-english-pinyin-dictionary.php?define=shui+jing
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