Tumgik
imapochemuchka · 1 month
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Desculpa, Pedro!
Eu me lembro direitinho do primeiro dia que o vi.
Estava numa escola nova, conversando com os novos colegas na porta da sala enquanto esperávamos o professor.
O carnaval tinha acabado de passar e os meninos estavam numa brincadeira besta de dar notas 10 para todas as meninas que passavam por nós.
Investida no meu papel de menina muito madura, balancei a cabeça em negação e olhei para o outro lado.
E lá estava ele sorrindo com os amigos.
Alguém chamou seu nome e eu registrei na memória: Pedro.
Não estávamos na mesma turma, ele era repetente, mas as portas das salas eram próximas o suficiente para que nós nos víssemos todos os dias. Em silêncio.
Tenho uma amiga que diz que sou uma pessoa apaixonada.
E não só no sentido de se apaixonar por alguém, mas por tudo.
Acho que sempre fui assim.
Sempre estive apaixonada por alguma coisa.
Mas foi com Pedro que eu descobri que talvez alguém pudesse se apaixonar por mim também.
De todas as paixões até os 12 anos de idade, ele tinha sido a única, até então, com quem eu trocava olhares.
No meu coração de criança isso já dizia coisa pra caramba.
O tempo foi passando e nós caímos na mesma equipe da gincana da escola.
“Teremos uma dança! Quem vai querer participar?”, perguntou a professora responsável.
Eu, que não sou nada aparecida e nunca gostei dessas coisas (rs), me prontifiquei imediatamente.
Para minha surpresa, quem estava lá no ensaio?
Pedro.
E então tínhamos algo em comum, algo sobre o que conversar.
Quando dei por mim, estávamos sentados lado a lado com nossos joelhos se tocando.
Isso pra mim foi o máximo. 
Crianças!
Se eu fechar os olhos agora, sou capaz de sentir a mesma coisa que senti naquele momento.
E não passava disso.
Sorriamos um pro outro.
Sempre estávamos atentos às danças um do outro.
Eu o assistia dançar Akon, enquanto era assistida dançando Katy Perry.
Quando contei para as minhas amigas que estava gostando dele, elas me disseram que a gente combinava muito, pois éramos dois morenos, baixinhos, bundudos e de cabelos cacheados.
Aos 12 anos isso era coisa demais pra mim, então eu tinha certeza que sermos tão parecidos devia ser um sinal de que ficaríamos juntos para sempre.
Imaginava nosso futuro enquanto assistia ele jogar bola na quadra da escola, correndo atrás da bola como o Naruto, com as mãos para trás.
Eu sei, patético!
Mas eu era uma criança, me deem um desconto!
No dia da gincana eu estava super feliz. 
Tinha tudo pra dar tudo certo.
Não deu.
Pedro tentou me beijar e eu o afastei dizendo que não faria aquilo.
“É nojento”, eu falei olhando ele nos olhos.
Ele se afastou sem dizer nada e, quando dei por mim, estava beijando outra menina.
Tenho sentimentos conflitantes com relação a esse momento.
Ao mesmo tempo em que me arrependo de não ter passado por cima dessa “frescura”, fico muito feliz por ter respeitado os meus limites.
Minha mãe me criou na base da conversa, então achei que valia a pena falar com ele sobre como eu tinha me sentido naquela noite.
Tudo em nome dos vários dias de troca de olhares e joelhos encostando.
Escrevi uma carta pra ele.
Talvez essa tenha sido a primeira de milhares de cartas que eu já escrevi na vida.
Porém, com certeza é a única que, não só chegou ao remetente, como teve uma resposta.
Uma resposta que eu nunca li.
“Você é nova demais para essas coisas”, disse minha mãe quando descobriu a carta que escrevi para Pedro antes de entregá-la.
Quis evitar o desgaste e não peguei a resposta que ele me estendeu na saída da escola.
E nós não nos falamos mais.
Não nos vimos mais.
E talvez esse seja o maior arrependimento que eu tenho na minha vida.
Não ter pegado a maldita carta.
Não dá para esperar que estivessem escritas palavras profundas naquele papel.
Ele era um menino de 14 anos.
Talvez ele tenha aberto seu coração, mas também pode ser que ele só tenha sido um menino de 14 anos que quer contar vantagem.
Nunca saberemos.
Recentemente busquei por Pedro.
Não há nada de novo nas redes sociais há mais de 10 anos.
Mas apesar de parecer que me lembro dessa história com dor ou chateação, isso não é a realidade.
Me pego sorrindo para a tela do computador enquanto me lembro daqueles meses.
E convenhamos que a menina que você tá afim falar que seu beijo é nojento não é uma boa coisa de se ouvir.
Se algum dia isso chegar em você:
Desculpa, Pedro!
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imapochemuchka · 7 months
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Domesticação
Certo dia fui tentar voar e caí do ninho.
Doeu, é claro, mas eu não sou do tipo que desiste fácil.
Tirei a poeira das penas e estava pronta para tentar de novo.
Mas antes disso era preciso que eu descobrisse outra forma de chegar lá em cima.
Sabe como é, eu não tinha muita prática nisso e estar lá em cima facilitava bastante as coisas.
E enquanto eu conversava comigo mesma um rapaz se aproximou e notou minha presença desajeitada no chão, ao pé da árvore que eu chamava de lar.
Ele se agachou e estendeu a mão.
Por um instante eu pensei que talvez ele pudesse ler minha mente.
Que talvez pudéssemos nos comunicar.
Parecia que ele sabia que eu queria sair do chão, mas não sabia como.
Eu não estava em condições de recusar ajuda, mas quando fiz menção de ir na direção de sua mão — que caberiam duas de mim com tranquilidade — algo me parou.
Uma dor lancinante.
Tinha me machucado na queda e nem tinha me dado conta.
Percebendo isso, delicadamente, ele me pegou em suas mãos e disse algo que imaginei estar relacionado a cuidado.
Depois de alguns instantes estávamos no ninho dele.
Quer dizer, casa. É assim que os humanos chamam seus ninhos, se eu não me engano.
Ainda comigo em mãos ele vasculhava todos os armários em busca de algo.
Quando encontrou o que queria, jogou tudo sobre a mesa e me colocou dentro.
Uma caixa de sapatos.
O conforto ali não era nem próximo do que eu tinha no meu ninho, mas, dadas as circunstâncias, não me vi no direito de reclamar.
Eu podia me acostumar com aquilo.
O sol e a lua trocaram de lugar no céu algumas vezes e, na companhia daquele humano, eu fui melhorando.
Eu sentia falta de diversas coisas do ar livre, mas ser cuidada por ele estava sendo bom.
A casa era grande, mas o nosso mundo era a caixa de sapatos.
Era onde ele conversava comigo algumas vezes no dia.
Ali estava bom também, eu conseguia desfrutar de um pouco de luz solar, sentir a brisa que entrava pela fresta da janela — que ele deixava assim para evitar que eu tentasse me jogar de lá também — e assistir a chuva molhando toda a cidade.
Demorou alguns dias, mas, em certa tarde de céu azul, eu me senti plenamente recuperada.
Eu ouvia vozes vindas de outros cômodos da casa e, curiosa, resolvi deixar a caixa.
Lembre-se que eu ainda não sabia voar.
Tive dificuldade para sair, mas, uma vez no chão, passei a explorar os longos corredores.
Piei duas vezes e as vozes cessaram.
Não demorou muito e ele veio ao meu encontro.
Me tomou nas mãos e me levou para o lugar de onde todas aquelas vozes vinham.
Eram outros humanos.
E ficaram felizes em me ver!
Me senti corajosa e quis impressionar.
A janela daquela sala estava completamente aberta.
A brisa fresca foi altamente convidativa.
Voei.
Ou quase isso.
Ele veio ao meu encontro rapidamente e se certificou que não havia nada de errado comigo.
O tapete era macio.
Um outro humano correu para fechar a janela.
Rapidamente eu fui devolvida a caixa de sapatos e lá fiquei, já que a porta do quarto havia sido fechada.
No dia seguinte ele me tirou do quarto.
Mas para me por numa gaiola.
Disse que era melhor assim.
Não se sentia pronto em me dividir com o mundo.
Lá eu fiquei por vários dias e noites.
No começo eu cantava quase que direto para me distrair.
É fato que ficar na varanda — sim era um apartamento, mas eu só descobri depois da mudança para a gaiola — era bem melhor que ficar no quarto, tinha mais coisas para ver.
Mas na caixa de sapatos eu ainda tinha um pouco mais de liberdade...
Liberdade.
Algo estranho despertou dentro de mim.
Comecei a me debater dentro da gaiola tentando sair.
Ele dizia que era melhor assim.
E com o tempo ele me convenceu de que ali era bom.
Uma vez eu o ouvi dizer que era mais seguro que eu ficasse ali, que assim ele podia me ajudar quando eu precisasse.
Tentei me acalmar.
Parei de lutar.
Mas também parei de cantar.
Tudo realmente perdeu o sentido quando me dei conta de que não era livre.
Que jamais seria livre novamente.
Um dia então, do nada, ele abriu a porta da gaiola.
E deixou aberta.
Pra sempre.
Me disse que eu estava livre para ir.
Eu estava curada daquela queda de meses atrás e não me ouvir cantar fez com que tudo aquilo perdesse o sentido pra ele também.
Mas completou dizendo que a sua vida não seria mais a mesma se eu não estivesse nela.
Demorou até que eu tivesse coragem para sair da gaiola.
Saí.
Voei!
Porém, não conseguia ir muito longe.
Logo estava de volta na grade da varanda.
Ele me via ali e tratava de reforçar o quanto a minha presença era importante.
O quanto ele sentia minha falta.
E eu me alegrava!
Cantava a plenos pulmões!
E a gaiola se fechava.
Alguns dias depois estava aberta novamente.
Como se estivesse cansado de me ouvir ou de ter que trocar a água frequentemente nos dias de calor.
E então eu voava para as árvores da vizinhança.
O ciclo se repetia constantemente.
Era quase como se ele quisesse provar o controle que tinha sobre mim.
Domesticação.
Me tinha por perto quando ele queria e dava sinais para que eu me retirasse quando já não suportasse ouvir o meu canto.
Com o tempo, minhas visitas passaram a ser em nome dos velhos tempos.
Como forma de gratidão a ajuda oferecida depois do meu desastroso primeiro voo.
Mas assim como ficar presa na gaiola, esses retornos deixaram de fazer sentido.
Nos vários voos e lugares que conheci, eu pude conhecer novos horizontes.
Novos afetos.
Novas pessoas que gostavam de me ouvir cantar e que jamais me prenderiam num quarto dentro de uma caixa de sapatos ou numa gaiola.
Tempos depois nos esbarramos em um parque bastante distante da casa dele.
Foi simpático.
Mas não agiu como se nada tivesse acontecido.
Muito pelo contrário.
Estava gentil de uma forma exacerbada.
Milhões de vezes mais interessado em falar sobre si e saber de mim como jamais estivera.
Estava tentando fazer amizade, como dizem por aí.
Quase caí no conto do vigário.
Mas bastou um simples movimento dele, uma mínima demonstração de tentativa de controle e eu me recordei de que a única pessoa que tinha poder sobre mim agora, era eu mesma.
Bati as asas para longe dali.
Voei.
E nunca mais voltei.
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imapochemuchka · 9 months
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Lembranças
A luz da cidade era a única coisa que iluminava todo o apartamento.
Não tem nada a ver com economia ou preocupações com o meio ambiente.
É só um jeito de fugir de mim mesmo nos lugares onde posso me ver refletido, desde o espelho na porta do quarto principal, até a porta do micro-ondas na cozinha. 
Eu não queria me ver.
Vergonha de mim mesmo talvez.
De não ter conseguido ser verdadeiro comigo e com ela.
Ainda deitado de barriga pra baixo no tapete da sala de estar, peguei o celular e conferi as horas. 
21:45.
Mais 15 minutos e ela chegaria em casa.
Será que era um bom momento para ligar?
Ou eu devo esperar até que ela consiga entrar em casa, lavar as mãos e trocar de roupa, como sempre a vi fazer quando a acompanhava até lá?
Cansei de vê-la repetir essa rotina quando saíamos de algum bar e continuávamos o rolê na casa dela com nossos amigos. 
Era sempre assim.
Tudo seguia um script.
E eu só me dei conta da quantidade de hábitos e manias que eu sei dela quando ela não quis mais falar comigo.
Erro meu, claro.
Era sexta-feira e como sempre, nos encontrávamos todos na mesma estação do metrô para irmos juntos ao nosso bar favorito, que ficava ao lado da faculdade em que nos formamos anos atrás. 
Não éramos do mesmo curso, nem nada, mas acabamos nos esbarrando pelos corredores e calçadas, como se a vida tivesse mexendo os pauzinhos para que formássemos um grupo. Seis pessoas de lugares completamente diferentes.
E ela sempre foi a mais próxima de mim.
Não sei dizer se foi pelo nosso gosto musical mais parecido ou pelo fato de que ela sempre animava ir comigo naqueles jogos de corrida nos parques de diversão dentro do shopping.
Por mais que fossemos um grupo, eu e ela sempre tivemos algo diferente.
Algo só nosso.
Até aquela sexta-feira eu não sabia exatamente se sentia algo a mais, nunca fui muito bom em lidar com sentimentos, mas dizem por aí que a gente só sabe dar o devido valor às coisas quando perdemos elas.
Não demorou muito para que todos nós ficássemos bêbados. 
O final de semana estava virando a esquina e tudo que a gente queria era alguma coisa pra esquecer tudo que envolvesse os estresses do trabalho.
Depois do bar, todo mundo resolveu ir para um pagode. Não era nosso estilo musical favorito, mas bêbado se diverte com tudo.
Ela era contagiante.
Cantava os pagodes clássicos a plenos pulmões.
Eu nem sabia que ela sabia tantas músicas de pagode assim.
Sorria largo.
Dançava com todo mundo.
Com nossos amigos.
Com desconhecidos.
E comigo.
Olhava nos meus olhos e cantava feliz, com um copo de caipirinha levantado, cada verso daquela música que eu nem estava escutando mais.
Estávamos muito perto.
Muito bêbados.
E eu a beijei.
Beijei com uma vontade que eu nunca nem soube que tinha.
Ou talvez nunca tivesse dado ouvidos.
Puxei ela pela cintura o máximo que pude. 
Senti seu corpo extremamente colado ao meu.
Seus braços estavam cruzados pelo meu pescoço e eu soube que a caipirinha ainda estava gelada quando uma gota de água escorregou do copo e conseguiu atingir a minha nuca.
Senti meu corpo inteiro arrepiar.
Não sei ao certo se pela água gelada ou pelo beijo.
Quando o fôlego acabou, sorrimos um para o outro e ela voltou a dançar.
Dançou como se nada tivesse acontecido, mas eu estava atônito e precisava de mais.
Peguei ela pela mão e a levei para um lugar um pouco mais afastado da multidão e voltei a colar meus lábios nos dela.
Se eu soubesse o quanto isso era bom, teria tomado uma atitude antes.
Depois de vários minutos, que é claro que não me dei o trabalho de contar quantos foram, decidimos voltar e procurar nossos quatro amigos que ficaram para trás.
Eles estavam numa área externa, onde a música não era tão alta e trocavam uma ideia a respeito do preço das bananas no mercado.
Quando chegamos na rodinha, ela chamou uma de nossas amigas e juntas elas foram ao banheiro.
Ficamos eu, dois caras e a outra mina que integrava nosso grupinho. 
Quando me questionaram o que a gente estava fazendo, eu contei sem nem pensar duas vezes.
Éramos todos amigos, não tinha porque não falar pra eles.
O problema é que começaram a fazer piadas e eu estava assustado com a possibilidade de gostar dela mais do que só como amigos.
As brincadeiras não me caíram bem naquele momento.
Estourei.
- Porra, a gente está bêbado pra caralho! Não tem nada a ver. Vocês tão falando besteira. Não tem ninguém apaixonado aqui não. Puta que pariu. Foi só um beijo. Nada mais. Porque caralhos eu ia estar apaixonado por ela?
O que eu não sabia era que ela já tinha voltado.
Estava de pé atrás de mim.
Ouviu cada palavra.
Foi o que meus amigos disseram.
Eu nem cheguei a vê-la.
Segundo eles, ela ficou parada ouvindo o que eu dizia e assim que terminei, ela deu meia volta e foi embora.
Outra coisa que eu não sabia naquele momento era que ela gostava de mim.
Estava apaixonada.
E todos ali sabiam.
Todos menos eu.
Depois daquele dia ela nunca mais saiu com a gente.
Dizia que estava muito ocupada, que a vida estava corrida.
Nunca me respondia nas conversas que temos num grupo de WhatsApp e recusou todas as ligações que fiz.
21:58.
E eu ainda não decidi se ligo assim que der 22:00 ou espero mais um pouco.
No fim das contas talvez não faça diferença o horário, porque, como em todos os outros dias, ela não vai me atender.
Porque esse instinto de proteção de quando pegam a gente com os calças curtas é baseado em negação?
Talvez se eu não tivesse dito aquilo, eu ainda pudesse ter ela por perto.
Talvez nesse instante eu não estaria largado no chão da sala escura, mas esperando que ela chegasse aqui para passarmos a noite juntos.
Tantas coisas poderiam ter sido se eu tivesse um pouco de autocontrole.
E não, não vou pôr a culpa no álcool ou nos meus amigos.
A culpa era 100% minha.
22:00
Procurei o contato dela e liguei.
- Oi.
- Ah! Oi… Eu… - fiquei surpreso quando ela atendeu e me perdi. Esqueci completamente o que queria falar - Eu queria saber se está tudo bem…
- Está sim. - Só isso. Nem um som a mais. Ficamos em silêncio pelo que pareceram horas, mas não devem ter sido nem 10 segundos - Mais alguma coisa?
- Eu estou com saudade.
- Preciso desligar. 
E desligou.
Não se despediu nem nada.
Não sei quando elas apareceram, mas depois que as lágrimas começaram a rolar, eu não consegui controlar mais. 
As lembranças do passado e daqueles beijos são as únicas coisas que me restam.
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imapochemuchka · 9 months
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Não é para mim
Certa vez eu ouvi em algum lugar que ao menor sinal de desinteresse, deveríamos sair da mesa.
É interessante porque essa frase não serve apenas para relacionamentos amorosos, mas para diversos aspectos de nossas vidas.
E não necessariamente é sobre desinteresse.
Ou pelo menos esse não é o único motivo que pode nos levar a afastar a cadeira e levantar.
As vezes basta uma incompatibilidade com aquilo que prezamos, que temos como essencial.
Ou talvez que simplesmente não faça mais sentido.
Honestamente eu não sei dizer de onde veio esse espírito apaixonável que existe em mim.
E digo apaixonável no sentido de eu gostar de me apaixonar.
De sonhar com romances como nos filmes.
De desejar um dia sentir minhas bochechas corarem assim como acontece com as personagens de livros.
Os finais dos romances que eu vivi nunca tiveram forças suficientes para me fazer desistir.
Quando terminei meu último envolvimento amoroso, me recordo de minha psicóloga ter dito:
"Não vá ficar com medo de se apaixonar, de viver uma nova história com outra pessoa, hein?"
E eu ri.
Não sou do tipo que desanima quando não dá certo.
É claro que choro, fico triste uns dias, mas é só pelo tempo necessário.
Uma decepção amorosa nunca me bloqueou de ir atrás da próxima.
Logo estou pronta pra tentar de novo.
Mas não dessa vez.
E o curioso é que nada acabou agora.
Não tem nenhum término.
Só um cansaço acumulado de uma disponibilidade exacerbada.
De uma esperança desmedida.
Então resolvi sair da mesa onde estavam servindo o amor romântico.
Os pratos sempre acabavam quando chegava na minha vez de ser servida.
Eu olhava ao redor e, ao invés de ter inveja dos que estavam se nutrindo desse amor, eu apenas admirava ansiosa.
Esperando pela minha vez.
Vez essa que nunca chegou.
Vão me chamar de dramática, eu sei.
Que não precisa de tudo isso.
Só que no final só eu sei o quanto eu suportei até aqui.
O quanto eu esperei.
E o quanto eu sou capaz de suportar e esperar.
Se você aguenta mais, maravilha! Eu vou estar sempre torcendo para que tenha muito amor na sua vida.
Mas pra mim eu não torço mais.
E aí, na esperança de me fazer mudar de ideia, as pessoas vão me falar "tudo no seu tempo", ou "o que é seu está por aí e uma hora te encontra", ou "certeza que existe alguém pra você", ou ainda "não desista, essas coisas são assim, levam tempo".
Entendo que todas as frases são ditas no sentido de consolar, mas eu já as ouvi diversas vezes e agora soam apenas como palavras vazias.
É como na história de Pedro e o lobo.
Eu já não acredito mais.
Nem nas palavras e nem nesse tal amor.
O que não significa que eu vá me tornar uma pessoa rabugenta como o Grinch.
Jamais.
Ainda vou me apaixonar pelas histórias de romance de livros, filmes, óperas.
Ainda vou admirar os relacionamentos felizes das pessoas ao meu redor e torcer por eles.
Mas para mim, assim como nas fábulas, todos esses anos nessa relação difícil com o amor me trouxeram uma lição.
Não adianta insistir em algo que não é pra gente.
E definitivamente ele não é para mim.
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imapochemuchka · 1 year
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Para Debs
Você não é a primeira pessoa da minha vida a partir.
Outros tantos já se foram.
Mas tem sido mais dolorido aceitar que você se foi pela proximidade, importância e a idade que compartilhávamos.
Eu não sou inocente e nem burra.
Sei que uma hora a vez de todo mundo vai chegar.
Mas eu não gostaria que a sua já tivesse chegado.
Não éramos mais tão próximas, eu sei.
As nossas vidas tomaram rumos diferentes.
É comum.
Eu me lembro que quando soube que voltaria para a cidade eu fiquei com muita vontade de encontrar você, de reatar a amizade de anos atrás.
Deixei para entrar em contato quando chegasse na cidade, mas não te achei.
Em lugar nenhum.
Achei que só tinha se tornado extremamente low profile.
Ontem eu soube que sua partida está prestes a comemorar um ano.
E provavelmente não tinha nada que eu pudesse fazer para evitá-la.
Eu vou sentir sua falta e as memórias do que vivemos juntas fazem parte de quem eu sou pra sempre.
Como esquecer a pessoa que por muito tempo foi a minha pessoa?
Que esteve por mim sempre, mesmo que a mais de 3.000km de distância por um tempo.
Se lembra do dia que nos vimos pessoalmente a primeira vez?
Eu estava podre de cansada da viagem de ônibus, mas precisava te ver logo.
Eu estava tão feliz de finalmente, depois de anos, poder te abraçar!
E fomos nós duas por muito tempo.
Tudo junto.
Todos os rolês que eu tinha aqui eram com você.
E era ótimo ter a companhia da minha gêmea.
Você se lembra que nós nos chamávamos de gêmeas?
Erámos muito grudadas mesmo.
Eu lamento muito não ter podido me despedir.
Não podermos ter ido uma última vez ao cinema, ao shopping, um passeio no centro.
Não podermos ter ido no show daqueles meninos que eram nosso sonho de consumo 10 anos atrás.
Não podermos ter feito uma porção de coisas.
E de não ter tido a oportunidade de nos reaproximarmos.
Isso nunca mais vai acontecer.
Eu ainda estou digerindo sua partida.
Mas quero me lembrar de você da melhor maneira possível.
Quero manter fresca a lembrança da sua mão na janela do ônibus para que eu soubesse que era naquele que era pra eu entrar.
Quero lembrar pra sempre de como a nossa amizade nos fez bem.
Eu vou sentir para sempre a sua falta.
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imapochemuchka · 1 year
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Não era meu
Ele não era meu.
Era só a minha vez de estar com ele.
Por mais que eu me esforçasse, eu nunca seria a peça que encaixa perfeitamente.
O lar que trás acolhimento completo.
Ou o motivo para nunca mais querer ir embora.
Por mais que pareça, isso não é ruim.
Para falar a verdade, é até um conforto.
Eu sei que não sou perfeita, mas não era para ser.
Era apenas a minha vez.
Minha vez de sentir seu carinho.
Minha vez de sentir seu toque.
De ouvir sua risada.
De sentir seu beijo.
De ser acolhimento do meu jeito.
E nós dois precisávamos disso.
Certamente saímos disso mais bem preparados para o futuro duradouro do que quando entramos.
Perceber que ele não era meu me tranquiliza por que a recíproca é verdadeira.
Se ele não era meu, então, eu também não era dele.
O amor está por aí.
Um dia a gente vai se encontrar.
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imapochemuchka · 1 year
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Lições
Aos treze você me ensinou que eu sou substituível.
Que se eu não estiver disposta, outras pessoas vão estar.
Mas isso não é ruim. Não mesmo.
Hoje eu vejo que foi um aprendizado muito importante.
Vi que não preciso me fazer caber em lugares que não encaixo só para ser aceita por terceiros.
É com a minha consciência que eu vou me deitar todos os dias .
Eu preciso por a cabeça no travesseiro e ter a certeza de que eu não me violentei.
Sem dúvida alguma é bem mais fácil falar.
Eu ainda vacilo aqui e ali, mas não vou desistir nunca de fazer o que é melhor pra mim.
Aos quinze eu entendi que as vezes, pra gente se sentir melhor, precisamos mandar as pessoas a merda.
Não que seja necessário sair por aí xingando as pessoas.
Não é isso.
É mais sobre o processo de por as coisas para fora.
Não me sufocar com sentimentos, dores e tristezas.
É preciso sentir tudo.
O bordado mencionado naquele livro adolescente esteve sempre certo.
A dor precisa ser sentida.
Aos dezessete você me ensinou que é preciso saber lidar com os sentimentos dos outros.
Nem tudo vai sair como a gente espera.
Cada pessoa é um universo particular e específico.
Se relacionar com o outro implica não só em me respeitar, mas respeitar a trajetória, as dores e os sentimentos.
É claro que na época eu não tinha como saber dessas coisas.
Não posso cobrar maturidade de uma menina de dezessete anos que nem sabe quem é direito.
Mas o ocorrido ainda reverbera na minha vida até hoje.
E faz com que eu procure o diálogo, procure compreender o outro, antes de tomar qualquer decisão
Aos vinte o tutorial foi de que não dá pra fazer dar certo se as peças não se encaixam.
Tinha ficado claro desde o início que não era para ser, mas as vezes a gente é insistente demais e quer pagar pra ver.
Não é que as coisas não se encaixavam, na verdade.
Era mais sobre faltar algo.
A conexão nunca foi real.
Nunca foi profunda.
Hoje eu percebo que existem coisas que não foram feitas para irem além do superficial.
E está tudo bem.
Com vinte e um você me mostrou que é preciso ir com calma. Que um dia vai dar certo e não é preciso botar os pés pelas mãos.
A sensação de rejeição já era uma velha conhecida e eu não quis ver ela se aproximando mais uma vez.
Parecia que tinha mais conexão do que da última vez, então devia ser o certo, não é mesmo?
Mergulhei profundamente.
Mas fui sozinha.
Ali eu entendi ainda mais a importância do diálogo.
Eu não podia me aventurar sozinha.
Me arriscar em atravessar o oceano sem checar se a outra pessoa também embarcou no mesmo barco que eu.
Nesse mesmo ano você me ensinou que os nãos não tinham que ser terríveis.
Talvez eu nunca tenha levado um fora com tanto carinho e respeito.
Eu me arrisquei.
A situação não era favorável e eu tinha consciência disso.
Mas eu precisava que você soubesse.
Falei.
Você me acolheu e não me tratou mal.
Doeu, é claro.
Mas saí disso uma pessoa melhor.
Soube que podia ser respeitada e que não tinha problema eu falar o que sentia.
Logo no início dos vinte dois eu entendi que não dava pra ser os extremos.
É preciso dar uma chance antes de colocar cinquenta barreiras.
O bicho da rejeição é difícil de domar.
E com medo de me jogar de cabeça, como fiz outras vezes, botei uma placa de pare enorme no meio do nosso caminho.
Como eu estava aterrorizada.
E você percebeu.
Não pode encontrar em mim aquilo que procurava.
Então partiu para a próxima.
Foi difícil ser trocada daquela maneira.
Mas hoje eu vejo que eu tenho a minha parcela de culpa nessa situação.
E quando os vinte e três estavam quase chegando, você me lembrou que a carência não pode guiar minhas decisões. No tempo certo tudo se ajeita.
Tive medo de estar fazendo pouco caso da primeira pessoa que parecia de fato disposta a ficar comigo.
A construir uma vida e, quem sabe, até uma família.
No curto período de tempo que nossos caminhos ficaram lado a lado eu realmente acreditei que era pra ser.
Mas não era.
Éramos duas pessoas muito feridas.
Machucadas pela vida e não só na vida romântica.
A quantidade de inseguranças minou tudo o que poderíamos ter sido.
E nos machucamos ainda mais.
Talvez se tivéssemos tido a clareza do que de fato precisávamos, isso não tivesse acontecido.
Vou dar uma dica: não precisávamos de um par.
Precisávamos de terapia.
Com vinte e cinco você me ensinou que não basta amar.
O amor talvez seja o mais complexo dos sentimentos e talvez por isso a gente ache que é o suficiente.
Mas não é.
São muitas as variáveis envolvidas.
Proximidade, confiança, diálogo, amizade, honestidade.
Pode ser que na falta de um desses, e de outros tantos que eu não soube listar, tudo fique em ruínas.
Isso tudo ainda é muito recente e sei que existe muito mais sobre as relações e sobre mim que eu vou aprender com essa situação.
Não é porque as coisas terminam que a gente para de aprender com elas.
Talvez depois do fim seja até mais fácil de enxergar e absorver as coisas.
No final é isso.
É preciso compilar tudo que foi aprendido ao longo do tempo e se permitir aprender ainda mais.
Fazem menos de duas décadas que eu estou aprendendo a lidar com relacionamentos.
Aprendi muita coisa, mas com certeza ainda me falta mais que o dobro de coisas para saber.
Talvez na próxima vez que o amor cruzar a minha vida eu esteja mais bem preparada e a pessoa do outro lado também.
Talvez estejamos os dois dispostos a ficar preparados.
Talvez ambos estejam abertos a aprender.
Eu tenho certeza que um dia eu ainda vou ser correspondida da maneira que mereço e que eu não vou precisar me afastar para crescer.
Ainda tenho muita estrada para percorrer.
Mas pelo que vi até aqui, eu não vou desistir do amor tão fácil.
O amor é um lugar cheio de lições.
É uma baita escola.
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imapochemuchka · 1 year
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Sinto falta
Talvez um dia tudo isso passe.
Mas por enquanto, eu sinto falta.
A negação passou e aceitar a nova realidade tem sido cada dia mais fácil.
Algumas coisas tem ficado bem claras para mim.
Seja porque o filtro da dor e da paixão já não interferem no que eu vejo, seja por que eu estou aceitando os limites de até onde eu posso permitir que minha mente vá.
Seria mentira se eu dissesse que não te quero mais.
Pouco tempo se passou e a gente não esquece de um amor assim tão rápido.
Então é claro que eu te quero.
E sinto sua falta todos os dias.
Mas estou aprendendo a lidar.
Tem dia que é mais fácil.
Porém em alguns dias ainda dói bastante.
Em outros eu sinto muita raiva de como tudo acabou.
Eu sei que as coisas já não andavam bem, mas não imaginava que você iria embora tão rápido.
Sem que eu tivesse tempo de processar as coisas.
As vezes arrancar o curativo rapidamente, quando a gente menos espera, é o ideal.
Não sei se foi o caso.
Sinto sua falta.
E tenho me convencido que aquele papo de "no futuro a gente se encontra" foi só um jeito que nós encontramos de lidar melhor com a separação.
Não me entenda mal.
Eu gostaria muito que o futuro estivesse reservando alguma coisa muito boa pra nossa história juntos, mas eu não sei se vamos chegar lá.
As coisas aconteceram de maneira atropelada e eu sinto que faltaram perguntas a serem feitas e respostas a serem dadas.
Não duvido do que você estava sentindo de ruim dentro de você, mas é que ainda me parece pouco tempo para tomar uma decisão tão drástica.
A falta de clareza me faz crer que tem mais coisa.
E eu ainda sinto sua falta.
Algumas coisas ainda são difíceis de fazer e de pensar porque me remetem a você.
Fico chateada quando vivo coisas que eu gostaria de compartilhar com você e não posso.
Não sei quanto tempo mais tudo isso vai durar.
Não sei por quanto tempo mais vou sentir sua falta.
Não sei se em algum momento vamos mesmo viver essa relação de uma forma amigável.
Não sei se já não somos estranhos um para o outro.
Mas eu sinto falta.
Sinto falta de quando apesar das milhões de coisas na minha cabeça, eu podia perguntar pra você o que estava acontecendo.
Sinto falta inclusive dos momentos chatos, das conversas desconfortáveis, porque, apesar do desconforto, eu as via como tijolos usados no fortalecimento do que tínhamos.
Acreditei que me permitir ficar vulnerável a você faria com que você fizesse o mesmo e os nossos laços ficariam mais fortes.
Eu sinto falta de quando eu realmente acreditava que você seria a última pessoa que eu teria que conhecer assim.
Eu sinto falta dos vários planos que eu tinha para nós.
Das coisas que eu ainda queria fazer na sua companhia.
Um dia isso tudo vai passar.
Eu sei que vai.
E talvez eu sinta falta de sentir sua falta.
Por enquanto eu sigo aqui.
No silêncio da madrugada que costumava ser nossa.
Pensando em mil maneiras de ficarmos juntos novamente e sem ver saída.
Eu não sei como você está agora.
Eu não sei se já tem outra pessoa.
E é tão estranho não saber nada sobre alguém que era tudo.
Sem dúvidas esse texto é o mais profundo e pessoal que já habitou esse espaço e talvez ele tenha perdido o sentido que tinha no começo, mas antes de mais nada, aqui é o meu lugar de desabafo.
Junto as palavras eu consigo ficar um pouco melhor.
E elas preenchem um pouco do vazio que você deixou.
Quando eu clicar para postar, estarei mais leve do que quando comecei a digitar.
Mas a falta segue aqui.
E sei que vai ficar mais um pouco.
De você é impossível não sentir falta.
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imapochemuchka · 1 year
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Não é fácil
Não se iluda.
Nunca vai ser perfeito.
Relacionamentos são assim.
Não se esqueça de que a pessoa do outro lado, aquela que você ama, ainda é uma pessoa e como tal ela tem defeitos, inseguranças e problemas.
Se você está buscando um relacionamento perfeito, aceite que você vai ficar sozinho para sempre.
Isso não existe.
E não culpe as pessoas por elas não atenderem as suas expectativas ou não serem como você planejou que elas seriam.
Somos humanos.
Tudo a nossa volta interfere em todas as nossas relações.
Não ache que a sua vai ser blindada.
Vai ter momentos que os seus problemas vão interferir e em outros vão ser os problemas da outra pessoa.
Não é fácil.
E ninguém disse que seria.
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imapochemuchka · 1 year
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Não é comédia romântica
Depois de atacar os contos de fadas quando estou de coração partido, vem aí uma nova era.
Ataques a comédias românticas.
Assim como os filmes de princesas, por muito tempo os de comédia romântica foram os meus favoritos.
Ainda falavam de amor e sobre se apaixonar, mas era um pouco menos fantasioso.
Elas acontecem no mundo real e são coisas mais possíveis de acontecer com a gente.
Por exemplo, quais as chances de você ser amaldiçoada por uma bruxa e só ser acordada de um sono profundo por um príncipe?
Agora, quais as chances de você ter um encontro legal com um cara bacana num parque da cidade? Ou de vocês saírem para jantar? Ou de ele te dar aquele presente que você sempre quis?
Tá vendo?
Mas como eu disse, esse é um texto sobre ataques.
E talvez nem seja sobre as histórias das comédias românticas, mas sobre como essas coisas ficam enraizadas nas nossas cabeças, assim como os contos de fadas.
Pode reparar que em grande parte das comédias românticas - para não dizer todas -, em algum momento o mocinho e a mocinha brigam e se separam.
Parece o fim do mundo.
Mas ainda temos vários minutos de filme e nós sabemos que no final eles vão ficar juntos.
Alguém sempre vai atrás.
Alguém sempre acha que pode ser diferente.
São inúmeros os filmes que um vai atrás do outro num aeroporto, não é?
Como eu disse, pode ser sim que essas coisas aconteçam com você aí do outro lado, assim como podem acontecer comigo.
Mas as chances são baixas.
Nós somos orgulhosos.
É, somos.
Você sabe que é.
Não vamos correr atrás de alguém ou voltar atrás de uma decisão se corremos o risco de sermos rejeitados.
Sabe por que os mocinhos sempre ficam juntos nos filmes?
Porque o roteirista é onisciente.
Ele sabe o que cada personagem está sentindo e com isso, ele dá a certeza pra eles de que vai dar tudo certo.
Brisei?
Vamos ver isso de forma lúdica, tá bom?
Na vida real a gente nunca sabe como realmente a outra pessoa está se sentindo.
Isso gera medo.
E o medo, constantemente, impede que a gente faça as coisas.
Não deixa com que a gente arrisque.
Quantas coisas, oportunidades e pessoas você já não perdeu por medo?
E sim, não é só o medo da rejeição.
Temos medo também de não dar certo.
E se aquela escolha de ir atrás não for a melhor?
E se o que era bom começasse a ir ladeira a baixo?
A verdade é que o medo nunca impediu as coisas ruins de acontecerem.
Se paralisar fizesse com que tudo ficasse bem para sempre, provavelmente o nosso mundo seria um lugar perfeito.
Ninguém sofreria.
E não é assim, né?
No final, Sartre esteve sempre certo.
A possibilidade de fazer escolhas e ter que arcar com as consequências delas é o pior castigo e o que causa mais dor no ser humano.
Talvez no final, tudo seja sobre o quanto estamos dispostos a arriscar.
Você prefere deixar o avião partir com a pessoa amada porque tem medo das coisas darem errado ou quer arriscar, insistir mais um pouco e, quem sabe, viver uma vida maravilhosa depois que os créditos subirem?
Bom, acho que no fim nem critiquei as minhas amadas comédias românticas.
Isso aqui ficou mais como um lembrete.
A vida não é como uma comédia romântica.
Não temos certeza de nada.
Mas isso não deve impedir a gente de lutar por aqueles que amamos.
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imapochemuchka · 1 year
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Para de fazer isso
É sério.
Para de fazer isso.
Você não é bom nisso.
Na verdade, sendo bem honesta com você, é péssimo.
Outras pessoas podem até fingir que compram essas suas atitudes, mas com certeza não são idiotas o suficiente para acreditar.
Ou talvez não te conheçam bem o bastante.
Eu não sei.
Só para de fazer isso.
E para de agir como se fosse bem feito.
Isso é uma ofensa para a minha inteligência.
Você acha que eu não sou capaz de perceber as mudanças no seu comportamento?
Ah, eu vi.
Eu vi todas elas acontecendo bem diante de mim.
Não devia ter tido medo da dor tempos atrás.
Assim eu teria evitado sentir o que senti ultimamente.
Acho que agora dói mais.
Você não sabe disfarçar quando não está satisfeito com alguma coisa.
Você não sabe fingir que tá tudo bem.
Então para.
Seja honesto com você e com as pessoas ao seu redor.
Para.
Dê a chance das pessoas tentarem resolver com você os problemas ou serem, no mínimo, um apoio durante essa jornada.
Eu sei que o mundo dos homens é cruel e que sentimentos devem ser evitados a todo custo, mas não seja como todos os outros.
Você é especial demais para ser comum.
E eu sei que existe a possibilidade dessa atuação ter sido na melhor das intenções. Mas depois de tudo, eu estou aqui para te dizer que não foi o melhor caminho.
Agora não dá mais para voltar atrás e mudar as escolhas já feitas.
Você vai ter que lidar com as consequências do seu silêncio e eu vou ter que aprender a lidar com a ausência de respostas.
Se bem que o seu silêncio me dá aval para preencher os espaços vazios com o que eu bem entender, não é mesmo?
E é isso que eu tenho feito.
Que fique claro, eu não duvido dos seus sentimentos e das suas intenções, mas seus métodos são questionáveis e eu tenho certeza que a nossa história merecia mais e melhor.
Então, da próxima vez na sua vida que você achar que é bom em disfarçar sentimentos ruins, pare.
Você não é bom nisso.
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imapochemuchka · 1 year
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O fim do dia sempre foi um dos momentos que ela mais apreciava na vida. Houve um tempo em que a noite lhe causava grande aflição. Junto com a chegada da lua vinham os medos. E, ainda que o pôr do sol fosse um prenúncio da escuridão, ela ainda ficava fascinada com as cores e a velocidade com que tudo mudava na paisagem. Naquele dia não estava sendo diferente.
-O que foi que aconteceu hein?
-Hm?
Estava absorta em seus pensamentos enquanto observava o findar do dia e se esqueceu de que não estava sozinha naquele banco no parque próximo ao seu novo endereço na cidade grande. Rapidamente se obrigou a esquecer a partida do sol e focar na conversa que os levara até ali.
-Com a gente. O que aconteceu?
-Ah, muita coisa… 
Tinha passado e repassado diversas vezes em sua cabeça o que diria para o rapaz caso um dia se reencontrassem. Sabia que se fosse dizer tudo o que gostaria provavelmente a conversa viraria um monólogo, uma palestra. Porém também tinha ciência de que nada que dissesse faria diferença agora. Provavelmente não faria nem na época em que estavam juntos.
-É…
-Acho que eu exigi demais de você… Esperei que lidasse com as coisas da forma que eu estava lidando. Isso não era possível.
Ao seu lado, o rapaz agora tirava o terno, ficando apenas com a camisa social branca. Aproveitou para desabotoar os botões mais próximos do pescoço. Estava mais fresco do que na hora do almoço, mas aquele não era o tipo de roupa mais adequado para um parque. “Roupas sociais só deveriam ser usadas em ambientes com ar-condicionado”, pensou ele enquanto dobrava o terno.
-Não acho. Bom, é claro que eu nunca enfrentaria as coisas da mesma forma que você, mas acho que tudo me abriu os olhos para coisas que eu teimava em fingir que não eram reais ou que não mereciam a minha atenção. Sabe… Eu fui um cara melhor nos relacionamentos seguintes…
-Que bom!
Ela tentou dar o sorriso mais sincero que podia. Desde que eles haviam terminado ela havia pensado e repensado várias vezes todas as situações e como seria se se encontrassem de novo. Os primeiros meses foram torturantes. Mas aí outras pessoas passaram pela sua vida, assim como aconteceu na vida dele, e essas preocupações deixaram de ser algo na sua cabeça. Até aquela tarde.
Tinha acabado de se mudar para aquele bairro e pensou que ir até a padaria seria uma boa ideia. Faria amizade com o pessoal de lá e teria alguém para cumprimentar todas as manhãs além do seu gato gordo, com quem dividia o apartamento. Mas quando estava saindo da loja com um saco de pães quentinhos, recém saídos do forno, esbarrou nele.
Quais as chances? A cidade era enorme e eles já não se falavam há anos. A essa altura eles já tinham se tornado estranhos um para o outro. As lembranças que antes povoavam os pensamentos constantemente, deixaram de existir e ela já nem lembrava mais quando fora a última vez que havia pensado nele.
Ela estava em choque. Não esperava encontrá-lo de novo. E ele estava feliz. Estava tendo um dia estressante no escritório ao lado da padaria. A junção do cheiro do pão fresco com o reencontro com a mulher que fora seu primeiro amor fez com que todas as planilhas fossem esquecidas. Sugeriu que fossem para o parque ali perto para conversarem.
-E você? Teve outras pessoas?
-Ah, sim. Tive.
Ela enfiou a mão dentro do saco de pão e tirou uma metade, levando-a até a boca em seguida. Não a leve a mal. Ela estava feliz em reencontrá-lo. Talvez uma das decisões mais difíceis que já tomou na vida foi o afastamento. Passou meses se controlando para não mandar mensagens, pois sabia que era melhor assim. Deixou nas mãos do destino, mas ele nunca colaborou. Já tinha desistido, então hoje aconteceu. Ela não estava sabendo lidar.
-Eu… Não sei se é um pouco precipitado, por que eu não faço a menor ideia de como anda a sua vida e muito menos se você sente da mesma forma, mas eu gostaria de te conhecer de novo. 
Ele disse tudo num só fôlego. Assim como ela também havia dedicado muito tempo de sua vida imaginando como seria esse reencontro. Ambos viveram coisas maravilhosas ao lado de outras pessoas, mas nada parecia tão certo quanto os dois juntos. Ainda que existissem diferenças, conflitos e imaturidades, parecia que alguma coisa parecida com um imã queria que eles se reaproximassem.
-Acho uma boa ideia. Não somos mais as mesmas pessoas de anos atrás, não é mesmo? 
Ela soltou uma risadinha e ofereceu a ele os pães. O sol já tinha ido embora e seus rostos estavam sendo iluminados pelos postes dispostos ao longo dos caminhos do parque.
 -Assim sendo… É um prazer conhecê-la!
-Igualmente!
Eles riram e apertaram as mãos. Daqui em diante a conversa fluiu. Estavam se redescobrindo, mas a sensação era de que nunca deixaram de estar lado a lado.
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imapochemuchka · 1 year
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Romântica demais pra isso
Foi-se o tempo em que os términos me faziam perder a fé no amor.
Será que é algo próximo do privilégio eu "já" ter entendido que o amor é uma coisa que vem de mim e não do outro?
Muitas vezes observamos o amor sob a ótica de que é algo que nós recebemos e dependemos do outro para beber dessa fonte.
Mas não é assim.
O amor vem primeiro de dentro da gente.
O amor é resultado de mim, de quem eu sou, e não uma reação ao que o outro proporciona.
É claro que manter vivo um laço com outra pessoa depende dela também, mas a essência do que é amar está dentro da gente.
Ou não está...
É por isso que a partida de alguém na minha vida não deixa mais esse vazio.
Essa sensação de que nunca serei amada.
É claro que eu já tive meus momentos.
Acho que quando a dor é lacerante a gente nem consegue processar as coisas direito e acaba por falar merdas como "não acredito mais no amor" ou "se não for com você não vai ser com mais ninguém".
Mas a verdade é que eu sou romântica demais pra isso.
Posso ser péssima em demonstrar, é claro, mas acredito demais no amor e na sua potência nos pequenos gestos.
Uma romântica tímida, talvez?
Certa vez Milton Nascimento cantou:
"Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer".
Talvez a vida seja isso.
Amar e amar e amar e amar.
Ser amor.
Amar-se.
E amar de novo.
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imapochemuchka · 1 year
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Passarinho
Nunca foi tão difícil escrever sobre alguém como tem sido tentar escrever sobre você.
Procurei metáforas, analogias e similares, mas nada parece bom o suficiente ou o certo.
Talvez eu esteja com medo de por pra fora as coisas que estão dentro do meu peito e isso acabar atrapalhando o seu processo aí do outro lado da tela.
Talvez ainda seja muito cedo para que eu olhe para trás e consiga passar para palavras escritas o que eu quero.
Talvez eu não tenha aceitado ainda as coisas como estão agora.
Talvez eu precise de tempo.
Talvez isso nunca passe.
É, existem momentos em que eu tenho plena certeza de que escolhemos o certo, mas quando a saudade ou a vontade de comentar algo com você batem, fica difícil.
Certa vez eu vi alguém comparando o amor a pássaros.
Que ele dever ser criado solto, livre para voar.
Para encantar muitas pessoas por aí com seu canto.
Que mantê-lo numa gaiola faz com ele se entristeça e morra.
Acho que estávamos numa gaiola.
Só que era pior, por que nem estávamos perto um do outro para cuidar desse pássaro preso.
Era quase como se deixássemos ele ali com a certeza de que quando voltássemos, ele ainda estivesse no mesmo lugar.
E talvez por isso esteja sendo tão dolorido deixar a gaiola aberta.
Eu não quero viver presa na esperança de que esse pássaro vai voltar pra mim um dia.
Não quero mantê-lo preso na gaiola e muito menos me manter nesse lugar por ele, esperando a sua volta.
É doloroso pensar que algum dia pode ser que seu canto encante outra pessoa, que cuide melhor desse amor e que não te prenda, mas que você queira ficar.
Queria que eu fosse essa pessoa, confesso.
Acho que tudo que vivemos juntos nos transformou como pessoas e o processo atual também está fazendo isso.
Então, provavelmente, se nossos caminhos se cruzarem de novo, seremos outras pessoas, não é mesmo?
Eu sei que em algum dia eu vou me conformar com isso tudo de uma vez. Aceitar e apreender profundamente no meu ser de que esse foi o melhor para a nossa história, o fim.
Porém, agora uma vontade de lutar por você e por nós grita desesperada em meu peito.
Só que eu não tenho armas.
Não tenho argumentos.
A situação não mudou nesse curto tempo que passou e eu temo que não vá mudar em breve.
Como eu poderia lutar por você te oferecendo o mesmo que sempre ofereci?
Talvez ainda não seja hora.
Talvez a hora nunca chegue.
Mas é curioso que apesar de não ter certeza de nada, de que talvez as várias promessas de planos do que faríamos juntos no futuro terem ido para o espaço, não é nelas que eu me agarro.
Ah, esse processo tem sido uma mistura louca de sentimentos.
Há um tempo atrás se me perguntassem como eu olho para o que vivemos, eu provavelmente diria que tinha sido uma perda de tempo. Que no final não deu em nada.
Mas é mentira.
Apesar de não termos nos encaixado no que a sociedade enxerga como relacionamento, o que tivemos não foi só alguma coisa.
Foi tudo.
Eu não olho para trás com dor.
Sinto saudade, é claro.
E como tudo que nós sentimos saudade, eu gostaria de ter de novo na minha vida.
Mas acho que devo me contentar com a memória.
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imapochemuchka · 1 year
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Eles nunca disseram
É rotineiro ouvir por aí que a vida é cheia de coisas boas.
De lugares legais para visitar, pessoas novas para conhecer, aventuras para viver.
Mas eles nunca disseram que seria fácil.
Talvez o maior dos problemas de se viver completamente uma vida está em fazer escolhas.
É difícil demais tomar decisões porque sabemos que depois de tomadas, não tem o que fazer. Não dá para voltar atrás e viver como se nada daquilo tivesse acontecido.
Por muitas vezes na vida nós vamos nos arrepender, ainda que momentaneamente, de algumas várias escolhas.
Escolher implica automaticamente em abrir mão de alguma coisa e todos os "e se?" que a acompanham.
Sentimos medo porque não tem como saber o que é certo e o que é errado. Ou qual é o melhor a longo prazo.
Mas fazer escolhas significa assumir as rédeas de nossas próprias vidas.
Significa assumir o volante do carro em que estamos dentro.
Significa ser responsável e maduro o suficiente para arcar com as consequências.
Com o poder de decisão em mãos, podemos sim dar meia volta, mudar de ideia, dar uma chance para a outra opção.
Mas não nos esqueçamos que ainda que mudemos de caminho, as consequências de uma escolha vão nos acompanhar por muito tempo, sejam elas boas ou ruins.
Ninguém disse que seria fácil viver, mas é um pouco mais tranquilo quando não deixamos nossa vida na mão de outras pessoas.
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imapochemuchka · 2 years
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Eu te odeio
É, eu sei que parte do que eu sou hoje é graças a você.
Que todas as merdas pelas quais eu passei na sua companhia fizeram de mim uma pessoa melhor.
Mas eu te odeio.
Odeio mesmo.
Eu torço pra você nunca cruzar meu caminho enquanto eu estiver caminhando pela cidade.
Você abriu buracos muito profundos em mim.
Feridas que parecem nunca se curar.
Quando eu penso que estou melhor, as coisas voltam a tona e eu me lembro de todas as noites que eu fiquei em claro, tentando o que porra estava acontecendo.
O que tinha de errado.
O que eu tinha feito de errado.
Eu só queria ser a melhor pessoa pra você.
Queria sim, que ainda estivéssemos felizes juntos, que nada disso tivesse acontecido.
Que eu nunca tivesse passado por essas merdas.
Mas parece que sofrer era a única opção.
Eu queria não ter te conhecido.
Já fazem dois anos e eu ainda tenho que lidar com tudo que você projetou em mim.
Todas as inseguranças.
Seus medos.
E eu já tenho tanta coisa pra lidar.
Tantos problemas da vida atual.
Você continua aqui, me causando problemas.
Eu não suporto lembrar de você.
Eu te odeio tanto.
E queria de verdade que nunca as nossas vidas tivessem se cruzado.
Eu prefiro não ter vivido nada do que vivi com você do que ter que lidar com os problemas que você ainda me causa hoje.
Eu não aguento mais.
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imapochemuchka · 2 years
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Ao pôr do sol
O piano começa a soar.
O passeio dos dedos do pianista pelas notas é num ritmo ligeiro.
O dia está amanhecendo e eu abro os olhos para assistir os raios de sol tocarem sua pele.
É, esquecemos a cortina aberta de novo. Você sabe, seu abraço é lar e é difícil não adormecer ouvindo o som do seu coração.
Tudo acontece muito rápido, quase como se estivéssemos num videoclipe.
Num segundo seus olhos, marejados de sono, me encaram enquanto eu sorrio boba te observando.
Ah, que sorte a minha!
O café da manhã é como nos filmes de romance.
Intercalamos a comida com sorrisos, piadas idiotas e beijinhos.
O piano continua soando ao fundo.
Sabe, uma das minhas coisas favoritas no mundo é assistir o seu sorriso surgir nos seus lábios.
Geralmente ele começa de um movimento sutil no canto da sua boca até crescer e me contagiar.
Queria que soubesse o quanto me faz feliz.
Então te digo.
E você sorri como resposta.
Diz que está satisfeito de poder olhar pra mim e dizer: Eu também estou feliz!
O relógio ajuda a compor a música que sai do piano, mas também nos lembra que não temos muito tempo.
O voo já vai sair e nós nem trocamos de pijama.
Era a viagem do começo do resto de nossas vidas.
A minha mão na sua enquanto o piloto acelerava o avião.
Sorrio pra você.
Eu gosto do frio na barriga que vem quando a aeronave deixa o chão e passa a compartilhar o mesmo espaço das nuvens.
É a mesma sensação sempre que sinto seu toque.
Seu cheiro.
Seu queixo sobre meu ombro, tentando me mostrar para onde eu deveria olhar para ver a tal constelação que você ficou horas descrevendo.
Você se lembra? Falamos dessa viagem quando nos conhecemos e cá estamos.
A verdade é que eu entendo patavinas de todas as suas explicações sobre esses pontinhos brilhantes, mas sigo sempre fascinada por você quando está explicando alguma coisa que gosta muito.
O tic-tac do relógio vai ficando mais rápido e a essa altura o piano não é mais um artista solo. Outros instrumentos se uniram para dar sustentação a melodia de nossas vidas.
As risadas das crianças quando brincávamos com elas.
As comemorações a cada aniversário.
Os filhos
A nossa alegria com cada conquista deles.
A essa altura fomos bons pais.
Nossos filhos não precisam mais de nós, mas estão sempre por perto.
Trazem consigo os netos.
E mais uma vez a risada de criança volta a ecoar pelas paredes, mas dessa vez é da casa que compramos no interior.
Você disse que sentia falta das estrelas e, já que não precisava mais ouvir todos os dias o som ritmado dos trens que nos levavam pela cidade, nos recolhemos onde a invenção de Thomas Edison não atrapalha a contemplação daquelas que estão a anos luz de nós.
Eles não estão aqui sempre e nós sabemos aproveitar bem o nosso tempo juntos.
Como sempre fizemos.
As leituras no sofá.
Os cafés da tarde naquela confeitaria da moça simpática e sorridente da rua debaixo.
Os cafunés até adormecer.
E os beijos, que nunca deixaram de ser os melhores que os meus lábios já puderam provar.
Depois de tanto tempo ainda fazemos sentido.
E então o piano volta a ter destaque.
Tudo vai esmaecendo.
Absolutamente tudo.
As cores se foram e agora o piano é lento, quase como um corredor que, depois de completar uma maratona, começa a dar passos mais lentos.
A linha de chegada já passou.
Eu poderia dizer que te escrevo tudo isso sentada num banquinho e observando sua lápide ao pôr do sol.
Talvez isso te trouxesse um pouco de conforto, afinal de contas o seu maior medo era que eu partisse primeiro.
"Como vou viver em um mundo sem você?"
Ainda consigo ouvir sua voz. Sempre romântico.
Mas a realidade não é essa.
O piano parou de tocar.
E você nunca foi real.
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