Tumgik
inws · 3 years
Text
Nessa semana que acaba hoje completou 1 ano desde que excluí esse mesmo Tumblr, com tudo o que tinha, deitada em uma maca de hospital com morfina na veia depois de tanto pedir que uma dor física me fizesse esquecer a dor emocional que eu vinha sentindo desde que tu me deixou pela penúltima vez.
Naquele dia havia decidido de uma vez por todas acabar com a tua existência dentro de mim. Falando hoje, talvez tivesse sido mais poético ter te relacionado aos dois cálculos renais que me botaram pra ver a vida com olhos mais gentis do que eu andava vendo. Naquela época, por mais irônico que possa parecer, a vida por aqui só tinha cor quando eu te tinha ao meu lado – apesar de termos convencido a nós mesmos de que os dias cinzas eram os nossos favoritos.
Pensando bem, te relacionar àquelas duas pedras de 0,2mm e 0,5mm, respectivamente, teria sido a melhor analogia feita: a dor que me fizeram sentir não eram nada proporcionais ao tamanho (e aqui tamanho, relacionado a ti, é metaforicamente). Mas calma lá que eu juro que o intuito aqui não é ofender ninguém.
De lá pra cá o universo, meu melhor amigo, mexeu os seus pauzinhos e nos colocou frente a frente novamente; e lá estávamos nós, depois daquele fatídico 9 de abril, juntos novamente. E dessa vez, ao que tudo parecia indicar, juntos de verdade. Coitada de mim.
Lá por julho a tua casa passou a ter ares de lar pra mim. Passava mais tempo com a tua família do que com a minha, vivia o teu dia-a-dia, conhecia melhor os teus entes queridos e passei a perceber que de ti gostava muito menos do que deles. Eu só demorei pra perceber.
(...)
Eu não estou aqui pra te dizer nada do que tu não saibas; ou melhor, talvez saiba, mas jamais percebeu.
Aliás, eu não estou aqui pra te dizer absolutamente nada, pois não tenho o mínimo intuito de te fazer chegar até aqui. Se um dia tu chegares, seja bem-vindo. Como sempre foi. Prepara um café preto bem forte sem açúcar e aprende a beber, e eu poderia pedir que em homenagem a mim e a esse momento, mas me limito a adiantar que é pra perceber que até mesmo um café-preto-torra-escura-sem-açúcar-bem-forte vai te parecer doce perto do que tu talvez perceba desse parágrafo pra frente.
Mas volto a dizer: juro que o intuito aqui não é ofender ninguém.
Se tu estás preparado pra ouvir uma das nossas histórias sobre a minha perspectiva, como costumava ser por aqui, dá mais um gole nesse café aí. E sem mais delongas...
 Quando tu me deixaste pela última vez.
A partir daí, nunca mais nada foi sobre ti. Te juro. Até a primeira letra desse texto, te prometo de dedinho que nunca mais foi.
Mas isso aqui é. E vai ser. Vai ser muito mais sobre mim. Vamos lá.
Não foi tão dolorido por aqui quanto pode ter parecido. Talvez tu tenhas percebido que não foi mesmo. Eu estava cansada de não me sentir querida por ti. Estava cansada de tentar te provar que mesmo com os meus erros eu achava que te amava o suficiente pra me reduzir tanto a ponto de, lá naquele 6 de outubro, nem saber direito por onde começar sozinha depois de tanto tempo vivendo meus dias em função de ti.
Estava mais do que tudo, farta de ti – não de nós dois.
Demorei, mas não muito, pra perceber que nós não éramos o problema. O problema por aqui era a tua existência ocupar tanto espaço na minha a ponto de mim, sozinha, não saber o que era meu e o que era teu. E não vou aqui, de maneira alguma, tentar me colocar no teu lugar pra demonstrar que eu sou empática quando finalmente eu consigo falar de mim sem que tua existência interfira na minha.
Em junho de 2018 dêmos um Match que viria a dar início em tudo o que vivemos até meados de 2020. Nunca foi um namoro, mesmo quando tu tentavas fazer com que eu ficasse satisfeita com a falta de denominação – afinal, praticamente morávamos juntos.
Nunca foi um namoro.
Lá em 2018 a Nannie tinha seus 22-quase-23 anos, recém-saída de um relacionamento intenso e dolorido demais. Ele bebeu e me bateu, muito. Mais de uma vez. Dolorido de verdade e não de maneira abstrata. Com faculdade trancada. Desempregada. Recém mudada pra casa da mãe e com um medo absurdo de ter perdido o ritmo da vida que ela sonhava viver. Tudo parecia longe, distante, difícil, e ali em meio a um inverno rigoroso e uma Copa do Mundo que mais uma vez frustrou uma nação, aquele rosto conhecido de tantos anos surgiu e passou a oferecer companhia, atenção e afeto a alguém que vinha se sentindo perdida na própria vida.
Não precisou de muito mais do que isso pra ainda durante as meras trocas de mensagens, antes de qualquer noite juntos, eu já estivesse apegada a ti de uma maneira avassaladora. Nenhuma novidade até aqui.
Entre idas e vindas, meses e anos de sentimentos, vontades, brigas, desentendimentos e muitas inseguranças, a Nannie foi aos poucos se encontrando e botando a vida nos trilhos novamente. Volta pra faculdade, emprego, outra mudança, mudança de estilo (afinal, uma mulher define as fases de sua vida conforme a maneira como ela se enxerga no espelho), mudança de círculo de amizades. Aí se forma, acaba, termina, volta com o Gabriel, e briga, e ama, e termina, e volta. Qualquer uma na minha situação ficaria como eu fiquei com tudo isso: sobrecarregada e perdida. E vivendo no automático, tentando empilhar pratinhos.
Nossa relação era pra ser o porto seguro de nós dois como já havia sido. Doce ilusão.
Eu não sabia mais o que poderia fazer, onde poderia ceder, como poderia mudar mais pra tentar te agradar. Absolutamente cada passo, like, acesso, vontade que eu tinha era atrelada à uma necessidade de estar dentro dos teus critérios para não te aborrecer e isso começou a me destruir.
Em determinado momento eu já não sabia mais se eu gostava mesmo daquelas músicas, daquele jogo ou daquele hábito.
Tudo parecia me incomodar.
Não sabia se aquilo realmente era meu ou se era apenas eu tentando me encaixar dentro das tuas expectativas. Me vi dentro do teu quarto tolerando hábitos que para mim são intoleráveis. Me vi sem saber se fazia sentido eu querer tomar tanto leite mesmo depois de dois cálculos renais. Quando dei por mim, não sabia se aquela era a minha personalidade. Tentei tanto te agradar e estar dentro dos teus moldes que me esqueci, e acho que tu também te esqueceste, que o encanto aconteceu lá em 2018 quando tu me conheceu machucada, mas livre, espontânea e serelepe ao teu lado. Tu tinhas de mim algo que nunca ninguém teve. Minha espontaneidade fiel e sincera. Confortável pra ser meu eu em essência e alma ao teu lado. Eu era poesia para mim, e acho que pra ti também.
Mas isso tinha acabado.
Quando chegamos ao fatídico outubro de 2020, o nosso fim definitivo, poucos dias foram suficientes para que eu percebesse o alívio que era estar sozinha novamente. Ainda levei alguns dias pra, por exemplo, me sentir livre para dar like na foto de um amigo querido, e aí percebi o quão absurdo foi ter me sentido tanto tempo submissa às tuas permissões. Cheguei a pensar, por algumas vezes “e se o Gabriel ver? será que ele vai achar que estou tentando provocar ele?” quando já havíamos terminado e momentos como esse me fizeram perceber o quanto tu amarraste as minhas asas.
Deixei de usar meu apelido carinhoso nas minhas redes sociais quando percebi que, pela primeira vez na vida, tinha passado a me observar e a me sentir como uma mulher adulta. Simbolicamente, tomei a decisão de não mais querer ser associada – e nem a me associar – a Nannie jovem, insegura, ingênua, facilmente manipulável e que não sabia muito bem quem era. Eu sabia muito bem quem eu era. Ou achava saber. Mas com certeza eu estava nesse processo que me trouxe onde estou hoje.
Me recordo de tu teres elogiado a minha decisão quando alterei meu nome em todas as redes sociais e a Nannie passou a ser, definitivamente, a Etiane que nunca deveria ter deixado de ser. Talvez tu não soubesses, mas desde aquele momento eu já sabia que não duraríamos tanto quanto eu gostaria.
Quando outubro chegou após a minha saída abrupta da tua casa, em uma madrugada de domingo, eu sabia que não teríamos solução. Meu emocional queria muito alimentar a dependência emocional que eu havia criado em ti, mas ele também queria que eu fosse feliz. Foi quando a minha razão se encontrou com essa pontinha do meu emocional dentro de mim que a chavinha virou e tu passou a ser uma história do meu passado – daquelas que a gente tem como aprendizado pra nunca mais repetir.
Recentemente “Eu Esqueci Você” caiu no aleatório do Spotify (sim, até meu player de músicas mudou) e me senti levemente representada – não por ela desejando a volta do amado pra mostrar a ele o quanto ela mudou – mas pela suavidade em transmitir o encerramento de um ciclo dolorido tendo como consequência principal um reencontro consigo mesma. O nosso fim me proporcionou isso, e nem pense que vou te agradecer; o mérito é todo meu.
Depois de tantos dias ao teu lado em 2020, o meu dia mais feliz do ano foi o dia em que reuni os meus melhores amigos pra fazermos coisas que adoramos fazer, juntos. Foi quando me dei conta que nós dois nunca fomos juntos em uma cafeteria. Nunca vimos o pôr-do-sol juntos, nem mesmo ficamos à noite juntos na rua vendo o céu. Nunca deitamos na grama a noite com bebidas longe da internet pra ficarmos falando devaneios e contemplando a companhia um do outro. Contigo todos os dias eram extremamente iguais e mesmo a virginiana elevada à quinta potência aqui gosta de um pouquinho de aventura e poesia (e merece).
Foi me percebendo como uma mulher adulta solteira pela primeira vez durante a vida adulta quando terminamos que eu percebi o quanto eu poderia ser – e sou – incrível. Um universo de possibilidades se abriu diante de mim simplesmente porque eu finalmente percebi que sem as tuas imposições e limitações sobre como eu deveria agir, eu poderia fazer o que eu quisesse. Eu poderia finalmente ser quem eu quisesse ser, sem que isso pudesse soar mal pra ti, simplesmente porque a tua opinião deixou de ser fator determinante para que eu tomasse as minhas decisões.
Talvez tu não tenhas percebido o quanto eu brilho hoje. Com certeza tu não vês o quanto eu sorrio sincero hoje sem vergonha de parecer ridícula. Com certeza tu não me vês cantando feliz com meus amigos dentro de um carro aquele rap acústico que muito já me fez lembrar de nós dois. Com certeza tu não percebeste o quanto eu cresci nesses pouco mais de 4 meses que se passaram desde nosso fim e que mais parece outra vida.
Longe de ti eu pude perceber, sozinha, o quanto eu sou interessante. O quanto meu gosto musical não é chato e o quanto ele me faz feliz. Longe de ti eu maratonei tantas séries que tu julgarias ridículas e jamais iria querer assistir ao meu lado, mesmo que fosse me fazer feliz ter a tua companhia. Hoje eu tenho novas séries favoritas que tu sequer fazes ideia de quais são. Eu me diverti tanto assistindo coisas que certamente tu me julgarias e agirias comigo com reprovação que não teria nem como quantificar, e o melhor é que nem sempre foi sozinha.
Longe de ti eu descobri o quanto eu sou querida pelas minhas pessoas e o quanto elas me respeitam e gostam de mim mesmo com todos aqueles defeitos que tu julgavas tanto. Pra muitas delas, aqueles defeitos são virtudes e eu descobri o quanto estar ombreada pelas pessoas certas favorece a nossa felicidade.
Descobri que eu ser tagarela assim ao escrever, desse jeito que tu detestas, é motivo pra que muitas pessoas me admirem e gostem de me procurar quando precisam de um colo e de um conselho. Isso me faz maravilhosa no meu trabalho.
Descobri, longe de ti, que eu não preciso ser perfeita pra ninguém e muito menos que preciso ser igual a alguém pra ser feliz ou desejada. Descobri o jogo que gosto, fiz amizade com uma comunidade inteira sem medo de estar sendo “aberta demais” por estar simplesmente interagindo com as pessoas. E fui aberta o suficiente quando quis chamar a atenção de alguém que me interessou.
Longe de ti eu tive a oportunidade de lembrar como era me relacionar com pessoas que estavam sendo honestas e sinceras comigo; sejam aquelas que estavam afim de um sexo e uma companhia tranquila ou aquelas mais emocionadas que queriam algo mais sério. Fiquei tanto tempo me sentindo insuficiente ao teu lado que havia me esquecido como era simples e leve simplesmente deixar as coisas rolarem entre pessoas dispostas a serem honestas sobre as intenções delas.
Tenho nova rede social favorita, player de música favorito, nova roupa favorita, dezenas de novos amigos. Séries favoritas, série favorita da vida nova. Lugares favoritos. Hábitos novos favoritos, como a academia e a corrida que comecei no exato dia em que tu terminaste comigo. O estudo mais uma vez voltou pra minha vida e só quando eu estava debruçada em livros percebi o quanto é essencial para o meu bem-estar e para a minha evolução me alimentar de conhecimento. Meu café favorito mudou. Meu espaço mudou. Meus critérios mudaram. Tem quem diga que até a minha dicção e o meu olhar mudaram.
Uma vida inteira aconteceu desde que tu se foi daqui. Hoje tu não me conheces mais e eu tenho certeza de que se tu tivesses a oportunidade de chegar aqui pertinho, tu nunca mais irias querer sair. Hoje a palavra que define quem eu sou é certeza e nem mesmo uma paixão avassaladora como a que eu tive por ti me faria entrar novamente em moldes que sempre foram pequenos demais para eu me encaixar.
Eu te via com olhos de quem via poesia em termos sido coleguinhas de escola e nos reencontrado anos depois, tendo nutrido sentimentos que, pelo menos para mim, eram bonitos e poderiam ter nos levado longe. Tu jogaste na minha cara que era mera coincidência e nada demais. Se um dia foi provada a nossa falta de sintonia, foi nesse. Daí em diante, eu nunca mais olhei pra trás. E que sorte a minha: na minha frente haviam pessoas que viam a vida como arte assim como eu.
E assim tem sido e vai permanecer sendo.
Obedecendo às sugestões de pessoas próximas, queridas e que me querem bem, sendo algumas delas pessoas que tu insistias não torcerem pela nossa relação – e unicamente pela sugestão delas – ainda existem meios para que tu me procures.
Se um dia tu encontrares isso aqui e se um dia tu quiseres se valer dessa oportunidade que essas pessoas acham que tu mereces, tu vais saber como.
 Fevereiro de 2021.
7 notes · View notes