Tumgik
#bati um pouco a cabeça pra pintar essa porra
body-to-flame · 2 months
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I'm a long-lost hometown hero, late to legendary past lives within me
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pnkyg · 4 years
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A geometria perfeita das alcachofras
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A simetria-mãe: como nos encaixamos no grande esquema das coisas
Eu entrei dentro de um yantra. Foi durante o retiro de Maha Shivaratri, que rolou nos dias do carnaval desse ano. Enquanto todo mundo tava cheio de glitter e catuaba, eu tava recitando mantras em posição de lótus. 
Foi uma escolha difícil, confesso, e até doía a coluna algumas horas, mas não me arrependo.
Uma das atividades do retiro consistia em pintar um yantra, que é uma figura geométrica usada como ferramenta de contemplação e concentração. Tipo, você medita olhando pro desenho e, assim, sintoniza com a energia dele. É um mantra visual. É como se, ao olhar pra ele, você se debruçasse sobre uma janela aberta para o grande mistério das coisas.
Eu tava pintando mais especificamente o Sri Yantra, que representa o cosmos e o corpo. É um yantra formado por nove triângulos, que se entrelaçam entre si. No meio, tem um pontículo minúsculo conhecido como bindu, de onde os hindus acreditam que toda a energia é emanada, e onde é possível se conectar com o divino.
Tira um minuto pra meditar nessa imagem, sério:
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Assim como os mantras (que são falados), os yantras nos colocam em uma vibração específica, direcionando nossa mente para o momento presente. Só isso explica o fato de eu ter caído tão fundo dentro do desenho.
Durante a pintura, eu me concentrei tanto que fui percebendo alguns padrões de comportamento que eu tenho. Tipo, comecei pintando as bordas, depois passei pro meio, e só depois eu voltei pras bordas pra terminar.
Eu me toquei que faço isso com tudo na vida: começo uma coisa e, antes de concluir, já tô atropelando tudo pra só depois voltar e terminar o que eu comecei. Entrei num processão pensando nisso.
Essa newsletter, por exemplo, é um corte de espada nesse padrão. É um esforço consciente que eu faço pra começar e manter uma coisa sem atropelos. Só Shiva sabe os recordes de regularidade que eu bati ao escrever essa décima nona edição — desconsiderando, claro, algumas edições que eu pulei, afinal, eu não disse que tinha alcançado a iluminação.
Os yantras deram um up no fascínio que eu sempre senti por formas geométricas. Não só eu, aliás, o ser humano é atraído por simetrias e padrões. Porra, olha uma alcachofra e diz se você não fica fascinado.  Elas são perfeitas demais pra serem aleatórias.
Outro dia, por exemplo, o Felipe, meu amor, me deu uma concha com um buraco no meio. E o buraco era um hexágono perfeito.
Impossível não pensar que a inteligência que rege o Universo manja muito de matemática. 
Os caras já achavam isso lá na Grécia antiga. Pitágoras, aquele do teorema, já dizia que a natureza era essencialmente matemática. Segundo ele, o trabalho dos filósofos era entender a estrutura numérica que forma o mundo.
Essa ideia de encontrar uma unificação universal foi bastante recorrente ao longo da história. Tem um trecho do livro O Fantasma de da Vinci, do jornalista Toby Lester, em que ele reflete sobre a ideia do Homem Vitruviano. Ele escreve:
Em um nível superficial, o Homem Vitruviano é um estudo simples das proporções individuais. Mas também é algo muito mais sutil e complexo. É um ato profundo de especulação filosófica. É um retrato idealizado no qual Leonardo se despe de sua essência, tira suas próprias medidas e, ao fazer isso, incorpora uma esperança humana atemporal: a de que talvez tenhamos a capacidade de descobrir como nos encaixamos no grande esquema das coisas.
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É isso que eu e o André discutimos na terceira edição do podcast Brisas Cósmicas. 
Falamos de como essa ideia de desvendar a geometria do cosmos acabou virando a busca pela famosa Teoria de Tudo. Essa ideia de que, por debaixo do caos do mundo, existe uma ordem. Ou como disse o Stephen Hawking, em Uma Breve História do Tempo:
Se conseguirmos apresentar uma teoria unificada da natureza estaremos vislumbrando a mente de Deus.
É a mesma ideia do véu de Maya. Segundo esse conceito do hinduísmo, a realidade que a gente conhece não passa de uma Grande Ilusão. É só quando a gente retira o véu que encobre essa ilusão, o véu de Maya, que a gente consegue contemplar a realidade como ela é.
Tipo, quando você percebe que todos os seus amigos estão combinando um rolê sem você, e você fica muito chateado, até chega a tratar mal alguns deles. Mas aí descobre que, na verdade, todos estavam organizando uma festa surpresa. Só depois de saber a verdade, você tem clareza total sobre a situação. Até lá, sua cabeça fica inventando mil cenários de traição e dor. E isso acontece com frequência nos mais diversos contextos. Quem é ciumento sabe.
Seguindo essa ideia indiana, ao retirar o véu, o que os cientistas encontrariam seria então essa clareza total, essa estrutura perfeita que mantém o cosmos e dissolve as ilusões.
O físico Marcelo Gleiser escreveu literalmente isso, nessa resenha do livro A Beautiful Question, do nobel de física Frank Wilczek:
O livro é um manifesto apaixonado, uma "meditação" na qual a busca pela unificação das forças da Natureza (...) só será alcançada quando for encontrada a simetria-mãe, que se esconde, sorrateira, sob o véu da realidade que percebemos.
Mas, apesar de reconhecer essa ideia, mais pra frente o Gleiser se pergunta: e se o que tiver por de baixo do véu não for uma simetria-mãe? E se não for uma coisa tão perfeita assim? Na verdade, ele escreveu um livro inteiro respondendo essas dúvidas. E aí minha crença na geometria ficou bastante comprometida. 
Parte 2
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Na primeira parte do texto, falei sobre essa ideia de que existe uma ordem por trás do caos do mundo. Uma unidade perfeita, que poderia ser descrita pela matemática. Uma Teoria de Tudo que uniria todas as forças da física e poderia explicar o Universo de uma forma simples e elegante. 
Pro Stephen Hawking, se a gente conseguisse formular uma teoria assim, então a gente conseguiria contemplar a mente de Deus. De fato, as simetrias estão aí pra mostrar como a precisão da natureza pode ser virginiana quando ela quer. 
Como falei, é só olhar pra uma alcachofra que a gente entende que existe, sim, uma simetria, uma ordem única que rege o mundo. Mas... E se não for bem assim?
No episódio 3 do podcast Brisas Cósmicas, que eu faço com o André (meu amigo que trampava comigo na Galileu), a gente discutiu exatamente isso. 
Metade do programa, a gente se dedicou a falar do porquê a ideia de simetria faz sentido. Na outra metade, a gente falou porque essa mesma ideia também é meio absurda. Veja só, afinal, é um pouco de arrogância e prepotência querer reduzir toda a imensidão e complexidade do cosmos a uma coisa única, não é?
É aquilo que eu sempre gosto de lembrar: tudo que a gente conhece do Universo — deste celular que você tá segurando até a última estrela que os telescópios conseguem observar — é matéria visível, isso representa 4% do Universo. O resto é energia e matéria escura. A gente não sabe o que é, mas consegue medir indiretamente (pela gravidade, por exemplo). Ou seja, 96% do Universo é feito de coisa que a gente não tem a mais remota ideia do que seja. 
E, talvez, não tenhamos nem capacidade ou instrumentos pra entender. Então, não seria absurdo assumir só por um milésimo de segundo, sozinho, no quarto, no escuro, que a gente simplesmente não sabe como funciona o Universo. 
Tudo bem aceitar que tudo é um mistério às vezes. Talvez até possamos perceber algumas coisas. Mas dizer que sabemos tudo? Seria bem idiota.
Por isso, eu gosto da humildade do livro Criação Imperfeita, do físico Marcelo Gleiser, porque ele assume isso. Eu adoro essa palestra que ele deu na USP, falando sobre o livro. Uma hora ele diz:
Se existem assimetrias, se a Natureza é ligeiramente imperfeita, é porque a realidade física pouco se importa com a noção de perfeição. Perfeição é uma expectativa humana, apenas isso. A simetria é uma excelente aproximação, mas não expressa a realidade física mais essencial.
É verdade, porque, ao mesmo tempo que existem as alcachofras perfeitas, também existem os maracujás. E, putaquepariu, que fruta feia. É até sinônimo de pele mal cuidada. Ninguém acha maracujá bonito, nem Deus. 
O próprio surgimento da vida se deu através de uma série de acidentes cósmicos. E se for isso? E se essa expectativa de encontrar uma simetria perfeita, uma Teoria de Tudo, seja só um ideal humano de perfeição. 
Tipo, quando você é solteiro, daí conhece um boy, fica com ele uma vez, e já faz planos de casar, ter dois filhos que não choram e uma casinha rústica e elegante em Boiçucanga. Depois o boy diz que não quer mais te ver e você fica puto com ele, quando, na verdade, a expectativa era toda sua. A vida é feita de imperfeições, não de perfeições. 
Outra coisa que o Gleiser fala:
Isso não significa que devamos abandonar a simetria como ferramenta de exploração da Natureza. Devemos, no entanto, tratar a simetria e a assimetria como aspectos complementares da realidade física. É da tensão criativa entre a simetria e a assimetria que emergem muitas das estruturas que vemos no mundo. Metaforicamente, podemos dizer que as duas são o yin e o yang da criação.
Gosto bastante dessa ideia de pensar de forma complementar e não excludente, tipo algo pode ser uma coisa "E" outra, não uma coisa "OU" outra. 
Como uma partícula de luz que se comporta tanto como fóton quanto como onda, ela é as duas coisas.
Gosto também quando ele faz referência ao yin e yang (falei bastante deles nessa edição aqui), porque é aí que a gente vê como os orientais usaram vias totalmente diferentes para chegar em conceitos que a gente usa hoje na ciência ocidental. 
Em um trecho do livro O Tao da Física, o Fritjof Capra cita o cientista Joseph Needham, em uma passagem que eu acho bem interessante: 
Os astrônomos chineses não sentiam a necessidade de formas geométricas de explicação — os organismos componentes do organismo universal seguiam cada um o seu Tao, de acordo com sua própria natureza e podia-se lidar com seus próprios movimentos na forma essencialmente “não representacional” da álgebra. Os chineses estavam assim livres da obsessão dos astrônomos europeus pelo círculo como a figura mais perfeita, não estando igualmente subjugados à prisão medieval das esferas de cristal.
Acho legal isso, porque traz outra forma de pensar. E eu gosto quando a ciência, a natureza e a filosofia mostram que a gente pode estar totalmente errado sobre o que a gente pensa. É um murro no ego. Isso mostra que o Drummond pode, sim, estar certo quando ele fala, no poema A Máquina do Mundo, que as coisas dão a volta e tornam a se engolfar na estranha ordem geométrica de tudo. Mas não tem nenhum problema se a gente perceber que essa "estranha ordem geométrica de tudo", na verdade, seja puro caos.
Manter isso em mente e entender que nem tudo tem uma explicação lógica e racional pode ser libertador. 
*Por Nathan Elias-Elias
Este texto foi publicado originalmente nas edições #19 e #20 da newsletter PunkYoga. 
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