Tumgik
anabecortez · 5 years
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canto nº1 : dos anzóis
fujo. tento. não sei fugir, minha fuga é sempre a inércia. sou tão menos do que serei sou tão menos do que sereia que híbrida foge na correnteza e faz da cauda pernas e das pernas cauda como eu sonho fazer da calma pedras e das pedras calma
alquimia que por ora não domino e me estrangula entope encharca derruba chacoalha amarra a tremedeira que toma minha voz meus pés meus olhos quando lutam para sustentar o peso de si mesmos ao encontrar outros pares não foram ensinados a olhar além e cada segundo que sustento é uma paz que faço comigo e cada desvio involuntário é um lençol branco cobrindo um móvel
nasci pra ser bicho
mas nos enganaram. nem cheiro do sal nem da água da sereia que é bicho mulher que também sou que somos
mas não nos ensinaram a ser bichos
nos ensinaram a seguir as placas sorrir pintar o que é amarelo com o lápis amarelo somar as tristezas ligar a televisão apontar quem é o próximo e onde fica o oriente médio ainda não sei se nos ensinaram a ler e a escrever.
e a nós bichos mulher
nos ensinaram a trocar a cauda pela dança onde cada passo é uma agulha que trespassa o corpo a esconder o vermelho de todos os lábios a comer as lágrimas a lixar a crosta escura dos pés que são testemunhas das ruas da cidade a velar os filhos que tivemos e os que não tivemos
ainda não sei teimamos em não submergir ou se a água sussurra memórias de escamas em nossos ouvidos.
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