canto nº1 : dos anzóis
fujo. tento. não sei fugir, minha fuga é sempre a inércia.
sou tão menos do que serei
sou tão menos do que sereia
que híbrida foge na correnteza
e faz da cauda pernas e das pernas cauda
como eu sonho fazer da calma pedras e das pedras calma
alquimia que por ora não domino
e me estrangula entope encharca derruba chacoalha amarra
a tremedeira que toma minha voz
meus pés
meus olhos
quando lutam para sustentar o peso de si mesmos ao encontrar outros pares
não foram ensinados a olhar além
e cada segundo que sustento é uma paz que faço comigo
e cada desvio involuntário é um lençol branco cobrindo um móvel
nasci pra ser bicho
mas
nos enganaram.
nem cheiro do sal nem da água da sereia que é bicho mulher
que também sou
que somos
mas
não nos ensinaram a ser bichos
nos ensinaram a seguir as placas sorrir pintar o que é amarelo com o lápis amarelo somar as tristezas
ligar a televisão apontar quem é o próximo e onde fica o oriente médio
ainda não sei se nos ensinaram a ler e a escrever.
e a nós bichos mulher
nos ensinaram a trocar a cauda pela dança onde cada passo é uma agulha que trespassa o corpo a esconder
o vermelho de todos os lábios a comer
as lágrimas a lixar
a crosta escura dos pés que são testemunhas das ruas da cidade a velar
os filhos que tivemos e os que não tivemos
ainda não sei teimamos em não submergir
ou se a água sussurra memórias de escamas em nossos ouvidos.
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