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Foi assim

Por Flávia Alves

De repente, foi assim que aconteceu. Nem gradualmente, nem lentamente; foi de repente. Foi assim que me percebi com responsabilidades e preocupações que antes não cabiam a mim. Foi assim que acordei e fui trabalhar, digitando incessantemente o que me mandaram digitar. Foi assim que senti a exaustão de uma rotina que não sei se quero seguir. Foi assim que surgiu a dúvida, a constante dúvida de um futuro que desconheço. Foi assim, mas não deveria ser.

Por vezes me lembro do conselho de uma professora no primeiro semestre de faculdade: “Aproveitem! Isso tudo, esse momento, essa etapa, tudo vai passar”. Ela tinha razão, e a cada dia fica mais claro. Tudo passa: a idade, os estudos, amigos, festas, arrependimentos, dúvidas, primeira graduação, simplesmente tudo. Você pode até querer manter o mesmo estilo de vida, mas nada será como antes.

Nessa idade o ideal de vida é basicamente o mesmo, daqueles em que se acorda sempre com disposição, estuda o que quer, vai pro emprego dos seus sonhos e é muito bem remunerado pra fazer o que gosta, além de ter tempo pra uma boa vida social. Tudo bem, isso pode ser real em algum momento, mas aceite que nem todos os dias serão de flores e que a estrada é um pouco mais turva do que se imagina.

Por isso, desapegue das dúvidas sobre o curso da faculdade, o emprego, o futuro, o certo e o errado; você não é o único com elas, é natural ficar perdido. O fato é que ninguém sabe o que está fazendo, nem mesmo aquele hipócrita que te julga por às vezes querer jogar tudo pro alto. Acredite, ninguém foi treinado pra isso.

Lembre-se de que você é jovem e sempre haverá tempo para se aventurar no novo. Ao invés de matar sua motivação aos poucos, arrisque. Não se prenda a algo que te causa angústia só por ter medo de começar algo diferente, aproveite essa juventude para dar o impulso necessário pra tentar algo inédito. Erre até acertar, e por fim encontre a resposta pros teus anseios.

Te acalma e lembra: o destino é mais importante que a estrada.

Até agora foi assim, mas o que importa é o que ainda será.

#crisedos20 #juventude #universidade

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Desabafo natalino

Por Flávia Alves

Hoje acordei pensativa, penso em tudo o que passou e tudo o que está por vir. Tenho pensado muito nesse fim de ano que se aproxima, o clichê das promessas de final de ano e a espera de um ano novo de mudanças. Nada acontece, nunca muda. Isso me fez lembrar do bom velhinho, Santa Claus, Papai Noel, aquele que observa nosso comportamento durante o ano para nos recompensar, caso tenhamos sido bonzinhos o suficiente.

Confesso que sempre tive simpatia a ele porque, em geral, me agrada o extremo norte, sua roupa vermelha me traz um sentimento de aconchego e porque por trás da barba sempre acreditei reconhecer um filósofo ou alguém muito sabido das coisas.

Querido Noel, caso você esteja lendo isso, peço que ponha seus elfos, anões, duendes e renas para vir ao Brasil. Tem umas pessoas aqui sugando nossas vidas aos poucos. Eles têm nos fodido, papai Noel. Aqui tem desgraça a rodo, estamos em crise, estão reduzindo os salários, há corte de funcionários, de benefícios, de reajustes, corte até do pão de cada dia. Tudo se reduz, menos o sofrimento.

Por uma tragédia, Minas Gerais está um mar de lama, centenas de vidas foram interrompidas por pura negligência. Tudo isso poderia ser evitado, mas não fizeram nada porque essas vidas não são rentáveis. Mas a morte sim, é, e muito. Penso que esses canalhas descarados jamais fizeram bem algum, eles não merecem presentes, nem esse ano ou qualquer outro.

Espero que seus duendes e elfos deem a esses ladrões de esperança – sejam de direita ou de direita – o que é de merecimento. E ao restante dos brasileiros, permita-me pedir quase uma utopia: desejo tudo o que temos direito e não recebemos, tudo aquilo que dá dignidade ao ser humano, porque até isso já nos foi tirado.

#textoantigo #crônica