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ceibaspeciosa · 1 month
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palavras e memória
Uma pesquisa
Estava começando a estudar o material da matéria de TI do curso Desenvolvimento de Sistemas da ETEC, e logo no começo da apostila era apontada a definição da palavra Qualidade, contando que a palavra surgiu por volta dos anos 80, "como uma necessidade básica na luta pelo mercado cada vez mais competitivo" (ETEC*).
Fui atingida por um pensamento curioso, me dando conta de que uma palavra que é tão comum no meu vocabulário apareceu pela primeira vez recentemente, há menos de 100 anos, me relembrando do quão viva a língua é. Pesquisei então se algum site apontava o ano do primeiro uso de uma palavra, e encontrei a seguinte máquina de viajar no tempo (em inglês), na qual você seleciona um ano e ela te aponta as palavras que foram impressas pela primeira vez no período escolhido:
Time Traveler
Passear por esse site é realmente uma viagem no tempo. As palavras que são apontadas em cada ano mostram com clareza as ideias que estavam em voga naquele período. 2017, por exemplo, traz pela primeira vez a palavra NFT, enquanto 1993 traz o início do uso da palavra DVD - um disco brilhante futurístico que viveu seu auge nos anos 90 e hoje já está caindo em desuso em meio à cultura do streaming.
Pensei que as palavras são como a argila: construídas, modificadas, reconstruídas e passíveis de desaparecer de sua forma original.
No livro A escrita: Há futuro para a escrita? de Vilém Flusser, o autor nos leva por inúmeros questionamentos em relação ao ato de escrever, traçando linhas históricas que passam desde o inscrever em pedras, até os desenhos com pena, e o ato de digitar, investigando o que nos leva a tal ato e o que ele significaria. Escrever busca tornar a palavra mais duradoura do que soltá-la em palavras no ar. Hoje, no entanto, com tantas outras formas de registro que vão desde fotografias até DVDs e NFTs, mantém-se a certeza de que nenhum aparato parece ser duradouro o suficiente para acalentar nosso desejo por encontrar soluções tecnológicas que prometam ser mais capazes de apreender nosso tempo.
Tumblr media
"Nós teremos de reaprender muitas coisas. É complicado, porque reaprender pode ser difícil para o aprendiz, e, sobretudo, porque é difícil esquecer o que se aprendeu em algum momento. Uma vantagem da inteligência artificial é que ela pode esquecer sem qualquer problema. Nós aprendemos com ela a importância de esquecer. E essa é uma enorme reaprendizagem, pois nos exige repensar a função da memória. Nossa tradição vê na memória o lugar da imortalidade: no judaísmo, por exemplo, permanecer na memória é um objetivo de vida, uma bênção. Temos de aprender que, da mesma maneira, é importante ser apagado da memória. Imortalidade e morte significam reaprender, reconhecimento e anonimato querm dizer aprender a revalorar." (Vilém Flusser, Cap. 19 - Transcodificar, em "Escrita: Há futuro para a escrita?")
O conceito de qualidade não cabia na estrutura da sociedade até antes do século XX, e hoje parece que nunca vivemos sem ela, após termos sido bombardeados por Pesquisas de Qualidade, produtos de qualidade, ensino de qualidade, até tempo de qualidade. As palavras nos formam e nós formamos as palavras, e o esquecimento nos permite desmanchar formas ultrapassadas e recriar novos mundos, nos quais as palavras parecem ser cada vez mais coadjuvantes de um experiências ilustradas por imagens, sons e símbolos.
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*ETEC, Agenda 08 do Terceiro Semestre do Curso de Desenvolvimento de Sistemas EaD
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ceibaspeciosa · 1 year
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portal
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(Imagem que criei usando NightCafe Creator IA)
Aqui abro os caminhos desta ponte digital que pretende trazer ao mundo diversas pesquisas/insights/ferramentas/sonhos/receitas que me cutucarem a mente pedindo para ver a luz do sol (ou dos pixels), como tantas têm feito comigo ultimamente. Como não estou ainda presa a nenhum formato, compromisso estético ou de conteúdo, vou permitir que este espaço tome a forma que achar necessário ao longo do tempo, crescendo na direção em que achar necessário. O título vêm de um poema que escrevi para a paineira (Ceiba speciosa é o nome científico da árvore) em um desafio que propus pra mim mesma, para exercitar a escrita direcionada a algum tema, e escolhi uma árvore de um livro maravilhoso que tenho, chamado Árvores Brasileiras. Daí que gostei do poema e passei a gostar mais ainda da árvore, que carrega consigo tanta potência de ar, fluidez e movimento. Deixo aqui o poema também pra celebrar essa inauguração.
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Ceiba speciosa
No campo uma muda ou uma semente a germinar? No solo, à semi-sombra cresce, se entronca se põe a pintar contra o céu, prédio, escola,
Paineira-rosa-pincel você mesma se pinta e sobre seu travesseiro lhe sonho num papel.
Árvore-de-lã me leva em suave flor faz meu Janeiro mais rosa me ganha na sua prosa num passeio canoa de madeira paina a proa quando o Sol se pôr.
Primavera de neve com seu fruto leve me neva o sonhar entre suas plumas brancaspaina-de-seda me banca os olhos ensina a voar desde o Sul à Belém do Pará.
Paineira, ainda me espanto quando seu jeito manso vem me visitar à beira da estrada, no mato, no vale, pega carona com o vento pra me abençoar.
Paina-me Leva-me
Quero ser eu seu reino, Rainha de ar.
(Esther Lourenço)
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