Tumgik
haynzs · 4 years
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Embora as bolsas escuras embaixo dos olhos fossem um claro sinal de cansaço, Remi sentia-se qualquer coisa menos. Poderia até correr o risco de dizer que sentia-se energizado ao carregar cada caixa para seus respectivos cômodos, até mesmo como não tinha se incomodado ao forçar um pouco a vista pra entender os garranchos que chamava de ‘letra’. Queria já começar a tirar os objetos guardados e os colocar em seus lugares, mas precisava esperar Cecily, tanto pra ajudá-lo, quanto pra escutar a opinião da namorada sobre o posicionamento de tudo. E, claro, ainda precisa ajustar os móveis também. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, acabou por fisgar no canto do olho a caixa com os itens do banheiro, não tinha como errar com aquilo, começaria por ali, então. 
Tinha o semblante concentrado, com as sobrancelhas franzidas ao tirar um por um de dentro da caixa que não fosse o silêncio completo que pairasse a voz da namorada poderia ter sido facilmente despercebida. Não sendo o caso, sorriu, não automaticamente, mas com familiaridade, trazendo o pensamento de que ele poderia se acostumar com aquela cena bem fácil. O sorriso manteve-se até a outra entrar no quarto, então o cenho voltou a franzir, dessa vez em preocupação pelo tom proferido. “Não quando você fala assim, porque eu já fico nervoso de agora.” Riu baixo sem humor como que apenas pra completar o que dizia, até olhar dentro da sacola e entender o que “isso” significava.
“Oh.” A realização do conteúdo foi como um choque, e Remi não sabia o que fazer além de subir o olhar pra encarar a namorada em busca de algum traço de que seria apenas uma brincadeira. Não que fosse uma notícia ruim, porque sempre teve certeza de que os dois iam começar uma família mais cedo ou mais tarde, era apenas uma surpresa por ser ‘mais cedo’. “Oh.” Repetiu, deixando a ideia se normalizar dentro de sua cabeça. “Você quer fazer isso agora? Ou a gente espera pra fazer depois?” Disse quando notou que precisava falar alguma coisa que não fosse monossilábica, e também pra esclarecer que ela não precisava nem mesmo pedir pra que ele estivesse ao seu lado.
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              Conhecendo Remi, soube de imediato, ao comprar aqueles testes, que ele teria aquela reação. Choque. Fora assim que a própria Cecily reagira com as respostas que o Google havia lhe dado ao digitar os sintomas que estava tendo. Pensou que poderia ser uma gastroenterite, e assim estaria explicado os enjoos. O estresse do novo emprego explicava as variações de humor e, até, o atraso menstrual. Porém, mesmo que tivesse o desejo de ser mãe, por não estar esperando aquela resposta quando juntou os sintomas físicos e emocionais, chocou-se ao ler que podia se tratar de uma gravidez. Talvez fosse exatamente o que estava passando na cabeça do namorado, afinal, namoravam há anos e tinham perspectiva de um futuro juntos, mas podia ser cedo demais devido as circunstâncias onde se encontravam. De um modo mais positivo, podia ser o momento certo. Afinal, estavam mobiliando a casa onde morariam juntos, com um quarto livre que poderia servir muito bem de berçário. 
               Com a pergunta do namorado, Cecily escorou-se na parede, encarando a porta do banheiro. ❝ Agora. É melhor tirarmos esse band-aid logo ou ficaremos os dois estressados e ansiosos toda vez que olharmos essa sacola. ❞ Explicou seu ponto, estendendo a mão para que ele lhe entregasse-a novamente. Não achava que esperar fosse uma boa ideia naquele caso. Sabia que começaria a ficar mais nervosa do que já estava e que seus ânimos não seriam os mesmos até que efetuasse o teste. Do mesmo jeito que, se os testes sinalizassem dois risquinhos, acusando positivo, Cecily marcaria um exame de sangue para o dia útil seguinte, assim como uma consulta com seu ginecologista.
             Tendo a sacola em suas mãos, pegou os dois testes e encaminhou-se para dentro do banheiro. ❝ Seu celular está aí? Precisamos cronometrar. ❞ Disse enquanto lia o verso da caixa de cada teste. Cecily Haynes seguia regras a fio, e era assim que ensinava seus alunos. Futuramente, ensinaria seus filhos do mesmo modo. Fechara a porta do banheiro, com as bochechas levemente vermelhas de vergonha pela situação em que estavam. Poucos minutos depois, abrira a porta. Olhou para Remi com insegurança, segurando os dois testes em suas mãos. ❝ Três minutos. ❞ Informou o tempo que deviam esperar para obter a resposta. Estava nervosa, e isso ficava claro pelas mãos trêmulas, pela expressão desconcertada.
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𝐓𝐖𝐎 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒 𝐈𝐍 𝐎𝐍𝐄 𝐁𝐎𝐃𝐘.
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haynzs · 4 years
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𝐓𝐖𝐎 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒 𝐈𝐍 𝐎𝐍𝐄 𝐁𝐎𝐃𝐘.
                      Havia alguns dias que Cecily notara diferenças em seu próprio corpo e em seu comportamento. Notar as diferenças fora fácil, juntá-las e colocar na barra de pesquisa de seu notebook fora o complicado. Quando o google sinalizou as milhares de respostas, o coração da professora de pré-escola parou. Sabia dos riscos que ela e Remi corriam quando decidiam não usar proteção, mas sempre fora muito correta com suas pílulas anticoncepcionais. Apesar de não gostar do que estava lendo, algo dentro de si estava muito feliz. Afinal, sempre desejou ter uma grande família, coisa que não teve. Seus pais eram filhos únicos que tiveram somente uma filha, Cecily, e ela não faria o mesmo. Sempre imaginou-se com quatro filhos, cinco até, numa grande casa no subúrbio onde tivesse muito espaço para que eles pudessem brincar e correr. 
                      Era isso que Cecily Haynes queria, mas não estava seguindo seus planos. Acabara de terminar seu bacharelado em early childhood education e seu estágio numa pré-escola próxima a faculdade, mal havia começado em seu novo emprego ainda. Ela e Remi haviam acabado de escolher a nova casa, onde finalmente morariam juntos. Buscaram uma que fosse próxima do emprego dos dois, que tivesse um pequeno quintal atrás para churrascos e comemorações que Cecily sempre amou fazer. Estava feliz com a condição de vida que estavam podendo ter aos 25 e 26 anos de idade. Não é todo casal que poderia fazer isso. As paredes da casa eram em um tom parecido com café, um marrom fechado, e as cortinas e persianas verde-claras que a mãe de Cecily deu aos dois combinavam perfeitamente. Ao parar na frente da casa nova, fora a primeira coisa que reparou. Desceu do carro e trouxe consigo do supermercado o necessário para fazerem um almoço simples, para terem forças e ânimo para terminar de desencaixotar todos seus pertences, e dois testes de gravidez, de marcas diferentes. 
                         Entrou na casa e logo gritou ❝ I’m home, love! ❞ para avisar que chegou. Fechou a porta e caminhou direto para a pequena cozinha que agora podia chamar de sua. Colocou as compras na mesa e, com a sacola onde estavam os testes de gravidez, caminhou em direção ao quarto, onde acreditava que encontraria seu namorado. Não faria escândalo sobre aquilo, nem esperava deixá-lo muito ansioso, mas esperava que o fizessem junto e sem muito alarde. Não podia ficar mais nervosa do que já estava. Ao entrar no cômodo, o viu organizando algumas coisas e aproximou-se com calma.  ❝ Remi... Posso lhe pedir para não ficar nervoso com o que vou dizer? ❞ Pediu, com um tom de voz claramente abalado.  ❝ Preciso fazer isso e preciso fazer isso com você ao meu lado. ❞ Cecily continuou com seu tom pedinte, entregando a sacola com os testes para que ele pudesse ver do que se tratava. 
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