Tumgik
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Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente, porque Deus, se é que existe, anda destraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé - e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal. Nesse Zero Grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o Planeta Terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do Cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com Fanta e Guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: "você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete"? e o outro grunhe em resposta. Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se ver, nesses lugares onde um outro ser humano vai se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa. Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel tão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto. Olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem. Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na capital. Deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma, sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões. Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio. Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse Zero Grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.
Caio Fernando Abreu, Zero Grau de Libra
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Eleanor and Park ♡
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Com açúcar, com afeto. <3
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A gente pode culpar a nossa infância, acusar interminavelmente nossos pais por todos os males que nos afligem, incriminar a eles pelas provações da vida, por nossas fraquezas, nossas covardias, mas, no fim, nós somos responsáveis pela nossa própria existência, nós nos tornamos o que decidimos nos tornar. Além disso, você precisa aprender a relativizar os seus dramas, sempre vai haver famílias piores do que a sua.
Tudo Aquilo que Nunca foi Dito - Marc Levy (via livrariapessoal)
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WOW!
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Cat Ladies, Cat Ladies everywhere. 
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Catherine Tate [essa linda] falando sobre mulheres em stand up comedy.
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Meu Deus, eu tinha tanta briga dentro de mim e ninguém em quem atirar.
Emma Forrest, Sua voz dentro de mim.
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Eu odiava aulas com debate. Odiava falar e odiava ouvir os outros tropeçarem em suas próprias palavras, tentando frasear as coisas da maneira mais vaga possível para não parecerem estúpidos. Odiava como tudo acabava sendo um jogo, no qual tentávamos descobrir o que o professor queria ouvir e o díziamos. Estou aqui, então me ensine.
John Green, Quem é você, Alasca?
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Fozzy Bear
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Internet é coisa séria.
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True love will find you in the end
You'll find out just who was your friend
Don't be sad, I know you will
But don't give up until
True love will find you in the end
Daniel Johnson - True Love Will Find You In The End (Medianeras)
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Pessoas como você precisam criar. Se você não criar, Bernadette, vai se tornar uma ameaça para a sociedade.
Maria Temple, Cadê você Bernadette?
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"Eu preciso que você saiba o quanto é difícil para mim às vezes". Mamãe sugurou a minha mão. "O que é difícil?" "A banalidade da vida", ela disse.
Maria Semple, Cadê você Bernadette?
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Ela evitava tudo o que era útil como se fosse uma doença contagiosa.
Alice Munro. IN: Vida Querida.
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Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito D. Manuel e sua corja de tenentes Eusébios. quadrados de pedregulho irregular socados à mão. À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem um chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto em cima e aplaina.
Fernanda Torres, Fim
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