Tumgik
matsu-chan · 5 years
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Reasons why I like tumblr
1. None of my family is on here
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matsu-chan · 6 years
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I don't understand why I've never thought about that Also, I'm so happy about this last guy's story ♡ it really does make a huge difference if the person taking care of your health is somehow relatable, you know...
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matsu-chan · 7 years
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Ichinose Guren: Catástrofe Aos 16 - Masterpost
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Epílogo
Notas do Autor e de Tradução
Bem, com isso o volume 1 está completo! Obirgada a todos por lerem e prestigiarem a equipe ^^
Infelizmente, não estou conseguindo colocar imagens nos posts aqui -.- depois eu tento editar tudo e inclui-las... Mas, em todo caso, vocês sempre podem vir me perturbar no pv atrás da cópia completa em pdf, que contém as imagens, glossário e a diagramação correta XD
Espero que tenham gostado e e que estejam ansiosos pelos próximos :3
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matsu-chan · 7 years
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Pósfacio + Notas de Tradução
Fantasia mágica escolar! Ao menos foi assim que classificaram.
Acho que é uma descrição bem precisa.
Mas essa também é uma história onde já está decidido que o mundo vai acabar. Foi interessante escrever uma história onde eu já sabia que o mundo definitivamente ia ter fim. Eu me diverti escrevendo isso.
Mas antes de eu me exaltar demais, como esse é o início de uma nova série, talvez eu devesse me apresentar.
Olá! Meu nome é Kagami Takaya.
Eu escrevi outras obras, como “Densetsu no Yuusha no Densetsu” (“A Lenda dos Lendários Heróis”) e “Itsuka Tenma no Kurousagi” (“Um Coelho Negro Tem Sete Vidas”).
Quando eu começo a escrever um novo livro, normalmente ele vira uma longa série, então eu não tenho muitas oportunidades de começar uma nova.
Na verdade, acho que esta é também a minha primeira vez escrevendo uma obra completamente nova em quatro anos e meio. Também é a primeira vez que estou publicando fora da Fujimi Shobo Fantasia, então estou um pouco nervoso.
Mas também é por isso que eu vou dar o meu melhor para que essa série seja realmente boa. Eu espero que todos vocês gostem da leitura!
 Agora parece uma boa hora para explicar como essa série surgiu.
Alguns de vocês provavelmente ouviram falar primeiro dessa série após verem a capa ou uma propaganda. Mas também há uma série de mangá de “Owari no Seraph” (no Brasil, “Seraph of the End”) saindo ao mesmo tempo pela revista Jump SQ.
Na verdade, esse livro está sendo lançado ao mesmo tempo que o capítulo número um do mangá (eu também escrevo o roteiro para toda a série do mangá, então eu espero que vocês o acompanhem também!).
 O mangá se passa no mesmo mundo, oito anos mais tarde, depois de o mundo já ter chegado ao fim.
Em outras palavras, quando Guren tem vinte e quatro anos. Todo crescido! (kkk)
Guren tem um papel importante no mangá também, como tenente-coronel do Exército Demoníaco Imperial Japonês (título chamativo!), então vocês com certeza deviam ir dar uma olhada.
 É claro, outo anos mais tarde o mundo já foi destruído A história começa com sua queda. Demônios selvagens fora de controle e humanos, controlados pelos vampiros, têm sua população reduzida para um décimo de seus números anteriores.
Em outras palavras, a catástrofe é certa.
Mas por que o Apocalipse aconteceu?
Como a humanidade encarou esta tragédia? Por que dificuldades passou?
O que aconteceu com Guren e seus amigos ao longo do caminho, e como eles lidaram com isso?
 Eu quero escrever uma história que pinte os últimos dias da humanidade, vista pelos olhos de Guren.
 Eu ficaria muito feliz se meus fãs lessem os livros e o mangá ao mesmo tempo. Mas, como ambos os protagonistas (o herói do mangá se chama Hyakuya Yuuichirou) e o conceito são diferentes, você definitivamente pode curtir um sem ler o outro.
Mas... Eu espero que vejam os dois!
 E, para aqueles de vocês que já leram o mangá...
O que vocês acharam do Guren quando tinha quinze anos, a mesma idade do Yuuichirou no mangá? (kk)
 Depois da minha estreia na Fujimi Shibo, eu não quero deixa-los bravos por mudar de lado. Então, uma vez que tenham terminado de ler Owari No Seraph, por que não dar uma olhada n’A Lenda Dos Lendários Heróis também?
Aqui vai uma última coisa que eu quero dizer. Já que é algo que eu sempre digo quando começo uma nova série, aqueles de vocês que já leram minhas outras obras podem achar meio cansativo de ouvir isso. Mas lá vai:
Eu acredito que meus livros são algo que nós criamos juntos. É graças a vocês, fãs, que estes livros foram feitos. Por isso, eu quero agradecer a vocês que estão lendo. Sem vocês, nem haveria livro, para começo de história.
O que acham que está reservado para o Guren, a Sayuri, a Shigure, o Shinya e a Mahiru? Eu espero que estejam ansiosos para ver o que vai acontecer!
Com certeza, há mais a se dizer, mas eu já usei a maior parte do espaço que reservei para o posfácio.
Felizmente, nós vamos poder nos encontrar de novo em breve.
Como eu disse antes, Guren tem um papel importante no mangá do Owari No Seraph que estreia na edição de Abril da Jump SQ. Se vocês gostarem do mangá, não esqueçam de preencher nossa pesquisa de opinião!
Até lá!
  Kagami Takaya
Oie! Aqui é Matsu, outra vez!
Agradeço muito por prestigiarem o trabalho da nossa equipe de tradução, Seraph Universe, ao lerem a tradução deste livro! Aos interessados por uma cópia do pdf (com a diagramação mais arrumada, um glossário e as imagens inseridas), o meu pv está aí... Sim, é meio frustrante que o livro esteja lindo, mas eu não possa passar realmente isso por aqui kk
Ahh~ Eu amo bastante essa história, então eu espero do fundo do coração que vocês estejam gostando também e que já estejam ansiosos por mais... Mesmo que seja triste... Mas é um tipo bom de dor, não é?!
Aliás, temos agora também um mangá de Catástrofe Aos 16 sendo publicado no Japão (que timing legal, não?) e que a Seraph Universe começará a postar também \o/ não fizemos isso ainda porque, bem, são 85 páginas cada um dos dois primeiros capítulos....... 85 pags direto do japonês..... dói.... Mas está tudo dando certo! (Nota-se que sou extremamente otimista)
Outra vez, mil agradecimentos por lerem e, por favor, sintam-se à vontade para compartilhar por aí a tradução, contanto que dêem os devidos créditos! Porque, afinal, eu não tenho os direitos sobre a série Owari No Seraph, mas dinheiro e muuuuuitas horas de trabalho foram gastos para preparar esta tradução para vocês ^^ Até a próxima!
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matsu-chan · 7 years
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Epílogo - A Última Primavera Antes do Fim
“Guren-sama! Guren-sama! As aulas recomeçam hoje. Dessa vez eu não vou sair do seu lado, nem por um segundo! ”
“...”
“Não posso acreditar que logo no dia que eu estava no hospital você se viu no meio de uma guerra. Assim que ouvimos, eu e Shigure só nos olhamos e saímos correndo para a escola, tão rápido quanto conseguimos. Nós somos suas guardas. Se há perigo, nós devíamos estar lá para proteger você! E-Então...”
Sayuri pisou mais perto dele, se imprensando do lado de Guren.
“Então...” Shigure disse, imprensando Guren pelo outro lado, “a partir de hoje, nós vamos ficar ao seu lado em cada segundo do dia. ”
Guren olhou para cada uma das duas, vestidas em seus uniformes colegiais, por vez.
“Tanto faz, mas por que têm que ficar tão perto? ”
“É uma situação de emergência”, respondeu Shigure.
“Estamos no meio de uma guerra”, disse Sayuri.
Guren pôs uma mão no ombro de cada uma delas e as empurrou para os lados como se abrisse uma porta.
“Estão no meu caminho. Eu não consigo nem andar direito. Além do mais, eu sou bem mais forte que vocês duas. ”
“Guren-sama, espere! Você tem que ficar por perto! ” Sayuri disse.
“É óbvio que não somos tão fortes como você, Guren-sama”, Shigure concordou, “mas ainda levaríamos uma bala por você. Sayuri está certa. Por favor, fique perto. ”
Os olhos de Sayuri e de Shigure vaguearam a esmo, estudando os arredores em busca de inimigos ou de um ataque. Elas estavam em alerta total. Na verdade, elas só pareciam malucas e suspeitas.
Os três caminharam para a escola, fazendo o caminho de costume.
O caminho que levava ao Primeiro Secundário de Shibuya.
A escola estivera fechada por duas semanas após ter sido atacada por uma organização não-identificada durante os Exames de Qualificação. Hoje era o primeiro dia a ter aulas de novo.
De acordo com as últimas notícias, os atacantes eram um grupo terrorista obscuro de quem ninguém nunca ouvira falar.
O Demônio Imperial afirmava ter caçado até o último dos membros do grupo e matado cada um deles. Eles diziam que era um exemplo do destino que aguardava qualquer um que desafiasse o Demônio Imperial.
Esses relatos acalmaram os diretores da escola. Os outros seguidores da Ordem do Demônio Imperial também pareciam satisfeitos.
Mas, é claro, isso era tudo mentira.
Os verdadeiros atacantes eram o maior sindicato mágico do Japão, a Seita Hyakuya. E a Seita Hyakuya não era algo com o que se lidar tão facilmente.
Ou o grupo terrorista era um bode expiatório armado pela Seita Hyakuya ou os cabeças do Demônio Imperial tinha inventado um inimigo fictício para encobrir a sua falha.
Nenhuma alternativa mudava o estado das coisas.
De qualquer forma, uma guerra estava se tecendo entre as duas maiores organizações mágicas do país.
A Ordem da Lua Imperial, no entanto, comandada pelo Clã Ichinose, estava determinada a tirar proveito do conflito para beneficiar a si mesma. O objetivo era entrar quando fosse favorável para destruir ambas as organizações e então tomar seu lugar de direito no topo da cadeia alimentar.
O conhecimento de que as duas organizações estavam à beira de uma guerra só havia sido comunicado ao alto escalão da Ordem. Foi imposto um rígido sigilo. Enquanto isso, uma operação máxima para angariar informações estava agindo por baixo dos panos.
Operadores de cada ramo da Lua Imperial agora arriscavam suas vidas para se infiltrar e sabotar o inimigo.
E, enquanto isso...
“...nós não vamos mais deixar você ficar em perigo, Guren-sama. Eu juro”, Shigure disse.
Ela parecia resoluta. Ela parecia falar consigo mesma.
Assim que ela terminou de falar, porém, o inimigo atacou inesperadamente.
Por sorte, não era um ataque com risco de vida.
“Hã...? ”
Guren ergueu o olhar. Uma garrafa plástica cheia de refrigerante voava acima de sua cabeça. A tampa estava aberta. Se o acertasse, ele ficaria ensopado.
Era como o primeiro dia na escola, tudo outra vez.
Do outro lado da estrada, ele podia ouvir os alunos da Ordem do Demônio Imperial rindo dele.
Eles estavam no meio de uma guerra, mas ninguém tinha dito isso para esses idiotas. Eles todos estavam felizes acreditando que o ataque tinha sido de um grupo terrorista aleatório com quem já tinha lidado. Nesse meio tempo, eles não tinham nada melhor para fazer a não ser pegar no pé de Guren.
Guren olhou para eles com os olhos semicerrados.
Ele se inclinou para Shigure, pretendendo dizer a ela que deixasse a garrafa o atingir.
Afinal, ainda não tinha por que Guren revelar sua verdadeira força. De fato, após os recentes desenvolvimentos, era mais importante que nunca que ele ocultasse o seu poder total.
Fora que, no fim das contas, parecia que ele ia ter que aguentar o bullying por três anos.
Porque a guerra já tinha começado.
As duas enormes organizações que Guren queria destruir tinham se voltado uma contra a outra, bem quando caiu melhor.
Mas, por ora, Guren deixaria que os alunos continuassem a desprezá-lo.
Era importante que ele mantivesse essa fachada.
Aqueles tolos podiam zoar e rir do Clã Ichinose o quanto quisessem. Afinal, eles estavam zoando em direção às suas próprias mortes.
E foi por isso que Guren decidiu deixar que a garrafa de refrigerante o atingisse.
Infelizmente, Shigure estava tão no limite que ela entrou em ação antes que Guren pudesse impedi-la. Num tempo de meio segundo, ela lançou uma de suas kunai, as armas assassinas. Ela estava pronta para abater qualquer um ou qualquer coisa que se aproximasse de seu mestre.
A kunai voou num curso de colisão com a garrafa de refrigerante.
Vendo a garrafa ser pulverizada no meio do ar certamente os calaria. Você não ia querer ver o lado ruim de Shigure. O lado ruim de Shigure era mortal
Infelizmente, aquele cenário ia se voltar contra eles.
Guren ia ter uma conversa com Shigure mais tarde...
Felizmente, ele foi poupado desse trabalho.
“Aí! ” Veio uma voz da lateral.
Ele pareceu vir do nada, alcançando e segurando a kunai no ar antes que ela atingisse seu alvo.
Era Hiiragi Shinya.
Com a kunai fora de caminho, a garrafa de refrigerante estava livre para atingir Guren na cabeça. Seu conteúdo se derramou, o ensopando dos pés à cabeça em refrigerante.
Os outros alunos explodiram em risadas. Eles começaram a xingar Guren.
—É para beber o refrigerante, não tomar banho nele!
—Vai pra casa, fracote! Essa escola não é pra você!
—É, vá para casa! Não queremos bastardos Ichinose por aqui!
Shinya se virou para Guren com um sorriso fraco.
“He. Algumas pessoas nunca aprendem. Não consegue nem desviar de uma de uma garrafa de refri? ”
Os outros alunos riram ainda mais alto. Shinya era um Hiiragi. Com ele de seu lado, eles se sentiam ainda mais confiantes.
Aparentemente, Shinya tinha decidido que ajudaria Guren com sua farsa.
“Você vai pagar por isso! ”
Sayuri e Shigure avançaram, com raiva. Guren levantou uma mão para acalmá-las.
“Obrigado pela ajuda, Shinya”, ele disse.
“Ei, é para isso que existem os amigos. ”
“Amigos? Então está interessado em ingressar a Lua Imperial? ”
“Sem chance. ”
“Nesse caso, não somos amigos. ”
“Hmpf. Sabe o que dizem, o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Te vejo na aula, Guren...”
Shinya se virou e foi embora. Shigure virou-se para Guren para lhe perguntar o que tinha sido aquilo. Mas, antes que ela o fizesse, eles foram interrompidos de novo.
“Olhe para você, todo molhado! ”
Era Jyuujou Mito. Ela se aproximou dele por trás.
Ela ultrapassou Guren e ficou na frente dele como se para protege-lo dos alunos que tinham jogado a garrafa.
“Vocês não têm vergonha de si mesmos?! ” Ela gritou, indignada.
Os alunos de repente já não pareciam mais tão bravos.
—Olhe aquele cabelo... Ela deve ser uma Jyuujou...
—Isso não está certo... Por que uma Jyuujou está do lado de um traste Ichinose?
—Quem liga? Shinya-sama está do nosso lado!
—E o Seishirou-sama também! Todo mundo odeia esse bastardo Ichinose...
Implicar ou não implicar? Os alunos começaram a discutir entre si. Mas nada disso realmente importava para Guren.
“Credo, Guren, o que diabos aconteceu contigo? ”
Desta vez foi Goshi Norito. Ele caminhou até Guren e cheirou o seu ombro.
“Cara, você tá com cheiro de refri. ”
“O que eu posso dizer, é minha bebida favorita. ”
“Haha! Mas sério, não me diga que estão fazendo bullying com você de novo. Me diga quem fez isso. Você me salvou no outro dia, é minha vez de te fazer um favor. ”
Goshi olhou para o grupo de alunos que tinham jogado a garrafa. Ele estreitou os olhos de forma ameaçadora.
“Ahh! ”
Assustados, os alunos gritaram de medo.
—B-Bora lá, pessoal, vamos para a sala.
—É-É, não queremos nos atrasar!
Os alunos fugiram dali, dando desculpas.
“...”
Guren observou eles saírem, sem interesse. Ele se virou para seus salvadores, Goshi e Mito, e disse:
“Eu preciso falar com vocês. ”
“O que foi? ” Goshi disse. “Quer nos agradecer? ”
“Não tem por que agradecer”, Mito falou. “Afinal, você nos salvou primeiro. ”
“Tem razão, eu não tenho por que agradecer”, disse Guren, fazendo que sim com a cabeça. “O que eu ia dizer é para vocês ficarem longe de mim. Eu não preciso de amigos. ”
Mito e Goshi arregalaram os olhos, surpresos.
“Eu nunca soube que você era tão tímido”, Goshi riu.
“Está preocupado que vão pegar no nosso pé também? ” Mito perguntou. “É por isso que quer que fiquemos longe? ”
“O quê? Não...”
“Não precisa se preocupar com a gente”, disse Mito. “Mas é legal da sua parte. Eu acho que te entendo um pouco melhor agora. ”
Uma coisa era certa: Mito definitivamente não entendia nada sobre Guren.
“Ah, Yukimi. Como vai? ” Mito falou, virando-se para a seguidora de Guren.
“Não tenho interesse...” Shigure falou.
“Não pode vir para a casa da minha família, só para uma visita? Eu contei ao meu pai sobre você e ele realmente gostaria de conhece-la...”
“Não tenho interesse...”
“Claro, claro. Mas você pode vir hoje, depois que a aula acabar...”
Enquanto isso, Goshi estava mais interessado em Sayuri.
“Ei, você é a Sayuri, não é? Me diz, você tem namorado, tem? ”
“E-E-Espera aí, fique longe de mim! ” Sayuri gaguejou. “Não me faça te bater! ”
“Qual é, não fique assim. Vamos sair num encontro hoje depois da aula, eu e você...”
“Impossível! ”
“Então você tem um namorado? É isso? ”
“B-Bem... não... Eu não tenho um namorado. Mas tem alguém muito importante para mim... G-Guren-sama...”
O rosto de Sayuri ficou vermelho igual a um pimentão, olhando de canto de olho para Guren.
“...”
Eles estão agindo como se não tivessem uma preocupação no mundo, pensou Guren. Eles não perceberam que estamos no meio de uma guerra?
Por que era que todo mundo que Guren conhecia falava tanto? Ele pensou em lhes mandar calarem a boca, mas ele sabia que não ia adiantar.
Ele os encarou por um momento e então suspirou. Ele tirou com os dedos seu cabelo molhado de refrigerante da frente do rosto.
E olhou para o céu.
Estava claro e pacífico. De repente, tudo parecia absurdo.
“...He. ”
Guren deu um risinho consigo mesmo.
Ele não pôde evitar.
 Então, parece que a história de Guren começa aqui.
Uma história de guerra.
De morte.
De desespero.
De amor e ódio.
Uma história de doçura e tolice humana.
Uma história de desejos...
E das consequências que eles trazem...
Desejos que crescem e se dilatam, até que apenas o fim do mundo possa pará-los.
Esta é uma história sobre aqueles últimos dias, antes da queda da humanidade.
Uma história das últimas dores e complicações dos homens, antes do Serafim do Fim soar as trombetas do Apocalipse soarem e o martelo do destino batesse para quebrar o mundo.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 7 - Com Amor, Mahiru
Era o dia seguinte.
Seria conduzida uma outra rodada dos Exames de Qualificação no pátio da escola.
 Os gritos e torcidas dos alunos enchiam a atmosfera.
A elite que eram os alunos da turma de Guren, a Classe 1-9, dominavam as disputas. A sequência de vitórias da sala continuava, já que eles facilmente ultrapassavam em poder os seus oponentes.
No dia seguinte, ou possivelmente no depois dele, eles estariam se enfrentando entre si.
Por ora, no entanto, o espírito de grupo ainda era grande.
Após passarem por dois dias de Exames de Qualificação juntos, os estudantes naquela sala tinham começado a ficar mais próximos.
“...Bem, todos menos eu, é claro”, balbuciou Guren, olhando para o céu.
Ele riu consigo mesmo.
O tempo tinha sido ensolarado nos últimos dias. Hoje, o céu também estava claro.
Nem uma única nuvem à vista.
Enquanto isso, debaixo daquele céu pacífico, os alunos competiam uns contra os outros em horrendas e mortais disputas.
Os Exames podiam não ser tão ruins quanto experimentos com humanos, mas a cada dois ou três anos pelo menos um aluno era morto.
Então, de certo modo, eles eram meio que experimentos humanos.
“Há alguma diferença entre isto e o que a Seita Hyakuya faz? ” Guren murmurou.
Não era para dizer que o Clã Ichinose não conduzia treinamentos similares. Ele não ia começar agora a ser exigente.
Alguém gritou, perto dali:
“Ei, Guren! ”
Era Shinya.
“Hã? Eu pensei que não estivesse mais falando comigo. ”
“Eu disse isso, não foi? ” Shinya riu. “Tenho que admitir, eu fiquei bem desapontado com você. ”
“Então por que só não me deixa em paz? ”
“Eu tenho coração mole, sabe. Você é tão fraco que eu resolvi te dar uma mãozinha. ”
“O que quer dizer? ”
“A partida de hoje. Só se renda. Eu vou garantir que não haja problemas se fizer isso. ”
Guren olhou para Shinya de canto de olho.
“O que quer dizer com me render? ”
“Eu ouvi sobre ontem”, disse Shinya. “A sua guarda-costas... como é o nome dela? ”
“Hanayori Sayuri. ”
“Isso, ela. Eu ouvi que ela foi hospitalizada...”
Os ferimentos de Sayuri foram bastante severos. Depois de saírem da escola, eles a levaram direto para o hospital. Guren pediu que Shigure ficasse no hospital com ela. Como resultado, nem Sayuri nem Shigure tinham vindo para a escola hoje.
“Como ela está? ” Shinya perguntou.
“...Ela está bem”, Guren respondeu, voltando os olhos para o combate. “Não se preocupe com ela. Meus subordinados são bem-treinados. Seria preciso bem mais do que isso para acabar com ela. ”
“Haha, eles treinam tanto assim mesmo que seu mestre seja tão fraco? ”
“...Sim. ”
“Bom, e quanto a você? Não sente vergonha por suas próprias servas serem mais fortes do que você? ”
Guren olhou para Shinya sem responder. Shinya prosseguiu, sem esperar por uma resposta.
“Depois do que aconteceu com suas servas, uma pessoa normal iria querer dar o troco contra Seishirou, não importa o quanto as chances fossem ruins. Você não sente isso nem um pouco? ”
Guren fez uma careta em resposta.
“Que bem isso traria? ” Ele disse.
“Que bem?! ”
“É óbvio que eu não tenho chances contra ele. Eu não acredito em desperdiçar o meu tempo com fantasias sem sentido. ”
“Hmpf. ”
“E as minhas servas... a Sayuri... não iriam querer isso também. Elas não iriam querer que eu fizesse algo imprudente e me ferisse também—”
“Chega”, disse Shinya, levantando uma mão para que Guren parasse. “Eu já ouvi as suas desculpas. Para resumir, você nasceu um perdedor e vai morrer um perdedor. Certo? ”
“...”
“Então acho que eu estava certo a seu respeito. Se tivesse ao menos me mostrado um pouco de fibra, eu teria em troca lhe contado as fraquezas de Seishirou. Mas acho que não tem por quê. Desista da luta. Se tentar lutar com uma atitude dessas, você vai ser morto. ”
“...”
“É esse o tipo de pessoa que o Seishirou é. Ele vai humilhar você e então vai lhe matar. Os professores também não vão impedi-lo. Eles nem sequer vão puni-lo por matar você. ”
“Então eu devo me render? ”
Shinya assentiu.
“Quer dizer que devo fugir, sem lutar. ”
“Isso. Afinal, é o que você faz de melhor, não é? ”
Guren pensou a respeito. Deveria ele fazer o que Shinya falou? Ele esperava trocar ao menos alguns golpes com Seishirou, para que pudesse julgar de primeira mão a velocidade dos Hiiragi com suas magias.
Mas as circunstâncias tinham mudado.
Depois do que ocorrera com Sayuri na véspera, Guren não estava certo se poderia se controlar.
Se ele lutasse contra Seishirou...
Ele teria que continuar se fazendo de fraco, enquanto Seishirou daria um espetáculo para a multidão. Seishirou iria se exibir com algumas de suas técnicas e aí Guren iria encerrar o ato perdendo.
Mas ele não achava que tinha a maturidade para aquilo dessa vez. Ele conseguia sentir a raiva já crescendo em seu peito, só de pensar no dia anterior.
Seu senso de orgulho?
Sua necessidade de autoafirmação?
O que ele realmente precisava era de poder. Todo o ódio e orgulho do mundo apenas ficariam em seu caminho. Ele ia acabar jogando fora tudo aquilo pelo que trabalhara, tudo por um único momento de gratificação.
Aguente firme, ele disse a si mesmo. Tenha paciência. O seu objetivo real é outro.
Ele não o alcançaria se metendo naquela brincadeira de criança deles.
Guren olhou para Shinya.
“Então você me ajuda a desistir da partida? ” Ele disse, abaixando a cabeça.
Shinya fixou em Guren um olhar gélido. Um olhar de desgosto apareceu em seu rosto.
“Você é patético”, ele disse.
“Mas foi você quem me disse para desistir...”
“Que perda de tempo”, ele disse, ignorando as palavras de Guren e se virando com pesar. “Eu não acredito que a Mahiru...”
O que quer que ele fosse dizer, ele parou na metade.
“Certo, eu te ajudo com sua desistência”, ele cuspiu. Ele deu um tapa no ombro de Guren e saiu, sem dizer mais nada.
A presente disputa estava chegando ao fim. O juiz chamou os nomes dos próximos alunos.
“Hiiragi Seishirou, Classe 1-4. Aproxime-se! ”
Seishirou pisou no ringue.
“Ichinose Guren, Classe 1-9. Aproxime-se! ”
Guren não se mexeu. No lugar dele, Shinya caminhou até estar de frente para Seishirou.
Murmúrios passaram pela multidão.
Goshi e Mito, que observavam perto dali, olharam para Guren, confusos.
“O que diabos ele está fazendo? ” Mito perguntou.
“Por que o Shinya-sama está no ringue ao invés de você? ” Goshi perguntou também.
“Eu estou desistindo da luta...” Guren disse, com um sorriso autodepreciativo.
“O quê?! ”
“Eu não tenho chances contra Seishirou. ”
Os olhos de Goshi se arregalaram.
“Não está falando sério, está? ”
“Isso foi longe demais”, Mito falou, lhe encarando. “Você não liga para o que ele fez com a sua subordinada ontem?! ”
“Fala sério! Esqueça as chances, você não pode simplesmente desistir! Ela deu duro por você. Ela não se importou com as consequências! Você não pode só colocar o rabo entre as pernas e sair correndo! Eu não ligo para o quanto o Seishirou-sama seja forte. Você precisa ir lá lutar! ”
“Escute o Goshi! Mesmo que você perca, nós vamos pará-lo antes que algo de ruim aconteça... Se você não lutar, tudo o que as suas subordinadas fizeram por você terá sido por nada—”
“Caramba, por que vocês não podem me deixar em paz? ” Disse Guren, os interrompendo. “Eu não preciso de vocês dois me dizendo o que fazer. Eu estou desistindo da luta. Eu sou mais fraco que a Sayuri. Então qual é o sentido em lutar? ”
Mito perdeu as palavras, mal sendo capaz de acreditar no que acabara de ouvir.
Goshi encarou Guren. Ele fazia uma cara como se tivesse acabado de pisar em algo.
“Ha! Ele desistiu? Tá de brincadeira comigo! ” Seishirou exclamou. Aparentemente, Shinya explicara a situação. “Não acredito que ele fugiu. Não depois do que eu fiz com a mulher dele. Os Ichinose são mesmo patéticos. ”
A história da desistência de Guren tinha se espalhado rapidamente pela multidão. Os outros alunos soltaram um riso perverso. Eles provocaram Guren, lançando cada insulto a ele que pudessem pronunciar.
“...”
Guren não revidou. Ele apenas olhou para o céu, recusando-se a encontrar o olhar de qualquer outro.
Mas ele ainda os podia escutar.
—Olhe para ele. Acho que congelou de medo!
—Eu não sabia que alguém podia ser tão patético!
—Não era dele aquela serva que apanhou até dizer chega ontem? Ele tem muita coragem de vir para essa escola. O quão baixo se dá para chegar?
Os risos ficaram mais e mais altos.
Eles todos estavam rindo de Guren e fazendo joça dele por ser fraco.
Guren riu junto com eles, como um tolo.
Ele tentou se passar exatamente pelo que eles diziam que ele era. Alguém sem nenhum orgulho, ambição ou força. Um pedaço de lixo.
Alguma hora eles se cansariam de rir e depositariam sua atenção em outra parte.
Guren estava acostumado àquela rotina.
Ele tinha mais três anos daquilo pela frente.
 Mas, de repente, tudo mudou.
 “...Ugh?! ”
Guren sentiu o perigo. Ele reagiu por instinto, virando a cabeça na direção do ataque. Ele teve sorte em fazer isso.
Algo estava errado.
Algo no céu.
Guren vislumbrou um feixe de luz vermelha. Ele estava vindo pelo céu numa trajetória para colidir diretamente com eles. Guren ficou tenso, se preparando para desviar.
Só um passo para o lado...
Quando ele começou a se mover, ele percebeu uma garota de pé logo ao seu lado.
Era Jyuujou Mito. E, perto dela, estava Goshi Norito. Eles dois estavam parados bem no caminho do raio.
Eles ainda não tinham notado. Eles estavam completamente cegos ao ataque iminente.
Com a velocidade com que aquele feixe de luz se movia, Guren duvidava que qualquer um o visse chegar.
Se ele não os salvasse, eles iam morrer.
O rosto de Guren se contorceu de frustração.
“Droga! ” Ele soltou.
Ele estendeu a mão, tocando no ombro de Mito.
“Ahh! ”
Mito deu um grito, surpresa. Ela foi empurrada para trás, batendo contra Goshi.
“Cara, qual é?! ” Goshi falou, também surpreso, encarando Guren.
“O que acha que está fazendo?! ” Mito esbravejou, tropeçando nos próprios pés.
Os gritos dela foram cortados com o impacto do feixe.
Passou bem diante dos olhos de Mito e atingiu um pequeno grupo de alunos logo atrás deles. Os alunos foram lançados como bonecas de pano, engolfados numa onda de fogo conforme a luz vermelha atingia a areia e explodia.
Por sorte, a explosão não foi muito grande. Fosse qual fosse o objetivo do ataque, aparentemente não era destruição em massa.
Mas o golpe foi o bastante para matar mais do que só algumas pessoas.
Não apenas pessoas, mas alunos. Alguém estava matando alunos.
O ataque não tinha acabado. Mais feixes de luz estavam a caminho.
Uma série de impactos impetuosos choveram sobre o pátio da escola, varrendo as posições dos alunos.
As explosões ocorreram por todo o pátio. O chão estremeceu e um rugido ensurdecedor encheu o ar.
Por um momento, tudo foi silêncio. E aí...
—Argggghhhh!!
—O que aconteceu? O que foi que aconteceu?!
—Ai, Deus, o meu braço!
—Eles estão mortos, estão todos mortos!
Gritos encheram o ambiente. Guren podia ouvir outros alunos chorando de dor. As vozes deles estavam trêmulas de pavor.
Mas não era hora para chorar.
Alguém estava atacando a escola.
Guren olhou outra vez para o céu.
Um após o outro, homens de ternos negros desceram lá de cima. Estava acontecendo.
A guerra tinha começado.
A guerra entre a Seita Hyakuya e o Clã Hiiragi.
De acordo com Saitou, a guerra começaria em dez dias. Mal faziam dois desde que eles se encontraram. Saitou tinha mentido.
Não que Guren tivesse confiado nas palavras dele, para início de conversa...
“...Mas eu não achei que algo fosse acontecer tão cedo. ”
Ele observou a carnificina ao seu redor.
Os outros alunos professores ainda estavam de guarda baixa. A visibilidade também era limitada. As explosões do bombardeamento surpresa tinham criado uma cortina de fumaça. Aparentemente, o principal propósito daqueles feixes de luz vermelha eram cegar os alunos.
Guren perdeu Mito e Goshi de vista. Apenas Shinya e Seishirou ainda permaneciam em seu campo de visão.
Mas Guren podia ouvir os gritos. Através da fumaça, os gritos dos estudantes o cercavam por todos os lados.
—Não me matem! P-Por favor, não me matem... arrghhhh!
—Eu não sei quem vocês são, mas não vão sair impunes. Essa escola pertence à Ordem do Demônio Imperial! Vocês... Vocês vão... aaaaai!
Eles estavam sendo mortos.
Aqueles estudantes nunca tinham visto um combate real. Eles estavam complacentes e indefesos. O ataque, por outro lado, era deliberado. Os inimigos tinham vindo bem-preparados.
“Nesse nível, todos vão ser mortos”, Guren murmurou.
Ele pôs a mão sobre a espada em sua cintura.
Quando o fez, um único homem veio flutuando do céu. Ele pousou no centro do ringue de luta temporário do pátio, onde há apenas alguns momentos aconteciam as partidas.
Guren reconheceu o rosto do homem.
Ele o vira pela última vez há dois dias. Era o homem chamado Saitou, o assassino da Seita Hyakuya.
Quando Saitou pousou, ele deu uma olhada ao redor e deu um sorriso torto.
“Excelente. Eles todos podem morrer”, ele disse, abrindo os braços.
“Quem diabos é esse? ” Shinya perguntou.
“Você cometeu um grave erro, otário”, disse Seishirou. “Acha que vai se safar após atacarem o Clã Hiiragi desse jeito? ”
“É exatamente o que eu acho. Odeio moleques barulhentos como você”, disse Saitou.
Correntes se projetaram do corpo de Saitou. Era o mesmo tipo de correntes que ele usara para atacar Guren. Desta vez, no entanto, haviam várias delas. Elas avançaram na direção de Seishirou.
Seishirou desviou. Primeiro uma corrente. Depois uma segunda. Então a terceira.
“Ha! Você tem coragem para me atacar com uma arma tão patética! ” Seishirou riu dele.
Seishirou não percebeu que era uma armadilha. Saitou o estava conduzindo. Ele colocou Seishirou bem onde queria.
E as correntes de Saitou podiam ser mais rápidas do que aquilo. Muito, muito mais rápidas.
“Xeque-mate”, Saitou deu um riso cínico. “Quando encontrar o criador, não esqueça de Lhe dizer que foi a sua arrogância que causou a sua morte. ”
Uma quarta corrente saiu do corpo de Saitou, indo até Seishirou em velocidade máxima.
Não tinha como Seishirou desviar. Saitou o enganara para encurralar a si mesmo. Mas ele poderia ter evitado esse trabalho. Sua corrente se movia tão rápido que Seishirou não seria capaz de desviar mesmo sem uma armadilha.
Seishirou não tinha chances.
“P-Pare! ” Ele gritou. Seu rosto se torceu em horror.
“Mexa-se, seu idiota! ” Guren berrou.
Ele estava atrás de Seishirou. Ele foi para a frente e chutou Seishirou tão forte quanto pôde, jogando-o para fora do caminho.
“Ugh! ”
O chute foi tão forte que Seishirou foi lançado através da cortina de fumaça criada pela explosão inicial.
Ele sumiu de vista.
Seishirou podia ter sumido, mas o ataque de Saitou continuou. As outras correntes, que ele usara para encurralar Seishirou, balançaram no ar para se juntarem numa investida.
Todas as correntes agora se moviam em velocidade máxima. Mais delas apareceram. Uma fora rápida demais para que Seishirou desviasse. Agora haviam oito, todas juntas. Elas se torceram no ar como tentáculos, cada uma mirando em Guren de uma direção diferente.
“...”
Guren parou de olhar para as correntes.
Ele não poderia focar em todas elas, individualmente.
Se ele fosse tentar bloqueá-las, nunca seria capaz de reagir a todas as oito. Em vez de focar nas correntes, ele olhou para a frente, como se não as visse. Não foi antes que uma delas entrasse em seu campo de visão que ele puxou a espada.
Os feitiços de Guren já estavam ativos. Havia magia para que ele sacasse a arma mais rápido, Magia para afiar o gume. E para amaldiçoar qualquer coisa que a lâmina cortasse.
Para a maioria dos feiticeiros, só um daqueles feitiços já seria difícil de ser mantido. Guren tinha ativado todos eles num piscar de olhos. Ele sacou a espada e partiu a corrente com um único golpe.
Guren ouviu um arquejo atrás de si. Era Shinya.
“C-Como você fez isso? ”
Guren olhou por sobre o ombro. Shinya estava ali com uma cara de espanto.
“...Droga. Você é a última pessoa que eu queria de testemunha. ”
“Se você é tão poderoso, por que escondeu isso por tanto tempo? ”
“Fique quieto”, Guren o calou, “a menos que queira ser você a receber o próximo golpe dessa espada. Eu sei que não vale a pena confiar em alguém que não consegue ficar de bico fechado quanto às suas ambições. ”
Os olhos de Shinya se arregalaram em surpresa.
“Agora você sabe a verdade”, disse Guren. “Mas me responda uma coisa. Falou sério sobre querer destruir o Clã Hiiragi? ”
“...”
“Você viu a minha força. Se mentir para mim, eu te parto ao meio aqui e agora. ”
Guren virou a lâmina e a nivelou com Shinya, sustentando-a contra seu pescoço.
Shinya não desviou. Não, para ser mais preciso, foi Guren quem não permitiu que ele o fizesse, movendo a espada com rapidez e perfeita coordenação.
“Ugh. ”
Shinya olhou para Guren, surpreso. Guren sorriu em resposta.
“É claro que, se você falava sério, então eu acho que posso aceitar que você sirva a mim. O que me diz? Siga-me, e nós vamos acabar com esse mané de terno juntos. ”
Shinya abaixou os olhos para lâmina apontada para sua garganta e sorriu. Ele parecia realmente feliz.
“He. Não vá se exaltando, Guren. Quem disse que não sou tão forte quanto você? ”
“Eu digo. ”
“Não tenha tanta certeza—”
Ele não teve como completar. Saitou estava vindo para um segundo ataque.
Ele lançou uma de suas correntes contra Guren, que saiu do caminho. A corrente era veloz. Ela fora rápida demais para que Seishirou desviasse, momentos antes.
Mas agora era desviar ou morrer. Algumas das correntes também foram na direção de Shinya. Guren não olhou para trás para ver se ele estava bem. Se Shinya não pudesse cuidar de si mesmo numa luta, então era perda de tempo para Guren tentar salvá-lo.
Por sorte...
“...e aí? Como é que nós vamos derrotar o cara de terno? ”
Era Shinya. Guren virou-se para vê-lo parado ali, vivo e inteiro.
Shinya tinha jogado vários fuda nas correntes de Saitou, pregando-as ao chão. Aparentemente, Guren não era o único que estivera escondendo a verdadeira força.
“Hmpf. Eu ainda acho que sou mais forte que você”, disse Guren.
“Quer apostar? ” Shinya falou.
“Que sorte a minha”, Saitou disse, os interrompendo. “Peguei logo o pior lugar para cair. Só tem sete pessoas na lista de alvos perigosos nessa escola e eu venho enfrentar dois deles. ”
“Sei”, disse Guren, voltando a atenção para Saitou. “Então você já tinha investigado a mim e ao Shinya antes de vir para cá. Não foi, Saitou? ”
“É claro. Nós não íamos começar uma guerra contra o Clã Hiiragi sem antes fazer o dever de casa. ”
“Espere um minuto, Guren, você conhece esse cara? ” Shinya perguntou.
“Ele é da Seita Hyakuya. Eles planejaram uma guerra para acabar com os Hiiragi. Falaram comigo um tempo atrás, me perguntando se eu queria me juntar a eles. ”
Shinya não parecia particularmente surpreso com a revelação.
“Ahh, agora faz sentido. Eu provavelmente teria descoberto sozinho se tivesse pensado um pouco. Afinal, quantas pessoas por aí são capazes de bater de frente com o Clã Hiiragi...”
“...além da Seita Hyakuya? ” Guren completou a frase. “Pare com as perguntas idiotas. Você tem o cérebro de uma formiga. ”
“Continue com o seu blá-blá-blá e talvez eu dê um jeito em você antes que o do terno aqui faça isso. ”
“Você e que exército? ”
“Haha. Enfim, voltando ao que interessa”, disse Shinya, observando os arredores. “Parece que estamos cercados de fumaça. Nenhum dos outros alunos ou professores consegue nos ver....”
Guren olhou ao redor com o canto dos olhos. O que Shinya disse parecia ser verdade.
Quase parecia que a cortina de fumaça fora erguida para separá-los do resto dos alunos.
De trás da fumaça, vinham gritos e sons de explosões. Uma batalha feroz estava acontecendo.
“Por que só tem nós dois desse lado da fumaça, Guren? Quase parece intencional. Nós somos os dois alunos que mais odiamos o Clã Hiiragi e nós por acaso ficamos presos juntos? Quando se para pra pensar...”
“É tão mais fácil negociar quando seu parceiro é inteligente”, Saitou disse, abrindo um sorriso. “Obviamente, estou aqui para conversar, não para lutar. ”
“Hmpf. Então fale. ”
“...Juntem-se a nós. Vamos acabar com o Clã Hiiragi juntos. Quando tivermos os Hiiragi à nossa mercê, vocês dois ficarão no comando. Quem sobrar será escravo de vocês. ”
Aquilo pareceu despertar a atenção de Shinya.
“Assim, essa é realmente uma proposta interessante”, ele disse, “mas quem vai ficar no comando desse novo império? Eu ou o Guren? ”
“Isso não cabe a mim”, disse Saitou. “Vocês podem resolver isso entre vocês dois. ”
Shinya se virou para Guren.
“Bem, você o ouviu. O que acha? ”
“...”
“Não me diga que já fez um acordo com eles? Você está trabalhando para a Seita Hyakuya? Quais são os seus termos? ”
Guren olhou de esguelha para Shinya.
“Eu já disse, você fala demais. Se você quer tanto aceitar, então vá lá e aceite. Torne-se o rei do seu imperiozinho. ”
“Mas—”
“Quanto a mim, eu não tenho interesse em virar uma marionete da Seita Hyakuya”, disse Guren, interrompendo Shinya. “Eu já tive que abaixar demais a minha cabeça. Minha resposta está bem aqui! ”
Guren subitamente avançou, brandindo a espada.
“Eu vou destruir qualquer um que tente me controlar! ”
Ele girou a katana com força total. Ele não queria apenas cortar seu oponente, ele queria varrer a sua existência do planeta.
Saitou olhou para a lâmina calmamente conforme ela descia.
“Já passamos por isso antes”, ele disse. “Não se lembra? Ataques físicos não me afetam. Meu corpo foi alterado para resisti a tais táticas. ”
As correntes de Saitou se enroscaram no ar e seu corpo começou a se difundir em névoa.
Guren não tinha esquecido.
O que eles viram diante deles não era a verdadeira forma de Saitou.
Guren suspeitava que a forma humana de Saitou era apenas um disfarce e que seu verdadeiro corpo era feito daquela névoa negra que agora envolvia suas correntes.
Guren seguiu em frente com seu golpe, sem se importar.
As correntes de Saitou giraram no ar, prontas para defender.
“Ahh, essas correntes não vão ser o bastante para deter esse ataque”, Saitou sibilou.
Ele estava certo. A lâmina de Guren fez um corte limpo através das correntes.
O golpe parou no ombro de Saitou, afundando em sua carne.
Saitou apenas sorriu, sem parecer se abalar.
“Eu lhe disse, ataques físicos são inúteis...” Ele disse.
Mas Guren não tinha acabado. Ele deslizou um fuda pela manga de seu uniforme e o pregou em sua espada. Instantaneamente, a lâmina vermelha flamejou com vida, brilhando num vermelho mais profundo, como sangue e fogo.
“Libere... Koujakumaru! ”
A lâmina explodiu em energia.
A maldição obscura dentro da espada ganhou vida, ondulando-se em gavinhas pelo corpo de Saitou.
Quando eles lutaram anteriormente, Saitou tinha se protegido dos ataques físicos de Guren transformando seu corpo em névoa. Desta vez, no entanto, Guren estava usando uma abordagem diferente.
A espada de Guren tinha o nome de Koujakumaru. Ela estivera na posse do líder do Clã Ichinose há gerações. De acordo com a lenda, as almas furiosas de todos aqueles que caíram por aquela espada ficavam presas graças a uma maldição em sua lâmina.
Uma maldição que podia ser liberada com o feitiço correto.
“Gh...ngh... O-O que está acontecendo?! ” Gritou Saitou. Ele olhou chocado para Guren. “Não consigo me mexer...”
“...”
“Meu corpo foi projetado para resistir a qualquer magia do Clã Hiiragi...”
“Eu não sou um Hiiragi”, Guren grunhiu, olhando de volta para Saitou.
A maldição estava corroendo Saitou, consumindo-o de dentro para fora. De pouco em pouco, ela invadia a sua forma enevoada, devorando-o numa massa de luz vermelha e enferrujando suas correntes.
Um sorriso cruel se abriu no rosto de Guren.
“Veja o que está acontecendo com você, Saitou. Sabe por que está brilhando em vermelho? A maldição está se alimentando de você. A maldição lhe transforma e então lhe devora. Quando terminar de lhe consumir, você ficará preso dentro da espada pela eternidade. ”
Uma cara de pavor surgiu no rosto de Saitou.
“P-Pare...! ”
“Se quer que eu pare, então responda minhas perguntas. Por que escolheu atacar a escola? Por que atacar um bando de adolescentes indefesos? O poder do Clã Hiiragi não está concentrado aqui. Não faz sentido. ”
Conforme Guren falava, gritos ecoavam pelo pátio. Eram os gritos de morte dos alunos.
Apenas momentos atrás, aqueles mesmos alunos estavam rindo jocosamente de Guren.
“P-Porque...”
“Se mentir para mim, eu vou matar você. Se eu ao menos suspeitar que está mentindo para mim, eu vou matar você. Então pense bem antes de responder. Por que está aqui? ”
“Parece que não tenho escolha”, disse Saitou, encarando Guren.
Saitou fechou os olhos e suspirou. Um momento depois, ele os abriu de novo.
Um padrão tinha aparecido no centro de seus olhos, parecendo uma serpente.
Era um encantamento.
Havia um encantamento inscrito diretamente nos olhos de Saitou.
Guren ficou tenso, pronto para sair do caminho. Mas, antes que pudesse fazê-lo, Shinya avançou.
“Não precisa recuar”, ele falou, pregando um fuda diretamente sobre os olhos de Saitou. “Aqui, selado. ”
“Ah...! ” Saitou suspirou tolamente.
“Eu também quero ouvir a sua resposta”, disse Shinya. “Eu não me importo muito com o que acontecer com os outros alunos do Clã Hiiragi... mas não parece haver uma razão para você atacar aqui. Você também não trouxe tantas tropas com você. Assim que o Exército Demoníaco Imperial aparecer, eles não vão ter problemas em destruir vocês. O que estão tentando conseguir? ”
Saitou suspirou outra vez, dessa vez realmente perturbado.
“Droga. Eu pensei que fosse ser mais fácil. Para um par de crianças, vocês dois são bem fortes... Eu disse pro chefe para mandar mais que só uma pessoa para lidar com vocês dois—”
Guren o cortou no meio da frase, afundando mais ainda a espada no peito de Saitou.
“Aaaugh! ”
Guren o deixou sofrer por um momento, antes de falar.
“Sem mais arrodeios. Responda minhas perguntas e deixe essas bobagens para você mesmo. ”
“...”
“Por quê? Por que você veio aqui? ”
“...Tem algo aqui que nós queremos”, Saitou falou.
“Aqui? ”
“Sim. ”
“O que é? ”
“Materiais de pesquisa. ”
“...”
“É uma longa história. Um dos estudantes aqui traiu os Hiiragi. Alguém esteve vendendo magias secretas para a Seita Hyakuya, pelas costas do clã... O projeto de pesquisa era um experimento que estivemos conduzindo junto com essa pessoa. ”
O canto da boca de Guren se moveu para um sorriso.
Aparentemente, o Clã Hiiragi tinha ainda mais inimigos do que Guren pensara. A posição deles não parecia tão estável quanto o clã afirmava.
Independentemente do quanto uma organização crescesse em força, sempre haviam outras organizações por aí esperando que as coisas desabassem.
E, é claro, também existiam indivíduos que discordavam da organização e que estavam dispostos a sabotá-la pelo lado de dentro.
“Não seria você quem tem vendido informações para eles, seria? ” Guren perguntou, virando-se para Shinya.
Shinya encolheu os ombros. O fuda continuava pregado no rosto de Saitou.
“Isso pode ser uma surpresa para você, mas é a primeira vez que entro em contato com a Seita Hyakuya. Fico me perguntando por que eles não me procuraram também. ”
Um sorriso brotou no rosto de Saitou.
“O Clã Hiiragi foi traído por alguém importante”, ele disse.
“E daí? Está dizendo que não sou importante? ” Shinya riu, sarcástico. “Tá, mas você está dizendo que foi alguém do topo. Quem? Um formando? Foi Hiiragi Kureto, o presidente do conselho estudantil? ”
Saitou balançou a cabeça.
“Ainda mais importante. Alguém que despreza o Clã Hiiragi. ”
Guren não tinha ideia de a quem Saitou se referia, O que era apenas natural. Ele não estava familiarizado com os processos internos do Clã Hiiragi. O Clã Ichinose não tinha poder nem recursos o bastante para espionar os Hiiragi.
A Ordem da Lua Imperial, do Clã Ichinose para baixo, continuava a existir porque o Demônio Imperial comandado pelos Hiiragi permitia, apesar de o preço ser uma vistoria constante e a demonstração de certo grau de obediência.
Apenas uma organização como a Seita Hyakuya, que faziam sombra até sobre o Demônio Imperial, seria grande o bastante para espionar os Hiiragi.
A menos, é claro, que se fosse alguém lá de dentro.
“...”
Guren olhou para Shinya.
A expressão no rosto de Shinya tinha mudado. Ao que parecia, ele adivinhara o que Saitou queria dizer.
“Você sabe quem é? ” Guren perguntou.
Shinya não respondeu.
Mas não importava. Havia outra pessoa a quem Guren podia perguntar.
“Certo. Responda você, Saitou.  Quem esteve trabalhando com a Seita Hyakuya? ”
“Hmm? Por que me pergunta? Parece que o jovem Shinya aqui já entendeu de quem se trata...”
Guren empurrou mais a espada.
“Nggh! ”
Saitou fez uma careta de dor.
“Eu estou perguntando a você”, disse Guren. “Fale ou eu lhe mato. ”
“Ha. Estou morrendo de medo. Mas, se você vai me matar, talvez devesse andar logo com isso. ”
“O quê? ”
“Minha missão está quase completa. Nós viemos recuperar os materiais de pesquisa e apanhar nossa colaboradora. Ambos os objetivos devem estar quase completos. Vocês dois foram taxados como os alunos mais capazes de interferir. Meu trabalho era simplesmente mantê-los ocupados. Eu já tive sucesso. Vocês dois ficaram tão ocupados lidando comigo que nunca tiveram uma chance de intervir em nossos verdadeiros planos. ”
“Droga! Eu devia saber”, Shinya gritou. O sangue sumiu de seu rosto e de repente ele correu para longe, através da cortina de fumaça.
Guren o viu ir embora antes de virar outra vez a atenção para Saitou.
Guren já tinha pegado a maior parte da situação a esse ponto.
Tudo o que ele precisava descobrir já havia sido exposto. Para ser preciso:
 Alguém poderoso o bastante dentro do Clã Hiiragi havia vendido informações para a Seita Hyakuya e estava colaborando com eles em um experimento.
Essa poderosa pessoa sentia um profundo rancor contra o clã.
A Seita Hyakuya tinha que manter Guren e Shinya ocupados enquanto eles pegavam essa pessoa, porque Guren e Shinya eram os dois com maior capacidade de interferir.
 Quando se punha tudo junto, a resposta estava tão na cara de Guren quanto seu nariz.
“Mahiru. A traidora é Mahiru, não é? ”
“Hmpf. Está aceitando isso mais fácil do que eu pensei. ”
“Por que eu deveria me incomodar? ”
“Bem, ela é a sua namorada, não é? ”
Guren bufou.
“Eu teria que ser um idiota para pensar numa garota que não vejo há dez anos como minha namorada. ”
“Ah. É mesmo? ”
“É. ”
“Mas você ainda pensa nela. ”
“Errado de novo. ”
“Não... Não creio que eu esteja. Você é poderoso. Poderoso demais para alguém da sua idade. Você construiu a sua força na esperança de que um dia você poderia resgatar a Mahiru do Clã Hiiragi...”
“Eu disse que está errado! ” Guren vociferou. Ele afundou a espada mais fundo no peito de Saitou.
“Haha! Como quiser. Mas você sabe que a Mahiru ainda é apaixonada por você, não é? ”
“...”
“A única razão pela qual ela ficou tão forte e traiu a própria família foi para poder voltar a estar do seu lado. Foi muito bravo da parte dela, não acha? Todos esses anos, ela permaneceu fiel, se esforçando para se reunir com você. ”
“...”
“Não acha que é hora de retribuir a devoção dela? Tudo o que ela quer é estar em seus braços outra vez...”
Guren lembrou-se de seu encontro com Mahiru na enfermaria, alguns dias atrás.
A felicidade no rosto dela...
E a decepção quando viu o quão fraco Guren tinha se tornado e como ele parecia não pensar nela da mesma forma que ela pensava nele.
Quando Guren lhe falou que ela estava bonita, no entanto, o rosto dela se acendeu de alegria.
“Deixe eu adivinhar”, disse Guren. “A Seita Hyakuya vai abrir um caminho para nós. ”
Saitou sorriu e assentiu.
“Isso mesmo. Duas pessoas tão bem-dotadas quanto vocês seriam uma adição muito bem-vinda à Seita Hyakuya. É claro, nós insistiríamos que o restante dos membros dos clãs Hiiragi e Ichinose se rendessem a nós. ”
“...”
“Se você nos ajudar a derrotar os Hiiragi, você e Mahiru serão livres para reinar como o rei e a rainha do que restar dos clãs no fim. Não vamos importunar vocês por causa de bobagens como família ou posição social. Vocês podem se amar ou o que mais desejarem. ”
Guren olhou para a cara de Saitou.
Ele estava sorrindo. Apesar de seu peito ter sido dilacerado pela katana de Guren e seu corpo estar semi-consumido por magia negra, ele ainda tinha confiança o bastante para sorrir. Guren estreitou os olhos.
“Isso também é parte de sua missão, não é? ”
“É claro que sim”, disse Saito, rindo. “Disseram para eu esperar por esse momento e então fazer o convite mais uma vez. ”
“Então quem convenceu Mahiru a trair seu clã...”
“...fui eu. Ela me disse que ainda ama você. Ela quer reconstruir um mundo onde vocês dois possam ficar juntos. Ela disse que faria qualquer coisa para conseguir isso. Até vender a própria família. ”
“...”
“Faça sua decisão, Guren. Venha comigo e eu posso leva-lo até a Mahiru—”
Saitou foi interrompido por mais sons de explosões por detrás da cortina de fumaça.
Uma onda de gritos se ergueu por entre os estudantes.
—O Exército Demoníaco Imperial está aqui!
—E-Estamos salvos!
—Matem-nos! Matem todos eles! Eles vão se arrepender de terem atacado o Demônio Imperial!
Guren também podia ouvir outras vozes, vindo de diferentes direções.
—M-Mahiru-sama! Eles levaram a Mahiru-sama!
—D-Depressa! Precisamos defender a Mahiru-sama com nossas vidas... iaaaa!
Era tudo uma farsa. O cenário inteiro estava se desdobrando da forma como a Seita Hyakuya planejara.
Pelo que parecia, Mahiru tinha planejado escapar da escola sem que os Hiiragi descobrissem que ela os traíra. Ela não ia deixar aquele lugar como uma traidora. Em vez disso, ela seria sequestrada e feita prisioneira. O que significava que ela planejava retornar em algum momento futuro.
“Parece que estamos sem tempo”, Saitou falou. “Não podemos lutar contra o Exército Demoníaco Imperial sem expor o envolvimento da Seita Hyakuya. Uma retirada estratégica parece ser melhor. ”
“Do que está falando? Você já me contou tudo...”
“Mas, como você mesmo disse, você não é um Hiiragi. Você não vai nos causar problemas...”
“...”
“Além do mais, se você se importa com a Mahiru, você não vai querer dizer coisas que a coloquem em perigo. ”
“...”
“Eu vou te dizer o lugar. Você pode encontrar a Mahiru lá, esta noite. Se você vier, a Seita Hyakuya vai saudá-lo como um herói. Um herói que irá nos ajudar a derrubar o Clã Hiiragi. ”
“...”
“O que me diz? Tire essa espada do meu peito. Tudo já está preparado. Depois de dez anos, você e Mahiru poderão enfim se reunir. ”
Guren encarou Saitou.
Saitou sorria. Guren ponderou. O que ele deveria dizer? O que ele deveria fazer? Até onde ele poderia confiar no que Saitou lhe dizia?
Não havia tempo.
Se ele fosse aceitar a oferta de Saitou, ele teria que soltá-lo agora, antes que o Demônio Imperial os encontrasse. Uma vez que o Demônio Imperial pusesse as mãos em Saitou, o Clã Ichinose perderia o acesso a ele.
Guren pensou naquilo com cuidado.
O que ele deveria fazer?
Que escolha era a melhor?
Ele sequer sabia o que queria?
Ele pesou todas as opções antes de responder.
“Alguma coisa nisso não parece direita. Eu tenho um pressentimento de que vocês da Seita Hyakuya estão nos manipulando...”
Um sorriso frio se estendeu no rosto de Guren. Ele afundou ainda mais a espada.
“Argh! ”
“Eu não soltarei você”, disse Guren. “Eu vou arrancar a verdade de você enquanto ainda tiver você capturado. ”
“Você nunca vai saber o lugar desse jeito”, disse Saitou.
“Você vai falar se for torturado. ”
“He. Não vou falar nem assim. Eu fui treinado para resistir a tortura. Meu cérebro foi alterado para me matar caso eu vaze informações. ”
“Ah é? Então acho que você vai morrer. ”
Uma pontada de pânico brotou no rosto de Saitou.
“Se você me matar, você nunca verá a Mahiru de novo...” Ele disse, olhando nos olhos de Guren.
“Estou bem quanto a isso. Você entendeu errado. Eu não fiquei mais forte para que pudesse ver a Mahiru de novo—”
Então uma outra voz os interrompeu.
“Fico bem triste de ouvir isso de você, Guren”, lamentou-se.
Era uma voz feminina.
Guren puxou a espada do peito de Saitou e recuou tão rápido quanto pôde.
Ele tinha sentido perigo e poder se aproximando rapidamente. Ele tinha a impressão de que se não recuasse, ele estaria selando a sua ruína.
Fosse o que fosse, ainda estava ali. E continuou a perseguir Guren, mesmo quando ele foi para trás.
Guren olhou naquela direção e girou defensivamente a espada.
O som de metal se chocando contra metal encheu o ar. Guren piscou, clareando a vista.
E ele se viu frente a frente com uma linda garota.
Uma garota de longos e esvoaçantes cabelos acinzentados.
Um olhar altivo.
Lábios rosados.
Era Mahiru.
Hiiragi Mahiru estava em frente a ele.
Ela brandia uma katana com lâmina negra como a noite.
Sua espada cor de tinta e a Koujakumaru escarlate de Guren se cruzaram. Mahiru pressionou para a frente. As duas extensões de metal soltaram um rangido agudo conforme se pressionavam uma contra a outra.
“...Mahiru? ” Ele chamou seu nome.
Mahiru sorriu. Seus olhos pareceram brilhar, sua expressão parecendo ficar mais vívida.
“Lá na enfermaria você me chamou de Mahiru-sama. Fico feliz que tenha abandonado as formalidades...”
“Não há por que manter uma fachada para alguém que traiu os Hiiragi”, disse Guren. “Além do mais, agora você já viu a minha verdadeira força. ”
Mahiru fez que sim com a cabeça. Parecia feliz.
“É verdade... Não há muitas pessoas que poderiam parar a minha espada. ”
Mahiru se inclinou para a frente em seu ataque. Ela era forte. Era difícil acreditar que uma garota do tamanho dela pudesse ser tão forte. De fato, era difícil acreditar que qualquer humano pudesse ser tão forte. Guren não sabia ao certo se ela estava usando magia para ampliar suas habilidades ou se a força vinha de algum outro lugar.
Guren abriu um sorriso para Mahiru.
“Interessante. Devemos lutar para ver quem é mais forte? ”
Apesar da ameaça de Guren, ele foi forçado a dar outro passo para trás.
De repente, ele aparou a lâmina de Mahiru pelo lado e contra-atacou com uma veloz sucessão de golpes.
Mahiru encontrou com ele golpe atrás de golpe. Num piscar de olhos, suas espadas colidiram múltiplas vezes.
Mahiru era rápida.
Ela era mais forte do que Guren e mais rápida.
Mas a técnica de Guren era melhor. Então eles estavam empatados.
No entanto...
“Ughh... Tá de brincadeira...”
Ele estava perdendo terreno cada vez mais. Apesar de ele conseguir chocar sua arma contra a dela golpe após golpe, ela ainda o estava ultrapassando.
“Hmm? ” Mahiru perguntou. “Eu pensei que você tivesse dito que queria lutar. Não ia me mostrar o quanto você é forte? ”
“Não fique se achando”, Guren sibilou. Ele deu outro passo para trás e então enfiou uma das mãos por dentro da manga, tentando puxar um fuda.
Mahiru viu aquele movimento.
“Se não pode me vencer no uso da espada—”
“Calada! ”
Guren não puxou um fuda. Ele a tinha enganado. Em vez disso, ele golpeou com sua espada, com força total.
“Ahhh! ”
Pega de guarda baixa, Mahiru se moveu para defender. Ela não foi rápida o bastante. A lâmina de Guren lançou-se em linha reta, mirando direto no coração de Mahiru.
“...”
Ele parou sua mão apenas um momento antes de a lâmina perfurar o peito dela.
Mahiru abaixou os olhos para a espada de Guren e então riu.
“Impressionante! Você realmente ficou forte, não foi, Guren? Foi tudo por minha causa? ”
Guren baixou a lâmina.
“Não”, ele disse.
“Não? ”
“Não. Quantas vezes tenho que repetir? ”
Mahiru mordeu os lábios e fez cara de triste. Guren reconheceu aquela cara. Ela costumava fazer a mesma expressão quando eles eram crianças. Mahiru perguntava a Guren, de novo e de novo, se ele gostava dela ou não. E Guren, irritado, se recusaria a responder. Ela fazia essa mesma cara.
“Entendo...” Ela disse. “Tudo o que eu sempre quis foi estar com você de novo, Guren. Foi por isso que fiquei mais forte. ”
A voz de Mahiru oscilava sensualmente enquanto ela falava. Mas o rosto de Guren permaneceu neutro.
“E aí você se uniu à Seita Hyakuya para começar uma guerra? ” Ele perguntou a ela.
Gritos continuavam enchendo o ar. Eles estavam cercados pelos sons da batalha.
Era o som do Exército Demoníaco Imperial lutando contra os assassinos da Seita Hyakuya.
Mas, no centro daquela carnificina...
Mahiru parecia em êxtase, cercada por todos os lados pelos gritos dos alunos. Ela sorriu para Guren de forma hipnotizante.
“Ahaha. Quando eu comecei a obter poder, eu gostei do que senti. Você entende, não é, Guren? Você se tornou tão forte, mas você continua sendo de carne e osso. Você deve sentir o puxão sedutor do poder...”
“...”
“Mas há um limite para carne e osso, não é? Para se tornar realmente poderoso, você tem que estar disposto a transcender para o próximo nível. ”
“...Transcender? Do que você está falando? ”
Mahiru levantou a espada para o céu. Ela apertou os olhos enquanto falava.
“Transcender para algo maior”, disse ela.
Ela moveu a espada para baixo.
Ela brilhou com uma luz escura, cravando-se no chão. Uma espada normal iria apenas se quebrar se enfiada no chão daquele jeito. O solo abaixo dela, onde a espada afundou, de repente se partiu em dois e uma enorme fissura se estendeu massivamente, serpenteando até se perder de vista do outro lado da fumaça.
Era poder além da compreensão humana.
Se Mahiru tivesse usado sua força total mais cedo, Guren teria sido obliterado com apenas um golpe dela.
Mahiru voltou os olhos na direção de Guren e sorriu.
“Você parece surpreso. Incrível, não é? Kiju. Uma arma amaldiçoada. É uma combinação da magia dos Hiiragi e da Seita Hyakuya. Nós aprendemos como fazer contratos com demônios de alto nível que anteriormente estavam fora de nosso alcance e prendê-los dentro de armas...”
Guren já tinha ouvido o bastante.
Ele já ouvira falar do tal “Kiju” antes.
Aquela era para ser a magia mais difícil de todas.
Desenvolver o Kiju envolvia chamar diretamente um Bodhisattva, um Kokki, ou outra entidade sobrenatural, e selá-lo em itens sagrados para que possa funcionar como um receptáculo.
Os itens usados para selar demônios eram quase exclusivamente armas.
Podiam ser espadas, machados, arco e flechas, dentre outros.
A arma precisava ser consagrada e purificada, um processo que levava anos, antes que um demônio pudesse ser aprisionado nela.
Só que tudo isso era teoria. Segundo as presentes práticas de feitiçaria, criar tal equipamento seria impossível.
Ou melhor, mesmo que fosse possível, seria necessário sacrificar milhares, ou até dezenas de milhares, de vidas humanas em experimentos.
Todas as tentativas anteriores resultaram em falhas. Ao invés de ser selado na arma, o demônio possuía o corpo e a alma de seu portador, fazendo com que ele entrasse num rompante de fúria.
Uma vez que alguém se tornava um demônio, suas memórias e motivações humanas desapareciam. Eles se tornavam meros monstros e se deliciavam consumindo a carne dos mortais.
A Ordem da Lua Imperial, comandada pelo Clã Ichinose, tinha proibido por completo toda pesquisa sobre o Kiju. É claro, o Clã Ichinose também não estava tecnicamente apto nem tinha fundos para conduzir aquela pesquisa, para início de conversa.
“...”
Mas, de acordo com Mahiru, a arma que ela segurava era uma espada com o Kiju.
Mahiru ainda parecia ser humana, até onde Guren conseguia ver.
“Então está dizendo que aperfeiçoaram as armas amaldiçoadas? ” Ele perguntou.
Mahiru sorriu.
“Eu sabia que ia lhe interessar, Guren. É difícil resistir a algo tão novo e poderoso, não é? ”
“Responda a minha pergunta. ”
“Que convincente”, disse Mahiru, rindo. Ela levantou a lâmina negra como obsidiana no ar. “Não estão exatamente perfeitas... mas acho que estamos perto. Só pense nisso, Guren. Com uma arma como essa, o que ainda haveria para se temer? ”
“...”
“Nem vampiros seriam uma ameaça. Eles pensam nos humanos como nada além de gado, mas com uma arma como esta, nós definitivamente os poderíamos matar. Só precisamos deixa-la perfeita. Olhe para ela. É tão linda—”
“Eu acho que você enlouqueceu”, disse Guren, a interrompendo. “Diga-me, quantas pessoas vocês sacrificaram para criar essa espada? Quantas vidas foram perdidas em experimentos? ”
Mahiru olhou fixamente para Guren.
“Quando foi que você começou com esse pensamento? Fala como se você nunca tivesse sacrificado nada. Mas eu tenho a impressão de que você está desistindo de mais do que pode para ganhar essa força que tem agora. ”
“...”
“É uma lição que aprendemos juntos, Guren. Naquele dia na grama, com o céu todo azul. Sem força, você não pode proteger ninguém. Nem aqueles que ama, nem as coisas mais preciosas para você. Tudo o que interessa é o poder. Eu sei disso agora. E você também sabe, Guren...”
Mahiru estendeu a mão para Guren.
“Venha comigo. Eu posso lhe dar poder, Guren. Nós podemos chegar à perfeição dessa força juntos. Nós... Nós podemos—”
De repente, Mahiru vacilou no meio da frase. Ela fez uma careta de dor e apertou o peito com o uniforme colegial.
“F-Fique longe, Guren! ”
Ela gritou repentinamente. Sua voz tinha mudado. Ela soava mais como a garota que ele conhecera anos atrás, tremendo e à beira de lágrimas.
“É tarde demais”, ela disse. “Tarde demais... O demônio, ele já me possuiu. O Kiju... O nosso experimento... F-Foi uma falha... Esta não sou eu. Eu... Eu... Cale a boca! Cale a boca! Ninguém está possuída! Eu só preciso de poder... mais poder...”
O braço direito de Mahiru começou a se mexer.
Ele balançava e espasmava incontrolavelmente.
Veios negros apareceram na superfície da lâmina e começaram a se contorcer pelo braço de Mahiru.
Como se a maldição da espada estivesse se alimentando dela.
A escuridão começou a devorar o braço de Mahiru. Ele começou a mudar de forma. Suas unhas se alongaram e sua mão se distorceu como a garra de uma besta.
“Ops, agora isso não é bom”, Saitou observou.
Ele ainda estava atrás de Mahiru. Uma de suas correntes disparou, se enrolando ao redor do braço de Mahiru várias vezes.
“Estamos sem tempo. Temos que ir agora, querida. Você já usou demais essa espada por um dia. ”
A expressão de Mahiru pareceu voltar ao normal. Ela se acalmou.
“... Como quiser. Vamos. ”
Guren olhou para Saitou.
“O que vocês fizeram com ela? ” Ele perguntou.
“Se quiser mesmo saber, então junte-se a nós. A Seita Hyakuya—”
“Eu perguntei o que fizeram com ela! ” Guren gritou, o cortando. Ele avançou, girando sua lâmina rubra até Saitou.
Mahiru o interceptou.
Ela se pôs à frente de Saitou, brandindo a espada negra.
A lâmina escarlate de Guren e a de Mahiru, negra como tinta, colidiram uma contra a outra uma última vez.
Dessa vez, no entanto, não houve som de metal batendo contra metal.
A espada de Guren, Koujakumaru, foi partida em duas. A espada de Mahiru a cortara ao meio como se fosse manteiga.
Mahiru investiu a espada amaldiçoada negra para o pescoço de Guren, parando a apenas centímetros dele.
Ela teria facilmente cortado fora a cabeça de Guren.
“Você me poupou antes, então acho que agora estamos quites. Não que perfurar meu coração fosse realmente me matar...”
O que Mahiru estava dizendo? Se ela realmente podia ter o coração perfurado sem morrer, ela sequer ainda humana?
Guren baixou os olhos para a ponta da espada de Mahiru.
“Bem, talvez cortar a minha cabeça também não fosse me matar”, Guren soltou, sem expressão.
“Haha. Eu duvido. Afinal, você ainda é humano. Mas fico feliz que ainda tenha senso de humor. ”
“Quem é que está brincando? ”
“Haha! Ah, e Guren? ”
“Sim? ”
“Eu te amo. ”
Mahiru subitamente se inclinou até ele e abraçou Guren. Seus braços rodearam seu pescoço. Ela estava tão próxima que Guren podia ouvir a respiração e o bater do coração dela.
O som não tinha mudado. Ele se lembrava um pouco dele.
Quando eles deitavam na grama.
Sob o céu azul.
Todo o resto, porém, havia mudado.
Tudo era diferente. Aquilo deixou um gosto amargo na boca de Guren.
Mahiru deu um passo atrás e encarou Guren.
“Última chance, Guren”, ela disse. “Por favor, venha comigo. ”
“Eu acho que não. ”
“Eu posso lhe dar poder...”
“Não estou interessado. ”
“He. Eu esperei todos esses anos e no final você me odeia. ”
Guren podia ouvir o pesar na voz dela.
“Eu não te odeio”, ele disse. “Mas o poder que estou buscando é diferente do seu. ”
“É? ”
“Sim. ”
“Sei... Eu me pergunto quando foi que nós ficamos diferentes. ”
Guren não conseguia responder. Faziam dez anos. Eles tinham vivido cada um a própria vida. Era tarde demais para voltar atrás e encontrar aquele ponto agora.
Talvez fosse algo bom. Talvez fosse triste. Mas era a forma como as coisas eram.
De sua própria parte, Mahiru parecia triste.
“...Eu quero lhe contar algo importante, Guren”, ela disse.
De repente, Saitou pareceu entrar em pânico.
“Mahiru, espere...”
Ela o ignorou.
“A verdade é que, no natal desse ano, o mundo vai presenciar uma catástrofe. ”
“O quê? ”
“As trombetas do Apocalipse vão soar e um vírus vai se espalhar. Quando isso acontecer, um novo mundo vai ser erguido. Um mundo que, mais do que nunca, vai requerer poder. Quando a hora chegar, eu sei que vai precisar de mim mais uma vez... Vamos nos encontrar de novo, Guren, quando o mundo chegar ao fim. ”
“Mahiru, eu não entendo...” Guren começou.
Mas Mahiru já falara tudo o que ia falar. Ela recuou agilmente, como uma pena flutuando para longe.
Ela deu um último sorriso para Guren.
“Eu te amo, Guren”, ela disse. “Esses sentimentos são verdadeiros. Vai chegar o dia em que vai precisar de mim de novo... Até lá, estarei esperando. ”
Mahiru passou pela cortina de fumaça e sumiu de vista.
“Nós fugimos bastante do roteiro”, disse Saitou, com um olhar cansado, “mas acho que não importa mais. Em todo caso, você lembra do menino com quem eu estava da última vez que nos vimos? Se quiser entrar em contato com a Seita, fale com o diretor do orfanato onde ele vive. O Orfanato Hyakuya. Acho que sabe onde é. ”
“...”
“Ele vai ser capaz de te pôr em contato comigo. Adeus, Ichinose Guren. ”
Saitou virou-se e foi embora.
Guren foi deixado sozinho, cercado por nuvens brancas e fumaça.
Ele encarou o ponto por onde Mahiru tinha desaparecido. Mahiru, no entanto, já se fora. Enfim, Guren voltou seu olhar para a espada quebrada em sua mão.
Koujakumaru fora imbuída em magias poderosas. Seu metal fora forjado usando a magia esotérica budista dos Reis de Deva. Nada deveria ser capaz de quebra-la.
“Ela a cortou que nem papel... que saco...”
Guren deu um suspirou de desgosto.
Ele estava tentando entender o que acontecera.
O que Mahiru estava tentando conseguir?
O que ia acontecer no natal?
E quanto poder havia naquele Kiju?
Nada daquilo fazia sentido algum.
“Droga...” Guren disse, seu rosto se contorcendo com uma irritação infantil.
A cortina de fumaça começou a se dissipar, quase tão rápido quanto surgira. Aparentemente, era só magia que a estivera segurando no lugar. Quando a Seita Hyakuya fez sua retirada, a fumaça se esvaiu junto com eles.
“...”
A visão que esperava por Guren uma vez que a fumaça sumiu era uma cena infernal.
Toda a extensão do pátio estava banhada em sangue.
Alunos feridos caídos na terra.
Garotas caídas chorando e gritando.
Garotos atordoados em meio à carnificina.
Alguns tentavam desesperadamente aplicar RCP em amigos que claramente já estavam mortos.
E haviam os corpos.
Cadáveres de alunos e professores tombados no pátio.
Guren não viu nenhum dos homens de ternos pretos dentre os corpos. Apesar de suas implicâncias, apesar da forma como eles ridicularizavam Guren, parecia que os outros alunos não tinham sido capazes de derrotar nenhum dos assassinos da Seita Hyakuya,
A menos que a Seita Hyakuya tivesse levado consigo os corpos de seus companheiros caídos, para manter sua identidade em segredo.
De qualquer forma, o Clã Hiiragi estava claramente no lado perdedor dessa primeira batalha.
O ataque os jogara num caos total. Eles não conseguiam nem identificar seus atacantes. Uma olhada na carnificina ao redor deles era prova do quão feio eles tinham perdido.
“Eles nunca nem tiveram chance...” Guren murmurou.
Ele retornou a espada quebrada para sua bainha.
Uma voz feminina de repente gritou na direção de Guren.
“Ah... V-Você! Você está vivo! ”
Guren se virou para ver Jyuujou Mito. Ela estava coberta de sangue.
Guren não conseguia dizer se era sangue dela ou de um inimigo.
“Esse sangue...” Guren disse.
Ele ia perguntar de quem era. Mas, antes que ele pudesse fazê-lo, Mito correu até ele. Ela explodiu em lágrimas e se jogou nos braços dele.
“G-Graças a Deus, você está vivo! ”
Mito tremia. Seu corpo esguio convulsionava incontrolavelmente.
“E-Eles estão todos mortos... Eu tentei tanto salvá-los, mas... mas...”
Guren não sabia como reagir. Ele segurou com cuidado os ombros de Mito, esperando que ela parasse de tremer.
Quando ela se acalmou um pouco, ele falou com ela.
“Tudo está bem agora. Me escute. ”
“...? ”
“Está machucada? A adrenalina ainda está agindo em seu corpo então você pode não sentir ainda...”
Mito balançou a cabeça.
“E-Eu estou bem. Não me machuquei sério...”
“Bom. ”
“M-Mas todos os outros... os nossos colegas... se você não tivesse me empurrado para longe, eu também estaria morta... com aquele primeiro tiro...”
O rosto de Mito estava distorcido em horror e ela se segurou de novo ao peito de Guren.
Outra voz os interrompeu.
“Hã? Quando vocês ficaram tão próximos? ”
Era Goshi Norito.
Guren se virou para ele. Goshi ficou ali com sua costumeira expressão cínica no rosto.
“Goshi! ” Mito exclamou animadamente. “Você também está vivo! ”
“Se ficar vivo é tudo o que é preciso para ganhar um abraço de uma menina bonita, então vem pro papai! ” Goshi exclamou de volta, abrindo os braços.
Mas, por alguma razão, Mito não foi correndo para Goshi como fez com Guren. Goshi deu um olhar insatisfeito para o outro.
“Ah, isso não é justo. Como é que você fica com todas as garotas, Guren? ”
“Hmpf. Eu não sei porque você está me tratando com tanta intimidade assim de repente”, disse Guren, “mas eu não acho que gosto disso. ”
Goshi riu.
“Ei, o que é que eu posso dizer? Se não fosse por você, eu teria sido morto lá atrás. Você é o meu salvador! ”
“E daí? Chama todos os seus salvadores pelo primeiro nome, é? ”
“Ei, você devia estar feliz! Afinal, não é como se você tivesse muitos amigos para ser exigente. ”
“Desaparece. ”
“Ha! Enfim, piadas à parte, a gente realmente levou uma na cara aqui, não foi? ”
Goshi passou os olhos pelo pátio.
Estava coberto dos corpos de amigos seus.
Vários dos sobreviventes estavam em deitados em poças de sangue.
Os soldados do Exército Demoníaco Imperial estavam tentando ajudar os feridos, mas o pátio ainda estava num estado caótico.
“É difícil acreditar que tudo isso esteja acontecendo no meio de Shibuya”, disse Goshi. Ele voltou sua atenção para Guren. “Aliás, estou surpreso que alguém tão fraco como você tenha conseguido sobreviver. ”
Mito finalmente soltou Guren. Ela ergueu os olhos para o rosto dele e assentiu vigorosamente.
“Como foi que você conseguiu evitar as correntes que aqueles caras de terno tinham? ”
Guren não tinha sido capaz de ver através da cortina de fumaça. A julgar pelo comentário de Mito, no entanto, ele chutou que os homens da Seita Hyakuya tinham sido bem assustadores.
“Bem...” Guren disse, “a verdade é que eu só fiquei abaixado. ”
“Hã? ” Mito perguntou.
“O quê? ” Goshi perguntou.
“Eu fiquei no chão e esperei que tudo acabasse. ”
Um olhar irritado surgiu no rosto de Mito. Ela e Goshi trocaram um olhar.
“Eu devia saber...” Ela disse.
“Mas como você notou o ataque antes que nos atingisse? ” Goshi perguntou.
Guren encolheu os ombros.
“Eu já estava olhando para o céu quando aconteceu. Acho que eu estava entediado. ”
Goshi e Mito de repente caíram na risada.
Mas não foi como antes, quando eles riam de Guren. Dessa vez, a tensão tinha sido quebrada e eles estavam rindo para liberar a ansiedade.
Eles riram até quererem chorar. E então eles ficaram em silêncio.
“Eu acho que não é hora para risos”, disse Goshi, olhando para os alunos feridos ao redor deles.
Mito assentiu.
“Hm. ”
“Eles escolheram a escola errada para atacar. Nós não vamos deixar eles se safarem após terem matado nossos amigos desse jeito. ”
Mito assentiu de novo.
“Nós vamos nos vingar”, Goshi jurou.
Mito pausou por um momento e então assentiu outra vez, solenemente.
“Vamos. ”
Guren olhou para os dois.
Vingança. Mas vingança contra quem? Contra a Seita Hyakuya? Ou contra a pessoa que era realmente responsável pelo que tinha acontecido, Mahiru?
 Guren então se pegou se lembrando de como Mahiru era quando criança. Ela tinha um rosto inocente e um sorriso confiante.
Como a maioria das crianças, ela acreditava, erroneamente, que podia ser quem ou fazer o que o seu coração quisesse.
—Ei, Guren...
A voz dela era sempre tão feliz quando ela chamava o nome dele.
—Acha que nós dois podemos nos casar?
Ela parecia ainda mais feliz que o normal naquele dia.
—Nós poderíamos ficar juntos para sempre que nem agora.
 Guren levantou a cabeça.
No meio do pátio coberto de sangue da escola, ele olhou para o céu. Ele ainda estava tão claro como antes.
Mas, na mente de Guren, tudo estava cinza e nublado.
Tudo parecia sem esperança. Parecia haver um enorme peso em seu peito.
“Guren! ”
Guren virou o rosto.
Era Shinya.
Aparentemente, ele também tinha sobrevivido.
Ele estava coberto de sangue, assim como os outros. Ele parecia perturbado.
“Mahiru... ela se foi...” Ele disse.
“...”
“Eles disseram que ela foi sequestrada! ”
É claro, Shinya sabia que Mahiru na verdade era o traidor. Fingir que ela tinha sido sequestrada era prova de que ele realmente odiava os Hiiragi. Pelo que parecia, ele falara sério quanto a querer destruí-los.
“O que devemos fazer? ”
Guren não sabia ao certo o que dizer. Tanta coisa tinha acontecido que ele não conseguia encontrar ainda as forças para explicar tudo.
“Por que está me perguntando sobre a Mahiru-sama...” Ele disse, em vez disso. “Ela é a sua noiva, não é? ”
Os olhos de Shinya se arregalaram de surpresa. Ele percebeu que Mito e Goshi estavam ali e uma expressão de irritação surgiu em seu rosto. Depois de tudo o que tinha acontecido, era difícil para ele acreditar que Guren estava tentando manter sua farsa.
“Sabe, Guren, às vezes...”
“...Eu posso ser bem irritante? ” Guren disse, sorrindo.
“Ao menos você admite. ”
“Haha. Eu estou cansado agora. Podemos conversar depois, tá bem? ”
“Depois pode ser tarde demais. ”
“Acho que já passamos do ponto do tarde demais. ”
Guren gesticulou para os corpos caídos ao redor deles.
O inimigo já os tinha pego. Seria preciso tempo e paciência para que conseguissem alcança-lo. Agora, eles precisavam usar os cérebros, coletar as informações que pudessem e se preparar com cuidado.
Mahiru e a Seita Hyakuya já tinham uma boa vantagem.
Shinya assentiu.
“Certo, então estou com você. ”
Ele se virou e foi embora.
“O que foi isso? ” Goshi perguntou.
Guren abanou a cabeça.
“Quem sabe”, ele disse.
“Mas é verdade o que ele disse, que a Mahiru-sama foi sequestrada? O que nós vamos fazer? ”
Guren, contudo, não os ouvia mais.
O céu acima estava azul.
Um azul profundo e intenso.
Uma única nuvem flutuava docemente pelo céu.
“...Acho que já começou”, ele murmurou, distante.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 6 - Os Exames de Qualificação
Os Exames de Qualificação começavam às oito da manhã.
 Eles eram realizados no pátio da escola, mas de pátio só tinha o nome. Na verdade, era um vasto campo de treinamento, grande o bastante até para manobras militares.
Todos os alunos estavam reunidos ali.
Os exames seriam um torneio eliminatório. Cada estudante de cada série competiria. O processo inteiro duraria uma semana.
Alunos de uma mesma classe não tinham que se enfrentar a menos que eles já tivessem vencido várias lutas e elevado suas colocações. Isso significava que, ao menos para as primeiras partidas, havia um senso de espírito de corpo dentre os alunos de uma mesma sala.
No fim das contas, cada partida acabava sendo uma disputa de poder individual. Mas, por ora, havia a noção de que eles estavam todos juntos no mesmo barco. A professora responsável Aiuchi Saia estava a manhã toda trabalhando o psicológico de seus alunos.
“Aconteça o que acontecer”, ela disse, “vocês absolutamente não podem perder para ninguém de outra classe! Esta é a semana de vocês mostrarem aos outros porque a nossa classe é a número um! ”
“...”
Guren estava sentado meio distante de seus colegas enquanto ela falava.
Desde o incidente no corredor, Shinya, Goshi e Mito tinham parado de falar com ele. Ele se tornara um completo desajustado.
Por sorte, Guren preferia assim.
“...”
Ele observou os outros alunos com uma cara de tédio.
A primeira disputa no grupo deles já começara. Era entre uma menina de sua sala, cujo nome ele não lembrava, e um rapaz da Classe 1-2.
A luta estava acirrada. Suas habilidades eram equivalentes.
Todos os confrontos permitiam contato total, sem restrições de técnicas.
As regras para a vitória eram simples:
 — O vencedor seria determinado pelos juízes, segundo apenas a descrição deles.
— Os juízes escolheriam quem aparentasse ser mais capacitado.
— Matar acidentalmente seu oponente resultaria em uma avaliação inferior.
 Fora isso, os combatentes estavam livres para usar quaisquer armas ou feitiços que quisessem. Apesar de matar seu oponente lhes prejudicasse, isso não resultaria em expulsão. Não haveriam questionamentos a respeito e a polícia não seria informada.
Esse era o tipo de escola em que eles estavam. O domínio da lei não chegava até o Secundário de Shibuya.
De fato, podia-se dizer que a escola era uma nação própria. Podia estar dentro do Japão, mas era o Clã Hiiragi que comandava tudo com poder divino.
Para minimizar as chances de morte, cinco professores foram designados para arbitrar cada partida.
“A vencedora é Sugiyama Midori, da Classe 1-9! ”
A menina da classe de Guren tinha vencido a disputa contra o jovem da Classe 1-2. Aparentemente o seu nome era Midori.
Guren olhou para o ringue. A garota tinha lançado seu oponente ao chão e segurava uma faca contra seu pescoço.
“Issooooooooooooo! ”
A senhorita Aiuchi estendeu o punho para cima em posição de vitória. Os outros alunos da sala comemoraram.
“Ótimo começo, continuem assim”, ela disse.
Os próximos a lutar deram um passo à frente. Todos os alunos das Classes 1-9 e 1-2 se enfrentariam hoje.
Guren olhou para o outro lado do pátio, onde estavam os estavam agrupados os estudantes da Classe 1-2.
Uma das guardas de Guren, Yukimi Shigure, estava naquela classe, mas Guren não conseguia vê-la dentre os outros alunos. Ele encolheu os ombros.
“Ela é uma tampinha mesmo...”
Uma voz falou, ao lado de Guren.
“Quem é uma tampinha? ”
Guren virou o rosto. Shigure estava de pé bem do seu lado. Ela o encarou com sua costumeira falta de expressão.
“O que está fazendo aqui? ”
“Eu só vim dar um oi. ”
“Só isso? ”
“Minha sala e a sua estão se enfrentando hoje. ”
“Dá para notar. ”
“É claro. Mas eu pensei que você poderia não saber qual a minha sala... Fico feliz que tenha se interessado. ”
Guren suspirou.
A segunda disputa tinha começado. Era outra pessoa de quem Guren não sabia o nome. Ele parecia estar lutando com tudo o que tinha.
Mas seus movimentos eram lentos. Assim como sua conjuração. Ele não parecia muito bom com o uso de sua arma também.
“Esse cara é mesmo da elite da escola? ” Shigure perguntou.
“Bom, com um oponente desses...”
“...não seria uma ameaça? ”
“Não. ”
“Bom ouvir você dizer isso. Quem é o seu oponente? ”
Aí, outra estudante os interrompeu.
“O que é que vocês dois estão cochichando? ”
A garota que tinha falado tinha cabelos vermelho-vivo. Ela encarou Guren e Shigure, desconfiada.
Era Jyuujou Mito.
“Estávamos cochichando? ” Guren perguntou, se virando para ela.
Mito apontou um dedo para Shigure.
“Você aí! Ela pode ser sua guarda-costas, mas hoje ela é minha oponente! ”
Guren voltou sua atenção de Mito para Shigure.
“É verdade? ”
“Sim, senhor”, Shigure falou, assentindo.
“Entendo. Bem, essa deve ser uma luta interessante. ”
“Tudo bem se eu a vencer? ” Shigure perguntou.
“Você? Me vencer?! ” Mito exclamou. “Impossível! Até o seu mestre é um vacilão. Que chances você acha que tem contra mim? Eu sou uma Jyuujou, sabia?! ”
Shigure encarou Mito.
“Segure sua língua quando fala com o Guren-sama...”
“Ou o quê? ”
“Eu corto ela fora”, Shigure ameaçou.
A voz dela era afiada como uma adaga. O tom de Shigure seria capaz de petrificar a maioria das pessoas.
Mito, contudo, parecia inabalável. Frente à ameaça, ela apenas riu.
“Eu quero ver você tentar”, ela falou, dando as costas para eles. Guren a observou ir.
“Shigure? ”
“Sim, senhor? ”
“Acha que pode derrota-la? ”
“É claro que posso! ” Ela gritou, entusiasticamente, nem parecendo ela mesma. Ela arrumou a coluna e ergueu o queixo.
Parecia que ela estava ansiosa pela luta.
Shigure não se confiava em muitos feitiços quando lutava. Em vez disso, ela se profissionalizara em truques de assassinato e no porte de facas. Isso queria dizer que ela podia usar a força que tinha sem revelar a magia do Clã Ichinose para seus inimigos.
Ela podia lutar sem ter que se segurar.
Mesmo assim...
“Sabe, aquela Jyuujou Mito também não é fraca. ”
“De que lado você está, Guren-sama? ”
“De que lado? Acho que não ligo muito para quem vence. ”
“Quer dizer que não vai torcer por mim? ”
Guren gargalhou.
“Você precisa que eu torça por você para vencer? ”
“Não”, disse Shigure, com um olhar insatisfeito. “Mas eu ficaria triste se não torcesse. ”
“Ha. Enfim, temos coisas mais importantes para conversar. Lembre-se—”
“Eu sei”, Shigure o cortou, “não usar nenhuma magia Ichinose. Não tem por que eu entregar a nossa carta na manga para os nossos inimigos. Eu só usarei feitiços que os Hiiragi já tenham à disposição. ”
“Que bom que entende. Nesse caso, acabe com ela. Vai ser uma chance de liberar um pouco da raiva que temos acumulado nos últimos dias. ”
Aí, um dos juízes chamou o nome de Shigure.
“Yukimi Shigure, Classe 1-2. Aproxime-se. ”
Shigure começou a andar rumo ao ringue. Ela parou no meio do caminho e se virou para olhar para Guren.
“Mas acha que dá para torcer por mim, mesmo sendo algo sem importância? ”
“Tá bem, vá logo para lá. ”
“Sim, senhor! ”
Em seguida, o juiz chamou o nome da oponente de Shigure.
“Jyuujou Mito, Classe 1-9. Aproxime-se. ”
Mito pisou no ringue. Ela jogou seus cabelos vermelhos por cima do ombro, sem dúvidas para exibir sua linhagem como Jyuujou.
“Aristocrata esnobe”, Shigure sibilou.
Mito exibiu um sorriso confiante.
“Desculpe, eu não falo com plebeus. ”
“Só morra”, Shigure falou.
“Não pelas suas mãos”, Mito respondeu.
Antes que Mito terminasse de falar, Shigure já pusera uma mão para trás das costas. Guren supôs que ela tivesse armas escondidas pela roupa.
Mito, contudo, estava murmurando baixinho. Ela provavelmente estava conjurando um feitiço do Clã Hiiragi. O Clã Jyuujou usava magia para melhorarem seus atributos físicos e levarem seus corpos ao limite. A estrutura do feitiço era similar ao que Shinya usara contra Guren. Uma auréola triangular de fogo se materializou sobre a cabeça de Mito. Era de um vermelho brilhante, ainda mais intenso que os cabelos dela.
“Ela está usando... Vajrayaska? ” Guren murmurou para si mesmo, assistindo atentamente.
Um dos juízes deu um passo à frente. Ele explicou as regras da luta. Um sinal seria dado para interromper a partida se fosse necessário.
Ele também as lembrou que matar a oponente resultaria numa diminuição de seus pontos.
“Olhe para isso”, disse Goshi Norito, com um assobio. “Gostosa versus gostosa. Eu não me importaria de entrar no meio desse fogo cruzado. ”
Goshi estava rodeado por uma porção de alunos. Shinya estava ao lado dele.
“Eu quero mais é dar uma olhada na magia do Clã Ichinose”, ele falou.
Guren não estava surpreso em ouvir isso. Mas Shinya não parecia tão interessado assim. Talvez ele já tivesse mesmo aberto mão de qualquer esperança que tinha em Guren.
“Comecem! ” O juiz gritou.
Shigure e Mito entraram em ação.
Os movimentos de Mito, amplificados pela magia, eram incrivelmente velozes.
Shigure, no entanto, reagiu bem a tempo. Ela saltou para trás e jogou uma mão para as costas. Uma série de kunai (pequenas adagas de ninja) voaram de sua mão. Haviam fios presos aos cabos de cada uma, que flutuavam magicamente no ar.
Cada fio tinha um fuda preso a si. Se qualquer um entrasse em contato com um dos fios, os fuda presos a ele explodiriam, mandando as kunai pelo ar na direção de quem tivesse caído na armadilha.
Mito encarou as facas, pensativa.
“Truque barato assassinos... Eu deveria esperar algo assim de uma serva Ichinose. ”
Mito continuou a avançar, correndo por entre a armadilha plantada por Shigure.
Uma das longas e esguias pernas de Mito entrou em contato com um dos fios. Instantaneamente, o fuda dele explodiu, fazendo com que as adagas atacassem em sua direção.
“Minha nossa, olha só pra ela! ” Goshi falou.
Shinya, porém, parecia entediado. Aparentemente, nem a velocidade de Mito nem a astúcia de Shigure eram o bastante para impressionar um Hiiragi.
Mito rapidamente cobriu a distância entre ela e Shigure.
“Hora de acabar com isso”, Mito zombou dela, erguendo a mão em punho.
Shigure apenas deu um sorriso sarcástico.
“Bela tentativa, mas prepare-se para engolir suas palavras”, ela disse.
Shigure estalou os dedos da mão direita. Em resposta, uma das kunai que Mito tinha jogado para o lado explodiu, a arremessando no ar.
Antes que Mito soubesse o que havia acontecido, as cordas presas às kunai se prenderam em seu pulso, apertando firme.
“Ngh! ”
Mito não podia se mover.
O fio estava amaldiçoado. Ele paralisava qualquer um que o tocasse, quase como uma injeção de anestésicos.
Parecia que Shigure tinha vencido.
Mas ela não estava satisfeita.
Ela sacou mais uma kunai de suas costas e a levantou, pronta para atingir a garganta de Mito.
Guren se projetou para a frente, surpreso. Ele abriu a boca para mandar Shigure recuar.
Os juízes todos começaram a gritar também para que Shigure parasse.
Mas, antes que qualquer um a pudesse parar...
“Me... sol... te...!! ” Mito gritou.
A auréola rubra acima de sua cabeça ficou mais brilhante e começou a girar. De repente, o punho de Mito foi adiante, apesar do fio que a prendia.
“C-Como?! ”
Os olhos de Shigure se arregalaram, em choque.
O punho de Mito avançou, atingindo em cheio o queixo de Shigure.
“Ngh! ”
Shigure jogou sua kunai bem quando era golpeada. Ela voou solta, mal arranhando a bochecha de Mito.
A força do murro mandou o corpo de Shigure pelos ares. Ela caiu na terra e rolou por vários metros antes de parar. Não parecia que ela ia levantar. Havia sido um golpe avassalador. O provavelmente tinha tido uma concussão e estava completamente atordoada.
Mito, no entanto, ainda podia se mover. Ela correu até o corpo caído de Shigure.
“Pare! ” O juiz gritou. “A vencedora é Jyuujou Mito! ”
A partida fora decidida.
“Hmpf”, Guren soltou, assistindo de braços cruzados.
A senhorita Aiuchi fez outra pose vitoriosa.
“Muito bem, Mito! Eu sabia que você conseguia! ”
Mas Mito continuou onde estava. Ela encarou com tristeza o corpo de Shigure.
“Você já pode deixar o ringue”, disse o juiz.
Mito balançou a cabeça. Ela levantou a mão, como se tivesse algo a dizer.
“Eu... Eu acho que deveria ser um empate. ”
“O quê?! ” Os juízes todos viraram as cabeças bruscamente para Mito.
Ela apontou para o arranhão em seu rosto.
“Ela me feriu também. Mas ela é uma assassina. Se fosse um combate real...”
“...a arma estaria embebida em um veneno letal? ” O juiz perguntou.
“Sim. Por causa de meu treinamento, eu ainda poderia me mover, mesmo após ser envenenada. Eu poderia ter acabado com ela enquanto ela ainda estivesse caída...”
“Mas no final você morreria também? ”
“Sim. ”
“Entendo. Bom ponto. Mas a decisão foi final. A vitória é sua. ”
“Mas...”
“A decisão está em nossas mãos, senhorita Jyuujou. Guarde suas opiniões para você mesma. Lembre-se, estas regras foram estabelecidas pelo Clã Hiiragi. Você não está querendo questioná-los, está? ”
“... É claro que não, senhor. ”
Mito saiu do ringue sem dizer outra palavra.
Guren observou ela sair antes de ir até Shigure. Ela ainda estava inerte no chão. Ele abaixou os olhos para ela.
Ela estava consciente.
Mas ela estava claramente devastada. Ela mordia os lábios, segurando tanto a raiva quanto as lágrimas. Guren suspirou.
“Parece que você perdeu”, ele disse.
“Ugh... Perdão, Guren-sama. ” Ela fazia uma careta pela derrota. “Depois de tudo o que aconteceu, eu esperava ao menos poder vencer esta luta. Eu... Eu o envergonhei de novo, Guren-sama...”
Shigure travou no meio da frase e as lágrimas começaram a rolar por suas bochechas. Guren só sorriu para ela.
“Mito era uma forte oponente. ”
“Sim, senhor. Foi estupidez de minha parte a subestimar. ”
“Ei, ao menos foi um empate. ”
“Eu venho da família Yukimi... jurada a proteger o Clã Ichinose. Para mim, um empate é o mesmo que perder. ”
“Como quiser, então. Você perdeu. ”
“...”
“Consegue se levantar sozinha? ”
“...ngh. ”
Shigure tentou se levantar e falhou. O soco de Mito tinha sido realmente incrível.
“Você... Você está bem? ” Era Mito. Ela se aproximou timidamente por trás. Ela parecia preocupada.
“Só... me deixe em paz, por favor”, disse Shigure.
Guren se virou de frente para Mito.
“Acho que ela quer ficar sozinha”, ele disse.
“Mas...”
“Olha, ela está chateada porque perdeu. Ela não quer que você a veja chorar. Tenha um pouco de sensibilidade, tá bem? ”
“...”
Mito olhou para o chão, envergonhada. Aparentemente, ela até que era uma boa pessoa lá no fundo.
Porém, ela subitamente se virou para Guren. Seus olhos brilhavam de fúria.
“Por que você não fica fora disso?! Eu não preciso ser repreendida por um fracote! ”
“Se você diz. ”
“Digo mesmo. Eu estava falando com a Yukimi Shigure. Ela é forte. Ela provou isso. Mas já você...”
“...só estou no caminho? ”
“Isso mesmo. ”
“Acho que me pegou. Certo, eu estou indo. Te vejo depois, Shigure. ”
Shigure ergueu-se até ficar sentada, finalmente capaz de se mover outra vez.
“Eu vou com você...” Ela disse.
Mito correu para o lado dela.
“S-Sobre antes...”
“Se você vai pedir desculpas por me bater, não se dê ao trabalho. Foi uma luta justa—”
“Isso não”, disse Mito, a interrompendo. “Eu queria me desculpar pelo que eu disse antes da luta. Eu não deveria ter te subestimado só porque você trabalha para o Guren. Você é mais forte do que parece. ”
Shigure abriu a boca como se fosse dizer algo, mas Guren lhe deu um olhar de aviso. Ele imaginou que ela fosse dizer algo idiota, como que ele na verdade era mais forte do que ela.
Captando o olhar de Guren, Shigure fechou a boca sem falar nada. Ela ficou cabisbaixa, nem um pouco satisfeita.
Mito não pareceu notar.
“Já pensou em se tornar uma guarda do Clã Jyuujou? Você é talentosa demais para se desperdiçar com um mestre tão molenga. ”
“Não fale assim do Guren-sama...”
“Eu também admiro a sua lealdade. Mas pode ao menos considerar? ”
“Eu já disse—”
“Venha nos visitar. Podemos falar sobre isso lá...”
“Guren-sama! ” Shigure chamou, sem jeito. Guren a ignorou, caminhando em direção aos seus colegas. Shigure poderia lidar com Mito sozinha.
A próxima disputa já estava acontecendo. Esta era entre Goshi Norito e um garoto da Classe 1-2.
“Eu não podia ficar com uma garota? ” Goshi falou. “Não tem graça lutar contra um homem. ”
“O que, você prefere bater numa garota? ” Shinya perguntou, rindo ao lado dele.
“Quem foi que falou em bater nela? ” Goshi retrucou com uma gargalhada. “Se ela fosse bonita, eu podia abaixar a guarda dela com minha técnica especial de beijos! ”
“Q-Qual é, isso não é justo! ” Reclamou o oponente de Goshi, do outro lado do ringue. “Qual é a função de me parear com alguém do Clã Goshi na primeira partida? Eu não tenho a menor chance...”
Parecia que ele tinha desistido da luta antes de ela sequer começar.
“Não se preocupe, moleque”, Goshi disse. “Vai ser rápido. Quanto mais cedo acabar, mais cedo eu posso voltar a ir atrás de umas gostosas. ”
Goshi apontou o dedo para seu oponente, o convidando a atacar.
O garoto puxou um sabre longo de seu cinto. Aparentemente, ele também vinha de um clã que treinava a esgrimia.
Seus movimentos eram fluidos. Ele pelo menos parecia saber como usar uma espada.
Goshi o encarou com uma cara de tédio e os olhos quase fechando.
“Você vai agir ou o quê? ”
“Prepare-se”, disse o garoto.
“Venha logo. ”
“Aqui vou eu...! ”
O garoto levantou a espada para atacar. No momento em que o fez, no entanto, sua espada desapareceu.
Goshi apareceu de repente por trás do garoto. Ele estava segurando a espada do outro. Ele a alinhou lentamente com o pescoço do garoto.
“Acabamos por aqui? ” Ele perguntou.
O garoto ficou congelado no lugar.
“Ele é rápido...” Guren murmurou.
Shinya, que estava de pé ao lado de Guren, olhou para além de canto de olho e suspirou.
“Não, ele não é”, ele fez pouco caso.
“O quê? ”
Shinya voltou-se outra vez para a luta, sem explicar.
Mas Guren sabia o que Shinya quisera dizer.
Goshi na verdade tinha usado uma magia de ilusão.
Os movimentos de Goshi na verdade não eram rápidos coisa nenhuma. Sua ilusão só tinha sido convincente o bastante. O verdadeiro Goshi tinha lentamente caminhado até seu oponente, calmamente roubado sua espada e vagarosamente a apontado para o seu pescoço.
Guren fez aquele comentário de propósito, para fazer parecer que ele não sabia o que estava acontecendo. Era tudo por causa de Shinya, para garantir que os Hiiragi continuassem a subestimar Guren.
O plano de Guren parecia estar funcionando. Shinya agora claramente o desprezava. Ele mal se dava mais ao trabalho de olhar em sua direção.
Guren encolheu os ombros, satisfeito.
O nome de Shinya foi o próximo a ser chamado.
“Hiiragi Shinya, Classe 1-9. ”
“Estou aqui”, Shinya disse, levantando a cabeça.
Shinya andou até o ringue. Burburinhos empolgados se espalharam pela multidão.
 — É o Hiiragi Shinya!
— Hiiragi Shinya é o próximo a lutar!
 Os estudantes sussurravam seu nome, admirados.
“Dá para pensar até que ele é uma celebridade”, Guren disse, rindo consigo mesmo.
O oponente de Shinya se aproximou. O pobre rapaz estava praticamente com os joelhos tremendo.
Por alguma razão, Shinya olhou para Guren mais uma vez antes de a luta ter início. Eles fizeram contato visual.
Pareceu uma espécie de desafio.
“Hmpf. Pensei que ele já tivesse desistido de mim”, Guren murmurou. “Talvez ele queira exibir o quanto ele é mais forte do que eu...”
Enfim, a partida começou.
“Shinya-sama... Estou pronto! ”
“Boa luta para nós dois. ”
“Sim, senhor! ”
O oponente de Shinya sorriu, feliz por Shinya ter se dignado a falar com ele. Ele puxou vários fuda de seu uniforme. Aparentemente, o rival de Shinya era um feiticeiro.
O garoto jogou os fuda no ar e começou a entoar um poderoso feitiço.
Enquanto o garoto preparava seu feitiço, Shinya simplesmente ficava em seu lugar. Ele não parecia estar fazendo nada, só esperando pacientemente.
O oponente de Shinya começou a ficar preocupado.
“Hmm...”
“Sim? ”
“Você não vai atacar? ”
“Ops. Acho que me esqueci disso. ”
“Meu encantamento já está completo...”
“Ah, é? Então é melhor ativá-lo logo. ”
“Mas é um encantamento bem grande... Se atingir você diretamente, estou certo de que irá mata-lo...”
“É mesmo? Então vai ser bem interessante. ”
“Mas... eu não quero mata-lo, Shinya-sama. Você pode... considerar uma rendição? Eu não quero parecer impertinente...”
“Lance o feitiço”, disse Shinya. “Ele não irá me afetar. ”
A surpresa atingiu o rosto do garoto. No fim das contas, era uma afirmação bem pouco crível.
Era simplesmente natural que o garoto ficasse preocupado. Todos no Secundário de Shibuya estudavam a feitiçaria Hiiragi. Mas, mesmo para os altos padrões da escola, o encantamento que o garoto preparara era impressionante.
Parecia que fora projetado para destruição generalizada. Normalmente, um feiticeiro precisaria ser protegido por seus aliados para ter tempo o bastante para um encantamento daquela magnitude.
O garoto que enfrentava Shinya, contudo, fora capaz de aprontar aquele feitiço em questão de segundos. Ele claramente era muito habilidoso. Uma vez que ele liberasse o encantamento, a vitória era certa.
Afinal, nenhuma pessoa normal poderia sobreviver ao impacto de um feitiço daquele porte. E, uma vez que um feitiço era preparado, era tarde demais para dissipá-lo.
Por isso, o garoto pediu que Shinya se rendesse.
“Eu não posso matar alguém do Clã Hiiragi”, disse o garoto, olhando ansiosamente para os jurados. “Posso só ser desclassificado em vez disso? ”
Os juízes se viraram para Shinya.
“Ele pode? ”
“Eu já lhe disse”, Shinya falou, “para lançar o feitiço. ”
“Mas...”
“Mas o quê? Você duvida do meu poder? ”
“...”
Os juízes estavam atônitos. Em seguida, eles se viraram para o oponente de Shinya.
“Lance o feitiço”, foi-lhe dito.
O garoto pareceu incerto a princípio, mas então ele apertou as sobrancelhas, determinado.
“Certo, mas não ponham culpa em mim pelo que acontecer! ”
O garoto ativou o encantamento.
Os fuda flutuando no ar se agitaram e uma enorme bola de fogo apareceu em seu lugar. O bola de fogo desceu para se chocar contra Shinya.
Shinya levantou preguiçosamente uma mão, conforme a bola de fogo se aproximava.
“Suma”, ele falou.
Surpreendentemente, as chamas se foram.
O que tinha acontecido? Ninguém sabia. Até os juízes pareciam perdidos. Eles estavam tão surpresos que esqueceram de anunciar o vencedor.
Mas estava claro para todos ali quem tinha vencido.
Shinya se virou calmamente sobre os calcanhares e saiu do ringue. Ele veio andando na direção de Guren.
“O-O vencedor é Hiiragi Shinya! ” Anunciou um dos juízes, por fim.
Aplausos e vivas se fizeram ouvir em meio aos estudantes. Shinya olhou para Guren e deu um sorriso.
“Vou apostar que você também não sabe o que foi que aconteceu aqui também. ”
Guren abriu a boca para responder, mas Shinya passou direto por ele antes que o fizesse.
Parecia que Shinya não estava mais interessado no que Guren tinha a dizer.
A técnica de Shinya tinha sido bem impressionante. Mas Guren compreendera como ele a tinha feito. Era simplesmente uma ilusão. Sua conjuração não fora mais rápida que a de Goshi. Ele só tinha sido um pouco mais sagaz com a sincronização.
Shinya tinha tecido a ilusão quando ainda estava conversando com o garoto. Então ele usou a ilusão para interromper o feitiço do outro em vários pontos.
O feitiço na verdade tinha sido sabotado com antecedência para que falhasse.
Era um golpe sujo. Shinya estivera no controle o tempo inteiro. Guren se perguntou se ele teria sido capaz de derrotar Shinya se seus caminhos se cruzassem. Após o que ele vira, ele honestamente não tinha certeza.
“Como fez aquilo? ” Guren disse, continuando sua farsa, só para garantir.
Shinya, no entanto, nem se incomodou de se virar.
Aparentemente, ele também não tinha interesse em assistir a luta de Guren.
Bem então, o juiz chamou o nome de Guren.
“O próximo, Ichinose Guren. Aproxime-se! ”
Shinya já tinha saído em direção à sala deles. Guren sorriu consigo mesmo.
“Ichinose Guren! Aproxime-se já! ” O juiz repetiu. Guren virou-se de volta para o campo de treinamento.
“Desculpe”, ele disse, andando até o centro do ringue.
“Guren-sama, acabe com ele! ” Shigure gritou da lateral.
Os outros alunos riram em resposta. Até a senhorita Aiuchi deu um risinho cruel.
“Acho que não tem problema perder uma partida”, ela disse.
Os estudantes da classe de seu oponente eram ainda piores. Em vez de gritarem com Guren, eles gritavam com o outro jovem, dizendo que ele podia desistir da vida se perdesse para um cachorro vira-lata como o Ichinose.
Mas Guren não planejava perder desta vez. Ele queria enfrentar Hiiragi Seishirou na segunda rodada. É claro, ele planejava perder sua disputa contra Seishirou. Mas a luta lhe daria a chance de julgar o quão poderosos os Hiiragi realmente eram.
Mas uma coisa de cada vez. Ele precisava vencer a luta de hoje.
Mas só por um triz.
O oponente de Guren se aproximou. Ele parecia nervoso e sua postura estava descuidada. Ele segurava uma lança em mãos.
Guren levou a mão à espada em sua cintura.
“Boa luta”, Guren disse, se curvando.
“Não fale comigo, bastardo”, disse o garoto, fungando.
“Minhas desculpas. ”
“Tanto faz. Prepare-se para perder. ”
“Seja gentil comigo, por favor. ”
A partida começou.
Mas mal vale a pena comentar sobre essa partida.
Guren lutou tão mal quanto possível, ficando na defensiva o tempo todo. Ele cambaleou pelo ringue e correu de seu oponente sempre que pôde. Ele só venceu no final, graças a um feroz e sortudo movimento que acabou por desacordar seu oponente.
“O vencedor é Ichinose Guren! ” Gritou o juiz. Uma onda de grunhidos começou pelos alunos.
Até os colegas de Guren o vaiaram e xingaram, reclamando que ele era uma vergonha para eles. Goshi revirou os olhos.
“É ainda mais fraco do que eu pensei”, ele disse.
“Não tem vergonha de ter alguém forte como a Shigure te seguindo quando você é tão incompetente? ” Mito falou. “Você podia ao menos se esforçar, ao invés de depender das suas subordinadas para livrarem a sua barra. ”
Mito parecia pessoalmente ofendida pela fraqueza de Guren. Aparentemente, ela tinha se impressionado tanto com Shigure durante sua luta que agora ela sentia a necessidade de cuidar dela.
“Acho que eu realmente dependo demais da Shigure...” Guren falou.
“Então por que não a libera de seus serviços? ” Mito sugeriu. “Você não tem o direito de estar à frente de uma garota tão habilidosa! ”
“...”
“Pare”, disse Shigure, a interrompendo. “Eu não vou deixar que fale com o Guren-sama desse jeito! ”
Os outros alunos caíram na risada. Uma garota vindo ao resgate dele o fazia parecer ainda mais fraco.
Mito olhou para Guren.
“Viu? Não se envergonha de si mesmo? ”
“É claro que sim. Mas eu sou fraco. O que eu deveria fazer quanto a isso? ”
O que Guren falou era parte de sua encenação, mas também era parcialmente verdade.
Aquilo o incomodava todos os dias. Que ele não fosse forte. Que ele não tivesse o poder para derrubar o Clã Hiiragi. Aquilo o envergonhava.
“Se você ao menos se esforçasse! ” Mito se queixou.
Por que ele não se esforçava mais?
“...Tanto faz” Guren disse, virando-se para ir embora.
Fazendo isso, um grito empolgado se fez ouvir do ringue seguinte. A torcida estava alta como quando Shinya fez sua entrada.
Aquele ringue era onde estavam ocorrendo os embates entre a Classe 1-3 e a Classe 1-5.
A Classe 1-3 era a de Mahiru.
Guren lançou um olhar para lá.
Como ele pensava, Mahiru estava lutando.
Ela era rápida. Ainda mais rápida que Shinya. Cada um de seus movimentos era perfeito.
A oponente de Mahiru parecia estar no mesmo nível de Mito. Mahiru a derrotou facilmente.
A força de Mahiru tinha disparado nos últimos dez anos.
Guren se perguntou se era devido a esforço ou só talento Hiiragi de nascença.
Talvez ambos.
“Esforço, hã? ” Guren murmurou, ainda encarando Mahiru.
Os pensamentos de Guren foram interrompidos pelo som de um grito. O grito veio de um ringue diferente. Guren reconheceu aquela voz. Era uma que ele conhecia bem.
“Sayuri...? ”
Guren se virou para lá.
O grito viera do ringue onde ocorriam as disputas entre a Classe 1-1 e a Classe 1-4.
Guren também pôde ouvir a torcida.
A multidão torcia entusiasticamente, como para Mahiru e Shinya.
“Mata! Mata! ” A multidão entoava.
“Faça isso, Seishirou-sama! ”
“Mate essa puta Ichinose safada! ”
Guren finalmente os viu.
Sayuri estava no ringue. E ela lutava contra Hiiragi Seishirou.
Sayuri parecia estar nas últimas. Ela tinha sido espancada e ferida. Seus lábios estavam cortados, provavelmente por um murro, e sangue escorria do corte. Seus ombros tremiam enquanto ela arquejava para respirar. A frente de seu uniforme estava destruída e sua mão esquerda segura o peito, tentando desesperadamente impedir que a camisa se abrisse.
Seu oponente, Hiiragi Seishirou, sorriu maliciosamente para ela.
“Eu devo estar pegando leve demais com você”, ele disse. “Você parece mais preocupada em esconder os peitos do que em lutar comigo. ”
Os outros alunos riram alto.
“Deixe ela nua! ”
“Para que é que uma vaca precisa de roupas, afinal? ”
Seishirou abriu os braços, se exibindo para a plateia.
“Se é isso que o povo pede, é isso que o povo vai ter... Vamos tirar as roupas dessa vaquinha! ”
Seishirou deu um passo na direção de Sayuri.
Sayuri cambaleou para trás, mas Seishirou era rápido demais para ela. Suas mãos alcançaram o busto dela.
“Ngh...”
Sayuri tentou afastar a mão dele.
Mas ela errou. No meio do caminho, a mão de Seishirou se fechou num punho e mudou de direção. Ele deu um gancho bem no queixo dela.
“Aagh! ”
A cabeça de Sayuri foi jogada para trás e seu uniforme se escancarou, expondo seu sutiã.
Seishirou ainda não tinha terminado.
“Animais não deveriam manter seus corpos imundos para si mesmos”, ele disse, socando ela no estômago dessa vez.
“Ugh! ”
Sayuri se recurvou de dor. Quando seu rosto se abaixou, Seishirou elevou o joelho, chutando a cabeça dela como uma bola de futebol.
O impacto muito certamente tinha tirado a consciência dela.
Aquilo estava longe de ser uma luta justa. Sayuri claramente não era párea para Seishirou.
“Não tão rápido”, Seishirou disse. Enquanto Sayuri desmaiava, ele começou a bater nela com uma enxurrada de chutes e socos. Ela parecia uma boneca de pano, sendo atingida pela força dos golpes dele, que a mantinham a seus pés.
Seishirou deu um riso maníaco, continuando a bater na inconsciente Sayuri.
“Droga”, Guren sibilou. Ele disparou a correr, indo em direção ao ringue.
“Por que vocês não param a luta? ” Ele gritou aos juízes.
Os professores, que deviam estar mediando a disputa, só deram sorrisos gélidos para Guren.
Assim como todos na escola, eles estavam do lado de Seishirou.
Seishirou olhou para Guren e deu um riso sarcástico.
Ele agarrou o pescoço de Sayuri e começou a apertar.
“Aí está você. Estava me perguntando por que estava demorando tanto. Chegou bem a tempo de ver a sua serva morrer. ”
“Seu filho da puta...”
“Haha, tanto ódio no olhar. Você acha que um fracote como você pode me deter? Bom, venha. Não há por que esperar até a nossa luta amanhã. Podemos ver quem é mais forte, Hiiragi ou Ichinose, aqui e agora. ”
Guren estreitou os olhos.
“Droga”, ele murmurou, “então chegamos a isso. ”
Guren deu um passo à frente.
“Espere...! ” Alguém segurou o braço de Guren, o parando.
Ele se virou e se deparou com Mahiru. Guren não fazia ideia de quando ela havia chegado ali. Ela estivera em sua própria luta apenas instantes atrás.
“Você não é forte o bastante para enfrentar Seishirou. Se lutar com ele agora, você vai ser morto. ”
Guren olhou nos olhos dela. Ela deu um sorriso fraco antes de voltar sua atenção para Seishirou.
“Eu devo estar ouvindo coisas”, ela disse. “Eu pensei ter escutado você dizer que planeja matar essa garota. ”
Seishirou deu um olhar gelado para ela.
“...então é você, Mahiru. O que foi? Vai fazer uma reclamação sobre a forma como eu faço as coisas? ”
“É claro que sim. Eu não vou te deixar manchar o nome dos Hiiragi...”
“Acha que eu ligo? Fique fora do meu caminho! ”
Mahiru avançou como um raio. Seus movimentos eram graciosos e perfeitos, não deixando brechas para um contra-ataque.
A mão esquerda de Mahiru se projetou contra Seishirou.
Seishirou gingou ferozmente, tentando defender o braço dela com o seu. Mahiru mudou sem esforço a sua trajetória, em vez disso alcançando Sayuri, que ela facilmente livrou do aperto de Seishirou.
“Ugh! ”
Seishirou cerrou os dentes. Ele fechou o punho, pronto para movê-lo até Mahiru. Ela olhou para ele com os olhos parcialmente ocultos.
“Tem certeza que quer seguir adiante? ” Ela disse, ameaçadora.
Bem aí, o olhar de Mahiru foi mortal. Foi apenas por um segundo, mas Guren viu. Ele se perguntou se outro estudante pudera ver aquilo também.
Seria fácil não ver aquele olhar. Ele durou apenas um breve momento.
Mas Seishirou pareceu receber a mensagem. Seu punho parou no ar. Ele encarou Mahiru com ódio.
“Maldita... Pensa que só porque é a favorita do pai, você pode...”
“...fazer o que eu quiser? Eu não tenho interesse em deixar papai feliz, nem nunca tive. ”
“Sua pequena, estúpida...”
“Essa conversa acabou, Seishirou. Juízes. Acredito que a luta terminou. ”
“Ah... P-Perdão...” Um dos juízes balbuciou.
“É desnecessário se desculpar. Só encerrem esse nojo de partida. ”
O juiz anunciou a vitória de Seishirou.
Mahiru caminhou até Guren. Ela ainda carregava Sayuri inconsciente nos braços. Ela entregou o corpo flácido da menina para Guren.
“Sua subordinada”, ela disse.
Guren pegou Sayuri dos braços de Mahiru.
“Me desculp—”
“Não preciso de desculpas suas”, Mahiru o interrompeu. “Principalmente desse você fraco que não pode proteger as garotas em sua vida. ”
Mahiru foi embora sem dizer mais nada.
Esse você fraco...
As palavras de Mahiru ecoaram na cabeça de Guren.
Mas não importa quantas vezes ele as repetisse, ele não conseguia desvendar as intenções de Mahiru.
Ela queria dizer que Guren não pudera proteger Sayuri... ou estava falando dela mesma? De como ele nunca voltara para ela?
“...”
Guren ficou olhando ela se distanciar.
“O-Onde estou...? ”
Os olhos de Sayuri se abriram. Ela ainda estava nos braços de Guren. Seu rosto estava arroxeado.
Ela estava coberta de ferimentos. Eles pareciam deslocados em uma garota daquela idade.
Apesar dos machucados, um sorriso se abriu no rosto de Sayuri enquanto ela olhava para Guren.
“Você veio me salvar...” Ela disse.
“...”
“Eu... Eu sinto muito, Guren-sama. Eu perdi...”
“...”
“M-Mas... Eu dei o meu melhor, e eu não usei nenhuma magia Ichinose. ”
“...”
“...Mas eu não devia ter perdido de forma tão vergonhosa—”
“Tente não falar”, Guren a interrompeu. “Vai abrir mais os seus cortes. E você não envergonhou ninguém. Você fez bem. É este lugar que está errado. ”
“M-Mas...”
“Já disse, não fale. ”
Sayuri ficou em silêncio.
Shigure veio correndo atrás deles.
“Guren-sama! Aqui, deixe que eu seguro a Sayuri...”
“Está tudo bem. Eu a carrego. Vamos para casa. Nossas partidas hoje já acabaram. ”
“Sim, senhor. ”
“Vocês duas lutaram bem hoje. ”
Guren não podia evitar de sentir que suas palavras eram inadequadas. Ele se amaldiçoou por sua própria fraqueza.
Seishirou, no entanto, queria jogar sal na ferida. Ele gritou, lá detrás, enquanto eles iam embora:
“Isso mesmo, perdedores! Vão para casa chorar! ”
Os outros alunos riram. Todo e cada um deles.
Uma expressão de pesar surgiu nos rostos de Sayuri e Shigure.
Guren não se importava que caçoassem ele. Mas ele não suportava ver Sayuri e Shigure feridas.
“...”
Riam agora... Guren pensou, mas só por hoje. Eu vou matar cada um de vocês, escória Hiiragi.
O quanto aquilo seria bom? Jogar fora todas as ambições e só ceder para a raiva e a vingança? Ideias do que ele poderia fazer brotaram na mente de Guren. Ele se virou e encarou os outros alunos...
“Por que vocês sempre implicam comigo? ” Ele disse de propósito, tão débil quanto conseguia soar.
Os estudantes apenas riram mais alto. Eles pareciam estar quase fazendo xixi nas calças de tanto rir.
Sayuri se segurou firme em Guren, choramingando. Guren olhou para ela e franziu o cenho.
As palavras de Mahiru ecoaram outra vez em sua cabeça.
Eu não preciso de desculpas suas, ela dissera. Principalmente desse você fraco que não pode proteger as garotas em sua vida.
“Droga”, Guren xingou.
Caminhando para longe da escola e daquele pátio, ele se sentiu com mais problemas do que nunca antes.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 5 - Batalhas Mortais e Supermercados
“Escutem, todos”, disse a professora, batendo a mão no quadro-negro. “Os Exames de Qualificação começam amanhã. ”
Os Exames de Qualificação. Eles eram duelos de feitiço de um contra um, que punham os alunos uns contra os outros para determinar a posição da sala.
Os exames não eram a única coisa considerada para a avaliação total de um aluno, mas eles tinham um peso significativo. A classe zumbiu de empolgação.
“É claro, alguns de nós têm mais sorte que outros”, Shinya disse, sentado ao lado de Guren. “Eles não vão ser expulsos, não importa o quão mal eles se saiam. ”
Guren olhou para Shinya.
“Não sei com o que está preocupado. Você quase me matou só com um murro no outro dia. ”
“Ha. Você devia ter saído do caminho”, disse Shinya, se virando de frente para Guren. “A menos que você realmente fosse incapaz de parar meu soco. ”
“...”
“Tinha que ser muito burro para levar aquele golpe. Ou foi isso ou...”
“...Eu sou realmente tão patético quanto todos dizem que eu sou? Bem, é esse o caso. Então por que não enfia na sua cabeça que você me esperou demais de mim? ”
“Por experiência própria”, Shinya falou, “eu sei que as pessoas que conseguem se autodepreciar desse jeito são as mais perigosas. ”
“Está sendo paranoico. Realmente acha que tem algum maluco por aí forte o bastante para enfrentar você? O Clã Hiiragi escolheu você. Escolheram até para ser o noivo da Mahiru. ”
“...”
“Ninguém me escolheu para nada. Seja qual for a ideia que tem, ela existe só na sua cabeça. Pare de gastar o seu tempo comigo. ”
Shinya riu.
“Ou você é um ótimo ator ou tem sérios problemas de autoestima. ”
“Talvez eu não tenha recebido carinho dos meus pais quando criança. ”
“Se você diz. Mas então eu me pergunto o que a Mahiru viu em você. ”
Guren deu um último olhar para Shinya e voltou os olhos para a professora.
A senhorita Aiuchi ainda estava falando dos Exames de Qualificação. Ela esperava que os alunos dessem o seu melhor e não perdessem nenhuma luta. Quando muitos alunos da sala perdiam, isso refletia negativamente em seu professor.
“Aliás, eu ouvi que você topou com a Mahiru outro dia”, Shinya disse.
“...”
“Como foi o reencontro de vocês? Ainda próximos? ”
“Na verdade, não”, Guren respondeu, sem olhar para ele.
“Ei, não precisa se preocupar com os meus sentimentos. Eu posso ser noivo dela, mas não é como se fôssemos namorados...”
“...”
“Sabe, depois de encontrar você, a Mahiru parecia bem pra baixo. Ela não se deprime facilmente. Aconteceu alguma coisa? ”
Ao que parecia, Mahiru tinha encontrado Shinya depois de ver Guren. Guren deu um riso seco e abanou a cabeça.
“Eu acho que ela ficou decepcionada com como eu fiquei fraco. ”
Shinya encarou Guren, com uma expressão incomodada.
“Você realmente tem problemas de autoestima, né? ”
“Acho que sim. Se tem um problema com isso, talvez devesse parar de falar comigo. ”
“Ha! ”
Shinya balançou a cabeça e riu. Guren o ignorou.
A professora rapidamente bateu a mão no quadro outra vez.
“A única coisa que precisam lembrar é que vocês não podem, absolutamente não podem, perder para alguém de outra sala! ”
Finalmente, o sino tocou, sinalizando o término da aula.
“Dispensados! ”
Os alunos todos se levantaram. Era a última aula do dia. Alguns deles foram para casa. Alguns foram falar com amigos. Outros começaram a limpar a sala. Não haviam clubes extracurriculares no Secundário de Shibuya. Todos eram ocupados demais com o estudo ou treino da magia para ter tempo para isso.
Guren pegou a mochila e se levantou.
“Quer voltar junto para casa? ” Shinya perguntou.
“Cai fora”, Guren o afastou.
Ele olhou para a porta da sala. Suas duas guardas já estavam lá, esperando por ele e tentando ficar fora de vista. Sayuri foi quem o viu primeiro.
“Ah, Guren-sama! ” Ela gritou.
“Sayuri! ” Shigure chiou, puxando a camisa dela. “Guren-sama nos disse para não chamarmos atenção para nós. Não quer deixa-lo bravo de novo, quer? ”
Shigure olhou para Guren e assentiu e assentiu calada. A verdade era que elas duas eram umas pedras no sapato.
“Eu vou ter que ter uma conversa com essas duas”, Guren murmurou.
Jyuujou Mito ainda estava na sala. Ela olhou para Guren.
“Por que precisa de duas garotas para te protegerem? Todos os Ichinose são covardes? ”
Os outros alunos riram.
“Fala sério”, Goshi Norito entrou na conversa, andando até Guren. “Mas pelo menos elas são agradáveis aos olhos. Você deveria me apresentar. ”
Os outros desviaram o olhar, desconfortáveis. Eles não sabiam direito se deveriam rir do que Goshi tinha dito ou só fingir que não tinham ouvido.
Hiiragi Shinya, Jyuujou Mito e Goshi Norito estavam dentre os quatro melhores alunos na sala, tanto quanto às habilidades individuais como no prestígio de seus clãs.
A quarta era Sanguu Aoi, uma jovem do Clã Sanguu. Mas Aoi era muito quieta e sempre saía assim que o sino tocava.
Com os melhores alunos, exceto Aoi, agindo de forma tão amigável com Guren, o restante da turma não sabia mais como deveriam trata-lo.
Não que eles implicassem menos com Guren. Os alunos e professores das outras salas ainda abusavam dele.
“Vamos lá, Ichinose, fale a verdade”, Goshi disse. Ele exibia seu usual olhar malicioso. “Você tá dormindo com uma delas, não é? ”
Guren ergueu os olhos para Goshi.
“Desde quando você tem interesse nas moças do Clã Ichinose? Pensei que fôssemos todos só bastardos imundos. ”
“Eu abro uma exceção pras gostosas. ”
“Aposto que sim. ”
“Vai lá, admite. Elas são suas seguranças, certo? Então elas fazem o que você pedir? Você entra no quarto delas de noite e deixa elas te segurarem, se é que me entende? ”
O rosto de Mito ficou vermelho como um pimentão.
“Seu tarado! ” Ela gritou. “Se vai se comportar que nem um animal, pelo menos faça isso do lado de fora! ”
“I-Isso mesmo! ” Sayuri gritou com raiva, de fora da sala. “Não deveria falar assim do Guren-sama! Ele nunca pôs as mãos em mim. Eu saberia, eu fiquei esperando! ”
“...”
A classe inteira ficou em silêncio. Goshi olhou surpreso para Guren. Até Mito olhou para ele como se ele fosse uma criatura de outro planeta.
Enquanto isso, Shinya não pôde segurar o riso.
“Eu deveria comentar sobre isso com a Mahiru? ” Ele perguntou.
De saco cheio, Guren suspirou e saiu de lá.
“Faça o que quiser... Eu vou para casa. ”
“Ei, qual é o problema? ” Goshi gritou atrás dele. “Não fique com as garotas todas para você, Ichinose! Tem que aprender a dividir! ”
Guren o ignorou e saiu da sala.
Shigure acenou com a cabeça quando ele se aproximou.
“Eu vou me certificar de que a Sayuri receba uma bronca...” Ela falou.
“Por favor”, Guren aprovou.
“O-O quê?! ”
Sayuri girou em círculos. Guren só passou direto por ela, pronto para ir para casa.
Infelizmente, era mais fácil falar do que fazer. Guren percebeu que alguém olhava fixo para ele do outro lado do corredor. E não era um olhar amigável.
“...”
Guren continuou caminhando, fingindo não notar. Ele tinha que manter sua fachada de incompetente.
É claro, Sayuri e Shigure também notaram que havia algo de errado. Elas duas haviam passado por anos de treinamento para serem capazes de proteger Guren e eram seguranças muito capacitadas.
As duas ficaram a postos, prontas para agir.
“Não”, Guren sussurrou. “Eu cuido disso. ”
“Mas...! ” Shigure se virou para Guren, surpresa.
Antes que ela pudesse terminar de falar, no entanto, Guren levou uma pancada no rosto. Alguém havia lhe chutado.
“Ngh! ”
Guren caiu desajeitadamente no chão, deslizando de lado com um gemido de dor. Ele segurou a cabeça e ergueu o rosto para ver quem lhe chutara.
Um rapaz estava ali de pé, acompanhado por seu próprio bando de lacaios.
Ele tinha cabelos castanhos e olhos oblíquos como os de uma cobra. Tinha até um piercing no lábio. Ele olhou de cima para Guren com uma expressão arrogante.
“Foi mal”, ele disse. “Parece que meu pé escorregou. ”
Seus lacaios começaram a rir.
“Seu filho da...! ” Shigure deu um passo para a frente, furiosa. Ela girou o punho em direção ao rapaz.
Guren tentou pará-la, mas antes que o fizesse um dos seguidores do rapaz, uma garota, avançou e segurou a mão de Shigure.
O rosto de Shigure ficou branco de surpresa. Seu soco tinha sido bastante rápido. Era incrível que a garota fosse capaz de pegá-lo.
“Tem alguma ideia do que estava prestes a fazer? ” A menina falou. “Este é Hiiragi Seishirou. Mostre algum respeito! ”
Aparentemente, o rapaz de piercing era mais um Hiiragi.
Os Hiiragi eram como deuses na escola.
“Levantar a mão contra o Seishirou-sama é algo punível com a morte...”
“Deixe para lá, Yumi”, Seishirou falou, acenando para a garota parar. “Não adianta falar com escória Ichinose como se eles fossem gente. A melhor forma de educar um animal é batendo nele. ”
Seishirou levantou a mão. Os reflexos de Shigure se ativaram e ela tentou desviar a mão dele. Porém...
“Haha! Muito lenta, baixinha! ”
O soco de Seishirou foi mais rápido. Na verdade, todos os movimentos de Seishirou eram mais rápidos que os de Shigure. Não tinha como ela bloqueá-lo a tempo.
“Droga”, Guren praguejou, se preparando para reagir. Ele tinha que parar o golpe de Seishirou antes que alcançasse Shigure. Mas, antes que ele pudesse agir, o punho dele parou seu movimento no ar.
Alguém o tinha alcançado e segurara o braço de Seishirou.
Era Shinya. Ele havia saído da sala naquele momento.
“Seishirou-sama, isso dificilmente pode ser visto como uma luta justa para alguém do seu tamanho”, Shinya disse. “Se surgirem os rumores de que você bateu nas garotas do Clã Ichinose, pode ser ruim para a imagem dos Hiiragi. ”
Seishirou olhou para ele.
“Se eu quisesse a sua opinião, eu perguntaria, ô adotado. Está esquecendo o seu lugar. ”
“Minhas desculpas. Mas...”
“Nada de mas”, disse Seishirou, livrando a própria mão. Ele a moveu outra vez, dessa vez em direção a Shinya.
Shinya não tentou desviar. O soco o atingiu com um baque e sangue brotou dos lábios de Shinya.
“Ha, parece que você sabe que não é uma boa revidar”, disse Seishirou. “Você sabe que não é páreo para mim. ”
“...”
“A única razão pro papai ter te escolhido para casar com a Mahiru é porque você é obediente. Melhor não se esquecer disso. ”
“... É claro, Seishirou-sama. ”
“Você tá na mesma sala que esse bastardo Ichinose, certo? Então qual é? Ele é forte? Colocaram ele como minha segunda luta nos Exames de Qualificação...”
Agora tudo fazia sentido.
Por isso Seishirou tinha se aproximado dele, para início de conversa. Ele estava tentando ver se Guren representava uma ameaça, antes de os exames começarem.
“De início eu pensei que fosse”, Shinya disse. “Afinal, ele é o herdeiro do Clã Ichinose. Seria de se esperar que ao menos fosse capaz...”
“Hmpf. ”
Shinya se virou para Guren e o encarou com um olhar gelado.
“...mas claramente eu estava erado. Que tipo de lixo ficaria só sentado enquanto uma garota sob seu comando está quase apanhando? Ele deixa seus amigos se machucarem? No fim das contas, ele é só um otário qualquer de um clã de segunda linha. ”
Seishirou gargalhou.
“Ha, é mesmo, é? Eu devia ter imaginado. Quando o pai dele frequentava a escola, dizem que ele ficava escondido num canto com o rabo entre as pernas... Tal pai, tal filho, né? ”
Os lacaios de Seishirou caíram na risada de novo.
Os outros colegas de sala de Guren também tinham vindo para o corredor. Todos eles riram também. Agora que Shinya tinha parado de tratar Guren com respeito, eles se sentiram confortáveis para fazê-lo motivo de piada de novo.
“Vamos, isso está ficando chato”, Seishirou falou, virando-se para ir embora. “Estamos perdendo o nosso tempo com esse perdedor. ”
Os outros riram. Guren podia ouvi-los fazendo piada de como ele era patético e fraco.
Goshi também estava no corredor. Ele encarou Guren com um olhar de pena.
“Agora você conseguiu”, ele disse. “Se não pode nem se pôr à frente de uma garota, como espera que alguém te respeite? ”
Mito também apareceu no ambiente.
“Por que você não falou nada? ” Ela perguntou. Estava com raiva. “Você não se importa com que eles estavam dizendo? ”
Guren ergueu timidamente os olhos para ela.
“Ensinaram-me a nunca ir contra os Hiiragi...”
“E se eles te dissessem para pular de uma ponte você iria?! ” Ela gritou.
Ela se virou e correu para longe. Aparentemente, ela estava furiosa demais para sequer olhar para ele.
Guren finalmente ficou de pé. Ele olhou na direção de Mito enquanto ela se afastava.
Agora que o espetáculo acabara, os outros alunos pareciam ter perdido o interesse. Todos eles saíram em direções diferentes.
Restou apenas Shinya.
“Que desperdício”, ele disse, encarando Guren.
“...”
“Eu realmente esperava mais de você. ”
“Então eu acho que não deveria ter criado tantas expectativas. ”
“Acho que não. Foi bobagem minha esperar qualquer coisa de um fracote como você. ”
“...”
“Quer saber, eu cansei de você. Nunca mais fale comigo de novo—”
“É você quem sempre fala”, Guren o interrompeu.
“Sou? ” Shinya falou com frieza. “Nesse caso, fique longe da Mahiru enquanto estiver por aqui. ”
“...”
“Você não tem o direito de falar com ela. Você não tem nem poder nem moral para isso. Alguém que não consegue se esforçar não deveria nem sequer vir para esta escola, em primeiro lugar. Você não merece caminhar nos mesmos corredores que a Mahiru. ”
Em outras palavras, ele tinha que fazer por onde para mostrar sua cara para Mahiru. Podia ter soado duro... mas Guren concordava.
Eles viviam num mundo onde apenas o poder importava. Um mundo onde era preciso ser forte para se realizar seus sonhos.
A felicidade era um privilégio. Um privilégio que exigia força.
Mas isso era algo que ainda faltava em Guren. Poder. O bastante para destruir o Clã Hiiragi. Ele precisaria de muito mais se ele algum dia fosse realizar seus sonhos.
“O que eu devo fazer? ” Guren disse. “Eu nunca quis vir para esta escola. Eu sei que aqui não é o meu lugar. Foram vocês, Hiiragi, que me fizeram vir. Eu só obedeci. Se não é o meu lugar, para que foi que me trouxeram até aqui, em primeiro lugar? O que esperam que eu faça? ”
Guren sabia que estava soando infantil. Mas ele precisava manter sua farsa.
“...”
O desprezo era evidente no rosto de Shinya. Ele se virou sem dizer outra palavra.
Apenas Guren, Shigure e Sayuri tinham restado no corredor.
Os outros alunos tinham perdido o interesse. Guren duvidava que Shinya, Mito ou Goshi fossem perturbá-lo de novo. Ele era outra vez só mais um bastardo Ichinose imundo.
“Perdão, Guren-sama...” Shigure disse. “Eu não fui forte o bastante. ”
“G-G-Guren-sama”, disse Sayuri, à beira das lágrimas, “eu não entendo por que você precisa engolir o que eles fazem. Não quando você é tão mais forte do que todos eles juntos...”
“Sayuri...” Guren falou, baixo.
Sayuri se calou. Ela travou a mandíbula numa tentativa de parecer estoica. Mas ela não conseguiu segurar as lágrimas, que começaram a rolar por sua face.
“...”
Guren a observou chorar. Ele sabia que devia ser difícil para ela ver seu mestre sujeito a tal tratamento.
“... Eu sinto muito. ”
Ele sabia que era um conforto vão, mas ele não sabia o que mais dizer.
Sayuri balançou a cabeça, com o rosto vermelho.
“N-Não, não foi nada... Só entrou um cisco... nos meus olhos. ”
Shigure rolou os dela.
“Agora é meio tarde para fingir”, ela disse.
“M-Mas...”
“Eu sei. Dói ver o Guren-sama ser alvo de chacota. Eu me sinto do mesmo jeito. ”
“Yuki-chan...”
“Mas tente aguentar firme. É ainda pior para o Guren-sama. Mas você não o vê chorar, vê? Se ele pode ser forte, nós também podemos. ”
“Mas...” Sayuri fungou.
“Você não quer que eu reporte esse comportamento para a sua família, quer? ”
“Ai! ”
“Então pare de chorar. Estamos aqui para proteger e confortar o Guren-sama, não o contrário. ”
Apesar de as lágrimas ainda escorrerem por seu rosto, Sayuri parecia ter se animado com as palavras de Shigure.
“I-Isso mesmo! Eu posso ir ao quarto do Guren-sama esta noite e confortá-lo! ”
“Nem pense nisso! ” Guren falou, atingindo a cabeça de Sayuri com os nós dos dedos.
“Au! ” Sayuri soltou, segurando a cabeça.
Guren riu.
“Além do mais, vocês, esquisitas, me animam o bastante só agindo naturalmente. Vamos lá, vamos para casa. ”
“Sim, senhor! ” Elas exclamaram.
Guren pôs uma mão nas costas de Sayuri, empurrando ela para a frente enquanto andavam.
Sua mente, no entanto, já estava em outro lugar.
Para ser mais preciso, no rapaz que ele encontrara momentos atrás. Hiiragi Seishirou.
Seishirou era parte do Clã Hiiragi. Isso queria dizer que ele provavelmente era irmão de sangue de Mahiru.
Como ele nunca ouvira sobre Mahiru ter um irmão gêmeo. Como eles estavam no mesmo ano na escola, eles deviam ter mães diferentes. Foi isso o que ele pensou dele.
Ele pensou em como Seishirou tinha lidado com Shinya e Shigure.
Seus movimentos eram agudos e velozes. Mas era impossível afirmar só por aqueles poucos segundos o quão poderoso ele era. Ainda assim...
“...Ele claramente é um membro da família principal”, Guren murmurou.
Guren se perguntou se Seishirou era mais poderoso que ele. De qualquer forma, Seishirou estava marcado para ser o oponente de Guren na segunda rodada dos Exames de Qualificação.
E os exames começavam no dia seguinte.
***
O sol estava começando a se pôr, banhando a cidade num vermelho crepuscular.
Guren estava de frente para um pequeno supermercado, localizado em um bairro residencial, no meio do caminho de casa até a escola.
Não vinham muitas pessoas ali.
Sayuri e Shigure estavam lá dentro, fazendo compras para o jantar. Guren esperou do lado de fora, recostado contra um corrimão, com os braços cruzados.
Ele ouviu a voz de um garotinho ali perto. Ele parecia animado.
“Saitou-san! Saitou-san! Eu posso mesmo comprar o que eu quiser? ”
Guren olhou de relance na direção do menino. Era só uma criança. Ele tinha cabelos loiros, pele clara e um rosto angelical. Não parecia japonês. Provavelmente era um mestiço e tinha sangue de algum outro lugar.
“E quanto às outras crianças no orfanato? O que acha que eles vão querer? ” O menino perguntou. “Acha que os professores vão ficar bravos se levarmos sorvete? ”
O sorriso do menino se estendia de orelha a orelha.
“Eu não sei”, disse o homem ao lado dele, que ele chamara de Saitou. “Tem geladeira no orfanato? ”
“É claro que tem! ” Disse o garoto.
“Então não vejo problema. Afinal, eu consegui permissão dos professores antes de sairmos. ”
“Certo! ”
“Aqui, Mikaela, pegue esse dinheiro. O supermercado é bem ali. Posso confiar em você para comprar as guloseimas sozinho, não posso? ”
“É claro”, disse o menino, cujo nome devia ser Mikaela. “Eu já tenho oito anos, sabia? Não sou um bebê. ”
Saitou lhe entregou uma nota de 10.000 yenes. Mikaela olhou para a cédula, chocado.
“Isso é muito! ” Ele disse.
Saitou riu e falou para ele:
“Você precisa comprar o bastante para todos, lembra? ”
“Mesmo assim, dez mil yenes é muito dinheiro...”
“Está tudo bem. Só se preocupe em como gastá-lo. Agora, vá em frente. ”
“Tá bem! Mas, se vamos comprar isso tudo, devíamos ter trazido a Akane-chan junto para ajudar a levar as compras. ”
Mikaela correu para o supermercado com um enorme sorriso no rosto.
“...”
Ainda de braços cruzados, Guren observou o menino sumir de vista.
Quando não podia mais vê-lo, Guren moveu o olhar para o homem chamado Saitou.
Ele estava vestido com um terno preto, assim como o homem que o atacara há dez dias.
“...”
Não era só o terno que era igual. Era o homem em pessoa. O mesmo assassino da Seita Hyakuya, contra quem ele lutara no elevador.
“Saitou-san? ” Guren perguntou, olhando calmamente para ele. “Me disse que o seu nome era Kijima. ”
O homem respondeu com um riso.
“As crianças do orfanato me conhecem todos como o amigável tio Saitou. ”
“Hmpf. Mas Kijima é seu nome de verdade? ”
“Não tenho um nome de verdade. ”
“Em outras palavras, você é um assassino. ”
“Isso mesmo. ”
“E aí? Você gosta de bancar o Papai Noel para um bando de órfãos nas horas vagas? ”
“Ha, é o que parece, né? De qualquer forma, agora que viu que cara legal eu sou, talvez esteja mais inclinado a ouvir o que eu tenho a dizer—”
“Vai se catar”, Guren o cortou.
“Certo, como quiser”, disse o assassino, rindo. “Mas me faça um favor e me chame de Saitou por enquanto. Não queremos confundir o jovem Mika. ”
Guren voltou os olhos para o supermercado, aonde Mikaela tinha desaparecido.
“O que exatamente está planejando fazer com aquele garoto? ”
“Não sei o que quer dizer. ”
“Todos sabem que a Seita Hyakuya conduz experimentos com humanos. Não se faça de demente comigo. ”
“Ora, ora, você entendeu tudo errado. A Seita Hyakuya controla os Orfanatos Hyakuya meramente como um serviço de caridade...”
“Então explique de onde você veio. Quem fez isso com o seu corpo? Onde eles fizeram você? E não venha me dizer que foi criado com amor e carinho pelos seus pais. ”
“...”
O sorriso sumiu do rosto de Saitou. Em seu lugar, surgiu uma expressão séria.
“É verdade, eu vim do Orfanato Hyakuya. Mas eu me voluntariei para os experimentos. Este corpo foi uma escolha minha. ”
“Então eles fazem lavagem cerebral nas crianças também. ”
Saitou o ignorou.
“A Seita Hyakuya preza pelo futuro de nosso país. Você pode não estar ciente disso, Ichinose Guren, mas se o Japão continuar seguindo esse rumo, vai encontrar a sua ruína. As trombetas do apocalipse vão soar muito em breve. ”
“Aí está. ‘O fim do mundo’. A Seita Hyakuya é só mais um culto de procedência duvidosa, não é? Deixe eu adivinhar: Apenas os que realmente acreditam e se unem às nossas crenças serão salvos. Estou certo? Nosso clã usa esse mesmo papo. Assim como os Hiiragi. É o mesmo truque para todos. Achou que isso ia bastar para me enganar e me trazer para vocês? ”
“Está confundindo as coisas”, disse Saitou. Sua expressão se manteve inalterada.
“Então o que é que está tentando dizer? ”
“Apenas a verdade... Se as coisas continuarem no caminho em que estão, irá acontecer um surto viral. Magias proibidas, com as quais nenhum homem deveria mexer, serão liberadas e o nosso mundo se tornará um em que humanos não podem mais viver. ”
“E você está dizendo que vocês estão aqui para impedir isso? ”
“Correto. ”
Guren sorriu.
“Só o arrependimento me salvará? Pecadores serão destruídos pelo vírus e apenas aqueles que se juntarem à Seita Hyakuya poderão ser salvos? ”
“Eu não estou tentando convertê-lo nem nada”, disse Saitou, rindo e balançando a cabeça. “Seria algo bem bobo, de qualquer forma, tentar usar esses truques com você. ”
“Se não está falando de religião, então do que é? ”
“Guerra. Não serão deuses que espalharão o vírus. Será o homem. Humanos. E uns que você conhece bem o bastante. O Clã Hiiragi. ”
“Isso é loucura...”
“O Demônio Imperial está desesperado para superar a Seita Hyakuya como organização mágica governante do país. Em seu pânico, eles começaram a buscar artes proibidas. Estamos fazendo o que podemos para pará-los. ”
“...”
“Entende? ” Saitou perguntou, seu rosto de repente se rompendo em um sorriso. “Nossos interesses estão alinhados, no fim das contas. ”
Saitou estendeu sua mão para Guren.
“Por que não se junta a nós? Nós podemos trazer o Clã Hiiragi abaixo juntos, antes que eles tragam um fim a esse mundo. ”
Guren encarou a mão estendida de Saitou.
De acordo com Saitou, o Clã Hiiragi estava atrás de magias proibidas que trariam um fim ao mundo e a Seita Hyakuya estava trabalhando para impedi-los.
E, uma vez que os Hiiragi fossem tirados de cena...
“...o que vai restar ao Clã Ichinose? ” Guren perguntou.
Saitou sorriu.
“Se o ilustre Clã Ichinose prestasse auxílio aos nossos esforços, o relacionamento entre os seus dois clãs seria invertido. Isso deixaria o Clã Ichinose em cargo tanto da Ordem do Demônio Imperial como da Ordem da Lua Imperial. ”
“Hmpf. Então está buscando cooperação com o Clã Ichinose inteiro? Não apenas eu, mas a Lua Imperial também? ”
“Obviamente. ”
“Então por que está falando comigo? O líder do Clã Ichinose...”
“...é o seu pai, correto? Mas o seu pai é comedido. ”
Guren riu.
“Está dizendo que eu sou um radical? ”
Saitou pediu desculpas com um sorriso.
“Como eu mencionei antes, nós estivemos investigando você. Você e o seu pai. Nós decidimos abordar a pessoa que pensamos que seria a mais receptiva a uma... discussão construtiva. ”
“Quer dizer eu. ”
“Correto. ”
“Então o quê, você pensou que eu ia só virar a casaca e aceitar tudo o que você diz? ”
Saitou abanou a cabeça.
“É claro que não. Mas nós imaginamos que não fazia mal ao menos tentar falar com você, antes que tudo comece. ”
Antes que tudo comece. Em outras palavras...
“Está dizendo que essa guerra vai começar, com ou sem o Clã Ichinose. ”
Saitou encolheu os ombros.
“O Clã Hiiragi já a começou. ”
“E se você está me dizendo isso agora”, Guren disse, “quer dizer que a guerra virá à tona sem muita demora. ”
Saitou assentiu, novamente sorrindo.
“Em apenas dez dias. Em dez dias, a guerra entre a Seita Hyakuya e o Clã Hiiragi terá início. ”
“Então eu tenho dez dias para dar a você uma resposta...”
“Receio que não. Nós precisamos da sua resposta, agora ou nunca. Nós já começamos os preparativos. Ou você está conosco ou está contra nós. ”
Saitou olhou para Guren. Guren o encarou de volta.
“Está pedindo demais”, Guren disse. “Como eu posso me segurar assim às suas palavras? Eu não sei se os Hiiragi estão realmente desbloqueando magias proibidas ou não. E, mesmo que estejam, como eu vou saber que eles precisam ser detidos? Pelo que eu sei, a Seita Hyakuya pode estar trabalhando junto com os Hiiragi e isso ser uma armadilha. Eu não posso responder até que eu saiba de mais. ”
“Entendo”, disse Saitou, assentindo. “Então acho que não temos nada mais a discutir. ”
“Nós não terminamos ainda. ”
“Não? Então você está inclinado a se juntar a nós? Decida, uma coisa ou a outra, e faça-o rápido. Independentemente do que escolher, não vai tirar o nosso sono...”
Guren compreendeu o que Saitou estava insinuando.
Se eles iriam entrar em guerra, eles iriam querer tantos aliados quanto possíveis. Mas, quanto à Seita Hyakuya, um mero peão como o Clã Ichinose faria pouca diferença para o resultado da guerra, de uma forma ou de outra. Guren não podia argumentar contra essa lógica.
No fim das contas, o Clã Ichinose estivera na palma da mão do Clã Hiiragi há anos. A Seita Hyakuya, contudo, faziam sombra até sobre o Clã Hiiragi, em tamanho. Os Ichinose vinham se prostrando aos Hiiragi por tanto tempo que era risível que eles pudessem fazer diferença agora.
A Seita Hyakuya estava simplesmente fazendo contato com eles antes que a guerra começasse. Se o Clã Ichinose pudesse responder de imediato, não fazia mal em tê-los do seu lado.
Guren tentou pensar no que deveria fazer. Que escolha manteria o Clã Ichinose e todos da Lua Imperial a salvo?
Todo o futuro deles poderia ser decidido naquele único momento, em como ele responderia ao questionamento de Saitou.
Qual era a escolha certa?
O que ele deveria fazer?
Guren passava diferentes cenários possíveis em sua cabeça antes de responder.
“Dê-me ao menos uma hora. ”
“Não”, Saitou falou.
Guren estreitou os olhos.
“Então eu recuso. Nós não precisamos de aliados que não tenham interesse em negociações honestas. Vá atrás de outro otário para isso. Eu recuso. ”
“Entendo... Que azar. ”
“Não, o azar vai vir mais tarde. Serão vocês que vão pagar o preço por isso. Deveria me dar mais tempo. Um dia você vai se arrepender por não me ter do seu lado. ”
“Ha. Boa piada. ”
Quando Saitou terminou de falar, as portas do supermercado se abriram. O menino loiro, Mikaela, veio tropeçando para fora de lá.
“Saitou-san! ” Ele chamou. “M-Me ajude! Acho que peguei coisas demais. É muito pesado para eu carregar! ”
Guren virou o rosto na direção do garoto. Mikaela notou o olhar dele.
“Ei, Satou-san, quem é o tio com o olhar malvado do seu lado? ”
Saitou riu.
“Eu não sei”, ele falou, sem olhar de novo para Guren. “Eu pensei que você soubesse quem ele era. ”
“Eu não. ”
“Então é melhor ter cuidado. Provavelmente é algum tarado. ”
“Ele parece assustador! ” Mikaela choramingou.
Guren supôs que aquele era o jeito de Saitou de dizer que a conversa deles tinha acabado. Saitou disse que não sabia quem Guren era. Em outras palavras, eles não tinham mais negócios a discutir.
Saitou e Mikaela se viraram para ir embora. Eles provavelmente estavam voltando ao orfanato. Guren os observou em silêncio até que desaparecessem de vista.
“Será que eu fiz a decisão correta? ” Guren se perguntou, em voz baixa.
Ele teria que ir atrás daquilo que Saitou dissera. No mínimo, ele precisaria contatar o Clã Ichinose e pedir que eles investigassem se o que alguma parte do que Saitou alegava era verdade.
Em dez dias, uma guerra entre a Seita Hyakuya e o Clã Hiiragi iria ter início. Isto é, se Saitou estivesse falando a verdade. Se estivesse, então como o Clã Ichinose deveria responder quando a hora chegasse? O quanto eles deveriam se envolver? Eles precisavam decidir, e rápido.
A menos que isso seja precisamente o que a Seita Hyakuya quer de nós. Talvez eles estejam simplesmente tentando criar caos entre os dois clãs e aí dar as caras quando menos esperarmos.
Por ora, era importante que eles agissem com cuidado.
Uma voz subitamente interrompeu os pensamentos de Guren.
“Guren-sama! Desculpe por ter demorado tanto! ”
Eram Sayuri e Shigure. Elas saíram do supermercado, cada uma carregando uma sacola de compras em cada mão.
Ainda apoiado no corrimão, Guren descruzou os braços e ficou de pé direito. Ele olhou com cautela para as sacolas.
“Parece ser muita comida. Vocês duas pretendem alimentar um elefante? ”
“Depois de tudo o que aconteceu hoje, nós pensamos em compensar dando uma festa! ” Sayuri falou alegremente. “Nós compramos coisas para fazer churrasco, curry e yakisoba! ”
“E quem é que vai comer isso tudo? ” Guren as repreendeu.
“São todos favoritos da Sayuri”, Shigure lhe disse. “Obviamente, nós vamos fazer o que você preferir, Guren-sama. Não é mesmo, Sayuri? ”
“É claro! É só falar, Guren-sama! ”
“Qualquer coisa. ”
“É o que você sempre diz! Como espera que nós saibamos o que você realmente quer se você sempre diz isso? Lembre, os Exames de Qualificação começam amanhã. É importante que você se alimente bem para ficar com força total. ”
Depois de sua conversa com o homem da Seita Hyakuya, os Exames de Qualificação não pareciam mais importantes. Afinal de contas, num intervalo de dez dias, uma guerra iria eclodir entre as duas organizações mágicas mais poderosas do país.
Sayuri mudava o peso do corpo de uma perna para a outra, impaciente, sem saber o que Guren pensava.
“Vai, vai, tem que ter alguma coisa que você queira”, ela falou, se inclinando ansiosa para perto dele. Guren decidiu que seria mais fácil só escolher logo alguma coisa.
“Certo, que tal arroz com curry? ”
“Estilo indiano ou europeu? ”
“...Japonês. ”
“Deixe comigo! Hoje nós teremos o arroz com curry japonês mais delicioso de todos! Ah! Mas, para fazer curry japonês, nós precisamos de cebolinha. Shigure, segure as minhas sacolas, eu volto já! ”
Sayuri girou-se nos calcanhares e correu de volta para o supermercado.
Quando ela saiu, Shigure estreitou os olhos e olhou de soslaio para o rosto de Guren.
“Guren-sama? ”
“Sim? ”
“Eu não sei se você se lembra, mas comemos arroz com curry ontem também. ”
“Foi? Acho que eu me esqueci. ”
“Tem... Alguma coisa o incomodando? Se é sobre o que aconteceu na escola hoje, eu estou à disposição se quiser conversar...”
Guren balançou a cabeça.
“Não, é outra coisa. Eu talvez tenha que falar sobre isso com você nos próximos dias, mas não se preocupe por enquanto. ”
“Nos próximos dias? ”
“Primeiro eu preciso falar com o clã. O meu telefone está seguro? ”
Shigure percebeu que havia algo urgente em andamento. Sua expressão se agravou rapidamente.
“Nós tomamos todas as precauções para garantir que as suas ligações permanecessem privadas. Mas...”
“Mas aqui é território dos Hiiragi. ”
“Sim, senhor. ”
“Então não podemos ter certeza. ”
“Creio que não, senhor. ”
“Certo. Assim que voltarmos para casa eu vou escrever uma carta. Consiga um mensageiro para mim. ”
“Entendido. Devo ir agora? ”
“Sim... Melhor fazer tudo de uma vez. ”
Shigure assentiu. Ela estava para sair quando percebeu que ainda estava segurando as sacolas de compras.
“Ah...”
“Dê-as para mim”, disse Guren, pegando as sacolas dela.
“Obrigada, senhor. ”
“Agora, apresse-se. ”
“Sim, senhor! ”
Shigure disparou para longe. Assim que ela o fez, Sayuri retornou. Ela olhou ao redor, confusa.
“Era a Shigure, ainda agora? ”
“Tinha algo que eu precisava que ela fizesse. ”
“Guren-sama, você não devia estar carregando as compras. Aqui... Deixe que eu levo. ”
“Está tudo bem. Vem, vamos embora. ”
“Mas...”
“Eu disse que está bem”, Guren começou a caminhar para casa. No momento seguinte, Sayuri veio correndo atrás dele.
“Hmm... Guren-sama? ” Ela chamou.
“Sim? ”
“Nós dois sozinhos... caminhando juntos assim... Não acha que parecemos um casal de namorados para quem vê? ”
“Se é para ficar falando bobagens, guarde isso para si mesma. ”
“Ai... S-Sim, senhor. ”
***
Naquela noite, Guren escreveu para casa.
Na carta, ele explicou que a Seita Hyakuya o tinha abordado.
Ele mencionou que o Clã Hiiragi poderia estar flertando com o desastre, a possibilidade de o mundo acabar e o vírus que Saitou descrevera.
Ele também mencionou a guerra entre a Seita Hyakuya e o Clã Hiiragi, e que ela poderia ter início dali a dez dias.
Finalmente, ele mencionou que recusara o convite da Seita Hyakuya.
 A carta deveria chegar à propriedade dos Ichinose ao cair da noite. Um problema destas proporções pedia por uma reunião estratégica com a presença dos líderes, não apenas da família Ichinose, mas de todos da Ordem da Lua Imperial.
Eles começariam a angariar informações para averiguar a verdade sobre o que Saitou havia dito.
Guren esperava que aquelas medidas levassem três dias. O que lhes daria uma semana para se prepararem.
Se Saitou estivesse falando a verdade e restassem apenas mais dez dias, então eles não tinham tempo a perder.
Uma guerra estava florescendo.
Uma guerra que, se agissem com desleixo, poderia resultar na total aniquilação do Japão.
Quando a guerra chegasse, que mão o Clã Ichinose teria para jogar?
“Mais importante, como podemos virar esta confusão a nosso favor? ” Guren murmurou.
Com a cabeça sobre as mãos, Guren ficou sentado em silêncio, olhando para a noite.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 4 - Reunidos
Sem demora, Guren tinha se inserido na rotina colegial.
A maioria do tempo, os outros jovens implicavam com ele. E aí vieram os exames de magia, obviamente sendo disputas.
Todos os outros alunos se orgulhavam de serem mestres da feitiçaria Hiiragi. Guren tomou cuidado para nunca os superar em nenhuma matéria.
 Eles estavam em uma reunião escolar. A escola inteira tinha se reunido para praticarem juntos.
“Ngh! ”
Guren caiu no chão após levar um forte empurrão de outro garoto.
O nome do garoto era Goshi Norito. Ele tinha o cabelo tingido de loiro e olhos frívolos entediados.
Naturalmente, ele era da elite. Do Clã Goshi. Ele e Guren eram da mesma sala. Goshi encarou Guren com um sorriso meio satisfeito.
“Cara, sério? Mal conta como prática quando eu luto com um oponente tão fácil como você. ”
Os estudantes caíram na risada incontrolavelmente.
“Ei, Goshi, eu espero que a imundice dele não passe pra sua mão! ”
“Alguém devia lembrar a professora de que ter esse mané na nossa sala só abaixa a moral de todo mundo”, outra pessoa reclamou.
“Né? ” Goshi falou. “Por que meteram um fracote desses junto com todos os alunos de verdade? ”
Guren se ergueu até se sentar e limpou o sangue do canto da boca. O soco de Goshi tinha cortado seu lábio.
“Como pode ficar aí sentado e deixar ele falar assim com você? Não tem vergonha? ”
Guren se virou e viu quem falava. Uma garota de cabelos vermelhos estava lá. Era Jyuujou Mito. Ela olhou fixamente para Guren, por alguma razão com uma expressão raivosa no rosto.
“Você não está nem tentando, não é?! Acha que, só porque ele é mais forte, você deve desistir antes de começar?! ”
“Não é como se desse para eu vencer”, disse Guren, rindo. “Afinal, ele é o filho mais velho do Clã Goshi, certo? ”
Isso só deixou Mito com mais raiva. Ela estreitou os olhos e virou o nariz em resposta. Contudo, aparentemente, era outra coisa que a perturbava.
“Está me dizendo que nunca tinha ouvido falar do Clã Jyuujou, mas tem medo de um segundo-colocado do Clã Goshi?! Você tem coragem, Ichinose! ”
“Ei, quem está chamando de segundo-colocado?! ” Goshi perguntou.
“Hã? ”
“A boazona do Clã Jyuujou. Sua família acha que são tão poderosos e legais. Só espere até eu assumir os Goshi. Eu vou arrancar esse sorrisinho do seu rosto! ”
Mito riu jocosamente e deu alguns passos na direção de Goshi.
“Aww, pobrezinho do Goshi”, Mito falou, empinando o queixo. “Eu machuquei os seus sentimentos com a verdade? ”
“Continue assim e vou machucar mais do que os seus sentimentos. Não pense que não só porque você é garota. ”
“Manda a ver. Eu vou te mostrar a diferença entre um Jyuujou e um Goshi! ”
“Prepare-se para comer poeira!! ”
“Pode tentar! ”
Os dois começaram a lutar. Seus movimentos eram rápidos. Eles eram ainda mais velozes em conjurar os feitiços. Os outros alunos ficaram todos observando deslumbrados. Mito e Goshi obviamente estavam na sala da elite por uma razão.
A professora nem se deu ao trabalho se tentar pará-los.
De fato, ela encorajou os outros alunos a assistirem à luta para poderem aprender algo disso.
“...”
Guren olhou a luta distraidamente. Ele se pôs de pé e deu um suspiro cansado. Hiiragi Shinya se aproximou por trás dele. Shinya estava de braços cruzados como se só estivesse lá para olhar.
“Outra ótima performance”, ele disse. “E o Oscar por levar um murro na cara vai para Ichinose Guren. ”
“...”
Guren não disse nada. Ele olhou para Shinya e então voltou o olhar para a luta.
Era a chance de Guren para ver dois oponentes plenamente versados na feitiçaria Hiiragi lutarem um contra o outro. Shinya deu um passo à frente, alinhando os ombros com Guren.
“Eu duvido que haja algo que alguém do seu nível possa aprender olhando uma luta entre esses dois. ”
“...”
“Eu estive te observando. Você até que é bom em levar um soco. Nunca tem um dano real, mas você faz com que pareça bem sério quando cai—”
“Que tal você parar de me perseguir e achar um novo passatempo? ” Guren interrompeu.
“Ha. Não posso evitar. Você é meu futuro parceiro contra os Hiiragi. Eu tenho que descobrir o quão forte você realmente é, não tenho? ”
“Não sou seu parceiro. ”
“Qual é, Guren, pare com o fingimento. Vamos fazer dupla. Vai me dar uma chance de ver o que você realmente pode fazer. ”
Shinya descruzou os braços e levantou os punhos.
Enquanto Shinya preparava sua postura, Guren percebeu que os outros alunos estavam todos olhando para eles. Até Mito e Goshi se separaram no meio da luta para ver.
Shinya era a verdadeira estrela da classe. Nenhum dos outros alunos poderia se comparar a ele em termos técnicos.
Durante a primeira reunião para combate, Shinya tinha derrotado Goshi sem derrotar uma gota de suor.
“Eu não vou me segurar desta vez”, disse Shinya, brandindo os punhos. “Eu não ligo pro quanto você acha que é forte, Guren. Se eu te atingir com força total, você vai sentir. Mesmo se receber bem o soco, você vai acabar com pelo menos alguns ossos quebrados. ”
Guren encarou os punhos de Shinya e elevou o olhar, encontrando os olhos de seu oponente com um sorriso embaraçado.
“Vamos lá, Shinya-sama. Você sabe que eu não sou forte o bastante para fazer dupla com alguém do Clã Hiiragi...”
“Chega! Sem mais desculpas! ”
Shinya se moveu. Um redemoinho de energia rodeou seu punho. Ele claramente tinha usado algum feitiço de invocação, convocando um demônio para lhe dar tal força. Talvez um vajrayana, reis guardiões de deva cheios de ira. Talvez algum outro demônio.
Qualquer que fosse o feitiço que estava usando, o ataque parecia bem sério. Shinya realmente não iria se segurar.
Se Guren não desviasse, havia a chance real do impacto mata-lo.
“Certo”, Guren murmurou, olhando para o golpe que vinha, “que seja do seu jeito. ”
...
“Nggh! ”
Guren deixou o soco atingir seu peito.
As costelas dele se partiram fazendo barulho. Ele foi lançado no ar, tão alto que daria para contar os segundos antes de ele cair. Ele atingiu o chão com um baque.
Ele ficou lá, atordoado. O feitiço tinha impulsionado o murro de Shinya com tanta força que ele foi momentaneamente nocauteado.
“O que há de errado com você? ” Shinya falou, ficando acima dele com uma expressão chocada. “Você é teimoso assim? Ou você é realmente uma pessoa tão fraca quanto tem fingido ser?
Para a surpresa de Guren, Mito se aproximou rapidamente.
“Dona Aiuchi! É o Ichinose! Tem sangue saindo da boca dele! ”
A professora não se moveu para ajudá-lo. Em vez disso, ela encarou Guren com um sorriso cruel no rosto.
Ele podia ouvir os outros alunos murmurando. Todos eles pareciam falar sobre como o Clã Hiiragi era impressionante. Mito olhava para eles com uma expressão de desgosto.
“O que há de errado com vocês?! ” Ela disse.
Goshi foi o próximo a se aproximar. Apesar de ele mesmo ter acabado de dar um murro em Guren, e de até ter feito piada dele, ele parecia genuinamente preocupado.
“Olha todo esse sangue”, ele disse. “Acho que ele está realmente ferido. ”
Não fazia sentido.
Eu garanti que fosse atingido bem no lugar certo. Mesmo se minhas costelas estiverem quebradas, meus pulmões deveriam estar bem...
Apesar do que Guren pensava, seu fio de consciência estava começando a se esvair.
Ele tinha calculado errado? Por um fio de cabelo, mas ainda assim errado...
“Ei, ei! Aguente aí! ” Goshi exclamou. “Nós temos que leva-lo para a enfermaria, rápido...”
Foi a última coisa que Guren ouviu antes de tudo ficar escuro.
***
Quando Guren abriu os olhos de novo, ele estava no que parecia ser um quarto de hospital.
Teto branco.
Paredes brancas.
E, no meio do quarto, uma cama, onde estava Guren.
Ele estava nu da cintura para cima, enrolado em várias camadas de bandagens. Havia uma dor latejante em seu peito. Aparentemente, seus ferimentos não foram fatais. Mas, se ele ainda estava vivo, então por que tudo tinha se apagado?
“...”
Guren retirou as bandagens e deu uma olhada por baixo delas. Quase metade de seu peito estava em um azul doentio. Parecia que uma artéria grande tinha se rompido. Aparentemente, ele tivera uma hemorragia interna tão severa que desmaiara. Havia uma cicatriz em seu peito onde a incisão fora feita. Eles tiveram que unir de volta a artéria.
“...Hmpf”, Guren soltou, satisfeito com o ponto de seus ferimentos.
“É tudo o que tem a dizer sobre si mesmo? ” Chamou uma voz do lado de fora. Era uma jovem voz feminina.
Uma voz que ele reconheceu.
Guren se virou na direção da voz. Uma garota estava de pé junto à porta. Ela tinha lindos cabelos acinzentados e grandes olhos escuros.
Era Mahiru. Hiiragi Mahiru.
Ela estava junto à porta com uma expressão perturbada em seu rosto. Após tanto tempo, ela parecia não ter certeza do que dizer a seu amigo de infância.
“Você não deveria tirar as bandagens assim. ”
“Mahiru... Hiiragi-sama... Faz muito tempo. ”
Guren curvou a cabeça. Não fora assim que ele imaginara o reencontro dos dois.
Os olhos de Mahiru vacilaram em resposta.
“Então é assim que vai ser agora? ” Ela perguntou.
“Não sei o que quer dizer. ”
“Nós costumávamos nos dar tão bem. ”
“As coisas mudaram. ”
“...”
“Eu não sou a criança impertinente que eu era, Mahiru-sama. Agora eu sei como as coisas funcionam...”
“Chega”, disse Mahiru, “fique quieto. ”
Havia um toque de raiva em sua voz. Guren parou de falar.
Mahiru adentrou o quarto.
“Não deveria se aproximar muito”, Guren disse. “Seu pai vai se zangar. ”
Mahiru sorriu em resposta. O sorriso dela quando criança era inocente. Agora, havia uma pontada de tristeza nele que o tornava ainda mais belo.
“Eu também mudei, Guren. Agora eu decido quem eu vejo e o que eu faço. É um dever dos Hiiragi tomar conta dos clãs sob nosso comando. ”
Falando de forma bruta, o Clã Ichinose havia se separado e se tornado um novo ramo e não estava mais sob o comando do Clã Hiiragi. Mas Mahiru havia escolhido aquelas palavras e provavelmente sabia o que estava falando.
Guren ergueu os olhos para o rosto dela. Ele estava certo. Ela estava zangada.
Ele não respondeu. Não conseguiu encontrar as palavras certas. Na verdade, apesar de todo o tempo que passara, nada havia realmente mudado. O relacionamento entre o Clã Hiiragi e o Clã Ichinose era exatamente o mesmo de sempre.
Guren se pegou lembrando dos eventos dos últimos dias e do que o homem da Seita Hyakuya havia dito.
 Poder suficiente para derrotar os Hiiragi...
 Guren ficou em silêncio.
“Faz mesmo muito tempo”, disse Mahiru. “Pensei que teria mais a dizer para mim. ”
“Não há nada que eu possa dizer. ”
“...”
Dessa vez, foi Mahiru quem perdeu as palavras. Um silêncio constrangedor se perpetuou pelo quarto. Guren notou o barulho do relógio. Tique. Taque. Tique. Taque. O ponteiro dos segundos parecia estranhamente alto.
“Está muito machucado? ” Mahiru perguntou, incapaz de ficar mais tempo em silêncio.
“Eu estou bem”, Guren respondeu.
“Você não tem uma reputação muito boa na escola. Todo mundo diz que você é bem fraco... Isso é verdade? ”
“Se é o que estão dizendo, deve ser verdade. ”
Mahiru encarou Guren. Ela parecia querer dizer mais alguma coisa, mas Guren não sabia o quê. O que quer que fosse que Mahiru esperava dele era um mistério para Guren.
Mesmo se ele soubesse o que Mahiru queria, não haveria nada que ele pudesse fazer.
Faziam dez anos desde que eles haviam se visto pela última vez. Mas em termos práticos ele era tão impotente agora quanto tinha quando criança. O relacionamento entre os dois clãs ainda era o mesmo e, enquanto ele permanecesse imutável, também não haveria chance para o relacionamento dele com Mahiru.
Mahiru estava tão ciente disso quanto Guren.
“Você cresceu”, disse Guren, olhando para o rosto dela. “Você ficou linda e forte. ”
Um olhar surpreso surgiu no rosto de Mahiru. Ela deu um pequeno sorriso, como que em gratidão.
“Você era mais bruto e sem modos quando criança. Quando foi que aprendeu a bajular os outros? ”
“...”
“Eu não ligo que me bajule”, ela disse. “Só estou feliz de você me chamar de linda. ”
Mahiru mordeu o lábio. Ela quase parecia com vergonha. Guren ficou olhando para o rosto dela, mas tomou o cuidado de não se trair e demonstrar emoções.
“Tem mais alguma coisa que deseja, Mahiru-sama? ”
A expressão de Mahiru ficou pesarosa de novo.
“Não... Eu só ouvi que você tinha se machucado. ”
“Sinto muito se a preocupei. Vou ficar bem. ”
“...Entendo. ”
“Mais alguma coisa, senhorita? ”
“...”
Mahiru balançou a cabeça.
“Não, mais nada”, ela disse em voz baixa. “Eu estou indo agora. ”
Mahiru olhou uma última vez para Guren e então se virou para sair.
“Eu quase esqueci”, Guren falou, a chamando. “Parabéns pelo seu noivado. Shinya me contou tudo a respeito. ”
Mahiru congelou no lugar. Suas costas se enrijeceram como se ela estivesse travada.
“...Obrigada”, ela disse.
Guren encarou o vão vazio da porta, e o quarto vazio, e as paredes brancas.
“Por que é que eu fui dizer isso? ” Ele resmungou consigo mesmo.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 3 - A Representante de Turma
Eles estavam no auditório. Cada um dos alunos da escola estava
Juntos, eram 1000 alunos: 600 calouros, 240 do segundo ano e 160 do terceiro.
A razão para
A razão pela qual o número de alunos diminuía a cada ano era por causa dos exames de seleção que aconteciam várias vezes por ano. Os exames na verdade eram duelos de feitiços de um contra um em que os alunos competiam entre si. Baseado no desempenho dos duelos, os alunos eram classificados de acordo com sua habilidade. Aqueles julgados fracos demais para avançar para a próxima série eram expulsos.
A escola durava três anos. Ao fim do primeiro, mais de metade dos alunos seriam cortados. E mais alunos seriam deixados de fora para o ano seguinte.
Como resultado, os alunos do colegial gastavam praticamente todo o seu tempo estudando ou treinando. Os estudantes do Secundário de Shibuya precisavam se sobressair tanto na feitiçaria como nas artes marciais se quisessem ter qualquer chance de não serem eliminados.
“Aposto que o meu caso é uma exceção”, Guren murmurou, examinando o auditório cheio de alunos empolgados.
Guren teve que passar por uma avaliação antes de ser aceito no Primeiro Secundário de Shibuya, assim como todos os alunos.
Além das matérias normais como matemática, história e produção de texto, a prova também cobria habilidade mágica e teoria da magia.
Guren tomou cuidado para não se sair bem demais em nenhuma matéria. Nenhuma das questões foi muito desafiadora, ele teria fechado a prova de olhos vendados. O verdadeiro desafio foi descobrir como responder errado sem deixar muito óbvio que era de propósito.
Ele estava certo de que suas notas tinham sido baixas demais para ele ser aceito.
Quem lhe avaliou provavelmente tinha se perguntado por que alguém tão indolente se dava ao trabalho de prestar o exame, em primeiro lugar. Afinal, o Secundário de Shibuya era apenas para os melhores dos melhores.
Porém, apesar das notas de sua prova, Guren foi aceito.
Haviam outras escolas aonde membros do Demônio Imperial poderiam estudar as artes mágicas. Mas o Secundário de Shibuya era especial. Poucos alunos eram qualificados para entrarem. E, ainda assim, Guren entrara.
Em outras palavras, o teste dele tinha sido fraudado.
Não importa de verdade o quão baixas sejam as minhas notas, eles me querem aqui. Eu só vou ter que aguentar o bullying dos outros alunos pelos próximos três anos.
Guren olhou para os outros alunos, sentindo-se vagamente entretido. Ele se perguntou quanto tempo levaria para que todos eles fossem pegar no seu pé.
Particularmente, os estudantes estavam no maior alto-astral.
Eles provavelmente estavam animados pelo primeiro dia de aula. Talvez até ansiosos pelos duelos que enfrentariam. O auditório estava cheio de seus murmúrios.
O diretor estava no palco do auditório. Ele conduzia um delongado discurso de boas-vindas. Parecia que estava finalmente chegando ao fim.
“... Os alunos que vejo aqui hoje são todos escolhidos. Vocês têm grande potencial. Aqueles de vocês que sobreviverem ao processo de seleção podem até ser selecionados para papeis na liderança do Demônio Imperial no futuro. Lembrem-se disso, orgulhem-se e aproveitem bem o seu tempo aqui no Secundário de Shibuya...”
Esperando o discurso acabar, Guren olhava para o diretor enquanto este falava.
De repente, uma garota sentada ao lado de Guren se inclinou e trouxe a boca para perto da orelha dele.
“Ei, Ichinose”, ela disse, “eu tenho uma pergunta. ”
Guren virou a cabeça.
A garota usava um uniforme colegial estilo marinheira. Já que ela estava ao lado dele, ele supôs que eles deveriam ser da mesma sala.
Ela tinha fortes e oblíquos olhos amendoados e cabelos de um vermelho vivo. Sua pele era clara e sem imperfeições.
“Disse alguma coisa? ” Guren perguntou.
A garota deu um riso de escárnio em resposta.
“Está vendo mais algum Ichinose lixo aqui? ”
“Lixo, é? ” Disse Guren, rindo consigo mesmo. Ele elevou as sobrancelhas inocentemente e continuou. “Desculpe, quem é você? ”
A garota lhe deu um olhar incrédulo.
“Eu devia esperar isso de um Ichinose. Vocês não são só rudes, são uns ignorantes também! Como pode não saber quem eu sou? Olhe para o meu cabelo! ”
A garota jogou os cachos vermelhos por sobre o ombro.
Obviamente, Guren já tinha uma ideia de quem era aquela garota.
Ela era parte do Clã Jyuujou.
Qualquer um que soubesse qualquer coisa sobre os clãs reconheceria aquele cabelo vermelho.
 — Jyuujou Tohito.
Segundo a lenda, ele tinha banido sozinho um demônio poderoso demônio. Em troca, uma maldição caiu sobre sua linhagem de sangue. Desde então, todos os descendentes de Jyuujou nasciam com cabelos rubros como sangue.
 A história podia ser encontrada em qualquer livro de história dos clãs.
Uma olhada nos cabelos da garota era o bastante para reconhece-la domo pertencendo aos Jyuujou. Eles eram uma das mais antigas e poderosas famílias que apoiavam o Clã Hiiragi. Mas Guren se fez de bobo.
“E daí? Você é famosa ou algo assim? Tipo uma pop star? ”
Uma expressão de nojo surgiu no rosto dela.
“Como alguém idiota como você conseguiu entrar nessa escola? ”
“Eu devo ter tido sorte”, disse Guren. “Eu só chutei a maioria das questões na prova. ”
“Mas nem era de múltipla escolha! Enfim... Eles provavelmente só te deixaram entrar porque é o herdeiro do Clã Ichinose. Eles devem ter visto que era uma chance de te ensinar qual é o seu lugar. ”
A garota olhou para Guren de cima, desdenhosamente.
“Então você é uma aspirante a pop star”, disse Guren. “Enfim, a senhorita princesa do pop quer alguma coisa comigo? ”
“Não me chame assim! ”
A garota encarou Guren distorcendo de raiva o rosto, mas sem deixar de ser linda, o que dizia muito sobre a aparência dela.
“Tá, credo, pare de gritar. Só me diga quem você é de uma vez. ”
“Sou Mito. Jyuujou Mito, do Clã Jyuujou”, ela disse, olhando para Guren com um ar triunfante. Ela provavelmente estava acostumada a ter pessoas beijando os seus pés sempre que ouviam seu nome.
“Ah”, disse Guren.
“Sentindo-se embaraçado? ”
“Bem...”
“Tudo bem, você pode se ajoelhar e me reverenciar se quiser. Não que uma reverência de um Ichinose ignorante realmente signifique muita coisa pra mim. ”
“Na verdade...”
“O quê? Ficou tão excitado por ser notado por uma Jyuujou que esqueceu como se fala? Não se preocupe, acontece o tempo todo...”
“...Na verdade, eu não sei quem são os Jyuujou. ”
“Tudo bem, eu entendo. Eu estou disposta a perdoar a sua insolência, é só... Eu... Eu... Espere. O que foi que você disse? ”
“Eu não faço ideia de quem são os Jyuujou. ”
“Não pode estar falando sério. O Clã Jyuujou?! Descendentes do grande Jyuujou que selou o arqui-demônio Kaede?! ”
“Não faço ideia. ”
“Eu... Eu... Eu...”
Ela perdeu as palavras e sua fala falhou, deixando o queixo cair. Sua mandíbula se fechou de uma vez e ela balançou a cabeça abruptamente. Segurando o pequeno peito com uma mão, ela respirou fundo e agitou os cabelos vermelhos.
“Acalme-se, Mito”, ela disse, rindo alto. “Lembre-se que ele é só um vira-lata Ichinose qualquer. Não se pode esperar boas maneiras de um cão. Não é digno dos Jyuujou ser ofendida por um bufão Ichinose. ”
Ela é doida, pensou Guren.
Ele a observou erguer uma sobrancelha antes de voltar sua atenção para o restante do auditório.
Imagino se todo mundo aqui é doido.
Para dizer o mínimo, todos os alunos do Secundário de Shibuya tinham sido submetidos a intensos treinamentos das artes mágicas desde que eram crianças. Para completar, eles viviam num mundo de hierarquia e castas rígidas. Esperar que eles tivessem bons atributos sociais era provavelmente pedir demais.
“Eu acho que não sou mesmo o mais simpático dos caras também”, Guren murmurou, rindo consigo mesmo.
Mito se virou para ele abruptamente e disse:
“Do que é que está rindo? ”
“Hã? Nada. ”
“Duvido. Não sei por que me dei ao trabalho de falar com alguém tão ignorante como você, pra início de conversa. ”
“Diga o que quiser, princesa do pop. ”
“Eu já disse, não me chame assim!! ” Mito gritou.
Dessa vez, a raiva de Mito levou a melhor. O berro dela foi alto o bastante para ecoar por todo o auditório.
O diretor parou seu discurso pela metade, e todos se viraram para encará-la.
Mito fez uma careta e trincou os dentes. Suas bochechas ficaram ainda mais vermelhas que seus cabelos.
“D-Desculpe”, ela murmurou timidamente. “Por favor, prossiga. ”
O diretor olhou bem para ela mais um pouco, então voltou a falar.
Os outros alunos todos se viraram para a frente rapidamente, sem rir. Eles provavelmente tinham reconhecido o cabelo de Mito. Afinal, os Jyuujou eram um dos maiores e mais poderosos clãs.
Mito curvou as costas, envergonhada.
“Sortuda”, disse Guren, como se para consolá-la. “Todos estavam olhando para você, igual a uma verdadeira pop star...”
“Você cale a boca antes que eu te mate, Ichinose”, ela disse, dando um soco nas costas dele. Não foi muito forte. O que era natural, considerando como ela era pequena. Guren imaginou que ela provavelmente usava magia para aumentar sua força durante as lutas.
Segundo os livros de história, os Jyuujou usavam força bruta ao lutar contra demônios. Eles eram famosos como guerreiros e soldados. Muitos deles serviam como assassinos ou guardas. Apesar da aparência, Mito provavelmente possuía um nível de poder semelhante.
Guren olhou mais uma vez para ela, pensando nisso.
 Ele estava tentando avaliar se ele seria poderoso o bastante para matá-la, se houvesse a necessidade.
 Seu rosto, no entanto, não dava sinais sobre o que ele estava pensando.
“E aí? ” Ele disse, abaixando os olhos para ela.
“E aí o quê? ”
“Você nunca me disse o que queria. Estava tentando me paquerar? ”
“Paquerar?! Você?! Nem morta! ”
Mito percebeu que estava levantando o tom da voz de novo. Ela rapidamente o abaixou. Ela parecia se exaltar com facilidade.
“Eu queria te perguntar sobre o Hiiragi Shinya-sama”, ela disse.
“Hmpf. ”
“Eu vi vocês dois sussurrando um pro outro na aula. Do que estavam falando? ”
Guren rapidamente ligou os pontos. Membros do Clã Jyuujou eram os guardas do Clã Hiiragi. Naturalmente, se ela via Shinya tendo uma conversa íntima com um Ichinose ela iria querer saber por quê.
“Nada demais”, Guren respondeu.
“Está mentindo. Parecia uma conversa bem séria para mim. ”
“Você é o quê, uma stalker? ”
“Só me diga sobre o que estavam falando”, ela disse.
Guren suspirou.
“Acho que não tem jeito. Se quer mesmo saber...”
“Fale. ”
“Era papo de homem... Sabe o que quero dizer? ”
“Não, o quê? ”
“Garotas. ”
“Hã? ”
“Estávamos falando sobre que meninas da sala eram bonitas. Por sinal, o Shinya disse que você é bem gata. Ele estava pensando em te chamar pra sair hoje à noite...”
Guren mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva.
“O... O quê?!” O rosto de Mito ficou todo vermelho. “V-Você está inventando isso. Não é? Não é possível. E... E quanto à Mahiru-sama? ”
Aparentemente, o noivado de Shinya e Mahiru era realmente de conhecimento público. Todo mundo parecia saber deles.
Então por que eu nunca tinha ouvido disso antes? Guren se perguntou.
Mito tinha mencionado o noivado sem qualquer hesitação. O Clã Ichinose também deveria saber. Por que ninguém tinha contado a Guren?
“Meu pai...” Guren murmurou.
Uma expressão machucada surgiu em seu rosto. Seu pai provavelmente tinha emitido uma restrição, para impedir Guren de descobrir.
Era possível que até suas duas guardas, Yukimi Shigure e Hanayori Sayuri, soubessem do noivado e não lhe tivessem contado.
Shigure e Sayuri provavelmente até já sabiam do discurso de hoje. Mas elas não tinham dito uma palavra.
Guren deu um sorriso amargo.
O que há de errado com todo mundo? Ele pensou. Nós tínhamos cinco anos e estávamos apaixonadinhos. Eles acharam que íamos fugir juntos ou o quê?
Enquanto isso, Mito ainda estava corada. Ela começou a balbuciar.
“A-Além disso, nós estamos numa posição inferior à dos Hiiragi. Seria algo proibido, alguém do meu clã se envolvendo com um Hiiragi. Você tem que dizer ao Shinya-sama que não seria certo. Vai dizer a ele, não vai? ”
“...”
“E eu tenho muito respeito pela Mahiru-sama, também. Vamos só fingir que isso nunca aconteceu, Diga a ele—”
“Hm? Você conhece a Mahiru? ” Disse Guren, a interrompendo.
A expressão de Mito de repente mudou para uma de irritação.
“É Mahiru-sama! ” Disse Mito, esbravejando outra vez. “Mostre algum respeito, cão Ichinose! ”
“Certo, certo, a Mahiru-sama”, Guren disse, esperando que ela se acalmasse. “Você conhece a Mahiru-sama? ”
Mito assentiu entusiasticamente. Ela parecia querer se gabar.
“A Mahiru-sama é tão linda. E ela trata as outras casas tão bem, quase como iguais. Ela é realmente uma deusa. ”
Mito era a segunda pessoa a se referir a Mahiru como uma deusa naquele dia. Parecia que todos amavam Mahiru.
“E ela é inteligente também. E forte. Eu ouvi que ela ficou em primeiro lugar em todas as matérias no exame de entrada. É verdadeiramente uma honra para nós do Demônio Imperial servi-la. ”
Primeira da turma. Então a Mahiru conseguiu as notas mais altas no exame de entrada...
Isso significava que de todos os outros calouros, Mahiru era a mais poderosa.
Se ela é poderosa assim, Guren se perguntou, refletindo, será que eu poderia derrota-la? Eu preciso ter o poder para superar o Clã Hiiragi, custe o que custar...
Os pensamentos de Guren foram interrompidos por uma memória que chegou de repente.
Dos dias que ele passou junto de Mahiru, tempos atrás.
Gramado verdejante.
Sob um céu límpido e livre de nuvens.
E Mahiru, sempre ao seu lado. O sorriso dela inocente inabalável.
Era difícil de acreditar que já haviam se passado dez anos desde então.
O tempo passava rápido.
“Peço desculpas por tomar tanto de seu tempo”, disse o diretor. Seu discurso finalmente tivera fim. “Eu vou deixar agora o palco para a sua atual representante de classe. A decisão de que pessoa seria este ano foi unânime. É com grande honra que eu saúdo a ilustríssima filha do Clã Hiiragi. Senhorita Hiiragi Mahiru, o palco é seu! ”
O diretor fez uma reverência. Fazendo isso, uma jovem se aproximou pela lateral do palco.
Ela tinha longos cabelos acinzentados e olhos resolutos e respeitáveis. Seu rosto era quase gelado de tão perfeito. Mas, de alguma forma, sua presença era quente e acolhedora.
Havia algo de gentil, gracioso até, sobre ela. A inocência que ela tinha quando criança parecia não tê-la deixado. Guren entendia agora porque tantas pessoas se referiam a ela como uma deusa.
“...”
O auditório, que estava animado e cheio de vozes no momento anterior, de repente caiu num silêncio admirável. Haviam mais de mil pessoas na multidão, mas estava tão quieto que se ouviria uma gota d’água caindo.
Todos os olhares estavam em Mahiru.
É claro, o nome Hiiragi sozinho comandava um respeito significativo. O bastante para silenciar todos no auditório.
Essa quietude, porém, era algo diferente.
Era como se alguma coisa dentro de Mahiru, alguma luz brilhante, tivesse cativado os alunos. Eles estavam paralisados em admiração.
Mahiru caminhou até o pódio.
Ela fez uma pequena reverência, e então mostrou um sorriso doce.
“Obrigada pela apresentação. Meu nome é Hiiragi Mahiru. Eu serei a representante de turma no presente ano. ”
A voz de Mahiru soou pelo auditório, clara e límpida. Ela parecia lançar um feitiço sobre os alunos.
Sentado a algumas fileiras de distância, Hiiragi Shinya se virou e olhou para Guren.
Mahiru não estava olhando para Guren. Com tantas pessoas na audiência, era provavelmente impossível para ela encontra-lo.
A menos que...
A menos que seja por ela não estar tentando me encontrar, pensou Guren. Talvez ela tenha perdido o interesse num bastardo qualquer, um Ichinose frouxo...
A voz de Mahiru era aveludada e pura enquanto ela falava, como uma canção.
Nada mudou, Guren pensou. A distância entre nós é grande como sempre.
 Mahiru era uma deusa, e Guren era um cão se arrastando aos pés dela.
  Guren sorriu consigo mesmo. No escuro do auditório, onde ninguém mais podia ver, ele cerrou o punho.
***
Noite.
O horário era 19:30.
Depois da cerimônia de ingresso, eles tinham retornado para as salas para que os professores explicassem a grade curricular. Em seguida, mesmo que eles tivessem acabado de passar pelos exames para entrar, eles tiveram uma séria de provas em matérias de magia. Não foi antes do fim do dia que Guren e os outros puderam voltar para casa.
Guren estava morando em um condomínio luxuoso, localizado a quinze minutos de distância a pé da escola.
Um espaçoso apartamento 5LDK tinha sido alugado especificamente para Guren usar durante seu tempo no Primeiro Secundário de Shibuya.
Para impedir que inimigos se infiltrassem no apartamento, o andar inteiro, assim como os andares superior e inferior ao apartamento, também havia sido alugado. Esses dois andares estavam cheios de armadilhas mágicas para manter intrusos longe. O Clã Ichinose havia tomado todas as precauções.
Isso significava que, além do próprio apartamento, haviam quatro unidades vazias à disposição de Guren.
“Então por que”, Guren perguntou, com as pernas cruzadas sobre o sofá da sala e olhando para as duas garotas diante dele, “vocês duas vão ficar no meu apartamento? ”
Aquelas duas eram suas guarda-costas, Yukimi Shigure e Hanayori Sayuri.
A proposta inicial era de que Shigure e Sayuri ficariam nos dois apartamentos adjacentes ao de Guren. Por alguma razão, no entanto, elas estavam agora no apartamento de Guren, carregando suas coisas em grandes mochilas nas costas.
“Como suas guarda-costas, é importante que nunca saiamos do lado”, disse Sayuri.
“Eu não quero vocês aqui”, disse Guren.
“M-M-Mas tem cinco quartos. Você ainda vai ter a sua privacidade. Eu prometo, nós não vamos nos intrometer...”
“Seria a primeira vez. ”
“Mas...”
“Só saiam daqui. Preciso da minha calma e silêncio. ”
“Mas...”
“Mas nada. Só saiam”, disse Guren, apontando para a porta. Suas duas leais servas, contudo, tinham seus próprios planos.
“Não se preocupe, Sayuri”, disse Shigure, “vamos seguir o jogo dele por enquanto. Podemos entrar de novo no meio da noite. ”
“É uma ótima ideia, Yuki-chan! ” Sayuri exclamou, batendo as palmas das mãos. “Você sempre sabe o que fazer... ”
“Chega! ” Gritou Guren. Ele fechou os olhos e respirou fundo. “Vocês duas deveriam ser minhas seguidoras, não é? Então por que nunca fazem o que eu digo? ”
“Nossa maior prioridade é a sua segurança, Guren-sama”, disse Shigure.
“Isso mesmo”, disse Sayuri, concordando com a cabeça. “Temos que ser capazes de sacrificar nossas vidas por você, na hora que for preciso. ”
Elas não estavam cedendo. Guren cruzou os braços e suspirou.
Ele pensou no quão desconfortável seria ter que dividir um apartamento com duas garotas pelos próximos três anos.
Ou seja, três adolescentes cheios de hormônios em um só lugar. Ele nunca seria capaz de relaxar. Elas precisariam do espaço dela para fazer coisas de menina. Isso ia dar muito trabalho. Mas deu uma ideia a Guren.
“Vocês duas sequer entendem o que estão dizendo? Vocês sabem para o que teriam que se preparar se vivessem aqui? ”
“Nos preparar? ”
“Já ocorreu a vocês que eu sou homem, né? ” Guren falou.
“O que quer dizer? ”
Guren apontou para uma caixa de papelão num canto da sala. Ainda estava lacrada.
“Adivinhem o que tem dentro daquela caixa. ”
“Eu não sei. O que é? ” Sayuri perguntou, virando o rosto para a caixa.
“Pornô. ”
“Quê...?! ”
O rosto de Sayuri congelou em horror.
Não tinha nenhuma revista ou filme pornô de verdade naquela caixa. Mas não era essa a questão. Guren abriu um sorriso malicioso.
“Entenderam? Se vão ser colegas de quarto de um garoto, vão ter que estar preparadas para coisas de garoto. Estão prontas para isso? ”
“E-Eu...”
“Então está decidido. Não daria certo nós três num só apartamento. Então peguem as coisas de vocês e saiam. ”
“N-Não, tudo bem...” Sayuri se opôs. Ela estava intensamente corada e seus olhos estavam fechados apertado. “Meu pai me explicou o que eu posso ter que fazer. ”
“Hã? ”
“Ele me disse que você poderia... p-p-precisar de algo à noite. Então eu poderia t-t-te ajudar. É o meu d-dever como sua serva, Guren-sama...”
“Caramba! ” Guren gritou. “Qual o problema do seu pai? Não se faz isso. ”
“Eu estou aqui para servi-lo, G-Guren-sama... então, você não precisa de revistas pornô... se você não quiser...”
“Que diabos?! Só deem o fora daqui! ”
“Sayuri”, Shigure disse, em voz baixa.
“Sim? ”
“Relaxe. Não tem revistas eróticas naquela caixa. São só livros de estudo de magia. ”
“O quê?! ”
“O Guren-sama não gastaria seu tempo com algo tão pueril. Você sabe como ele é rígido com seu treinamento. Quando é que ele teria tempo para isso? ”
Sayuri instantaneamente mostrou uma expressão aliviada.
“I-Isso mesmo. Guren-sama não é assim. O que eu estava pensando? ”
“...”
“M-Mas se você algum dia precisar de algo assim, não hesite em me chamar. Eu... Eu vivo para servir! ”
“...”
“Agora que está tudo direito, vou começar a desempacotar as coisas”, disse Shigure. “O que você vai fazer, Sayuri? ”
“Eu vou fazer o jantar! O que você quer comer, Guren-sama? ”
Mesmo que Guren não concordasse em deixa-las ficarem, as duas já foram se ocupando. No que dizia respeito a elas, já estava tudo decidido.
Pessoas que me servem, Guren pensou. Seria de imaginar que ao menos fariam o que eu mando.
“...Arroz com curry”, ele disse, com um suspiro.
“Já estou indo! ” Sayuri exclamou.
As duas pareciam já se sentir em casa ali, andando agitadas pelo apartamento.
Guren suspirou, cansado.
Ele se sentou no sofá, tirou o telefone do bolso e discou o número de casa. Ele chamou algumas vezes antes que alguém atendesse.
“Guren? ”
A pessoa do outro lado da linha era o líder do Clã Ichinose, o pai de Guren.
“Sim, sou eu”, disse Guren.
“Está tudo bem? ”
“Fora que a Shigure e a Sayuri não escutam o que eu digo, sim, tudo ótimo. ”
“Ha. Isso é culpa minha. Eu ordenei isso a elas. ”
“Bem, não era necessário. ”
“Enfim, como foi a escola? ”
Guren repassou os eventos do dia em sua cabeça.
Alguém jogara uma garrafa de refrigerante em sua cabeça. E aí teve o incidente com Hiiragi Shinya.
E, é claro, Mahiru tinha aparecido. Guren suspeitava que seu pai estivera escondendo dele o noivado de Mahiru desde o princípio.
“Nada demais”, Guren disse.
“Nada demais, é? ”
“É. ”
“Bem, você é forte. Diferente do seu pai. ”
“Você é que é forte, pai. Eu tenho o pavio curto demais. ”
“Ha! Se você diz... Só lembre-se, se tiver alguma coisa de que precisa—”
“Eu estou bem”, disse Guren, o cortando. “Se eu não puder lidar sozinho com algo como o ensino médio, então como eu vou aprender a liderar o clã um dia? Né? ”
“Acho que sim... Mas você sabe que eu vou estar aqui para você quando precisar. Mas eu acho que você já superou o seu velho. ”
“Não é verdade, pai. Aliás, como estão as coisas por aí? ”
“Como sempre, como sempre. Não se preocupe conosco. ”
“Entendi. Mais tarde nos falamos, pai. ”
“Certo. E, Guren? ”
“Hm? ”
“Tome cuidado. ”
“Eu vou”, Guren disse, sério. “Até. ”
“Tchau, Guren. ”
Guren desligou o telefone. Shigure se aproximou dele quando ele tinha terminado a ligação.
“Guren-sama? ” Ela chamou.
“O que foi? ”
“Tem alguma caixa que queira que eu desempacote primeiro? ”
“Não se preocupe com as minhas coisas”, disse Guren. “Só cuidem do que é de vocês. ”
“Mas...”
“Tá, tá. Tem algumas coisas no quarto em frente à porta de entrada que precisam ser desempacotadas. São feitiços e outros suprimentos mágicos. ”
“Sim, senhor. ” Shigure se curvou e se apressou para a porta da frente.
Guren viu o corpo pequeno dela se afastar. Ele chamou Sayuri, que estava na cozinha.
“Ei, Sayuri. ”
“O que foi, Guren-sama? ”
“Quanto tempo até o jantar estar pronto? ”
“Deixa eu ver... se eu não tiver que esperar ferver, vai ser em torno de uma hora...”
“Isso tudo, hã? ”
“Devo fazer mais rápido? ”
“Não, deixe ferver. Eu vou tirar um cochilo no outro quarto”, ele disse, levantando do sofá. Havia uma comprida bolsa preta no canto do quarto, Guren foi até lá e a pegou.
A bolsa continha a katana de Guren.
O estilo de combate do Clã Ichinose combinava feitiçaria com esgrimia, integrando magia diretamente nas técnicas de armas brancas. Quando se tratava de empunhar uma espada, os Ichinose rivalizavam até com o próprio Clã Hiiragi.
Isso também significava que sem uma espada Guren não poderia alcançar seu poder total. Sua magia recaía no uso da espada. No entanto, Guren planejava nunca desembainhar a espada na escola.
Ele esperava poder se formar sem nunca mostrar até onde ele ou a magia do Clã Ichinose tinham se desenvolvido.
Mas ele ainda precisaria treinar.
Por isso, ele tinha pegado a bolsa com a katana agora, e a sustentava nos ombros. Ele saiu de lá sorrateiramente, esperando que nem Sayuri nem Shigure notassem.
“...”
Ele planejava usar o piso de cima.
O Clã Ichinose devia ter convertido um apartamento inteiro do piso superior em um dojo de treinamento para Guren usar. Era para lá que ele estava indo.
Guren caminhou pelo saguão até os elevadores e apertou o botão de subir.
O edifício do condomínio tinha portas com portas de travamento automático duplo. O elevador estava configurado para que apenas residentes e pessoas que eles tivessem convidado pudessem entrar. Além disso, o elevador só parava em pisos aos quais os passageiros tinham acesso.
Mas quando o elevador chegou no piso de Guren e as portas se abriram, já havia alguém lá dentro.
No todo, o prédio tinha vinte e sete andares.
O apartamento de Guren era no vigésimo quinto. O vigésimo sexto também estava sendo usado pelo Clã Ichinose. Só restava o vigésimo sétimo andar. Era onde morava o dono do prédio e sua família.
O homem no elevador usava um terno negro. Ele parecia estar na faixa dos vinte anos.
As únicas pessoas que deveriam poder subir até aqui no elevador eram os membros do Clã Ichinose e a família do dono.
Guren encarou o homem, com cuidado.
O homem sorriu e o cumprimentou com a cabeça.
“Boa noite”, ele disse. “Está subindo? ”
Guren assentiu.
“Estou. Você vai para o vigésimo sétimo andar? ”
O homem exibiu um sorriso descontraído.
“Sim, vigésimo sétimo andar. ”
“Nesse caso, você deve ser o dono do prédio. ”
“Sim, o dono. ”
“Obrigado por nos alugar esses apartamentos. Vai realmente ser de muita ajuda nos próximos três anos. ”
“Eu que agradeço. É um grande prazer ter tão distinto tenente por aqui. ”
Guren sorriu e entrou no elevador. Ele se virou ficou de frente para os botões dos andares.
O botão do piso do dono, o vigésimo sétimo andar, não estava aceso. Ele não tinha sido pressionado. De fato, nenhum dos botões estava aceso.
O que significava que o homem no elevador estava indo para o piso de Guren todo aquele tempo. O vigésimo quinto andar. Ele tinha mentido. Quem quer que fosse, ele definitivamente não era o dono do prédio.
E ele não se importava de ter sua mentira exposta assim que Guren entrou no elevador.
Ou seja...
Um assassino!
Guren se abaixou, abrindo a bolsa em suas costas e revelando a espada num movimento fluido. Puxar uma espada dentro do espaço apertado de um elevador deveria ser difícil, mas Guren fez isso sem dificuldades.
Guren treinava, desde que era criança, para usar a espada efetivamente em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias.
O outro homem já começara a se mover em resposta. Parecia que ele estivera esperando que Guren reagisse antes de fazer seu movimento. Ele tirou algo do bolso do terno e usou isso para bloquear o ataque de Guren.
Era uma corrente.
A corrente estava cheia de fuda. Guren não reconheceu a magia. Eles não pareciam com nenhum tipo que ele tivesse visto antes.
E definitivamente não era magia dos Hiiragi.
Os fuda Hiiragi eram baseados no Budismo esotérico, mas incorporavam artes mágicas colhidas ao redor do mundo. Por causa da história compartilhada entre os dois clãs, membros do Clã Ichinose podiam ler parcialmente os feitiços inscritos em fuda Hiiragi.
Mas os fuda que o homem estava usando não eram como nada que Guren tivesse visto, fosse Hiiragi, Ichinose ou outra coisa. Eles pareciam se basear num sistema inteiramente diferente de magia. Guren suspeitava que fosse algum tipo de feitiçaria ocidental.
Kabbalah? Ou talvez algo totalmente diferente...
Algumas magias ancestrais japonesas pareciam se misturar para balancear. Guren era incapaz de decifrar os feitiços.
O homem tentou girar a corrente com os estranhos fuda ao redor da espada de Guren, mas ele reagiu primeiro. Ele chutou o homem no estômago e recuou a espada. Ao mesmo tempo ele escorregou a mão esquerda por dentro da manga de seu uniforme e puxou um fuda que ele mantivera escondido ali. Sua mão se abriu e fechou numa série de complexos movimentos e gestos, traçando um kuji, um mantra budista nonassilábico, no ar.
O fuda desapareceu num clarão e um raio de luz apareceu em seu lugar. Era o mesmo feitiço que Shinya usara contra Guren pela manhã. Mas o feitiço de Guren era mais rápido e incisivo. Ele tinha força o bastante para matar uma pessoa se ele quisesse.
Seu oponente arregalou os olhos quando o raio avançou para a frente, mirado em suas pupilas.
Contanto que fosse um oponente normal, o raio seria capaz de cegá-lo.
Mas Guren não ia arriscar. Ele puxou de novo a espada, mirando na garganta do homem.
No entanto, o homem não era um oponente comum.
“Haha, impressionante! ” Ele disse, levantando a mão direita. “Sem nenhuma misericórdia. ”
Guren o ignorou, preocupando-se apenas com seu golpe.
Ele girou a arma com tanta força que deveria ter aberto o peito do homem e arrancado a cabeça dos ombros.
Em vez disso, a lâmina de Guren parou com um tinido alto, como o de metal colidindo contra metal.
Ela parou nos ossos do braço do homem. Porém, nenhum osso humano deveria ser capaz de segurar um golpe de Guren. Mesmo se o homem usasse uma armadura por baixo do terno, Guren tinha certeza que ele poderia cortá-lo.
Como era que ele tinha bloqueado o ataque de Guren?
Os dois fizeram contato visual, e o homem sorriu.
O feitiço de Guren não o tinha cegado. A carne no braço do homem, sobre os ossos, tinha sido profundamente cortada, e uma fumaça negra começou a sair da ferida. A fumaça flutuou até Guren, quase como se tivesse vida própria...
“Droga, estou preso aqui”, Guren sibilou.
Ele deu um salto atrás, se enfiando pelas portas do elevador. Assim que ele escapou de lá, ele puxou mais vários fuda de seus bolsos e os lançou no ar. Eles atingiram os cantos da porta do elevador e ficaram lá, formando uma barreira.
Uma barreira que mataria qualquer um que passasse por ela.
Satisfeito, Guren retornou sua espada à bainha e prendeu a bainha ao seu cinto. Sua mão continuou no cabo, só por precaução.
“Venha para fora”, disse Guren, sorrindo para o homem. “Vou garantir que seu pescoço se quebre dessa vez. ”
Mas o homem continuou no elevador.
Com uma expressão deliciada, ele levantou o braço e pressionou o botão para deixar as portas abertas. Apesar da ferida profunda, o homem não tinha problemas para usar o braço cortado.
“Parece que o futuro líder do Clã Ichinose não está para brincadeira”, ele disse. “Mas, nossa, que temperamento... A pessoa só entra no elevador junto de você e você a ataca sem pensar duas vezes...”
Guren olhou firmemente para a fumaça negra saindo do braço do homem.
“Você não é humano”, disse Guren.
“Não sou? Você deve estar desapontado. ”
“Mas você também não é um vampiro. Vampiros não têm interesse nos humanos. ”
“...”
“Então você é um assassino. Mas quem te mandou? Foram os Hiiragi? ”
Sorrindo e levantando as mãos num pedido de desculpas, o homem disse:
“Parece que me pegou—”
Guren o cortou.
“Pare de mentir. Os fuda nas suas correntes não são magia dos Hiiragi. E os Hiiragi não respeitam o Clã Ichinose o bastante para contratarem alguém para tirar um de nós da jogada. Sem mais jogos. Diga-me quem você é. ”
Guren se pôs numa posição defensiva, pronto para puxar a espada ao menor movimento. Chagas escuras tinha sido gravadas na bainha daquela arma. Guren tocou a bainha com os dedos da mão esquerda. De cima a baixo, traçando encantamentos para ativar a magia. As chagas começaram a ganhar vida, banhando a espada numa poderosa maldição que fez a lâmina brilhar em vermelho vivo.
“Se quiser viver”, disse Guren, “vai me dizer quem é você. ”
“Acho que o espetáculo foi armado. Você realmente não decepciona...”
Guren avançou para um ataque, sacando a espada e a girando, deixando o homem no meio da frase.
Guren não tinha intenções de conversar. Suas perguntas tinham sido só um ardil. O homem nunca lhe contaria a verdade. No momento em que ele mentira sobre ter sido contratado pelos Hiiragi, Guren soube que não tinha mais serventia em falar.
Uma expressão surpresa surgiu no rosto dele.
Mas só por um instante.
A lâmina de Guren atingiu o braço direito dele, imediatamente se cravando em suas costelas. Assim como no primeiro golpe de Guren, a lâmina parou logo, com um tinir metálico.
Mas Guren não tinha acabado.
“Vou te partir em pedaços!! ” Ele gritou.
A lâmina rubra começou a vibrar e a espada de repente foi em frente, quebrando as costelas do homem e atravessando facilmente o ombro esquerdo.
Se aquele corte não o matasse, então o homem era realmente algum tipo de monstro.
“Haha! ”
O homem dirigiu seus olhos para Guren e sorriu.
Gavinhas de névoa negra se projetaram do buraco da ferida no peito do homem, junto com a corrente coberta de estranhos fuda. A fumaça e a corrente avançaram tentando capturar Guren.
Guren tentou saltar para trás para sair de perto do elevador de novo.
Infelizmente, seu braço direito, o que segurava a katana, foi pego pela corrente. Guren olhou para seu braço preso e rapidamente calculou suas opções. Ele poderia deslocar seu ombro. Se fizesse isso, ele pensou, provavelmente soltaria a espada que segurava. Ele poderia também ignorar a corrente e ir em frente para um novo ataque.
Mas ele não sabia ainda o quão perigoso seu oponente era. Seria sensato continuar lutando no espaço enclausurado do elevador?
A maior preocupação de Guren era a fumaça negra.
A corrente não o preocupava. Guren já tinha uma boa ideia do perigo que ela representava. Mas não tinha como ele dizer o que a fumaça poderia fazer. Quaisquer que fossem os poderes dela, no mínimo, inalá-la seria uma má ideia. Guren tomou cuidado para não respirar enquanto estava no elevador.
“Muito impressionante, de fato”, disse o homem. “Minha névoa venenosa já deveria ter te paralisado... Não me diga que ficou todo esse tempo prendendo a respiração? ”
Guren olhou para ele.
“Poupe-me de seus elogios. Eu quase te parti ao meio e te atingi com um feitiço, mas você está aí de pé como se não fosse nada. ”
“Ha. Eu mesmo sou bem impressionante, não sou? ” Disse o homem. Ele sorriu e ergueu as mãos se desculpando. Sua corrente e a fumaça negra continuaram a se contorcer no ar, como se guiadas por mentes próprias. ”
“O que é você? ”
“O que acha que eu sou? ”
“Um monstro”, respondeu Guren.
“Haha. Acredite ou não, eu sou humano, dos pés à cabeça. ”
Guren fez uma careta.
“Um experimento humano, quer dizer. Você é uma quimera, não é? ”
Quimeras eram guerreiros criados por engenharia genética. O homem sorriu em resposta.
“Correto. E quanto ao Clã Ichinose e à Ordem da Lua Imperial? Vocês também fazem experimentos com humanos? ”
“Talvez o Clã Hiiragi sim, mas o Clã Ichinose não faz experimentos com pessoas. Por que faríamos isso? Eu já sou mais forte que você, e ninguém precisa ficar brincando de Deus com os meus genes para eu conseguir isso. ”
“Ha. Se você diz. ”
“Isso não é uma competição. Diga quem você é. De onde você veio e por que está aqui? ”
O homem finalmente pareceu disposto a falar. Tanto as correntes como a fumaça negra retrocederam, desaparecendo dentro de seu corpo. Mais que isso, as feridas no peito e no braço do homem se fecharam. Até os rasgos em seu terno se fundiram de volta. Guren se perguntou de novo que tipo de criatura ele estava enfrentando. O terno era parte do corpo dele? Ou sua verdadeira forma era alguma outra coisa?
Guren considerou uma maldição de fogo para seu próximo ataque. Podia ser que queimasse aquela névoa. Enquanto ele pensava em táticas, porém, o homem decidiu se apresentar.
“Meu nome é Kijima Makoto. Eu pertenço à Seita Hyakuya. ”
“Hyakuya...” Guren murmurou.
A Seita Hyakuya era conhecida por ser a maior de todas as organizações mágicas do Japão. Ela tinha raízes profundas no lado obscuro da política do país.
O poder da Seita Hyakuya estava longe demais do alcance. Quase todo grande político se sustentava no apoio deles para ficar no poder. Apesar de poucos da população em geral os conhecerem, eles controlavam o país pelas sombras.
A Ordem do Demônio Imperial também eram uma organização poderosa. Por muitos anos, as duas brigaram para controlar as rédeas do país. Mas, depois da Segunda Guerra Mundial, a Seita Hyakuya ganhou o poder dos Estados Unidos.
Eles eram a organização dominante do país desde então.
De acordo com os rumores, a Seita Hyakuya não pararia por nada em sua busca por poder e influência.
Assassinato.
Sequestro.
Guerra.
E, é claro, experimentos com humanos.
Em particular, os orfanatos controlados pela Seita Hyakuya eram infames por sua crueldade.
Pelo que diziam, a Seita Hyakuya procurava por crianças com dons especiais. Quando eles encontravam alguém adequado, eles matavam os pais e traziam a criança para um de seus orfanatos, para exaustivos experimentos.
Era possível que o homem no elevador fosse um dos monstros criados nesses orfanatos.
Guren olhou para o corpo de Kijima e abaixou a espada.
“Um bando de políticos loucos pelo poder. Combina. Então? O que a Seita Hyakuya quer comigo? ”
“Na verdade”, disse Kijima, ainda sorrindo, “acreditamos que os nossos interesses podem já estar alinhados. Estou aqui para oferecer uma aliança. ”
“Nossos interesses? Do que está falando? ”
“Da destruição do Demônio Imperial, é claro. E do Clã Hiiragi. Sabemos que você despreza os Hiiragi. Gostaríamos de lhe conceder o poder para derrota-los. Isto é, se você estiver interessado—”
“Não estou”, Guren o interrompeu.
“Ha. Nós dois sabemos que não é verdade. ”
“O que há com todo mundo hoje? O que é isso, algum tipo de teste de lealdade? ”
Primeiro veio Hiiragi Shinya e agora esse cara. Por que todo mundo estava tentando puxá-lo para algum tipo de trama contra o Clã Hiiragi? Estava sendo um primeiro dia de aula e tanto esse. Guren deu um riso irônico e balançou a cabeça.
“Estávamos investigando você”, disse Kijima.
“Você devia cuidar dos seus próprios assuntos. ”
“Você tem muito com o que estar bravo, Ichinose Guren...”
“E? ”
“Acredite em mim quando digo que você não tem poder o bastante para derrotar sozinho o Clã Hiiragi. ”
“E daí? ”
“É aí que nós entramos—”
“Eu já falei, não estou interessado”, disse Guren, o interrompendo de novo. “Mesmo que eu estivesse, eu não me juntaria com vocês. ”
“E por que isso? ”
Guren riu.
“Desde que eu era pequeno, eu sempre gostei de ficar em primeiro. Se uníssemos forças, o primeiro prêmio iria para vocês, não é? ”
“...”
“Eu já sou um cão vira-lata dos Hiiragi. E quer que eu pegue a chance de ser um macaco treinado da Seita Hyakuya? Obrigado, mas não, obrigado. Que tal você dar o fora daqui? ”
“...”
“Eu posso te fazer desaparecer permanentemente, se preferir”, Guren falou, levando a mão à katana embainhada.
Kijima riu.
“Você não é páreo para mim...”
“Eu sou. E eu não vou me segurar dessa vez. Eu vou para matar.
“...”
“Eu decidi antes de hoje que qualquer oponente que visse minha força por completo precisava morrer. Eu estou lhe dando cinco segundos. Volte para os seus mestres e diga a eles que os Ichinose não se vendem. Eu vou contar: Cinco...”
“...”
“Quatro...”
Guren firmou o punho na espada, com mais força.
A lâmina vermelha se chamava Koujakumaru. Ela carregava em si uma poderosa maldição que podia ser invocada com magia. Guren encaminhou sua mente para invocar o poder selado da espada.
“Três...”
Pela primeira vez na conversa, Kijima parecia preocupado.
“Droga. Tem algo diferente em você, de repente. Não como um minuto atrás... Você não está blefando, está? Certo, eu vou. De agora em...”
“Dois. ”
“...”
Kijima encolheu os ombros e pressionou o botão do elevador.
“Mas lembre disso”, ele disse, enquanto as portas começavam a se fechar. “Vai se arrepender de não ter se juntado a nós hoje...”
“Um. ”
As portas se fecharam bem a tempo e o elevador começou a descer, levando Kijima com ele.
“Hmpf. Seita Hyakuya, é? Quer dizer que tem uma guerra se aproximando? ”
Guren removeu sua mão do punho da espada e suspirou.
Num canto de sua mente, Guren não podia evitar de pensar que, se uma guerra estava vindo, havia uma grande chance de os Hiiragi serem derrotados.
Afinal de contas, a Seita Hyakuya era vasta e poderosa. Haviam rumores de sua influência espalhados até por outros países. Se a Seita Hyakuya e o Demônio Imperial se chocassem, os resultados do embate poderiam trazer à Lua Imperial a chance de buscar o poder.
Os pensamentos de Guren foram interrompidos por uma voz vinda na direção dos apartamentos.
“Guren-sama! Guren-sama?! ”
Era Sayuri. Ela parecia envergonhada.
Guren ouviu o som dos passos se apressando em sua direção. Sua seguidora apareceu num canto.
“Ah, aí está você! Você não devia desaparecer assim, Guren-sama! ”
“Desculpe, Eu estava só indo para o dojo...”
A cabeça de Shigure apareceu, atrás de Sayuri.
“Nós ainda não terminamos o dojo. Tudo deve estar pronto amanhã. Por que não tira o dia de hoje de folga? ”
“Hmpf. Acho que estou cansado. O jantar já está pronto? ”
Sayuri resfolegou.
“Eu não desliguei o fogão! ” Ela gritou, correndo de volta para seu aposento.
Shigure a viu indo embora, então virou sua atenção para Guren. Os olhos dela pousaram na espada em sua cintura.
“Você desembainhou a espada aqui? ”
“Hm? Só por um momento. Na verdade, tem bastante espaço no saguão do elevador. ”
“Neste caso, talvez eu devesse arrumar este lugar para você treinar? Assim, você não vai ter que subir para o andar de cima toda vez que quiser treinar. ”
“É uma boa ideia. ”
Guren pegou a bolsa no chão e pôs a katana de lado. Ele começou a caminhar para o apartamento.
“Guren-sama? ” Shigure chamou por ele.
“Sim? ”
“Aconteceu alguma coisa? ”
Guren se virou para olhar para ela. Sua expressão estava preocupada.
“Nada em particular”, ele respondeu, mostrando um sorriso para ela.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 2 - O Rei da Sala
Aula introdutória.
Uma típica cena de sala de aula.
“...”
Guren estava sentado em silêncio em sua mesa. Ele era da Classe 1-9. Sua mesa era no fundo da sala, perto da janela.
Era a primeira aula da manhã, no primeiro dia de aula. Uma mulher que parecia ser a professora estava falando sobre a cerimônia de ingresso que aconteceria naquele dia.
Sayuri e Shigure não estavam na sala de Guren.
Sayuri estava na Classe 1-1 e Shigure na 1-2. Alguém claramente tinha arranjado para que elas ficassem nas duas salas mais distantes de Guren.
“Por que isso não me surpreende? ” Guren murmurou.
Afinal, como o herdeiro do Clã Ichinose, Guren só tinha sido trazido para a escola para que o Clã Hiiragi pudesse exibir seu poder. Eles iam tentar deixar Guren intimidado e submisso.
Eles vão tentar me isolar, fazer bullying e me tornar obediente, Guren pensou. É o mesmo tipo de truques sujos que eles vêm usando nos últimos duzentos anos.
Guren riu consigo mesmo.
Vinte e cinco anos atrás, o pai de Guren frequentara essa mesma escola. Os Hiiragi o tinham desgastado até a total submissão. Se o pai de Guren gostava ou não dos Hiiragi já não entrava na questão. Sempre que haviam decisões importantes a serem tomadas, ele iria visitar o Clã Hiiragi primeiro para ter a aprovação deles.
O restante da Ordem da Lua Imperial tinha uma opinião bem ruim acerca do pai de Guren.
Guren, no entanto, não culpava o pai pela forma como ele fazia as coisas. Era só como as coisas eram. Guren ainda tinha total respeito pelo homem.
Seu pai conhecia as próprias limitações e estava fazendo o melhor que podia sob tais circunstâncias. Ele tinha conseguido manter a organização funcionando tranquilamente e sem conflitos. Isso era uma conquista, por si só.
Mas Guren ainda lembrava.
“...”
O último dia em que viu Mahiru. Quando Guren ainda era criança.
Homens do Clã Hiiragi tinham vindo e espancado Guren. Naquele dia, ele voltou para casa machucado e sangrando.
Guren lembrava da expressão de pesar no rosto de seu pai.
“Por favor, perdoe o seu velho por ser tão fraco...” Ele tinha dito.
Guren estava gravemente ferido. Com lágrimas nos olhos, seu pai o segurou nos braços. Mas depois ele foi direto para o Clã Hiiragi se desculpar.
Eles tinham batido em seu filho até desacordá-lo. Mas era ele quem ia se desculpar.
“...”
Guren levantou a cabeça, saindo de seu devaneio.
Ele examinou a sala de aula com os olhos. Haviam quarenta alunos no total.
A classe estava dividida ao meio entre meninos e meninas.
Olhando para a folha da presença, Guren viu que muitos alunos eram dos clãs de mais alto patamar, em ordem.
Clã Jyuujou.
Clã Goshi.
Clã Sanguu.
Eram algumas das famílias mais prestigiosas no uso da magia no mundo.
Antigamente, o Clã Ichinose tinha sido o principal dos clãs que serviam aos Hiiragi. Agora a verdade era o contrário. O Clã Ichinose ocupava a mais baixa posição no poder.
Os clãs operavam num rígido sistema de castas. A maioria dos estudantes olhavam para Guren de canto de olho. Eles claramente lamentavam estar na mesma sala que ele. A hostilidade deles era palpável.
“Atenção, todo mundo”, disse a professora. “A partir de hoje, vocês são alunos do Primeiro Secundário de Shibuya, a mais prestigiosa de todas as academias de magia. Como a nata da nata, eu espero grandes coisas de cada um de vocês durante seu tempo aqui. ”
A professora parou no meio do discurso. Ela encarou Guren com um olhar maldoso.
“É claro, um certo cão sarnento também deu um jeito de entrar nessa sala de homens e mulheres excepcionais. Mas não deixem que isso os incomode. Esta sala é para a elite e, como os alunos mais capacitados e talentosos da escola, é responsabilidade de vocês ensinar pra bastardos o lugar deles. ”
O ���bastardo”, é claro, era Guren.
Os alunos riram. Não todos, mas praticamente.
Guren riu junto com eles, como um tolo.
Fazendo isso, contudo, ele incitou a professora. Ela foi rápida em ridicularizar Guren. Mas ela era mais poderosa?
Guren não ligava de ser ridicularizado.
Ele já estava preparado para isso.
Mas uma coisa que ele não podia aceitar era ser superado, em termos de força e de habilidade mágica.
No fim, os objetivos na vida de Guren eram diferentes dos de seu pai.
O pai de Guren tinha se focado em manter a organização a salvo e em paz. Guren aspirava a outras coisas.
“...”
O sorriso tolo continuou estampado no rosto de Guren enquanto seus olhos vagavam pelos outros alunos.
Ele visualizou a garota do Clã Jyuujou.
O rapaz do Clã Goshi.
E até a menina do Clã Sanguu.
Mas havia um garoto na sala que ocupava uma posição ainda mais elevada que a de todos eles juntos. Guren reconhecera o nome na hora que olhou a lista.
O nome do aluno...
...era Hiiragi Shinya.
Um Hiiragi. Um membro do Clã Hiiragi.
O nome Hiiragi carregava um poder especial para os membros da Ordem do Demônio Imperial. Era um objeto de reverência. Para o Demônio Imperial, um Hiiragi era um deus em meio a homens.
Para a Ordem do Demônio Imperial, o nome Hiiragi era tão importante como o Ichinose era para a Ordem da Lua Imperial. Eles olhavam para os Hiiragi da mesma forma que Shigure e Sayuri olhavam para Guren.
O lugar de Hiiragi Shinya, contudo, ainda estava vazio.
A mesa de Shinya fora posta o mais distante da Guren, tão distante daquele bastardo imundo quanto possível.
Em outras palavras, o primeiro assento perto da porta.
“Como todos vocês já devem saber”, disse a professora, “Shinya-sama estudará nesta classe. Nós temos muita sorte de sermos agraciados com sua presença...”
A professora continuou a tagarelar sobre como Hiiragi Shinya era incrível e como eles eram sortudos de estar na mesma classe que ele.
Os outros alunos assentiram, ouvindo com expressões sonhadoras a professora falar sobre Shinya. Era difícil acreditar que poucos momentos atrás aqueles rostos estavam distorcidos de desprezo enquanto riam do “bastardo”.
A mudança era tão óbvia que Guren não pode evitar um riso irônico. Ele voltou o olhar em direção à janela. Ele podia ver as filas de cerejeiras que cresciam além dos portões.
“Espero que Shigure e Sayuri estejam bem”, ele murmurou, olhando para as árvores.
Então a porta da sala se abriu. Os estudantes ficaram em silêncio. Eles todos pareciam ter endireitado as posturas.
“Está tão quieto aqui. O que é isso, um funeral? ”
A voz veio da entrada de trás da entrada traseira da sala, não da frontal.
Era uma voz masculina.
A professora ficou nervosa para responder.
“Ah, Sh-Shinya-sama, bom dia. Bem-vindo à minha classe... Nós preparamos um lugar para você, bem aqui na frente—”
“Sem chance”, Shinya interrompeu, “eu não quero ficar tão na frente. ”
“M-Mas...”
“Eu prefiro sentar por aqui. Você, aí. Você não liga de trocar de lugar comigo, liga? ”
“Mas isso...isso...”
Pela forma como todos agiam, parecia que a rainha da Inglaterra estava presente. Aparentemente, o grande Hiiragi tinha enfim aparecido. Guren levantou a cabeça e virou os olhos de volta para os outros alunos.
Ele ficou um pouco surpreso com o que viu.
Era o mesmo jovem que o atacara com um fuda em frente ao portão naquela manhã.
Ele tinha cabelos brancos e usava um uniforme com colarinho alto igual ao de Guren. Apesar do sorriso amigável no rosto, ele tinha um brilho afiado no olhar. Seu sorriso era confiante.
Aparentemente, o atacante de Guren era Hiiragi Shinya.
Acho que afinal eu não precisava que a Shigure tivesse o trabalho de procurar por ele.
Shinya andou até o lugar de Guren. Ele exibiu seu sorriso confiante para a garota sentada ao lado de Guren.
“Eu prefiro sentar aqui. Você não se importaria de trocar, não é? ”
A garota ficou tão chocada quando Shinya falou com ela que congelou por um momento.
“É-É-É claro! Seria um prazer! ” Ela gaguejou, saindo de sua cadeira.
“Mas, Shinya-sama”, disse a professora, “certamente você não vai querer sentar perto a esse...esse bastardo—”
Shinya a cortou.
“Você realmente acha que é apropriado um professor chamar um de seus alunos de bastardo? ” Ele disse, com os olhos não visíveis.
“Eu...”
“Esse é um de nossos colegas. Parte do seu trabalho é promover o espírito de grupo. ”
“Mas...”
A garota que estivera sentada na mesa rapidamente se moveu para longe. Shinya a agradeceu e se sentou no lugar, agora, vago. Ele era todo sorrisos.
“Por favor, não quis interromper”, ele disse. “Continue o que dizia. ”
Embaraçada, a professora retornou ao seu lugar e voltou a falar. Ela explicava a cerimônia de ingresso, o que eles iriam aprender e a estrutura das aulas ali na escola. Ela estava agindo mais como uma criança repreendida do que como professora deles.
Shinya ouvia atentamente. Seu sorriso era radiante.
Guren voltou a olhar para fora da janela.
“Ei, você...” Shinya sussurrou, de repente. “Você é o Ichinose Guren, né? Se importa se eu te chamar de Guren? ”
Guren virou o rosto. Shinya estava se inclinando para perto, sorrindo.
“Perdão, você acabou de falar comigo? ” Guren perguntou.
“Você é tão educado”, Shinya riu.
“O Clã Ichinose foi bem rígido em me ensinar a importância de obedecer ao Clã Hiiragi’, disse Guren.
“É mesmo? ”
“Sim. ”
“Bem, isso não é divertido. ”
“Minhas profundas desculpas”, disse Guren, abaixando a cabeça. Não parecia que Shinya tinha mais nada para dizer, então Guren virou o rosto para a janela outra vez. Um momento depois, porém, Shinya falou de novo.
“Aliás”, ele disse, “esta manhã, você por acaso não me deixou te atacar de propósito, deixou? ”
“...”
“Por exemplo, para esconder a sua verdadeira força? ”
“...”
“Porque isso seria uma grande desobediência. Não seria? Insubordinação, ou mesmo...”
Droga. Shinya tinha desvendado sua farsa, afinal.
“Peço perdão”, Guren falou, se virando para Shinya.
“Você admite, então? ”
“Eu não estava tentando ser insubordinado. É só que minha família me ensinou a sempre obedecer aos Hiiragi e a não deixar nenhum deles zangado. A verdade é que eu deixei o ataque me atingir para evitar problemas. Eu não estava tentando esconder nada. ”
“Hmm, é assim, é? ”
“Sim. ”
“Sei...” Shinya respondeu, com um sorriso superficial. Então ele subitamente se inclinou, desconfortavelmente perto, e sussurrou no ouvido de Guren, “Ei, Guren. Pare com a encenação, tá bem? ”
“Que encenação? ” Guren disse, olhando inocentemente para o rosto de Shinya.
“Tá, tá”, Shinya disse, recuando. “Mas é uma pena. Eu estava ansioso em conhecer você. Eu esperava que pudéssemos ser amigos. ”
“...”
“Eu odeio os Hiiragi tanto quanto você, Guren. Eu imaginei que nós dois poderíamos causar alguns problemas juntos. ”
“...”
“Falando nisso, sabia que eu nem sou um Hiiragi? Eu fui adotado. Eles me meteram num noivado desde que eu era criança, então eu virei um Hiiragi. É por isso que os odeio. Então, sabe, nós dois na verdade temos muito em comum. ”
Guren tinha ouvido histórias parecidas antes. Supostamente, para gerar descendentes com magia forte no sangue, o Clã Hiiragi procurava por crianças dotadas e as forçava a passarem por um complicado treinamento. Aqueles que sobreviviam ao processo de seleção era posteriormente adotados pelo clã.
As crianças adotadas eram então forçadas a se casarem e terem filhos com membros da linhagem dos Hiiragi.
Essas histórias circulavam desde que Guren se lembrava.
Mas mesmo que fossem verdade, não tinha como Guren saber que Shinya era de fato uma dessas crianças. E, mesmo que ele fosse, não havia nenhuma razão para Guren se revelar. Guren considerou cuidadosamente sua resposta.
“Eu acho que houve um engano. Eu não sou o tipo de pessoa que você pensa...”
...era o que Guren estava prestes a dizer. Antes que ele percebesse, contudo, Shinya falou de novo.
“Sabe, a pessoa com quem eles pretendem que se case comigo é a Mahiru. Hiiragi Mahiru. Eles me fizeram o noivo dela desde que eu nasci. ”
Guren reagiu sem querer, olhando incisivamente para Shinya. Ele notou imediatamente.
“Ohh, eu acho que consegui um vislumbre do verdadeiro Guren”, ele disse, rindo.
“Eu não sei do que está falando. ”
“Não sabe? Certo, certo, que seja. Afinal de contas, eu não esperava que pudéssemos ser melhores amigos desde o primeiro dia. ”
“...”
“Aliás, você sabe que a Mahiru é uma caloura daqui também, não é? Primeira da turma. Ela é a nossa representante. Aparentemente, ela vai fazer um discurso mais tarde. Impressionante, né? Afinal, ela é sua ex-namorada...”
“Eu não sei do que está falando”, disse Guren, com cuidado para não demonstrar nenhuma emoção. “Não há nada entre mim e Mahiru. ”
“Não mais, eu suponho. Já que ela é a minha noiva. ”
Guren cerrou os dentes involuntariamente e olhou firmemente para frente. Shinya não parecia perdido. Ele riu de novo, exibindo um sorriso bonito.
“Isso te deixa com ciúmes? ” Ele perguntou, tentando provocar Guren.
“É claro que não. ”
“Haha! Deveria ver a sua cara. Se não quer que as pessoas suspeitem de você, vai ter que tentar um pouco melhor esconder essa ambição. Mas, viu? Você e eu estamos do mesmo lado. E não se preocupe com a Mahiru. A verdade é que não somos próximos. Mesmo com o nome Hiiragi, eu ainda sou só um dos moleques adotados. Eles me tratam como um capacho. Basicamente, a forma como você é tratado nessa escola é como eu sou tratado em casa. Isso realmente me irrita. Mas algum dia eu vou trazer esse clã inteiro a baixo. ”
Isso era algo perigoso de se dizer em voz alta. Se alguém os ouvisse, Shinya poderia ser executado na hora.
Isso era uma armadilha? Ou Shinya realmente queria tomar o Clã Hiiragi? Não tinha como Guren saber.
Quer Shinya estivesse ou não falando a verdade, não parecia sábio se envolver com ele. Guren decidiu mudar sua tática.
“Você gosta mesmo do som da própria voz”, ele disse com um riso seco, desviando os olhos dele. “Seja o que for que esteja buscando, não tem nada a ver comigo. Eu não sei o que você está planejando, mas que tal você me deixar de fora dessa porcaria? ”
“Que língua! O que aconteceu com aquela educação? ”
“Cai fora. ”
“Mas somos amigos, né? Vamos lá, você e eu! ”
“Eu disse pra cair fora. ”
“Ha! Certo, que seja do seu jeito”, disse Shinya, com os olhos brilhando. “Mas você vai mudar de ideia. Afinal, eu sou provavelmente o seu único aliado por aqui. ”
Guren olhou para Shinya e sorriu para dentro. Ainda era o primeiro dia, cedo demais para ter que lidar com tantos problemas.
“Certo, alunos”, a professora disse logo aí, “já é quase a hora da cerimônia de ingresso começar. Vamos para o auditório. ”
Os estudantes se levantaram.
“Lá vamos nós”, disse Shinya. “Hora de ouvir o discurso de nossa deusa. ”
Deusa? Guren supôs se tratar de Mahiru.
Faziam anos desde que Guren vira Mahiru. A última vez que a viu foi quando os adultos do Clã Hiiragi lhe deram uma surra. Depois de ouvir aquele nome de novo, depois de todos esses anos, Guren não sabia como se sentir.
Mas, apesar dessa sensação, eles estavam prestes a estarem no mesmo ambiente.
Mahiru faria o discurso como representante dos calouros. Guren nunca imaginara que seu próximo encontro com Mahiru seria sob tais circunstâncias.
“Certo, parceiro”, disse Shinya, estendendo a mão para ajudar Guren a levantar. “Vamos ouvir o discurso. ”
Guren encarou a mão estendida de Shinya e então a afastou, franzindo o cenho.
“Só fique longe de mim, entendeu?
“Ha! ”
Guren entrou na fila junto com os outros alunos, e eles todos se dirigiram ao auditório.
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matsu-chan · 7 years
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Capítulo 1 - Bem-vindo ao Colegial, Mané
“Guren-sama, o ensino médio começa hoje. Você vai ser um calouro. Está preparado para isso? ”
“...”
“P-P-Para ser franca...eu estou meio nervosa. Tipo, eu deveria ser sua segurança, então eu sei que isso vai parecer bobo. Mas...Mas...não posso evitar! Nós somos suas seguidoras, nós vivemos para servir ao Clã Ichinose... Mas nós vamos frequentar o Primeiro Secundário de Shibuya. É difícil não surtar um pouco! ”
A garota continuou falando, mas Guren a ignorou. Ele erguia os olhos para o céu.
Flores de cerejeira dançavam no ar.
Primavera.
O primeiro dia do ano letivo.
Guren usava um uniforme com uma gola alta e firme. Ele enfiou as mãos nos bolsos enquanto andava por entre as cerejeiras. Eles estavam na comprida estrada que levava ao Primeiro Secundário de Shibuya, onde Guren começaria a estudar.
Guren tinha cabelos negros vagamente ondulados. Havia uma ponta de frieza em seus olhos. Estes estavam agora direcionados à garota ao seu lado. Ela ainda estava tagarelando.
A garota tinha quinze anos – a mesma idade de Guren – e cerca de 1,60m de altura. Ela vestia um uniforme colegial estilo marinheira e tinha cabelos cor de trigo. Contrastando com seu balbuciar esquisito, ela era bastante bonita.
Seu nome era Hanayori Sayuri.
Sayuri apertou nervosamente uma mão contra o peito. Quanto mais ela falava, mais ela parecia ruborizar.
“Então...sabe... Eu sei que sou inexperiente, mas eu prometo dar o meu melhor para ser uma boa segurança enquanto estivermos aqui, Guren-sama! Se tiver qualquer coisa que você precise—”
“Sayuri? ” Guren a cortou.
“S-Sim...Guren-sama? ”
“Está tagarelando de novo. ”
“Aaaai!! ” Sayuri levantou as duas mãos. Uma expressão chocada surgiu em seu rosto.
“P-P-Perdoe-me, Guren-sama! ”
Sayuri tropeçou para trás, parecendo abatida. A cada poucos segundos ela fungava ruidosamente. Outra garota já seguia fielmente Guren. Sayuri olhou para ela.
“Yu-Yuki-chan... Ele brigou comigo. Disse que eu estava tagarelando. ”
O nome da outra garota era Yukimi Shigure.
Shigure olhou para Sayuri. Shigure era pequena – mal tinha 1,50m – e tinha uma silhueta delicada. Diferente de Sayuri, ela parecia ser bem séria. Sua expressão era rígida.
Shigure também tinha quinze anos. Ela vinha treinando no Clã Ichinose há anos como segurança de Guren.
“É porque você estava mesmo tagarelando”, ela disse. Seu rosto não se alterou.
“O quê?! ”
“Se você não agir começar a agir com mais calma, vai refletir negativamente no Clã Ichinose. E não só no clã, aliás. Lembre, o Guren-sama é o próximo na linha de sucessão do clã. Recomponha-se, antes que pegue mal para ele. ”
“Ah não, Yuki-chan! Não se juntem contra mim! ” Sayuri choramingou.
Juntas, as duas faziam ainda mais barulho do que quando era só Sayuri.
Guren olhou para trás, para as duas servas da mesma idade que ele.
“Ahh... ”
Guren suspirou aborrecido antes de voltar os olhos para a frente de novo.
A estrada para o Secundário de Shibuya se estendia à frente dele. Acima de sua cabeça, flores de cerejeira flutuavam brincalhonas.
Haviam outros alunos caminhando em pequenos grupos, conversando uns com os outros com júbilo.
À primeira vista, parecia uma típica cena de ensino médio. No entanto...
Não posso culpar a Sayuri. Caminhar por essa estrada seria o bastante para deixar qualquer um nervoso, pensou Guren.
A razão era porque a escola para onde eles seguiam não era nenhuma escola comum.
Era um lugar perigoso, lar de demônios e magia negra.
 Era o Primeiro Secundário de Shibuya.
 O Primeiro Secundário de Shibuya era uma escola especial, comandada por uma organização religiosa conhecida como a Ordem do Demônio Imperial. Olhando de fora, todas as intenções e propósitos do Primeiro Secundário de Shibuya pareciam os de uma escola normal. Mas a verdade era que praticamente todos os alunos ali eram os filhos e daqueles que pertenciam ao Demônio Imperial e que acreditavam em seus ensinamentos.
Porém, não bastava se ser do Demônio Imperial. O Secundário de Shibuya era uma escola de elite. Ela era aberta apenas para os mais brilhantes alunos, escolhidos dentre os partidários por todo o Japão.
Esse era o segredo obscuro do Primeiro Secundário de Shibuya. Ou seja...
“Todos aqui podem ser uma ameaça. ”
Guren olhou para os outros alunos. Todos eles pareciam empolgados com o início das aulas. Shigure avançou e começou a caminhar ao lado de Guren. Ela estudou a multidão e então deu um riso condescendente.
“Eu duvido que qualquer um desses pivetes do Demônio Imperial tenha tanto poder no corpo todo como você tem no dedo mindinho, Guren-sama. ”
“I-Isso mesmo! ” Sayuri cantarolou. “Aqueles Hiiragi se acham os todo-poderosos. Nós devíamos mostrar a eles do que o herdeiro do Clã Ichinose é capaz. Por que não dá a todos eles uma boa surra, Guren-sama? ”
O Clã Hiiragi eram os líderes da Ordem do Demônio Imperial. Eles controlavam a organização desde que ela tinha surgido, há 1200 anos.
O Clã Ichinose tinha se separado do Clã Hiiragi cerca de 500 anos atrás, formando a Ordem da Lua Imperial. O relacionamento entre as duas organizações era ruim desde então.
Infelizmente, o Clã Hiiragi rebaixava o Clã Ichinose tanto em tamanho quanto em poder. Como resultado, os Ichinose juraram não desafiar os Hiiragi. Ao menos, não abertamente.
“A única razão para virmos para essa escola é porque eles querem manter o herdeiro do Clã Ichinose à vista enquanto ainda é jovem. Eles só querem você na palma da mão deles”, disse Shigure.
Shigure era uma serva leal do Clã Ichinose.
“Isso mostra o quão fracos eles realmente são”, ela continuou. “Os Hiiragi estão com os dias contados e eles sabem disso. ”
“Exatamente! ” Sayuri falou. “Eu estava pensando a mesma coisa. Não se preocupe, Guren-sama. Aposto que a gente podia acabar com qualquer um aqui! ”
“Não sou eu quem está preocupado”, disse Guren, virando a cabeça para Sayuri. “Quem está fazendo esse alarde todo é você. ”
“Aaaii! ”
“E quanto a você, Shigure... ” Guren falou, olhando para o topo da cabeça dela.
“Sim, senhor? ”
“Você estava chamando os Hiiragi de pivetes agorinha... ”
“Ah, perdoe-me por isso. Eu falei sem ser chamada. Às vezes o Clã Hiiragi me dá tanta raiva que eu me deixo levar... ”
“Não estou reclamando dos seus modos. ”
“Então o que foi? ” Shigure perguntou, inclinando a cabeça.
“Se está julgando pela aparência”, disse Guren, ainda olhando para ela de cima, “você é quem parece uma piveta pra mim. ”
“Ah! ”
Apesar de ela normalmente ter uma expressão inabalável, Shigure corou ligeiramente e mordeu o lábio inferior.
“Está me dizendo isso só porque sabe que eu fico irritada com o meu tamanho? ”
“Haha. Na verdade, eu disse aquilo porque vocês duas estão subestimando o Clã Hiiragi. Eu vou falar mais uma vez. Não se descuidem. Nem por um segundo. Nós temos que ficar de guarda o tempo inteiro. Fora nós três, ninguém nesta escola é leal à Lua Imperial. Eles são todos inimigos. Cada um deles. ”
O que Guren disse era verdade. Eles estavam entrando em território inimigo. E os outros alunos possuíam o forte apoio do Clã Hiiragi.
Mas isso era um achado. Porque eles estavam no caminho para o Primeiro Secundário de Shibuya.
Era o primeiro dia numa escola completamente controlada pelos inimigos deles.
Shigure e Sayuri trincaram as mandíbulas, apreensivas.
Talvez elas tivessem finalmente notado quantos pares de olhos estavam direcionados a eles. Ou quantos alunos estavam murmurando sobre eles às suas costas.
 —O que estão fazendo aqui...
—Olhe os broches nos uniformes deles. Não são do Demônio Imperial...
—São aqueles vermes Ichinose. Lembra? A escola está fazendo obra de caridade esse ano...
 Os sussurros se espalharam como fogo pelos alunos.
Guren levantou a cabeça cautelosamente.
Ele sentia seus olhares. Havia pelo menos uma centena de pares de olhos nele. Aqueles olhos eram frios, cheios de zombaria e desprezo evidente.
“Estão rindo de nós”, disse Shigure.
“Você vai se acostumar”, disse Guren. “Não faça nada. ”
“Mas... ”
“Eu disse para não fazer nada. Enquanto estivermos aqui, vamos manter a cabeça baixa e esconder o nosso poder. Não há razão para nos deixarmos levar e agirmos que nem crianças. Não queremos sujar nossas mãos. ”
Guren se virou para suas duas seguidoras, levantou as sobrancelhas e lançou a elas um sorriso privado.
Nenhuma das duas parecia muito feliz com a ideia. Mas tinha sido o plano de Guren desde o princípio.
Eles manteriam sua força escondida enquanto estudassem ali.
Particularmente, haviam algumas técnicas mágicas que foram desenvolvidas pelo Clã Ichinose e que só eles sabiam usar. Guren não deixaria o Clã Hiiragi ter nem um vislumbre delas.
“,,,”
PLACK
Alguma coisa atingiu Guren na cabeça enquanto ele olhava para Sayuri e Shigure.
Era uma garrafa plástica de refrigerante. Alguém a tinha jogado em sua cabeça. A tampa tinha sido deixada aberta. Guren se virou. Sua cabeça e ombros estavam ensopados de refrigerante grudento.
“Guren-sama! ” Sayuri gritou.
“Aquelas cobras”, Shigure sibilou, tensa, se preparando para atacar.
Guren pôs uma mão sobre o ombro dela para pará-la.
“Deixe isso comigo”, ele disse. Ele não podia ver a cara que ela fazia. Em vez disso, ele levou uma mão à própria cabeça, dando um sorriso acanhado para todos os alunos verem.
“Credo, gente, isso doeu. ”
Os outros alunos caíram na risada estrondosamente. Eles todos eram aliados do Clã Hiiragi.
—Tá de brincadeira!
—Que Fracote! Será que ele vai chorar?
—O que você esperava de um Ichinose?
Guren não sabia quem tinha jogado a garrafa. Mas ele não ligou muito para isso. Afinal, todos ali eram inimigos. Cada um deles.
Por ora, Guren deixou que rissem e zombassem dele.
“Sayuri? Shigure? ” Ele chamou as duas seguidoras ao seu lado.
“Sim? ”
“O que foi, senhor? ”
As vozes delas estavam trêmulas em suas respostas. Não parecia justo. Elas deveriam proteger Guren. Mas em vez disso, ele estava sendo ridicularizado. Era difícil para elas não ficarem tristes.
Guren culpou-se pela tristeza delas. Se ao menos ele fosse mais forte, elas não precisariam se sentir daquele jeito.
Se Guren tivesse a força para acabar com os Hiiragi de uma vez, se o Clã Ichinose tivesse o poder para desafiar o Clã Hiiragi, eles não precisariam passar por essa farsa.
Ele voltou-se para Sayuri e Shigure outra vez.
“Desculpem. Eu sei que vai ser difícil. Mas é só por três anos. Acham que podem ficar comigo até lá? ”
Sayuri e Shigure pareciam prestes a chorar. Não dê essa satisfação a eles... Pensou Guren. Por sorte, as duas ergueram os queixos e corajosamente avançaram até Guren.
“É-É-É claro, Guren-sama. Vivo apenas para servir! ” Sayuri exclamou.
Guren pôs a palma na testa dela e a empurrou para trás.
“Não se deixe levar assim”, ele disse.
“M-M-Mas... ”
“...é verdade, nós vivemos para servir. Isso não é justo”, Shigure entoou. “Se pudesse usar a sua magia, você mostraria a eles. Todos dizem que você é o Ichinose mais poderoso a nascer em mil anos. ”
“Em mil anos, é? Quem disse isso? ”
“Meu...meu pai disse. ”
“Samidare? ”
“Sim, senhor. E todos os outros líderes de clã da Lua Imperial também. Eles dizem que você tem um dom que só se encontra uma vez no milênio e que eles arriscariam as próprias vidas para protegê-lo—”
Guren a interrompeu.
“Eu não sabia que todos pensavam tão bem de mim. ”
“Eles pensam, senhor. ”
“Mas, da próxima vez que ver aqueles velhotes...”
“Senhor? ”
“Diga a eles que tão com um parafuso solto. Como eu posso ser o Ichinose mais poderoso em mil anos se o Clã Ichinose só tem quinhentos anos? Eles provavelmente estão tão gagás que esqueceram como se conta. ”
“H-Haha, acho que tem razão”, disse Shigure. O rosto dela se torceu para um riso sarcástico.
“Se não estou enganada, Shigure, parece que você acabou de sorrir”, Sayuri disse, rindo.
Ao menos as duas pareciam ter se acalmado. Guren deu a elas um último olhar significativo antes de se virar. A maioria dos alunos já se dispersara. As aulas começariam logo.
Eles devem ter percebido que já tinham gastado tempo o bastante pegando no pé do Ichinose fracote.
Os únicos que ficaram para trás eram Guren, agora ensopado de refrigerante pela garrafa que tinha sido jogada nele, e suas duas seguidoras.
“Vamos lá”, ele disse.
“Guren-sama... ” Shigure disse.
“Oi? ”
“Nós somos suas guarda-costas. Nós deveríamos protege-lo. Mas acabou que foi você que nos protegeu. Sinto muito... ”
“Não seja idiota. É o dever de um líder proteger quem o segue. ”
“S-Senhor! ” Disse Shigure, fechando os lábios e ficando quieta.
Sayuri subitamente interrompeu o momento para gritar a plenos pulmões.
“Ei, Yuki-chan? Yuki-chan? Seu rosto está todo vermelho. Por que seu rosto está tão vermelho? Você está corada? ”
“C-Cale a boca! ”
“Ai, ai! Yuki-chan! Ei! Pare de me bater! ”
Vão ser três longos anos, Guren pensou. Ele começou a andar em direção à escola de novo, com uma expressão séria.
Guren já podia ver a escola adiante. Tecnicamente, eles já estavam nos terrenos da escola. A área era além dos limites de pessoas normais.
A estrada para a escola se esticava à frente deles. Era longa e reta, e alinhada entre cerejeiras.
Ela terminava nos portões da escola. Mais alguém, contudo, já estava lá. Um garoto solitário, da idade de Guren.
Ele tinha impressionantes cabelos brancos como neve e vestia o mesmo uniforme que os outros alunos.
O canto de sua boca estava levantado num sorriso torto. Ele definitivamente estava encarando Guren.
O jovem levantou a mão.
A mão direita.
Havia um pedaço de papel entre seus dedos. Guren reconheceu aquilo imediatamente. Era um fuda, uma folha encantada com um feitiço escrito nela. O feitiço era do Clã Hiiragi. O fuda desapareceu subitamente envolto em chamas.
E uma pequena fagulha surgiu em seu lugar.
Era rápido. Quem quer que fosse aquele garoto, ele era habilidoso. Talvez fosse até mesmo um membro do Clã Hiiragi...
... Mas eu consigo desviar.
Guren avaliou o ataque num instante.
Eu posso até contra-atacar.
As sinapses no cérebro de Guren começaram a trabalhar, fazendo cálculos rápidos. Para onde se mover. Que postura tomar. Assim que ele tinha considerado todas as variáveis...
...Guren se moveu.
Imediatamente, ele virou os olhos para a direita, longe do raio de luz. De fato, ele se virou quase completamente, em direção a suas duas seguidoras. Parecia que ele nem sequer tinha visto o feitiço chegando.
O raio atingiu as costas dele.
Guren ouviu um barulhinho, como o de um galho se quebrando. A próxima coisa que notou foi seu corpo todo sendo lançado no ar.
“Nggh! ”
Por um momento, a força do ataque fez com que tudo ficasse preto.
Quando a cabeça de Guren finalmente se clareou, ele percebeu que estava estatelado no chão. Demorou um momento para que ele pudesse se mover de novo.
Sayuri e Shigure estavam gritando alguma coisa. As vozes delas soavam como se estivessem vindo de muito longe. Os olhos de Guren tremeram e se abriram, e ele olhou atordoado para elas. As duas pareciam prestes a chorar.
Essa foi por pouco.
Foi. Não por ele ter sido atingido, mas porque ele quase desviou do feitiço sem pensar. Isso teria revelado ao outro garoto o quão poderoso Guren realmente era.
Mas teria a atuação de Guren sido convincente o bastante? Teria seu atacante sido levado a acreditar que ele era lento e fraco demais para reagir?
“...”
Mais importante, pensou Guren, enquanto esperava seu corpo se recuperar, se fosse uma luta de verdade, eu seria capaz de derrota-lo?
Enquanto isso, Sayuri embalava a cabeça de Guren sobre sua perna.
“Guren-sama! Guren-sama! ” Ela chamava, aos prantos.
“Sayuri? Seus peitos estão na minha cara... ” Disse Guren.
“Aii! ”
Enquanto isso, Shigure estudava o portão com os olhos. Ela estava de pé, protetoramente, na frente de Guren.
“Guren-sama, me perdoe. Eu deveria ter sido mais rápida. ”
“Não é culpa sua”, disse Guren. “Eu deixei que o feitiço me atingisse de propósito. ”
“O quê?! ”
“Você sabe de onde o ataque veio? Teve como reagir logo de cara? Isso a faz parecer mais forte do que eu. E isso me dá uma ideia. Eu quero que vocês finjam que eu sou só um fracote inútil e que eu preciso que vocês me protejam. ”
“Mas... ”
Guren começou a se sentar. Ele segurou a cabeça com cuidado entre as mãos.
“Cara, o que foi que aconteceu? ” Ele disse.
Por um momento, Shigure pareceu confusa, então ela apontou prontamente para o portão.
“Um ataque, Guren-sama. Veio daquela direção”, ela disse.
Ela soou como se estivesse lendo um roteiro.
Guren não se virou para o portão até Shigure apontar para lá.
O garoto ainda estava lá. Ele olhava diretamente para Guren, e o sorriso cínico ainda estava em seu rosto.
“Droga... ” Guren resmungou. “Não sei se ele caiu. ”
Mas o garoto só encolheu os ombros e se virou, indo para dentro da escoa. Guren observou ele se afastar.
“É melhor irmos também”, ele disse.
“Mas você está ferido... ” Disse Sayuri.
“Hã? ” Guren tocou o rosto. Ele parecia estar sangrando. Ele limpou o sangue da mão com a língua.
“Ha, tem gosto de Coca. Tragam-me uma muda de roupas. ”
“Imediatamente”, disse Shigure.
“E procurem por quem quer que tenha me atacado”, Guren completou. “Eu quero saber quem ele é. Ele parece forte. Precisamos ficar de olho nele. ”
“Sim, senhor! ”
Shigure assentiu e começou a andar na direção oposta, para longe da escola.
“Certo, hora da aula”, Guren falou.
Sayuri, no entanto, ainda parecia arrasada.
“E-E-Eu sinto muito, senhor. Eu não fui de muita ajuda... ”
“Você já me ajuda o bastante só de estar aqui comigo. ”
“...”
“Lembre, estamos em território inimigo. Eu não teria trazido vocês se não fossem minhas aliadas de maior confiança. Então enxugue essas lágrimas, tá bem? ”
Sayuri corou e ficou envergonhada.
“A-Ah... M-M-Minha vida é sua, Guren-sama! ”
“Eu não acabei de dizer para não se deixar levar? ”
“Ai! ”
Guren empurrou Sayuri de novo. Ele não pôde evitar rir pela expressão ansiosa dela. Os dois começaram a caminhar rumo à escola.
“Certo, chega de brincadeiras. Vamos lá. Tenho a impressão de que esse vai ser um ano letivo interessante. ”
  E assim, Ichinose Guren, quinze anos, começou seu primeiro dia como um promissor novo aluno de ensino médio.
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matsu-chan · 7 years
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Catástrofe Aos 16 (vol 1): Prólogo - Memórias de Primavera
Heeeeeey, aqui é Matsu!!! Sentiram saudades? XD
Bem, sim, esse livro já tá pronto há algum tempo, mas acabou que só agora eu estou tendo como vir postar tudo por aqui ^^’
Este é o primeiro volume da tão falada série de light novels “Ichinose Guren: Catástrofe Aos 16″ (no original, “Ichinose Guren: jyuuroku-sai no catastrophe”) e ele aborda a história de Guren e seus companheiros conforme o fim do mundo se aproxima deles, oito anos antes do presente no mangá.
Espero que apreciem a leitura!
Quando eu era criança, eu pensava que todos os meus sonhos se realizariam.
Poderia estar com a pessoa que eu amava. Poderia ter as coisas que eu quisesse.
Poderia viver feliz.
Parecia ser tão fácil.
Parecia mesmo.
 “Guren? ”
“…”
“Ei, Guren? Ichinose Guren. ”
“Sim? ”
“Quando nós... Você sabe... ”
“...”
“Quando formos adultos... nós vamos poder nos casar...? ”
“...”
“Nós poderíamos ficar juntos para sempre que nem agora. ”
Ela segurava minha mão enquanto falava. Estávamos sentados na grama verde e fresca. O céu acima de nós estava perfeitamente límpido, sem uma nuvem à vista.
Ela estava tão perto que eu podia ouvir sua respiração. Eu gostava daquele som. Eu gostava da voz dela. Eu gostava de sua respiração. Eu gostava de ouvir seu coração batendo perto do meu. Eu gostava de tudo nela.
Por isso eu não olhei para ela quando respondi.
“Impossível. ”
“Por quê? ” Ela disse. Sua voz vacilou um pouco.
“Você sabe o porquê”, eu disse.
“É por causa... da minha família? ”
“.... Eu pertenço a um clã inferior. E você ao clã principal. Você pode até lidera-lo um dia. Somos de posições diferentes. ”
“Mas... por que isso importa—”
“Porque sim”, eu a cortei.
Ela se calou. Acho que ela devia estar chorando. Ela sabia que era verdade. Lá no fundo, ela sabia. Sua respiração foi ficando irregular e ela apertou mais forte a minha mão. Tão forte quanto podia.
Foi quando nós ouvimos alguém gritando ao longe.
“Lá está ela! ”
“Mahiru-sama! ”
“Ela está com aquela praga dos Ichinose de novo! Ele deve a ter enganado para vir para fora com ele! ”
“Pirralho Ichinose! Conheça seu lugar! ”
Eu ergui a cabeça quando eles se aproximaram.
“Eles vieram te levar”, eu disse.
Seus cabelos acinzentados caíram por sobre o rosto. Eu estava certo, ela estava chorando.
“Eu... quero ficar com Guren”, ela disse a eles, ainda apertando forte minha mão.
“...”
“Eu... Eu... ”
Eu não sei o que ela disse depois. Ela ainda estava falando, mas eu não pude mais ouvi-la.
Eu levei um murro.
Os adultos que vieram leva-la começaram a me socar repetidamente.
“Parem! Por favor, parem!! ” Mahiru gritou.
Mas eles não pararam.
Eles continuaram me batendo e bradando.
“É hora de aprender uma lição, pirralho! ”
“Nós vamos acabar com você! Vocês, escória Ichinose não merecem nem beijar os nossos pés! ”
“Nós vamos mata-lo, seu imprestável! ”
Mahiru. Eu olhei para minha amiga por entre olhos inchados enquanto as pancadas continuavam a chover sobre mim. Eu pertencia a um clã inferior. Mas, de meu lugar baixo e imundo, Mahiru brilhava como o sol.
“Parem! Por favor, deixem ele em paz! ”
Naquele momento, tudo ficou escuro.
Eles deviam ter me atingido tão forte que eu perdi a consciência.
Eu me lembro do cheiro forte e férrico do sangue.
Sobre mim, o céu era amplo, azul e límpido.
E a grama era macia.
Quando eu era criança, eu pensava que todos os meus sonhos se realizariam...
Que eu poderia estar com a pessoa que eu amava...
Que eu poderia ter as coisas que eu quisesse...
Que eu poderia viver feliz...
Tinha parecido ser tão fácil...
Tinha mesmo.
“...poder”, eu murmurei enquanto caía na grama, meus punhos cerrados. “Eu nunca vou ter as coisas que quero na vida...se eu não tiver poder... ”
Quando finalmente consegui erguer a cabeça novamente, eles já tinham arrastado Mahiru para longe. Ela chorava enquanto eles partiam com ela, e olhou para mim.
Ela estava me implorando para perdoá-la. Ela chorou por perdão de novo e de novo.
Desculpe.
É tudo culpa minha. Desculpe.
Mas Mahiru não tinha feito nada de errado.
Foi culpa minha. Por não ter mais poder. Por ter nascido num clã tão fraco.
“...”
Eu a vi partir e estendi minha mão.
Para o céu claro.
Para o sol.
Para Mahiru.
E comecei a pensar. Sobre o quão longe eu precisaria ir antes que meus braços fossem longos o bastante para capturarem os meus sonhos...
***
Mas, antes que eu percebesse, toda uma década de amanhãs se passou.
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matsu-chan · 7 years
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História Bônus: Yuu e Guren Encontram a Animate
4 anos se passaram desde “Animate encontra Guren”
“Ei, Guren. ”
“...”
“Estou falando com você, Guren”, Yuu tentou chamar a atenção de Guren.
Mas Guren nem olhou para ele.
Yuu ergueu os olhos para as costas de Guren. Ele tinha costas largas. Yuu tinha apenas 13 anos, então ele ainda não conseguia ficar da altura de Guren.
“Aonde é que está me levando? ” Yuu perguntou.
“Você não tem educação nenhuma, então para um lugar onde você possa se educar um pouco”, Guren respondeu.
“Nós vamos treinar? ”
“Treinar, é, bem, não exatamente, mas, hã~ é, isso, algo assim, eu acho. ”
“E-Então! Quer dizer que finalmente vai me dar o poder para matar vampiros?! ”
“Quer saber? Só cale a boca e me sigo, pirralho. ”
“Eu não sou mais criança, tá bem?! ”
“Ah, é? Então é baixinho, mesmo já sendo adulto? ”
“E-Eu ainda estou crescendo! ”
“O que nos traz de volta ao início e faz de você uma criança, não? ” Guren apontou irritantemente e riu, ainda sem se virar para olhar para o menino.
Yuu o seguiu, com os olhos nas costas de Guren.
As costas de um adulto de verdade, caminhando por um mundo devastado. Cinco anos antes, um vírus desconhecido saiu de controle e supostamente matou todos com pelo menos 14 anos, incluindo, é claro, todos os adultos. Então por que Guren tinha sobrevivido?
A questão flutuou pela mente de Yuu por um momento, mas, com a mesma rapidez, ele deixou de se importar. As razões não importavam para ele. Ele não podia se importar menos, contanto que ele pudesse se vingar dos vampiros. Se ao menos ele pudesse pagar na mesma moeda aos vampiros que mataram sua família – mataram Mika – então ele...
Bem aí, Guren parou em frente a um certo prédio.
“Aqui, esse é o lugar aonde eu queria vir hoje. ”
“Aqui? ”
Yuu moveu sua atenção para a construção, mas era só um pobre prédio que parecia estar abandonado.
“Que tipo de treinamento se pode fazer aqui? ”
“Você conhece a Animate? ”
“‘Animate’? O que é isso? Eles fazem animes ou algo assim? ”
Com a pergunta de Yuu, por alguma razão, Guren assumiu uma estranha expressão de triunfo, enquanto ele implicava:
“O quê? Você nem sabe o que é a Animate, é? ”
Mas Yuu nunca tinha ouvido aquele nome, “Animate”, antes. Ele não sabia muito sobre o mundo, para começar. Seus pais o abandonaram quando ele tinha oito anos e ele foi levado a um orfanato. Pouco depois, o mundo foi destruído e ele foi pego pelos vampiros e forçado a passar seus dias preso no subterrâneo.
Para piorar, ele mal tinha memórias de sua vida antes de isso acontecer. Quando ele tentava lembrar, tudo o que lhe vinha era uma tela em branco.
Por isso, ele só reiterou a questão:
“O que é Animate? Eu vou poder matar vampiros se eu treinar aqui? ”
“No mínimo, você vai aprender a ler”, Guren respondeu.
“Mas o quê?! ”
“Como você cresceu numa cidade de vampiros, você mal sabe ler em japonês, certo? ”
“Eu preciso saber ler kanji para matar vampiros? ”
“O EDIJ é uma organização fortemente enraizada em feitiços e encantamentos. Uma ova que você vai ficar mais forte sem entender japonês. ”
“...Bom, talvez tenha razão... Então o que eu tenho que fazer? ”
Em resposta, Guren apontou para o prédio da Animate:
“Vá lá dentro, encontre um livro chamado ‘A Lenda dos Lendários Heróis’ e leia todos os volumes. ”
“A Lenda dos... O quê? ”
“‘A Lenda dos Lendários Heróis’. ”
“Ahh... É, tá bom, eu acho... Espere, por que esse sorrisinho? ”
“Nada, nada, não ligue para mim. Só lembrei de algo que me fez sorrir. ”
“Eu quero saber o que você lembrou. ”
“Não é da sua conta. Só vá até lá e comece a ler. Eu tenho que cuidar de outra missão, mas eu vou voltar, então vá estudar enquanto isso. ”
Yuu assentiu e, então, se aventurou para dentro da Animate.
De início, ele não sabia o quão fundo ele deveria ir na loja para encontrar o livro que buscava, mas por sorte o canto das light novels parecia ter a série em questão. O autor era Kagami Takaya. O número deles... incluindo os spin-offs, eles somavam não menos do que 45 volumes.
“Hããããããã?! Aquele idiota não pode estar falando sério! Ele quer que eu leia tudo isso? Vai se ferrar! É impossível! ”
Apesar de seu desespero, Yuu começou a ler.
O gênero do livro era fantasia. Um protagonista desmotivado que não tinha família e desistia de si mesmo tinha seu coração salvo por seus companheiros e, enquanto numa jornada para se reencontrar, se envolvia em lutas e guerras, e o enredo também o fazia confrontar a escuridão que habitava o coração de seu melhor amigo, que segurava o mundo nos ombros por ser o rei de um país.
Aquele tipo de conteúdo fez Yuu se perguntar algo.
“...Mas o quê, esse é o jeito do Guren de me falar para ir fazer amigos também, ou sei lá? ” Ele resmungou baixinho, mas continuou a ler.
Guren estava mesmo levando o seu próprio tempo para voltar. Ele já estava longe por 3 dias, mas, de novo, ele sempre fora esse tipo de pessoa, então Yuu não deu importância a isso e apenas continuou lendo.
Antes que soubesse, Yuu tinha terminado todos os volumes. Quando estava perto do fim, ele percebeu um pedaço de papel preso nas últimas páginas do último volume.
“O que é isso? ”
Acabou que era um recado de Guren, que dizia:
“Na verdade, A Lenda está incompleta. O autor morreu pelo vírus, cinco anos atrás. Em outras palavras, você nunca saberá como essa história deveria acabar. ”
“Queeeeeeee?! ”
Yuu gritou, se deparando com Guren, que acabara de retornar e comentou alegremente:
“Eu vejo um otário~”
Foi nesse momento que Yuu jurou para si mesmo que ele ficaria mais forte e, algum dia, faria Guren ver só.
Ouvindo aquilo, Guren riu:
“Certo, bom saber que você encontrou outro objetivo além de matar vamp—”
“Cale a boca! ”
“Hahaha. ”
Posfácio
Brincadeiras à parte, eu adoro demais a Animate-sama e acredito veemente que eles vão colocar todos os volumes da minha “Lenda dos Lendários Heróis” perto de “Owari No Seraph”. Eu espero que todos vocês que leem “Owari No Seraph” também deem uma olhada na Lenda! Eu conto com vocês, senhoras e senhores!
Kagami Takaya
Notas de Tradução
O Guren é com toda certeza o maior troll que eu já vi kk porque a pessoa não consegue superar que sua série favorita parou sem um final, ela tem que fazer outra pessoa ler também só pro outro sofrer também! Kkkkk
O Kagami-sensei fala TANTO de “DenYuuDen” (apelidinho que ele usa pr’A Lenda) que eu quero muito encontrar por aí os volumes para poder ler também...... Mas aí eu sofri junto com o Yuu vendo que são mais de 45 volumes :’D Talvez um dia, quem sabe...
Obrigado por lerem, pessoal!
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matsu-chan · 7 years
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História Bônus: Animate Encontra Guren
Esta é uma das histórias bônus que estão no fanbook 108 de Owari No Seraph e, porque não, a nossa equipe resolveu traduzi-la XD
Boa leitura!
Um ano atrás, o mundo de repente teve fim.
Humanos ficaram muito arrogantes com seus sucessos. Um vírus criado arificialmente se propagou, matando a maioria da população com pelo menos 13 anos.
No lugar onde eles estavam, Shibuya, que no passado era na grande cidade de Tóquio, agora mal se viam humanos.
Ichinose Guren encarava o prédio abandonado, com um olhar distante.
Bem aí, uma voz veio de trás dele.
"Oi, desculpe por te deixar esperando."
Guren virou o rosto e Hiiragi Shinya ficou visível. Ele segurava uma dúzia de volumes de mangá nas mãos.
Guren não pôde evitar de perguntar: "Qual é a de todos esses mangás?" "Ah, bem, tinha um monte nesse prédio, sabe~?" "O que aconteceu com a missão?" "Foi fácil e limpa. Não tem vampiros nem monstros no prédio. Ele pode ser incluído no plano de reconstrução de Shibuya." "Então é assim." "Uhum." "Então, que tipo de mangá é que você está lendo?" "O protagonista desse aqui é um pirata. É incrível. Ele estica, sabia? Tipo, blooing!" "O que era pra ser isso?" "É a parte legal, eu to dizendo."
Aí, Mito veio do mesmo edifício, também carregada de mangás.
"Você também não", Guren suspirou exasperado, mas Mito nem ergueu o rosto, imersa no mangá que estava lendo. "Só mais um segundo, Guren. Estou numa parte boa." "Que parte boa?" "A parte em que aparece um titã." "Esse titã é mais assustador que vampiros?" "Bem, ele certamente é maior." "Hmph. Parando pra pensar, por que de repente vocês estão com todos esses mangás? O que diabos era esse prédio?"
Quem respondeu foi Goshi, saindo de lá com alguns mangás em mãos que, julgando pela capa, eram claramente de hentai. "Animate, Guren. Era uma loja Animate." "O que é isso? Eles fazem animes ou algo assim?" "Hã?! Você não sabe o que é a Animate?!" "...O que há com esse clima, como se fosse algo que todo mundo deveria saber e que é uma vergonha não saber?" "Mas você não sabe mesmo, né?" "...Pra começar, tem alguma necessidade disso? O mundo está em ruínas, caso não tenham notado." "Bem, você está perdendo bastante não sabendo isso. Enfim, você devia ir lá e ver por conta própria." "Não temos tempo para--" "Vai, vai", Goshi o pressionou.
Indo explorar, Guren entrou no prédio que abrigava a loja da Animate no passado.
Lá dentro, ele encontrou todo tipo de mangá, DVD de anime, CD e livro, espalhados por toda parte, e também Shigure e Sayuri no canto dos mangás de shoujo., completamente absortas na leitura. Por alguma razão, elas pareciam estar se divertindo muito.
Após observá-las por um tempo, Guren se abaixou e pegou um livro dentre as light novels largadas no chão. Era uma novel chamada "A Lenda dos Lendários Heróis", de um certo Kagami Takaya, estrelando um protagonista terrivelmente desmotivado. Virando a págica, Guren se perguntou se um cara preguiçoso assim poderia desempenhar qualquer papel relevante, ficando imerso na história de tirar o fôlego, e quando ele parou de ler...
"...Tá de brincadeira."
O que tinha acontecido? Antes que ele soubesse, o sol já tinha ido embora.
Bem, isso era um saco. Não dava mais para eles terminarem a missão hoje. Se Guren tivesse vindo para esse lugar antes do fim do mundo, ele teria se divertido muito, sem dúvidas, mas agora o mundo estava em ruínas. Se ele e sua unidade não dessem seu melhor, o pouco restante da humanidade também pereceria.
Por isso, suprimindo o seu desejo de ler a série de volumes na ordem, Guren pegou o último volume de "A Lenda dos Lendários Heróis", pensando que talvez se ele soubesse como a história terminava, ele seria capaz de viver sem ler a série toda.
Mas o final da história era o pior possível, o que quer dizer que não havia final algum, porque a história não fora finalizada. E era bastante improvável que o autor tivesse menos de 14 anos, o que significava que aquele homem estava muito provavelmente morta agora, após ser pego pelo colapso do mundo.
No momento que percebeu isso, Guren ergueu os olhos do livro, com uma determinação de aço, e disse para seus membros de esquadrão: "Ei, pessoal! Não é hora para ficarmos nos perdendo em coisas assim! Estamos voltando agora! Para lutar contra vampiros!"
Com isso, todos os membros do esquadrão levantaram as cabeças ao mesmo tempo, em protesto: "Quê~?!?!"
(Continua na história "Yuu e Guren Encontram a Animate")
Posfácio
Eu espero que a Fujimi Fantasia Bunko, a marca que publicou meu "DenYuuDen" (Densetsu no Yuusha no Densetsu - A Lenda dos Lendários Heróis) não se zangue comigo por escrever isso... Eu provavelmente preciso chamar o meu editor assim que possível! Por sinal, eu não morri, então eu vou escrever a continuação. Só pra deixar claro.
Kagami Takaya
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matsu-chan · 7 years
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Usually I just do not reblog stuff, but this one deserves it. So true...
There's nothing wrong with sex, people.
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matsu-chan · 7 years
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Oooooi o/
Finalmente consegui terminar de postar tudo referente a Vampiro Michaela! Yay! Então isso aqui é um masterpost pra vocês se guiarem melhor ^^
VOL 1:
Prólogo Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Epílogo Posfácio
VOL 2
Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Epílogo Posfácio
Muitíssimo obrigada por lerem! Sintam-se à vontade para divulgarem meu trabalho de tradução (contanto que me dêem os devidos créditos). E se quiserem mais conteúdos exclusivos de Owari No Seraph traduzidos para português, curtam a página de nossa equipe, Seraph Universe no facebook XD
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