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Ode à solidão
Voz ofegante, suor escorrendo na testa, as palavras saem da boca receosas. Ode prossegue sua história, com olhos cerrados e franzidos tentando preencher as lacunas do passado: — Ela está no banheiro em pé de frente ao espelho, parece não reconhecer o rosto que vê. Tateia as fissuras das rugas, elas estão tão secas, ásperas e escuras. Consigo tocar sua pele, posso ver através de seus olhos, mas não consigo pará-la. Apaga a luz sem se despedir de mim, sem se despedir do que via. Estou do lado de fora do quarto, espiando pela fresta. Ao lado da cama um copo quase sem água, e a foto da vovó em cima de uma  escrivania. Ela olha em minha direção, ela sabe que estou ali, mas eu não consigo entrar. Meu corpo está alinhado com o dela sobre a cama, nossos corpos pesam sobre a cama, afundando, sem chegar a lugar algum. Uma voz ecoa, eu tento abrir os olhos, ela tenta retornar, mas é como se estivessemos e estamos ancoradas naquele lugar. Uma voz ecoa reverberando a palavra “mamãe”.
Ode tenta continuar a narrar a cena, mas não consegue dizer o que acontece depois, apenas balbucia, parece não conseguir sair daquela situação. Um estalar de dedos quebra o sussurro. Palavras se formam em uma voz de criança: — Papai, mamãe comeu todas as balinhas do potinho. Papai subiu as escadas correndo, eu estou sozinha na sala… Mamãe.
No divã na sala da pscioterapeuta grita: Não consigo compreender porque ela(s) fizeram isso, eu, apenas, só tinha eu - debulhando-se em lágrimas- seis.. só seis anos!
Ode, você disse elas? Pergunta a Dra Sophia. Ode pega as sua bolsa e sai pela porta sem se despedir.
Os passos estão pesados, não consegue respirar. Por alguns minutos para em frente a vitrine de uma loja, encosta sua testa e embaça o vidro com o a sua respiração ofegante. Tenta enxergar seu rosto, mas seus olhos estão carregados. Retoma o passo, olha para o relógio e se dá conta que precisa ir, o tempo não para.
Entra em um restaurante qualquer do centro velho de São Paulo. Com um sorriso Monalisa pergunta onde é o banheiro, avisando que vai aproveitar para almoçar. O garçom de imediato lhe entrega a chave, Ode caminha lentamente para o toilette. Ao entrar olha-se de imediato no espelho, desconhece o rosto que vê. Tateia as jovens linhas que estão surgindo perto dos seus não tão jovens olhos. A luz do banheiro pisca. Ode retira da bolsa um daqueles sabonetes de hotel, rasga a embalagem com cuidado, ensaboa as mãos e esfrega o rosto com intensidade. A água está quente assim como o dia lá fora. Tira o estojo de maquiagem  da bolsa, deixando cair seu RG no chão. Ao pegar a sua identidade, fixando os olhos na foto de dez anos atrás, observa o corte de cabelo chanel que usava e que era tão juvenil. Olha-se ao espelho, percorre o rosto com as mãos; para os dedos em meio aos olhos naquela linha triangular de preocupação. Esfrega os dedos com intensidade sobre esta área - desiste - apela para maquiagem. A luz do banheiro pisca. Colori seus lábios com batom, aquele com nome de atriz, tão em alta, opaco, mas inacreditavelmente, é da cor idêntica ao batom preferido da sua mãe: cereja.  Observa-se mais uma vez, apaga a luz  permanecendo ali por alguns minutos.
Caminha pelo salão levantado olhares, mas infelizmente não se dá conta. Senta-se em uma cadeira próxima à janela e solicita um cardápio. A TV anuncia a tentativa de suicídio de uma mulher de 45 anos no mar. A notícia viralizou pela internet (clique aqui): “Após a ingestão exagerada de álcool, turista foi salva por um pescador, que pasmem, era conhecido da suicida em potencial, vejamos a reportagem.” Ode desvia o olhar do televisor, olha atentamente ao cardápio, vira as páginas até  a carta de vinhos. Suas mãos tremem, ela estava indo tão bem. Passa os dedos entre as letras e sente o gosto do álcool. Engole seco a saliva e pede um suco forte de uva para viagem.
Passos firmes em direção à estação de trem, passa a catraca e continua a andar apressadamente. Uma estranha grita seu nome “Ode! Seu nome é ode?”, Ode não consegue responder verbalmente, diz que sim com a cabeça. A estranha tira da bolsa uma carteira de identidade, olha para o rosto de Ode e diz: “Você fica bem de qualquer jeito hein, acho que isto te pertence.” Uma lembrança súbita atravessa seu raciocínio “Ode, Ode, pega pra  mamãe o RG, você sabe o que é RG? É um documento que diz quem você é!”
A estranha repara um silêncio esmagador e tenta trazer de volta aquele ser humano petrificado em sua frente, indaga: “Você está bem?” Ode pega a identidade das mãos da estranha. Retoma os passos, e ao longo do caminho agradece a estranha com um movimento lento com a cabeça. A mulher aproxima-se e indaga: “Você não quer saber onde eu encontrei?” Ode olha para trás, fixa os olhos na estranha e responde: “No lixo, certo?”
Sons de buzinas, pneus derrapando, pombos comendo coisas grudadas no asfalto, fumaça cinza inaladas junto aos aromas dos cigarros, fios elétricos caídos, farol vermelho, por alguns segundos: silêncio. Desce as escadas do anhangabaú, tantas coisas aconteceram ali em frente aquela estação, partidas e chegadas de pequenas revoluções.
O próximo trem vem daqui três minutos, uma multidão se reúne em frente a porta. O celular denuncia seu atraso, o trem chega, o aglomerado se aperta no enlatado, Ode paralisa-se em meios aos empurrões e de súbito volta para trás.
Quatro trens passaram, o celular não para de tocar, Ode respira profundamente e então resolve entrar. Apoia-se no varão de metal retira da bolsa o livro “Intermitências da Morte” de José Saramago, lê baixinho a dedicatória que sua amiga Mai lhe fez alguns anos atrás, “Cada um de nós tem a sua própria morte, transporta-a consigo num lugar secreto desde que nasceu, ela pertence-te, tu pertence-lhe.”
“Next Station” abre o vagão permeado por ambulantes que entram anunciando suas mercadorias, com seus olhares desconfiados atentos a todos os lados, eles sabem que perder a mercadoria é perder o pão de cada dia. Uma música soa cortando os anúncios do shopping trem trazendo leveza para o lugar. Um violoncelista chamado Casca Grossa, elegantemente vestido com seus humildes trajes toca seu instrumento em um embalo sereno, acompanhado de um poeta que anuncia: “Senhores e senhoras! A companhia de Teatro da Cidade encantará aqueles que ainda não sabe que estão encantados - pausa - com a vida. Aos moribundos minha saudação!” Pandeiros tocam, sorrisos se despertam. Quatro atores recitam e cantarolam em uma versão, bem humorada, a canção: canto para minha morte de Raul Seixas.
“Vou te encontrar Vestida de cetim
Pois em qualquer lugar
Esperas só por mim
E no teu beijo”
Embalados por aquele som os passageiros seguem de volta para suas casas. Ouve-se o anúncio: “Próxima estação Terminal Barra funda.” Ode sai apressada seguindo o fluxo.
Chega na Blue Space, sorrindo, sem deixar vestígios do silêncio do seu dia. Vai para o camarim, lava o rosto intensamente, observando as linhas que o sorriso anterior deixou. Vai para o camarim, maquia-se, escolhe um batom na cor violeta, preenche os lábios. Na parede perucas penduradas; longas, lisas, encaracoladas, pretas, loiras, ruivas, e a divina black power. São tantas perucas que Ode pode escolher ser quem quiser ser. Escolhe uma peruca chanel, lembrando Catherine Zeta Jones no filme Chicago, como muitos anos atrás em seu primeiro espetáculo.
“Sua cor negra ficou tão bem com o batom cor de vinho,” disseram.“Você aceita um conhaque? Você quer dançar? Vem aqui dançar, quanto você vai cobrar? Qual o seu nome? Quantos anos você tem? Mais uma vez, cala boca!”
Na madrugada, o cansaço não se disfarça, Ode sente o corpo machucado e manchado. Sem peruca e sem maquiagem caminha em passos retos na direção da estação de trem, carregando Saramago como se fosse sua melhor amiga. Pega o quarto trem depois de sua chegada, resolve abrir o livro, conversa com alguém depois de muito tempo, Saramago lhe diz:  “É assim a vida, vai dando com uma mão até o dia em que tira tudo com a outra.” A madrugada se pôs, enquanto segura-se no varão do trem, observa o sol laranja esquentando a sua pele, percebe que faz muito tempo que não sente um abraço quente.
Chega na portaria do seu prédio e, como de costume abre um sorriso intercalado de um bom dia ao porteiro. Sobe as escadas, tem medo de elevador, chega no seu apê e abre a porta, respira fundo, pois sabe que sua boca ficará em silêncio por mais um longo dia. Enche a banheira de água, pega o livro e lê mentalmente.
O celular vibra ao lado da foto da sua vó marcando a hora do seu remédio. Levanta-se e vai até o banheiro. Olha-se ao espelho, tateia o rosto, desconhece o rosto que vê… A barba já arranha ao toque. Um golpe certeiro no espelho, um impulso e vidros espalham-se pelo chão.  Chaves na mão, luzes apagadas, de volta à estação de trem.
“Next station Hebraica-Rebouças” sem saber direito para onde ir, caminha em direção do shopping. A rua estava quase vazia a não ser por duas moças à espera de um táxi. A medida que Ode se aproxima as mulheres se afastam. Um carro se aproxima e as moças entram. O carro passa por Ode com os olhares medrosos e fixos das moças.
Um aperto no peito, uma raiva contida em passos lentos. Tocando sua cabeça,  percebe que saiu de casa sem a peruca, sem as unhas, sem olhos, sem o vestindo, desfigurado e sem batom. Chora mergulhando a cidade nas suas lágrimas, e soluços que ninguém pode ouvir. Continua a andar tentando ajeitar sua calça jeans e camiseta preta, começa a correr desesperadamente encontrando-se no silêncio cinza da Faria Lima. .
O pulmão pede descanso, senta-se na guia, ergue os olhos para cima e depara-se com um grande grafite no muro de um prédio a sua frente: a ilustração de enamorados em cima de uma bicicleta.  Percorre um olhar por todo aquele mosaico de cores e vida. Ao chegar na assinatura do artista, retribuí para obra de arte um breve sorriso.
Levanta-se impulsionando o tronco para frente, dando se conta que a cidade agora é só sua. Mantém os  passos firmes e rápidos na grande avenida. Inspirado pela obra do Kobra, aluga uma bicicleta em um ponto de BikeSampa, inserindo o cartão e agradecendo a escuridão. Segurando o guidão da bicicleta pedala sobre a Teodoro Sampaio gargalhando sobre a rua, que agora escura e suja não poderia lhe fechar os faróis. Cruza a Henrique Schaumann, sentindo o vento bater no peito, sentindo-se livre, absoluto, ao desfilar sobre o viaduto. As marés da Sumaré, o silêncio da cidade e a distância de casa tornaram-se um.  A fuga superou-se; agora é amiga da solidão.  
Um movimento percorre o viaduto, buzinas e rodas derrapam sobre o asfalto, vai começar mais um dia. Ode, em parceria com o silêncio despede-se da cidade, aquela que alimentou-se do seu corpo e mente, que se ergueu do sangue do seus país, aquela que manteve presos seus ideais, aquela que de dia não escuta, aquela que foi sua única e maldita amiga em mais um dia de recuperação: Sampa. Em frente ao muro do viaduto, Ode imagina-se a tocar um violoncelo, compondo uma canção com os ecos do amanhecer, no último compasso um salto, rápido e belo para o mar de asfalto.
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Quando não falamos...
Kauane tem paixão por viagem, porém faz alguns anos que não viaja por não ter condições, pois sua renda é pouca para este privilégio. Todo dia passa na casa de sua amiga Maria, que nestes poucos meses tem sido sua maior companhia, elas vão para shows, bar e à cinemas. Existia algo que a Kauane não conseguia se abrir, era uma dor que sentia perto de seu peito, como se fosse uma angústia e agonia  qual ela diariamente se perguntava o porquê desta dor que há dois anos já faz parte de sua vida. 
Em um certo dia, Kauane e sua amiga Maria foram assistir o filme Pânico, depois do filme, Maria saiu animada e agitada, já Kauane estava morrendo de medo indagando :
- Será que essas coisas acontecem na vida real? Tipo de repente aparece um homem de máscara e começa a nos seguir? Maria responde rindo:
- É claro que não ! Essas histórias acontecem só em filmes.  Kauane aflita rebate: - Sei não hein , sei não... 
Elas tinham que voltar de Uber, pois não tinha ninguém que poderia ir buscá-las. Então chamaram um Uber e saíram do shopping. Nisso aconteceu que passou um homem de camiseta preta, querendo assalta-las. E então chegou o Uber e tudo correu bem. 
Depois disso naquela noite, Kauane dormiu na casa da Maria, pois no outro dia iriam ir para o show de Zeca Pagodinho. Kauane durante essa noite sentiu intensas dores em seu peito, mas conseguiu disfarçar para a Maria. No dia seguinte não aguentando mais aquela dor, foi à cozinha pegou uma faca caminhou lentamente para o banheiro com passos discretos e silenciosos, entrando no banheiro. E então passa sua amiga que acordou apertada para ir ao banheiro e correndo consegue impedi- la de se matar.
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Imagem: Aquarela Marcos Beccari
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Pensamentos de Verão
Em um desses meses de Janeiro, em pleno verão, Odete vê o recomeço do ano novo atrair os mesmos pensamentos de sempre. Não se percebe de fato, sente-se sem futuro, sem idade para a vida. Resolve sair da cidade e viajar até a praia. O destino foi por impulso. A cidade natal de seu pai. Reúne o livro, uma mochila com roupas mínimas. Não pretende ficar muito tempo. Pega o ônibus e na chegada se hospeda na primeira pousada barata que encontra. O dinheiro é pouco.
Na mesma noite em que chega, numa daquelas claras de lua cheia, ela resolve ir até um bar com música ao vivo de covers de rock. O bar fica na encosta do morro de frente para o mar. Odete senta no balcão e pede uma vodka. Quer bebida robusta pra revezar com a cerveja e com água para hidratar. Não tem muito dinheiro. Passou o dia sem se alimentar direito. Tem estado sem fome.
No balcão, um homem se aproxima e a convida para dançar. Ela não aceita, mas o convida para beber. Eles se fixam numa conversa de poucas palavras. O som alto não permite entendimento algum. Num dado momento ela resolve ir ao banheiro. Demora a chegar. Ele vai embora. Do lado de fora, no deck que dá para o mar um aglomerado de pessoas tentam entender o que aconteceu. Uma mulher tinha se jogado no mar. Como o mar estava agitado, ninguém ousou pular. O socorro já havia sido chamado, mas a polícia demorou a chegar. A festa continuava lá dentro. Ninguém comentava o assunto.
Na madrugada, a mulher é encontrada com vida por pescador na beira da praia de madrugada. Ele esquentava seu bote para iniciar a pesca quando foi surpreendido por um corpo boiando e batendo no casco de alumínio. O céu estava estrelado e a lua cheia ajudou a iluminá-la, que vestia uma camisa branca. Assustado, ele pulou na água, desligou o motor, e a puxou para a areia. Tentou acordá-la, mas vendo que ela não se mexia, mediu a pulsação e tentou sentir se ainda havia um coração batendo ali.. Ela ainda estava viva. Imediatamente, colocou-a dentro do carro, que estava parado perto dali. Como o corpo estava pesado, inerte, acabou puxando-a pela areia nos metros finais. No pronto socorro, a equipe de emergência agiu rapidamente. Em cima de uma maca, ela sumiu para dentro do hospital. Sem saber o que fazer, o pescador ficou por ali mesmo, sentado até receber alguma notícia. Seu nome é Bruno. Ele é caiçara, nasceu naquela praia e tem 55 anos. Bruno, queria saber o que havia acontecido com aquela mulher. Logo, uma enfermeira veio procurá-lo para saber se ele era parente.
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Para Maiara Oliveira e Paula Isadora
Em encontros e desencontros, sempre trocamos um pouquinho de nós no caminho. 
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Único
Não devemos julgar a vida dos outros, porque cada um de nós sabe da sua própria dor e renúncia. Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que seu caminho é o único! 
Paulo Coelho 
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PERGUNTAS e RESPOSTAS
01 - O grupo acredita que os personagens, suas características, conversam com suas histórias pessoais?
Sim. Uma delas, inclusive, foi extraída de uma experiência real. A personagem da Patrícia existiu. No entanto, ela procurou alterar características em respeito ao que aconteceu com sua amiga.
Após a junção das histórias, uma personagem foi criada carregando consigo características de cada mulher observada nos mais variados locais. Porém, o fator psicológico que desencadeou a tentativa de suicídio foi o mesmo: a bipolaridade.   
02 - Qual a importância do livro do Saramago para as suas tentativas de suicídio? De um certo modo, o livro ajudou a desencadear essas tentativas?
O livro foi inspiração de uma das personagens do grupo. Como força narrativa, aborda a morte de outra maneira, e se transformou em característica da personagem final, híbrida, leitora, ainda em formação. Não  finalizamos a história. Mas tenderá a dar sustentação ao conflito.
03 - Quanto o livro do Saramago atentou a Odete na tentativa de suicídio, se o livro fala somente da morte natural?
O livro “Intermitências da Morte” não fala apenas de morte natural. Na história, Saramago fala de um local que a morte deixa de existir, mas as pessoas continuam envelhecendo, ficando gravemente doentes e acidentes graves continuam acontecendo. A ideia central do livro é mostrar o quão angustiante seria a vida sem a morte.
04 - Por que a personagem estava preocupada com a manchete de seu suicídio?
Acredito que o grupo desta pergunta entendeu algo errado durante a apresentação da nossa personagem Odete. Ela, em momento algum, estava preocupada com a manchete do suicídio.
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Cenário
A mulher está em pé lendo “Intermitências da Morte” de José Saramago. Ela segura a barra de ferro do trem com uma mão e com a outra segura o livro. Lê rapidamente e quando termina uma página, tira a mão da barra e troca de página rapidamente para não perder o equilíbrio. Na estação de conexão, ela interrompe a leitura, fecha o livro, guarda na bolsa e olha ao seu redor. Nesse momento, ela volta ao mundo real.
Personagem
Ela se chama Odete Rosa. É solteira e tem 45 anos. De estatura média, Odete alcança 1m68cm.
É morena, magra e tem os cabelos pretos, cacheados, na altura do queixo – ao estilo Chanel. Cursou engenharia, mas não concluiu. Não trabalha formalmente. Seu último emprego foi numa escola como assistente administrativa. Vive de pequenos serviços de tricô e crochê e do aluguel de um quarto que subloca em sua casa própria em São Paulo, herdada do pai que faleceu. Sua mãe também se foi quando ela era pequena. Odete não tem irmãos.
Seu emocional alterna da euforia à tristeza. Já foi diagnosticada bipolar. Está medicada. Odete vive sozinha, aparentemente, numa boa. Elegante, tem estilo bonito-fashion de ser. Chama a atenção por onde passa. Consegue ter relacionamentos afetivos, mas todos eles são fortuitos. Não consegue mantê-los por muito tempo. Prefere interagir com os personagens dos livros que lê. 
Seu livro de cabeceira atual aborda o tema da morte como a “ossuda, que cansada de ser detestada pela humanidade, resolve suspender suas atividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder 'passar desta para melhor”.
 A tentativa de suicídio
Mulher resiste a vida depois de tentar se matar em alto mar.
Em um desses meses de Janeiro, em pleno verão, Odete vê o recomeço do ano novo atrair os mesmos pensamentos de sempre. Não se percebe de fato, sente-se sem futuro, sem idade para a vida. Resolve sair da cidade e viajar até a praia. O destino foi por impulso. A cidade natal de seu pai. Reúne o livro, uma mochila com roupas mínimas. Não pretende ficar muito tempo. Pega o ônibus e na chegada se hospeda na primeira pousada barata que encontra. O dinheiro é pouco.
Na mesma noite em que chega, numa daquelas claras de lua cheia, ela resolve ir até um bar com música ao vivo de covers de rock. O bar fica na encosta do morro de frente para o mar. Odete senta no balcão e pede uma vodka. Quer bebida robusta pra revezar com a cerveja e com água para hidratar. Não tem muito dinheiro. Passou o dia sem se alimentar direito. Tem estado sem fome.
No balcão, um homem se aproxima e a convida para dançar. Ela não aceita, mas o convida para beber. Eles se fixam numa conversa de poucas palavras. O som alto não permite entendimento algum. Num dado momento ela resolve ir ao banheiro. Demora a chegar. Ele vai embora. Do lado de fora, no deck que dá para o mar um aglomerado de pessoas tentam entender o que aconteceu. Uma mulher tinha se jogado no mar. Como o mar estava agitado, ninguém ousou pular. O socorro já havia sido chamado, mas a polícia demorou a chegar. A festa continuava lá dentro. Ninguém comentava o assunto.
Na madrugada, a mulher é encontrada com vida por pescador na beira da praia de madrugada. Ele esquentava seu bote para iniciar a pesca quando foi surpreendido por um corpo boiando e batendo no casco de alumínio. O céu estava estrelado e a lua cheia ajudou a iluminá-la, que vestia uma camisa branca. Assustado, ele pulou na água, desligou o motor, e a puxou para a areia. Tentou acordá-la, mas vendo que ela não se mexia, mediu a pulsação e auscultou o coração. Ela ainda estava viva. Imediatamente, colocou-a dentro do carro, que estava parado perto dali. Como o corpo estava pesado, inerte, acabou puxando-a pela areia nos metros finais. No pronto socorro, a equipe de emergência agiu rapidamente. Em cima de uma maca, ela sumiu para dentro do hospital. Sem saber o que fazer, o pescador ficou por ali mesmo, sentado até receber alguma notícia. Seu nome é Bruno. Ele é caiçara, nasceu naquela praia e tem 55 anos. Bruno, queria saber o que havia acontecido com aquela mulher. Logo, uma enfermeira veio procurá-lo para saber se ele era parente.
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Suposto motivo, por Patrícia Leite
Uma mulher de 48 anos é encontrada com vida por um pescador na beira da praia de madrugada, antes de amanhecer. Ele, que esquentava o seu bote para iniciar a pesca, foi surpreendido por um corpo boiando e batendo no casco de alumínio. 
O céu estava estrelado e a lua cheia ajudou a iluminá-la, que vestia uma camisa branca. Assustado, ele pulou na água, desligou o motor, e a puxou para a areia. Tentou acordá-la, mas vendo que ela não se mexia, mediu a pulsação e auscultou o coração. Ela ainda estava viva. Imediatamente, colocou-a dentro do carro, que estava parado perto dali. Como o corpo estava pesado, inerte, acabou puxando-a pela areia nos metros finais.
Por causa da hora, chegou no pronto socorro rapidamente. A equipe de emergência agiu rápido. Em cima de uma maca, ela sumiu para dentro do hospital. Sem saber o que fazer, o pescador ficou por ali mesmo, sentado ate receber alguma noticia. Queria saber o que havia acontecido e se ela acordaria. 
Depois de esperar 15 minutos, uma enfermeira veio procurá-lo para saber se ele era parente. O pescador falou que não e explicou o que havia acontecido, dando alguns detalhes. Foi ai que uma outra enfermeira saiu da sala de emergência e disse que viu um telefone tatuado no braço da moca. Pediram para ligar. Atendeu um homem que se disse ex namorado/marido e que sabia quem ela era, nome e tudo o mais. Ela se chama Paula. Mas ele não estava no Estado de São Paulo. Demoraria a chegar. Pediu então que ligassem para a mãe idosa dela, que morava na mesma praia. A essa altura já eram 6 da manha. Dali 30 minutos, exatamente as 6h30 chegava a mãe da moça acompanhada de outras duas mulheres. Extremamente abalada, a senhora foi logo dizendo que era a terceira vez que a filha tentava se matar. Imediatamente, elas foram encaminhadas para perto da Paula; já sabiam que ela dormia, depois de ter sido reanimada. Por causa do ocorrido, a policia também tinha chegado, dizendo que, sem pistas no mar, tinham decidido parar as buscas naquela noite. Eliminadas as duvidas com relação ao pescador, ele foi dispensado depois de um pequeno interrogatório e boletim assinado ali mesmo. Foi ali que ele encontrou com as duas mulheres que chegaram junto com a mãe para dar depoimento também. Bem abatidas, elas contaram como a trágica historia tinha começado.
Na noite anterior, as três, que se conheciam ha alguns anos, chegaram juntas na festa la pela meia noite. O local era um bar com musica ao vivo de covers de rock que acontece todos os sábados. O bar ficava na encosta do morro que dava para o mar. Logo na chegada, enquanto elas esperavam uma mesa, Paula, pediu para ir ao banheiro enquanto as amigas se acomodavam em uma mesa. Quando perceberam que ela demorava para voltar, uma delas foi ate o banheiro. Ele ficava no deck de fora, pendurado no mar. Naquele momento, ja havia um aglomerado de pessoas tentando entender o que tinha acontecido com a moca que tinha se jogado no mar. O socorro já havia sido chamado. Como o mar estava agitado, ninguém ousou pular. A policia só chegou uma 1 hora depois do chamado. Aquela altura a festa já estava bem cheia e ninguém mais comentava o assunto. As duas esperam ate as 3 horas, conversando com a policia; fecharam a conta e foram para a casa da mãe da moca. Somente de manha é que, por outras vias, a noticia de terem encontrado o corpo veio ao conhecimento delas.
Corte em black de 5 segundos (imagino uma cena de filme). No dia seguinte, saiu o resultado da autopsia. Paula tinha ingerido duas cartelas de um calmante juntamente com Whisky. No sangue, o resultado também apontou o consumo de cocaína. Naquela noite, Paula era um bomba prestes a explodir. Mas ela queria mais, a explosão deveria acontecer em alto mar, sem chance de volta. Mas, por algum apelo da vida a hora de morrer não chegou. O que a autopsia também acusou é que parte do que ela tinha ingerido foi expelido espontaneamente num impulso de vomito vital. Dentro do mar, ela deve ter pego uma correnteza, e como nadava bem, não conseguiu sucumbir e se afastou rapidamente do continente. Deve ter sido assim que chegou exausta e desfalecida perto do nosso pescador 3 horas depois. No hospital, depois de 12 horas de sono, Paula acordava tremendamente apática. Não sabendo de tudo, mas entendendo tudo, Paula teria agora que retomar a própria vida com mais essa historia em seu repertorio. Difícil de assimilar, mas com a chance de tentar buscar a superação.
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Suposto motivo, por Júlia Mattos
Com tantas tarefas para fazer, problema no casamento e desesperada, perde a esperança de dias melhores, isso a deixa mal, pois o marido não queria se separar e nem dar os direitos como ex-esposa, os bens que deveriam ser dela estavam nos mãos do juiz, e com o ex-marido estava dificultando, com tanta dívida por causa da universidade e as despesas de casa com duas filhas. E de uma hora para outra todos os seus amigos desaparecendo sem motivo, sentiu-se com grandes fardos sobre sua vida, e sem pensar nas consequências saiu mundo a fora, sem filhos e ninguém mais, passados 10 anos lembrou-se de sua família e seus amigos, e resolveu ligar para suas filhas, ao ligar o seu ex-marido havia  se matado e suas filhas durante o tempo que ela ficou fora passaram muitos aperto, então a mãe voltou ao Brasil, e vendo a marcas que sua falta fez na vida de suas filhas, encheu-se de angustia, foi a praia e entrou no mar, era inverno e estava frio.
Então mesmo de roupa e tudo, entrou no mar, ela sabia nadar, mas não suportando tanta dor, se deixou afogar, e por sua sorte um grupo de pescadores estava por ali naquele exato momento. Um único moço, não suportando o que aquela mulher estava fazendo com sua vida, pegou-a e lhe deu um abraço bem apertado, a mulher chorando, saiu da água.
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