Tumgik
paginasaleatorias · 7 years
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Até onde vai a tua compreensão?
Não leia os comentários. Essa foi uma promessa que eu fiz a mim mesma quando percebi que as pessoas simplesmente vomitam qualquer coisa na internet sem se debruçarem sobre uma reflexão do contexto. E, de fato, parei de ler os comentários. Eles faziam mal ao meu psicológico.
Esses dias, durante um debate com amigos cujo a pauta era o atual governo de João Doria na cidade de São Paulo, teci alguns comentários. Vivemos em uma nação com diversas defasagens e, talvez, a maior delas seja a desunião do povo. Acredito que isso aconteça pela grande diferença social desse país. Ao mesmo tempo que temos pessoas que vivem extremamente bem, com uma conta bancária bem recheada e longe de problemas sociais, também temos aquelas pessoas que vivem sem um mínimo de saneamento básico, acesso (e interesse) à educação e produtos culturais. Você pode pensar que isso acontece em uma realidade muito longe da sua, mas não. Moro em um bairro de classe média no ABC paulista, porém trabalho em uma comunidade considerada culturalmente carente. Existem pessoas lá dentro que tem carro na garagem e uma casa ok. Mas, ao mesmo tempo, existem pessoas que não possuem máquina de lavar roupa. Porém, o mais gritante é: dentro da comunidade tem creche e tem uma EMEIEF. Fizemos uma pesquisa dentro do local e o resultado final foi de que pouquíssimas pessoas possuem livros e hábitos de leitura dentro de casa. Existem crianças que não tem o sonho de formar em uma faculdade, mas se tornarem muito boas dentro do movimento.
Onde eu quero chegar? Na empatia. Muitos dos comentários que eu leio pela internet classificam muitas dessas pessoas que não tem as mesmas oportunidades de diversos adjetivos pejorativos. E sempre tem aquele argumento da meritocracia. Eu deixo a pergunta: se a meritocracia existe para uns e não para todos, ela existe de fato? Eu, mulher da classe média, universitária, estudante de Pedagogia, que to ralando pra pagar minha faculdade, trampando em uma segunda escola uma vez por semana pra conseguir bolsa, tendo que me planejar inteira pra fazer uma viagem sequer, conseguiria estar entre as 8 pessoas mais milionárias do planeta? 
Eu entendo (sério, eu entendo) os empresários que votam segundo seus interesses políticos e econômicos, pensando em manter o seu patrimônio (que pode ter sido conseguido com muito suor, eu não duvido disso). Mas por que algumas dessas pessoas, que estão vivendo confortavelmente, que tem acesso a tudo (livro, história, pesquisa, internet, celular, teatro, circo, cinema), pregam discursos como: bandido bom é bandido morto; se você não tem o carro que quer é porque é vagabundo; o negro não precisa do sistema de cotas; é preto então é bandido; tá de saia curta é porque quer ser estuprada? (E não é somente essas pessoas que estão no topo que pregam discursos assim, eu sei. Tem muita gente que não vive numa situação nem lá tão boa, mas que também prega o ódio. E sei também que não é todo mundo que é desse jeito que eu to falando.) Não seria mais significativo, ao invés do julgamento, ter empatia? Empatia pelo menino que odeia a polícia porque seu irmão mais velho foi assassinado pela mesma. Empatia pelo trabalhador lá do nordeste, que não conseguia alimentar a família, começar a comprar um pouco de arroz com o dinheiro do bolsa família (eu concordar ou não com essa política é OUTRA história, ok? ok). Empatia pelo rapaz de classe média que sai pra trabalhar seis horas da manhã e volta do depois da aula da faculdade. Empatia pela garota que vende doces, artesanato, roupas pra poder pagar seus estudos. Empatia pelo estrangeiro que faz malabares no farol. E empatia ATÉ pelos ignorantes que precisam ser educados. Deveríamos nos debruçar em uma reflexão histórica do nosso país e perceber que o sistema é todo desenhado para que exista as grandes diferenças sociais, porque é isso que o alimenta. 
Sendo assim, eu não vejo sentido nessa briga eterna entre "político tal é melhor que político tal". O povo briga contra o próprio povo quando, no final das contas, todo mundo deveria se unir e perceber que o sistema escraviza todo mundo. Escraviza quem rala pra manter seu patrimônio, escraviza o trabalhador que vende sua mão de obra, escraviza o marginalizado. O povo deveria entender que a política não vai mudar se o ciclano do partido X entrar lá ou o beltrano do partido Y. Não é uma questão de esquerda e direita. É uma questão de compreensão. Alguma coisa só vai mudar quando muita gente UNIDA fizer um barulho muito grande. A coisa só vai mudar quando o cara que anda de carro, entender que o busão tá muito caro pro jovem estagiário que ganha menos que um salário mínimo. Quando o cara que anda de busão entender que o cara que anda de carro não é melhor do que ele. Só vai mudar quando o branco parar de ver o preto como um problema. A coisa só vai mudar quando aprendermos que todo mundo tem algo a ensinar: desde o mais rico empresário, até aquele morador de rua. A coisa só vai mudar quando geral entender que o irmão que tá do nosso lado é extensão de nós mesmos. Sendo ele rico, pobre, de qualquer raça, etnia, deficiente físico, intelectual. Somos filhos da mesma terra. Não posso e nem tenho direito de pisar na cabeça de uma pessoa que nasce na mesma terra que eu, que sangra do mesmo jeito que eu, que é um ser pensante da mesma forma que eu. É como uma casa. Você não quer que o seu irmão passe fome dentro da sua casa, não é? Então por que não estender sua mão para o seu irmão que mora dentro do mesmo país que você, mas que não consegue estudar, que não consegue comer? Repito: somos filhos da mesma terra. Do pó a gente veio e pro pó a gente vai voltar. Se nada levamos daqui, por que não deixamos um pouco de nós nas pessoas? E a gente só deixa um pouco de nós quando fazemos o bem pro outro.
n.d.k. (31 de janeiro de 2016)
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paginasaleatorias · 7 years
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Dores
A história começa desde que eu descobri que pra ser notada nesse mundo machista e patriarcal, você precisa ser magra. Na época eu nem sabia a existência desses termos (machista e patriarcal). Eu só sabia que a minha melhor amiga dos cabelos louros, olhos azuis e corpo "perfeito" atraía todos os olhares masculinos enquanto eu era a referência gordinha. Nós estávamos em meados da sétima ou oitava série. Eu lembro que era bem afim de um menino chamado Fábio e naquela época tinha MSN. Eu consegui o MSN do Fábio e na internet eu era demais. Eu me soltava. Depois que conversei com ele online, eu decidi, na hora do recreio no outro dia, ir conversar com ele pessoalmente. "Oi Fábio, eu sou a Natália do MSN ontem". Um beijo no rosto, um oi e um silêncio. Dez minutos depois eu estava na sala de aula chorando no peito de uma amiga minha sobre como eu era um fracasso. Mas e se eu fosse a Larissa-dos-olhos-azuis-cabelos-louros-e-corpo-perfeito?
Veio o ensino médio. Mudei de escola no segundo ano. Conheci novas amizades, adquiri um pouco mais de malícia na vida. Continuava gorda. Nessa época eu comecei com dietas malucas e remédios como Fluoxetina e Sibutramina (inibidores de ansiedade, daqueles que depois de um tempo você tem que aumentar a dosagem). Cheguei a tomar um hormônio que eu esqueci um nome, que um tempo e muitas doses depois, descobri que era altamente cancerígeno (meu pai morreu de câncer e a mãe dele teve câncer de mama, só pra deixar o histórico familiar registrado). Essas foram algumas das loucuras. Eu nunca tinha namorado. Minhas ficadas eram superficiais, de balada, na loucura. Eu já havia tido o coração partido algumas vezes. Eu nunca tinha transado. Meu mundo se resumia em, novamente, como eu sou um fracasso porque nenhum homem olha pra mim. E eu me sentia mal. Muito mal. Era um sorriso no rosto e um coração amargurado. Minha primeira transa foi na mesma loucura dos beijos. Era como se eu estivesse aceitando qualquer coisa, qualquer momento que fizesse eu me sentir desejada. Era como se eu não me desse valor. E, analisando hoje, eu não me dava valor.
Chegou a primeira faculdade. Estudei em uma instituição que é conhecida como dona de muitas festas, gente bacana, vários bares. Minha timidez não deixou eu fazer amizades duradouras. Eu não me sentia querida em nenhuma rodinha. Eu não me sentia parte daquele mundo. Por mais que eu interagisse, que eu fosse engraçada, inteligente, legal, acolhedora e carismática, eu não me sentia parte daquilo. Eu passei os dois primeiros anos do curso me sentindo diminuída. Verão, meninas de shorts pequenos, roupa apertadinha e eu de calça. Com vergonha das pernas que eu tinha. Tudo bem, isso tudo acontecia em paralelo à máscara que eu usava. Quando eu saía, eu me vestia muito bem, usava os melhores perfumes, a melhor maquiagem, meu cabelo era sempre impecável. E eu tinha uma vida social boa, alguns amigos do ensino médio, bares, baladas. Por fim, depois de dois anos eu conheci um rapaz (fora da faculdade) e começamos a namorar. Era meu primeiro namorado, eu não tinha muita experiência, mas ficamos dois anos e meio juntos. Fui traída, perdoei, voltamos. Contando tudo, deram dois anos e meio. Eu me sentia desejada, tínhamos uma boa vida sexual e parecia que o resto não importava. No ano de 2013 eu decidi que definitivamente aquele não era o corpo que eu queria viver pro resto da minha vida e decidi fazer bariátrica. Depois de uma sessão com a psicóloga, eu percebi que nem o meu namoro estava adequado à mim. Então terminei.
O ano de 2013 merece um parágrafo especial, porque ele foi tenebroso. Mas, ao mesmo tempo, importante. Eu havia concluído a faculdade de Publicidade. Eu terminei o meu namoro. Eu perdi o emprego que eu tinha desde o começo da faculdade. Eu não sabia o que fazer da vida. Eu estava sozinha, com seguro desemprego, fazendo exames para a cirurgia (ou seja, não podia procurar outro emprego) e estava em conflito de ideais. Comecei a conhecer o feminismo. Comecei a entender a sociedade. Comecei a questionar. Política, comportamento, relações sociais. Estava inquieta. Sozinha, sem emprego, inquieta. E o convênio decidiu não cobrir a minha cirurgia. Era desesperador. Tanta coisa dando errado em um só ano. Essa foi a primeira vez que, de fato, eu planejei um suicídio. Não estava encontrando esperança em nada. Era como se tudo o que eu quisesse ou precisasse para simplesmente viver, não existissem mais. Por sorte das forças que regem o universo, seja Deus, Jah, orixás ou simplesmente forças, eu não levei a ideia de suicídio pra sempre. Eu respirei. Eu decidi esquecer Publicidade e tentar fazer Pedagogia (já que eu comecei a odiar o capitalismo e não queria contribuir para ele). Eu entrei com um processo contra o convênio e ganhei a causa, conseguindo marcar a bariátrica para o dia 28 de novembro.
Operei. Os resultados começaram a vir e eu estava feliz. Os números das roupas diminuindo. Eu não precisava mais chorar no provador toda vez que eu tinha que comprar uma roupa para ocasiões especiais. Eu descobri que o feminismo está na vida das mulheres para que elas consigam se aceitar do jeito que desejarem. As gordas, podem ser feliz gordas, bem como podem decidir emagrecer sem serem julgadas. As magras, podem se sentir bem. Celulite, estrias, isso não importa. Eu queria lutar por isso. Mas pelas outras. Porque quando eu me olhava no espelho, eu continuava achando todos os defeitos do mundo em mim. Era como se eu entrasse em pane com tudo aquilo que eu pensava. Como se aqueles ideais não se aplicassem a mim. Hoje em dia eu sei que o movimento está me acolhendo mesmo assim, mesmo com as minhas inseguranças. Cheguei aos 57kg.  Apesar da vida saudável, toda vez que eu comia um chocolate, um pudim, um pedaço de bolo, eu tive que lidar com uma consciência pesada logo em seguida.  O corpo um pouco flácido, mas a academia estava ajudando com os resultados. As coxas começaram a ficar malhadas, o bumbum cresceu mais, os braços estavam bonitos. O problema era a barriga e os seios. Isso não teve jeito. Ficou ruim. Eu ainda não conseguia ser feliz. Eu ainda não me aceitava. Mas o pensamento era positivo. Eu vou fazer as plásticas e finalmente vou conseguir seguir. Vou ser uma mulher completa. Além disso, eu tive que lidar com o medo contínuo de engordar.
Nesse meio tempo eu conheci o meu segundo namorado. Ao contrário do primeiro, tivemos um ótimo namoro. Me aceitou com todos os meus defeitos. Sempre fez questão de salientar o quando ele me achava bonita, gostosa e que, por ele, nem de plástica eu precisava. Mas eu deveria fazer o que iria me deixar feliz. Sempre respeitou as minhas decisões e esteve ao meu lado nas minhas lutas, sem me julgar. Porém, acabou. Por motivos que não envolvem corpo e nem aparência, acabou.
As plásticas vieram. Quanta dor. Quantos dias ruins. Dias sem banho, dias sem poder ver meus amigos, sem fazer um social. E dessa vez os questionamentos se intensificaram. Que planeta é esse que eu tenho que passar por tudo isso, por toda essa tristeza, essa dor física, essa incompletude, pra conseguir me sentir bonita diante do espelho? Quem impôs isso? Por que eu não posso ter uma celulite? Uma estria? Por que eu não posso ter um pneuzinho? Por que é tão estranho ver uma mulher gorda com uma lingerie de renda? Que desespero! Que solidão! Que vazio, gente! E o que eu sou? Dentro do meu coração? Quando isso vai importar pra alguém? Quando que as pessoas irão deixar de dar um like no Instagram para chamar pra sair? Quando as pessoas vão deixar as fotografias de lado e conhecer o coração, a energia, a conexão?
Hoje eu me olhei no espelho depois do banho e chorei. Os seios não estão no lugar, uma das cicatrizes não ficou muito ok, as estrias na barriga estão ali ainda. Eu chorei até perder o fôlego. Eu chorei porque hoje em dia eu sei que pra ter um corpo perfeito, basta você ter um corpo. Mas quando eu sento e vejo um pneuzinho em mim, eu sinto raiva. Eu chorei, porque eu sou perfeitamente capaz de ter o homem que eu quiser hoje em dia. Mas o que isso me agrega? Onde isso vai me completar? Eu chorei porque eu ainda não me aceito. Eu ainda me maltrato. Eu ainda não estou feliz comigo mesma. Mas toda vez que eu respiro, eu ouço uma vozinha, bem baixa, lá no fundo, que diz "vai passar". E eu me agarro com todas as forças, com unhas, com dentes à essa voz. E respiro de novo. E continuo à deriva esperando o dia que tudo isso passe.
n.d.k. (22 de janeiro de 2017)
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paginasaleatorias · 7 years
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Bagunça
Um vazio. Sem tinta. Sem bateria, talvez. Depois de um tempo me sinto perdida. Com a sensação de que a felicidade é algo distante demais para ser alcançado. Acostumada com momentos de alegria, seguidos de longos períodos de solidão. Momentos negativos, de baixa auto-estima. De cobrança. Como se eu fosse dona de todas as coisas erradas que aconteceram.
Ouvi, li, assisti coisas sobre auto-conhecimento. Como posso me auto-conhecer? Por onde eu começo? Qual ponto do meu interior é o meu ponto de partida? Transcender talvez seja a resposta. Transcender o que há de vazio, o que há de solidão. Estar contente com o presente e não pensar muito no futuro. O que tenho no presente é o que me basta para ficar bem, dizem. Ter vida, ter um lar já são motivos para um sorriso, dizem também. 
Esses dias me senti ingrata ao pensar que não tenho motivos para sorrir. Não tenho como justificar essa ingratidão a não ser dizendo que estava em um momento sem esperança. Parece que depois daquele dia (não esse dia, aquele outro dia) a minha vida virou uma avalanche de coisas, as quais eu somente fui empurrando com a barriga e essa bola foi crescendo. É como se eu tivesse apenas fechado os olhos e caminhado, sem olhar o que estava acontecendo e deixando apenas acontecer, sem medir, sem pensar. Parece que agora eu to tentando abrir os olhos, mas quando vejo alguma coisa me dói tanto, que quero fechá-los novamente e continuar no piloto automático, deixando a vida à deriva.
À deriva. Essa é a expressão de como me sinto. Abandonada em um barco a navegar no meio de um imenso oceano. Dizem que essa viagem louca é boa, que a gente tem que abraçar as oportunidades que a vida bota na nossa bandeja. Então por que eu não sou capaz de aceitar? Por que não consigo apenas respirar fundo e me sentir plena com o que tenho? Por que eu fico pensando nas coisas que não tenho? No que perdi? 
Talvez eu saiba a resposta de todas essas questões. Pode ser que seja medo. “Você está vivendo seus sonhos ou ainda está vivendo seus medos?” Essa é uma grande questão sobre a vida. Eu, que me digo muito mulher e corajosa, tenho medo de tudo. Medo do próximo passo meu, medo do próximo passo do outro, medo do tempo, medo da mudança, medo da perda. Única coisa que eu não tenho medo mais é do escuro, porque descobri nele um companheiro pra quando eu só quero fixar os olhos e botar pra fora toda a angústia em forma de lágrimas.
Quando me perguntam se estou bem, eu não sei mais dizer. Eu tô, eu não tô. O piloto tá bem, a essência talvez não. É uma confusão, uma bagunça, uma bola de neve. E eu to lá no meio do furacão sem saber como sair dele, procurando um momento, um segundo, de paz.
n.d.k. (08 de dezembro de 2016)
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paginasaleatorias · 8 years
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Hiperatividade
Quero escrever sobre hiperatividade. Mas não aquele diagnóstico que os psicólogos colocam em crianças, com a finalidade de dar um motivo para o simples fato de serem seres cheios de vida e energia. Não. Eu quero falar sobre hiperatividade de sentimentos, inquietude no coração. 
Vivemos em um momento em que tudo acontece muito rapidamente diante dos nossos olhos. Às vezes perdemos pequenos momentos que a vida oferece sem pedir nada em troca. Um toque, um olhar, um sorriso no canto da boca vindo de alguém. Queremos coisas grandiosas, mas perdemos as pequenas coisas. Esses meros detalhes que tecem retalhos preciosos dentro da alma.
Com a perda dos detalhes vivemos nas expectativas. E as expectativas causam turbilhões de sentimentos. Queremos que tudo aconteça rápido, assim como nossa vida acontece. Queremos tudo pra ontem. Acabamos por não curtir o agora. 
E o coração... O coração é regido por esses detalhes. Quando eu cai na real, meu coração ficou hiperativo. Passei a questionar positivamente a forma como vivo. Fiquei querendo mais. Querendo conhecer cada vez mais profundamente cada ser humano que passa na minha vida. Teci milhões de questões para essas pessoas. Quando caí na real que os detalhes são importantes, conhecer os detalhes dos outros se tornou essencial. Essa inquietude se transformou em sede e a sede se refletiu em mim mesma. Quando os outros não me oferecem água suficiente para matá-la, comecei a ter sede de mim. Passei a olhar pro meu próprio eu e fiquei querendo me conhecer melhor.
Sou falha. Dentro da minha cabeça transborda dúvidas que começam com “E se...” Dentro de mim transborda expectativa. Dentro de mim transborda sede de conhecer. Conhecer lugares, cheiros, texturas, sentimentos. E dentro de mim transborda dúvida. Mas, diferente do passado, hoje eu quero me conhecer. Hoje eu quero matar as fomes que existem dentro de mim. Hoje eu só quero mergulhar de cabeça no que a vida coloca no meu caminho. Quero viver dos detalhes e quero construir, a partir deles, coisas grandes. Quero dividir esses detalhes com alguém. E quero pessoas que estejam dispostas a entrar na minha aventura. Assim como eu me sinto disposta a entrar na aventura de outra pessoa. Quero aquelas que estão dispostas a serem falhas junto comigo e que, juntos, possamos admitir que nunca seremos perfeitos mesmo, mas que não devemos ter medo do que está por vir.
n.d.k. (27 de outubro de 2016)
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paginasaleatorias · 8 years
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O encostar no ombro
Qual a sensação certa daquele ato de encostar a cabeça no ombro de alguém? Eu sinto paz. É um momento de fechar os olhos, ignorar todos os barulhos externos ao seu corpo e concentrar-se naquele momento tranquilo. Ouvir a respiração e sentir o perfume da outra pessoa entrando e saindo das suas narinas. É ver, diante dos olhos fechados, um mar de possibilidades tranquilas transmitidas corpo a corpo, naquele encostar de peles. Melhor que isso e mexer a cabeça um pouquinho e sentir a barba dele roçando no meu rosto e saber que está tudo bem. Mesmo que não esteja. A sensação de estar tudo ok é muito pacífica. Encostar a cabeça no ombro de alguém é fazer com que cada qual, singularmente, pense seu próprio mundo junto daquela pessoa que está ao lado.
— n.d.k. (9 de julho de 2016)
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paginasaleatorias · 8 years
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Esses dias eu pensei em suicídio
Esses dias eu pensei em suicídio. E isso não é algo bonito ou poético de se dizer. De se admitir. É um sinal de franqueza por não conseguir mais continuar. Ou por ter feito algo que fere o peito tão profundamente que fica insuportável ter que continuar a obrigação de seguir em frente.
Esses dias eu pensei em suicídio. Mas eu não queria realmente morrer. Talvez fosse só um jeito das pessoas perceberem que aqui dentro estava uma dor terrível e que o choro não era drama. Que a lágrima não estava caindo por cair. Aliás, chegou um momento em que elas nem mais caíam. Eu apenas me forçava a manter meu peito respirando e os olhos abertos.
Esses dias eu pensei em suicídio, mas a morte não é bonita para mim. Talvez seja bonita para quem fechou os olhos e nada mais sabe desse mundo. A morte é um silêncio angustiante para quem fica. A morte é uma saudade crescente e latente. Crônica. Por que morrer sendo que eu estaria machucando quem ficasse? Egoísmo meu querer partir. A culpa foi minha. Eu devo ficar e aguentar. A dor deve permanecer comigo.
Esses dias eu pensei em suicídio. Mas eu continuo aqui. E, já que a vida é uma passagem, eu quero fazer valer a pena a minha estadia na Terra.
— n.d.k. (3 de julho de 2016) 
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