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publindio-blog · 5 years
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Falar sobre “índio” é chato, né?
Existe um conceito na antropologia chamado de “alteridade” que diz basicamente: “todo o ser humano social interage e interdepende do outro”.  Confesso que por muito tempo me questionei sobre esse conceito, achava chato e difícil de compreender. Hoje, observando a quantidade de problemas relacionados à saúde emocional  e intolerância vinda de todas as partes do Brasil, percebo o quão essa tal de alteridade é necessária para conquistar a empatia pelo próximo e, futuramente,dar voz à quem é silenciado sem motivo coerente , em especial, aos povos indígenas.
Fico extremamente grata  que, ainda que nossa evolução seja marcada por avanços e retrocessos, no final das contas ela está sendo atingida. Os discursos de ódio que eram tão aclamados há poucas décadas atrás,como o patriarcalismo e individualismo extremo, estão sendo desconstruídos de forma avassaladora e rápida nos dias atuais. Como disse Nelson Rodrigues, o gênio da crônica Brasileira “O povo já não se julga mais um vira-latas. Sim, amigos: — o brasileiro tem de si mesmo uma nova imagem. Ele já se vê na generosa totalidade de suas imensas virtudes pessoais e humanas.” 
Mas peraí, querido Nelson, diante de todas essas virtudes pessoais e humanas que supostamente foram atingidas por nós, brasileiros, por qual motivo essas virtudes ainda  não são utilizadas pela maioria de nós para proteger um dos principais povos que nos deu origem?
Sinto como se o brasileiro já nascesse com a essência da frase “Não aconteceu comigo, nem alguém próximo de mim, então tá tudo bem”. E isso infelizmente é propagado de forma massiva e intolerante pelo presidente do nosso país, que supostamente deveria ser a voz do povo,  com discursos como: “Se eu chegar lá, não vai ter 1 centímetro demarcado para terra indígena”. Mas isso é porque o senhor não é indígena, não é, sr. Jair?
Não há dúvidas que somos a mistura de várias etnias. Entretanto, não fomos os primeiros a chegar aqui. Antes de nós, viviam aproximadamente entre 4 e 10 milhões de seres desnudos, apaixonados por caçar e pescar à beira das águas e com uma cultura coletiva de preservação à natureza que provavelmente nenhum de nós nunca irá alcançar. 
Em termos estatísticos, os indígenas saíram de representar 100% da população brasileira em 1500, para menos de 0,5% em 2019. Fazendo uma analogia com a famosa empatia, imagine se 95,5% dos seus familiares fossem mortos ou retirados à força de suas casas com o simples motivo de que “você não merece essa casa, porque eu não concordo com seu modo de viver, o meu é melhor”. Talvez você estaria revoltado, não é mesmo?. É mais ou menos isso que os indígenas sentem quando invasores se sentem legitimados pelos discursos do nosso presidente.
A morte de Paulo Guajajara, e de tantos outros indígenas que já comentamos aqui no blog, ainda é só mais uma das milhões de vidas inocentes que foram retiradas pelo nosso individualismo. Ainda que não seja possível mudar o passado, reconhecer a posse das terras indígenas não é apenas verificar dados estatísticos, mas ao menos dar o primeiro passo para mudar essa realidade. É lembrar do conceito de alteridade e perceber que você é um ser social e por depender do outro, não há sentido algum em exterminar uma cultura tão importante para a construção do “ser brasileiro”. E para você que, ainda assim, considera o assunto “chato”, convido-o a fazer um pequeno exercício mental: e se perguntar: “e se tudo isso acontecesse comigo e com minha família?”.
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publindio-blog · 5 years
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Assassinato da liderança indígena Paulo Paulino Guajajara, ocorrido na noite da última sexta-feira (1), no interior da Terra Indígena Arariboia (MA), região visada por madeireiros. O grupo de madeireiros emboscou covardemente os indígenas.
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Davi Kopenawa Yanomâmi: Um livro
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publindio-blog · 5 years
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A QUEDA DO CÉU
“Os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar  e as pedras vão rachar no calor. A terra ressecada ficará vazia e silenciosa. Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los e fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. Não conseguirão mais conter os seres maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tantos os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar.” 
Davi Kopenawa, xamã e líder dos índios yanomami. 
A Queda do Céu é o testemunho da cultura de um povo, além de ser um manifesto xamânico e um grito de alerta vindo do coração da Amazônia. 
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publindio-blog · 5 years
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MAIS UM ATAQUE AOS POVOS INDÍGENAS Na noite de ontem o território de retomada indígena Ñu Vera, em Dourados (MS) foi atacado por pistoleiros de proprietários rurais com terras incidentes sobre territórios tradicionais. Foram queimados os barracos onde viviam os indígenas e um Guarani Kaiowá foi ferido com balas de borracha no torax, ombro e cabeça. A disputa é pelo território considerado sagrado pelos indígenas e ocupado por fazendeiros. A região é palco constante de conflitos, há menos de 2 meses esse mesmo tekoha – lugar onde se é – foi atacado. De acordo com o documento enviado à PGR, no dia 24 de julho, um dia depois, o bando armado retornou com mais ferocidade. “Um menor indígena de 14 anos de idade, de nome Romildo Martins Ramires (pai Ventura Ramires, mãe Marciana Martins) foi atingido por 18 tiros de borracha e tiros de grosso calibre, sendo em seguida atirado vivo a uma fogueira pelos seguranças do ruralista (o nome consta na denúncia) onde permaneceu até o amanhecer, tendo 90% do corpo queimado”. Só em 2018, foram 38 indígenas assassinados no Mato Grosso do Sul, região que concentra parte da violência e dos conflitos por terra no Brasil. Esse é mais um caso que exemplifica na prática as violências sofridas pelos povos indígenas no Brasil, que vem se intensificando com o discurso de ódio contra os indígenas e ainda a liberação do uso de armas no campo, que agravará os conflitos por terra, onde as vítimas são sempre os povos e comunidades tradicionais que já vivem em situação de vulnerabilidade. A Jornada Sangue Indígena está na Europa com 8 lideranças indígenas de todas as regiões do país justamente para denunciar esse e outros casos e pedir providências dos países europeus para diminuir essa violência e barrar o genocídio em curso.
https://www.instagram.com/p/B4fJQ6OoJz_/
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publindio-blog · 5 years
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Paulo Paulino Guajajara era um guardião da floresta, responsável por fiscalizar e denunciar invasões na mata, hoje uma das atividades mais perigosas no Brasil. Estava acompanhado de Laércio Guajajara, liderança da região, que conseguiu fugir do ataque, embora tenha sido alvejado.
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publindio-blog · 5 years
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A tribo Awá no Brasil depende de sua floresta para sobreviver, mas intensa exploração madeireira representa uma séria ameaça ao seu futuro.
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publindio-blog · 5 years
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Awá isolados no Maranhão
O grupo indígena Mídia Índia divulgou uma nova filmagem que mostra alguns dos indígenas mais ameaçados do mundo: os Awá isolados que vivem no Maranhão. Os Guardiões da Amazônia, grupo de indígenas Guajajara, estão fazendo tudo o que podem para proteger essas terras. 
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publindio-blog · 5 years
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"Nós não queremos guerra. Só queremos resistir."
Neste vídeo, os Guardiões Guajajara relatam as ameaças de morte que estão recebendo e pedem que o governo os ajude. Quando o Estado brasileiro vai agir?
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publindio-blog · 5 years
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Falando de Brasil, Falando do Catolicismo
Meus caros, vamos falar do Brasil? Nas entrelinhas da nossa história, estão inseridos seres humanos que sempre foram colocados no segundo plano nesta grande cena que é o nosso cotidiano. Apesar de serem os pioneiros em tudo e de deter uma sabedoria milenar nas mais variadas frentes, como por exemplo a medicinal, os índios não possuíam, desde o princípio, o poder de discernir a bondade da maldade ou o favorecer do tirar proveitos. Ou seja, mergulhados numa inocência primitiva e levados pela curiosidade de conhecer "o novo", os povos indígenas, em grande parte pacificamente, abriram a guarda para a exploração desenfreada que foi instalada no Brasil desde os anos de 1.500.
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Agora, vamos falar da influência do catolicismo no processo? Toda exploração, iniciada pelos "brancos" com o apoio catequista da "Santa Mãe de todos os homens", a Igreja Católica Apostólica Romana, foi o tema principal de um amplo debate, que buscou formas de estancar o sangramento da floresta que está prestes a tornar-se uma grande hemorragia. No coração da mesma igreja que ajudou no início da tomada das terras, da cultura, dos hábitos e das crenças, o Papa, o próprio representante do Cristo católico, convocou o Sínodo da Amazônia, que mobilizou representantes de diversas frentes da floresta no Vatinaco.
A mudança de postura no século XXI por parte da Igreja é um reconhecimento, em forma de mea culpa, em detrimento de todos os danos que foram causados aos povos em nome de uma fé outrora contraditória. O próprio líder da Igreja, em seu discurso de encerramento do sínodo, utilizou-se das seguintes palavras para expressar o sentimento de arrependimento da instituição: "Quanta superioridade presumida, que se transforma em opressão e exploração, ainda hoje! Vimos isso no Sínodo quando falamos sobre a exploração da Criação, das pessoas, dos habitantes da Amazônia, do tráfico de pessoas e do comércio de pessoas!"
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"Quantas vezes quem está à frente, como o fariseu relativamente ao publicano, levanta muros para aumentar as distâncias, tornando os outros ainda mais descartados. Ou então, considerando-os atrasados e de pouco valor, despreza as suas tradições, cancela suas histórias, ocupa os seus territórios e usurpa os seus bens”, disse o papa, em uma crítica direta às políticas de Bolsonaro que têm a pretensão de incluir indígenas na chamada 'cultura judaíco-cristã'.
A mudança de visão da igreja com relação ao povo indígena, mostra uma reviravolta nos posicionamentos que ficará na história da humanidade.
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publindio-blog · 5 years
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Contextualizando os argumentos
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https://www.instagram.com/indigenaslgbtq/
ARGUMENTOS DE AUTORIDADE
“Apesar de pouco discutida no meio acadêmico, o antropólogo Estevão Fernandes utilizou-se de estudos aprofundados sobre a “sexualidade indígena” como tema para sua tese de doutorado, realizada em 2015. Na Universidade de Brasília, o pesquisador defendeu que "boa parte dos povos indígenas não tinham, no passado, a homossexualidade como tabu".”
ARGUMENTO 2: “E  possível perceber como o preconceito LGBT foi incorporado violentamente dentro das aldeias. Para o antropólogo Estevão Fernandes, o maior propagador do enraizamento do preconceito nas aldeias foi a Igreja colonizadora jesuítica - e isso é unânime entre os ativistas indígenas-LGBTs.”
ARGUMENTOS POR RACIOCÍNIO LÓGICO:
“ O que jesuítas e portugueses batizavam como promiscuidade era, muitas vezes, visto nas aldeias como um potencial xamânico sagrado.” , afirma Fernandes. Portanto, nos aproveitamos dos contributos históricos do antropólogo para concluir que a sociedade indígena é a representação do que seria nossa sociedade sem a homofobia: o que importa é o caráter.”
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publindio-blog · 5 years
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Existe LGBTfobia nas  comunidades indígenas?
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Cenas como essa são mais comuns do que você imagina. Só no Brasil, 8.027 LGBTs foram cruelmente assassinados nos últimos 55 anos e, em média, 135 indígenas morreram apenas em 2018. Portanto, não é a tôa que a preocupação com esses subgrupos marginalizados pela sociedade se torna cada dia mais relevante, visto que, dados como esse - e outros até mais graves - são publicados diariamente no nosso país.
Nesse contexto, é quase inimaginável a possibilidade de existência da convergência entre essas duas minorias que são invisibilizadas e deixadas de lado cotidianamente Portanto, para entender a importância de viabilizar o espaço e a voz para esses indivíduos, é necessário, primeiramente, entender resumidamente o contexto histórico do motivo dessa invisibilização ser tão presente na sociedade e - pior ainda - nas aldeias. Vamos lá:
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Apesar de pouco discutida no meio acadêmico, o antropólogo Estevão Fernandes utilizou-se de estudos aprofundados sobre a “sexualidade indígena” como tema para sua tese de doutorado, realizada em 2015. Na Universidade de Brasília, o pesquisador defendeu que "boa parte dos povos indígenas não tinham, no passado, a homossexualidade como tabu".
O índio Tibira (primeiro homossexual registrado no Brasil), da tribo dos tupinambás, foi cruelmente executado lançado e amarrado em uma bola de canhão pelo jesuíta francês D’Evreux em 1614, no Maranhão, sob pretexto de “purificar a terra do abominável pecado da sodomia”. Essa forma de execução é considerada tão violenta, que, até hoje, não existem casos de pessoas no Brasil que foram assassinadas da mesma maneira. 
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Monumento em homenagem ao índio Tibira, no Maranhão.
Os tupinambás, porém, não eram os únicos a praticar o que Yves D’Évreux chamava de “o mais torpe, sujo e desonesto dos pecados”. Outras etnias, como guaicurus, xambioás, nambiquaras, bororos e tikunas, só para citar algumas, também não viam problema com a homossexualidade. “Tal conjunto de práticas era comum em sociedades indígenas brasileiras, sem que houvesse estigma sobre essas pessoas por parte de seu grupo” afirma Fernandes (G1 DF, 2019).
Não podemos deixar de citar os inúmeros relatos de bissexualidade e transsexualidade como rituais xamânicos sagrados existentes entre indígenas até hoje:
“Algumas índias deixam todo o exercício de mulheres e, imitando os homens, seguem seus ofícios como se não fossem fêmeas. E cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada. E assim se comunicam e conservam como marido e mulher”, relata Pero de Magalhães Gandavo (1540-1580) em Tratado da Terra do Brasil, de 1576. 
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Já em comunidades mais isoladas – no Brasil ou na América do Norte –, Fernandes afirma que alguns indivíduos em aldeias têm até oito papéis de gêneros diferentes e, entre eles, "não há qualquer tipo de preconceito".(AVENTURAS NA HISTÓRIA, 2019).
A partir desse contexto, é possível perceber como o preconceito LGBT foi incorporado violentamente dentro da cultura indígena. Para o antropólogo Estevão Fernandes, o maior propagador do enraizamento do preconceito nas aldeias foi a Igreja colonizadora jesuítica - e isso é unânime entre os ativistas indígenas-LGBTs que veremos logo adiante.
“Os colonizadores do passado e do presente têm uma obsessão histórica em controlar existência e subjetividade do indígena através do corpo. O que jesuítas e portugueses batizavam como promiscuidade era, muitas vezes, visto nas aldeias como um potencial xamânico sagrado.” , afirma Fernandes. Portanto, nos aproveitamos dos contributos históricos do antropólogo para concluir que a sociedade indígena é a representação do que seria nossa sociedade sem a homofobia: o que importa é o caráter.
Referências: 
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/01/19/indigenas-e-gays-jovens-contam-como-e-ser-lgbt-dentro-e-fora-das-aldeias.ghtml
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-da-homossexualidade.phtml?fbclid=IwAR1Gx6d6cHCOxkfOvDwFY1AdMSlAj4zR4E8xWAt-N-e51hIgfb1WLfQbqjE
https://cimi.org.br/2018/06/ser-indio-e-ser-gay-tecendo-uma-tese-sobre-homossexualidade-indigena-no-brasil/
https://outraspalavras.net/outrasmidias/quem-disse-que-os-indigenas-nao-debatem-agenda-lgbt/
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-indios-gays-amor-e-odio-na-colonia.phtml
https://revistatrip.uol.com.br/trip/suicidio-indigena-bate-recordes-morte-voluntaria-e-consequencia-de-uma-existencia-em-conflito
https://apublica.org/2018/01/jovens-indigenas-incluem-pauta-lgbt-no-debate/
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/04/01/indio-tupinamba-lgbt-foi-a-primeira-vitima-de-homofobia-no-brasil.htm
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publindio-blog · 5 years
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publindio-blog · 5 years
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Indígenas e LGBTI+
“ Hoje Dimitra bate um papo Danilo Tupinikim sobre vivência indígena e de homem gay cisgênero, ou como carinhosamente chamamos de Poc. “
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publindio-blog · 5 years
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MAJUR - Trailer (Curta-metragem Indígena LGBT)
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publindio-blog · 5 years
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Sobre ser Bissexual, indígena, pai, liderança, estudante...
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publindio-blog · 5 years
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SER ÍNDIO E SER GAY: VAMOS FALAR SOBRE O ASSUNTO
“Ser índio e ser gay: tecendo uma tese sobre homossexualidade indígena no Brasil A pesquisa busca ser uma reflexão mais aprofundada sobre homossexualidade em áreas indígenas – algo que não era ainda alvo de uma preocupação mais sistemática na literatura antropológica brasileira.” YSANI 
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