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ADM não faz fanfic dos meninos+18 não isso é assédio

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Manifesto a favor das personagens fracas

Por: Liquor

Antes de começarmos a entrar no assunto de verdade, é preciso que vocês saibam algo sobre mim e algo importante sobre as vozes da minha cabeça. A primeira delas é que eu estou no mundo das fanfics há muito tempo, e quando eu digo muito tempo, quero dizer mais de uma década. E depois de todo esse tempo, eu percebi algo muito importante sobre as fanfics — as fanfics mesmo, excluindo todo gênero original.

As fanfics nascem do cansaço.

Mas como assim? Vem cá que eu explico.

É o cansaço de esperar o autor terminar a obra, cansaço de lidar com o temível queer baiting, cansaço de esperar seu casal favorito ficar junto e, até mesmo, o cansaço de ter que lidar com o roteiro original.

Talvez seja algo pessimista ou cruel de se dizer, mas essa frustração é o que move o mundo das fanfics e talvez até mesmo o mundo das originais, e pelo menos no meu caso, todos os meus enredos surgiram de:

“Como assim ninguém nunca escreveu isso?”

E isso tudo foi apenas uma introdução para aquilo que vamos falar a partir de agora: personagens femininas.

Falando em frustração, existe essa onda de insatisfação sobre as personagens femininas no mundo do entretenimento no geral, e o maior questionamento é: onde estão as personagens femininas fortes?

Para ser sincera, não existe nada que eu odeie mais do que o resultado dessa questão, em especial no mundo das fanfics. Obviamente não criticando a necessidade de mulheres fortes nos ambientes, longe disso, mas a construção é muitas vezes, falha. Para transformar uma personagem feminina em forte, o autor transforma-a em mal-educada com a desculpa da personalidade forte, usa de todos os artifícios para colocá-la no topo do mundo com poderes, milhares de pessoas interessadas em seu corpo e, no fim, a personagem pode se tornar tão vazia quanto as temidas Mary Sue frágeis e necessitadas de proteção. Assim vemos que o cansaço mais uma vez levou os autores de fanfics a criarem uma solução para isso em suas histórias, mas, ainda assim, não saiu tão bem quanto o esperado.

Isso tudo acontece porque o problema nunca foi a escassez de personagens fortes, o problema é que não sabem escrever personalidades femininas. E não saber escrever não é um problema, longe disso.

Devido a isso eu venho aqui fazer um manifesto a favor das personagens “fracas”, aquelas que choram e precisam de proteção, que às vezes tem medo ao invés de coragem. Não é errado ter medo, ou não saber brigar, e essas nuances de medo e hesitação são extremamente necessárias para a criação de um personagem sólido.

Elas não precisam ser apenas medo e lágrimas, e tampouco digo que elas não devem ser fortes para serem femininas. Não é preciso aniquilar traços importantes da existência humana e nem demonizar tudo aquilo considerado feminino para criar uma figura feminina forte. Por isso, aqui vão algumas dicas simples para evitar cair no submundo de construções extremas, e criar um personagem que parece real:

Não tenha medo de colocar alguma fragilidade em sua personagem feminina, medos, inseguranças e falhas são partes do ser humano. Não tenha medo de adicionar esses sentimentos conflitantes.

Nem sempre a mulher precisa ser a fodona da espada/arma/poder e resolver tudo com as próprias mãos, posições de liderança não vão transformar a personagem automaticamente em forte. Não se sinta na obrigação de fazer isso e tente explorar essas posições mais “coadjuvantes” na sua história. No caso de protagonistas, elas não deixarão de ser protagonistas por não serem rainhas/princesas/filhas da profecia/líder de revoluções armadas.

Ser desejada por absolutamente todas as figuras masculinas do enredo não é uma comprovação de o quanto ela é interessante e forte, tente fugir desse tipo de sexualização como validação, se a intenção é ser forte por si só, ela não vai precisar de aprovação masculina.

Evite com todo seu coração cair no conto de querer criar alguém que é “diferente das outras”, isso é tão 2010, não é? Uma mulher não precisa rejeitar tudo aquilo considerado feminino na sociedade para ser válida ou diferente.

Espero que tudo isso tenha sido interessante de alguma forma, é algo que eu penso há muito tempo. Sempre odiaram personagens que não eram as fodonas ou que mastigavam os inimigos com as próprias mãos, que choravam e sentiam medo, que às vezes não conseguiam tomar alguma atitude. Mas qual o problema de ter fragilidades emocionais? De não ter uma coragem infinita?

Particularmente, eu amo histórias que eu consigo me identificar e consigo identificar o mundo à minha volta, principalmente no que tange a questão de sentimentos, e devido a isso eu valorizo com fervura a existência das temidas personagens “fracas”, porque eu também sou fraca às vezes. E isso não é um problema.

Muito obrigada por chegar até aqui, e até a próxima, betabees e entusiastas!

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