Tumgik
#graciela neves
10tamurada · 12 days
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Meu menino Pintarolas
Noventa e dois anos e um mês. 
O queixume esvaziado, a cor de rubis desmaiada, endurecida em cera, a grande estatura encaixada e no teu rosto nem riso nem adormecimento, apenas fuga de vida.
Pacientemente esperaste por ela, horas sem pio, sentado na cadeira das urgências. Ela mandou recados a juntarem-se aos já anteriormente recebidos. Arquivaste, sem ler nem julgar, estavas decidido à presença física, a olhá-la, a senti-la, mesmo de olhos semicerrados, corpo dormente e mente entorpecida.
Por entre vagas de desconforto, cansaço e alheamento da tua parte, por entre vagas de esquecimento e desumanidade a vaga aconteceu, trazendo consigo assistência e cuidado generoso, tardiamente mas ainda cedo para a chegada dela.
Confinado à cama junto à janela, deixas-te aprisionar por atilhos, tubos, revendo surda e silenciosamente o teu arquivo de mensagens, guardando mais outras tão verídicas quanto derradeiras que te aparecem e rapidamente se desvanecem.
Não riscas o calendário que se avolumou desregradamente se não no real, pelo menos no teu discernimento.
Antes que ela viesse e pudesse devassar o vosso diálogo, decidi procurar-te. Dormias, tive receio de te roubar o descanso no teu remanso de lassidão. Toquei-te, levemente e perguntei se estavas bem. De olhos fechados murmuraste bem estar e agradecimento, ansiando apenas que te deixassem hibernar para não sentir, não enfrentar.
À minha insistência, olhaste, ouviste o meu nome, respondeste ao meu apelo e começaste a falar com voz sumida e perfeitamente incompreensível se não lhe adivinho o contexto ou não peço esclarecimento. Trava-se mais um solilóquio que uma comunicação. Adivinho pela incompreensibilidade de palavras que depositas em mim, hipoteticamente com uma percentagem fraca de acerto, que a tranquila aceitação se apossou de ti e nada de presente ou futuro te parece perturbar. A escassa meia hora, ao teu lado, não foi refrigério para mim e talvez nem para ti porque reinou a enorme dúbia comunicação que me deixou incapaz de te proporcionar conforto mais palpável.
Esperaste alguns dias mais e, finalmente, ela chegou envolta num véu translúcido cujas pontas e dobras se espalharam no teu peito no teu corpo, foguearam-te a alma, retesaram os fios finos que te amodorravam e prendiam…pairaste pluma, no universo cálido e sereno.
Noventa e dois anos e um mês.
Velávamos aquele teu adormecimento, sentados em fila junto à parede, enquanto outros vinham com respeito e reverência dar-te um aceno, recolhido dos bolsos vazios e nos cumprimentavam com um pequeno monólogo abafado.
O teu maior conforto, talvez nem fossem os parentes monos que de corpo assentado faziam contabilidades em curtos divisores no intuito de arrecadar e, mais do que isso, desbaratar antes que a inflação cresça e se esqueça a lista das trivialidades que juraram em urgência e prioridade.
Os que habitualmente te viam quando, no quotidiano, ias ao café, ao restaurante, às compras, ao exercício, te acarinhavam, se metiam contigo, te ajudavam nas pequenas burocracias digitais, nos flagrantes esquecimentos e consequentes incómodos… esses chegaram com pés de roseira branca, sorriso simples a cumprimentar-te numa saudação singela e carinhosa: 
Meu menino Pintarolas, honrado cavalheiro, uma figura inconfundível, muitos anos em convivência e proximidade!
 Foi assim que se expressou o mais extrovertido e simpático vizinho, aquele que estava sempre pronto a socorrer-te, que vigiava se estarias em casa e se quedava porque o estacionamento do carro ia variando.
Essa frase terna, esse pedaço de humana solidariedade selou aquele momento de  forma tão subtil. Nada do que veio depois, incluindo a aspereza da terra e a frialdade do vento, pode gerar estranheza. 
Acontecera!
Graciela Neves
8/04/2024
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vacantgodling · 7 months
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CARLOS'S FAMILY
so this is carlosssss love him <3
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and here's his family (mom+step dad+full siblings/half siblings)
in order (l to r, top to bottom): viviana neves de moreira (mom), mauricio moreira (step dad and carlos's dead father's best friend), isabel carvalho (full sister, junior in hs), sergio carvalho (full brother, sophomore in hs), nicholas moreira (half brother, 5th grade and twin), esperanza moreira (half sister, 5th grade and twin), graciela moreira (baby!!!!)
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motorsportverso · 11 months
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INSCRITOS RALLY DE TUNAS DO PARANÁ
RALLY 4
1-Mauricio Neves\Leandro Ferrarini-Promacchina Motorsport-VW Gol Pró Rally
37-Luis Debes\Graciela Debes-Octanas Motorsport-Renault Sandero RS
7-Marcos Tokarski\Andrey Kapirsky-Yokohama Rally Team-Peugeot 207
8-Wendell Simioni\Gilson Rocha-RTone-Peugeot
RALLY 5
10-Adib Sada-Ford Ká-ASTJ
777-Perci Hultmann\Juliano Zerbinato-RT One-Peugeot 207
30-Luiz Afonso Polli\Luis Felipe Eckel-Senetran Rally-Peugeot 206
64-João Helder Mottin\Leo Telles Silva-Peugeot 207
77-Rodrigo Vicari\William Cela-Peugeot 207
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elcorreografico · 7 years
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Carballo: “Randazzo tratar de pegarle a Massa porque no le puede pegar a Cristina”
@senadorcarballo: “@RandazzoF tratar de pegarle a @sergioMassa porque no le puede pegar a @CFKArgentina”
El senador bonaerense del Frente Renovador habló sobre las críticas que el chivilcoyano y sus candidatos desplegaron contra el tigrense, en el marco del escenario electoral
“Randazzo lo que tiene que tratar es pegarle a otro sector del peronismo porque en realidad no le puede pegar a Cristina porque fue hasta el último día miembro del gabinete y de todo lo que se investiga”, expresó Fernando…
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Mais de 1.800 professores universitários foram demitidos em meio à pandemia
A pandemia do novo coronavírus fez avançar muito a educação a distância (EaD). Até o início deste ano, a modalidade de ensino remoto era presente em cursos de curta duração e em faculdades, mas, devido à necessidade do isolamento social, as aulas em ambiente digital chegaram ao ensinos médio e fundamental. Como resultado, testemunhamos um grande teste para o alcance dessa tecnologia e um número anormal de demissões de professores universitários. Segundo o SinproSP (Sindicato dos Professores de São Paulo), 1.809 docentes foram demitidos somente no Estado.
Esse não é um fenômeno restrito a São Paulo: milhares de outros professores foram desligados de suas instituições de ensino superior em todo o Brasil e sem contabilizar todos os profissionais de educação que ficaram sem trabalho no mesmo período.
Além do avanço da covid-19 e de todos as suas consequências econômicas, houve a redução do repasse do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), o que afetou o lucro das faculdades e fez com que os estudantes se afastassem dos cursos superiores. Em dezembro de 2019, portanto antes da chegada da pandemia ao País, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a ampliação de disciplinas EaD de 20% para 40% nas graduações de origem presencial.
“Esse decreto começou a ser aplicado agora, razão pela qual três instituições de ensino promoveram cortes muito elevados”, explica Silvia Barbara, diretora do SinproSP. “Em dois casos (UniNove e Unicsul), o SinproSP recorreu à Justiça, alegando demissão em massa, ainda que esse conceito tenha sido desmontado na reforma trabalhista.”
Silvia conta que sempre houve uma rotatividade (ou “turnover”, para as empresas) grande na atividade docente, que costumava se concentrar no fim do semestre letivo –portanto, em junho e dezembro. A situação deste ano provocou cortes e a recolocação profissional ficou muito abaixo do normal.
Algumas dessas demissões foram emblemáticas de nossa época. Tal como o trabalho era remoto, o aviso de demissão chegou on-line. Em um dos casos, os professores receberam a notícia de que estavam desempregados por meio da plataforma que usavam para ensinar no dia anterior.
Como ficam os professores?
UniNove, Universidade São Judas, Universidade Cruzeiro do Sul, rede Laureate, Universidade Metodista e Estácio de Sá foram algumas das instituições de ensino superior que readequaram ou dispensaram parte do corpo docente enquanto voltam a atenção ao suporte digital necessário à EaD, como corretores automáticos, apostilas e videoaulas já gravadas. Essas ferramentas, vale lembrar, já existiam.
“A última barreira para desapropriar todo o trabalho do professor foi quebrada pela implementação da inteligência artificial”, conta o professor e sociólogo Gabriel Teixeira, da Rede de Educadores do Ensino Superior em Luta, se referindo à correção de provas dissertativas por algoritmos sem a intervenção humana. Ele defende o uso da tecnologia no ensino, desde que regulamentada, transparente e de qualidade.
Nessa nova realidade, os professores se tornam produtores de conteúdo para abastecer os ambientes de aprendizagem digital, sem vínculo empregatício e muitas vezes recebendo menos de R$ 700 pela disciplina, que será reutilizada nos semestres seguintes.
Como resultado dessas ferramentas, o estudante segue um caminho de “autodidata guiado”, no qual a presença do docente é mínima, indireta ou inexistente.
Doutoranda em Educação pela Unicamp e pesquisadora do Gepecs (Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social), Graciela Gonçalves Scherdien avalia que o trabalho docente que costumava ser desvalorizado –social e economicamente–, desceu mais um degrau em direção ao fundo do poço ao ser substituído, em muitas instituições de ensino, por “robôs” nas plataformas de aprendizagem.
“Há uma diferença enorme entre negar o uso da tecnologia e fazer uma crítica consistente a ela”, argumenta Scherdien.”Precisamos lembrar que quem está por trás da utilização dessas tecnologias são grandes empresas que almejam obtenção de lucro. Sendo assim, simplificar os conteúdos, tornar as plataformas acessíveis e evitar que ocorra evasão faz parte da lógica dos ‘grandes administradores’”.
Para Taísa de Pádua Neves, historiadora e mestra em Educação, é importante distinguir o que é a educação a distância como conhecíamos, que já era precária e de baixo custo, do ensino remoto emergencial, modelo adotado por grande parte das escolas, do ensino básico ao superior, cujo ensino era originalmente presencial.
Ela foi uma entre os 1.802 docentes dispensados de suas funções.
“O fato de ser demitida durante a pandemia apenas reforçou todo o descaso que, como professora, já sentia por parte da instituição que eu trabalhava, além de mostrar com muito mais clareza a estrutura de desmonte da educação”, conta.
Nos próximos anos, segundo Teixeira, veremos o mesmo processo nas escolas, no ensino básico. Esse período que vivemos tem servido como um laboratório para as empresas, e é uma questão de tempo até alcançar todo o processo educacional.
O que acontece com os estudantes?
Somado ao baixo custo dos cursos EaD, o Fies e o Prouni (Programa Universidade para Todos) fizeram do ensino superior a distância uma possibilidade economicamente viável a muitos estudantes.
Segundo o Censo da Educação Superior, realizado pelo MEC em 2017, a EaD atendia mais de 1,7 milhão de alunos, o que representa 21,2% dos universitários do País. Boa parte deles ingressaram pelos programas sociais.
Consequentemente, os mais prejudicados são os estudantes mais pobres, que terão uma formação aquém do esperado. “Essa banalização vai atingir um público específico”, diz Teixeira. “Uma dinâmica perversa: quem não tem dinheiro vai para o EaD ‘lixo’.”
De Pádua alerta que o sucateamento da educação de agora vai dificultar o acesso a um emprego para quem sair com diploma de um curso EaD nesses moldes vigentes. “Pode ser facilmente descartado no mercado de trabalho quando for comparado com o indivíduo que teve condições de realizar sua formação no ensino presencial.”
Algumas instituições de ensino superior do Brasil implantaram a ferramenta de autocorreção com algoritmos –chamada de “robôs” ou de “inteligência artificial”– sem avisar os estudantes. A plataforma passou a corrigir automaticamente não apenas as atividades objetivas de múltipla escolha, mas também as dissertativas que exigiam interpretação do leitor. Há relatos de estudantes que enviaram provas de disciplinas trocadas e obtiveram boas notas.
“Alunos sendo corrigidos por algoritmos, sem prévia autorização e por um serviço que não foi contratado é uma questão ética e jurídica”, pondera Teixeira. “O MEC tem que zelar por isso, deveria ter um regulamento.”
O que acontece com a educação?
Teixeira lembra que pedagogia é o segundo curso mais procurado em EaD. Dentro dessa lógica, seriam esses formandos que, com acesso ao conteúdo criado por um especialista na área, se tornariam tutores ou interfaces humanas na relação digital entre plataforma e estudante.
Esses novos funcionários farão parte de uma realidade na qual o docente, como representante das ciências, não é mais uma peça-chave no processo educacional. “Seria a naturalização do descrédito dos professores”, reflete Teixeira.
“Muitos críticos à EaD consideram que a falta de rigor na elaboração e na execução das formas de aprendizagem se tornou o próprio algoz do conhecimento científico”, afirma Scherdien.
Para ela, questões socioeconômicas e o papel do espaço escolar e do professor são itens que não podem ser ignorados no debate do futuro do ensino básico ou superior.
Defensora da educação a distância como mecanismo facilitador e de democratização do conhecimento, De Pádua se diz pessimista com os desdobramentos de 2020.
“Empresas que tratam a educação como mercadoria”, diz, “vão utilizar da abrangência do ensino remoto emergencial para promover a educação a distância, justificando que ‘são novos tempos’ e que, durante a pandemia, ‘conseguiram provar’ que pode ser feito.”
Scherdien defende o uso do recurso EaD como auxiliar e facilitador de processos de aprendizagem, “mas não substitui o papel central do professor quando se busca um ensino de excelência.”
“Basta pensarmos o seguinte: ler um resumo de um livro é a mesma coisa que ler o livro? Assistir a um filme é a mesma coisa que ler sua sinopse? “, exemplifica. “Pode ser um recurso complementar, mas não serve como protagonista no processo educativo.”
O que dizem as instituições?
Veja, a seguir, os comunicados na íntegra:
Cruzeiro do Sul Educacional
A Cruzeiro do Sul Educacional reitera que durante o período da quarentena nenhum dos alunos das instituições de ensino superior (IES) do grupo ficou sem professores e as aulas estão sendo aplicadas na modalidade de Ensino Remoto Síncrono Emergencial (ERSE).
O Grupo esclarece ainda que a modalidade EaD não pode ser confundida com o Ensino Remoto Síncrono Emergencial que a Cruzeiro do Sul Educacional adotou neste momento de pandemia. O ERSE se dá por meio de aulas “ao vivo”, ministradas pelos docentes de cada IES, no mesmo dia e horário da aula presencial, com o mesmo conteúdo e interação, mas que usam da tecnologia para conectar alunos e professores, e também de forma assíncrona, na qual o conteúdo fica disponível na plataforma, medida que está em total conformidade com a Portaria do MEC nº 544.
Neste momento triste e sem paralelos de crise mundial que se abateu sobre o Brasil desde meados de março e atinge praticamente todos os setores da economia, a Cruzeiro do Sul Educacional tem evitado tomar medidas mais drásticas, mesmo sofrendo com o aumento expressivo da inadimplência e da evasão, resultados do impacto da pandemia no emprego e na renda de seus alunos e famílias. Mas o agravamento e prolongamento da crise econômica, somados às incertezas quanto ao semestre seguinte, levaram o grupo a adotar uma adaptação de custos, inclusive e inevitavelmente de pessoas, de modo a manter e preservar minimamente a saúde financeira, a qualidade de sua operação e a pontualidade dos seus compromissos. Uma medida que não afetou a qualidade de ensino dos alunos.
Laureate Brasil
A pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores da economia, sendo o mercado de educação um dos mais impactados e, também, um dos primeiros a se reinventar neste cenário. Para instituições de ensino que já atuavam com a modalidade de educação a distância (EAD), a adaptação à nova realidade foi mais ágil, porém não menos trabalhosa e desafiadora. Foi o que ocorreu com a rede Laureate Brasil, cujo processo para ajustar as aulas presenciais em remotas síncronas (ao vivo) aconteceu em apenas 48h. Conseguimos aproveitar nossa expertise e rapidamente mover as aulas presenciais para um ambiente digital profissional e com todas as ferramentas pedagógicas necessárias.
Para o sucesso dessa transição, realizada somente em razão das determinações governamentais e das orientações dos órgãos competentes de saúde, investimos em recursos tecnológicos, em capacitação de pessoas – tanto colaboradores administrativos como docentes – , em materiais de apoio como tutoriais para todos os nossos públicos, entre outros, justamente porque o formato de aula remota síncrona (ao vivo) é muito diferente de uma disciplina no modelo online. Dessa forma, o calendário acadêmico seguiu sem interrupção, possibilitando que os alunos tivessem acesso ao conhecimento com os mesmos professores, nos mesmos dias e horários, com a mesma qualidade de ensino para seguir os seus planos de estudos.
Sobre as demissões ocorridas no mês de maio, informamos que elas fizeram parte de um movimento importante de unificação da área acadêmica das modalidades de educação a distância (EAD) e presencial de nossas instituições de ensino, com o objetivo de ampliar as sinergias e o alinhamento pedagógico dos cursos, e não ocorreram por conta da pandemia do novo coronavírus.  Afinal, vivenciamos um momento de transformação e entendemos que o mundo tem se tornado cada vez mais digital, assim como o mercado de trabalho. Por isso, acompanhar esse novo contexto é fundamental para o setor de educação e, também, para a Laureate Brasil.
Os cursos digitais, desde o final de maio, passaram a contar com a atuação dos docentes presenciais das instituições de ensino, trazendo unidade ao processo pedagógico e eliminando ainda mais as barreiras entre o presencial do virtual. Os professores desligados em maio trabalhavam exclusivamente com as disciplinas on-line e nosso objetivo é que os docentes das instituições atuem em ambas as modalidades de ensino. Para essa tomada de decisão foi necessário fazer ajustes no corpo docente da área de educação digital, o que não impactou de maneira alguma a qualidade acadêmica oferecida, que visa sempre a melhor formação aos alunos.
Sobre o futuro, estamos acompanhando as novas tendências que estão surgindo, assim como os novos hábitos de consumo. A educação terá um componente digital mais relevante, ou seja, uma integração maior entre os canais físicos e digitais estará cada vez mais presente.
Universidade São Judas
Docentes – A Universidade São Judas informa que a cada encerramento de semestre letivo há movimentações no corpo docente, tendo em vista que é um momento de planejamento de turmas dos cursos existentes e lançamento de novos cursos nas unidades acadêmicas. O turnover natural é fruto de um criterioso processo de avaliação institucional. Vale destacar que os desligamentos entre um semestre e outro não impactam os estudantes ou as atividades acadêmicas da Universidade.
Reforçamos ainda que é um processo que envolve, também, abertura de novas vagas para o corpo docente e oportunidades de promoções a partir desta dinâmica que se configura em uma instituição de ensino superior. Ressaltamos que seguimos investindo na capacitação e desenvolvimento de nossos educadores para melhorar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem, além de se manter atenta aos novos talentos, valorizando o papel transformador dos professores na sociedade.
Continuidade das aulas – Desde 16 de março, em observância às normas legais e regulamentares do MEC, a São Judas converteu o cenário de aprendizagem para o ambiente digital, onde os mesmos professores ministram suas aulas, nos mesmos horários, para as mesmas turmas e estudantes. O uso dessa tecnologia proporcionou a 100% dos alunos e alunas a continuidade dos estudos, com a habitual qualidade acadêmica. Reforçamos que a instituição não oferece cursos de EaD.
Ressaltamos que a Universidade São Judas é a 2ª melhor Universidade Privada em São Paulo pelo conceito do MEC e segue aprimorando o seu Ecossistema de Aprendizagem com elementos alinhados às melhores práticas mundiais de ensino superior para manter o seu compromisso com a qualidade e inovação acadêmica, características que estão conectadas ao DNA e história da instituição. Todas as movimentações e ações realizadas têm como propósito melhorar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem e levar educação de qualidade para nossos estudantes e para todos os brasileiros.
Nem todas as Instituições de Ensino Superior responderam à Catraca Livre.
Veja também: Professora faz paródias de funk para ensinar história
Mais de 1.800 professores universitários foram demitidos em meio à pandemiapublicado primeiro em como se vestir bem
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annacorreiasouza · 4 years
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Mais de 1.800 professores universitários foram demitidos em meio à pandemia
A pandemia do novo coronavírus fez avançar muito a educação a distância (EaD). Até o início deste ano, a modalidade de ensino remoto era presente em cursos de curta duração e em faculdades, mas, devido à necessidade do isolamento social, as aulas em ambiente digital chegaram ao ensinos médio e fundamental. Como resultado, testemunhamos um grande teste para o alcance dessa tecnologia e um número anormal de demissões de professores universitários. Segundo o SinproSP (Sindicato dos Professores de São Paulo), 1.809 docentes foram demitidos somente no Estado.
Esse não é um fenômeno restrito a São Paulo: milhares de outros professores foram desligados de suas instituições de ensino superior em todo o Brasil e sem contabilizar todos os profissionais de educação que ficaram sem trabalho no mesmo período.
Além do avanço da covid-19 e de todos as suas consequências econômicas, houve a redução do repasse do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), o que afetou o lucro das faculdades e fez com que os estudantes se afastassem dos cursos superiores. Em dezembro de 2019, portanto antes da chegada da pandemia ao País, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a ampliação de disciplinas EaD de 20% para 40% nas graduações de origem presencial.
“Esse decreto começou a ser aplicado agora, razão pela qual três instituições de ensino promoveram cortes muito elevados”, explica Silvia Barbara, diretora do SinproSP. “Em dois casos (UniNove e Unicsul), o SinproSP recorreu à Justiça, alegando demissão em massa, ainda que esse conceito tenha sido desmontado na reforma trabalhista.”
Silvia conta que sempre houve uma rotatividade (ou “turnover”, para as empresas) grande na atividade docente, que costumava se concentrar no fim do semestre letivo –portanto, em junho e dezembro. A situação deste ano provocou cortes e a recolocação profissional ficou muito abaixo do normal.
Algumas dessas demissões foram emblemáticas de nossa época. Tal como o trabalho era remoto, o aviso de demissão chegou on-line. Em um dos casos, os professores receberam a notícia de que estavam desempregados por meio da plataforma que usavam para ensinar no dia anterior.
Como ficam os professores?
UniNove, Universidade São Judas, Universidade Cruzeiro do Sul, rede Laureate, Universidade Metodista e Estácio de Sá foram algumas das instituições de ensino superior que readequaram ou dispensaram parte do corpo docente enquanto voltam a atenção ao suporte digital necessário à EaD, como corretores automáticos, apostilas e videoaulas já gravadas. Essas ferramentas, vale lembrar, já existiam.
“A última barreira para desapropriar todo o trabalho do professor foi quebrada pela implementação da inteligência artificial”, conta o professor e sociólogo Gabriel Teixeira, da Rede de Educadores do Ensino Superior em Luta, se referindo à correção de provas dissertativas por algoritmos sem a intervenção humana. Ele defende o uso da tecnologia no ensino, desde que regulamentada, transparente e de qualidade.
Nessa nova realidade, os professores se tornam produtores de conteúdo para abastecer os ambientes de aprendizagem digital, sem vínculo empregatício e muitas vezes recebendo menos de R$ 700 pela disciplina, que será reutilizada nos semestres seguintes.
Como resultado dessas ferramentas, o estudante segue um caminho de “autodidata guiado”, no qual a presença do docente é mínima, indireta ou inexistente.
Doutoranda em Educação pela Unicamp e pesquisadora do Gepecs (Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social), Graciela Gonçalves Scherdien avalia que o trabalho docente que costumava ser desvalorizado –social e economicamente–, desceu mais um degrau em direção ao fundo do poço ao ser substituído, em muitas instituições de ensino, por “robôs” nas plataformas de aprendizagem.
“Há uma diferença enorme entre negar o uso da tecnologia e fazer uma crítica consistente a ela”, argumenta Scherdien.”Precisamos lembrar que quem está por trás da utilização dessas tecnologias são grandes empresas que almejam obtenção de lucro. Sendo assim, simplificar os conteúdos, tornar as plataformas acessíveis e evitar que ocorra evasão faz parte da lógica dos ‘grandes administradores'”.
Para Taísa de Pádua Neves, historiadora e mestra em Educação, é importante distinguir o que é a educação a distância como conhecíamos, que já era precária e de baixo custo, do ensino remoto emergencial, modelo adotado por grande parte das escolas, do ensino básico ao superior, cujo ensino era originalmente presencial.
Ela foi uma entre os 1.802 docentes dispensados de suas funções.
“O fato de ser demitida durante a pandemia apenas reforçou todo o descaso que, como professora, já sentia por parte da instituição que eu trabalhava, além de mostrar com muito mais clareza a estrutura de desmonte da educação”, conta.
Nos próximos anos, segundo Teixeira, veremos o mesmo processo nas escolas, no ensino básico. Esse período que vivemos tem servido como um laboratório para as empresas, e é uma questão de tempo até alcançar todo o processo educacional.
O que acontece com os estudantes?
Somado ao baixo custo dos cursos EaD, o Fies e o Prouni (Programa Universidade para Todos) fizeram do ensino superior a distância uma possibilidade economicamente viável a muitos estudantes.
Segundo o Censo da Educação Superior, realizado pelo MEC em 2017, a EaD atendia mais de 1,7 milhão de alunos, o que representa 21,2% dos universitários do País. Boa parte deles ingressaram pelos programas sociais.
Consequentemente, os mais prejudicados são os estudantes mais pobres, que terão uma formação aquém do esperado. “Essa banalização vai atingir um público específico”, diz Teixeira. “Uma dinâmica perversa: quem não tem dinheiro vai para o EaD ‘lixo’.”
De Pádua alerta que o sucateamento da educação de agora vai dificultar o acesso a um emprego para quem sair com diploma de um curso EaD nesses moldes vigentes. “Pode ser facilmente descartado no mercado de trabalho quando for comparado com o indivíduo que teve condições de realizar sua formação no ensino presencial.”
Algumas instituições de ensino superior do Brasil implantaram a ferramenta de autocorreção com algoritmos –chamada de “robôs” ou de “inteligência artificial”– sem avisar os estudantes. A plataforma passou a corrigir automaticamente não apenas as atividades objetivas de múltipla escolha, mas também as dissertativas que exigiam interpretação do leitor. Há relatos de estudantes que enviaram provas de disciplinas trocadas e obtiveram boas notas.
“Alunos sendo corrigidos por algoritmos, sem prévia autorização e por um serviço que não foi contratado é uma questão ética e jurídica”, pondera Teixeira. “O MEC tem que zelar por isso, deveria ter um regulamento.”
O que acontece com a educação?
Teixeira lembra que pedagogia é o segundo curso mais procurado em EaD. Dentro dessa lógica, seriam esses formandos que, com acesso ao conteúdo criado por um especialista na área, se tornariam tutores ou interfaces humanas na relação digital entre plataforma e estudante.
Esses novos funcionários farão parte de uma realidade na qual o docente, como representante das ciências, não é mais uma peça-chave no processo educacional. “Seria a naturalização do descrédito dos professores”, reflete Teixeira.
“Muitos críticos à EaD consideram que a falta de rigor na elaboração e na execução das formas de aprendizagem se tornou o próprio algoz do conhecimento científico”, afirma Scherdien.
Para ela, questões socioeconômicas e o papel do espaço escolar e do professor são itens que não podem ser ignorados no debate do futuro do ensino básico ou superior.
Defensora da educação a distância como mecanismo facilitador e de democratização do conhecimento, De Pádua se diz pessimista com os desdobramentos de 2020.
“Empresas que tratam a educação como mercadoria”, diz, “vão utilizar da abrangência do ensino remoto emergencial para promover a educação a distância, justificando que ‘são novos tempos’ e que, durante a pandemia, ‘conseguiram provar’ que pode ser feito.”
Scherdien defende o uso do recurso EaD como auxiliar e facilitador de processos de aprendizagem, “mas não substitui o papel central do professor quando se busca um ensino de excelência.”
“Basta pensarmos o seguinte: ler um resumo de um livro é a mesma coisa que ler o livro? Assistir a um filme é a mesma coisa que ler sua sinopse? “, exemplifica. “Pode ser um recurso complementar, mas não serve como protagonista no processo educativo.”
O que dizem as instituições?
Veja, a seguir, os comunicados na íntegra:
Cruzeiro do Sul Educacional
A Cruzeiro do Sul Educacional reitera que durante o período da quarentena nenhum dos alunos das instituições de ensino superior (IES) do grupo ficou sem professores e as aulas estão sendo aplicadas na modalidade de Ensino Remoto Síncrono Emergencial (ERSE).
O Grupo esclarece ainda que a modalidade EaD não pode ser confundida com o Ensino Remoto Síncrono Emergencial que a Cruzeiro do Sul Educacional adotou neste momento de pandemia. O ERSE se dá por meio de aulas “ao vivo”, ministradas pelos docentes de cada IES, no mesmo dia e horário da aula presencial, com o mesmo conteúdo e interação, mas que usam da tecnologia para conectar alunos e professores, e também de forma assíncrona, na qual o conteúdo fica disponível na plataforma, medida que está em total conformidade com a Portaria do MEC nº 544.
Neste momento triste e sem paralelos de crise mundial que se abateu sobre o Brasil desde meados de março e atinge praticamente todos os setores da economia, a Cruzeiro do Sul Educacional tem evitado tomar medidas mais drásticas, mesmo sofrendo com o aumento expressivo da inadimplência e da evasão, resultados do impacto da pandemia no emprego e na renda de seus alunos e famílias. Mas o agravamento e prolongamento da crise econômica, somados às incertezas quanto ao semestre seguinte, levaram o grupo a adotar uma adaptação de custos, inclusive e inevitavelmente de pessoas, de modo a manter e preservar minimamente a saúde financeira, a qualidade de sua operação e a pontualidade dos seus compromissos. Uma medida que não afetou a qualidade de ensino dos alunos.
Laureate Brasil
A pandemia do novo coronavírus afetou diversos setores da economia, sendo o mercado de educação um dos mais impactados e, também, um dos primeiros a se reinventar neste cenário. Para instituições de ensino que já atuavam com a modalidade de educação a distância (EAD), a adaptação à nova realidade foi mais ágil, porém não menos trabalhosa e desafiadora. Foi o que ocorreu com a rede Laureate Brasil, cujo processo para ajustar as aulas presenciais em remotas síncronas (ao vivo) aconteceu em apenas 48h. Conseguimos aproveitar nossa expertise e rapidamente mover as aulas presenciais para um ambiente digital profissional e com todas as ferramentas pedagógicas necessárias.
Para o sucesso dessa transição, realizada somente em razão das determinações governamentais e das orientações dos órgãos competentes de saúde, investimos em recursos tecnológicos, em capacitação de pessoas – tanto colaboradores administrativos como docentes – , em materiais de apoio como tutoriais para todos os nossos públicos, entre outros, justamente porque o formato de aula remota síncrona (ao vivo) é muito diferente de uma disciplina no modelo online. Dessa forma, o calendário acadêmico seguiu sem interrupção, possibilitando que os alunos tivessem acesso ao conhecimento com os mesmos professores, nos mesmos dias e horários, com a mesma qualidade de ensino para seguir os seus planos de estudos.
Sobre as demissões ocorridas no mês de maio, informamos que elas fizeram parte de um movimento importante de unificação da área acadêmica das modalidades de educação a distância (EAD) e presencial de nossas instituições de ensino, com o objetivo de ampliar as sinergias e o alinhamento pedagógico dos cursos, e não ocorreram por conta da pandemia do novo coronavírus.  Afinal, vivenciamos um momento de transformação e entendemos que o mundo tem se tornado cada vez mais digital, assim como o mercado de trabalho. Por isso, acompanhar esse novo contexto é fundamental para o setor de educação e, também, para a Laureate Brasil.
Os cursos digitais, desde o final de maio, passaram a contar com a atuação dos docentes presenciais das instituições de ensino, trazendo unidade ao processo pedagógico e eliminando ainda mais as barreiras entre o presencial do virtual. Os professores desligados em maio trabalhavam exclusivamente com as disciplinas on-line e nosso objetivo é que os docentes das instituições atuem em ambas as modalidades de ensino. Para essa tomada de decisão foi necessário fazer ajustes no corpo docente da área de educação digital, o que não impactou de maneira alguma a qualidade acadêmica oferecida, que visa sempre a melhor formação aos alunos.
Sobre o futuro, estamos acompanhando as novas tendências que estão surgindo, assim como os novos hábitos de consumo. A educação terá um componente digital mais relevante, ou seja, uma integração maior entre os canais físicos e digitais estará cada vez mais presente.
Universidade São Judas
Docentes – A Universidade São Judas informa que a cada encerramento de semestre letivo há movimentações no corpo docente, tendo em vista que é um momento de planejamento de turmas dos cursos existentes e lançamento de novos cursos nas unidades acadêmicas. O turnover natural é fruto de um criterioso processo de avaliação institucional. Vale destacar que os desligamentos entre um semestre e outro não impactam os estudantes ou as atividades acadêmicas da Universidade.
Reforçamos ainda que é um processo que envolve, também, abertura de novas vagas para o corpo docente e oportunidades de promoções a partir desta dinâmica que se configura em uma instituição de ensino superior. Ressaltamos que seguimos investindo na capacitação e desenvolvimento de nossos educadores para melhorar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem, além de se manter atenta aos novos talentos, valorizando o papel transformador dos professores na sociedade.
Continuidade das aulas – Desde 16 de março, em observância às normas legais e regulamentares do MEC, a São Judas converteu o cenário de aprendizagem para o ambiente digital, onde os mesmos professores ministram suas aulas, nos mesmos horários, para as mesmas turmas e estudantes. O uso dessa tecnologia proporcionou a 100% dos alunos e alunas a continuidade dos estudos, com a habitual qualidade acadêmica. Reforçamos que a instituição não oferece cursos de EaD.
Ressaltamos que a Universidade São Judas é a 2ª melhor Universidade Privada em São Paulo pelo conceito do MEC e segue aprimorando o seu Ecossistema de Aprendizagem com elementos alinhados às melhores práticas mundiais de ensino superior para manter o seu compromisso com a qualidade e inovação acadêmica, características que estão conectadas ao DNA e história da instituição. Todas as movimentações e ações realizadas têm como propósito melhorar ainda mais a relação de ensino e aprendizagem e levar educação de qualidade para nossos estudantes e para todos os brasileiros.
Nem todas as Instituições de Ensino Superior responderam à Catraca Livre.
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10tamurada · 5 months
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INconsolável mãe
Mamã  - eu sei quanto gostas que te trate assim: mamã
notícias - a viagem foi um sopro, não a imaginava assim fluida
nuvem vadia ao estio rosado, véu aderente melodia
tapou-me de infância, o teu e colo do pai
manos todos por um, trapaças picardia
nada me espanta neste país cristalino, somos (i)mortais entre os iguais
vivi tempos a este semelhante, habitante por dentro de ti
no útero, no coração, vincos da tua expressão
minha adorada bica incessante, lagoa espraiada
diluis-te em saudade em sofrimento
sossega mamã: não me perdi na distância
                         não me trespassou o vazio
                         não me tragou a escuridão 
eu sei, mamã: não ouviste o estrondo frontal
                       não sentiste o lampejo que me transitou
                       estrela ca(n)dente  que me roubou
                       não me perdeste não me doaste aDeus
mamã, não me procures na pedra fria
na sépia antiquada, na grafia descuidada
rio no teu sangue e mar no teu riso, mamã!
Graciela Neves
12/10/2014
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10tamurada · 5 months
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Para ti
Queria ter palavras sábias
para te confortar e conduzir
queria depor nas tuas mãos
o cetro da impune decisão
queria amainar o teu sofrimento
e num passo de magia
passar ao esquecimento
inventar acalmia
confia, forra a tua armadura
de coragem férrea
para aguentares
o cordame esfrangalhado
doendo tudo por dentro
e a casca na penumbra
no amortecimento da luz que se foi
não se medem os feitos vencidos
incrustados em medalhas lustrosas
medem-se as fendas abertas
que teimam sangrar
que teimam esvair-te
com a urgência de sair deste lugar
contam-se os unguentos que te abrasam
as ligaduras que colocas em volta
os gritos profundos
nesse teu silêncio turbulento
contam-se os momentos esticados em horas
dias e noites convulsas
na tua mente, sem norte
a sorte da vida que tens para viver
deixa que te ajudem
a sair deste abismo
que te empurra para os infernos
deixa que te estendam
um cajado para subires
até ao vale e depois até ao monte
deixa que se quebre o vidro sujo
e se descortine
algum brilho que te aqueça 
e se arrefeça esta combustão
não consegues dançar esta dança
desconheces os passos
coloca os teus pés em cima de outros
deixa-te levar
quando perceberes o tempo, o espaço e o movimento
poderás recriar e dirigir
Graciela Neves
11/02/2023
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10tamurada · 6 months
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As avós
As avós são feitas de lã de ovelha bem macia, acabada de branquear. São novelos entrançados em camadas de surpresas, suspiros, salamaleques e outros simulacros impossíveis de adivinhar.
São redondas para impedir arestas contundentes - mesmo as mais estilosas se não tão redondas, são pelo menos ovaladas - . Não quer com isto dizer que não hajam alguns borbotos mais rugosos, quais carraças alapadas nos entremeios da lã em fio enrolada, ângulos e triângulos esses que poderão vir a regular chama rubra em conflito “dás-de-contra”, quando surge o embaraço e o baraço se desenrola com nó e pedalada.
As cabeças das avós, todas num molho, comparam-se ao volátil arco-íris aramado de ralos fios a jubas desempoeiradas, se vistas de relance. Se nos detivermos, divisamos faces  em fases diversas de sedução. Cedo são matreiras, ladinas, dadas a embustes inocentes, a docentes ocasionais, atrizes informais tudo isso e outras  tais para mimar os petizes. 
As avós não são vesgas, nem míopes nem estrábicas nem ceguetas,  enxergam mais, com a pestana corrida, que muita vivalma arregalada. Gostam de usar lentes sejam óculos, binóculos, lupas - acessórios chiques que lhes realçam o carisma e lhes enquadram, lhes arredondam e prolongam as circunstâncias. 
Marcas notáveis fizeram trilhos nos seus rostos; traduzem réplicas de regozijo, rasgos de risos, rajadas de ruinosas rabecadas aí rabiscadas.
Os dentes, genuínos ou de empréstimo têm seguro préstimo seja para trincar os acepipes tradicionais, para arreganhar nas cenas e tropelias que em despique e alternância jogam com os pequenotes, seja ainda numa mordidela inocente no pezinho rechonchudo.
No interior dessas torres eretas, equilibram-se razões a propósito de qualquer ninharia que lhes convenha e  as memórias aninham-se em esponja húmida pronta a desprender gotas preciosas ou derrame inesgotável; são esses os saltimbancos que trapezeiam infalivelmente nos calços e percalços que elas inventam nas histórias, já que as próprias pernas nem sempre lhe asseguram a firmeza das inabaláveis convicções.
Habilidosas, tanto volteiam aparatosas, por vezes rasurando o chão em dramatismo, fingem passeios de pé coxinho ou curvaturas rocambolescas, como sacodem peneiras e poeiras, mimam no colo, estreitam amassos de muitas maneiras.
Os pés das avós não são chatos, nem fardos de mazelas; quando muito estão  aborrecidos, mas não com elas. Aborrecidos  com os pedantes saltos altos que teimam em não os servirem por desfeitio e, não fora essa desfeita bastante, em troçar de tudo quanto é rasteiro - salvem-se as sardaniscas - sejam sabrinas, chinelos ou pantufas.
As mãos são ases volantes em constante volição; tanto ferro quanto água ou veludo. Ambidestras nas rotinas que ali ninguém se dá à preguiça e não se lhes conhece presunção.
O coração é uma almofada de alfinetes, uns caídos de inanição, outros espetados em aflitiva mágoa ou contrição. Cor de cereja, cor de luz e algum sombreamento a realçar é onde alberga tesouros desde o mais fino papel às pedrarias mais invejadas para se alimentar nas invernias estagnadas sem combustão.
Costumam jogar às palavras trocadas, baralham os nomes da garotada para lhes desconcertar a desatenção e queixam-se de surdez se, por única vez, alguém se esqueceu do sacrotanto “por favor”.
Diluem-se como caramelo em efervescência ou como gelo acabado de ser beijado pelo sol e assim permanecem em contacto ou em ausência saboreando tal viscosidade, tal pingo de liquidez.
Avós que apenas são imagens esvaídas de formas, inteiras de substância; avós que são pedaços de véus brancos perdidos no tempo, grafados em memórias de infância; avós que são asas de luz  por cima de cascalho que agride pés incautos.
Avós que são unicamente fórmulas apagadas das leis que lhes vão nas mentes, fracas personagens desanimadas em múltiplos ensaios a quem a verídica cena não chegou a deslumbrar.
Que se contentem os avós a quem não chamei à devoção. Sirvam-se da travessa dos acepipes que mais se ajustem ao seu paladar e creiam que se os não nomeei não foi por falta  mas por ter a certeza que lá estão tão sentimento pleno, sustentáculo maior e diatribes mais conformes à sua estrutura de força, destreza e vocação. 
A eles nem os sapatos nem os chanatos os confrangem, já que sempre tiveram os pés mais assentes e mais destros a chutos… e pontapés não são agora para aqui sentidos nem lembrados!
Graciela Neves
Leiria, 11/11/2023
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10tamurada · 7 months
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Trinca-espinhas
Os ouvidos ficaram-se-me pasmos, agredidos com tão clara declarativa insinuação ... de “trinca-espinhas” me ajustaram o termo ao recorte que o decote estava sisudo como convém por fúrias do vento norte.
Se suspeitei do título? Creio que não. 
O que me abespinhou foi a estranheza de que tal pessoa, nunca antes por mim apessoada, conhecesse com tamanha agudeza o meu gosto por repasto de jaquinzinhos fritos, comidos com tudo incluído, da farinha de milho ao espinhaço por inteiro, sem descontos de iva nem taxas de marinheiro. 
Já as nossas intimidades andam por aí num aijesus que deusmelivre! 
Não saltei das tamancas, não trepei, mas bem podia!... 
A coisa foi expelida assim como quem não agarra o sopro na mascarilha e bota fora. Nada que exigisse reação, nada que impedisse encolher de ombros, nada que evitasse interjeição “que se dane a doninha!”
Fui-me; berma além multiplicava, repartia excessos e diferenças, juros - demora acrescentar. Recolhida nesta infração de forçosa cogitação, palmilhando todo o percurso do pensamento à existência, concluí que opiniões e calcanhares são favas aos molhos e os molhos não servem todos paladares.
Palavras como cervejas, ideias como desejas...
Dei por mim a ter saudades dos risos destrancados, fora de portas, fora de bordas de arreios, da fala das nesgas, dos acentos que elas trazem, dos beiços que distorcem e troçam sem falarem, do nariz que pontua, de toda a mímica que a cara destapada não sabe esconder a quem lê, a quem vê; tantas vezes guarda e não reponta! 
Dei por mim a pensar que troquei essas subtis artimanhas por desvio do foco para distintos chamarizes. Insisto e resisto no olhar, no andar, nos trejeitos, na estatura, no volume..., tipo bola saltitona daqui para ali, agarra o que lhe aparece e depois a ver se adivinha e merece!
Não vale a pena irem aos meios digitais, às redes associais, ver se eu lá estou assim ou assada, frita ou cozinhada – a minha amiga de Bizeu, Amélia de-ditos bem sibilados, diria: “ó maria, estás cosida, sua derrancada!” 
Esta nem sou eu, sou qualquer uma, posso ser nenhuma...a liberdade de nem ser, apenas apetecer!
(Viva o Sto António, as sardinhas, os festejos e os demais. Arraiais dos que nasceram, casaram, amanteigaram, estão ou que partiram e os que decidiram ler-me o relambório).
Esta vontade desmiolada de escrever sem guião dispersa, deixa pontas descaídas, desmembradas pelo chão. Não as (d)atem, deixem-nas como estão.
Graciela Neves
13 de junho de 2020
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10tamurada · 7 months
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Saudade
Aranha plas paredes. 
Sombras, patas arqueadas arranham o dorso, o peito, o (a)braço e o cansaço na espera do  leito. 
Não é o decoro que me trava compunção, nada impede o colapso neste lapso de acabrunhamento.
É o gume afiado que rasgou vestes festivas, a densa limalha que em finitude abafou os raios de luz de todos os dias, a inabalável certeza que do nosso céu apenas se enxurram ventos, acaloram tempestades. 
É a certeza triste da aceitação impotente impenitente da partida, do despegamento.
É o amargo insinuado em todo o corpo; enxameia a alma de antracite e corrói de ferrugem a minha dor.
É o inocente brilho do olhar ainda iridescente, que cegará de rompante, se inundará de nevoeiro, da madrugada ao entardecer.
É o lastro da saudade que cresce por toda a casa, o jogo do esconde-esconde e os abanicos das coisas deixadas orfãs, o que vivemos no transato e o ato do futuro que nos falta. 
É a lágrima caída, retida nos rostos inocentes que se arregalam e retorcem no sentimento sem nome; a chama e o degelo do soluço infindável.
Sou eu que me perdi.
Sem ti, sem nós, o abismo ocupa todo o vazio; a saudade goteja rubramente na minha voz, na minha turbação. 
Sufoca-me esse pó transparentemente volátil que se carrega poro a poro, se aloja na  carne, se espalha na seiva do meu ser.
Só a saudade cruel e definitiva me pode curar deste assombramento.
Graciela Neves
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10tamurada · 7 months
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gosta de inícios
quando dança a primavera no mês de março
enfuna pregas da armadura invernosa
empola de gratidão, assobia até ao queixo
e da boca desprende
ameixa húmida, roxo rebuçado
quando arrepia a folha toda vazia
de latido, chuva ou rouquidão
de brasa, chama ou condensação
nesse ato inerte
arranha, fere, adula
acelera, sai do rumo recua
solta harpas
o pássaro rebenta a lingueta da gaiola
confunde-se nas dobras da ventania
a virgindade de janeiro
depois dos vilões de fim de ano
das fanfarras, da roupa azeda, derrotada
da água morna, no rodapé da madrugada
sacudida no chocalho do pontapé
despe a capa puída da frustração
compromete mãos e pés, 
pra lá duma vintena, devotas intenções
pra recuperar o desmazelo
retalhos gravados de cinza a cinzento
trancado hospício, oco lá por dentro
na data do aniversário, recém-parida 
desfere a investida, catavento
gosta de inícios, penas… apenas maçã mordiscada
no primeiro de maio irei a NY
Graciela Neves
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10tamurada · 7 months
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Preceitos do dia
Como humana, o pecado era o pão nosso de cada dia - muito pão e muito nosso - com manteiga, sem ela, cem pedaços se havia, se aviam num instante.
Passou há pouco pela baixa, que a baixa o doutor lha rejeitou. Que não, que estava ótima só precisaria de arejar os cabelos - creio pra retirar as quartas-feiras de cinza que a eles se aferrenharam -. Que de resto, fina que nem azeite virgem - que raio de comparação; seria a percentagem calorífera  do dito vegetal? - . Adiante a especulação, que não estava  para se diminuir nem uma polegada, nem uma grama e não grama daquelas (in)diretas invasivas.
Foi-se mostrando cidade além, reparando que a ninguém a mostra interessava até que para encolher uns minutos para abertura de portas se viu obrigada a entrar numa pastelaria. Sim, obrigada; diz que tomou as de vidas colheradas de chá e o marmeleiro, na altura não passível de multa ou prisão, também lhe entortou alguns arrebites.
Desfilando a lista dos pecados mortais mais aquilatados com a circunstância, topou garbosamente a gula que se encaixava plenamente naquela contrariedade de espera que a tinha acorrentado a uma pastelaria. Motivo desta escolha?  Desígnios do alto, confirmados com a sua humilde aceitação.
Em cumprimento de dados estatísticos e apenas por isso, propôs-se cometer um dos pecados do dia, que a boa ação se não a fizer nesse dia - segunda-feira -  ainda tinha a semana toda.
Bica cheia que a normal não chega a meia.
Para santificar a culpa, pediu um magro jesuíta para lhe expurgar da vileza.
Passada a diabrura, ainda o folhado e o torrado amendoado pululavam no esófago, já da consciência tapava a boca com um trapo desvairado de razões.
Antes que o descarnamento do acontecido lhe periclitasse a decisão, debandou porta fora.
Alteada no cimo dos seus sapatos, apenas se cuidava em não espetar a agulha do salto nos intestinos da calçada - assim descalçada, perneta ou maneta se lhe meteria o  nariz no formigueiro assanhado,  regalado nas migalhas desprendidas das faldas do jesuíta - .
Dez horas batidas, puxa do aviso retido na carteira que assim rezava, com fervor:
Minho
Porto
Douro
Bairrada
Setúbal 
Alentejo
Provas e reprovas feitas, pede um táxi que a leve de volta que aos sapatos se lhes desinteressou o equilíbrio, sem mais por que não. Será que se lhes partiu a alma ou a ela se lhe fugiu a calma ou se apressa de antemão?
30 maio 2023
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10tamurada · 7 months
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Querida amiga - uma pausa para café
Poderia escrever uma carta à moda antiga, mas os costumes alteraram-se e ninguém, nem mesmo os dados à pachorra, se dariam ao incómodo. 
Não é que não o merecesses, esse incómodo: 
pegar na folha de carta retirada da gaveta da escrivaninha, 
escolher a caneta de tinta permanente de bico mais fino para uma grafia mais arrebicada, mais elegante, que te minasse a curiosidade só de olhá-la, depois do descarte do invólucro, 
fazer negaças às coscuvilhices para apenas grafar o miolo das coisas importantes, 
discorrer a correr pela lisura do papel para, no final,
deixar o rasto habitual das saudações, ósculos e o mais que os corações palpitassem de momento, de braço dado com os requebros de amizade ou do mais formal pleito do respeito.
Depois dessa primeira dádiva de maior ou menor congruência, lucidez e oportunidade, reler sem rasurar, quando muito um P.S. no final ou uns asteriscos semi-envergonhados a explicitar ou a emendar qualquer figura mal descrita, qualquer intenção menos mal intencionada.
Nos entrementes uma lambidela generosa no selo, esmurrá-lo contra o sobrescrito, devidamente identificado de remetente e destinatário.
A finalizar a odisseia, hoje nos abraços do olvido, procurar um marco do correio, onde se deposita a tal façanha, sem cliques nem ratos nem setas de envio. Chegaria à caixa do teu correio - graças à carteira acavalada numa motorizada - e ao teu conhecimento uma semana ou um mês após, se fores tão lesta quanto eu a cuidar das missivas físicas - mais publicidade avulsa - que se acumula num repositório para o efeito na entrada do meu prédio.
Já percebeste que sou daquelas que não me dou a tal canseira. Invento desculpas para o não fazer e, mal ou menos, ouso alternativa.
Pergunto-te como tens andado… não falo de maleitas, indisposições ou queixas dignas de doutores de medicina, que sei que és rija e nada disso te atormenta. Falo das tuas sessões de ginásio que te deixam tão flexível e musculada, das meninas lindas que te irradiam do teu olhar, do menino que sabes ser equilibrado, dos teus grandes - o maior orgulho, o maior contentamento, a realização de mãe, de mulher, a confluência de um único e diverso amor - .
Pergunto corriqueiramente por aquelas tarefas obcecadas pela tua obsessiva e desmesurada atenção - eu sei que é um exagero a forma como o digo, mas isto deriva do meu confessável e permanente desmazelo. Fizeste a contabilidade certinha quanto a camisas engomadas e toalhas já dobradas, varandas escorridas e ervas já colhidas, estores branqueados e vidros abrilhantados, comidas preparadas e outras tantas engolidas, máquinas de roupa e pouca coisa por fazer… e o mais que te tenta e a tua agilidade te inventa para te sentires ativa no teu enorme papel de pessoa dedicada extremosa e atenta?
Perguntas por mim? Estou preguiçosamente a deixar-me inundar de brisas matinais, demais frescas maresias que me desentopem as vias respiratórias, de oratórias não falo, tento o regalo de algum avanço e descanso se desisto e não persisto.
Com tudo isto que está cheio de absolutamente nada, te deixo a rogar-me pragas de maledicência já que não encontro uma horinha na minha agenda para uma bica no relaxe do café.
Graciela Neves
julho 2023
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10tamurada · 7 months
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Pegadas
Inscritos no chão ficam impressos os lastros das minhas sapatilhas. Não são rastos marcantes, nem traços duradouros nem pegadas que se imortalizam. Se vou e regresso, já não os reconheço porque confundidos com outros que se sobrepuseram, ladearam ou/e se entrecruzaram com descuido e inatenção; se teimo identificá-los tenho de fincar vivamente no piso moldável e, simultaneamente, fincar a mesma passada na memória do meu olhar.
E é isso quanto baste? O quê, para quê? Particularidades de ideias tão frágeis que se despedaçam, quanto se anulam as passadas pisadas em areia roliça, em terra volúvel, em massa barrenta. Começo pelo chão, porque tenho o hábito de pairar nas nuvens encasteladas, de olhos suspensos pelos baixios da existência. Entretanto despego-me daí, sem intuito de voar, absorvo distraidamente os arredores que se recortam, se arredondam e arrebitam na plumagem da paisagem. Ficaria pasma se me enredasse em linhas dramáticas para enfunar a descrição, ficaria paralítica se deixasse que a beleza, a natureza, a rusticidade, a plenitude devorassem o meu animismo, a minha vontade de integrar aqueles pedaços como pão acabado de cozer e que se saboreia sofregamente, com ou sem manteiga. Falésias, xisto em camadas, deixando-se lamber, corroer pela saliva marítima, fechando pequenas enseadas, quais patas de cavalo de ouro areadas onde raros banhistas largam chinelos e toalhas para confundir os corpos leitosos nos espelhos turquesa e esmeralda, sempre límpidos, sempre rendilhados de espuma metediça. No oceano, à distância de uma mão ávida de água líquida, erguem-se recifes fissurados, escolhos e ilhotas, arquiteturas propícias à nidificação, ao devaneio de fantasias infantis, sereias fantásticas, efabulações senis, ao depósito de segredos, silêncios e sonhos. Misturo nos meus pensamentos os langores que arranco das paragens que vou percorrendo e com tais dados debulho o mapa que, provavelmente, distorce o real. Caminho do centro para o litoral; das pastagens, das férteis searas, para os bosque coníferos, dos matos rasteiros para a verticalidade das arribas fortemente erodidas. A ondulação bamboleante, a amenidade climatérica, tempera o meu suor; a espera merece o refrigério alentado. Regresso da orla húmida, escarpada, dos tufos retraídos em sulcos rochosos, estendidos na faixa costeira, trepo pelos carvalhos e sobreiras, dependurando-me por cima das ramagens para me sacudir na planura ainda verdejante em desabrolhos. As pequenas elevações vigiam a lavoura no colo do seu sopé, açoitam ventos intempestivos para a resguardar no amadurecimento. Ziguezagueio de sul a norte de oriente a ocidente, retomo os mesmos percursos e outros alternativos, perco-me sem que a bússola me atrapalhe ou minta.
Não tenciono assinalar no mapa qualquer pegada, furar a tela com alfinetes e marcações que impressionem gentes ou conduzam o instigador à descoberta. Constato que as minhas sapatilhas rabujam entre elas; agacho-me para sopesar impertinências ou, em caso extremo, sapatear fortemente para que calem lamúrias ou sacudam lamas e detritos. Nada ouço, reviro e revolto e na volta o que vejo são rasgos preenchidos, sem qualquer poder de impressão duradoura, é uma sujidade ferrugenta, uma nódoa contínua que terei de pôr à prova de detergente, branqueio e centrifugação.
Ui, ui, já ouço o pranteio...as finórias não querem ser lançadas na trucidação dos volteios maquiavélicos da lavagem, queixam-se de náuseas e mareios para desmaiarem, à viva força de raios solares que as turvam de tanto brilho. Apelam à suavidade de géis naturais, de massagens afáveis, caldos mornos e abafos, sombras cálidas onde possam clarear as suas cinzas, repor palmilhas, acertar cordéis e aguardar nova demanda.
Eh lá, junta de dois, já vi que tenho de pôr água na ferradura, antes que se me aferre nos miolos o calor de tamanha bravura. Tanto protesto, já me assedenta os humores leva-me a crer que para a próxima me proponho a turista pé-descalço.
Sudoeste, abril de 2023 Graciela Neves
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10tamurada · 4 years
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De boas intenções está a barriga cheia (?)
     Preparei a receita, empratei-a como se a família estivesse ao redor do mesmo tacho, a baba desaguando da garganta até à gola. Distração perdoada, a mãozinha na consciência retardada, eis-me que me achego à vizinha do mesmo número rés-do-chão. Badalo a campainha - que não sei se é surda ou lhe convém - trim... trim...
     - Qué lá?
     - Trago um docinho!
     Logo se afadiga, chineleira a chiar p´la tijoleira...
     - Atão (a)vezinha? ... que pena, quem me dera a mim ... não sou fâ de pudim!
     - É uma Pavlova.
     - Receita nova, já m´agrada ... oh, tem morangos, sou alérgica!
     - Nada disso, são framboesas atropeladas!
     - Francesas encapeladas ... mas os biscoitos aí paridos vão-se-me colar na dentadura.
     - São nozes e poses de chocolate.
     - Ta bem ta bem ... vozes ... de burro? ... e mais? Tem leite condensado, ovos às meias dúzias, açúcar aos montões ... menina, desculpe lá mas os meus maus fígados iam arengar com tal lambarice!
     - Tenha calma, gostava tanto que aceitasse a minha partilha ... nada dessas alarvidades ... apenas claras em neve, umas natitas, queijo quark ...
     - Qua, qua? .. tem pato e patitas? Claro q´apetece, dê cá isso que estou danada ... ninguém me trouxe a bucha do meidia!
     - Tem raspa de laranja ... mas era só para provar uma fatia ...
     - Sim, sim, já me raspo ... até outro dia. Pum!
     Fiquei zonza, os olhos prantados na porta trancada nas minhas fuças. Olho nas mãos a ausência completa, finita, da dita Pavlova, proscrita
     Era talvez uma vez ...
Graciela Neves
12 de abril de 2020
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