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encyo​:

As mãos inquietas perambulavam a circunferência do copo posto á mesa, um mero gole não parecia suficiente para reprimir os sentimentos que trancafiara à sete chaves. A raiva, embora inalterável, havia sido diluída mediante a melancolia e o trauma que lhe assombrava desde o dia que escapou. Séculos atrás cogitaria fazer da vida de Wolfgang um inferno, mas estava cansada e possuía uma prioridade clara em mente.

Não estava ali para discutir as circunstâncias que separaram ambos, quiçá as escolhas do imortal nos anos que procederam seus sumiço. Convencida de que o homem lhe deixara para morrer, Enyo não poderia conceber a discrepância dos pontos de vista. O gosto amargo forçou-lhe a erguer o copo num generoso gole. A possibilidade de se aprofundarem no fatídico dia de seu afogamento perturbava a mulher, o suficiente para um calafrio percorrer a espinha desta.  Deturpada pelos afogamentos, a memória desta possuía lacunas, preenchidas pelo medalhão presenteado pelo imortal, a única coisa que sobreviveu ao tempo. Uma lembrança amarga da vida que dividiram. Da pessoa que algum dia foi. Não poderia retornar àquilo, a pessoa que um dia foi havia se perdido, Wolfgang poderia lhe convencer de que lhe buscara por anos, mas isso não transfigurava o desfecho.

Atinou o suspiro do homem, poderia imaginar que o assunto deveria ser desgastante para ele, especialmente depois do que o grupo de imortais passou, por isso não pretendia estender-se. As feições impassíveis, concederam espaço ao riso seco que escapou-lhe perante as palavras de Wolfgang. Embora pudesse crer na possibilidade dele passar anos à sua procura, àquilo não poderia curar suas feridas ou restauras a pessoa que um dia foi. A mulher que ele havia conhecido e amado. “ —- Quem me dera isso fosse suficiente… —- ” entornou o restante o uísque no copo e empurrou o invólucro na direção do imortal, observando ele por alguns segundos antes de desviar o olhar. Almejava que pudessem conversas e elucidar os anos de separação, mas não iria ser tola de crer na possibilidade das coisas retornarem ao que um dia foram. Era tarde demais. “ —- Ninguém sequer sabe que eu existo, Tyr, não se preocupe, já parece ter muito para gerenciar e sou grandinha o suficiente para cuidar de mim mesma —- ” pronunciar o nome dele depois de anos lhe deixava mais nervosa do que gostaria, porém a entonação polida corroborava com a intenção da mulher em auxiliar ele e o grupo. “ —- Concordo, por enquanto é razoável ficarmos juntos, mas seria bom pensar no que planeja fazer quanto à essa bagunça —- ” o linguajar pouco assemelhava-se a mulher que Wolfgang conheceu um dia, era fria e não possuía ressalvas em demonstrar. Repousou os antebraços na mesa, observando o homem antes de respondê-lo. “ —- Reservei um quarto de hotel à alguns quilômetros daqui, nada que chame atenção. Deve bastar por alguns dias, o suficiente para decidir que vão fazer. É difícil se esconder hoje em dia, e se alguém sabe da existência de vocês, esse lugar não vai durar muito. —- ”

Ele sabia que não era o suficiente. Não apenas por conta dos anos separados, nem mesmo por toda a mágoa envolvida que ele sabia que existia, não era burro, mas porque ele também não era a mesma pessoa. Existiam questões envolvidas que Wolfgang sequer conseguiria listar, nem mesmo se tentasse. Por isso o homem se concentrou em manter a postura e parar de se deixar afetar como um adolescente. Tinham coisas mais importantes para resolver. Foco, Wolfgang, foco. 

O copo dela foi parar na mão dele, que o segurou por puro reflexo quando este deslizou pelo tampo da mesa. Wolfgang então sustentou o contato visual que a imortal estabeleceu até que ela o quebrasse, e nem mesmo quando o fez ele foi capaz de olhar para qualquer outra coisa que não fosse ela. ❝— Se fosse mesmo não teria vindo até aqui. ❞ rebateu. ❝— Não me leve a mal, Enyo, mas você não me parece mais ser o tipo de mulher que arriscaria a si mesma e ao seu disfarce exclusivamente para ajudar pessoas que sequer conhece. Esse foi o motivo pelo qual não apareceu antes, afinal, certo? Não há nada nem ninguém que te interesse aqui.❞ se ela fosse esperta o suficiente notaria a mágoa presente nas palavras dele, um misto com a raiva que ele tentava reprimir que sequer era direcionada a ela. ❝— Veio aqui porque está no mínimo preocupada. Se fosse tão intocável assim permaneceria escondida e me deixaria lidar com essa bagunça sozinho. ❞  Seus olhos continuaram fixos nos dela, mas temendo que ela visse mais que o necessário Wolfgang lhe deu as costas para se servir de mais uma dose de whisky, para si mesmo e para ela. Então, o copo foi empurrado em sua direção uma segunda vez. ❝— No momento, estamos aguardando informações de um amigo. Ele esta tentando localizar quem é que está realmente por trás disso, visto que matamos todos os que estavam no laboratório. ❞ ou assim ele achava. ❝— Talvez seja mais seguro que você fique aqui por enquanto. Querendo ou não, em grupo temos mais chance de defesa.❞

#[ INTERS ] #[ REGRETS COLLECTED LIKE OLD FRIENDS — enyo&wolf ]

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Era correto dizer que a presença de Vanya não foi de fato surpreendente para o mais velho de forma alguma. Quando se convive muito tempo com alguém, é apenas natural que um padrão de comportamento acabe se criando dentro da relação. E o que ele tinha com Vanya era o mesmo por séculos, desde o dia em que a resgatou de ser queimada da fogueira e, desde então, não se separaram mais, o sentimento paternal que criou pela imortal não permitiria que o fizessem. Pelo menos não por muito tempo, claro. O problema era que Vanya havia se tornado algo muito semelhante a uma filha rebelde, e era assim que o relacionamento deles tinha se moldado: explosivo, pois apesar de tudo eram muito parecidos, inclusive no gênio. 

Ele a observou primeiramente em silêncio, sentado onde estava. A sua frente, o notebook aberto e os jornais espalhados deixavam em evidência o que ele fazia, tal como o fato de que provavelmente não tinha comido nada visto que não deixou o quarto desde a manhã. Impedia um pequeno sorriso de cruzar seus lábios, sabendo que estavam prestes a jogar mais uma partida daquele jogo de 'quem cede primeiro', mesmo que a atitude de Vanya houvesse mostrado que daquela vez era ela.

Ele pegou a xícara de café, seu estômago roncando assim que o cheiro lhe invadiu o olfato. Tomou um longo gole antes de falar qualquer coisa. ❝— Obrigado.❞ murmurou, se recostando contra o encosto da cadeira que ocupava. ❝— Eu 'tô bem.❞ a resposta a primeira pergunta foi curta, como ela provavelmente esperava. ❝— Por enquanto não precisamos de nada, só escanear o terreno. Procurar o máximo de informações possíveis e, o mais importante, permanecer escondidos. Isso significa não fazer nada que possa chamar atenção. ❞ apesar de não ter citado seu nome, o olhar que dirigiu a ela deixava claro a que ele se referia. Nada de festas, nada de fugas. Colocando a xícara sobra a mesa, ele girou um pouco a cadeira de modo a estar de frente para ela e cruzou os braços contra o peito. o maxilar apertado denunciando sua tensão. ❝— E você, como está?❞ a última vez que tinham tido uma conversa foi um mês, se é que aquilo poderia ser chamado de conversa. Apesar de não parecer caloroso e até mesmo acessível naquele momento, Wolf estava disposto a mudar isso. Não poderiam se dar o luxo de ficarem brigados em um momento como aquele.

❛  ——   knock knock   —   se usou da onomatopeia para entra de fininho no cômodo preenchido por toda presença de wolfgang. errado presumir que aquela só limitava-se a sua fisiologia, energia impossível de desconsiderar, o loiro parecia ser seu próprio sol, lua e planetas.   —    só queria ver como você ‘tá…   —   cambaleou ao adentrar o quarto, tendo o cuidado suficiente para não derrubar as duas xícaras de café que empunhava   —   com sua amiga tendo voltado do mortos e tal…  —   continuou, minimamente sem jeito. a última vez que havia lhe visto assim, em privacidade, não resultou em seus melhores momentos, na verdade, havia saído raivosa para apenas encontra-lo um mês depois, no caos que se desembrulhou, não teve o tempo que requiria com @wxlfgang​.  —    se você quiser falar sobre alguma coisa, digo o que fazer e tudo mais, se a gente vai precisar de um carro maior.  —  riu rapidamente, passando os olhos pelo local. tinha certeza que o mesmo não falaria sobre seus sentimentos, vanya nem ao mesmo tentava obter isso dele, como a maioria das vezes, queria apenas ouvi-lo    —    ah, aqui! trouxe isso aqui lá debaixo, se você quiser, acabei fazendo um pouco mais do que o devido    —   mentira, mas não havia visto o comer recentemente, o que poderia muito bem ser pelo fato de normalmente estar isolada em seu canto.

#[ INTERS ] #[ LOVE BRINGS US CLOSER THAN BLOOD — wolfgang&vanya ]

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eliinash​:

Olhou para o loiro ainda com as sobrancelhas cerradas, como que tentando perceber o que ele perguntou pela segunda vez, mas logo voltou a si. “Ah, sim!” Assentiu com um pequeno sorriso. “Tinha um restinho de ontem na geladeira…” Explicou, embora tivesse comido a contragosto pois a última coisa que sentia era fome, mas lá se obrigou. Com a menção de ter acontecido mais alguma coisa, Elijah balançou a cabeça negativamente, se havia algo que não necessitavam eram mais acontecimentos, estes tinham servido para o resto do ano. “Não, é só que… Como ela voltou?” Perguntou discretamente, Wolfgang seria a melhor pessoa para o esclarecer sobre Enyo, pelo menos era o que pensava.

A pergunta a respeito de Enyo já era esperada. Todos de sua família sabiam sobre a mulher. Não diretamente através dos lábios de Wolfgang, visto que o imortal não era alguém que costumava falar sobre seus sentimentos. Contudo, aqueles que estavam consigo a mais tempo acompanharam toda a busca do homem que realmente não havia cessado mesmo após séculos, e aqueles que não haviam visto de certo ouviram falar pelas bocas de outras pessoas do grupo. Sendo um dos mais velhos, Elijah fazia parte do primeiro grupo. ❝— Ela disse que foi encontrada por marinheiros, e a partir daí preferiu se esconder. Algo sobre não ver necessidade de aparecer por eu ter seguido com a minha vida ou qualquer porra desse tipo. ❞ o homem riu com escárnio como se guardasse uma piada interna, sentando-se ao lado de Elijah. Assim como Emil, o imortal era como um irmão para ele. ❝— O fato é que ela provavelmente apareceu porque está preocupada... Assim com todos nós.❞

#[ INTERS ] #[ A THOUSAND YEARS AND WE ARE STIL STANDING HERE INVENCIBLE — wolfgang&elijah ]

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emilortal​:

Terminando de enxaguar um dos pratos, passou para o mais velho. A atividade geralmente era realizada com Fay ou Eli, mas dessa vez não podia ser outra pessoa senão o líder ali. Provavelmente seria o único momento que conseguiria falar com ele a sós, a casa segura não era tão grande e haviam muitos deles ali. Mordeu o interior da bochecha com a resposta ganha. A verdade é que não sabia bem o que esperava que o outro lhe dissesse, após a confusão no laboratório, estava com medo de confiar em uma pessoa estranha novamente; se um deles foi capaz de os arrastar para àquela bagunça, imagine uma desconhecida? Uma que assombrava seus sonhos por séculos, fosse se afogando repetidas vezes ou depois, com aquelas ações que Emil não conseguia julgar se eram boas ou más. Foi um choque vê-la ali. Não conseguia pregar os olhos direito desde que saiu do laboratório, então não fazia ideia de que a mulher estava indo ao encontro deles. “A conheci por muito pouco, então… Não sei bem.” confessou, virando o olhar para o outro imortal. “Todos merecem uma chance, certo?” ofereceu-lhe um sorriso, não era de seu feitio negar uma oportunidade para alguém, muito menos uma pessoa que poderia se tornar família. “Mas… talvez tenha sido o momento que ela chegou, mas estou… receoso. Não sei. Não consegui nem dormir, esperando que algo desse errado.”

Entendia completamente o receio do outro imortal, afinal, até dois dias atrás Enyo era apenas um fantasma para todos eles, alguém que Wolfgang nunca pensou que veria novamente, e que agora tinha se materializado num dos momentos de mais tensão para o grupo. É claro que aquela não era a primeira vez que enfrentavam um perigo. Quando se vive tanto tempo quanto eles era apenas natural que colecionassem alguns inimigos ao longo dos anos, mas ninguém havia chegado tão perto quanto Steven, e algo dizia a Wolfgang que não tinha acabado. Era só o começo de tudo. ❝— Todos merecem uma segunda chance.❞ repetiu como se quisesse fazer a si mesmo acreditar naquilo, mas não pensou em Enyo quando o fez. Pieter. O imortal suspirou, pensando no tanto de problemas que teriam que resolver, mas seus pensamentos retornaram a mais nova convidada enquanto Emil expressava suas preocupações. ❝— Eu sinceramente não acho que ela apareceu para nos prejudicar, Emil. Digo, ela ficou todos esses anos sem dar um sinal de vida sequer, não seria mais lógico que nos entregasse e permanecesse escondida, se fosse o caso? ❞ a verdade era que havia dedicado muito tempo pensando em todas as teorias possíveis desde que Enyo tinha voltado, inclusive a noite anterior, qual passou em claro. ❝— Posso estar sendo ingênuo, mas acredito que não. De qualquer forma devemos estar preparados para qualquer coisa, pois caso eu esteja errado temos que estar prontos para agir e neutralizar a ameaça.❞ o tom usado por Wolfgang era tão frio que era difícil acreditar que falava de alguém que significava tanto para ele, mas se tem uma coisa que a imortalidade o tinha ensinado era que devia estar pronto para tudo e, como aprendera recentemente, especialmente para apunhaladas nas costas.  

#[ INTERS ] #[ THIS ISN'T GOING TO END UP WITH US BURYING A BODY RIGHT? — wolfgang&emiliano ]

[wxlfgang]

Sentiu a presença dela antes mesma que a mais nova tivesse a chance de anunciar. Sentado em uma das poltronas improvisadas dispostas ali, era a primeira vez que Wolfgang realmente parava para descansar de verdade. Fisicamente, vale frisar, visto que sua mente continuava funcionando como um computador em busca de um plano que fosse bom para todos. Era claro que, como eram um grupo, uma família, Wolfgang não gostava de tomar decisões sozinhos, não antes de consultar a todos e saber quais eram suas opiniões a respeito, apenas parecia justo aos olhos dele. Imaginou, contudo, que Fahriye sendo Fahriye, o assunto provavelmente não era aquele por enquanto. A mão no ombro o fez abrir os olhos mesmo que já soubesse que era ela, e os olhos claros se atentaram a imortal e suas palavras. Fay tinha aquele jeito doce e bem humorado que tornava completamente impossível não sorrir quando perto dela, e até mesmo Wolfgang com toda a sua marra e carranca não era imune. Nem a ela e nem a Garfield, apesar de não ter gostado da ideia de ter um gato no começo. Agora, era como se o bichano fosse o mascote da família. ❝— Obrigado, Fay, mas por enquanto não temos um plano. Não um que seja bom, pelo menos. ❞ Wolfgang estendeu as mãos para pegar Garfield do colo da mulher, os dedos lhe acariciando agora o topo da cabeça do animal. Não era muito carinhoso por natureza, mas existiam exceções. A imortal prosseguiu e então Wolf riu, como se estivesse esperando por aquilo desde o começo, afinal, em todos aqueles anos de convivência não era a primeira vez que via aquele sorriso. O de quem queria alguma coisa. ❝— Here we go... Pode falar.❞

@wxlfgang​​

Ela já havia planejado tudo em sua cabeça, cheia de ideias mirabolantes. Esperou o momento em que Wolfgang encontrou-se sozinho no esconderijo e sutilmente aproximou-se do mesmo, segurando Garfield em seus braços, pensando que o animal pudesse estimular a bondade e delicadeza no âmago do líder. Lentamente ela sentou-se ao lado do loiro, afagando os pelos laranjas do felino e deu um sorriso gentil, compreensivo na verdade. Apesar de sua dupla intenção, ela não deixava de demonstrar empatia pela situação de Wolfgang rever uma pessoa próxima, cuja qual achou  estava morta há séculos. Gentilmente repousou a destra sobre o ombro do homem, como forma de demonstrar assertividade e conforto. A linguagem corporal dizia muito sobre alguém. E Fahriye, apesar de demonstrar ser uma das participantes menos úteis em questões táticas no grupo, na verdade tinha grande conhecimento acerca de coisas como a psiquê e linguagem corporal. 

 “ — Você não me parece muito bem, chefe. Ninguém anda bem, na verdade, mas hm… Acredito que tudo que está acontecendo seja um grande baque para ti, em especial. Se quiser conversar, eu estou bem aqui. E não precisa me proteger da verdade, eu tenho quase cinco séculos vividos para aguentar qualquer coisa, sir!  — ” A mais nova bateu continência para o mais velho, exibindo um sorriso de conforto para o mesmo, enquanto Garfield permanecia quieto em seu colo, o que era algo bem raro de acontecer.  “ — E eu também gostaria muito de pedir permissão para uma coisinha…  — ” Ela então exibiu um sorriso, dessa vez mostrando que havia se aproximado por uma razão própria, que não era bem própria, mas envolvia sua necessidade por melhorar o ânimo dos indivíduos que residiam no mesmo lugar e aparentavam viver debaixo de uma nuvem negra de desânimo, cansaço e desconfiança. 

#[ INTERS ] #DESCULPA A DEMORAAAAA #[ SWEET CHILD OF MINE — wolfgang&fahriye ]

[wxlfgang]

encyo​:

Envolveu o copo e o levou aos lábios para um breve gole, incapaz de desviar os olhos do imortal, Enyo empenhava-se em manter alguma calma perante Wolfgang. Afastando as memórias manchadas por anos de raiva e solidão, a pontada que açoitava seu coração à século parecia piorar à cada segundo do silêncio constrangedor que dividiam. O que poderia dizer? Não deveria ter aparecido ali. Bebeu mais um gole do whisky, dessa vez o suficiente para esvaziar o copo, como se aquilo fosse acalmar a dor que sentia ao rever a única pessoa na qual pensara por séculos.

Pensava se encontrasse o homem algum dia só conseguiria sentir raiva por ele tê-la deixado para morrer, mas havia uma parcela de alívio, e até saudade. Sentimentos estranhos para a mulher fechada que tornara-se nos últimos anos. Engoliu em seco, desviando os olhos, como se assim pudesse adquirir coragem para respondê-lo. “ —- Sorte, eu acho…. —- ” Ironizou, um riso seco escapando os lábios, escondendo a agonia de sequer relembrar o quê aconteceu. “ —– Alguns marinheiros me acharam, cerca de quatro séculos atrás —-” não recordava-se a data, tudo continuava turvo pelos anos no mar, como se nada parecesse real depois daquilo. “ —- Imaginei que fosse melhor sumir, você deveria ter seguido em frente há muito tempo, então não havia motivo para aparecer na sua porta da noite pro dia. Não iria fazer diferença naquela altura… —- ” havia se convencido daquilo após o resgate, uma ideia que lhe assombrara por todo esse tempo. Ser abandonada pela única pessoa que amou, era muito pior do que a dor infligida pelos repetidos afogamentos. “ —- Nem sei se deveria ter vindo aqui hoje —- ”

Sorte, eu acho. A pequena frase arrancou do imortal uma risada de escárnio, seca, curta e sem humor algum. Ele era familiarizado com a sorte. Se julgou sortudo quando levantou daquele campo de batalha em sua primeira morte. Também se sentia sortudo enquanto sua fortuna adorava e seus títulos cresciam. Sentiu que toda a sorte do mundo o pertencia quando a conheceu e encontrou nela uma companheira, aquela que, na época, acreditou que teria ao lado a vida inteira. Mas o destino é traiçoeiro e sorte não existe. O que existe é sobrevivência.

Ouviu o resto da história calado, com seus olhos de gelo atentos ao que ela falava, mas não só a isso. Procurava inconscientemente por semelhanças e diferenças da imagem da mulher que tinha na memória. No período em que viveram juntos, fotografias não existiam e a única coisa que o impediu de esquecer o rosto dela foi o quadro que havia pintado séculos antes, guardado em segredo numa das propriedades que possuía pelo mundo. No entanto, não foi difícil ter sua atenção direcionada para o que a imortal falava, tal como a raiva que sentiu queimar por dentro. Um sentimento a muito tempo adormecido, visto que não tinha mais para onde ser direcionado, pois ao contrário do que ela parecia acreditar Wolfgang nunca parou de procura-la. Agora sabia o porquê de nunca ter achado, mas ainda assim sentia como se fosse responsabilidade sua o destino cruel que ela viveu por anos a fio. 

Demonstrou sua frustração diante do assunto com um suspiro cansado, a ferida na costela ardendo como se seu corpo estivesse reagindo e repelindo aquele estresse. Atualmente, a fatídica noite havia perdido a riqueza de detalhes nas lembranças do homem, mas das partes importantes se recordava muito bem. Se lembrava da manhã que passaram juntos na cama. Do beijo que recebeu ao sair de casa. De voltar para encontrar a casa vazia, e ser informado que sua companheira havia sido acusada de bruxaria e jogada no mar. Da trilha de corpos que deixou para trás em vingança, dos mercenários que contratou para procura-la, e dos anos que ele mesmo passou navegando em busca de um caixão que nunca encontrou. A lembrança o fez esfregar as têmporas e se sentar. Porque agora ela estava ali e Wolfgang tinha certeza que a imortal não estava interessada em ouvir nada daquilo, em nada que viesse dele. Ter se mantido afastada todos aqueles anos era a prova daquilo. Certo? ❝— Nunca deixei de procurar por você, Enyo. ❞ chama-la pelo nome adotado atualmente parecia estranho para o homem, mas ainda assim procurou se manter sucinto. Direto como sempre, mesmo que dentro de si tantos sentimentos se misturassem que ele sequer sabia como responder, como se tivessem sido despertados após muito tempo. De certa forma, era o que acontecia. ❝— E se nós estamos em perigo, você está também. O mais lógico a fazer é ficarmos juntos. ❞ lógica. Definitivamente algo que Wolfgang não costumava levar em consideração durante seus tempos com Enyo. Também não era o mesmo homem daquela época. Buscou no bolso seu inseparável maço de cigarros e o isqueiro, se dispondo de um. Tomou seu tempo ao dar o primeiro trago e soltar a fumaça. ❝— Aonde você está hospedada? ❞

#[ INTERS ] #[ REGRETS COLLECTED LIKE OLD FRIENDS — enyo&wolf ]

[wxlfgang]

THE GENTLEMEN 2020, dir. Guy Ritchie

#[ MUSE ]

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#[ MUSE ]

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Your pride is going to get you killed.

#[ MUSE ]

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ANASTASIA 1997 | dir. Don Bluth & Gary Goldman

#[ MUSE ]

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“Damaged people are dangerous. They know they can survive.”

— Josephine Hart, Damage (via thoughtkick)

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CHARLIE HUNNAM Sons of Anarchy (2008) // Pacific Rim (2013) // King Arthur: the Legend of the Sword (2017) // Papillon (2017) // True History of the Kelly Gang (2019)

#[ MUSE ]

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The Gentlemen (2019) dir. Guy Ritchie

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" — Eu perguntei se você já almoçou. " justificou-se, apesar do pequeno vinco entre as sobrancelhas denunciar sua curiosidade. Não era sempre que via Eli daquele jeito, mais recluso e solitário, no entanto, entendia perfeitamente as circunstâncias atenuantes que a situação implicava. " — Mas você tá é com cara de quem está precupado, não com fome. Aconteceu mais alguma coisa? Porque acho que já estou cheio de surpresas por um bom tempo. "

Elijah ainda estava tentando absorver tudo o que tinha acontecido. Era de certo, demasiadas informações para absorver em apenas três dias. Pensava que iam ter algum descanso, tempo para relaxarem ou até aprenderem um pouco mais sobre a nova imortal, mas pelos vistos havia alguém que vinha ‘roubar’ o spotlight. Já tinha ouvido sobre Enyo, mas nunca lhe havia passado pela cabeça um retorno. Normalmente não era uma pessoa desconfiada, pelo contrário, costumava ser bastante acolhedor com algum membro novo, mas desta vez não estava completamente confiante. Sentado num dos sofás, estava completamente absorto em seus pensamentos quando finalmente ouviu muse o chamado. “Ahm? Desculpe… O que estava dizendo?” 

#[ INTERS ] #[ wolfgang x eli ] #VOU CRIAR UMA TAG

[wxlfgang]

Era como se estivesse em modo automático, movendo-se mecanicamente apenas porque tinha que fazê-lo. Como se o peso dos acontecimentos recentes já não fosse o bastante, o retorno de Enyo havia acontecido no momento menos propício. Não que não estivesse feliz em vê-la, afinal, saber que a imortal estava viva era livra-lo de séculos de culpa. Ou era adicionar mais uma parcela desta por não ter procurado o suficiente? Tal pergunta provavelmente iria pairar por sua mente por mais alguns anos. A ferida que demorava a curar em seu abdômen eram um lembrete constante de que provavelmente não seriam muitos. " — Eu não sei.  " e era sincero quando dizia, porque ao mesmo tempo em que tudo sobre ela era familiar, a sensação que Wolfgang tinha era de que aquela versão de Enyo era bem diferente da mulher que ele conheceu e amou. Não que isso fosse ruim. " — Ela está muito diferente, mas não acho que esteja mal intencionada. Acredito que todos queremos a mesma coisa. " 

O mais velho secava os pratos e talheres que Emil lavava, e manteve-se em silêncio por alguns segundos. " — O que você achou dela? "

A quietude de @wxlfgang​ era inquietante para Emil. Os olhos azuis do imortal perseguiam o líder do grupo de maneira desconfiada. A primeira chance que teve de abordá-lo sozinho foi quando todos estavam distraídos cada um com seus próprios afazeres depois do almoço; o italiano lavava os pratos e pediu a ajuda de Wolf para lhe ajudar ali na cozinha. “Ela é como você lembra, chefe? Ou está diferente?” a pergunta podia ser suave, mas por trás das palavras estava o verdadeiro significado: podiam confiar em Enyo?

#[ INTERS ] #[ wolgang x emil ] #precisamos de uma tag bem gracinha

[wxlfgang]

O líquido âmbar encheu um copo de cada vez, ambos com três pedras de gelo. Um foi levado aos lábios enquanto o outro foi empurrado para a mulheres de cabelos escuros do outro lado da mesa, há um metro de distância dele. Estavam sozinhos no escritório que não o pertencia mas era ocupado por ele, só os dois dentro de uma sala como não ficavam há muito tempo. Olhar para ela ainda era estranho. Era como olhar para uma foto antiga em busca da sombra do alguém que ela um dia fora, pois a mulher que encarava agora em nada lembrava sua @encyo. Sua. Ela não era mais dele. O significado de tal palavra ainda tinha o poder de fazê-lo engolir seco, assim como a presença dela ainda lhe trazia uma ansiedade que ele não estava mais acostumado lidar a anos, séculos. Milênios.

Wolfgang pigarreou ao perceber que encarava demais, mas se sentiu incapaz de desviar os olhos de gelo dos esverdeados dela. Por onde ela tinha andado? "— Como? " ele perguntou, após tomar mais um gole do whisky. O líquido que descia queimando por sua garganta tinha o poder de fazê-lo sentir-se vivo, mas o sentimento de fracasso e culpa que o deixavam com um gosto amargo na boca era o mais perto de humano que o imortal se sentiu ultimamente.

#[ closed starter ] #[ regrets collected like old friends — enyo&wolf ] #[ wolfgang x enyo ]