Estou com ideação su*c*da. A psiquiatra do CAPS não quer que eu fique sozinha. Ryta já teve a sensibilidade de me convidar para o teatro amanhã, e Danilo vai me levar pra passear na segunda-feira (inclusive depois que eu voltar ao CAPS, porque a doutora parece mesmo preocupada). Estou me esforçando para ser uma boa companhia. Se mais alguém quiser dar um rolê que não custe muito (pois estou desempregada), é só me chamar.
O filme Ghost - do outro lado da vida, é o mais reprisado na Sessão da tarde na rede Globo. Foi exibido 25 vezes desde 1993 (eu tinha 1 ano e comia areia). Eu nunca assisti Ghost. Também nunca vi O sexto sentido porque a Drew Barrymore contou o final em Como se fosse a primeira vez.
Tô no CAPS. Tem uma casinha para alugar aqui perto, de repente pareceu uma boa ideia. O próprio CAPS é tranquilíssimo, dá vontade de me internar aqui e fazer jardinagem para preencher os dias, passar o tempo.
Então ontem, após a demissão, uma voz na minha cabeça dizia para me jogar na frente dos carros. No lugar disso, fui ao prédio do consultório do terapeuta-gato. Ele não estava lá, mas seu pai estava. Eu o assustei, desesperada e chorando muito. Ele telefonou para o terapeuta-gato e pedi que viesse. Quando chegou, foi um alívio indescritível. Entramos na sala, contei o que aconteceu e pedi que lesse para mim, qualquer coisa. Deitei no chão. Ele pegou um livro da estante, um livro aleatório de ficção científica e uma das personagens tinha o meu nome de batismo. Eu falei: "não é possível, você fez de propósito". Rimos.
É por coisas assim que acredito em espíritos. É impressionante como cada trecho de livro que ele lê para mim fala sobre nós.
Vocês não sabem, ou talvez eu já tenha contado: conheci o terapeuta-gato no Facebook. Um dia, ele puxou conversa. E me enviou um áudio de oito minutos que tive preguiça em ouvir. Quem faz isso com uma desconhecida? Mas, no dia seguinte, escutei. E nesse último mês, com a nossa separação e minhas crises, ouvi de novo e de novo e de novo aquele áudio, mas não tinha o mesmo efeito.
Uma mulher acorda amaldiçoada com uma chuva que não cessa e só cai em sua cabeça. Ela tenta se acostumar com a situação usando maquiagem à prova d'água, por exemplo. No transporte público, quem está ao seu lado se incomoda em também ficar molhado. No trabalho, ela queima o computador. Esse curta de Johannes Stjärne Nilsson não é sobre a chuva.
Sou incapaz de reconhecer pessoas na rua. Pessoas queridas, até mesmo parentes. A maior piada que tenho sobre isso foi quando a minha irmã me visitou no meu primeiro emprego e eu não a reconheci.
Apesar disso, eu sempre, SEMPRE reconheço o pai do terapeuta-gato. Ele também é terapeuta. Somos — eu, o terapeuta-gato e o terapeuta-sênior —, vizinhos de trabalho. Então é certo que entre quinta e sexta eu vou encontrar o terapeura-sênior, provavelmente voltando do almoço enquanto inicio meu expediente.
É muito difícil sorrir para as pessoas, mas sorrir para ele e mentir que estou bem é ainda pior.