Tu que tratas
as estrelas
por tu
que conheces
o início
e o fim
da estrada
podes saber tudo
sem o amor
não sabes nada
Podes ter a efígie
gravada
numa moeda
dourada
Podes ter tudo
sem o amor
tu não tens nada
Jorge Sousa Braga
In: A matéria escura e outros poemas (2020)
15 notes
·
View notes
QUE TEMPOS SÃO ESTES
Há um lugar entre dois renques de árvores onde a erva cresce colina acima
e a velha estrada revolucionária se desfaz em sombras
perto de uma capela abandonada pelos perseguidos
que desapareciam naquelas sombras.
Eu andei por lá colhendo cogumelos à beira do pavor, mas não se enganem
isto não é um poema russo, isto não está noutro lugar, mas aqui,
o nosso país aproximando-se da sua própria verdade e pavor,
as suas próprias maneiras de fazer as pessoas desaparecerem.
Não te vou dizer onde fica este lugar, onde a malha escura da floresta
encontra a súbita faixa de luz —
encruzilhada de fantasmas, paraíso de folhagem:
Já sei quem quer comprá-lo, vendê-lo, fazê-lo desaparecer.
E se não te vou dizer onde fica, porque estou então a falar
contigo? Porque tu ainda ouves, porque em tempos como estes
para que tu ouças, é necessário
falar de árvores.
Adrienne Rich, USA (1929-2012), Tr. Jorge Sousa Braga
8 notes
·
View notes
Jorge Sousa Braga. O Poeta Nu
32 notes
·
View notes
Mãe
Não consigo adormecer
Já experimentei tudo. Até contar carneirinhos
Não consigo adormecer
Nem chorar
(Que maior tragédia poderá acontecer a um homem do
que a de já não ser
capaz de chorar?)
Mãe
Sabias que o cordão umbilical pode funcionar
como uma corda num enforcamento?
— tenho aprendido coisas bem singulares neste
convívio com os deuses —
Um dia destes regressarei a Tebas para ser coroado
Reservei hoje mesmo um lugar num avião das Linhas Aéreas Gregas
Gostaria de brindar contigo com uma taça de orvalho antes de partir
Mãe
Detesto coberturas de açúcar mesmo que levem limão
Isto é tão certo como o é tu não me compreenderes
Estava a sonhar que estava a sonhar e assim por aí adiante até ao infinito.
Depois acordei. E fui descendo vertiginosamente de sonho para sonho
Ainda não parei de acordar. E de sonhar
Mãe
Tenho uma surpresa para ti
um caramanchão para que te possas sentar todas as
tardes a catar estrelas na minha cabeça
Mãe
Abriu um concurso para preencher uma vaga de
ascensorista no Paraíso e eu concorri
Achas que tenho alguma hipótese de ser admitido?
— tenho a boca cheia de formigas —
Mãe
um dia hei-de subir contigo
degrau
a degrau
o arco-íris
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu, (poesia reunida)
2 notes
·
View notes
Jorge Sousa Braga - Fogo sobre fogo
(...) Este fogo / que só com fogo / se pode apagar (...)
O meu mamilono teumamilo
Só tusabes sorrirna vertical
Gotas de orvalholigeiramente tingidasde batom
Nem todos os frutos vermelhosmerecem o céuda tua boca
Mais do que uma vezatravessei a primaveracom os olhos fechados
A borboleta que poisouno teu mamilo perdeuvontade de voar
Vou ao céue venho--me
Não possoamarmais claro
Escrevocom os dedos ainda longosda carícia
Ainda agora em ti entreie…
View On WordPress
0 notes
Mãe
um dia hei de subir contigo
degrau
a degrau
o arco-íris
Jorge de Sousa Braga - Antologia Poética
5 notes
·
View notes
— Jorge Sousa Braga, no livro "Fogo sobre Fogo". (Ed. Fenda; 1.ª edição [1998]).
7 notes
·
View notes
COLECÇÃO VÁRIA, #3
Florilégio
organização: Maria Sequeira Mendes, Joana Meirim, Nuno Amado
leituras/ensaios por: Akihiko Shimizu, Alberto Manguel, Alda Rodrigues, Alex Wong, Amândio Reis, Ana Cláudia Santos, Ana Maria Pereirinha, Ana Matoso, Ana Sofia Couto, António J. Ramalho, Bernardo Palmeirim, Clara Rowland, Diogo Martins, Fernando Cabral Martins, Frederico Pedreira, Golgona Anghel, Gustavo Rubim, Helder Gomes Cancela, Helena Carneiro, Inês Rosa, Joana Matos Frias, Joana Meirim, João Dionísio, Jorge Almeida, Lawrence Rhu, Lúcia Evangelista, Madalena Quintela, Madalena Tamen, Margarida Vale de Gato, Maria Rita Furtado, Maria Sequeira Mendes, Miguel Tamen, Nuno Amado, Pedro Serra, Pedro Sobrado, Rita Faria, Rosa Maria Martelo, Sara Campino, Sara de Almeida Leite, Silvina Rodrigues Lopes, Tatiana Faia, Telmo Rodrigues, Teresa Bartolomei
poemas de: Abade de Jazente, Adélia Prado, Adília Lopes, Alberto Pimenta, Alice Oswald, Ana Hatherly, Anna Akhmátova, Anthony Hecht, António Franco Alexandre, António Gedeão, Arthur Rimbaud, Bernardim Ribeiro, Carlos de Oliveira, Charlotte Smith, Christopher Middleton, Elizabeth Bishop, Ellen Davies, Emily Dickinson, Fernando Assis Pacheco, Florbela Espanca, Frances Leviston, Francisco Alvim, G. E. Patterson, Golgona Anghel, Ian MacMillan, João Miguel Fernandes Jorge, John Betjeman, Jorge Sousa Braga, José Afonso, José Miguel Silva, Kenneth Goldsmith, Kudo Naoko, Leopoldo María Panero, Luís de Camões, Luiza Neto Jorge, Manuel Bandeira, Manuel Gusmão, Margarida Vale de Gato, María Elena Walsh, Maria Velho da Costa, Raymond Carver, Raul de Carvalho, Ricardo Tiago Moura, Rosa Maria Martelo, Tonia Tzirita Zacharatou, Wilfred Owen
capa e ilustrações: João Concha
ISBN: 978-989-53985-1-5
n.º de páginas: 232
tiragem: 350 exemplares
1.ª edição: Março, 2023
Recomendado no Plano Nacional de Leitura LER+
PVP 20,00 euros
| ensaio |
4 notes
·
View notes
Jorge de Sousa Braga, Plano para Salvar Veneza, 1981
3 notes
·
View notes
Me flipa
(Jorge Sousa Braga)
1 note
·
View note
Essa flauta toca
quer alguém
a escute ou não
Quando falamos de amor
é dessa música que falamos
Penetra a espessura
dos corpos
atravessa as paredes
É como se fosse uma teia
com milhões de sóis
Kabir
In: O nome daquele que não tem nome (2018), versões de Jorge Sousa Braga
9 notes
·
View notes
QUE TEMPOS SÃO ESTES
Há um lugar entre dois renques de árvores onde a erva cresce colina acima
e a velha estrada revolucionária se desfaz em sombras
perto de uma capela abandonada pelos perseguidos
que desapareciam naquelas sombras.
Eu andei por lá colhendo cogumelos à beira do pavor, mas não se enganem
isto não é um poema russo, isto não está noutro lugar, mas aqui,
o nosso país aproximando-se da sua própria verdade e pavor,
as suas próprias maneiras de fazer as pessoas desaparecerem.
Não te vou dizer onde fica este lugar, onde a malha escura da floresta
encontra a súbita faixa de luz —
encruzilhada de fantasmas, paraíso de folhagem:
Já sei quem quer comprá-lo, vendê-lo, fazê-lo desaparecer.
E se não te vou dizer onde fica, porque estou então a falar
contigo? Porque tu ainda ouves, porque em tempos como estes
para que tu ouças, é necessário
falar de árvores.
Adrienne Rich, Tr. Jorge Sousa Braga
1 note
·
View note
Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas, chuva de asas,
e eu sem pão para dar, tão somente
deixo-os vir. Talvez
seja isto uma
árvore
ou, quem sabe,
o amor.
Júlio Cortázar
In: "Quince Poemas de Amor a Cris".
Tradução de Jorge Sousa Braga.
(Embaixada da Argentina em Ixelles, 26 de Agosto 1914 – Paris, 12 de Fevereiro 1984).
Foto: de Alberto Jonquiéres
0 notes
cuando el mundo duerme
yo permanezco despierto
en un glorioso palacio de placer
me siento un vigilante
y veo a una chica abandonada
con una guirlanda de lágrimas
que pasa la noche contando
las estrellas contando las horas
que la separan de la felicidad
si yo hubiera sabido que
el amor y la desesperación
andan siempre de la mano
habría agarrado un tambor
y estaría proclamando por la ciudad
que el amor fue prohibido para siempre
Jorge Sousa Braga
1 note
·
View note
Jorge de Sousa Braga
Publicado originalmente em POESIA Y OTRAS LETRAS: Créditos: https://www.blogletras.com Um certo gosto pela profanação de ascendência surrealista que confia à palavra poética a desconstrução do mito salazarista como arquivo cultural de todos os fantasmas que arriscaram falhar sua suposta incorruptibilidade moral, bem como a dos círculos viciosos do ensino católico, envolto nas suas…
View On WordPress
0 notes
— Jorge Sousa Braga, no livro "O Poeta Nu". (Ed. Fenda; 1.ª edição [1991]).
3 notes
·
View notes