Tumgik
lariariane · 3 years
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Me matar
Faça o que você quiser,
Me puxe,
Me deixe sem ar,
Me leve e me traga de volta.
Faça o que você quiser comigo.
Entre o céu e a terra, eu sou seu mar.
Me afunde,
Até eu ficar sem respirar.
Me queime aos poucos,
Até eu me despedaçar.
Você pode fazer o que você quiser,
Mas nada irá conseguir me matar.
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lariariane · 3 years
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Estou tão cansada,
Poderia ir pra casa agora,
E encontrar você em meu sofá,
Depois de um dia tão longo,
Só de você que preciso.
Coloque nosso filme favorito,
Para os vizinhos não nos ouvirem,
Me deite ao seu lado,
Me enche de ternura,
Pois você sabe que eu quero,
Até o dia amanhecer,
E eu acordar sem você,
E perceber que tudo era um sonho.
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lariariane · 3 years
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Está acontecendo novamente,
Tudo aquilo que eu disse, está acontecendo novamente,
Minha mente está tremendo,
E mais uma vez, eu acordo na noite.
Igual na prisão, todo dia é o mesmo...
E mais uma vez, eu acordo sem nem ter dormido.
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lariariane · 4 years
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Me leve até você,
Antes que o céu suma,
Antes que o amor morra.
Estive esperando por esse momento,
Pelo momento de você poder me buscar.
Estive gritando por sua alma,
Mas até agora, só a espera me consola.
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lariariane · 4 years
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Andamos até minha casa,
Você pega em minhas mãos e se despede com um beijo.
Eu tento sonhar com você,
Sempre quando eu tento, você não está lá, somente a lembrança do nosso último momento.
Fecho os olhos com as minhas mãos, lembrando de nosso beijo.
Me levanto e me sirvo com uma garrafa de uísque.
Por que isso acontece com a gente?
Por que seu reflexo sempre some da minha mente?
Me forço a lembrar de você, mas sempre quando eu tento, você não está lá.
Eles me dizem para eu esquecer.
Eu lhes afirmo que eu nem lembro mais de você.
Eles gritam que já faz cinco anos.
E eu respondo calmamente que eu ainda o amo.
Mesmo não o vendo em meus sonhos, eu ainda o amo.
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lariariane · 4 years
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Aliud
- Então, Sr. Flynn, conte-me mais sobre o que aconteceu ontem.
Ela olhou dentro dos seus olhos encarando-o, tentando decifrar cada gesto.
- Como eu disse antes, eu não sei nem o porquê de eu estar aqui.
- Ok Sr. Flynn, mas se você me ajudar com mais informações, eu posso ajudar você. Já ouviu aquele ditado popular? Uma mão lava a outra? Então, me ajude a te ajudar.
Ele estava cansado de falar, de correr e de lutar.
Ninguém sabia exatamente o que tinha acontecido, somente a versão dele do outro universo.
- Como eu estava dizendo antes, Lola...
- Por favor, me chame de delegada Lola.
- Então você que está no comando do caso?
- Sr. Flynn, você não está no direito de fazer perguntas. Eu faço as questões e você somente as responde. Está entendido?
- Sim, delegada Lola. – Ele olha para ela e bufa.
- Eu sei que você está cansado, que você quer ir para sua casa e descansar. Mas eu preciso entender o motivo da sua versão de outra dimensão está em nosso planeta. Você sabe que as autoridades têm regras restritas para isso. Se outra versão de nós quiser visitar nosso planeta, essa versão precisa ter um visto. E eu estava olhando em alguns documentos, e vi que a sua versão não tem o visto requerido.
Lola cruza seus braços e olha para ele seriamente.
- Eu preciso saber o porquê que ele não tem o visto, Sr. Flynn.
- Mas eu não sei. Essa é a primeira vez que eu o vi. Juro!
- Mas por que que você tem visto para o planeta Aliud? Eu vi que você foi para lá três vezes somente nesse mês.
- Eu sou um homem de negócios.
Lola se levanta e anda até a máquina de café. Ela pega uma xícara, coloca na máquina e pressiona o botão para fazer o seu expresso.
- Você prefere café ou chá, Sr. Flynn?
- Chá, por favor. Ia ser bem-vindo algo quente para me acalmar.
Lola pega seu café da máquina e se senta em sua cadeira.
- Você só terá seu chá se responder minhas perguntas.
- Quê? Mas isso não é o certo.
- Você é um homem de negócios, correto? Pois bem, aqui eu sou a lei, eu faço as regras, Sr. Flynn. – Ela bate na mesa e olha irritada para ele.
Flynn engole em seco a sua saliva.
- Certo. Era dez da manhã. Eu estava fazendo meu simples café da manhã, com duas fatias de pão, feijão, bacon e meu chá quente. Como você sabe, eu sou irlandês.
- Eu sei! – Ela olha para ele ainda irritada. – O mais rápido que você contar a história, mas rápido eu posso te liberar, ou não. Depende somente de você.
- Por que não? Eu não fiz nada de errado. Ele que fez, a minha outra versão.
- Mas eu preciso saber da porra do motivo de ele estar morto.
Ela começa a falar alto com ele.
- Eu não o matei. Ele se matou.
- Eu sei que você está escondendo algo. E NÓS não vamos descansar até você revelar.
- Ok. Então, eu estava fazendo meu café, e eu escuto algo atravessando o meu portal.
- Você quis dizer pelo o seu espelho, certo?
-Sim! Eu andei até meu quarto para ver o que estava acontecendo, mas quando eu percebi, ele já estava de pé em frente a minha cama. Eu disse ‘Oi’, e ele disse ‘Oi’ de volta para mim...
 SETE HORAS ANTES
 - Oi outro de mim. Meu nome é Flynn, e o seu?
- Oi, Flynn. Meu nome é Flynn Vinte e Dois.
- Eu nunca vi nenhuma versão minha antes usando o meu portal. Isso é incomum. Posso ver o seu visto?
- Claro, Flynn. – Flynn Vinte e Dois coloca sua mão atrás de sua calça e puxa sua arma.
- QUE PORRA É ESSA CARA? – Flynn dá alguns passos para trás.
- CALA A BOCA! – Ainda com a arma apontada para a cabeça de Flynn. – Agora, me escute com atenção. Você vai se sentar em sua melhor cadeira, mas antes disso, eu preciso de uma fita adesiva, para a sua própria segurança, se é que você me entende. – Flynn Vinte e Dois pisca para Flynn.
Flynn pega um rolo de fita adesiva da gaveta de seu quarto e joga para a sua outra versão.
- Bom garoto. Agora, sente-se na cadeira mais confortável que você tem.
Flynn senta-se enquanto fica observando Flynn Vinde e Dois passar a fita prendendo-o em sua cadeira rosa.
- Cuidado por favor, essa cadeira é uma relíquia de minha avó.
- Eu sei, eu tenho a mesma cadeira e é da minha avó Vinte e Dois. – Ele ri para Flynn enquanto termina de adesivá-lo.
- E por que isso?
-  O que?
- Por que você não tem mais a cadeira? – Flynn pergunta para ele já preso em sua cadeira.
- É uma longa história. Eu posso te contar se você trocar algo comigo. – Flynn Vinte e dois olha para ele maliciosamente.
- O que você quer? – Ele pergunta gaguejando.
Flynn Vinte e dois se ajoelha na frente de Flynn e se apoia nele.
- Você é o melhor Flynn que eu conheço. O melhor dos melhores Flynns. – Ele toca gentilmente no rosto de Flynn. – Você tem um apartamento legal, um bom trabalho e um salário alto também (eu suspeito). Você é um garoto tão bom. Você é um cavalheiro. – Ele beija a bochecha de Flynn.
- O que você precisa? Fale logo e pare de me beijar. – Flynn começa a chorar.
- Desculpe criancinha. Eu não queria ter feito você chorar, mas você sabe, eu não sou o mesmo homem que você. Até mesmo o seu cabelo é melhor do que o meu.
- Você só precisa de um condicionador melhor. E eu posso te ajudar a ser um bom homem e a encontrar um bom trabalho. Eu posso te ensinar. – Flynn fala e acaba parando de chorar. – Você pode até mesmo acabar morando comigo.
- Isso é muito gentil da sua parte.
- Eu estou falando sério!
- O negócio é que eu preciso de uma vida nova, Flynn. Minha vida em Aliud está sendo muito difícil de ser vivida. Algumas pessoas estão me caçando. E quando eu digo caçando, eu realmente quero dizer que eles querem a minha CABEÇA.
Flynn começa a suar e pergunta.
- Por que que eles estão querendo te caçar?
- Porque eu sou um homem mal. EU PRECISO DE UMA VIDA NOVA FLYNN, E SOMENTE VOCÊ CONSEGUE ME AJUDAR. – Ele começa a gritar no rosto de Flynn.
Flynn começa a chorar novamente.
- Você sabe do porquê que eu não tenho um visto? Porque eu sou um fugitivo, até mesmo do meu próprio planeta. Eu fiz má escolhas. Fiz amizades com pessoas más. Eu matei algumas, e quase fui morto em todo esse processo. – Ele pega o braço de Flynn. - Eu preciso disso! – Ele aperta mais forte.
- Você precisa do meu chip de identificação?
- SIM!
- Não, você não pode ter isso. Vai se foder!
- Ok! Vamos colocar fita adesiva nessa sua boquinha suja.
Flynn Vinte e Dois coloca fita na boca dele e vai até a cozinha pegar uma faca.
- Bem melhor agora. É exatamente o que os outros Flynns me disseram, que você é um bobão. – Ele ri e dá um tapa na cara dele.
Ele pega o braço de Flynn novamente e corta a pele sua pele, tirando o chip de identificação para fora.
Flynn grita de tanta dor, mas nenhum som sai de sua boca.
- É um ótimo chip de identificação. Vejo aqui que você tem vários vistos de outras dimensões. Perfeito. Obrigada! – Ele beija a bochecha de Flynn. – Agora, eu vou colocar o meu chip de identificação em seu braço e costurar com o meu laser. – No mesmo momento que ele estava costurando o braço de Flynn, ele começa a cantar. - Out of body and out of mind, kiss the demons out of my dreams, I get a funny feeling, that's alright. – Ele termina de costurar o braço.
- Viu? Fácil igual espremer um limão! Agora é a minha vez.
Flynn Vinte e Dois corta seu próprio braço, e coloca o chip de identificação de Flynn e começa a costurar com o seu laser.
- Só é um pouco difícil fazer em mim mesmo. Mas, vai ficar bom. Você não acha? – Ele mostra para Flynn seu braço.
- Antes de eu terminar tudo, eu preciso fazer uma coisinha. Você tem ideia do que pode ser?
Flynn balança sua cabeça negando enquanto chora.
- Garantir que você NUNCA irá falar para ninguém sobre a nossa conversinha! Agora você irá me ajudar. – Ele pega sua arma e aponta na cabeça de Flynn. – Sorria! – Flynn Vinte e Dois atira.
Ele limpa a arma e coloca no colo de Flynn e em seguida tira toda a fita adesiva dele. Pega seu mini robô do bolso de seu jeans e fala:
- Eu preciso que você limpe toda essa zona em dois minutos.
Enquanto o robô faz o seu serviço como solicitado, Flynn Vinte e Dois arruma seu cabelo e veste uma camisa nova do guarda-roupas de Flynn. Ele pega o telefone de Flynn e liga para a polícia.
 SETE HORAS DEPOIS NA DELEGACIA
 - Então é isso? Lola pergunta.
- Sim. Ele se matou na minha frente enquanto estava sentado em minha cadeira rosa. Nós estávamos somente conversando. Mas ele era um homem triste, ele falava que tinha uma vida terrível em Aliud. Eu tentei salvá-lo, mas quando eu fui para a cozinha, ele pegou sua arma e atirou em sua própria cabeça. Foi horrível. Sujou toda a cadeira rosa que era de minha avó.
- Ok Sr. Flynn, eu acho que eu ouvi o suficiente. Muitas coisas estão ficando complicadas para as versões de outros planetas, o que você acaba de me contar é infelizmente normal hoje em dia. Triste, mas normal. – Lola se levanta e Flynn segue ela.  
- O que vai acontecer com o corpo do Flynn Vinte e Dois? - Ele para de andar.
- Sobre o corpo, não se preocupe, ele será transferido para Aliud. Eu só preciso que você assine uns documentos e estará livre para ir embora. A delegacia de polícia em Aliud estará responsável pela investigação sobre Flynn Vinte e Dois, então se nós tivemos mais alguma dúvida, entraremos em contato, ok?
- Sem problemas delegada Lola. Fico feliz em ter ajudado.
- Sinto muito pela sua cadeira, pude ver que estava em boas condições. Espero que você consiga limpá-la.
- Estava mesmo. Mas obrigada de qualquer forma.
Depois de ter preenchido toda a papelada, Flynn Vinte e Dois sai da delegacia e fala para si mesmo.
- Nova vida, novo eu! – Andando na direção de sua nova casa.
 *Música: Green Day - Novacaine
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lariariane · 8 years
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Carona: Ato 2
Odeio ficar escrevendo sobre o meu passado, mas não tenho outra escolha. Minha psicóloga e minha terapeuta já tentaram me ajudar de vários outros jeitos, porém sem sucesso, estou tentando descrever o que vem acontecendo. Espero conseguir.
Não gosto muito de ficar me apresentando, primeiro porque isso me lembra o primeiro dia de aula, e segundo porque eu sou antissocial (sou mesmo, e daí?), mas como eu já disse, minha “querida’’ psicóloga faz questão.
Me chamo Juliana, tenho trinta anos e desde quando eu me conheço por gente, amo jujubas. Sempre foi o meu doce favorito...
Quando eu tinha cinco anos, meu natal foi cheio de presentes, o que foi ótimo pois eu era uma menina muito mimada (única filha e única neta), tudo o que eu pedia eles me davam, e se não me davam, eu caia no chão e chorava, gritava, esperneava e brigava. Sempre me achei muito durona, porém em meu aniversário de oito anos eu amoleci um pouco, só um pouco.
- Querida, as pessoas estão querendo ir embora, então é melhor já cortar o bolo, o que acha? – Minha mãe era muito gentil, gentil até demais... ninguém merece.
- Não! Quero brincar mais com os meus amigos, todos têm que ficar aqui até de noitão.
- Filha hoje é domingo, amanhã as pessoas tem seus compromissos. Você querendo ou não vamos contar o seu bolo, além do mais, acho que as crianças cansaram de brincar com você – Olhei em volta, e o que meu pai dizia era verdade, todas as crianças estavam cansadas e com muito sono.
Uma coisa sobre meu pai, ele tinha um gênio forte. Nós vivíamos competindo, mas como toda família ia a meu favor, então eu acabava sempre ganhando.
- NÃO! NÃO! – Gritei e todo aquele barulho de fundo parou e começou a prestar atenção em nós três. Era o que eu queria, atenção.
- Filha, não grite assim. Júlio, vamos entregar a caixa agora? Por favor? – Minha mãe bobinha como sempre, pedindo permissão.
- Não é o certo amor, mas pelo jeito só a caixa fará que ela pare de gritar e só assim podemos cortar o bolo. Vá pegar a caixa e o bolo, enquanto eu tenho uma conversinha com ela. – Meu pai me fuzilou com o olhar, pegou em meu braço e me levou para o quarto onde não tinha ninguém.
- Certo Juliana, estou cansado dessa sua teimosia. Sei que você é criança e precisa de atenção, mas não foi assim que eu e sua mãe te educamos, espero que isso termine por aqui. Entendido? – Ele estava sentado na cama com os braços cruzados. Observava cada gesto meu, cada olhar, cada respiração.
- Não prometo nada, pai. Sou teimosa igual à você. – Saí correndo do quarto e acabei tropeçando em uma grande caixa, me levantei rapidamente antes que minha mãe viesse me acudir.
- Que caixa é essa? É minha, né?
- Sim, querida! Sua, pode abrir.
Todos ficaram em minha volta, somente meu pai ficou um pouco mais distante tentando se controlar de raiva. Fui abrindo a caixa bem devagar, estava tremendo de ansiedade. Olhei dentro dela, e os olhos do cachorrinho me encararam.  Peguei ele no colo e observei como o seu pelo era fino e bem marrom, suas orelhas caídas, e seu focinho era preto e gelado.
- Que lindo. Adorei! – Sorri e apertei ele em meu abraço.
- Que ótimo, querida! Qual será o nome dele? – Minha mãe agachou-se até ficar em minha altura.
Fiquei pensando por alguns minutos, olhei ao meu redor, e me deparei com um monte de jujuba em cima da mesa, e como eu disse antes, eu adoro jujubas.
- Sr. Jub’s! SIM! SR. JUB’S! – Gritei animada.
Bom, depois desse dia o Sr. Jub’s se tornou meu melhor amigo, fazíamos tudo juntos, porém faltava somente uma coisa.
- Certo Sr. Jub’s! A porta já está fechada e acho que está na hora de você descobrir alguns de meus segredos. – Sentei-me ao seu lado e cruzei as pernas. Fiquei observando o jeito que ele me olhava. Nessa época eu já tinha quatorze anos e nenhum amigo, somente o Sr. Jub’s.
- Por favor, não me critique, mas como você sabe, eu não tenho nenhum amigo, e sei que posso contar tudo para você, pois, você não contará para ninguém. Bem, foi meio difícil ver a mamãe ir embora, ela era tão gentil, mas tão gentil que ficava chata, porém, sinto falta dela. Ainda posso sentir o seu perfume doce, e sua pele macia, mas sei que ela está num lugar melhor. Você sabe que eu não em dou bem com meu pai, discordamos muito, deve ser porque somos bem parecidos, ou porque ele gosta de implicar comigo, enfim, odeio ele. Gostaria de ser mais velha e morar sozinha, ou melhor, só eu e você. – Deitei no chão e ali fiquei por um tempo, olhando para as estrelas grudadas no teto.
- Sua tola! Você tem apenas quatorze anos, não seria melhor preocupar-se somente com os estudos? – Levantei-me e olhei para os lados, não havia ninguém, somente eu e Sr. Jub’s. A porta ainda estava fechada, e a janela um pouco aberta, mas era impossível alguém me ouvir pela janela. Então foi quando eu me deparei com Sr. Jub’s me olhando.
- Não quero acreditar que foi você que falou! NÃO QUERO! – Fui andando para trás até encostar na parede. Eu tremia de medo.
- Sei que é difícil acreditar, mas você sabe que na verdade não sou eu. Tudo isso é da sua imaginação, você é tão antissocial que quer acreditar em um cachorro que fale, bom, aqui estou, e prometo guardar os seus segredos.
Depois desse dia eu sempre falei com ele, foi estranho, porque eu comecei a ficar meio paranoica com isso.
- Não aguento mais meu pai! Como ele pode ser tão ignorante? – Sentei-me na cama e comecei a chorar.
- Bom, é simples, você tem apenas 16 anos e é obrigada a obedecê-lo. Se ele diz para você não ir, você tem que aceitar e não jogar o prato de macarrão na cara dele e sair correndo. Tudo bem que eu não posso dizer que foi ruim, porque depois quem comeu o macarrão do piso fui eu, né. – Ele ria sem parar.
- Nós vamos falar do seu macarrão sujo ou da festa que eu não irei? Sabe, ele não pode ficar me punindo sempre.
- Desculpe! Veja pelo lado positivo, hoje você poderá dormir mais cedo! – Sr. Jub’s pula na cama e deita em meu colo.
- Claro! ‘’Grande coisa’’. Acho que vou escondida, do jeito que ele bebe aquela vodca fedorenta, e depois dorme que nem uma pedra na cama, nem vai perceber eu saindo.
Sr. Jub’s ficou falando para eu não ir, mas mesmo assim eu fui, saí de fininho e não deixei nenhum rastro.
Acabei fazendo isso várias vezes em minha vida, e ele não se importava em nenhum momento. As únicas coisas que ele dizia era: ‘Estude, Juliana. Vá para a psicóloga, Juliana. Marquei um novo horário para você ir à terapeuta, Juliana.’ Sem contar nossas brigas, mas ele nunca me agrediu, só o que me faltava também, né! Meu pai começou a ficar alcoólatra logo quando minha mãe morreu, ele ficou bem abalado. Quando minha mãe foi enterrada, ele desmaiou, todos o acudiram, menos eu, fiquei parada olhando para o túmulo com Sr. Jub’s no colo. Lembro-me como se fosse ontem, eu estava em meu quarto brincando de bonecas, e de repente, meu pai abre a porta do nada e diz que precisávamos ir para o hospital, chegando lá ficamos sabendo que minha mãe tinha se envolvido em uma batida de carro, aparentemente parece que a pessoa que estava dirigindo o outro carro desviou do caminhão em sua frente, porém não viu o carro da minha mãe vindo e acabou batendo, deu perda total no carro, tanto de minha mãe quanto no outro, três pessoas morreram naquela noite, nunca conheci as outras duas, pouco me importa também.
Sr. Jub’s me acompanha desde os meus oito anos, ele é meu melhor amigo, confidente, leal, sem contar que é muito bom de conselhos (mas é muito difícil eu seguir algum). De qualquer forma, com o passar do tempo, ele foi ficando velho, internei ele por várias vezes, ele tinha muita parada cardíaca, sem contar que o veterinário descobriu que ele também tinha água no pulmão, e que não aguentaria até o natal. Passou três dias e ele faleceu, foi horrível, foi a pior coisa que poderia acontecer, fui ao veterinário sozinha e disse que queria que ele fosse cremado, depois de sua cremação, eles me chamaram e me entregaram Sr. Jub’s em um pote. A partir desse momento, para qualquer lugar que eu ia, eu levava o pote comigo.
Você deve estar pensando: ‘Juliana você é louca, mal amada e sem noção’, eu não ligo para os pensamentos alheios, muito menos se você for uma pessoa igual ao meu pai. Claro, quase ia me esquecendo, depois que meu pai foi mandado embora do emprego e começou a gastar todo o dinheiro que tinha, eu o internei em uma casa de idosos, não o aguentava mais, porque além de chato, ele tinha ficado um chato bêbado.
Vendi a casa de meus pais e comprei um apartamento pequeno para mim, era um lugar aconchegante, com vários retratos do Sr. Jub’s. Em uma noite, estava chovendo e trovejando tanto que acabou a força da vizinhança, eu estava deitada na cama, com um pote de jujubas ao meu lado, estava tão solitária, que comecei a chorar e pedir para encontrar Sr. Jub’s logo, eu queria tanto vê-lo, ouvi-lo, mas lembrei de toda aquela conversa que eu tinha com ele não passava da minha imaginação, do meu inconsciente. Quando eu era adolescente, minha terapeuta dizia-me para meditar sempre, meditei somente algumas vezes, com um som ligado e a mente relaxada, porém como a forçada tinha acabado, eu só pude relaxar a mente, no silêncio da noite.  
- Sério mesmo que você vai ficar meditando para ver um cachorro?
- Silêncio Sr. Jub’s, estou conseguindo... – Abri os olhos assustada, mas ainda não conseguia enxergar nada, saí da cama e fui andando bem devagar até a cozinha para pegar uma vela, assim que acendi, voltei para o quarto e pude ver Sr. Jub’s em cima da cama, porém ele estava um pouco transparente.
- Bem melhor, agora consigo vê-la também...Credo, que camisola horrível, Juliana! – Ele ficou me encarrando com um sorrisinho maroto.
- Também estava com saudades! Sabe, me senti muito solitária sem você comigo. – Coloquei a vela no criado mudo e deitei-me ao seu lado.
- E você acha que eu acredito? Em uma pessoa com um coração de gelo?
- Sem graça! Por favor, me conte as novidades do paraíso, quero saber de tudo!
- Nenhuma novidade. O ‘’paraíso’’ é azul, cheio de gente e animal, nada demais! Quanto na terra tenho uma novidade para você.
- Sério?
- Sim! Amanhã você pode descobrir quem matou a sua mãe.
- O QUÊ? – Levantei-me assustada e fiquei em pé olhando para ele.
- Estou começando a gostar de te assustar. Bom, é isso mesmo que você ouviu, porém você vai descobrir de uma maneira muito ruim. Mas antes você tem que ir até a cidade onde ela foi enterrada.
- Você está me dizendo isso apenas para eu sair de casa, ou porque amanhã é Finados?
- Os dois! Uma porque faz tempo que você não visita o túmulo de sua mãe, e outra porque eu sei que você sente falta dela. Eu sei! – Ele não tirava os olhos de mim, e eu sabia que estava correto, mas não queria admitir.
- Lógico que não, eu só sinto sua falta, e não dos outros.
- Por favor, não mente para sua própria consciência, Juliana! Você sente a falta da bondade dela, de como ela te aguentava e principalmente de como ela te amava, mesmo você não reconhecendo.
- Certo! Ok, você ganhou.
- Não, não, você que ganhou.
No dia seguinte, acordei cedo, tomei um banho quente, coloquei um vestido longo preto, peguei o mapa da cidade onde minha mãe estava enterrada e fechei a porta logo atrás.
Começo a caminhar pelo centro, com Sr. Jub’s ao meu lado.
- Juliana? JULIANA?
- O que foi?
- Preciso ir até o parque!
- Por quê? Nós temos horário para pegar o ônibus! E estamos quase chegando no ponto.
- Não! Preciso muito ir ao parque! É sério, preciso fazer minhas necessidades.
- É sério? Você precisa fazer o número 1 ou o número 2? Porque se for o número 2 eu não vou retirá-lo!
- É somente o número 1! Por favor. – Ele me olhou com aqueles olhinhos irresistíveis.
- Tudo bem! – Fechei a cara e fui até o parque.
Passaram-se dez minutos, e nada do Sr. Jub’s achar o lugar exato para fazer a sua necessidade.
- Não acredito que você está procurando uma árvore boa para isso.
- Chega de falar, estou me concentrando! – Ele andava de um lado para o outro, porém estava ficando estranho, Sr. Jub’s não parava de olhar para a rua, até parece que ele estava esperando por algo.
- Olha! Está vendo aquele idoso em uma Mercedes vermelha? Pede carona para ele! Vai logo, estique o braço. – Estiquei o braço como ele havia mencionado e esperei a Mercedes estacionar.
- Eu te mato, Sr. Jub’s! – Cochichei. Ele sorri para mim, e quando menos percebo, a Mercedes estaciona.
- Olá minha jovem, posso ajudá-la? – Ele me sorri, como se tivesse visto fogos de artifício.
- Sim! Deve! – Abro a porta e logo em seguida digo. – Venha Sr. Jub’s, suba no carro.
- Quem é Sr. Jub’s?
- Meu cachorro, não está vendo? Agora ande com esse trambolho, antes que eu perca a paciência.
Ele da partida no carro e eu coloco o cinto.
- Sua tola! É só você que consegue me ver. – Ignoro Sr. Jub’s, pois ainda estou irritada com ele.
- Para onde você vai senhorita?
- Para o cemitério que fica na avenida 4. Você conhece?
- Sim, claro! Já levei algumas pessoas para lá, sem contar que minha mulher e meu filho estão enterrados lá.
Deixo ele falando sozinho, pouco me importa se sua mulher e seu filho estão enterrados lá. Não é porque eu peguei carona que eu tenha que ouvir o passado dos outros.
- Você vai visitar algum túmulo?
- Sim!
- É difícil perder alguém que ama, né? Não sei você, mais eu sou um velho solitário, sinto muita falta dos meus dois amados.
Certo, estou prestes a vomitar nele, odeio essa tristeza... ninguém merece.
O silêncio estacionou por um tempo, e isso era ótimo. Odeio essas conversinhas.
- Aceita um chiclete moça? – Ele pegou o chiclete no bolso da camisa e me mostrou, sem tirar os olhos da estrada.
- Não!
- Gosta de ouvir uma musiquinha? – Ele ligou o rádio.
- Não! – Ele desligou o rádio.
- Posso ao menos saber o seu nome?
- Juliana!
- Adorei o nome! O meu é Celso, muito prazer. – Ele deu um grande sorriso, eca!
Passaram-se cinco minutos.
- Sabe, tenho uma história muito boa...
- Meu Deus, quando é que você para de falar? Você acha que eu estou preocupada ou disposta a ouvir suas reclamações, momentos ou paixões? Não ligo. Só peguei carona porque o Sr. Jub’s me disse, mas olha, preferia ter esperado o ônibus por mais um tempo. – Fiquei tão irritada, que precisava de uma jujuba, porém não havia trazia nada, nem uma bolsa, apenas um mapa.
- Grossa! – Sr. Jub’s balançou a cabeça negativamente.
- Que foi? Tá com algum problema? Se continuar assim você também entrará para a minha lista negra! – Encarei Sr. Jub’s, queria que ele explodisse, mas não iria adiantar em nada.
- Olha só moça, não sei se você estava conversando comigo ou não, não ligo muito para isso, porque quando eu era mais jovem, eu era igual a você. Rabugenta. – Ele riu, riu muito, parecia não ter mais fim.
- Nossa, acho que preciso ir fazer xixi! Importa-se moça? É que isso me lembrou de como minha esposa me chamava, e me deixou muito feliz. Obrigado.
Por que ele disse isso? Será que ele tem um parafuso a menos? Que velho doido, credo!
- Não, pode ir. – Dei um sorrisinho de falsidade.
O senhor parou o carro no primeiro posto à frente e saiu correndo como se não houvesse o amanhã. Saí do carro também para poder me localizar melhor.
- Certo! Ali tem um mercadinho, talvez lá tenha jujubas! – Por um momento eu sorri, mas logo percebi que estava sorrindo e disfarcei gritando por Sr. Jub’s.
- Sr. Jub’s? Venha logo, vamos comprar jujubas.
Assim que entrei na loja, lembrei que tinha esquecido a bolsa com o dinheiro dentro. Sai de lá bufando.
- Aqui está você moça! Estava te procurando. Está tudo bem?
- Não, não está e sai da minha frente! – Dito e feito, ele saiu da frente me deixando andar até o carro sozinha. Mas pude vê-lo entrando no mercadinho, pegando algo e saindo, assim que ele chegou à minha frente, entregou o pacote e disse:
- Não se zangue por pouca coisa, querida! E não precisa agradecer, mesmo sabendo que você não vá. – Ele entrou no carro e me esperou entrar também.
- Jujubas! Amo jujubas. Muito obrigada. Sabe, até que você não é uma pessoa tão ruim assim.
- Não sou mais! Minha mulher me ajudou e ajudou tantas pessoas, e isso mudou muito a minha vida, meu jeito de pensar e de agir. Como eu disse, eu era igual a você, brigava com todos e com tudo, só minha opnião importava, mas pra quê? Nós temos uma vida só, e temos que aproveitar os bons e os maus momentos, principalmente as pessoas que amamos, não é verdade? – Ele deu partida e ficou esperando alguma resposta.
- É! Claro, talvez. – Comecei a pensar em como a minha mãe era assim também, ela era tão gentil, tão amável, ela não se importava com os pensamentos e palavras ruins dos outros, ela apenas amava, ela me amava, e muito.
Paramos no estacionamento do cemitério, não havia nenhum carro, apenas túmulos, flores, árvores e alguns cachorros.
Eu não queria descer do carro, eu não queria ver o túmulo de minha mãe, eu só queria ela viva, para poder abraçá-la e pedir perdão por nunca amá-la do mesmo jeito que ela me amou. Comecei a chorar, tampei meu rosto, abri a porta do carro e saí correndo para dentro do cemitério.
- Juliana! Espere. – Ouvi a voz do Celso vindo atrás de mim, porém o coitado não conseguia correr muito. Parei de correr e senti uma mão em meu ombro.
- Olha querida, não é fácil perder as pessoas. Eu perdi duas pessoas maravilhosas, foi muito difícil para mim, e sempre vai ser, mas eu tenho que erguer a cabeça e seguir em frente. Eu os perdi em uma batida de carro, fiquei sabendo do acontecimento pelo próprio caminhoneiro, que disse que estava muito devagar devido à carga muito pesada,  tenho certeza que minha mulher tentou ultrapassar ele para chegar mais cedo ao meu aniversário com o meu filho, porém não, eles nunca chegaram.
- Foi porque ela deu de frente com outro carro, não é mesmo? – Virei meu rosto para ele, fiquei bem perto do rosto dele, estava muito descontrolada.
- Sim! Exatamente. Ela não conseguiu ver, porque o outro carro estava com um dos faróis apagados, e a chuva não ajudou muito, ai eles acabaram batendo um de frente ao outro. – Ele foi se afastando um pouco. Estava controlado, porém com medo.
- Sabe, deve ser porque ela não tinha percebido, ou porque simplesmente ela amava cuidar dos outros, ou das coisas dos outros, que acabou esquecendo de arrumar um dos faróis. Ela era simples, entende? Ela era linda, era a minha mãe. E você a matou. – Empurrei ele, não tão forte, mas pude sentir o seu medo, e aquilo era bom.
- Era a sua mãe? Meus sentimentos Juliana! Minha mulher não tinha a intenção de matar alguém, nem de se matar e muito menos matar o meu filho. Por favor, tenha calma! Vamos superar juntos como bons amigos, o que acha?
A raiva foi subindo, cada vez que ele tentava chegar mais perto para me consolar, eu ficava mais nervosa. Sr. Jubs só assistia, até porque ele não podia fazer nada, ele mesmo já sabia o destino de velho Celso. Eu não o suportava mais, ainda mais quando ele dizia que nós somos parecidos. Ridículo. Fui me afastando um pouco, e acabei pisando em uma pedra, uma grande pedra, talvez assim ele pararia um pouco de falar. Peguei a pedra em minhas mãos e dei com tudo em sua cabeça. Foi cruel. Foi horrível, mas a minha dor era mais intensa. Ele caiu no chão e ali ficou.
- Será que ele morreu? – Deixei a pedra cair de minhas mãos.
- Não, ele está desmaiado! Mas tenho que admitir, você é forte.
- Obrigada, Sr. Jubs! Ele não parava de falar. E você sabe, eu odeio esse tipo de gente.
- Sim, claro! Bom, era exatamente isso que eu queria que você soubesse. Como se sente?
- Muito bem!
- Ótimo! Agora vamos embora, a chave do carro dele está no bolso esquerdo da camisa.
Peguei a chave, e corri para o estacionamento onde estava o carro, abri, esperei Sr. Jubs entrar, e dei partida.
- Para onde vamos agora?
- Vamos visitar o papai! – Dei um sorriso malicioso e peguei duas jujubas e comi satisfeita. Estava feliz, bem feliz, e claro, bem maléfica.
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lariariane · 8 years
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Carona
Eu sempre fui um velho rabugento, na verdade eu sempre fui assim… meio estranho.
Não sei como minha mulher se apaixonou por mim, é confuso pensar em uma pessoa tão boa amando outra tão diferente.
Nós nos conhecemos em uma praça antiga, eu estava apenas indo visitar um amigo, mas acabei me perdendo. Carregava comigo um mapa enorme para poder me localizar, mas na verdade não sou muito bom com mapas, direções, passos e muito menos com pessoas… então comecei a andar por instinto, porém a cada passo que eu dava eu acabava me perdendo. Chegou um momento que eu avistei um banco de madeira em uma bela praça, e lá sentei. Uma moça passeava com o seu cachorro e parou intrigada em minha frente (deve ser porque eu estava resmungando).
- Precisa de ajuda?
Olhei para a bela moça e para o seu cachorro peludo, muito peludo.
-Não!
Ela deu um sorriso e sentou-se ao meu lado.
- Você não sabe, mas eu sou muito boa em ajudar pessoas perdidas.
Além de bela, era estranha. Sim, estranha, e sabe por que? Eu não estava acostumado com tanta gentileza, por isso que ela era estranha… e seu cachorro também, principalmente porque ele era muito peludo (ok, já disse isso).
- Quem é você afinal?
- Sou Marta, prazer, e esse é meu cachorro Lince! E você deve ser um moço perdido e rabugento. – Ela se animou com sua própria piada.
- Meu nome é Celso e eu não estou perdido! Estou apenas sentando nesse banco…
- Resmungando, correto? – Ela divertia-se.
Fiquei em pé, tirei um cigarro do meu bolso, acendi, dei uma boa tragada e logo em seguida assoprei a fumaça em seu rosto.
- Credo, estou tentando te ajudar, tenho certeza que você não sabe para onde está indo, muito menos onde está. – Ela levantou-se e ficou frente a frente comigo, suas narinas saindo fumaça e seus olhos cheios de raiva, mal sabia a moça que eu adorava uma mulher brava.
- Sei muito bem onde estou, senhorita! Agora se me dá licença, preciso ir andando.
Comecei a andar, e pensei que ela viria atrás de mim, porém olhei para trás e lá estava ela, virando a esquina. Sai correndo gritando por ela.
- Moça? Senhorita? – Consegui alcançá-la. Ela estava parada em frente de uma Mercedes Benz 230 vermelha.
- Desculpe, eu te conheço? – Seus olhos me perfuravam.
- Sim, bem, na verdade não… preciso de uma ajuda.
- Uma ajuda de uma desconhecida? Não sei, qual seria a palavra mágica para uma ajuda?
- Palavra mágica? Ficou doida mulher? Que palavra mágica? – Cruzei meus braços.
- Que pena, sem a palavra mágica não poderei te dar carona… meu carro só aceita pessoas gentis e educadas.
Ela termina de colocar seu cachorro no carro, fecha a porta e logo em seguida vai entrando e puxando o cinto do motorista, porém antes dela fechar a porta e dar partida, pego-a pelo braço e digo:
-Por favor, por favor…me ajude.
-Veja só Lince, ele sabe ser gentil! – Ela olha para Lince e sorri.
Paramos no semáforo a frente, ela passa sua mão delicada no cachorro, diz umas coisinhas fofas e depois olha para o retrovisor.
- Como está se sentindo?
-Bem, não queria dizer nada, pois estou tentando não parecer rabugento, mas o seu cachorro parece gente, principalmente no banco do passageiro.
- E daí? Ele é bem melhor do que muitas pessoas que eu já dei carona, bem, na verdade eu só dou carona para os gentis, então posso te dizer que ele é muito melhor do que você.
- Ai, essa doeu! – Dei a última tragada em meu cigarro.
- Posso saber aonde você vai jogar isso? – Ela parou no posto de gasolina e virou o rosto para mim.
-Na rua que não irei, não é mesmo? – Dei uma risadinha.
Ela desceu do carro, abasteceu o tanque, e logo em seguida entrou.
- Ótimo!
Não nos falamos no caminho inteiro, a única coisa que eu lhe disse foi meu destino.
Fiquei reparando em como ela dirigia, em como ela me fascinava. Seu batom vermelho combinada com seu lenço, pude perceber também que além de ter um cabelo loiro fascinante, ela era uma mulher moderna. Nada poderia detê-la, muito menos um homem como eu.
Percebi que paramos em uma rua, porém não era o meu destino.
- Acho que você errou, esse não é o endereço que…
Ela baixou o vidro, colocou a cabeça para fora e disse.
- Olá minha senhora, gostaria de uma carona?
- Não acredito que você vai dar carona para um desconhecido. – Cruzei os braços zangado.
- Sério que você disse isso? – Ela transbordou em risos.
- Olá querida, mas que delicadeza, tem certeza que quer dar uma carona para uma velha solitária?
- Claro, ainda mais para idosas gentis. Por favor, sente-se no banco da frente comigo.
A senhora de vestido azul celeste abriu a porta e sentou-se calmamente no banco.
- Ótimo, além de estar atrasado, agora tenho que ficar aguentando tudo isso…
- Desculpe, minha senhora, meu novo colega é um pouco rabugento. – Ela esticou os olhos para mim, estava brava, e linda, é claro.
- Muito obrigada querida. Que belo cachorro você tem. Bem peludo, não?
- NEM ME DIGA! – Gritei.
Marta me fuzilou.
- Lince, por favor, sente-se ao lado do rabugento. Sei que você não quer, mas vamos ser gentis com pessoas gentis – Ela piscou para Lince e ele pulou no banco traseiro, porém ficou bem distante de mim.
Fiquei calado por um bom momento, pois Marta e a senhora do vestido azul não paravam de falar, só prestei atenção em algumas coisas, como: Marta é solteira, trabalha na biblioteca da cidade, gosta de conhecer pessoas novas, adora ler e principalmente adora um café, mora sozinha com seu cachorro Lince e passeia com ele 2 vezes por dia, nos finais de semana ela gosta de ligar para suas amigas e sair para tomar café com elas. Enquanto a senhora do vestido azul celeste, não prestei atenção em nada… só nos ‘’blá blá’’ dela.
- Chegamos Celso! – Ela parou o carro em frente ao prédio e me olhou pelo retrovisor.
- Que ótimo! – Fiquei olhando para ela e paralisei.
- Você não vai descer?
- Sim, claro, é que seus olhos verdes me paralisaram…
Ela ficou vermelha, não do mesmo tom que seu lenço, mas ficou bem vermelha, cheia de vergonha.
- Olha só Marta, o moço sabe ser gentil!
- Ei, senhora, sou sempre gentil com belas moças… tá bem, quase sempre.
- Certo, me desculpe.
Antes de sair do carro, passei a mão em Lince, dei tchau para a senhora e logo em seguida abri a porta do carro.
- Ei, moço rabugento! Não sabe ao menos ser grato pela carona? – Ela abriu a porta do carro e veio em minha direção.
- Sabia que eu adoro mulheres bravas? Minha intenção não era de te magoar, é que eu tinha quase certeza que você ficaria brava com isso, e acertei. – Peguei um cigarro, acendi e dei uma bela tragada.
- Certo! Além de ser rabugento, se acha a última fatia, não é mesmo?
- Desculpe! Obrigada pela carona e por ser meiga comigo. – Peguei suas mãos e beijei-as delicadamente.
- “Magina”! – Ela voltou a ficar toda vermelha.
- Sabe, sou um pouco perdido, e acho que sempre vou precisar de ajuda, poderia me passar seu telefone, para quando eu me perder?
- Claro! Mas qual é a palavra mágica?
- Por favor, minha querida Marta!
- Melhor assim…
Depois desse dia, nós acabamos nos vendo sempre e foi magnífico. Começamos a namorar, nos casamos, brigamos e voltamos, nos amamos, tivemos um filho, estávamos ótimos, mas infelizmente nem tudo na vida são rosas, então no dia 21 de novembro de 1976, minha querida Marta e meu filho sofreram um acidente com o mesmo carro que um dia me deu carona.
Você deve estar se perguntando, como pode um viúvo estar contando essa história tão triste. Bem, levei uns bons anos para conseguir contar, nunca superei a perda deles e nunca vou superar, mas a vida tende a nos mostrar outros lados. De qualquer forma, estou me esforçando para viver.
Marta era uma mulher, mãe, esposa esplendida, ela me ensinou muitas coisas, me deu forças em várias outras coisas. Aprendi que na vida temos que aproveitar todos os momentos. Enfim, esse deve ser um deles.
- Boa tarde! Por favor, gostaria de saber se vocês têm o antigo Mercedes 230 vermelho, estou à procura dele em toda a cidade, porém não acho.
- Boa tarde, meu senhor! Sim, esse carro é difícil de se encontrar, e quem tem vende por muito caro. É uma relíquia. – O vendedor me olhou pensativo.
- Na verdade eu tinha um, mas deu perda total em um acidente, e eu sinto tanta saudade desse carro.
- Entendi! Mas posso te ajudar, porém como eu disse, é bem caro.
Acabei comprando o carro, porém a única diferença era que ele era azul, então tive que mandar pintar de vermelho. Fiquei olhando para ele, admirando cada detalhe.
- Vou te dar um nome, se chamará Mat’s, em homenagem à minha linda mulher Marta e ao meu filho Mat.
Entrei no carro e comecei a dirigir sem rumo. Peguei a pista e fui admirando somente a paisagem das montanhas e dos raios de sol, porém algo me fez parar de prestar atenção. À minha frente dois meninos sem camisa, com bonés, bolsas e um deles carregava uma bola estavam pedindo carona, e aquilo me recordou que minha amada esposa dava carona para qualquer pessoa. Eu nunca gostei muito disso, pois toda vez que ela dava carona, geralmente queria chegar em casa logo, ou somente estar com ela, só com ela. Mas, me fez pensar que eu poderia mudar esse meu jeito, pois ela me ensinou muito e já conheceu tantas pessoas dessa forma, e eu estou tão sozinho…
- Olá meninos! Querem uma carona?
- Claro! Venha Vitor, suba logo.
Pude perceber que Vitor era o seu irmão mais novo, eles entraram e logo começaram a falar para onde iriam (lembra que eu disse que era totalmente perdido? Pois bem, isso mudou, agora sei de cada passo, graças a minha esposa).
Dia após dia, noite após noite, eu sem destino e as pessoas que eu conhecia com muitos destinos. Conheci lugares magníficos, pessoas encantadoras e animais muito gentis, igual ao nosso querido Lince. Hoje estou indo para o parque, conhecer outra pessoa e ter outro momento magnífico.
- Olá minha jovem, posso ajudá-la? – Paro o carro em frente ao parque onde há uma bela jovem pedindo carona.
- Sim! Deve! – Ela abre a porta e logo em seguida diz baixo, porém pude ouvi-la. – Venha Sr. Jub’s, suba no carro.
Vejo ela entrar, porém não vejo nenhum Sr. Jub’s.
- Quem é Sr. Jub’s?
- Meu cachorro, não está vendo? Agora ande com esse trambolho, antes que eu perca a paciência.
Olhei novamente e não tinha nada, nem ninguém, só eu e a moça emburrada, estranha e maldosa.. Dei a partida, acelerei o carro e fui… podia sentir que meu destino final era aquele, não fiquei com medo, muito menos triste, já previa que aquela moça era cheia de maldade, me deixei levar, e lá fui.
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lariariane · 8 years
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Eterna felicidade
Chuva forte na primeira semana de dezembro, acabo me recordando que deixei meu guarda-chuva no carro.
- Como sempre esquecida! – Afirmo para mim mesma.
Despeço-me dos meus colegas de trabalho e saio correndo, atravesso a rua e acabo pisando em uma poça:
- Mas que merda!
Olho irritada para o meu sapato, todo molhado.
- Clarice, sua tonta! – Bato os pés e corro novamente.
Avisto meu carro solitário, porém a chuva forte o faz companhia também. Abro a porta, coloco minha bolsa encharcada no banco passageiro e me olho no espelhinho.
- Hoje é um grande dia, e nada que acabou de acontecer irá te desanimar. – Dou um largo sorriso para mim e ligo o carro.
Fico imaginando de como será minha vida a partir de hoje, muita mudança vai acontecer. Antes de meu marido Júlio falecer, nós tínhamos o mesmo desejo, adotar uma criança, porém nós não sabíamos qual criança queríamos, na verdade nunca ligamos para a cor, etnia ou cultura, o importante mesmo era dar uma vida melhor para aquela criança. Há dois meses fui visitar a diretora Marli da ‘Lar feliz’’, nós conversamos muito, primeiro ela quis saber um pouco da minha vida e do porque que eu gostaria de adotar uma criança, depois ela questionou se eu tinha preferência (nenhuma preferência), e depois nós fomos dar uma volta na escola para conhecer todas essas crianças. Algumas correndo para cá e para lá, outras conversando em grupinhos, outras apenas deitadas no chão olhando o céu... Todas com personalidades diferentes, porém únicas. Fiquei encantada, não sabia qual eu gostaria de adotar. Estava intrigada, pois ela disse que ia me ligar na semana seguinte, porém não me ligou, pensei que eu não tinha condições suficientes, ainda mais por ser uma jovem viúva.
Olhei para o relógio, 11h53 da noite e eu ainda não tinha dormido, ficava pensando o que poderia ter acontecido, pois já se passara dois meses e nada dela me retornar, mas todas as coisas na vida têm a hora certa e o momento certo, então no dia seguinte a diretora Marli me ligou dizendo que tinha a criança perfeita para mim, que eu deveria ir à tarde para conversar com ela e conhecer a criança, topei na hora e a ansiedade tomou conta de mim.
Bom, o que aconteceu hoje na saída do trabalho você já sabe, então vamos retomar.
Cheguei à escola e me apresentei para a recepcionista dizendo que eu tinha um horário com a Marli, ela me recepcionou até a sala e mandou-me aguardar. Sentei-me na cadeira e lá fiquei. Comecei a tremer (não estava frio, não tinha ar condicionado ligado, o treme-treme era o nervosismo mesmo).
- Olá Clarice! Como está você?
Olhei para trás, e lá estava ela, toda sorridente e bem arrumada.
- Tirando a chuva que eu tomei hoje e o resfriado que eu vou pegar, estou ótima. – Dei um sorriso forçado.
- As coisas á de melhorar, acredite! – Ela pegou em minhas mãos e me levantou.
- Sim... Espero... – Fiquei bem de frente para ela, mas dei um passo para trás.
- Não se preocupe agora, quero que você continue em pé, porém gostaria de vendar os seus olhos.
Estava assustada e comecei a tremer mais ainda.
- Isso faz parte do procedimento? Porque eu nunca ouvi ninguém fazer isso para conhecer a sua criança. – Ela pegou uma fita preta e começou a vendar meus olhos.
- Para cada pai ou mãe eu faço um jogo novo, mas vejo que você passou por momentos difíceis, principalmente com a perda de seu marido, mas fique calma, você vai conhecer sua criança, e ela mudará a sua vida.
Percebi que ela me posicionou no centro da sala e logo em seguida abriu a porta.
- Clarice, quero que você fique de joelhos e estique os seus braços bem devagar.
Fiquei de joelhos e fui esticando meus braços bem devagar, ao final do braço esticado senti meus dedos tocando na pele de alguém, subi minhas mãos e toquei em seu cabelo, fiz um cafuné bem de leve e ouvi uma risada. Era um garoto. Toquei em seus olhos, e fui descendo para seus ombros, mas alguma coisa faltava, queria poder tocar em suas mãos, mas eu não conseguia achar, voltei minhas mãos para o seu cabelo e beijei sua testa.
- Clarice, pode retirar a venda!
Puxei a venda para cima e abri meus olhos, lá estava ele, o menino que eu tanto sonhei e a criança que eu sempre quis, ele era perfeito para mim, e o seu sorriso lembrava o do meu marido.
Abracei-o firmemente e senti sua cabeça se aconchegando em meu ombro.
- Tudo ficará bem! – Ele me disse, e eu desabei em chorar.
O mais interessante é que apesar de suas dificuldades ele nunca parou de sorrir, apesar dos pesares do passado, ele nunca se desanimou, sempre foi feliz. Deve ser por isso que a diretora me apresentou ele, não só para me animar, mas para fazer de minha vida uma eterna felicidade.
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lariariane · 8 years
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Minha Margarida
- Fabrício, conte-nos aquela história novamente? – Meu amigo me olhou e sorriu para mim.
- Qual história? Aquela velha ou a mais nova?
- A velha, porém com aquele toque romântico que só você sabe contar – Ele me perfurava com o seu olhar, ele tinha até decorado a história, porém sempre que ele arrumava uma nova namorada, era assim...
- Certo! Mara, por favor, tente não chorar.
Ela balançou a cabeça positivamente.
Antes de contar a história novamente para eles, quero que você leitor saiba que nós três (eu, meu amigo e Mara) já morremos, ou seja, estamos no céu (pelo menos eu acho que aqui é o céu porque temos algodão doce, pizza e chop de graça.. dentre outras coisas, lógico). Bom, meu nome é Fabricio e tenho 25 anos, você deve estar se perguntando como eu morri e como um moço tão jovem foi para o céu, bem, isso contarei depois. Meu amigo Fábio tem 18 anos, nos conhecemos aqui no céu mesmo. Mara é uma das meninas que ele encontrou no céu, mas ele sempre começa a namorar uma nova alma. Fábio é um garoto bonito, romântico, porém burro (e eu sou feio, inteligente e não sou mais romântico) de qualquer forma, Fábio sempre pede para eu contar a minha história romântica de quando eu estava na terra, não quero me gabar, mas adoro essa história, porém só odeio o fato de Fábio ficar usando ela para ‘’pegar’’ suas menininhas.
Quase me esqueci, disse para Mara não chorar, porque realmente, odeio quando essas meninas choram, elas vem me abraçando, babando, chorando e remelando em cima de mim... Desculpe, sou uma alma que odeia esse tipo de coisa.
Caminhamos perto de uma árvore e ali nos sentamos.
- Certo! Vou começar a contar... Há cinco anos eu conheci uma bela garota na faculdade, ela era linda, seus olhos cor de mel e seus longos cabelos pretos presos por uma fita branca. Ela era o tipo de garota que assim que você olhava para ela, você já pensava ‘’nunca vou conseguir ficar com ela’’, mas como eu era uma pessoa que independente do perigo ou do desafio, eu aceitava, e não desistia fácil. Na época eu estava no primeiro ano de biblioteconomia, e estava amando, não só porque tinha achado a minha vocação, mas sim porque estava trabalhando como estagiário na própria faculdade, ou seja, tudo estava sendo fácil e apaixonante. Os professores viram como eu era esforçado, então me ajudaram a conseguir a vaga de estagiário na biblioteca. O estágio era ótimo, com benefícios bons e um salário que dava para pagar minhas contas e que ainda sobrava para alguns chops (sim, eu amo chops, porém socialmente), os outros bibliotecários eram bem legais comigo, principalmente o velho João (sinto falta dele, mas sei que um dia ele vai morrer, e ai vamos nos encontrar) ele me ajudou muito em minha carreira, ele era realmente um bom líder e um ótimo amigo. Bom, voltando, a primeira vez que eu vi Sabrina, ela estava entrando na biblioteca, com alguns livros em sua mão para devolver, ela veio em minha frente e disse:
- Olá, vim devolver esses livros de biologia. – Ela mal tinha me olhado.
- Oi.. É, bem... OK! – Dei um gritinho, estava um pouco nervoso, peguei os livros de sua mão, dei baixa em todos e logo em seguida observei ela indo embora. Linda.
- NOSSA! Parece que alguém está meio nervoso. Não sei você, mas acho que é por causa da bela garota de fita branca.  – João me deu um tapinha nas costas e saiu rindo por trás das estantes.
- Eu? Não, estou super calmo... Acho. – Sussurrei para mim mesmo, tentando concordar.
Passaram-se alguns dias, e eu a observei com mais cautela. Ela era estudiosa, fanática por biologia e famosa na faculdade (não sei se ela era famosa por sua beleza ou por ser a melhor nadadora, ou talvez pelos dois), Sabrina participava de várias competições, já ganhou medalhas de prata e de ouro, ela era fera, ela era perfeita... E ela tinha que ser minha.
Sim, eu estava louco, não tinha controle. Todos os dias ela vinha de carro e ia embora de carro, porém eu acabei descobrindo que ela não trancava o carro (sim, ela era muito calma, e sim, ela tinha grana para comprar outro), enfim era sexta-feira e faltavam 30 minutos para as 22h, ela sairia da sala e iria para o banheiro e depois para o estacionamento, foi dito e feito, sai da biblioteca com um pequeno buquê de margaridas, e com um bilhete, fui correndo para o estacionamento, observei se alguém estava me seguindo ou me vendo, por sorte não, então abri lentamente a porta do carro dela e deixei no banco do passageiro as margaridas e o bilhete. No sábado era um campeonato de natação, eu acompanhava todas às vezes, porém nesse dia em especial me sentei bem no meio da arquibancada, estava vestido de vermelho e em meu bolso havia uma margarida linda. Assim que o campeonato acabou, Sabrina tinha conseguido a medalha de ouro e foi convocada para a competição nacional, porém, percebi que ela estava nervosa e que não parava de olhar para a arquibancada, as pessoas foram indo embora, mas eu continuei sentado (eu tinha escrito no bilhete que ficaria até o final, e que seria fácil de me encontrar, pois estaria usando a cor que ela mais gosta e estaria com a sua flor preferida). Assim que ela virou seu corpo para a esquerda, lá estava eu, sozinho e sorrindo, ela sorriu também, pulei alguns degraus e quase cai, mas continuei firme e fui ao seu encontro, entreguei a margarida para ela e disse.
- Por favor, não se assuste, sou somente um moço que adora ser romântico e está fascinado pela moça da fita branca.  
Ela não conseguia me olhar, ainda estava molhada, porém uma toalha a cobria, suas bochechas estavam vermelhas.
- Sabe, nunca ninguém fez isso por mim, já levei várias cantadas, mas nunca foi nada parecido com isso... – Ela ainda olhava para o chão, mas agora estava sorrindo.
Sorri também.
Depois desse dia nós nos víamos sempre, saíamos sempre, e os anos se passaram e começamos a namorar.
- Amor, minha mala não fecha, pode me ajudar?
- Lógico que não fecha você está levando a casa aqui dentro! – Sentei-me em cima da mala e forcei para que se feche.
Estávamos indo viajar para a praia, só eu e ela (romântico, não?). Ia ser nossa segunda viagem juntos, porém para a praia ia ser a nossa primeira.
Colocamos nossas malas no carro e fomos, três horas de viagem pode ser cansativo, porém não quando você está com o amor da sua vida, nós cantamos, rimos e conversamos até chegar em nosso destino.
Deixamos algumas coisas no apartamento e pegamos somente o essencial para a praia. Estava tudo lindo, caminhamos um pouco para escolher um bom lugar na areia e depois nos sentamos. Sabrina queria nadar um pouco, enquanto eu fiquei na areia a observando, ela era linda nadando, como uma sereia, porém comecei a perceber que o mar estava a puxando e não conseguia mais vê-la.
-SABRINA! VOLTE!
Certo, eu poderia ter chamado o salva-vidas, mas ele estava muito longe, então me arrisquei nadando, nunca fui bom nesse negócio de nadar, e nunca gostei, mas o amor da minha vida estava em perigo e eu tinha que salvá-la. Nadei rapidamente até onde dava pé, porém não conseguia vê-la mesmo assim, então mergulhei, a sensação foi horrível, meus olhos ardiam, mas por fim consegui avistá-la, sua perna estava presa por uma alga, e assim que ela me viu uma esperança acendeu em seu olhar, fui soltando a alga de sua perna, mas estava ficando sem ar, e comecei a ficar mole e desmaiei.  Por fim, os salva-vidas conseguiu salvar Sabrina, mas depois de  4 horas encontraram meu corpo bem no fundo do mar. 
Nunca gostei de nadar, e mal tinha fôlego para ficar em baixo d’água, foi horrível a sensação, mas ainda bem que a minha margarida está salva.
Voltei ao presente, e abri os olhos lentamente, Fábio e Mara estavam tentando não chorar, mas assim que abri os braços os dois vieram correndo para mim, senti as lágrimas, senti o peso no meu corpo, senti tudo, menos o cheiro de minha margarida.
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lariariane · 9 years
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O grande roubo
Depois daquele dia, nunca mais fui o mesmo.
Terça-feira, 10:08 da manhã, eu, meu tio e meu primo revíamos o plano do assalto ao banco. Estávamos no porão de nossa casa, tudo corria bem.
- Certo! Por sorte hoje o dia amanheceu com um belo sol, sinto que dessa vez o tempo não vai nos atrapalhar. – Meu tio nos olhou, tomou um gole de sua cerveja quente e fez uma careta.
- Odeio cerveja quente, espero que esse dinheiro sobre para nós comprarmos uma geladeira descente.
- Bem, podemos repassar? Fiquei meio confuso...
- DE NOVO? Repassamos pela terceira vez Alberto, vê se presta atenção... – Meu tio estava furioso. – Você não era assim, era bem mais esperto que o meu próprio filho. – Ele olhou para meu primo e depois lançou o seu olhar furioso para mim.
- Ok, tio, desculpe. Ando meio avoado, mesmo... não sei se hoje é o meu dia.
- COMO ASSIM? Não acredito que você está pensando ainda naquela policial. – Ele levantou-se da cadeira e me encarou de pé, estava muito furioso, pude ver fumaça saindo de suas narinas... horrível.
Meu tio nunca acreditou no amor, acho que deve ser porque ele nunca teve. Casou-se com uma mulher que odiava, na verdade casou-se porque sua própria mãe não o aguentava mais vê-lo solteiro. Porém quando sua mãe morreu, foi a chance de se separar, mas acabou tendo um filho, e nunca mais teve essa chance.
- Não! Não, jamais. – Eu estava mentindo, lógico... não conseguia olhar em seus olhos.
- Ótimo! Fábio, repita novamente o plano para seu primo.
- Sairemos daqui às 11:45, pois o gerente do banco estará almoçando, deixarei vocês na rua de trás do banco, e estarei estacionando na frente (caso não tiver vaga, estacionarei na loja ao lado), vocês descem da van e caminham calmamente até o banco, quando chegarem lá, colocam os disfarces e entram abordando. Meu pai ficará observando todos no chão com duas armas, enquanto você vai escolher uma funcionária mais frágil para abrir o cofre, assim que ela colocar todo o dinheiro dentro da mala, você dá um sinal com a cabeça para o meu pai e correm para fora do banco, como eu disse, estarei esperando vocês na frente do banco ou ao lado, vocês entram e eu dirijo o mais rápido de volta para cá. Fim.
- Já posso sentir o cheiro da grana. – Meu tio cheirou suas mãos, como se já estivesse com o dinheiro nelas.
Entramos na van exatamente às 11:43. Meu primo como motorista, meu tio ao seu lado e eu atrás. Por sorte o banco ficava próximo, podíamos muito bem ir a pé, mas como estávamos indo assaltá-lo, então era mais seguro ir de carro.
Fábio estacionou como o planejado, descemos da van, porém assim que eu desci, olhei para ele e disse baixinho:
- Se algo der errado, volte para casa. – Ele afirmou com a cabeça e eu corri até meu tio, caminhamos até o banco, paramos na frente e colocamos os nossos disfarces.
Fábio sempre foi muito medroso... e eu tinha pena dele.
Meu tio empurrou a porta e disse bem alto e claro.
- É um assalto, todos com as mãos atrás da cabeça e ajoelhados, ninguém se machucará se fizer isso. – Ele deu um sorriso malicioso e apontou as duas armas para as pessoas.
Olhei para as 6 vítimas, seus olhares amedrontados e confusos. Do lado esquerdo um senhor (provavelmente com mais de 60 anos) pálido e frágil, mal conseguia se ajoelhar, logo em sua frente uma funcionária jovem, do meu lado direito, um adolescente com sua mãe e atrás deles um funcionário de terno, caminhei até a funcionária que estava chorando atrás do balcão, percebi como era frágil e bela.
- Você! Me leve até o cofre. – Apontei minha arma para a bela funcionária, ela enxugou suas lágrimas, levantou-se e caminhou até o cofre.
Tudo estava indo como o planejado, enquanto ela colocava todo o dinheiro para dentro da mala, eu observava meu tio com as armas apontadas para as vítimas. Porém, assim que peguei a mala caminhei para a porta de saída do banco, o gerente acaba entrando e se assusta, ele corre para fora e meche em seu celular.
- Alberto, corra, antes que aquele filho da puta chame os policiais.
Saiamos correndo, porém a van não estava mais lá.
- Cadê o Fábio? Desgraçado viu...
- Acho que ele foi embora tio, venha, conheço um atalho.
Viramos a rua e entramos em um beco a esquerda. Escuro e com cheiro de xixi de rato, corremos e demos de cara com um muro.
- Não vou conseguir pular. – Meu tio olhou para sua barriga.
- Vai sim. Eu te ajudo e depois que você estiver do outro lado você me ajuda, ok?
Ele assentiu. Me agachei e falei para ele pisar em minhas mãos que eu dava impulso para ele agarrar no muro, pensei que seria fácil, mas não, o gordinho era bem pesado, ok, muito pesado, mas consegui fazer com que ele pulasse o muro.
- Está... tudo... bem? – Mal conseguia respirar.
- Sim Alberto! Venha logo.
Corri para trás (pois precisava pegar impulso), porém assim que estava correndo para frente, ouvi uma voz conhecida me chamando.
- ALBERTO? Não acredito, você de novo?
Olhei para trás, e lá estava ela... minha linda policial ruiva, quantos desejos já não tive com ela. Não conseguia dizer nada, paralisei.
- VENHA LOGO ALBERTO! PULE LOGO ESSE MURRO.
Meu tio estava gritando de um lado, e eu mal conseguia entender o que ele dizia. Depois de alguns minutos, ouvi ele correndo... desistiu de mim.
- Alberto, não acredito que você ainda anda fazendo essas coisas. Você me prometeu que iria parar. Porque não parou?
- Desculpe, eu não tive escolhas, depois que você me deixou... nada deu certo.
- Não me venha com essa Alberto! É sério, éramos mais jovens, não tínhamos muitos planos, porém eu segui o meu sonho e você ficou para trás... não me acompanhou. Enfim, venha, está na hora de você ficar atrás das grades.
- Não te acompanhei porque você me deixou antes, foi você que disse que tínhamos planos diferentes, foi você que desistiu. – Fiquei furioso, estava indo para cima dela, porém dois guardas me pegaram e me arrastaram para o carro.
Cá estou eu agora escrevendo nesse simples papel, foi a última vez que eu a vi, hoje sofro por tudo aquilo que eu fiz, gostaria de voltar ao passado, pois talvez eu ainda iria estar com ela..., mas a vida não é um mar de rosas. Minha policial roubou meu coração, literalmente.
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lariariane · 9 years
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Sem minha amada
Novamente aqui estou, sentada no mesmo sofá, esperando a minha vez chegar.
Ouço o cuco do relógio, e percebo que já são três horas.
‘’Ela está atrasada, novamente’’ – Penso e começo a bufar.
Fecho os olhos e encosto a minha cabeça no sofá, porém assim que começo a relaxar, ouço uma voz falando comigo.
- Lúcia, a doutora mandou avisar que vai atrasar alguns minutos.
- Tudo bem Mara, tudo bem!
Mara é a recepcionista da clínica, ela é gentil e linda, porém um pouco vulgar, suas roupas são curtas demais, creio que seu chefe deve adorar isso, bem, eu também.
Encosto novamente minha cabeça no sofá, porém ouço uma criança gritar com a mãe.
- Filho, pare de gritar, já vai nos atender...
- Eliza, o doutor espera você com o seu filho na sala dele.
- Obrigada Mara!
Vejo os dois andando até a sala, porém percebo que a criança fica me encarando e acaba mostrando a língua para mim.
‘’Ok, é só uma criança Lúcia. Uma criança muito irritante’’
Percebo que faz algum tempo que não tomo água, me levanto e vou até o bebedouro, a água sai gelada e me satisfaz.
Olho para o relógio, 15:12 e nada da doutora me chamar.
- Mara, por acaso ela está com aquele paciente novamente?
- Sim, ele está tendo muitos problemas, na verdade acho que ele precisa ser internado, pois está ficando louco. – Mara começa a falar baixo para os outros pacientes não se assustarem.
- Entendi!
O decote de Mara deixa amostra metade dos seus seios, belos e firmes.
Sento-me novamente no mesmo lugar, porém não consigo relaxar. Percebo um olhar me encarando, ou melhor, encarando o meu estilo. Sei que ela sabe o que eu sou, mas não dou a mínima.
- Lúcia, pode entrar agora, a doutora está te aguardando. – Ela sorri e eu retribuo. Se eu não fosse apaixonada por outra mulher, e se eu não gostasse de pessoas inteligentes, certamente tentaria algo com Mara.
Vou andando pelo corredor, vários quadros novos pendurados, porém os antigos ainda continuam lá.
Bato na porta e ouço uma voz me chamando para entrar. Giro lentamente a maçaneta e olho para dentro da sala... lá está ela, sentada em sua cadeira, com os braços cruzados em cima da mesa e com aquele sorriso que deixa qualquer um leve.
Ela sinaliza para eu entrar e eu entro, fecho a porta logo em seguida e sento-me na cadeira em sua frente.
-Olá Lúcia, como vai? – Ela sempre me pergunta as mesmas coisas, mesmo ela sabendo como eu estou, ela gosta de perguntar para ter certeza de que me conhece.
- Nada bem doutora, estou precisando desabafar algumas coisas. Acho que estou tendo aquelas visões novamente, bom, meu irmão diz que tudo isso não passa de visões, mas parece tão real, entende?
Ela consente com a cabeça e pede para eu me deitar no sofá Consolador. Consolador foi o nome que ela mesma deu para o sofá, lembro-me quando ela me explicou pela primeira vez, ela me disse que aquele sofá já ouviu várias pessoas, de várias culturas e de pensamentos diversos. Consolador é confortável e relaxante.
Vejo ela puxando sua cadeira para que fique perto do sofá, ela se senta, se ajeita e me olha.
- Olha só, meu caderno está acabando as folhas, preciso comprar outro. - Ela pega a sua caneta, anota alguma coisa no caderno e me olha. Sei o que esse olhar me diz, e sei que ele pede para eu começar.
- Sonho toda vez com aquela noite que eu a perdi. Parece real, consigo sentir o cheiro dela, o cheiro do café pronto e principalmente o frio que lá estava. Me vejo várias vezes naquele momento – Paro de falar, sinto minha voz tensa, e começo a voltar para o passado...lentamente...
Desligo o telefone, e logo abro um largo sorriso. Hoje faz cinco anos que estamos juntas. Estou feliz, não por causa da data, mas porque eu a amo de verdade e porque ela é a mulher da minha vida. Me visto lindamente e passo o perfume que ela me deu no natal, coloco os melhores sapatos, amarro meu cabelo (porque sei que ela gosta do meu pescoço livre), pego minha mini bolsa e saio de casa. No caminho, começo a lembrar que ela adora rosas, sempre que posso eu compro uma para ela, porém hoje vou comprar um enorme buquê. Passo na floricultura que fica na rua de trás do meu apartamento, e escolhe o buquê, pago em dinheiro porque acabei esquecendo o cartão no meu apartamento. Começo a subir a rua, vejo o relógio e faltam 23 minutos para o nosso encontro (tempo tranquilo para passar no supermercado, comprar um ótimo chocolate e pegar o metro), corro para o supermercado, pego o chocolate, pago e caminho lentamente para o metro, consigo achar um lugar para me sentar perto da porta e espero ele chegar na minha estação. Assim que o metro chega em minha estação, saio calmamente (para que as rosas não se desmanchem) e subo as escadas. Lembro que marquei com ela na frente da casa dela, então tento não parecer ansiosa. Atravesso uma rua, e assim que chego na rua da casa dela, consigo avistá-la em pé e acenando para mim. Vou andando mais depressa e vejo que ela está radiante, seus cabelos castanhos soltos, seus lábios vermelhos e seu vestido de florzinha... linda demais. Chego perto dela, beijo seus lábios, abraço-a e entrego o buquê, ela começa a chorar, e assim que eu pego em suas mãos, nós começamos a entrar em sua casa, porém algo nos faz parar. Dois homens armados descem de um carro e caminham em nossa frente, eles mandam a gente entrar, e começam a roubar várias coisas de valor. Abraço-a apertado, enquanto um nos vigia, o outro vai retirando os eletrônicos.  Assim que eles tiram tudo aquilo que eles queriam, eles pedem dinheiro, olho em minha bolsa, porém gastei todo o dinheiro no buquê e no chocolate, não sobrou nada. Eles ficam enfurecidos, me chamam de mentirosa, e me batem na cara, caio no chão e perco o a noção por alguns minutos, sinto o cheiro do café e o frio que passa na janela. De repente, ouço os carros de polícia parando na frente da casa (provavelmente foram os vizinhos que chamaram por causa da gritaria), e ouço eles entrando, porém, um dos assaltantes se enfurece e dá um tiro bem na cabeça de minha amada, eles quebram a janela e fogem por ela, mas acabam sendo pegos. Os policiais aparecem, e lá estou eu caída no chão e implorando para ela viver, implorando para que tudo aquilo não passasse de uma farsa...
- Lúcia? Lúcia?
Acordo da visão. Estou chorando e suando ao mesmo tempo.
- Você voltou novamente para o passado, não é?
- Sim, relembrei de tudo. Não aguento mais. Quando eu não sonho dormindo em minha cama, eu acabo sonhando aqui em seu escritório. Desculpe!
- Tudo bem Lúcia, acontece... e por isso que você está aqui, para desabafar e para ajudar você a superar tudo isso.
- Mas eu não quero superar a perda dela, não quero superar o fato de que eu ainda a amo e sempre a amarei.
- Sim Lúcia, com certeza! Mas você está aqui para tentar não lembrar mais desse episódio da sua vida e também para que você não perca a sua vida, tenho certeza que sua amada não gostaria disso.
- Mas eu preciso ficar com ela, mesmo tendo falhado em terra, sei que no céu nós ficaríamos para sempre juntas.
- Lúcia, se acalma...
Levantei-me e deixei ela falando sozinha, saí da sala e fui correndo direto para fora da clínica, ouvi a recepcionista me chamar, ouvi a doutora me chamar, mas eu não parei, corri até meu carro. Dirigi em alta velocidade para o meu apartamento, por sorte não bati o carro (por mais que quisesse). Entrei em meu prédio, peguei o elevador e deixei ele subir até o último andar, que dava para uma vista magnífica. Fiquei olhando a vista, mas ela não saia do meu pensamento e o fato de viver sem ela era impossível. Me joguei do 10º andar, e o resto é história.
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lariariane · 9 years
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A Risadinha
Coloquei ele na cama, dei um beijo de boa noite, apaguei seu abajur de astronauta e fechei a porta logo em seguida. Fui ao meu quarto, deitei em minha cama pensativo, o dia foi longo e corrido, porém as perguntas que meu filho fizera não me deixavam dormir, mas não era somente isso que não me deixou dormir...
Estávamos sentados no tapete da sala, ambos assistindo à um filme animado da Disney.
- Pai, você já foi criança, né?
- Sim meu filho, na verdade todo adulto já foi uma criança.
Ele olhou para mim, ergueu uma sobrancelha e perguntou novamente:
- Pai, você já teve algum amigo que só você conseguia ver?
- Você quer dizer amigo imaginário? Igual a Mary?
(Mary é a amiga imaginária de meu filho, meio menina e meio dinossauro).
-Não pai, a Mary é real, ela está aqui do meu lado! – Bruno ficou irritado, pude ver sua boca formando bico e sua testa franzida.
-Certo, certo! Desculpe Bruno.
- Você tem que pedir desculpas para a Mary, agora ela está chorando!
- Certo! Venha cá Mary. – Me senti estranho dando um abraço em ninguém.
- Isso, agora sim. PAI! Pai, você não me respondeu...
- Desculpe Bruno, ando meio desligado. Sim, já tive uma amiga que só eu via, ela era linda, gentil, doce e sábia.
- Nossa! Me conte mais pai, por favor... desde o começo.
Sorri para ele, fechei os olhos e me deixei levar para o passado.
- Quando eu tinha sete anos, foi muito difícil saber que eu ia me mudar de cidade, seus avós só falavam de empacotar as coisas para colocar no caminhão, sua tia (que na época tinha doze anos) vivia chorando com as amigas, porém, eu fiquei por um bom tempo olhando a rua, as casas dos meus amigos e as árvores, como se fosse a última vez, o que na verdade era. Foi difícil, eu tinha tantos amigos legais, tantas memorias, que do nada, puf, desapareceram. Arrastaram eu e sua tia para dentro do caminhão, e lá ficamos, um olhando para cara do outro, e pela primeira vez se entendendo através da tristeza. Demorou para chegar na nova cidade, no novo lar, porém fiz questão de não reclamar, fiquei quieto o caminho inteiro, apenas observando e ouvindo seus avós conversarem...
- Pai, por acaso essa cidade é nessa que nós moramos?
- Sim, Bruno, essa mesmo, mas quero que você saiba que para uma criança é muito difícil dizer adeus aos primeiros amigos. Bem, continuando, o caminhão parou ao lado de vários prédios antigos e estranhos, descemos dele, e eu pude perceber como o nosso lar era gigante, fiquei olhando para cima por uns dez minutos, estava admirado, como pode uma casa ser tão grande assim, mas descobri que aquilo era um prédio, e o pior, que em cada andar uma família vivia...fiquei triste, pensei que tudo aquilo era nosso, mas não...
Parei de contar, pois meu filho não parava de rir.
- O que foi Bruno?
- Você pai.... Você é muito engraçado, você tinha a mesma idade que a minha, mas acho que eu era inteligente para saber disso. – Ele não parava de rir.
- Filho, eu era caipira, simples e humilde, morar em uma cidade grande era assustador e inusitado, na época eu pensei que o prédio inteiro era nosso, mas seus avós me explicaram que não, e assim que eu entrei em nosso apartamento, percebi que era bem menor que a nossa casa do campo.
- Está bem, mas achei engraçado, desculpe pai. Poderia continuar?
- Lógico, bem, como estava dizendo, entramos no apartamento, não conseguia andar direito, era tudo tão novo e branco. Acabei descobrindo que a sacada foi substituída pelo jardim e também pelo quintal, o que era ridículo, porque ela era pequena, não conseguia ficar muito tempo nela, era tão alta e assustadora, porém o vento que ali passava era incrível, e isso me confortou um pouco. A noite chegou, e fui dormir no colchão (seu avô iria arrumar tudo somente no final de semana), porém não conseguia dormir, peguei uma lanterna e fiquei fazendo bichinhos com a mão através dela, foi engraçado, consegui me divertir como se nada tivesse acontecido, fiz um cachorro, um pato e assim que estava fazendo um coelho, ouvi uma risadinha bem fininha ao meu lado, poderia até ser sua tia, mas a porta estava fechada e a risadinha vinha de dentro do meu quarto, parei de fazer o coelho, e fui correndo acender à luz do quarto, não achei nada e a risadinha acabou parando, apaguei novamente a luz e sentei-me no colchão, fiquei com medo pensando em vários monstros que poderia existir lá, mas a curiosidade era maior, acendi novamente a luz da lanterna e fiquei fazendo um esquilo, e em seguida escutei a risadinha novamente, bem ao meu lado, dei um pulo, fiquei bem de frente com a risadinha, que só aumentava, joguei a luz e lá estava ela, uma fada, ou melhor, uma fada marinha, suas asas iguais às de uma bela fada, porém seu corpo era cheio de escama, e sua cauda igual de um cavalo marinho...
- Nossa, que legal pai! Isso me lembra aquele desenho que você fez, com várias anotações do lado, por acaso era ela?
- Sim filho, exatamente ela. Pois bem, continuando, fiquei assustado e pude perceber que ela também se assustou comigo, porém eu conseguia vê-la somente com a luz inteira apagada e uma lanterninha acessa.
- Pai, como ela respirava? – Pude perceber que Bruno estava confuso.
- Como ela era uma fada e ao mesmo tempo um cavalo marinho, ela conseguia respirar normalmente sem água, lógico que com o tempo eu comprei um aquário e coloquei ela lá dentro para que suas escamas não estragassem, mas ela conseguia ficar por um bom tempo fora d’agua. Voltando um pouco na história, eu e ela ficamos amigos, e com o passar do tempo, ela conheceu a minha vida, meu trabalho, minha faculdade, sua mãe, e você (quando era apenas um bebê). Ela sabia de tudo, era minha companheira, minha Risadinha.
- Mas pai, eu não lembro dela... isso é triste, porque que ela não aparece mais?
- Bem, quando sua mãe faleceu em alto mar, Risadinha tentou salvá-la, mas infelizmente ela acabou morrendo juntamente com sua mãe, é por isso que eu tenho um desenho dela moldurado na parede, para que eu sempre me lembre dela, pois os adultos vão esquecendo lentamente das coisas, e quando eu envelhecer quero me lembrar de tudo aquilo que um dia me fez rir.
Depois de ter relembrado de tudo que acontecera no dia, consegui dormir... sonhei que estava sentado em meu velho colchão, e que a lanterna estava acessa, do meu lado direito Bruno estava sentado rindo, e ao meu lado esquerdo, sua mãe pegava em minha mão, em nossa frente, Risadinha dançava desengonçada, nos fazendo chorar de tanto rir.
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lariariane · 9 years
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De: Uma árvore
Para: Meu melhor amigo
Lembro-me de como você respirava, você puxava todo o ar e depois soltava com satisfação.
Você me visitava com muita frequência, você saia correndo por toda a floresta, até me encontrar sorrindo para você.
Lembro-me do nosso primeiro encontro, você tinha brigado com seu pai (nunca gostei do seu pai, desculpe!), e você acabou saindo de sua casa muito bravo e veio direto para a floresta, você trombou comigo e acabou caindo, porém quando olhou para cima, me viu dançando com o vento, te convidei para subir em meus galhos e você subiu, e logo quando sentou-se respirou fundo e expirou lentamente, logo em seguida sorriu para mim, e contou-me sobre você. Ficamos amigos, por anos.
Uma vez você veio com uma garota, falou para ela de mim, e depois sentaram-se do meu lado, vocês se amavam, era lindo e contagiante.
As estações mudavam, era magnífico, porém eu não gostava de ficar sem folhas no inverno, mas você não se importava, dizia que eu estava magnifica, que parecia uma árvore do halloween (só você sabia como eu adorava assustar certas crianças nessa época).
Várias vezes algumas pessoas vinham até a floresta para fazer baderna, acabavam jogando lixo por onde passavam, porém em um dia eu e você assustamos essas pessoas, você se vestiu de fantasma e eu te segurei com os meus galhos, foi incrível, depois disso eles nunca mais voltaram.
Você me defendia e eu te protegia.
Te protegi de vários ladrões, de sua mãe e de várias garotas loucas.
Nós éramos uma dupla imbatível, éramos os invencíveis.
Você casou-se, teve uma linda filha e foi morar bem longe de mim, isso foi triste, você partiu o meu tronco...
Passaram-se muito anos, e avistei um adulto bem abatido vindo em minha direção, e ao seu lado uma bela garotinha, demorou um pouco para eu te reconhecer, mas foi ótimo, nós conversamos, rimos e falamos sobre o passado, você me apresentou sua filha e disse que era para eu cuidar dela, pois ela iria morar com os avós, não consegui compreender, mas depois de dois dias você veio a falecer, eu e sua filha choramos muito, foi horrível...
Com o passar do tempo, as pessoas envelhecem, e eu acabo conhecendo muitas delas, de várias gerações, de toda a personalidade que existe, porém, você foi o único que me viu por dentro, desde o momento que respirou e percebeu o meu valor.
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lariariane · 9 years
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A chácara
Sentada na sala de meus avós, estávamos conversando sobre o passado, perguntei para meu avô se algum dia ele voltaria para aquele lugar que já se fora esquecido, ele apenas me olhou tristemente e balançou a cabeça negando, eu sabia como ele se sentia.
Nós passamos anos maravilhosos naquele lugar.
Podia chamar de lar, pois vivia meus finais de semana lá e nós éramos mais unidos.
Os finais de ano eram os melhores, juntávamos toda a família.
Naquela época eu era apenas uma criança, gostava de brincar com os primos na piscina, corria com o Liso (cachorro de meu avô), pelos cantos da chácara e dormia na rede ao som do rádio.
Tempo bom aquele. Todo mundo era humilde e unido.
Comemorei vários aniversários lá, com bexigas coloridas e com pessoas que se amavam.
Mas infelizmente o tempo passou muito rápido. Alguns parentes pararam de ir e outros apenas afastaram-se.
Lembro-me de estar no balanço sentindo o vento lentamente e ao meu lado estava Liso sentado, apreciando a bela árvore em nossa frente. Sorri para ele e disse: ‘Agora somos somente eu e você’ – Passei a mão em seu pelo liso e pude perceber que ele sentia o mesmo, porém, o tempo o levou, e deixou uma grande cicatriz em meu peito.
A dor da perda sempre me feriu, sinto tanto falta dele, tanta falta daquele passado feliz e humilde...
A minha vontade é de um dia ir para lá, somente para ver como está. Sei que depois de 10 anos muita coisa mudou, mas a saudade corrói o meu coração, e isso nunca irá mudar.
Querido avô, sei como o senhor se sente, e eu sinto o mesmo... para sempre.
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lariariane · 9 years
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Ele
A chuva cai lentamente lá fora e meus olhos se fecham aos poucos.
Pedem-me para ir dormir, mas em dias como esse não é fácil.
Penso em como tudo poderia ter sido diferente...
Quando você nasceu, era todo branquinho com aqueles lindos olhos verdes, minha felicidade era tão grande que eu não conseguia parar de sorrir. Liberaram-nos do hospital e fomos para casa, uma grande surpresa nos esperava, todos queriam te pegar no colo e ver os seus olhos de esmeralda.
Era difícil, seu pai trabalhava dia e noite para nos sustentar, seus avós me ajudavam aos poucos, porém eu queria aprender tudo sozinha, só assim eu conseguiria cuidar de você como eu sempre sonhei.
Quando chovia forte e as luzes dos raios atravessavam a janela do seu quarto, você me chamava chorando de medo, somente com uma história calma você conseguia dormir, e isso se tornou rotina, toda noite eu lhe contava uma história diferente...
Quando o verão chegava, íamos sempre para a praia, você era uma criança muito sociável, brincava sempre com outras crianças como se fossem amigos de anos atrás, sabia dividir os seus brinquedos, sabia o significado de respeito e sempre colocava em prática, você era maravilhoso.
Você aprendeu a ler e a escrever muito rápido, depois de algum tempo você conseguia escrever sozinho e sabia como enviar uma carta rapidamente.
Quando você chegava da escola, sempre me contava as novidades, você ria do que tinha acontecido e era muito difícil de fazê-lo parar. Você era uma criança que contagiava a todos por onde ia, éramos felizes.
Assim que tocava o telefone, você corria para atender, pois sabia que era os seus avós te chamando para passar as férias com eles.
Você virou adolescente, sua voz engrossou-se e sua primeira e única namorada foi uma menina graciosa. Vocês se gostavam tanto que confiança durou por anos.
Você acabou indo para a faculdade que ficava em outra cidade, foi difícil me despedir de você, mas eu sabia que você ficaria bem. Te vi formando-se em arqueologia, foi emocionante.
Em seu casamento eu não me contive e chorei na cerimônia inteira, não podia acreditar que meu menininho estava casado com aquela doce garota.
Meu sonho tornou-se realidade e ganhei netos maravilhosos, tinha os seus olhos de esmeralda...
 - Lúcia? – A enfermeira abriu lentamente a porta.
- Sim? - Abri os olhos.
- Você precisa dormir. Desligue essa luz e tome esse remédio que eu lhe trouxe, vai te acalmar, sei que não é fácil para você, ainda mais hoje, mas por favor, tente...
Engoli o remédio sem água. Olhei para ela com desgosto.
- Vocês deveriam parar de me vigiar, não estou mais louca... Um dia vou quebrar essa câmera do meu quarto.
- Calma Lúcia, é para o seu próprio bem. Agora, durma! Amanhã será o dia do seu marido te visitar. Boa noite.
Olhei para o lado e ela já tinha ido embora. Estava tão bom fantasiar o meu filho que eu nunca tive.
Tentei dormir, mas é difícil quando você lembra que à 1 ano atrás, era para eu estar com meu menino em meus braços, e não aqui, nessa clínica de loucos.  
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lariariane · 9 years
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Baú de sentimentos
Ninguém sabia o porquê é quando começou.
Na época eu não conseguia entender.
Em uma manhã de sol escaldante, minha filha apareceu em casa com seu namorado, nós íamos conhecê-lo pela primeira vez, e eu pude sentir que ambos estavam nervosos.
As horas passaram-se, e não percebemos que tínhamos conversado a tarde inteira. Descobri suas semelhanças e de como ele era gentil com minha princesa, por fim, ele despediu-se de nós e foi para sua casa.
Assim que ela despediu-se dele e fechou a porta, veio em passinhos animados e sentou-se comigo no sofá. Nós nos olhamos, e ela logo baixou a cabeça, já pude perceber que ela estava me escondendo algo.
- Lu? Luiza? O que foi? – Sentei-me mais próxima dela.
- Mãe, nós não te contamos... para ser sincera, queria ter contado antes. Bom, Matheus foi aceito para o exército, estamos tentando ser felizes e não pensar em tragédias, porém semana passada faleceu um amigo dele. Nós estamos com medo do exército alemão, sei que nosso país inteiro está, porém agora que eu sei que ele foi aceito, bem... o medo é maior.
Abracei ela, e passei a mão em seus cabelos macios.
- Tudo vai ficar bem, ele vai voltar e tudo vai ser como era antes. Temos que ser pacientes e positivos.
- Sim, estou tentando, porém, o pior é que ele não sabe que eu estou grávida...
Gelei. O abraço aconchegante foi desfazendo-se, olhei para ela, que agora estava chorando. Não conseguia acreditar que minha garotinha de 19 anos estava grávida, não conseguia acreditar que eu seria avó.
- Mãe?
Peguei em suas mãos e levei ela para o sótão, assim que chegamos, sentamos em umas cadeiras antigas.
- Sabe filha, eu nunca soube quem era o meu pai até a minha juventude. Está vendo aquele baú? - Ela afirmou com a cabeça - Pois bem, me ajude a arrastá-lo até nós.
Arrastamos com cuidado, pois além de antigo ele era bem pesado.
Assim que deixamos o baú ao nosso lado, assoprei a poeira em cima dele e o abri lentamente.
Várias fotografias antigas, algumas cartas, dois coelhos de pelúcia e um álbum de recordação de um casal jovem.
- Bom, vamos começar por esse álbum que tem uma fotografia colada nele.
- Como estava dizendo, eu não sabia quem era o meu pai, e muito menos o que tinha acontecido com ele, não sabia o seu nome, não sabia quais eram seus sonhos. Sua avó era muito rabugenta, vivíamos brigando e discutindo, era horrível. Quando eu era criança, perguntava para ela quem era o meu pai, porém ela não respondia, vivia mudando de assunto. Nas festas em família, eu chamava a atenção de todos e perguntava quem era o meu pai e onde ele estava, mas ninguém falava nada, era perturbador. Com o passar do tempo, fui esquecendo e aprendi a conviver com minha mãe, brigávamos pouco, porém eu não conseguia mais sentir aquele afeto de filha para mãe, então por dias ou semanas eu dormia em casas de amigas. Ela não se importava, nem ao menos me procurava para saber onde é que eu estava.
Comecei a namorar alguns rapazes escondidos e quando conheci o seu pai, namoramos por 3 anos. Sua avó não queria conhecê-lo, dizia coisas horríveis para nós. Com 18 anos descobri que estava grávida de se irmão, não queria contar para ela, pois ela iria falar um monte de coisa ruim. Porém, em um dia quando eu cheguei em casa, ela estava chorando abraçada com o seu pai, não estava entendendo o que tinha acontecido, pois sabia que ela não fazia questão de conhecê-lo. Eles me viram caminhando e ela abriu um largo sorriso e apenas disse: ‘’Está na hora de saber o que aconteceu com o seu pai’’, nos abraçamos e choramos.
Antes dela contar seu passado, ela preparou um chá para nós e sentou-se de frente para poder contar, retirou de dentro de um baú um álbum de fotografias, e foi nos mostrando passo a passo. Ela conheceu o seu avô no bairro em que moravam, eles eram amigos e quando cresceram eles acabaram apaixonando-se. Sua avó me contou também que ele foi chamado para entrar no exército (que na época era a primeira guerra mundial), foi triste e perturbador, passaram-se dois meses, e ela decidiu escrever uma carta para ele, perguntou como estavam as coisas, como era a guerra e no final disse que eles iriam ser pais.
Sabe filha, sua avó me contou isso de coração aberto, porém não sabemos se ele recebeu a carta antes de morrer, não sabemos se ele leu que ia ser pai, foi por isso que na época sua avó teve angustia de tudo, mas quando ela soube que eu estava grávida e que estava em boas mãos, ela foi uma ótima mãe.
Por isso digo, conte para o seu namorado que você está grávida, conte para ele que ele será um ótimo pai, seja rápida... antes que tudo se perca.
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