Tumgik
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COLINA Vol. II
Cauê se espreguiçou na poltrona reclinável. Esticou os braços, as pernas e até o maxilar. Soltou um uivo alto e ranhento e se levantou da cadeira.
Precisava viver mais. Desde que se mudara para o Continente das Penas não conseguia espantar a solidão que o acompanhava desde que soube do desaparecimento de sua antiga paixão, Colina.
Esfregou a testa. Sentia falta dela, do seu sorriso, dos seus doces e de sua especialidade — os cupcakes.
Nunca dissera como se sentia por ela. Apenas guardou essa paixão por anos sem que ninguém soubesse. Ela nunca o amaria, jamais poderia amar uma criatura como ele. Muito menos agora…
A campainha tocou e Cauê empurrou os pensamentos pro canto da mente. Desceu as escadas e abriu a porta para o carteiro.
“Assine aqui por favor,” disse o funcionário.
Cauê assinou e o moço o entregou um pacote e saiu andando.
Cauê rasgou a embalagem. Uma garrafa de vinho — era isso que chegara. Não podia acreditar na sua sorte. Quem poderia lhe mandar um presente desses?
Na cozinha, pegou uma taça e tirou a rolha da garrafa. Já ia despejando o líquido inexistente quando caiu de dentro da garrafa um pergaminho. Estranho…
Pegou o papel e o desenrolou. A letra cursiva tão familiar palpitou seu coração.
Querido Cauê,
Você foi o amor da minha juventude. Eu o amo. Espere por mim.
Sempre sua, Colina
Um sorriso se abriu nos lábios de Cauê. Ela o amava enfim! Poderiam finalmente ficar juntos como era de ser.
Mas onde poderia estar Colina? A caminho daqui? Ou estava perdida? O seu sumiço ainda o perturbava.
Pegou a embalagem rasgada.
Remetente: Colina Ensolarada Ilha Perdida Próximo ao Complexo da Baleia Betsy
Grande ajuda, pensou Cauê.
Deu mais uma inspecionada no pacote quando reconheceu o selo.
Desligou a TV, arrumou as malas e foi direto para o museu de arte.
“Um passagem para a Confeitaria Colombo,” disse à atendente.
Ela o entregou o ticket. “A entrada é franca para a ilha.”
Cauê foi até a ala país colônia do museu onde ficava o portal de embarque. Achou o quadro 13C que retratava a confeitaria e se jogou nele com malas e tudo mais.
Quando deu conta de si, estava na Ilha Perdida e por razões desconhecidas suas malas haviam sumido e no lugar delas segurava um controle remoto.
Escrito por Alessandra Stutz
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DESTINO: PLANETA CARNE Vol. III
Voltamos para a caverna de Dançarina, rindo como dois doidos. Era de madrugada e tínhamos exagerado um pouco demais no licor seiva.
“Tô falando sério Dennis, você precisa arrumar um lugar para morar,” disse Dançarina. Ela franziu as sobrancelhas. “Olha eu gosto muito de você, mas minha caverna não foi feita para dois, okay?”
“Tranquilo, se preocupa não. Até amanhã eu saio.” Abaixei a cabeça e fui me esguiando pela sala e direto pro sofá.
Não nos falamos mais naquela noite, nem naquela manhã.
Acordei cedo e e fui direto procurar Brett. Ele é um ser blu que constrói casas nas árvores. Pelo que ele me contou, ele vem de um onde todos são azuis. Ele consegue levar o termo “blue man” a outro nível.
Encontrei ele na escola primária do Planeta Carne com um copo de seiva na mão e um martelo na outra.
“E aí Brett, qual é a boa?” eu disse.
Ele estava de costas, martelando uma tábua no tronco de uma árvore. “Não é magnífica?” ele disse. Afastou as mãos e me apresentou a sua mais nova criação.
“Tá uma beleza Brett.” Esfreguei o queixo. “É para a escola?”
“É, uma Senhorita Kiki encomendou. Ela quer transformar em uma biblioteca na árvore.” Brett enfiou o martelo no cinto de utilidades.
Expliquei a ele minha situação e ele concordou em me ajudar com a casa. Discutíamos a espessura das paredes quando alguém se juntou a nós.
“Com licença,” disse a moça. Ela era alta, com olhos cor de lava e cabelos negros como a noite. “Você pode vir comigo aqui rapidinho? Preciso de um voluntário.”
Ela olhava diretamente pra mim.
“Claro.”
Ela me puxou pelo braço até entrarmos em uma sala de aula. Umas trinta crianças plantas-carnívora preenchiam a sala. Os sons emitidos por elas eram ensurdecedores.
“Crianças, quietinhas agora,” disse a professora.
O barulho diminuiu e ela foi até um some apertou play. A música rolou pela sala como um tapete vermelho.
Ela chegou bem perto de mim, nossos narizes quase se tocaram. Ela pegou minha mão e sussurrou no meu ouvido, “Dança comigo Dennis. Prometo que não irá se arrepender em me escolher.”
“Do que está falando?” eu disse. "E como sabe meu nome?”
Meu sangue gelou e os pelos dos meus braços um por um ficaram arrepiados. Empurrei-a pro lado e corri daquele hospício quando ela berrou, “Crianças!” e a música de trinta trompetes invadiu meus ouvidos e nervos. Eu não conseguia me mexer — estava paralisado.
A professora acariciou meu pescoço. “Me chamo Kiki, mas você já sabe disso.”
O meu olhar de confuso a fez rir.
“Vamos dizer que aquela que você chama de Dançarina é uma velha… conhecida.” Ela trincou os dentes mas continuou sorrindo como um espantalho.
Uma gota de suor escorreu pela minha testa.
“Você é amigo dela, não é, Dennis da Terra?” Ela se aproximou de mim até que suas sobrancelhas encostassem nas minhas. “Diga a ela que mandei lembranças.”
O som dos trinta trompetes se esgoelando foi a última coisa que ouvi. Quando acordei eu estava no fundo do poço — literalmente.
Escrito por Alessandra Stutz
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DESTINO: PLANETA CARNE Vol. II
Havia um planeta vizinho ao dos seres planta-carnívora. Dançarina me levou lá pra cortar o cabelo à tarde.
O planeta era conhecido como Terra de Gigantes e, de acordo com Dançarina, essa foi a inspiração de Irwin Allen para a série dos anos 60. Quem diria Irwin Allen um homem do espaço?
No cabeleireiro, a confeiteira dos cachos deu uma recortada na minha juba. Pintou partes dela (as pontas) de azul.
Saímos de lá, eu azul, Dançarina como a Jeannie é um Gênio, seu cabelo armado num rabo de cavalo alto de onde brotava uma trança.
“Tô com fome,” eu disse. “Quer almoçar em algum lugar?”
Dançarina assentiu com a cabeça, mas seus olhos descansavam em uma árvore ao longe.
Puxei-a pelo braço e ela pareceu acordar. Descemos a rua e fomos parar num restaurante de carne de alga. Não fez muito sentido pra mim, mas Dançarina pareceu entender. Nos sentamos a uma mesa no canto e ela pediu a especialidade da casa com acompanhamento de salmão que ela devorou em menos de 7 segundos.
Conversamos até anoitecer.
“Já tá ficando tarde,” ela disse, tomando um gole do seu suco de tomate.
“É,” eu disse. Os olhos dela brilhavam como a água verde numa praia ensolarada. Parecia que eu estava de volta à Terra, mergulhando no oceano.
A música invadiu o restaurante e um ser planta-carnívora tocando um violão desfilou pelo restaurante berrando/cantando Don’t Cry For Me Argentina.
Dançarina quase cuspiu a sua bebida e eu e ela caímos na gargalhada silenciosa, tossindo para disfarçar a risada.
“Melhor voltarmos para caverna.” Dançarina limpou a boca com um guardanapo.
Ela se levantou e saiu andando. Me levantei e já ía saindo quando vi o casal na mesa do lado. Eram seres planta-carnívora preocupados demais em ouvir os berros da cantora do que em vigiar seu guarda-chuva. Catei o que precisava e saí correndo atrás da Dançarina.
Ela já estava lá fora. “O que fez você demorar tanto?”
“Guarda-chuva.”
Abri-o e Dançarina me olhou como se eu fosse um alienígena.
“Tá um sol do caramba,” ela disse.
“Nos protegemos do sol então.”
Dançarina riu. “Tá bom.”
Separados somente pelo guarda-chuva e ao mesmo tempo unidos por ele, voltamos para a caverna debaixo do sol escaldante e da nossa sombra elétrica.
Escrito por Alessandra Stutz
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PLANETA CARNE: MATSUSHIRO
O pirata Billy atracou no porto com seu navio e sua tripulação.
“Vamos homens,” disse Billy à tripulação. “Matsushiro nos espera.”
Billy derrubou as portas da Flor de Cerejeira, o restaurante de sushi mais cobiçado do momento. Estava lotado com pessoas saindo pelas janelas.
“Vocês tem reserva?” perguntou o metre  numa voz esgoelada.
Billy o empurrou pro lado e seguiu em direção a uma mesa solitária no fundo, obscura da luz e das pessoas.
Billy e seus piratas inundaram o restaurante com seus braços bolachudos e suas caras cerradas. Chegaram na mesa onde seu ex-camarada, o escritor Matsushiro, que os deixou por uma luva cintilante.
Matsushiro tirou os olhos de seu salmão. “O que você quer Billy?”
“Você num caixão seu desertor! Ou no fundo do mar.” Billy sorriu com seus dentes amarelos e podres e o casal da mesa ao lado quase vomitou. De longe dava para sentir seu bafo de rum.
“O mar não merece ele!” disse um dos piratas.
“É!” berrou os outros.
“Ah, para de falar mal de mim. Qual é? Você só está com rancor porque a luva cintilante preferiu a mim do que você.” Matsushiro gargalhou.
Billy trincou os dentes. “Seu—”
Nem Billy, nem Matsushiro tiveram tempo de responder. O chão começou a tremer, forte e violento.
“Terremoto!” berrou alguém e todos os fregueses, funcionários e piratas na Flor de Cerejeira saíram correndo.
O chão rachou e em meio ao pânico e as entranhas da terra brotou uma legião de toupeiras e seus CDs voadores.
Todos no restaurante se entreolharam. De repente as toupeiras começaram a dançar. E reconheceram a luva cintilante na mão do desertor. Matsushiro sentiu o peso do mundo nas costas quando as toupeiras foram até ele. Ele não sabia o que fazer, só que tinha gostado da luva que tinha encontrado no fundo do mar. As toupeiras explicaram fazendo mímica que a luva transformava as veias do ser humano em uma lâmpada mágica e que o ser humano podia escolher algo.
Matsushiro escolheu conhecer um lugar novo. E foi teletransportado para um planeta habitado por seres planta-carnívora.
Os habitantes não comiam humanos como ele — UFA! Ofereceram-lhe uma limonada e o hospedaram em uma casa de praia de um ser planta-carnívora chamada Bessie.
“Muito obrigado pela hospitali… cough cough cough… dade,” disse à Bessie. “Esse lugar é tudo que eu poderia desejar.”
A casa de praia era magnificamente gigante e Matsushiro se perdia muito nela. Mas também, ela parecia mais um labirinto.
Com os passar dos dias, a tosse de Matsushiro foi ficando mais e mais forte, assim como seu carinho por Bessie. Um dia após um gole de rum, Matsushiro se ajoelhou.
“Bessie Carne, você gostaria… cough cough… de se cas… cough cough… comigo?”
“É claro meu amor!”
Bessie pulou em seus braços e os dois viveram muito felizes — ambos com pneumonia.
Escrito por Alessandra Stutz
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COLINA
Colina serviu os cupcakes de morango às suas duas melhores amigas. “Espero que gostem!”
A confeitaria de Colina ficava na quinta curva do estômago de Betsy, a baleia. Era um local privilegiado no complexo da baleia. Colina sorriu para suas amigas. “Tenho que voltar para a cozinha, mas se precisarem de mim, não hesitar em chamar.” Se virou, mas antes que pudesse sair do lugar, Nanda, uma das duas melhores amigas, a puxou pelo braço. “Sim Nanda?” disse Colina. Mas Nanda não ouviu. Seus olhos castanhos brilhavam numa cor de verde alienígena neon.
“Daqui você sairá, Para nunca mais voltar, Numa jornada espiritual Embarcar você irá, E quem sabe até o amor Você encontrará.”
Nanda vomitou a profecia com lábios tortos. Seus olhos se fecharam e, quando se abriram novamente, estavam castanhos como se nada tivesse acontecido. Mas algo acontecera de fato. Algo mudara.
Colina não sabia mais onde estava. Entre o trabalho e sua casa nada de novo acontecia. É em momentos como esse que as palavras de Nanda ecoavam em sua mente. Ela precisava de mudança, de aventura. Estava decidido. No dia seguinte estava de malas feitas e caminhando pelo esôfago de Betsy. Se perdera antes na vida, mas não se perderia nas entranhas da baleia. Alcançou a boca da baleia, fez cócegas na goela dela e SPLASH! Voou pelo orifício e céu acima. Subiu, subiu, subiu até não poder mais e caiu, caiu, caiu de cara na água. O sol queimava as bochechas de Colina e o sal ardia nos olhos. Avistou uma ilha no horizonte e nadou até ela. De lá, sentou numa pedra, tirou papel e caneta da mochila e escreveu:
Querido Cauê,
Você foi o amor da minha juventude. Eu o amo.
Espere por mim.
Sempre sua, Colina
O cheiro de bolo que acaba de sair do forno atraiu a atenção de Colina, sem mencionar seu estômago. Hmmm…. Dobrou sua carta e colocou-a numa garrafa de vinho vazia. Tampou com a rolha e jogou a garrafa no mar. Agora era hora de descobrir de onde vinha esse cheirinho de bolo. Colina deu uma fungada na trilha do cheiro.  Passou as palmeiras, a vegetação, uma poça água e cascas de coco até chegar à Confeitaria Colombo. “Mas que lugar é esse?” disse Colina, pensando alto. “É a Confeitaria Colombo,” disse uma senhora de pés leves ao seu lado. “Você não é daqui não, né?” “Não, senhora. Sou do complexo da Baleia.” “Nunca ouvi falar,” disse a velha. “É, a maioria não conhece.” “Você cozinha?” perguntou a velha. “Sim,” disse Colina, fazendo uma dancinha. “Vem comigo.” A velha pegou-a pelo braço e a arrastou pela areia. “Onde você está me levando?” “Você verá…” A velha a levou até um poço. “Olhe dentro e diga-me o que você vê.” Colina se inclinou. Via a água azul brilhando como os olhos de Cauê. “Eu vejo os olhos dele.” “De quem?” “Meu amado, Cauê.” O barulho da velha trincando os dentes foi a última coisa que Colina ouviu e antes que pudesse fazer sentido do que acontecera, a velha a empurrou poço adentro. Quando Colina abriu os olhos estava dentro de um filme de terror dos anos 80.
Continua...
Escrito por Alessandra Stutz
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SONHO MALUCO
Em uma sala de aula, tem uma turma de adultos que não teve oportunidade de estudar quando criança, pois eles tinham que trabalhar para ajudar a família.
Um dos alunos, que estava na “lista dos cansados’’ é um faxineiro,bobby, ele está morto de cansado e pegou no sono no meio da aula. Assim acabou tendo um sonho completamente maluco. Ele estava em lugar maluco, medonho e acabou percebendo que estava com uma roupa de super-herói.
Depois de um tempo como herói, ele descobre que precisará lutar com um lobisomem do mal. Será que ele vai conseguir ganhar desse animal completamente peludo?
Uma hora antes da batalha, o Super-Bobby acaba conhecendo um exterminador de formigas que é apaixonado pela ciência científica. O super-herói conta para seu novo amigo que terá que lutar com um lobisomem do mal.
Assim o exterminador tem um plano incrível, envenenar o lobisomem com um tipo de veneno, durante a luta e com isso ele começa a fazer experimentos científicos.
Depois de 5 horas ele entrega uma poção em uma seringa. Com isso o super-herói conseguirá matar o lobisomem. Durante um golpe certeiro na luta,o Bobby consegue injetar o veneno no lobisomem, só falta saber que ele morreu.
Felizmente o lobisomem do mal teve sua vida acabada, não poderá fazer mais nenhuma maldade pois está mortinho. Depois de sua morte o céu abrigou as 88 constelações, acho que o céu ficou feliz com a morte do único ser que fazia o mal.
Depois dessa aventura, o faxineiro acordou, só que aquele sonho fez ele ficar com amnésia e quando ele percebeu estava em uma fila, uma fila do banheiro de uma boate. Como ele foi parar lá ninguém sabe.
Depois de ir ao banheiro, ele descobriu que estava acontecendo um baile na boate. De repente começou a tocar uma música maluca que a letra era beep beep beep.
O Bobby acabou lembrando de sua vida como ela era e de seu sonho,então foi para casa.
Quando chegou em sua casa, começou a fazer uma lista de tópicos para escrever uma história com seu sonho, só que acaba sendo interrompido pelo bling da campainha. É o carteiro com uma carta para ele.
Quando ele foi ver quem tinha mandado uma carta para ele, acabou descobrindo que a carta não tinha o nome de quem tinha mandando aquela carta, seria uma carta misteriosa.
Escrito por Mariany A.
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DESTINO: PLANETA CARNE
Zé Caixão é meu amigo. Ele vive nas minhas veias. Ele tem uma barca temática que vai de cima a baixo no meu organismo. Meus amigos da escola não entendem. Às vezes quando eu tô na aula, eu sinto ele correndo pelas minhas veias. Faz cosquinha. “Uh-hem,” pigarreia a professora. “Porque está rindo Dennis? Acha que eu sou engraçada?” “Não,” eu digo mordendo o interior da boca. Ela me encarou por uns 20 segundos. Quando eu não disse nada, ela voltou a rabiscar no quadro.
“Ei, Dennis!” berrou Billy. Uns dez ou mais garotos estavam com ele. Era hora do recreio e estávamos todos no pátio. Billy e outros carregavam placas com coisas como ‘Queremos o Dennis de volta!’ “É sério isso?” eu tinha que perguntar. “Vocês só estão com ciúmes do Zé Caixão.” Me virei e saí andando. Foi quando ouvi os gritos histéricos. Olhei para trás e vi Billy no chão todo coberto de sangue. Uma criatura estava em cima dele, comendo os pedaços de cérebro do crânio aberto. “Ataque zumbi! Corram!” berrou Teddy, o garoto novo. “Corre Dennis!” Não precisei que me dissessem duas vezes. Corri atrás do Teddy como o louco desesperado que eu estava. Nos enfiamos no jardim da escola onde havia um labirinto antigo da época medieval. Paramos para respirar nas entranhas do labirinto. “Que loucura,” eu disse, vigiando a entrada. “É, loucura mesmo,” disse Teddy. Sui sorrir para ele, mas o que vi foi um menino lobo. Ele abriu a boca, eu gritei e ele fincou as presas no meu pescoço.
Quando acordei, Teddy havia sumido e eu não era mais um menino — eu era um lobisomem. Eu não estava mais no labirinto. Um par de olhos verdes me encarava. “Tudo bem com você?” perguntou a dona dos olhos, uma garota vestindo um collant rosa e um tutu. “Sou dançarina, e você?” Música clássica tocava de uma vitrola. “Não consegue falar?” ela disse. “Vem aqui.” Me ergui e segui a garota até um estante. Ela pegou um livro e o abriu. Dentro haviam pétalas de rosa guardadas. Eram vermelhas com um leve tom de marrom. Eram como sangue velho. Eu balancei a cabeça. “Faz o que eu tô mandando.” Abri a boca e deixei-a colocar a pétala. “Você não é daqui não, né?” Eu balancei a cabeça. “Não sei nem que lugar é esse.” “Planeta Carne é onde você está,” ela disse. “Eu sabia que você não era daqui. Com essas orelhas pontudas você só podia ser um lobisomem terrestre.” A pétala ainda salgava a minha boca como um pedaço de salmão desmanchando na boca. “Como eu vim parar aqui?” eu disse. “Você sabe?” “Na minha caverna? Não.” Olhei ao redor. Estávamos mesmo na minha caverna. “Sou terrestre também. Fui abduzida há alguns anos pelos seres planta-carnívora e desde então estou aqui nessa caverna.” Dançarina olhou para baixo. “Se quiser pode ficar aqui no meu sofá, mas apenas por uma noite.” “Obrigada, Dançarina.” “Se não se importa, vou treinar agora.” Ela sorriu e entrou nas profundezas da caverna. Daquele momento em diante eu soube — ela roubou meu coração.
Escrito por Alessandra Stutz
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