Aquele cinema de rua que virou igreja ou exibe filmes pornô
Algo aqui mudou, tua voz, tatuagem esgarçou na pele esticada, atravessada dos rios brancos
Lembrei do dia que você chorou às 5h da manhã de um verão sem horário de verão
A decadência confortável de ser, ar
Só mais uma esquina da gomes freire com a men de sá
Algo aqui mudou, virou.
Não foi o tempo
Nos conformes, tudo segue
A dizer, os atrasos ainda cumprem sua função de ser
A melhor desculpa de ficar mais
Ou nunca mais
aparecer
Reparou que isso aqui era um cinema pornô? Virou uma Lojas Americanas.
Aquela Mesbla ali? Expandiu, virou Universal.
Isso foi em 1997.
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ram
viés ou sorte
um gosto que não completa
lembro das noites diversas em que
por um caso de linhas não pisadas
esbarramos nas esquinas afins
de tu e mim
nunca vai ser óbvio, entenda
já observou uma onda quando volta?
volta que volta, mas nunca que nunca igual
afunda os pés na areia e a graça é ficar ali
a ver a nova forma que depois de um vem
já diz nada, paciência, durou segundos
não pega, não apruma, registro que a poesia fica assim
enciumada
como é que pega o retorno do mar
como é que pega esse véu no canto do lábio
sobrancelha em riste
sinais que dizem que nunca, nunca igual
já observou
os pés a fugir das linhas
céu é o limite
de lá, descer, bater ponto
sorte e revés, venha cá, adormece aqui
diversos dias, sem forma, as linhas
pisadas
arrastadas pelo dedão do pé a fazer
s.o.s
a onda
só para na beira da espuma,
anunciar:
na próxima, eu apago.
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brilhos na retina e te imagino em festa
a luz da nova sala até denuncia
óleo no cabelo
resquício cremoso na ponta mais aguda do que
pouco vê com óculos
quais as viradas que te fazem levantar?
quando você descobriu que -1 com -1 é +?
na manhã anterior sobrou pouco tempo
pensar no próximo que vem
em pequenos pulos no andar
quando alegre
menos mecânico
a altivez
de alguém que paga contas
sem poder
vejo festa nas formigas falando rapidamente
tombando entre, apressadas na quina da tua pia
conversando, apressadamente antes do teu café forte
seres divinos da noite mais noite
alheias, pois, ao horror
de e se mais um mais um menos um
volto a te ver em festa
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por acaso e sempre por ele
paro num bar que de repente
não mais que
indo pra casa
Já a diminuir o passo
mas me chama
e me chama
é elza
e ela
entoando dura na queda
dura
na
que
da
um bar me chama
danço
não sei sambar
mas a dura na queda, meu bem
os ouvidos não ficam cegos
na queda
dura
Ela
jamais caindo, firme
e quando cai
chorando
mas em público jamais
que descobri que
filho de ogum
não chora em público
e veja só
nunca chorei mesmo
mas
só veja
agora toca uma música já menos importante
suaviza, meu bem. Que é só
mais um ano. nem 16, 17. É só
você.
dura na queda.
repetindo, mesmo.
dura
queda
na
o concreto beija.
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fenda
tempo
fé e silêncio
qual o berro
nas temporas tua voz esguia
é curisoso como poesia
junta palavras desconexas
a fé também
o tempo mais ainda
não é um sopro
é só mesmo uma gota na tempora
quando você vem
é todo dia
mas é uma gota na tempora
transversal ao contrário
dá exatamente o sonho que tive
existir em dó
veja bem
faz um ano que
fé e silêncio
berram.
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no aguardo do amigo que vai chegar com uma boa notícia
a polícia deixou de acordar
sumiu no ventou que derrubou a árvore que ninguém imaginava
olha, o coturno é de couro
preto, morte.
no aguardo do volver dessa azia que corrompe
a garganta de um presente, passado
os amores seguem com as dores e delícias
sem nenhuma preocupação
ou com todas de uma bolha
estanca no pé e faz aquela
pele saltar
só a escrever e fazer a única coisa que poeta faz
escrever o que a cabeça
que não achada por uma bala faz
vinagre balsâmico de temperar saladas
mudança de assunto assim
precisa de um componente de salada
pois as pessoas na sala de jantar
precisam de verdades e saladas
me passa o ácido
pirar jamais, pirei jamais
me passa o ácido
me passa o sal
Só a poesia salva
do que, me diga?
vi um móvel tão bonito
de madeira maciça
ele me olhou e disse
tudo que não se pode ouvir a não ser de móveis e coturnos
quando virados, o cheiro, sempre ele, o cheiro
me lembrou uma Lisboa mal colocada no mapa
virando um Brasil ao contrário
entrando pra dizer que olha só
nós erramos
justiceiros, aplaudiram
regojizaram no coturno da noite meio clara
pois é assim que no Adamastor se contempla a noite
não é culpa adamastoriana
mas veja bem, aquele coturno sabor balsâmico na minha cabeça
tem uns 300 anos
de qualquer coisa envelhecida
apura a dor.
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do blues, exu
quebrar uma taça na sua cabeça
cheia de vinho
cena violenta
magenta a escorrer
angústia mais plena
te ver escorrer
nas minhas mãos
a escorrer
no chão
magenta, branco, desanuvia
tua nuvem a deslizar
e fazer formas que
não se pode acompanhar num só gole
se forma na garganta soluçante
volta antes do ar bater e
segura
que se quebra em alguma cabeça
veja bem, olha aqui
não seja doce.
não finja compaixão
eu só quero quebrar uma taça
cheia de cólera
na sua estante
fazer voar todos as páginas
todas elas
rasgar, jamais
como recuperar?
Encho a taça mais uma vez.
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Procure seu deus em outro lugar
há sempre um movimento mais à diagonal
que feito por vísceras dizem que
naquele ponto o isqueiro falhou
sua única função mágica em ser
deus, fogo
procure em outro lugar
a costela que quebra deu origem
a nada, nada se nasce de costelas
sua única função mágica em ser
Deus, mulher
procure em outro lugar
trevas tem aquela beleza estonteante
não dizer
móveis encostados na sustentação a cal
sua única função mágica
deus, construção
procure em outro lugar
basta de últimas três linhas a combinar
não é possível métrica em deus
metafísica, astrologia, psicanálise,
Oxum
Ogum
está em outro lugar
tudo para lá dos abismos
deus cisma em querer dizer
superego é só invenção
incapaz de preencher qualquer
está em outro lugar
todas as representações de deus são insuficientes
suspiros, algodão doce, pé de moleque
conforta achar que doce é deus
está em outro lugar
toda morte é deus sendo generosíssimo
essa imensidão que faz deus uma baleia
em cada oposição de venus com netuno
é só o corpo pendendo a voltar súbito por um espirro
procure em outro lugar
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Expor um amor é um ato coragem
Expor um amor é um ato coragem
tem dias que a gente se sente
pá pá pá pá
como quem
treme a barrinha do texto a continuar
um amor expor de coragem é um ato
pá pá pá pá
a barrinha a continuar
ato de amor expor a coragem
que autoajuda pá
voltamos então ao tremer
o único movimento que desimporta
que sem vergonhice das utilidades
alô, utilidades
aquele abraço, pá pá pá pá
ninguém te aceita aqui
não há cortesias ou diplomacias
só desespero
um gosto daqueles de quando a faca sobe no sentido contrário para dar mais sorte
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Fins e meio todo o movimento a girar na órbita do ir um pouco doce mas nem sempre O ir requer preguiça de dias falta de locomopção O 457 ou o 206 Nenhum deles esperam Vão assim sem dar recado Com açúcar amargo Da minha boca seca sem ti só me lembro a morte Ninguém mais fez um poema assim a falar dessa secura Dos romantismos das aulas de literatura Um pouco de pagode dos anos 90 Acode essa mania que da rimar tudo Bem miúdo e sem forma Ainda que em 4 estrofes 5 tempos Take five pra se botar bacana a conhecer um jazz Reclamar do preço do amaciante panelas novas Cartola também soube sem vergonha anunciar que o mundo é um moinho vai triturar tua rotina e essa mania de alguém te solicitou. e uma frase que te faz ser de rimas bobas assim a assombrar as têmporas me recolho e com de vidro olho observo tudo aquilo que não vivi.
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linha
vai e vem em um contínuo desespero
de deixar ir com manteiga comprada
que vai no pão que trouxe
e o toque já com suas nuances de exacerbar o amor guardado
em dribles de linhas que dançam e cortinas
desejos na mão que vacila no joelho e
recolhe dobrado
a linha ainda corre no seu rosto calado
de saber com força o desmaranhar
para só amanhã dizer bom dia
da forma mais serena e vadia
fazer nó na cabeça que cá sustenta
tantos fios
desmembra o deixar ir
desamarra tudo aquilo que é posse
acha graça e se identifica nos laços
tais laços já brotam para seguir mas
emaranhados
desalinha que o amor é compasso.
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Devorar a rotina, pensar sobre a rotina, mastigá-la numa espécie de babaloo sem sabor. Pensar nas costas que doem a cada movimento que preciso mas sem utilidade alguma. Pensar e ler a poesia como a única fonte possível de ir. Pensar que sem ela não é possível nada, não há vida, que só encontra resposta na terra. Todo dia todo dia todo dia fazer a mesmíssima coisa: regar. Um exercício árduo demais, bonito demais. Beleza no gesto, ir e vir. Ir e vir ir e vir ir e vir o empresário americano em Dubai. Ir e vir ir e vir ir e vir o rapaz do programa. Ir e vir ir e vir ir e vir é extenuante para a senhora que limpou o banheiro. Ir e vir ir e vir ir e vir é bonito em um programa de TV em aeroporto. Rotina pois, regar esse gesto, devorar ele com vontade de quem espera a terra. Não se pode pressa. Poesia não tem pressa. É essa coisa sem serviço nenhum no mundo. A terra serve. E então por que é que terra e poesia são assim tão irmãs, brigam demais vez ou outra, mas uma guarda e a outra sempre protege.
Algo há de servir.
Algo há de ser inútil.
Irmãs assim, como que a dançar numa festa de Natal, muito compenetradas em ser tudo que o mundo espera e não. A família quando a terra engole é de uma destruição que a poesia tem inveja, nem ela consegue na sua dança. Terra no seu tempo de ruminar paredes pensa que já está na hora de se deitar. Amanhã, lavrar. Esfregar os pés na umidade oca das palavras. Enterrar as horas, para mais um dia, a poesia ter seu palco cheia de si nesse vácuo de tudo aquilo que o barulho embrulha.
A poesia a mastigar a terra ali a se formar, balbuciando depois da cólica.
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Aquela esperança de lavar a roupa e secar, pode esquecer. A rotina quando te contorce a semana inteira, vez ou outra, brinca de só deixar as roupas molhadas para mais três dias sem vergonha de expor as calcinhas mais rendadas com furos milimétricos a tentar acompanhar o início da paixão logo ao lado das mais confortáveis, de furos já maiores e vivências outras, sem cor quando o anúncio é nada além do conforto de uma segunda a noite. Domingos a noite são de despedidas, conchinhas ou profunda solidão. Mas a segunda a noite é a cura. É a quarta-feira de cinzas o ano inteiro. Sem nenhum pudor, como as calcinhas milimetricamente furadas para o amor.
Olhar o varal alheio é quase como olhar a alma e a rotina a contorcer. As roupas brancas primeiro, coloridas, pretas para o final de semana. Os furos milimétricos na renda. O buraco no pijama dos sonos desde de 1987, a blusa recém comprada que nunca mais será a mesma após o varal. Palco tão alheio ao pudor como uma criança antes dos 5 anos, balançando nessa dança sem regra e descompassada de mangas a centrifugar.
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quase 2
Minha grande,
é tudo sorte e metamorfose.
Não saia assim como que a dizer que o tempo mudou. Minha grande, não existe água que vá dizer assim como me sinto na tua ausência. Quase que uma existência promovendo e vivendo, em tua espera. Sabe assim: teu cheiro. Só cheiro. Só. E nem falo de pó, dessas coisas das margens, prefiro tentar sairsentirsó. Veja bem, por aqui cobertores e chás, alguma dor de cabeça e alongamentos já a lembrar dos passos acompanhando para dentro e para fora, aqueles passos úmidos. Acontece às vezes do tapete fora do box não dar conta da água que insiste em escapar e os pés são os primeiros a saber desse anúncio terrível. Pés para dentro, pés para fora. Sempre para dentro, os tais, os pés, quando não queremos existir. De onde? Torce o tapete, pendura que amanhã precisa deles secos. Uma rotina bem simples, minha grande. É só isso. Depois, as meias. Nós. Um chá. O tapete úmido sendo o único horror que nos assombra.
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Minha grande
É tudo sorte e metamorfose
Não saia assim como que a dizer que o tempo mudou e dizem as línguas que esfria a cada sal mal colocado. Minha grande, não existe água que vá dizer assim ao lóbulo o quanto que me sinto um fileto de gente na tua ausência. Quase que uma existência promovendo e vivendo, enquanto fileto em tua espera. Sabe assim: teu cheiro. Só cheiro. Só. E nem falo de pó, dessas coisas das margens, prefiro tentar sairsentirsó. Veja bem, por aqui cobertores e chás, alguma dor de cabeça e alongamentos já a lembrar dos passos acompanhando pra dentro e pra fora, aqueles passos úmidos. Acontece às vezes do tapete fora do box não dar conta do que vai e os pés são os primeiros a saber desse anúncio terrível. Pés pra dentro, pés pra fora. Sempre pra dentro, os tais, os pés, quando não queremos existir. De onde? Torce o tapete, pendura que amanhã precisa deles secos. Uma rotina bem simples, minha grande. É só isso. Depois, as meias. Nós. Um chá. O tapete úmido sendo o único horror que nos assombra.
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Notícias do além-fronte
Acompanhar os trópicos de longe é mesmo coisa de fazer a gente ficar a saborear o sal e o picante. Notícias de que por aí o dia hoje foi quente. De praias e belas fotos de quem tem dor e pouca vontade de temperar com a pimenta que se espalha numa fumaça que não cega àqueles que, ao descer no centro da cidade (que arde) para mais um horário de almoço - agora - multiplicado por 75 anos, registra a bábarie institucionalizada para que, meus olhos longe dos trópicos, apenas pisquem e se apertem. Impontentes com a melancolia dos 10 graus, ainda acima do zero, se equilibrando. Parece piada fazer uma prosa logo no dia seguinte à morte de Gullar. E talvez seja. Sem pretensão alguma, os meus estão se esvaindo. Sinto culpa. Sem o cuidado e afago de uma dentada de tubarão da tão querida análise, a neurose deita em berço explêndido, ainda que longe dele - o berço. Sol e ardência. Veja, Lisboa não é sombria. Apenas devora-me vez em quando a vontade de nada ter que acontecer para que o mundo enfim caminhe, sem precisar de mim. Sol e ardência. Na palma da mão daquele que da sem piedade um tapa na cara da auto-ajuda ou do policial. Em seguida ambos vão te prender por desacato. Auto-ajuda e polícia tem mais a ver do que sal e pimenta nos olhos de. Como assim você desrespeitou as leis superiores da felicidade? Largue mão desse niilismo barato e pós-moderno. Você não precisa de representatividade. Você precisa de sol e ardência. Assim, a queimar tuas narinas até você dizer, chega: agora estou bem. Vou confessar.
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Oxum
Não sei se os vinte e oito ou o ar seco, mas olhei no espelho e vi uma visga abaixo das narinas. Levantei novamente. Deixei cair. Sim, havia um bigodindinho de chinês, diria as esteticistas de minha mãe. Calma, não exagera. O nariz continua ali, um tanto quanto perfeito para compensar a cabeça que muito bem em forma, com neblinas, não sustenta declínios mas brinca de construir e fazer de tudo um grande estrago bem bonito com muito vermelho e pouca pressa. O levantar da sombracelha direita por um tempo funcionou como um charme bem cafona, lá nos 17 agarinhava admiração de moços e moças. A última limpeza de pele, já há alguns meses, não existe. só conforma. Mas olha aqui, lábios grossos meu amor, Hollywood inteira quer e Deus te deu, assim de graça sem cobrar nada em troca, só a neblina. Dirigir requer retrovisor, ajeita o lápis borrado, abaixa o farol. Abaixa que o delírio narcísico é um perigo, mon amour, tua analista te disse. A drag queen daquela festa em 2014 também. É um vórtice sem fim, sem fim, sem fim. É a solidão. É a escrita sem vergonha. Lançar mão de metáforas, e olha aqui, é só isso. Um pé de galinha. Tão vendo?
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