Tumgik
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Seminário de 21/01/75/ Lacan.
Indo, no terceiro parágrafo.
Quais planos são?
“Há vários modos de enunciar o sentido, todos se referindo ao Real, pelo qual ele responde.”
O modo de enunciação do sentido depende da ocupação dos lugares que o sustentam.
O lugar da verdade corresponde aos nomes do pai, o lugar do agente, a escuta escolhida, o lugar do outro, o saber demandado pelo saber do Outro e o lugar da produção, a cena, ainda, formatada em tempo real, e mais uma vez significada.
No lugar da verdade, a resposta à função do nome do pai que, exercida do campo do Outro, faz ligar o significante ao significado: gera o isso, a cena inconsciente.
A cena inconsciente está sujeita ao sentido que depende da escolha de escuta.
Quem escuta, quem está no lugar do agente do discurso?
Dessa resposta advém o sentido, sempre como uma articulação entre o saber da demanda e o desejo que a diz.
É o mestre que na tentativa de barrar o desejo, dividido, traduz, naquilo que lhe escapa, o seu sentido.
O sentido não está às claras, é a gema da falta que o produz: somente a experiência de fracasso pode iluminar a cena inconsciente e deixar vago o lugar da produção.
Então, voltando?
O Real é o único registro que ao fazer fronteira com a verdade faz circular os demais registros, sendo que a parte que lhe cabe nessa operação, apenas, o sujeito dela pode apropriar-se, pode, dela algo dizer.
Pelo viés do imaginário dois tempos são precisos para que um sentido seja apreendido pelo saber de um outro que o opera. Ao observador, de fora, do lugar do analista, cabe exercer a função da metáfora paterna, para que a experiência do ato de ligação entre significante e significado, orquestrada pela verdade do sujeito, possa dar fórmula ao sentido.
O significante apreende-se no instante de olhar, o significado é uma resposta entre outras, flagrada no instante de decidir e que, apenas, é possível por estar sustentada pelo saber pretérito de quem, por sustenta- lo, o pode ouvir.
O outro, do lugar do Outro, dá passagem a resposta do Real à interdição da metáfora paterna.
O Real comparece ao menos uma vez, e a partir de então, ao furar o
Imaginário, por repetidas operações simbólicas, multiplica-se, através desse buraco real, em reais aparições imaginárias?
Por aí, por aí… volto, cada vez, mais?
Espero.
8 notes · View notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Voltei para 13/11/73, “A Cunhagem”, Lacan/
Qual a armadilha da tolice?
A certeza.
O sexo feminino, como efeito e por conta de sua longa e interminável trajetória cultural ao longo dos séculos (é de uma em uma que se conta, não se esgota nunca…) sabe desmascarar o erro, se fazer de tola e entrar no discurso, sem dá pista (o lugar do erro é o lugar da fala e, graças ao eu, não está subjugado a nenhum agente abusivo).
A estrutura de discurso é fálica, mal dá-se conta de que a força de sua edição está no erro.
O erro faz fracassar o sentido e ao fazê- lo desempossa o agente do discurso.
Quando o discurso gira, o enlace significante torna-se mais potente: a repetição é a saída, sabemos.
Repetir não é ratificar o sentido, até então, posto, mas, ao contrário, é desconecta-lo da letra morta, aprisionada à cadeia significante, que o diz.
Repetir é escutar mais uma vez, e dizer de outro lugar, com outra voz, forma e tempo verbal.
Freud, já dizia, que a anatomia é o destino, gênero (?) é uma questão conceitual.
Em psicanálise, sabemos, o objeto tem o poder de engolir o conceito e modificar a significação a ele atribuída.
“… O interessante é saber de que gênero é “o não tolo”. Vocês percebem? Eu digo logo: o não tolo. Será que é porque o que está apontado pelo “não” é neutro? Eu não desenvolverei isso mas há uma coisa de qualquer forma clara, e que o plural, por não estar marcado, faz vacilar completamente essa referência feminina.”
O lugar da fala é plural e está sempre a esperar a escolha cardinal na cadência ordinária da serie significante.
O sujeito deve casar-se com sua própria tolice, pois para enlaçar-se amorosamente, fazer valer a diferença sexual que o separa dos demais e, em escala, socialmente, como efeito, reproduzir-se, necessário é, deixar-se tombar diante da falicidade discursiva que o tenta, sem sucesso, engessa-lo.
A língua, de uma mulher, em trânsito, respeita o sinal (reconhece o desastre), não devasta o corpo que a acolhe, mas não está sujeita a direção nem tradução, falicamente, pré- estabelecidas.
3 notes · View notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Ainda algumas observações sobre o filme “The Square: A arte da Discórdia” de Ruben Östlund/
O nonsense (a morte) é o furo a ser circundado pela visão, pelo registro imaginário: pensemos a vida como ilusão, efeito discursivo.
O que separa, protege, a visão da angústia, desse saber sobre a morte, é a escuta: desse saber, algo se ouve, e eu diria, que é essa voz tamanha, partilhada, que a todos se une através do discurso da hora, que ao penetrar, invadir, esse furo, o significa.
A lei acorda a visão à escuta.
Se o desamparo desse saber se traduz por um choro de uma criança, um grito de socorro, pelo silêncio diante de uma discórdia ou por um barulho a invadir a sincronia suposta de uma conversa, caberá ao sujeito, em última instância, nortear sua ação pelo interdição acordada.
O espaço das respostas singulares (expansão do um) dimensiona, floreia, o discurso, através das falhas em sua comunicação, mas têm como limite, como raiz, o todo, plural legalizado, que o suporta.
A linguagem não domestica nem humaniza a nossa animalidade, mas, sim, impressionantemente, temos que aceitar a procedência oposta: é a nossa animalidade que nos leva ao apaziguamento da selvageria social que somos capazes de produzir (sem capital humano não há sobrevivência de seus efeitos).
Se a morte é certa, a linguagem pode antecipa-la e aí está o difícil espaço da lei que tenta regular a ferocidade do registro imaginário.
A questão permanece?
Não posso fazer implodir a imagem de uma criança indefesa para assinalar a urgência de cuidados aos sérios danos que sofre, mas, posso, com minha inércia, deixa-la, invisível, abandonada à sua própria sorte, nesse mesmo furo social que por escuta-la, mas não acolhe-la, a engole?
Mais uma vez, sobre liberdade de expressão?
O ato está nessa linha tênue, mas divisória, entre o limite da dimensão imaginária arbitrado e os efeitos do signo que o acolhe.
A imagem não acede à escuta, mas o ato, sim.
3 notes · View notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Assisti “The Square: A arte da Discórdia ” de Ruben Östlund.
IMPERDÍVEL!
PSICANALISTAS, VÃO LÁ!!!!
De mim, saiu isso👇
A arte da discórdia?
Viver é discordar do único fato que há: já falei disso antes, aliás, eu, não, Lacan, a morte do outro.
Around dela, o resto, discurso.
Assim, para estar nesse último (e não pular fora), só de costas.
A angústia que nos protege ronda o corpo, mas não tapa a visão (lembrem-se, estamos de costas).
O que vemos é pura ilusão.
Resto, o nome já diz: resto.
Do lixo, partimos: a vida não faz sentido com a morte (estão desligadas), somos palavras soltas, afetos perdidos à espera de significação.
As palavras atrelam-se aos afetos e tornam-se signos sujeitos a rastreamento por escuta (a angústia não se vê, apenas, se ouve).
O signo ancora a escuta ao discurso e tem como valor de partida a morte que o sentencia (sujeição ao próprio fato que o apropria).
Assim, o sentido está submetido a um senso acordado de justiça entre partes (vida e morte, palavras soltas e afetos perdidos, sim e não, amor e ódio, etc, etc).
Agora, o mote do filme: quem, senão a discórdia, arbitra o limite entre a escuta e a visão?
A liberdade de expressão baseia-se na certeza sobre o respeito à escuta, não?!
O respeito a essa certeza permitiria a invasão ao espaço acordado pela visão?!
Considerando-se seus efeitos, qual seria o limite do ato?
Tomando como certo o respeito à escuta, haveria limite?
A escuta antecede a visão.
Até a/onde iria a liberdade de expressão… ?!
Se viver é uma arte, a linguagem precisa suportar os efeitos que produz, não?!
O que há de animalesco não linguagem?
Seus efeitos?
Direto no filme?
Enquanto, a selvageria construída (que, fantasticamente, ainda, existe), do homem das cavernas, invade a visão dos espectadores, a macaca que, de fato existe, e passa batom, não impede a visão urgente do ato sexual.
2 notes · View notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Lendo “LES NON-DUPES ERRENT”/ Lacan
“Eu acreditava que havia passado”/
O passe não passa.
Se passar, deixou de ser passe.
O passe é a experiência de saber-se pendente… o eu é um pêndulo, um estádio do espelho, a carregar-se, para sempre, por tropeço… ao errar, força o significante, da hora, a retroagir, a recomeçar…
“É algo como o embalo, o impulso de alguma coisa quando pára aquilo que a propulsa. Ela continua correndo ainda.” Lacan/
Hora em que o eu, ao esbarrar-se na barra, distancia sua imagem da imagem do seu ideal e nela (barra) dependurado, suspenso, apenas, nela apoiado por seu sintoma, consegue aperceber-se de seu relevo, de sua dimensão.
Do impulso de saber não se deve fugir nem ter medo, as pessoas letradas precisam errar: a língua tem comprimento e desse não passa.
“… o inconsciente é um saber no qual o sujeito pode se decifrar.” Lacan/
Qual a relação entre “ nomes do pai” e “não-tolos-que-erram”?
O mesmo saber reportado a dois sentidos contrários.
Os nomes do pai tentam suprimir o balanço, o ainda, o erro dos não tolos, tentam anular o efeito da função fálica, colar o sintoma na imagem refletida no espelho, paralisa-lo no lugar da verdade.
O enigma é, assim, um cúmulo de sentido… prestes a cair.
0 notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Sobre psicanálise/
Já era para ter sido postado, mas retive a pressa!
Que bons ventos me façam voar, ainda, mais, em 2022/
Entrei em casa e deparei-me com a RBP, vol 55, n. 3 . 2021.
Após ser tomada por estranha sensação certifiquei-me, quase de imediato, da data e endereço do remetente.
Se o destinatário estivesse certo, a data, não, tal revista teria, talvez, surgido, como rescaldo da última arrumação no escritório.
Estava enganada, a data presente era 2021.
O que significaria esse erro?
Senti-me como levando um soco bom, retroativo, no meio do peito.
Alguém, do outro, lado, do lado, de lá, também, acena sinal, faz signo comigo?
Sou franco atiradora há anos e sei não estar filiada a nenhum Órgão oficial de psicanálise.
Sobre psicanálise, apenas, algo tento dizer, através dos meus “Olhos de Gato”, blog que assino, alimento e mantenho vivo.
Ainda, impactada, folheei a revista desconfiada, mas, assim que o mal estar passou, fui visita-la.
Li o editorial, a Carta-de-amor e resolvi aceitar o convite.
O impasse?
Volto ao tempo.
Tenho nove anos e experimento meu primeiro orgasmo.
Diante de pensamentos edípicos obsessivos intermináveis, minha mãe me diz que posso pensar o que quiser.
Suas palavras não adiantam.
Vomito sem parar no carro de meu pai, após consulta com a psicóloga.
Os sintomas regridem, a vida segue, mas não consigo significar o curto circuito entre as palavras ditas e a intenção que carregam.
O ambiente intelectual é favorável: sou a segunda filha de um médico e de uma professora.
Quando faço treze anos, minha mãe recebe diagnóstico de depressão severa e é internada.
A partir desse evento meu pai passa a acreditar, piamente, que sou portadora de mesmo diagnóstico.
Tento fazer jus a aclamação de segunda deprimida da família: estudo e disciplina não somam dois em mim.
Aos dezesseis anos com auto estima baixa, dificuldade de relacionar-me e medo do sexo oposto inicio meus processos de análise e inauguro minha vida sexual.
Aos dezoito anos, orientada por minha mãe, opto pelo curso de Psicologia na Universidade Santa Úrsula.
Descubro a psicanálise e a possibilidade de amar: embora assustada, reconheço minha capacidade intelectual.
Durante a graduação, Freud e Lacan entram na veia por transfusão e o desejo de saber dispara com força incalculável.
Tenho a sorte de ser a eles introduzida por Enaide Barros.
São os idos de 1980 e já estou no meu segundo processo de análise.
Estudo muito.
Resolvo submeter-me a teste de avaliação para ingresso no curso de pós graduação em psicanálise na própria Santa Úrsula.
Sem limite de vagas o teste era pro forma e dispunha-se a verificação mínima da condição subjetiva dos candidato.
O teste consistia em uma redação livre após a projeção de um filme.
Encantada com a ousada proposta, saí feliz e muito segura com minha produção escrita.
Fui reprovada.
Continuaria a não apreender a relação entre as palavras ditas e a intenção que carregam?
Após pedido de revisão, fui admitida, mas o impasse institucional serviu, seriamente, ao propósito de ratificar o impasse que até, ali, sustentara-me: há um abismo inalcançável entre o que se ouve e o que se diz.
Tinha 25 anos e trazia comigo a insegurança de uma intensa e extensa experiência subjetiva.
Se a escrita ato não é, corporativamente, aceita, pelas escolas de psicanálise, como forma de sua transmissão, não poderia, nelas, ingressar-me.
Parti levando comigo a certeza de continuar a submeter-me a experiência psicanalítica.
Durante trinta anos não mais li a respeito, apenas, sustentei-me a partir do saber que dessa prática emergiu.
Em 2013, após meu quarto processo analítico, senti vontade, outra vez, de enlaçar-me institucionalmente.
Fui aceita no curso de especialização clínica da Puc e, em seguida, no Campo Lacaniano do Rio de Janeiro.
Iniciei meu quinto processo de análise e o saber de Maria Anita Carneiro Ribeiro, no lugar de analista, exerceu função única no meu.
Durante esse bom encontro, a psicanálise ganhou corpo em mim, nasceram os “Olhos de Gato”.
A passagem pelo Campo Lacaniano foi curta, e fértil, comme il faut: ao discurso psicanalítico, cabe, apenas, a apreensão do ato, o resto é letra morta.
Sobre o envio dessa revista?
Fico feliz.
Estou saboreando os artigos, taking my time (“Uma poética do desligamento” de Adriana Barbosa Pereira é um texto lindo e tocou-me profundamente).
Ainda sobre o impasse?!
Quem regula a hora e o tamanho do passo se há um tempo e um espaço, intransponíveis, entre o saber de quem escuta e a verdade de quem diz?
A separar o discurso do ato há um saber não dito sobre a diferença sexual e a ética que o sustenta.
Ainda, nos Olhos de Gato, estarei a reter a pressa.
Se na carta de amor, o emissário e o destinatário são incógnitos diante das palavras que a tentam dizer, a intenção do saber, que a carta suporta, sim, é clara, e está, no ato do envio.
0 notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Seminário 24/ Lacan
Quando, quando… não vou colocar o verbo (é) nem o pronome relativo (que)… quando o sujeito consegue fazer nó no Outro (campo)?… quando surge como significante… QUANDO e COMO, são as portas de entrada para a compreensão desse seminário… eis a questão?
As formações do inconsciente já surgiriam como respostas, como capturas de um eu surgido, anteriormente, ao tempo da recusa ao sentido… o eu estaria antes de qualquer semelhança homofônica que o tente significar?
O inconsciente estaria para além do ponto de aquisição da língua?
O que iria mais longe que o inconsciente?
Qual a relação entre o isso e o traço unário?
A identidade que a estrutura de discurso tenta atribuir ao eu?
Lacan vai dizer: “a identificação é o que se cristaliza em uma identidade”/
Em três tempos e em três modos ocorreria o processo de identificação (a noção de eu como um processo A SER decifrado, identificado, em tempo real)?!
O primeiro tempo e modo seria o que caracterizaria-se pela identificação ao pai… teria a ver com o tal tempo anterior do eu… tempo de sua fundação… de inauguração do real (?)… o amor, à fala, é necessário, é ele que se oferece como a matéria do gozo ao desejo, que inaugura a margem entre o real e o imaginário… não seria isso?!
O segundo tempo e modo… a identificação histérica… única capaz de fazer escorregar a cadeia significante, de deixar o ato em suspensão, de sustentar o espaço simbólico da diferença, de fazer girar o discurso?!
O terceiro tempo e modo, nem sempre alcançado, seria o da análise, da identificação com o traço unário, com o Outro, “portador dos significantes, que puxa os cordéis” (?)… o sujeito, no campo social, como o cordelista autor, ilustrador, produtor, intérprete e vendedor de sua própria obra?!
O terceiro tempo e modo como uma “re-macacão”!!
Como o sintoma nada mais é que o parceiro sexual, aquilo que se conhece, o fim de uma análise, caracterizaria-se como saber com ele lidar (savoir faire avec), desembaraça- lo, manipula-lo com os significantes ofertados no campo do Outro)?
A análise possibilitaria a exclusão do narcisismo primário, radical, e ratificaria o narcisismo secundário, a possibilidade de um novo e constante manejo da carta de amor?
A carta de amor é uma carta a espera de assinaturas?!!
Qual o equívoco?
COMO E QUANDO?
Agora.
Tenho pressa, vou postar, outra hora continuo!
1 note · View note
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Eu tive que falar mil dias para digerir o que percebi em um segundo.
Depois que fendi a força contida, e escondida, nas palavras, que ouvira, arrefeci diante da constatação que não mais afogaria-me nas lágrimas despendidas dessa insuportável escuta.
Não há nada que se ouça que não caiba em seu saber: escuta-se o que já se sabe.
De nada vale culpar quem está, a falar, ao lado: ouve-se, do som e sentido atribuído às palavras, aquilo que aumenta o nosso pranto.
É preciso aumentar o volume das águas para nadar kms e kms e não encalhar na areia contida no porão das conchas vazias, no chorão do mar.
Por isso a gente chora, por isso a gente goza.
O fundo é uma miragem sujeito a constante ultrapassagem, assim como o movimento das ondas à quebrantar-se.
A alegria é vento arrebatado na pele depois de um dia de sol: tem o poder de secar a humidade das feridas não cicatrizáveis, como coisa que não se pensa, sem explicação.
Tenho levado a vida assim: lavando a alma com o sal peneirado nessa ponderação incólume que não deixa marcas, apenas, um resto de filtro solar, para garantir um novo amanhecer.
Queimar a língua é sempre arriscado porque é dela que se cospe o fôlego para recalcular um outro ângulo, uma outra escapadela à janela.
Sempre que consigo fujo desse tempo sombrio que não deixa registro no calendário.
Estou de calça rosa, largada, feliz, no meu quarto, esquecida do mundo que não reza por mim.
Pensar nas cores me dá gosto de festa.
Salivo, mastigo as jabuticabas frescas que caem aos meus pés com a vontade de seguir esmaltando meus medos.
Sou aguada e colorida sim.
À escuridão, lá, fora, darei, de presente, uma banana, amarela,
minha cor preferida, embora maçã seja a fruta que mais me sacie.
Não há dique, o rio vermelho que me rasga não deixa nenhum outro sangue em meu corpo vazar.
Para mil dias de fogo basta um gélido segundo: a temperatura fria silencia o excesso de gasto.
Restará sempre a conta: as cores, a água, a fome e o cheiro das flores.
2 notes · View notes
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Boa tarde!
“ É isso que exprime a função da imagem real do vaso na ilusão do vaso invertido. Essa imagem vem se reproduzir de maneira a parecer circundar a base dos caules florais que simbolizam elegantemente o pequeno a. É disso que se trata, na imagem, ou no fantasma narcísico, que vem preencher na fantasia a função de $ encaixada no desejo. E podemos conceber que talvez seja justamente a isso, a seu apelo, que responde a produção do sinal de angústia .” ( Lacan, livro 8, capítulo XXV, pg 441)/
Sem demanda não há fala e sem fala não há amor, certo?
Para que o ato amoroso não termine, apenas, como a passagem direta do gozo à letra morta… para que haja sua transmissão??
O que seria o incondicional da demanda?
A escuta (diante do desamparo, alguém me ouve (?), de alguma forma, inscrevi-me no campo do Outro (?), algum sinal, aí, desse lado, na escuta (?), enlacei minha voz a ilusão de um pranto(?!).
O desejo nada no transbordo de uma margem que não espraia em nenhuma sentença…
A metáfora do desejante seria uma fala sem fim que subverte a lógica do todo.
A metáfora do desejante consiste em subverter a escuta desejada…
Sublevar a ação verbal, mudar o lugar do sujeito na narrativa que o move…
Tirar do particípio passado o tempo corrente que, no discurso, o significa, e deslocar sua forma nominal?
Dar vida a letra morta, tornar-se veículo dessa demanda, quase, impossível (o tempo corrente está preso a estrutura), tomar para si o sinal da angústia, tornar-se desejável?
De que forma??
Tornando-se suporte do desejo, inviabilizando qualquer mestria que atribua a si a competência (impossível) de equalizar a relação sexual!!
Sim, penso ser isso.
$ tem a ver com o desbotamento do sujeito e a com o objeto do desejo (do Outro!).
A hiância que separa esses dois termos algébricos é a dimensão imaginária, a possibilidade da fala!
O desejo não suporta uma relação subjetiva simples com o objeto.
A angústia é nossa aliada na manutenção do jogo pulsional e não o inconsciente causado que, minimamente, em ato, a estrutura (em psicanálise, menos têm valor de mais, sempre reforço isso).
A angústia se produz quando o desejo subverte a demanda, quando o investimento do pequeno a volta a incidir sobre o $!
Agora, de novo no grafo?
$ não é algo de apreensível (como desejado ou desejante), é, apenas, um lugar sempre reservado a um não saber, a uma ocupação a vir (em um terceiro tempo)!
É o sinal da angústia que adverte e barra o narcisismo das pequenas diferenças…
A fala está sempre a advertir-nos que uma só andorinha não faz verão/
1 note · View note
olhosdegatoblog · 2 years
Text
Capítulo XXIV, livro 8, Lacan/
Voltei, para página 429, para o final da última frase do segundo parágrafo “… e aquele algo de incompleto que se manifesta em seus próprios gestos...”.
Do que se trata a experiência desse algo incompleto?
Do objeto a que não se deixa capturar por nenhuma imagem?
A função do objeto a (objeto da angústia) seria sobreavisar ao sujeito que o real pode invadir a qualquer instante?
O real não se desenha.
É a imagem que representa a mônada primitiva do gozo.
Seria a função do estádio do espelho potencializar o traço, colocá-lo em operação, transformá-lo, pela via da identificação, em um laço, para sempre, articulável, mas não engatável, entre o objeto a e a pulsão de morte?
Seria a possibilidade dessa articulação que faria mover a pulsão de vida, que faria mover a cadeia significante, que produziria um resto de gozo insuficiente, digo, o gozo do saber?
Seria o estádio do espelho a condição subjetiva necessária para essa articulação?
Articulação que clamaria por uma intervenção anterior, primária, onde o sujeito, após experimentar um autoquebramento daquilo que é ao mesmo tempo ele e um outro, lhe tornasse possível conservar aquilo que lhe é centro e pulsão de seu ser, evocado pela imagem do outro, seja esta especular (eu ideal) ou encarnada (ideal de eu)??
O inconsciente carregaria pela vida o estádio do espelho (?)… estádio, que depois do processo de identificação, transformaria-se em um estado pretérito permanente(?), motor propulsor de seu movimento, capaz de transformar em língua solta, falante, o valor preso e mudo das letras mortas?
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Já que não para de chover, continuo debruçada no texto (Lacan, capítulo IX, seminário Dez)/
a é o que não temos mais.
Por não o termos, estamos inscritos no grande Outro simbólico, e podemos reencontra-lo, pela via regressiva, sob a forma da identificação com o ser.
É COM o que somos que podemos ter ($->a).
O a é um instrumento.
i(a) é a imagem subjetiva real, o pano de fundo do fantasma (?), aquilo que possibilita o sujeito sentir falta de si “… de uma ponta a outra…” da cena inconsciente??
“Não é do mundo externo que sentimos falta, como há quem o expresse impropriamente, mas de nós mesmos.”
a seria o resto abominado no primeiro tempo lógico (tempo de ocorrência da repressão primária), representante subjetivo, dos objetos despedaçados, que, por estarem à deriva, brilhariam, causariam, poderiam servir ao uso de outras máscaras, de terceiras pessoas (só pra lembrar: eu, tu, ele, etc, pessoas do verbo, tá?)?
Quando esses objetos aproximam-se da borda do eu… o sinal (de angústia) aparece.
Talvez, não esteja, aí, a explicação para os fenômenos de despersonalização??
Neles, por haver uma falha no exercício da função fálica, o a adentraria a superfície do eu sem pedir licença (sem submeter-se a feitura de nenhum signo)?!!
Nossaaa!!
Que denso esse capítulo!!!
Será???
Será que ao ocorrer essa falha na constituição subjetiva, esses restos imanentes de a, por não sofrerem a filtragem rigorosa imposta pela função do Nome do Pai, aproximariam-se em demasia da imagem especular (superfície do eu) e, assim, ficariam mais suscetíveis, estariam mais sujeitos a serem engolidos, abocanhados pelo gozo do Outro??
“Em outras palavras, o que se deve dizer não é que os objetos são invasivos na psicose. O que constitui seu perigo para o eu? É a própria estrutura desses objetos, que os torna impróprios para a “egoização.”
Para terminar?
Por quê a angústia é um afeto que não se diz?
Porque é um afeto fora-do-espaço da fala.
O espaço é a dimensão do superponível.
“Se o que é visto no espelho é angustiante, é por não ser passível de ser proposto ao reconhecimento do Outro.”
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Vou indo, com um pouco de medo, mas vou.
Texto difícil e complexo, já disse.
Agora, entrando na parte 2.
“A angústia é um sinal no eu.”
“Se esse sinal está no eu, deve encontrar-se em algum ponto do eu ideal.”… concordo.
A distância entre o eu ideal e o ideal do eu estaria coberta pelo matema da fantasia…
mas, toda vez que esse matema sofresse a intervenção de uma outra variável (x), o ponto (da superfície do eu) causado agregaria um outro valor a diferença sexual (por esse matema velado)?
O a é o resto abominado pelo Outro, pois borra, sublinha, acusa, a distância intransponível entre o eu e seu ideal?
O sinal como um importante valor (a mais) a acusar essa diferença?
O eu ideal é a função mediante a qual o eu constituindo-se como sujeito unificado diante do Outro, acaba experimentando o valor dessa diferença (falta a ter), acaba por reconhece-se faltoso, dividido pelo desejo?
“Como é que o a, objeto da identificação, é também o a, objeto do amor? Ele o é na medida em que arranca metaforicamente o amante… do status em que ele se apresenta, o de amável, eromenos, para transformá-lo em erastes, sujeito da falta, mediante o que ele se constitui propriamente no amor.”
Assim, para os doutos, infelizmente, uma notícia fresca: do amor só podemos nos aproximar com a ajuda de formulações que põem à prova o status mesmo de nossa própria subjetividade no discurso!
Até/
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Indo pelo capítulo IX, Seminário Dez, parte 1/
Qual a característica estrutural da relação do sujeito com a?
A universalidade ( o que há de um sempre surgirá em discurso concernindo, ligado, à a).
“Largar de mão” é uma expressão que se aplica a essa relação pois bem faz conotar a função de resto.
O passagem ao ato se dá quando a letra não mais suporta a mestria que a vem conduzindo, quando o saber derruba o discurso, quando o sentido que vinha assegurando a no lugar do agente é derrotado (por ex, Freud no caso Dora).
A passagem ao ato está do lado do sujeito e este, no instante da ação, aparece apagado ao máximo pela barra (momento em que o analista do lugar do agente conduz o passe).
“O momento da passagem ao ato é o do embaraço maior do sujeito, com o acréscimo comportamental da emoção como distúrbio do movimento.”Só no lugar de ator de um outro ( no caso, de si mesmo), que um sujeito pode suportar sofrer a subversão de seu próprio saber, suportar tal transmissão, tal entrega].
“É então que, do lugar em que se encontra - ou seja, do lugar da cena em que, como sujeito fundamentalmente historizado, só ele pode manter-se em seu status de sujeito - ele se precipita e despenca fora da cena.”
Numa primeira operação simbólica o a despenca do Outro imaginário, contorna o real e, não vendo saída, volta ao primeiro (Outro imaginário), mas, nesse segundo instante, marcando e deixando-se marcar por uma diferença sexual que acusa, assinala, dois registros: “… de um lado, o mundo, o lugar onde o real se comprime, e, do outro lado, a cena do Outro, onde o homem como sujeito tem de se constituir, tem de assumir um lugar como portador de fala, mas só pode porta-la numa estrutura que, por mais verídica que se afirme, é uma estrutura de ficção.”
O real aborda o simbólico e o imaginário… e é nessa borda que o a se reduz?
Lacan, é bem claro, vai dizer: a angústia não é sem objeto.
“… se a angústia não é, entre o sujeito e o Outro, um modo de comunicação tão absoluto que podemos perguntar-nós se ela não lhes é, propriamente, falando, comum aos dois.” (o que é comum parte de ao menos um).
O ser que não engana?
O objeto a, objeto causa de desejo, o objeto da angústia.
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Eu acho que eu gosto de sofrer.
Há tempos que não vinha vinculando-me a ninguém, além de mim e Lacan, para algo ouvir sobre psicanálise.
Minto, Ricardo, dentre outros pouquíssimos, sempre esteve, ali, a altura de meu sonho, e costumo dizer, e é verdade, vez/ por/ hora, vez/em/ quando, me socorre.
De repente, sem mais nem menos, lá, no ponto de virada, no tempo do conjunto vazio, na vez em que a hora resolve tornar-se quando, resolvi inscrever-me em seu seminário (portanto nada a dizer sobre isso).
Disso, ando descabelada a ler não somente os textos que orientam seu seminário como os que dessa escuta recortam-se.
Assim, vim parar no seminário dez, capítulo IX (Passagem ao Ato e Acting Out), que tal?!
Comecei… é pesado… tô enrolando… mas, cada um por si e Lacan por todos… ok?
Sem sair do seu trilho que é induzir-nos ao erro, deixar nossa escuta referida a sua própria falta e conta ($->a), Lacan inicia seu seminário acentuando o tema que irá tratar: a relação de a com o grande Outro.
Então, diz:
“É a partir do Outro que o a assume seu isolamento, e é na relação do sujeito com o Outro que ele se constitui como resto.”
Gente, é muito incrível(!), percebem o quanto de informação essa frase contém?!
Duas operações: início de tudo?
O primeiro tempo lógico engloba a primeira operação?
O a parte, parte do Outro, parte do olhar do Outro, através de um outro e nesse, isola-se (tempo da formação do eu ideal)… mas, eu precisa reconhecer-se em imagem especular, deixar-se nomear, eu precisa decidir, do Outro algo dizer e, por isso, fala, no terceiro tempo, conclui: é(.)…
o sujeito, a partir dessa segunda operação, passa a transitar como um verbo transitivo, cujo sujeito desconhece, como um resto, sobre a barra que o separa (do Outro) e o constitui?
O segundo tempo??
As duas operações o englobam, é a única certeza que trago comigo e que autoriza-me a um lugar na fala de vocês?
Vão lá no iniciozinho da fala de Lacan: “… e não lhes dar ensejo de uma deriva, por minha própria explicação”… o segundo tempo?
Só se constrói em análise.
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Já que o amor só se concebe na perspectiva da demanda, que só existe amor para um ser que pode falar, tento, assim, como sempre, desesperadamente, colocar-me como desejável…
De cabelo em pé, lendo “A identificação por Ein Einziger Zug” ( Lacan, seminário 8)/
Vou começar pelo fim, para criar coragem:
“… O amor como resposta implica o domínio do não-saber… dar o que se tem, isso é a festa, não é o amor”… o desejo do Outro… não se pode comprar!!
But, por outro lado, como “é certo que só a mulher pode encarnar dignamente a ferocidade da riqueza… vou mandar aí pra vocês as minhas besteiras acerca do que consegui ouvir desse texto, ok?
O que o analista deve ser realmente para responder à transferência?
Um lugar de escuta, provido de um corpo causado, sim (não poderia ser diferente), mas diminuto, que funcionasse, apenas, como objeto de causa.
Se for capaz de ocupar tal lugar, terá manche, drive, para, num tempo futuro (tempo de dizer) fazer ato.
A garantia do ato é a possibilidade prévia de ocupação desse lugar, sinal codificado pela transferência.
Seria esse lugar, o lugar da verdade?
Vamos ao espelho?
O espelho periférico colocado por trás do vaso (vaso = matema do fantasma) seria o lugar dessa escuta?
A imagem do buquê invertido, o sintoma “a função preenchida de uma certa maneira pela imagem do sujeito”?
O suporte debaixo do buquê invertido, a letra, passível a movimento, que o diz, que ao sintoma algo, diferente, pode lhe imaginariamente dizer)?!
Não seria essa uma boa formulação para o discurso do analista: “O quê a letra pode ao sintoma, ainda, dizer.”
O fantasma seria um ilusionista?
Como formular a posição que o analista precisa ocupar no discurso (para responder a transferência)?
O quê a função do narcisismo (considerando sua relação com todo o investimento libidinal possível) poderia ajudar nessa formulação?!
O ideal do eu desempenharia um papel de mola entre a gramática pulsional e a identificação de $ com os objetos que o representam?
Seria um ponto axial dessa identificação cuja incidência seria fundamental na produção do fenômeno da transferência?
A imagem tenta dar conta da estrutura, mas falha e ao falhar expõe o real, a fratura simbólica?!
Mas, o que seria o real, fico aqui pensando?
O real comparece na experiência compartilhada, no lugar da verdade, lugar passível ao ato?!
“… Existe uma certa dimensão de conflito, que não tem outra solução além de um …, ou … É necessário a ele ou tolerar o outro como uma imagem insuportável, que o arrebata de si mesmo, ou quebrá-lo imediatamente, inverter, anular a posição à frente, a fim de conservar aquilo que é, naquele momento, centro e pulsão de seu ser, evocado pela imagem do outro, seja esta especular ou encarnada…”
O que nos diz o esquema?
“… É a intervenção do grande Outro na relação do eu com o pequeno outro que algo pode funcionar… “
Se por um lado o corpo diminuto do analista, objeto de causa, está no campo imaginário do sujeito, é o saber do primeiro que deve conduzir o segundo, através do ato, ao lugar da verdade.
O ato analítico se faz “contra o vento, no risco e no desafio”.
Lendo, sem medo, lenço ou documento, vou dar um salto:
O ato analítico, e portanto a experiência da travessia da fantasia fundamental, ou se preferirem, a constituição do fantasma, só é possível ao sujeito, através de um outro olhar, que lhe sirva de espelho e que o permita confrontar-se com seu ideal (de eu), sem que a interiorização desse olhar se confunda com o lugar e o suporte que já estão constituídos como eu ideal.
Se ein einziger Zug é o caráter pontual da referência original ao Outro na relação narcísica, lugar do ponto axial dito acima?!
Lacan vai dizer que o olhar do Outro deve der concebido como sendo interiorizado por um signo e que isso basta (“não há necessidade de todo um campo de organização e de uma introjeção maciça”).
Volto a pergunta que fiz mais acima, a saber, a imagem tenta dar conta da estrutura, mas falha, e ao falhar, expõe o real, expõe a fratura simbólica?!
Acho que Lacan responde:
“ Este ponto, grande I, do traço único, este signo do assentimento do Outro, da escolha de amor sobre a qual o sujeito pode operar, está ali em algum lugar e se regula na continuação do jogo do espelho. Basta que o sujeito vá coincidir ali em sua relação com o Outro para que este pequeno signo, este einziger Zug, esteja à sua disposição.
Pode-se distinguir radicalmente o ideal do eu e o eu ideal. O primeiro é uma introjeção simbólica, ao passo que o segundo é a fonte de uma projeção imaginária. A satisfação narcísica que se desenvolve na relação com o eu ideal depende da possibilidade de referência a este termo simbólico primordial que pode ser mono-formal, monossemântico, ein einziger Zug.”
Para terminar?
A histérica é uma santa (experimenta o gozo Outro), rica, mas miserável, pior das tragédias que pode acometer uma língua… o seu desejo de saber é uma riqueza da qual ela não pode se livrar facilmente…
0 notes
olhosdegatoblog · 3 years
Text
É, ali, na virada, do discurso histérico para o discurso do analista, que me sinto confortável!
Aqui, paciente, de vocês?!
Tudo que faço, levo muito a sério.
Sério, era meu pai.
Eu, duplicata sua, exponencialmente, aumentada, tão aumentada que paraliso-me diante do desejo?
Diante do que quero, emudeço-me?
Vá que a força do meu desejo destrua meu fantasma?
Sem sua imagem refletida no espelho dos olhos, viverei de quê??
Por isso não falo, mas queria!
Queria, além de escrever, falar.
Mais uma vez, tentando fazer laço com mais outros além de Lacan, inscrevi-me no seminário de Ricardo Cabral (EPFCL).
Terça-feira última foi minha segunda participação: assisti muda, como sempre, em atenção flutuante, mas com a sempre sensação de que a mim a falta (de não falar) grita!
Arranha na garganta a dor de não saber se fazer ouvir, as palavras só saem, depois, escritas, jamais, ali, na hora.
Ali, ali, ali, onde?
Ali, no tempo (da autorização) em que o sujeito deixa-se, pela fala, constituir-se em ato?
Não se trata de vergonha, trata-se de não mesmo saber algo falar, algo saber fazer com o tempo que a todos, naquela hora, enlaça?
Aonde estou quando o mestre fala? No consultório ou na sala de espera?
Durante minha infância, um médico sério cuidava de mim (meu pai).
Não consegui, pelas vias de direito, fazer valer sua prescrição, repetir seu falatório, restituir sua trajetória.
Atravessei-me, em gozo, sorrindo, chorando, descabelando-me por meio de sua verdade à nós dirigida (eu, minha irmã e seu dito).
Só pelo avesso, fazendo da escrita um ato, consigo, algo, dizer, dessa verdade (trindade) que, um dia, parti.
Seria legítimo, institucionalmente, amar, enlaçar-se, assim?
Afinal, há sintoma que se vá sem deixar resíduo e amor que perdure sem deixar espera?
Fato é, que, ontem, quando vi, no WhatsApp do grupo, Ricardo nos solicitando algum retorno sobre o seminário que havia proferido na véspera, à noite sentei-me para, algo, escrever.
Antes, de dormir, percebi a garganta arranhando… só rindo… sorrindo/
1 note · View note
olhosdegatoblog · 3 years
Text
Céus!
Que texto!! (Capítulo IV VERDADE IRMÃ DE GOZO)
Acabei de ler, de novo, impactada, a parte I!
Que faço?
Vou ouvir meu pai: “releia, outra vez, com calma, sem ansiedade, você tem condições de entendê-lo”/
Será?
Vou, lá, conferir se tenho essa capacidade..
Devagarinho… dividindo com vocês.
O avesso não explica nenhum direito.
O lugar da verdade seria avesso a universalidade (a todos pertenceria)?
O lugar da verdade por ser partido, desprovido de esperança, seria um lugar sadio, próspero, gerador de trabalho (viver dá trabalho e não é à toa que o desejo é escravo do gozo, né?!).
O discurso analítico teria como função enxertar-se no lugar da verdade e deixa-lo vago, teria como função interromper a automação significante dos demais discursos?
Se o homem é uma criação de discurso, a função do discurso analítico seria assinalar o limite da imensidão da língua de seu criador (o limite da experiência de castração)?
Se coubesse ao lugar da verdade um epitáfio, qual seria?
“História de uma metade de sujeito.”??
O epitáfio esconderia a ausência daquilo que não concerne ao sujeito?
O lugar da verdade só poderia ser capturado por um sentido concernente ao significante..
“… O sentido, se posso dizê-lo, carrega o peso de ser. Ele não tem, inclusive, outro sentido. Só que percebeu-se há certo tempo que isso não basta para dar-lhe peso - o peso, justamente, da existência. Coisa curiosa, o não-senso tem peso. Isso dá um frio no estômago. E este é o passo dado por Freud… “
“… A verdade levanta vôo no momento mesmo em que vocês não queriam mais captura-la.”
A verdade seria irmã do gozo porque ela, assim como ele, não teria corpo?
A verdade seria um buraco por onde o desejo passaria atrás do gozo?
“… um sonho desperta justamente no momento em que poderia deixar escapar a verdade, de sorte que só acordamos para continuar sonhando - sonhando no real, ou para ser mais exato, na realidade.”
A verdade seria um símbolo minúsculo, reduzido, de potência imaginária magrinha, mas que faria refletir no espelho a potente virtualidade do fantasma?
“ Tudo isso impressiona. Impressiona por uma certa falta de sentido em que a verdade, como o natural, volta a galope. E em tal galope, aliás, que é só atravessar o nosso campo - e eis que ela já partiu de novo pelo outro lado”… como a angústia, não?!
Lacan vai dizer que a angústia não é sem objeto assim como não somos sem uma relação com a verdade..
“A verdade, com efeito, parece mesmo ser-nos estranha- refiro-me à nossa própria verdade. Ela está conosco, sem dúvida, mas sem que nos concirna a um ponto tal que admitamos dizê-lo.”
Penso que se o objeto a está para a angústia assim como o ser (sentido) está para a verdade, não estará aí a explicação para a potência do ato analítico?
“No ato, seja qual for, o importante é o que lhe escapa.”
A verdade, como diz Lacan, não tem cauda, e eu atreveria-me a dizer que, por tal, ela tendo coragem de circular (por via do afeto) o Nome do Pai, consegue proteger o sujeito da angústia de morte!
Até!
0 notes