Tumgik
#graças a minhas professora de portugues do 78º e 9º ano
momo-de-avis · 5 years
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Pequeno interlúdio n’O Filho de Odin
Queria só dar uma pequena opinião antes de prosseguir, que serve mais de motivação a vocês meus xururus que estão a ler e sonham escrever, do que justificação da minha parte.
Nós estamos aqui a mandar umas gargalhadas e a gozar com o Zuzas, mas temos de ter consciência que, tecnicamente, estamos a rir-nos de um puto de 14 anos sem o acesso à internet que hoje temos, porque em 2004 ou tinhas Geocities e Angelfire, ou as págimas de grupos do MSN. E alguns fóruns, mas normalmente isso era pra gente mais geek que eu. 
Se temos de culpar alguém por esta coisa ter sido publicada, é a Gailivro (que até agora eu tenho vindo a chamar Presença, my mistake) e os pais. 
Eu sou apologista de que raramente alguém com 14 anos tem a capacidade para escrever uma grande obra, mas NUNCA devemos dizer isso a um miúdo. Sou também apologista de que não existem más ideias, só ideias que precisam de ser trabalhas, e nunca digo a alguém que a ideia que tem é má e nem devem sequer tocar nela, porque não é verdade. Todas as ideias são boas, mas a grande maioria precisa de ser trabalhada.
É uma péssima ideia publicar um livro de um miúdo de 14 anos mal peparado porque lhe marca a carreira. Enquanto os adultos que não leram o livro bradam aos céus a capacidade de o menino ter publicado isto tão novo, recusam-se a ver a que custo: publicou uma história digna da sua idade, e humilhou-se no processo. Por exemplo, o Filipe Faria a certo ponto reconheceu que o primeiro livro publicado por ele, com 18 anos, era mau, mas era mau porque ele era novo, e percebeu que tinha potencial, então re-escreveu mais tarde, já com 20 e poucos, e publicou-o de novo. Isto é bastante comum de se ver em autores que publicam muito novos.
Se forem à página do Goodreads do Filho de Odin livro, vão perceber o quanto verdade se torna isto de uma obra marcar a carreira com os comentários lá deixados. Embora existam algumas críticas de 5 estrelas, TODAS as que são escritas e elaboradas são a arruinar o livro. Porque ele é mau, muito mau.
Mas a verdade é esta: é mesmo pior do que aquilo que nós fazíamos com esta ideia?
Se eu fosse pegar nas merdas que escrevia com 14 anos, não está muito diferente (bom, excluindo o sexismo). Mesmo em termos de “plágio”, e ponho em aspas porque vou usar o termo à larga, todos nós caíamos vítimas disso. Quando tinha 12 anos li um livro chamado o Pássaro da Neve, que adorei tanto que decidi escrever a minha versão da história. Quase tudo igual, mas em vez dos estados unidos, na Malveira porque sou tuga, foda-se.
Quando comecei a descobrir as histórias de aventura coming-of-age com mulheres e raparigas adolescentes como personagens principais, agarrei-me à fórmula e segui-a. Tenho ao menos que admitir que nunca fiz overpowering às minhas personagens nem cometi aquele erro de “dois dias a abanar uma espada fez de mim uma perita”, mas se tivesse de cagar na lógica, cagava.
Aos 14 anos, comecei a ter uma ideia para uma história e comecei a escrevê-la, à mão, num caderno, que pouco depois passei para PC (e um ano mais tarde re-escrevi de novo à mão). E porque antigamente havia a maravilha dos CD Roms, um dia, antes de formatar o trambolho, eu guardei tudo. Ainda tenho. or incrível que pareça, aquela merda sobreviveu. E guardei--assim como guardo compulsivamente TUDO o que já fiz--para no futuro olhar para o momento embrionário desta história, ler a desgraça que construí, e poder dizer a mim própria: “Ainda bem que não deixei isto morrer.” E não deixei: a história maturou comigo, e hoje está a 90% de encerrada e estou bem orgulhosa do que fui capaz.
Mas querem ver o péssimo que era quando foi criada? 
Para não dizerem que só falo mal do Zuzas, agora vamos todos gozar um bocadinho com a Aninhas de 14 anos, porque ela também merece (que tinha mais ou menos este aspecto, se conseguirem acreditar).
(Os nomes são tão pirosos e tão típico “fantasia quer dizer que posso martelar as teclas, inserir uma quantidade de Ys e Ws, e tá, não é?” que genuinamente tenho vergonha. Se bem que, em minha defesa, eu por alguma razão segui uma linha super anglo-saxónica. Acho que isto bate certo com a minha fase “adoro celtas e bretões, quem me dera viver em Londres”) 
Mas apreciem lá  o que é ter-se 14 anos e escrever-se sobre o que nos apetece numa atitude rebelde de fuck-all (vou fazer questão de marcar a negrito e sublinhado erros ortográficos e de pontuação):
Alguns, seguidores da Magia Tradicional, acreditavam que o telefone apenas traria problemas e iria destruír cada vez mais a Magia Tradicional. Era o caso de Cyir e Layr. Não permitiam que Sayarah alguma vez usasse um telefone, pois este podia ter inflência sobre ela e afastaria-a, então, da Magia Tradicional de Chent. Sendo esta ideia perturbadora em relação à comunicação entre Cyir e Layr e Sayarah, estas criaram uma forma especial de comunicação.
Apenas precisavam de um papel, uma vela e muita, mas mesmo muita, força na mente.
Sayarah iniciou a sessão. Tinha combinado com as tias naquele dia, àquela hora. Nada podia falhar.
Estendeu o papel branco sujo sobre a madeira fria do chão do seu quarto, acendeu a vela – a vela servia para ajudar a manter a concentração através do seu fogo – e imaginou com força as palavras, uma por uma, a sua essência secreta de cada vez. Imaginou-as directas no papel da sua tia. Sayarah fez um gemido de dor, talvez tivesse errado alguma coisa. A seguir, parecia calma.
Encontrava-se na posição de meditação, de olhos fechados. Quando se certificou de que a mensagem fora enviada a Cyir e Layr, abriu os olhos e, lentamnte, letras se formaram no estranho papel branco sujo – um papel especial para aquel tipo de rituais.
“Bem sabemos que amanhã é o teu jantar! E desta vez não escapas, vamos aparecer aí!” apareceu escrito sobre a folha, de forma desajeitada. Apesar de Sayarah ser dezassete anos mais nova do que as suas tias e com menos experiência, possuía o dom de escrever as letras direitas, ao contrário de Cyir e Layr.
Sorriu pela vivacidde de qualquer que fosse a tia que estava a responder e repetiu o processo de pensamento de palavras e enviou-as às tias. De seguida, tinha a resposta. Cyir e Layr tinham muito mais perspicácia a responder, de maneira que eram mais rápidas.
“Muito obrigada pela informação, Miss, vemo-nos amanhã! Por agora terei de limpar a porcaria que a tua tia fez com o macarrão, com a tentativa de macarrão!” Só por estas palavras, Sayarah apercebeu-se de que era Cyir quem respondia. Desde criança que Layr fazia macarrões pela cozinha toda.
(Não, não me perguntei o que é que qualquer uma destas palavras ou conceitos quer dizer, passaram-se 15 anos e eu não faço ideia lmao. E há alguns erros porque eu nunca utilizei o corrector do word e acho que desde que escrevi isto nunca mais olhei para ele, ATÉ HOJE)
Praticamente tudo o que eu falei mal no Zuzas, eu própria cometi: muito pouca explosição; apresso-me na narrativa para chegar à parte que me interessa; o que é suposto ter piada eu cá acho que não tem piada nenhuma, mas ao menos são piadolas inocentes e não coisas estúpidas de gajo ‘haha! mamas! pila!’; a voz do narrador ausente diz mais do que é suposto; interrompo a narrativa para dar informações à la Wikipedia, o que quebra a suspensão da descrença; claramente não sabia o que ‘perspicácia’ queria dizer. Etc. Mesmo a regra de ouro de dizer e não mostrar eu não a sigo tão bem, porque não sabia ainda mostrar.
Agora, se continuarem a ler esta merda (não vai acontecer), vão reparar que o mais certo é haver aqui um monte de merdas que são retiradas daqui e dali, porque eu não sabia o que era plágio e achava que tudo era fixe, e bota ao molho. É certo que eu não cheguei ao nível do Zuzas, até porque não cresci com videojogos e D&D, mas tipo... Não deixa de ser normal naquela idade. Vocês gostam das merdas, a próxima big thing para vocês torna-se uma obsessão, não se calam com isso de maneira nenhuma, e estão constantemente a explorar as possibilidades de “como é que eu uso esta cena que curto bué em meu proveito?” 
É  por isso que fanfiction é tão libertador, e tão bom: de certa maneira, quando bem feito (e se se deixarem maturar com a história), se é vossa intenção escreverem um dia a vossa história, fanfiction ensina-vos como equilibrar a influência de algo com a vossa ideia original.
Por isso, o que é que deveria ter sido feito? Deviam ter dito ao Zuzas: continua a praticar, continuar a trabalhar a tua criatividade, não desistas. O que NÃO lhe deviam ter dito era: escreveste um livro?, vou ligar ali ao Zé, que é dono da Gailivro.
É certo que a mim, as pessoas que se interessavam na minha escrita, não me aconchegaram. Nunca me disseram “podes publicar isto”, disseram-me “um dia podes publicar um livro”. Leram, comentaram e criticaram. O primeiro livro com pés e cabeça que escrevi foi aos 16 e era PÉSSIMO (esse perdi na totalidade, mas acho que uma cópia impressa existe em casa da minha mãe). Era Nicholas Sparks mas sobre re-encarnação, e curiosamente, o título de um futuro-filme do Robert Pattison (NÃO É TWILIGHT). Uma das pessoas mais conhecedoras de literatura que conheço (é filho de um dos grandes escritores portugueses do início do século XX), leu-o por completo, corrigiu e disse-me “continua a tentar, continua a trabalhar, porque tens uma mente de artista”.
NUNCA me disseram “publica agora” quando sabiam que eu não tinha capacidade para isso. Hoje, olho para aquele trambolho que escrevi aos 16 anos e penso “lol que MERDA” mas penso também “uau, eu consegui fazê-lo”.
É isso que importa quando são jovens: sentirem que são capazes de o fazer.
A carreira do Zuzas, agora, ficou a modos que marcada por isto, porque a família lhe permitiu publicar---e por cunha, maior dos pecados no mundo artístico---uma coisa que tinha o nível que era suposto ter com aquela idade, uma coisa má, carregada de tropes e clichés perigosos, insultuosos e negativos, mas aos quais ele era exposto. Não o deixaram crescer nem como pessoa nem como escritor, e o resultado foi uma merda horrorosa que foi publicada, e que lhe marcou o percurso de tal forma que, se forem pesquisar, não vão encontrar nada dele hoje. O man parece que deu de fuga, suspeito que nem sequer esteja em Portugal (já que ele teve educação no estrangeiro). A última publicação, do que vi, é de 2012.
Tou para aqui a debitar, mas se calhar o gajo até é um merdas, mas perfiro não correr o risco. E se calhar o último ivro dele continua a mesma merda---não me surpreenderia, porque se dizem a um miúdo de 14 anos que a merda que ele fez (QUE É SUPOSTO SER MERDA) é genial, ele nunca vai crescer além disso. Apesar das garalhadas que estamos todos aqui a mandar, e do gozo que eu mando ao miúdo, é isto que temos de ter em conta quando lemos.
Portanto, a todo o pessoal, tão ou mais novo (ou de idade próxima) quanto o Zuzas e eu em 2004: escrevam mal. Muito mal. Todas essas ideias mirabolantes de merda, os crossovers e overpowers ridículos que vos passa pela cabeça, com Mary Sues e Gary Stues e criaturas absurdas? Escrevam tudo. E nunca deitem fora. Tranquem isso a sete chaves e guardem bem guardado. Daqui a 15 anos, vão abrir essa gaveta, vão se rir do que escreveram, e uma de duas coisas vai vos passar pela cabeça: 1) caramba, eu cresci imenso! 2) Espera lá, esta ideia tem qualquer coisa que merece se trabalhada.
Façam má arte para poderem fazer boa, amigos.
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