Tumgik
#marinadsaraiva
hey-marina · 2 years
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Mudança
Araras, 12 de maio de 2022.
Ultimamente tenho retornado para Araras e não sentindo mais que este é meu lugar. A crise dos primeiros dias em Campinas passou. Mas ainda me sinto em casa na casa dos meus pais.
Mas chegou o tempo de seguir em frente e isso é tão estranho. Quando eu e meu noivo decidimos dar o passo de morar juntos, isso parecia tão certo, tão confortável e, devido aos conflitos já vividos dentro de casa, parecia ser a hora certa de sair. Escolhemos o lugar, fizemos toda a parte burocrática e, daqui menos de 48h para mudar, eu não sei se quero ir.
Não, não é pelo Gê, jamais. Mas é pela sensação de não voltar mais para casa dos pais, sair de vez do ninho. Uma coisa era morar em Campinas durante a semana e ter a certeza que voltaria na sexta à noite para a casa de portão branco com o piso psicodélico na cozinha; agora é voltar de Campinas para Rio Claro, em um apartamento que pode ser casa, mas ainda não é lar.
Esta semana tem tido um gosto eterno de despedida. Caminhando todos os dias com meu pai no Lago Municipal, tomando um último sorvete da casinha, comendo a comida da minha mãe e bebendo seu café, cada tapinha carinhoso na cabeça do Lucky e da Nicole. Cada caixa ou saco fechado com minhas coisas, aperta meu coração um pouquinho. Eu quis tanto esse momento, achei que iria sentir a maior liberdade todas e agora, eu não quero voar.
Nunca meus pais saberão que eu segurei o choro durante toda essa semana. Tudo passa na minha cabeça como um filme: das primeiras lembranças dos meus pais na infância, os altos e baixos, os bons e maus momentos, 27 anos. A gente sempre anseia pelo dia de sair da casa dos pais e ter o rumo da própria vida, mas será que a gente tá pronto? Eu acho que nunca estaremos, não há preparação para isso.
Eu não sei como será a partir de sábado, mas eu sei que a saudade vai apertar, eu vou chorar sem deixar ninguém saber e vou desejar voltar, como se essa ideia de ir morar com meu noivo fosse férias de inverno. Mas eu sei que dessa vez é para sempre, eu não vou voltar à casa dos meus pais para morar ali.
Só desejo que o tempo seja brando, corra mais devagar, para que eu possa voltar muitos anos ainda para tomar o café da minha mãe ouvindo as reclamações do meu pai. Ainda me lembro da primeira que passei tempos longe de meus pais, era 2013, e percebi como o tempo passou e, bom, meus pais já não eram tão jovens. E aquilo me travou. Qual será o trauma que o tempo me trará agora?
Se eu pudesse resumir esta semana eu diria uma única palavra: saudade (e eu ainda nem fui embora).
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hey-marina · 2 years
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Nostalgia
Campinas, 20 de abril de 2022.
Hey, faz bastante tempo que não passo aqui. 11 meses para ser exata. Sendo que há 12 tenho esta conta. Tantas coisas mudaram. E eu, bom, eu precisava escrever, então decidi que faria isso através deste blog pessoal, tão pessoal que acho que ninguém lerá.
Hoje faz 3 dias que mudei definitivamente de casa. Claro, ainda vou aos fins de semana para a pequena Araras, ainda há coisas para trazer de lá e pessoas para ver, mas foi um passo de “não pretendo voltar para a casa dos meus pais”. Além disso, no último mês, estive tão absorta em mudanças de casa e mudanças na vida profissional, que eu não estava realmente “em casa”.
Estou eu aqui, novamente, em Campinas. Eu amo esta cidade com certeza. Seu cheiro de gasolina e óleo diesel (oi Capital Inicial, tudo bom?), seu trânsito caótico nos fins de tarde, o por do sol alaranjado pelo dióxido de carbono e sua multiplicidade de pessoas e tribos. Campinas sempre esteve em meu coração. Quando tive a oportunidade de prestar o vestibular, era para cá que queria vir, foi aqui que completei 18 anos, foi aqui que fiz amigos para toda uma vida, foi aqui que chorei de saudade de casa pela primeira vez, foi aqui que chorei por um namorado que, no fim, nem era tudo aquilo. Foi aqui que senti pela primeira vez a nostalgia de não ser mais criança, não ser mais adolescente e enfim crescer.
Mas a vida ensina a gente de maneiras tão estranhas, não é? Foi preciso sair de casa para descobrir que eu estava no curso errado em uma universidade privada longe de todos e encontrar a graduação certa na universidade federal no quintal de casa, na pequena Araras. Voltei para lá para tornar meu sonho de infância real: ser cientista. Mas e a cidade grande? Bom, ela teve que esperar 9 anos para eu voltar e conquistar o que de fato é meu. Agora estou novamente aqui.
Desde março, quando pisei na rodoviária de Campinas para ir para a primeira aula da pós-graduação eu tive o sentimento de “Hey, eu estou de volta e dessa vez, não vou mais embora”. A mudança definitiva veio quase um mês depois, agora em abril, mas é de novo a vida fazendo curvas. Eu cheguei aqui como se isso tudo fosse tão meu que era como se apenas tivesse pegando-o por direito. Essa é a minha cidade. Ledo engano.
Na primeira noite, em uma casa estranha, com gente estranha (ok, eu conheço as meninas, mas não são amigas ainda, não são família e eu ainda não pertenço aqui), em um bairro dessa cidade que eu não tenho familiaridade e então eu quase chorei. O coração doeu, a garganta apertou, os olhos perderam o brilho. “Eu quero ir para casa”. Mas eu não podia ligar para meus pais e dizer isso, foi uma escolha consciente na altura dos meus 26 quase 27 anos que me trouxe para a pós na Unicamp. Eu quis conversar com o Gê, mas ele estava muito ocupado e eu não podia simplesmente ligar chorando como uma criança pedindo “por favor, vem ficar comigo para fazer disso casa”. Foi uma noite difícil.
O dia raiou, as primeiras mensagens dos meus pais me perguntando como eu estava vieram e eu só disse que “estava tudo bem”. Não pude ir trabalhar no laboratório porque, até o resultado do teste de covid sair, eu sou um risco potencial de contaminar as pessoas. Ficar isolada em um quarto que mal tem minhas coisas foi difícil. A nostalgia dos 18 anos no centro de Campinas, a nostalgia dos primeiros anos de graduação, a nostalgia do começo de relacionamento com o Gê, tudo isso voltou. Voltou até meu ex, que sempre me assombra quando já estou presa em outros demônios. De novo eu quis chorar no meio da tarde.
A noite chegou e com ela novas crises identitárias. Dessa vez eu liguei para o Gê, eu precisava ouvir uma voz conhecida, ver um rosto familiar em uma vídeo chamada, mas eu não disse o porquê estava ligando, perguntei apenas se queria conversar. Mas, a certa altura da conversa, me peguei dizendo que queria voltar para casa.  Ele me disse para ir se não estava me sentido bem, para voltar para Araras e fazer a outra pós-graduação. Mas eu, na briga interna comigo mesma, disse que não iria abrir mão do que conquistei por uma criança interna com medo do novo. Mas será que é novo? Não fui eu quem ligou chorando diversas vezes para meus pais, em 2013, para virem me buscar? Não fui eu quem ligava para meu ex namorado aos 18 anos só para ouvir a voz de alguém que conhecia? Não era eu que diversas vezes fui escondida para a cidade dele apenas para ficar perto de alguém familiar e fugir dessa solidão que se vive na cidade grande? É difícil estar 9 anos mais velha e com as mesmas questões do início da vida adulta: o medo de andar com as próprias pernas longe do ninho.
É interessante que vi uma de minhas amigas, daquelas que conheci aqui mesmo nesta cidade, estar com a mesma crise após anos vivendo em Campinas: seria hora de voltar para sua cidade natal? Foi aí que conversamos sobre isso, e foi dessa conversa que me veio a vontade de escrever hoje. No meio da noite de ontem recebi mensagem dos meus pais me perguntando como foi meu dia. Não disse para minha mãe que estou com sintomas gripais e não fui pro campus, então disse que estava bem e que o dia foi ótimo, mas cansativo. Meu pai já é de poucas palavras, sabia do teste e perguntou se estou bem e se estava tudo bem por aqui. A resposta com um simples “tá tudo bem” o agradou. Se minha vida fosse uma narrativa, aqui entraria o narrador dizendo “mas não estava tudo bem”.
E agora de manhã, a nostalgia bateu de verdade. Hoje é aniversário do meu pai e não estou com ele pela primeira vez depois de anos. Uma mensagem de texto teve que bastar, pois, no trabalho, ele não pode atender o telefone. Sem a aula de hoje para dar e sem poder ir para o laboratório, o jeito foi ficar no quarto.  Sem nada para fazer, uma playlist de músicas do anos 2000 e 2010 começou a tocar, tudo condizente com a saudade de casa, saudade dos meus anos de adolescente, saudade do sentimento que tinha aos 17 anos pelo primeiro cara que estragou minha vida a ponto de eu precisar ir para terapia, saudade dos amigos que não vejo há anos, saudade dos primeiros beijos com o Gê pelas escadarias da universidade, saudade de andar pelo Parque das Árvores com ele e de passar as tardes e noites matando aula em seu apartamento. Saudade da minha família imperfeita, que brigamos sempre e nos dizemos tantas coisas que deveriam ser indizíeis, mas que no fim, é isso, família. E por mais incrível que pareça, saudade de Araras. Saudade de andar de barquinho no Lago Municipal, de comer pipoca com queijo na Praça Barão, saudade do café na Rua Tiradentes, saudade do campus do CCA UFSCar,  saudade dos bingos da igreja perto da casa que morei por anos, saudade de andar de bicicleta com os amigos pela avenida Dona Renata. Saudades do passado que ora quero deixar, ora quero voltar.
E por fim, acabo de receber uma foto da Morgana (minha calopsita) enviada pela minha mãe. E então eu chorei, porque a saudade é isso. Ela dói tanto e te faz sentir a falta de tantas coisas indescritíveis, que uma hora algo se torna o pingo d’água necessário para você se tornar a cachoeira, na qual cada lágrima é uma nostalgia diferente que cresce na alma e que, uma hora, cresceu demais, precisa se materializar e sair para parar de doer.
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