Familia= Mãe
Espera, não é que eu resuma minha família a minha mãe, nem que não exista outras pessoas nela que eu ame. É só que quem me ensinou a importância da base familiar, foi ela, minha mãe. Irônico que alguém que nunca tenha tido essa base tenha conseguido passar algo tão solido pra mim.
Não, minha mãe não teve família. Algumas pessoas a acolheram, mas afeto, acho que sempre falto. Engraçado que alguém que vive abraçando, dizendo que ama, e sendo a pessoa mais carinhosa do mundo nasceu e foi criada sem afeto. Irônico que alguém que tenha sido negligenciada pelos pais tenha se tornado uma mãe tão boa.
Minha mãe me ensinou que nem sempre precisamos receber algo, pra saber dar. Ela sempre me deu apoio e amor, mesmo nunca tendo recebido nenhum dos dois em toda sua vida.
Minha mãe podia ter seus problemas com minhas avós, mas não houve um dia em que ela não me dissesse: “ vai lá, procura, visita, liga, manda uma mensagem!”. Talvez por ela não ter tido ninguém com quem contar, ela sempre me ensinou a dar valor aos que eu tinha. Minha mãe sempre me falou pra não esperar pra demonstrar amor, e mesmo eu não sendo uma pessoa muito carinhosa, eu absorvi isso. Eu sinto, e muito, mas não demonstro e mal falo disso, muito difícil eu mandar mensagem, eu ir visitar, eu ligar. Mas POR FAVOR, não pensem que eu não me importo, só não sei ser constante com as pessoas. Sinto muito por isso.
No entanto, se hoje eu penso em todos a minha volta e sei o que é ter uma família foi por ela! Na minha casa sempre aprendemos a dividir, por pior que seja, as vezes a gente odeia ter que emprestar aquela camisa, ou não poder comer o último pedaço do bolo, ou quem sabe devorar uma caixa de chocolate sozinha. Coisas que talvez as outras pessoas banalizem, não sei. Mas na minha casa, nós dividimos. Se tem apenas um biscoito, e três pessoas na casa, minha mãe vai partir ele em três! Minha mãe me ensinou a dividir, a me importar, mesmo eu não sendo uma pessoa tão boa nisso, mesmo que as vezes eu seja egoísta em alguns quesitos, se eu compro chocolate, todos vão comer uma parte, se eu ganho uma caixa de chocolate, eles sempre vão encontrar alguns em seu guarda roupa, porque eu sempre deixo pra eles. Se me mandam um bolo, vamos comer todos juntos.
Minha mãe me ensinou que mesmo que a gente brigue, muitas vezes por motivos banais, no fim do dia, família é quem vai estar do seu lado nos piores momentos. Quando o choro vir, quando a noite cair e você se sentir um lixo, quando você estiver precisando de alguém, ou quando ferirem tanto seu coração que aquele abraço é o único capaz de te curar. Alguns dias minha mãe me irrita, ou porque eu não fiz algo, ou porque fiz do jeito errado, ou porque esqueci de lembrar algo a ela, ou talvez porque me neguei a algo, as vezes até pela roupa pendurada atrás da geladeira ( que ela odeia). Coisas que pra mim passam despercebidas, pra ela são extremamente importantes. Minha mãe, é perfeccionista, gosta de tudo impecável, e do jeito dela. Eu sou desleixada, desligada, e muitas vezes só quero fazer tudo rápido. Somos como Sol e Lua, muitas vezes não brilhamos juntas, mas meio que necessitamos uma da outra pra existir. Se o Sol não se deitasse, a Lua não teria sua hora de brilhar.
Minha irmã mais velha é meu oposto, em basicamente tudo. Enquanto eu penso demais, ela vai e age, se eu fico quieta, ela não cala a boca. Se eu gosto de preto, ela ama rosa, se eu digo ‘não’ ela vai e diz ‘sim’. Enquanto eu só fico quieta na minha, prefiro o silêncio e ficar sozinha, ela adora ser o centro das atenções, chama a atenção por onde passa e é quase um arroz de festa. Literalmente Preto e Branco! Mas, se qualquer pessoa fizer ela chorar (mesmo ela sendo uma rocha que quase nunca chora), eu juro que sou capaz de qualquer coisa, se alguma coisa acontece comigo, ela é a primeira a se preocupar, e muitas vezes vai falar com a minha mãe, pra não falar comigo porque tá com vergonha ou não quer me preocupar. Quando fiquei doente, era ela quem me fazia rir, tipo, do nada! E mesmo que a gente brigue sempre, minha irmã me ensinou a proteger uma a outra, a entender que no fim do dia, a nossa convicção é o que vale, o que somos é a única coisa que importa, e o mundo lá fora que se exploda. Quando eu me encolho, ela levanta a cabeça e vai pela frente, abrindo o caminho para que eu passe! Esse é o tipo de mulher que ela é, confiante até o ponto de ser considerada arrogante, ela jamais abaixa a cabeça e o tom, pra ninguém! Eu sou da paz, e ela, da guerra! E apesar de ser eu que escuta música de “velório” como ela fala, e vestir preto, e ela quem sai “armada” pra todas as guerras e compra todas as brigas.
Meu irmão tem um jeito diferente de ver a vida, e de expressar sentimentos. Não é de abraçar, de dizer que ama, ou de demonstrar sentimentos, pra ele é difícil ser constante, até mais do que é pra mim. Ele não consegue ser sempre presente, ele tem dificuldade em se expressar. E pra minha mãe que é só amor, é difícil entender isso, pra mim também foi durante um tempo, hoje não é mais. As vezes você sente muito, você ama demais, mas simplesmente não é da sua natureza ficar ligando e mandando mensagem, não é seu ficar o tempo todo ali, fazer carinho e abraçar. Mas eu sinto que ele me ama, como? Quando estou com ele, ele sempre me dá um beijo, mesmo que seja do nada ou só na hora de me cumprimentar. Ele expressa ciúmes quando estou dando mais atenção pras crianças do que pra ele, ele de um jeito ou de outro aparece só pra dizer ‘oi’, e quando eu fiquei doente, ele chorou como um bebê vendo “Uma Prova de Amor” porque segundo ele, deixar de ser doador da sua própria irmã era um egoismo, mesmo que a menina doente quisesse morrer, como irmã a outra não podia deixar ela fazer isso. Do jeito dele, ele estava me dizendo que não me deixaria ir, que ele não teria a coragem que a personagem teve, e que de certa forma, ele não queria me perder. Ele ficou péssimo quando nosso avô faleceu, era nítido, mas foi ele quem deitou comigo na cama e me acalmou por horas, ele me abraçou e me reconfortou mesmo que estivesse quebrado por dentro, porque esse é o jeito dele. Ele é livre, e ama livremente! Não gosta de estar preso, nem de demonstrar nenhum sentimento pra gente. Mas ele está ali, de um jeito ou de outro.
Enquanto as crianças, fruto de outros relacionamentos do meu pai. Foi difícil no início, muita coisa estava acontecendo, e de certa forma elas pagaram por algo que não tinha nada a ver com elas, e quanto mais eu me aproximava, mais eu percebia isso. São apenas crianças, e ainda tem muito pra descobrir, muito pra crescer e muita coisa pode mudar. Mas a menina, é doce, meiga, e extremamente sentimental. Ela ama, sente saudade, quer ta perto, quer abraçar, quer beijar, e está sempre cantando. O menino, é genioso, cheio de vontade, teimoso, e também amoroso. Quer correr o tempo todo, não gosta que fiquem abraçando ele, mas morre de ciúmes quando abraçam outra pessoa, quer sua atenção e sempre sorri pra você. São crianças, e muito ainda pode acontecer. Mas, o que eu quero pra eles, ou pra minha relação com eles, e como família, baseado no que minha mãe ensinou, eles saibam que existe alguém que se importa. Que está ali pra quando precisar, não só pra apoiar e ajudar, mas também pra educar e preparar pro mundo. E mesmo que essa não seja minha função, eu sei o quanto é ruim se sentir sozinho, mesmo que eu nunca tivesse de fato sozinha. Eu me focava tanto no que eu não tinha, que não notava tudo que tinha.
E enquanto os avos, hoje percebo que se tenho carinho e gratidão por eles, foi porque minha mãe sempre alimentou nossa relação, sempre incentivou porque pra ela era importante. E porque eles me ajudaram em muitas coisas, sempre que precisei, não deixaram nada faltar. Mas, após perder meu avô, notei que quando uma pessoa se vai, por pior que tenha sido sua relação com ela. o que mais pesa, o que fica, pelo menos pra mim, são as coisas boas. Meu avô, era a ignorância em pessoa em muitos aspectos, mas quando eu não tinha onde deixar a ‘minha filha’ (minha cachorrinha que era como uma filha) , ele deu um lar a ela, quando eu não tinha condições de cuidar dela ou de bancar ela, ele bancou. Ele do seu jeito torto gostava de mim de alguma forma, ou pelo menos fez por mim, mais até do que meu pai já havia feito. Então, decidi que é melhor ser eu! Ser sentimento, ser sincera, e ser gentil. Nunca vai ser culpa minha a falta de amor de alguém, a falta de interesse, a insensibilidade. Eu quero ser luz, e se alguém não gostar disso, eu não posso fazer nada. Hoje ao entrar na casa da minha avó, notei que ela é a unica de todas as avós que tem fotos minhas pela casa, que me manda mensagens todos os dias, e sinceramente acho que temos milhões de diferenças, eu não concordo com basicamente nada que ela faz ou pensa. Mas, de alguma forma, eu acho que ela acaba gostando de mim mesmo assim, e eu gosto dela. Num raro momento, vi meu avô sorrir de muita felicidade hoje, ele só estava passando por nós com seu chapéu e seu jeito de “não falar quase nada” e de repente ele abriu um dos maiores sorrisos que eu ja vi nele, foi breve, mas consegui ver. Tudo por ali, naquela varanda, ele viu eu e meu irmão conversando enquanto a gente brincava com o caçula, e meu pai falava com o primo. Nunca tinha pensado no valor de família pro meu avô, porque ele nunca costuma falar nada, mas hoje no aniversário dele, depois de 22 anos de convivência, eu percebi mesmo que por um segundo, que nem sempre quem não fala, é porque não tem nada a dizer. Meu avô me elogiou muitas vezes pelo o que me foi dito, e engraçado que ele nunca falou diretamente comigo sobre essas coisas, mas percebo que quando eu falo pra ele e pra minha avó que não quero casar, mas quero ser mãe, ela parece até mais incomodada que ele, mas nenhum dos dois fala algo pra me contrariar.
No fim das contas, hoje eu refleti sobre família, e o peso que cada um tem pra nós. Notei que na maioria das vezes gosto mais dos outros do que eles de mim, ou pelo menos assim me parece. Mas principalmente, percebi que pra mim, tudo que uma família significa, vem de tudo que minha mãe me ensinou. De valorizar alguém.
Não é sobre as discussões por toalhas molhadas em cima da cama, pela louça suja na pia, e sim sobre quem entra no quarto quando você está chorando, senta do seu lado e te abraça. Sobre alguém que olha nos seus olhos e sabe que você não tá bem. É sobre lealdade, sobre estar lá quando ninguém mais estar. É sobre amar alguém quando a pessoa menos merece, porque sabe que é nesse momento em que ela mais precisa. É sobre colar um coração quebrado com um abraço. É sobre as tardes de café na mesa em que falam tudo pra te deixar sem graça. É sobre te acompanhar naquele médico que você morre de vergonha, é sobre segurar sua mão quando a notícia é ruim, é sobre dormir numa poltrona de hospital qualquer só porque não quer te deixar sozinha. É por isso que eu resumo família á mãe! Porque se hoje, eu quero ser mãe, e não ligo tanto pro casamento, é porque eu sei, que o único amor que conta pra sempre, é esse. Porque não existe nada mais forte que esse amor, porque amor de mãe é pra sempre, é incondicional, é eterno. Se hoje, eu penso em ser mãe, é porque eu penso em dar uma criança tudo que minha mãe me deu. Princípios, educação, amor, valores, e uma família. Porque eu sei, que nos dias difíceis vai ser ela por mim, e eu por ela.
Família pra mim, sempre vai ser mãe! Porque numa mulher que não teve mãe, nem pai, e nem ninguém, ela conseguiu se transformar numa base sólida que criou toda a minha base familiar, toda a importância dessa palavra, e todo o amor que nutro por cada pessoa presente na minha família veio do que ela me ensinou. Minha mãe não só é a pessoa mais forte, como é a mais corajosa. Sem ter mãe, sem ter base, se tornou mãe. De 3 crianças, e juntou elas como uma família com amor e lealdade. Se hoje eu digo que sou uma pessoa família, foi porque ela me ensinou o significado de família. Sempre vou ser grata a minha mãe, por ter conseguido dar pra gente aquilo que ela nunca teve, e ter criado em mim a vontade de ser família.
Família é mãe, porque família é quem está lá quando ninguém mais está!
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