O auto-ódio, como costumo dizer, não acontece quando há pessoas ao teu lado para dizerem a ti que te amam ou que te acham bela. Por isso que sofro, porque estou, sou e me sinto sozinha, feia e rejeitada.
É desgastante olhar no espelho e enxergar a realidade, sair todos os dias de casa e ter de mostrar minha feiúra e tristeza aos outros. Se eu pudesse, eu juro, nasceria de novo, como outra pessoa.
É triste saber que sou nojenta por ser feia. Repugnante por ter o nariz, lábios e olhos estranhos, por não ter beleza alguma.
A minha vida inteira eu fiz absolutamente apenas escolhas erradas, eu sou obcecada por escolhas ruins. Eu não sei pq eu tenho que me aguentar todos os dias, não sei pq eu não boto a cara e morro logo, não sei pq eu ainda tento.
Eu sou feia. Feia mesmo. Não precisa mentir, você não me acha bonita. Parem de mentir. Eu sou repugnante.
Poderia passar horas listando meus defeitos e como — mesmo que nascesse de novo — nunca serei bela. Nem em um milhão de anos.
Não existe isso de “beleza não importa”, ninguém se apaixona por jeito ou quer uma amiga feia por bons motivos. Para feias, só a objetificação ou solidão.
Nunca me achei atraente, nem mesmo quando criança. Sempre quis ter nascido com qualquer outro rosto, qualquer outra aparência.
A maior parte do tempo, isso não me afeta. Ok. Sou feia. Acontece. Mas, outras vezes, não consigo nem me olhar no espelho. Sou imunda.
Rosto, boca, cabelo, corpo, voz. Tudo nojento, ridículo. Toda a combinação é podre. Patética.
E, mesmo que emagreça, use maquiagem ou faça caras e bocas para foto, continuo estupidamente horrenda. Por fora e por dentro, sou feia.
Tenho andado me sentido feia nesses últimos dias. Na realidade eu sempre soube, é na escola que a nossa ficha cai.
Achei que tivesse mais madura com relação a isso, mas, não. Vi um vídeo sobre amizade entre homens e mulheres, foi um tapa na cara, porque não tenho nenhum amigo homem e também não tem nenhum tentando ser meu amigo, segundo o vídeo a grande maioria homens só fazem amizade com mulheres que eles tem interesse/atração. Meus directs estão vazios a muito tempo.
Mas antes desse golpe, outro já vinha martelando. Sempre que vou a festas, rolezinhos ninguém dá em cima de mim, eu posso ir linda e o mais estilosa possível, posso ser sorridente e aberta, engraçada...mas nada acontece. Ninguém quer me beijar ali naquele instante sem nenhum compromisso, nada.
"Ah mais todo mundo te olha quando passa", sim, porque sou estupidamente alta e cheia de cicatrizes de espinha. Olhar no espelho e tirar foto para mim é uma grande questão, chega doer.
Por isso tenho evitado sair muito à esses lugares gatilhosas. Claro que o fator racial é também um agravante, mas não somente ele compõe a minha tragédia. Eu me sinto prejudicada, se é que isso existe. Sou magra mas não o suficiente pra ser atraente, meu cabelo é crespo mas a cor não combina comigo, minhas feições separadas são lindas mas em conjunto uma desordem. Meu papo, é legal mas não o suficiente pra alguém perder horas investindo. Por conta de uma coisa minha interação social é uma bosta.
Não adianta eu me iludir com a filosofia de que beleza não existe, e que tudo é uma construção. Até pode ser verdade, mas infelizmente minha geração não vai curtir a era da despadronização. A beleza existe e existe descolada da padronização. Como eu provo isso não sei, é apenas o que sinto, minha vivência.
A Caneta Melancia escreveu "Para feias, só a objetificação ou solidão." E é a mais pura e dolorosa realidade.
Espero que isso passe novamente e que eu volte a viver meus dias através de outra perspectiva. Quando foco nisso meu mundo fica triste.
Em minha defesa eu tinha 16 anos e só guardo essa foto feia por causa da lembrança que a foto me traz.
Esse foto foi feita em um sábado. Sábado era o dia em que minhas primas e primos iam para a casa da minha avó. Era o único dia em que a gente se reunia para fazer bagunça.
Toda semana a gente aprontava algo diferente e nesse dia eu não sei de quem foi a ideia de pintar a cara de carvão. Mas lembro que era era uma das influências da gente tanto escutar a suja da Kesha.
Na semana anterior, nos pintamos as sobrancelhas de glitter, após assistir o clipe de We R Who We R.
Nos reunirmos para fazer baderna e ficar o dia tirando fotos. Por isso ainda guardo essa foto feia. Por causa da memória seletiva que ela me trás.
Ainda tem outras fotos feias, antes dos meus 18 anos, eu me sentia uma gay com pouca beleza, mas nunca feia.