Tumgik
#malcolm mim
jaywritesrps · 5 months
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Sério, eu ia para porque como já falei, já disse tudo que tinha pra dizer, quer jogar merda? Joga, mas segura o rajadão depois. Queria falar era de outra coisa, que meio que tem a ver mais sei lá. enfim. Bora conversar, sem animosidade.
Eu peço desculpa por ter explodido, mas não me arrependo de nada do que foi dito, porque, de verdade, é uma bosta vir algum filho da outra vir na inbox da melzinha ou do eros e dizer um monte de merda sobre nós 3 e a gente ter que ficar calado tomando no butico "pra não irritar a tag". Concordo com vocês que não deveria ter jogado na tag geral, mas também entendam que quem quer que seja essa infeliz mandando as asks, ela passou a semana inteira remoendo esse negócio, fez um ataque direto, pegou no âmago e mexeu em um lugar que principalmente nós três aqui enfrentamos todo dia, a todo momento. Ok que um errado não faz dois certos, mas também não dá aguentar calado alguém vindo te ofender. Pra quem tá mandando essas asks pra melzinha e pro Eros, quero mais que você pise descalço num chão cheio de legos.
Com isso dito, infelizmente, não vejo as propostas de ações como "produzir resource" ou "educar" mais como opção, porque eu mesmo já tentei isso n vezes desde abril desse ano e é um dos motivos que me levaram a me afastar desse tipo de produção, porque já fiz tudo o que eu podia pra tentar educar, tirando a produção de gifs, que meu tempo não permite, e surtiu resultado nenhum, a única coisa q eu recebi em troca foi um bando de ask de transfobia recreativa perguntando se tudo bem chamar a amiguinha de "mulher de tromba" (censurado pq o termo foi muito pior) e suas variantes. Já falei de passabilidade, de como isso afeta até os cis, já fiz guia de personagem trans, já me disponibilizei pra tirar dúvidas, já falei os motivos de porque um rp de tema transfóbico não é só um rpg e assim, melhorou alguns aspectos, mas parece quadrilha de festa junina andando dois para frente e três pra trás. Olha quantos rps fecharam esse por conta da tag sendo transfóbica, olha quantas vezes a gente foi atacado esse ano desde que foi proposto o uso de fcs cis para personagens trans? Olha como toda vez que algo relacionado a vivência trans surge acaba levando a indiretinhas anônimas relacionadas fetichismo, xenofobia e sexualização? E assim, todo mundo aqui já tem mais de 20 anos e entende bem o conceito dessas coisas pra ficar pagando de "ain mas ocês num mi insina", se tivesse real interesse em aprender qualquer coisa sobre, a demanda tinha aparecido.
Cada vez entendo o Malcolm X quando ele dizia que os pretos deviam usar todos os meios necessários contra o racismo, porque a resistência pacífica só ajuda o opressor, porque é o que acontece todo santo dia aqui com a gente. Chega numa hora em que você não consegue mais segurar e e você simplesmente explode porque já tá de saco cheio de ser bonzinho e mesmo assim cagarem na sua cabeça, ai quando esses momentos acontecem, todo mundo já tá doido pra vir dizer "ah não pode" ou "ah isso atrapalha". Ok, concordo que atrapalha, só que é cansativo você ficar repetindo a mesma coisa por 8 meses, pra vir um xarope da casa do carvalho, dizendo que tudo bem jogar rpg com tema transfóbico, porque "ain é só um rpg" e depois ficar fazendo ataque gratuito contra quem se levanta sobre isso porque o rpg flopou. E falando só por mim, eu tô extremamente exausto disso, de ficar procurando material por acreditar que realmente pode ser só falta de acesso à informação, ter um trabalho lazarento pra falar sobre isso, e só tomar transfobia e ofensa na fuça.
Enfim, era só isso q queria falar e pau no cu da JKR
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UMA VIDA PEQUENA
"Uma vida pequena" de Hanya Yanagihara
Quando quatro amigos de uma pequena faculdade de Massachusetts se mudam para Nova York em busca de uma vida melhor, eles se veem falidos, sem rumo e amparados apenas por sua amizade e por suas ambições.
Willem, lindo e generoso, é aspirante a ator; JB, nascido no Brooklyn, é um pintor perspicaz e às vezes cruel que busca de todas as formas ingressar no mundo das artes; Malcolm é um arquiteto frustrado que trabalha numa empresa de renome; e o solitário, brilhante e enigmático Jude funciona como o centro gravitacional do grupo.
Com o tempo, o relacionamento deles se aprofunda e se anuvia, matizado pelo vício, pelo sucesso e pelo orgulho. No entanto, seu maior desafio, como cada um passa a perceber, é o próprio Jude, um litigante extremamente talentoso na meia-idade, porém, ao mesmo tempo, um homem cada vez mais atormentado, a mente e o corpo marcados pelas cicatrizes de uma infância misteriosa, e assombrado pelo que teme ser um trauma tão intenso que não só não será capaz de superar ― mas que vai definir sua vida para sempre.
A um tempo que venho tentando reunir forças e organizar meus pensamentos para falar desse livro.
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E a primeira coisa que tenho para falar é: Nem TODOS alertas de gatilho do mundo vão te preparar para ler esse livro. Mas aqui está a lista deles: Abuso sexual, violência física, violência psicológica, pedofilia, suicídio, automutilação, prostituição infantil e transtornos alimentares. Eu acredito que toda e qualquer pessoa que ler esse livro, mesmo não se identificando com nenhum dos gatilhos listados acima, precisa estar com a saúde mental em dia e ainda mais importante: se em algum momento durante a leitura, você não se sinta bem e segura, não prossiga, por que sinceramente? Não vai melhorar.
Acho que é de senso comum, ou pelo menos na minha opinião deveria ser, que a autora tem uma habilidade para escrita fantástica. Independente de qualquer crítica por minha parte, eu considero isso inegável. Acredito que a experiência do livro demonstra o quanto ela te transporta para aquela história. Eu achei a narrativa fluida, apesar de não ser uma leitura rápida por ser um livro extenso e difícil. Diversos cliffhangers* são inseridos e instigam a curiosidade do leitor para o que irá acontecer em seguida. A característica de ir e voltar em momentos marcantes com a perspectiva de diferentes personagens, mas ao mesmo tempo sem tornar a história repetitiva, foi um dos pontos altos para mim. Me fez entender o que se passava na cabeça de cada personagem. Para algumas pessoas, essa narrativa pode se tornar cansativa, mas eu acredito que Hanya conseguiu trazer isso com uma fluidez impecável.
Tendo dito isso, por melhor que seja a escrita de Hanya, considero este livro desnecessariamente traumático e gráfico, a ponto de ser irresponsável. Você percebe uma certa disposição da autora em ser excessivamente descritiva. Os trechos que mais me incomodaram foram os momentos de automutilação por parte do personagem principal, que honestamente, beirava a um tutorial.
Outro fator que me incomodou foi a autora, por toda extensão do livro, utilizar traumas como elemento de choque. Não existe qualquer mensagem por trás de nenhum daqueles momentos, nenhuma reflexão ou reparação, falava de trauma somente por ser chocante. Eu entendo perfeitamente que essa foi a exata intenção da autora, mas para mim, beirou ao sadismo. Poderia se retirar metade dos eventos traumáticos e o efeito seria o mesmo.
A autora trouxe a automutilação como um elemento essencial de um personagem, o que achei EXTREMAMENTE problemático. Todo o discurso por trás do livro na inevitabilidade de superar um trauma me incomodou muito.
Eu pensei e repensei em fazer essa resenha, pois eu me incomodo em trazer só considerações ruins para uma história. Mas os pontos bons desse livro não compensam nem de longe os ruins, então me recuso a trazê-los.
Como conclusão trago: Não leiam. Não pretendo e não vou recomendar esse livro para nenhum de meus amigos. Caso decida ler, por favor, POR FAVOR, proteja a sua saúde mental e entenda seus limites. Repetindo para caso não tenha ficado claro no início desse texto, NENHUM alerta de gatilho é suficiente para te preparar para essa história. Vai doer. Muito.
Eu grifei diversos trechos que achei reflexivos durante a leitura, mas não vejo sentido em citá-los. Por fim, lamento se você veio aqui com a intenção de lê-lo, pois não vai partir de mim qualquer tipo de incentivo.
*Cliffhanger: A primeira definição de cliffhanger no dicionário é uma situação de desastre iminente que geralmente ocorre no final de cada episódio de um filme serializado. Cliffhanger também é uma situação dramática ou incerta.
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umcertopedro · 2 months
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A IGREJA E A ANSIEDADE
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“Todos tentamos aceitar com alguma submissão nossas aflições quando elas chegam de fato a nós. Mas a oração no Getsêmani mostra que a ansiedade que a precede é, em igual medida, a vontade de Deus e parte de nosso destino humano. O Homem perfeito experimentou isso. E o servo não é maior que o mestre. ” Cartas a Malcolm- C. S. Lewis
A ansiedade faz parte da experiência humana. Ter momentos de ansiedade é natural e inevitável. Jesus nos ordena que não ANDEMOS ansiosos (Mt. 6:25), Pedro nos recomenda LANÇAR sobre Deus as nossas ansiedades (1 Pe. 5:7), ou seja, ela vai vir, vai existir, mas temos que trabalhar para combatê-la. Enquanto estivermos neste mundo todos vamos passar em maior ou menor grau por essas aflições, e a ansiedade não faz distinção entre novos e maduros na fé, jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres, etc. Todos terão momentos de ansiedade e, às vezes, muita ansiedade durante toda a vida. Hoje talvez você sinta que sua ansiedade está sob controle, mas não sabemos o dia de amanhã e uma crise de ansiedade pode atingir qualquer um de nós, mesmo que fizermos tudo corretamente em termos humanos ou mesmo bíblicos.
O combate a ansiedade pode ser mais fácil ou mais difícil dependendo das circunstâncias. Existem problemas relativamente simples como o fazer uma prova e outros muito complexos como enfrentar uma doença. Mas mesmo o fazer uma prova pode trazer extrema ansiedade para alguns, por causa de traumas ou mesmo de um desequilíbrio fisiológico. Cada um terá uma experiência nesse combate, e cabe a igreja como Jesus acolher as diferenças e as dificuldades de cada um.
“Algumas pessoas se sentem culpadas por suas ansiedades e as consideram um defeito da fé. Não concordo com isso de jeito nenhum. Elas são aflições, não pecados. Como todas as aflições, elas são, se assim podemos considerá-las, nossa participação na Paixão de Cristo. Pois o começo da Paixão — o primeiro movimento, por assim dizer — é no Getsêmani. ” Cartas a Malcolm- C. S. Lewis
Jesus tratava cada um segundo o que aquela pessoa precisava, aos fariseus e religiosos extremos com a dureza necessária, e aqueles perdidos e sofrendo com extrema compaixão e compreensão e esse é o nosso objetivo como imitadores de Cristo.
Uma das coisas mais comoventes sobre Jesus é como ele se mostrava humano para com aqueles que sofriam, com compaixão e empatia profundas. Além disso, ele não escondeu suas vulnerabilidades humanas, ele teve fome, ele chorou, ele se cansou e enfim ele se afligiu e se angustiou. Tudo isso para demonstrar a nós que não estamos sozinhos, que ele está ao nosso lado e conhece todas as nossas aflições. Assim, é importante que nós também sejamos abertos sobre nossas vulnerabilidades e dificuldades na vida cristã para que sejamos instrumentos na mão do Senhor para atrair a Ele aqueles que sofrem. Deixar claro como Paulo:
• “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. “ Filipenses 3:12
• “Mas ele me disse: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza". Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte. “ 2 Coríntios 12:9,10
Como Paulo diz também no texto de Filipenses acima versículo, a vida cristã é uma caminhada em direção a perfeição, mas esta só será alcançada no céu. Uma caminhada então implica uma série de passos, e alguns conseguem andar mais rápido, outros mais devagar, alguns estão mais a frente, mas seja em que ponto estivermos é pela graça do Senhor e cabe a nós cuidar dos nossos passos e apoiar nossos irmãos para que ninguém retroceda, ajudando uns aos outros nas fraquezas.
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gotasdeawen · 6 months
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A História de Deidre
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Era uma vez na Irlanda um homem bom e correto chamado Malcolm Harper que tinha muitos bens e uma esposa, mas não tinha filhos. Malcolm ouviu dizer que um adivinho havia chegado à cidade e solicitou a presença do homem em sua casa.
- Você está fazendo previsões? - perguntou Malcolm.
- Sim. Você está precisando de alguma?
- Bem, eu não me importo de ouvir suas previsões, se você tiver alguma para mim.
- Então eu vou fazê-las. Que tipo de previsões você quer?
- Bem, eu gostaria que você me falasse sobre o meu destino, o que vai acontecer comigo, se puder me informar.
- Eu vou sair e quando voltar contarei tudo a você.
O adivinho saiu da casa e não demorou muito para voltar.
- Bem, disse o adivinho -, eu vi que por causa de uma filha sua, será derramada a maior quantidade de sangue jamais derramada na Irlanda desde o início dos tempos. E os três heróis mais famosos que já existiram vão perder suas cabeças por causa dela.
Depois de algum tempo, Malcolm teve uma filha e não permitiu que nenhum ser vivo se aproximasse de sua casa, a não ser ele mesmo e a babá. Ele pediu à mulher: - Você poderia criar essa criança mantendo-a escondida, onde ninguém possa colocar os olhos nela e ninguém possa ouvir uma palavra a seu respeito?
A mulher disse que sim. Então Malcolm contratou três homens e levou-os a uma grande montanha, longe do alcance de qualquer um e sem ninguém saber de nada. Lá, ele mandou que cavassem um buraco no meio de um monte redondo e verde e cobrissem cuidadosamente para que duas pessoas pudessem morar ali juntas. Isso foi feito.
Deidre e sua mãe adotiva habitaram o esconderijo no meio das colinas sem o conhecimento de ninguém ao seu redor e sem que acontecesse nada até Deidre completar 16 anos de idade.
Ela cresceu como o broto das árvores, pura e saudável. Era a criatura mais bela e de natureza mais gentil que já existiu em toda a Irlanda.
A mulher que se encarregava dela dera-lhe todas as informações e lhe ensinara todas as habilidades que conhecia. Não havia uma folhinha de grama crescendo da raiz, nem um passarinho cantando no bosque, nem uma estrela brilhando no céu de que Deidre não conhecesse o nome. Mas uma coisa que a velha não queria era ver a menina conversar com nenhum homem que vivesse além dali.
Mas, numa triste noite de inverno, um caçador caminhava cansado pelas colinas após perder o rastro da caça e o rumo, separando-se dos companheiros. Um certo torpor tomou conta do homem ao caminhar esgotado e ele se deitou ao lado do belo monte verde em que Deidre vivia e adormeceu, enfraquecido por causa da fome e da longa caminhada. Deitado ao lado das colinas verde em que Deidre morava, ele teve um sonho perturbador, pensou ter sentido o calor de uma torre de pedra encantada, com fadas dentro dela tocando músicas. Em seu sonho, o caçador gritou perguntando se havia alguém dentro da torre e se o deixaria entrar, pelo amor do Ser Sagrado. Deidre ouviu a voz e disse à sua mãe adotiva: - Oh, que grito é esse? - Não é nada, Deidre, somente os pássaros perdidos, procurando uns aos outros. Mas deixe-os passar à clareira frondosa, não há abrigo ou casa para eles aqui.
- Oh, o pássaro pediu para entrar, pelo amor do Deus dos Elementos e você mesma me disse que deveríamos fazer qualquer coisa solicitada em Seu nome. Se você quer que o pássaro fique paralisado de frio e morto de fome, não posso levar muito a sério sua fé. Mas como acredito nas coisas que você me ensinou, eu mesma vou deixar o pássaro entrar.
Então Deidre se levantou, puxou a tranca da porta e deixou o caçador entrar. Ofereceu-lhe um lugar para sentar, comida e bebida.
- Oh, em troca desta acolhida, mantenha sua língua quieta! – disse a velha. – Não é difícil para você manter a boca fechada e a língua quieta quando consegue uma casa e um abrigo numa melancólica noite de inverno.
- Tudo bem - disse o caçador-, vou manter minha boca fechada e minha língua quieta, pois vim a esta casa e recebi hospitalidade de sua parte. Mas se alguma outra pessoa no mundo vir esta bela criatura que você esconde, não vai mais deixá-la aqui com você, eu aposto.
- Que homens são estes aos quais você se refere?  - perguntou Deidre.
- Eles são Naois, filho de Uisnech e Alle e Arden, seus dois irmãos.
- Como são esses homens, se chegarmos a vê-los? – perguntou Deidre.
- Bem, o aspecto desses homens – disse o caçador – são os seguintes: eles têm a cor do corvo em seus cabelos, suas peles são brancas como o cisne nas ondas do lago, suas velocidades e seus saltos são como os do salmão na correnteza do rio e do veado da encosta da montanha. E Naois tem a cabeça e os ombros bem acima do resto das pessoas da Irlanda.
- Seja lá como eles forem – disse a receptora – vá embora daqui e pegue outro rumo.
O caçador foi embora e foi direto ao palácio do rei Connachar dizendo que desejava lhe falar, se assim o permitisse. O rei então saiu para falar com o homem.
- Qual o motivo da sua visita? – indagou o rei.
- Tenho que lhe dizer, oh rei – disse o caçador -, que eu vi a mais bela criatura que já nasceu na Irlanda e vim lhe falar dela.
- Quem é essa beleza e onde pode estar, se nunca foi vista antes de você, se é que a viu?
- Bem, eu a vi, sim – disse o caçador -, mas nenhum outro homem poderá vê-la, a menos que receba minhas indicações sobre o local em que está morando.
- E você me indicaria o lugar em que ela mora? A recompensa será tão boa quanto a que lhe darei agora por essa mensagem – disse o rei.
- Bem, eu vou lhe dar a indicação, oh rei, apesar de possivelmente não ser o que elas querem – disse o caçador.
Connachar, rei de Ulster, mandou chamar seus homens de confiança e lhes falou de sua intenção. Por mais cedo que se tenha ouvido o canto dos pássaros, mais cedo ainda Connachar, rei de Ulster se pôs a caminho com a pequena tropa de amigos queridos, na agradável alvorada do fresco e suave mês de maio. O orvalho ainda pesava em cada arbusto, em cada flor e em cada talo quando eles foram buscar Deidre no monte verde em que ela morava.  Muitos rapazes jovens, com o passo ágil e resoluto ao iniciar a caminhada, tinham agora, ao chegar ao abrigo um passo fraco, hesitante e trôpego, por cauda do longo caminho e da estrada cheia de dificuldades.
- Vejam agora, lá no fundo da ravina está a choupana em que mora a mulher, mas não vou me aproximar mais por causa da velha – disse o caçador. Connachar com seu bando de amigos desceu até o monte verde e bateu na porta da choupana. A preceptora respondeu:
- Nada, a não ser um comando do rei e um exército me faria sair da minha choupana esta noite. E eu lhe agradeceria muito se me dissesse quem é e por que deseja que eu abra a porta da minha casa.
- Sou eu, Connachar, rei de Ulster.
Quando a pobre mulher ouviu quem estava à sua porta, ela se levantou num ímpeto e deixou o rei entrar e todos do seu séquito que coubessem ali dentro.    
Quando o rei viu a jovem que viera buscar diante de si, pensou nunca ter visto à luz do dia nem nos sonhos da noite uma criatura tão bela quanto Deidre e ele sentiu todo o seu coração cheio de amor por ela. Deidre foi erguida para o alto dos ombros dos heróis e ela e sua mãe adotiva foram trazidas à corte do rei Connachar de Ulster.
Com o amor que Connachar sentia por ela, quis casar-se naquele mesmo instante, quisesse ela ou não, mas ela lhe disse: - Eu lhe agradeceria muito se você me desse o prazo de um ano e um dia. E ele disse: - Está bem, apesar de para mim ser muito difícil esperar, eu lhe concedo esse tempo, mas só se prometer casar-se comigo no final desse prazo. E ela prometeu.
Connachar arrumou-lhe uma professora e algumas criadas que brincariam e conversariam com ela. Deidre era esperta nas tarefas domésticas e uma mulher compreensiva. E Connachar pensou nunca ter visto com seus olhos uma criatura que lhe agradasse tanto.
Um dia, Deidre e suas companheiras estavam no monte atrás da casa observando a paisagem e bebericando ao calor do sol quando viram se aproximar três homens a pé. Deidre ficou olhando para os homens, imaginando quem seriam. Quando eles chegaram mais perto, ela lembrou-se das palavras do caçador e disse a si mesma que com certeza eram os três filhos de Uisnech e um deles era Naois, que tinha os ombros mais altos do que os de qualquer outro homem da Irlanda. Os três irmãos passaram por elas sem notá-las, sem dar nenhuma espiadela nas jovens sobre o monte.
Mas acontece que o amor por Naois tomou conta de assalto o coração de Deidre e ela não conseguiu deixar de segui-lo, indo atrás dos homens que passaram pela base do monte, deixando suas ajudantes para trás. Allen e Arden já tinham ouvido falar da mulher que Connachar, o rei de Ulster, tinha consigo. Acharam que se Naois, seu irmão, a visse, iria querê-la para si, especialmente porque ela não estava ainda casada com o rei. Perceberam a aproximação da mulher e pediram aos outros que apressassem o passo, pois tinham um longo trajeto pela frente e a penumbra da noite estava chegando. Foi o que eles fizeram.
Então Deidre gritou: - Naois, filho de Uisnech, você vai me abandonar?
- Mas que grito dolorido é esse, o mais melodioso que meu ouvido já ouviu e o mais pungente que já atingiu meu coração, entre todos os gritos que já ouvi?
- Não é nada além do lamento dos cisnes de Connachar – disseram seus irmãos.
- Não! É um grito de tristeza de uma mulher – disse Naois. E ele jurou que não prosseguiria até ver quem dera o grito e retornou.
Naois e Deidre se encontraram e ela beijou Naois três vezes e deu um beijo em cada um de seus irmãos. No meio da confusão em que se metera, Deidre enrubesceu como uma chama de fogo e seu rubor ia e vinha tão rapidamente quanto o movimento do álamo tremedor às margens do córrego. Naois pensou que nunca vira criatura mais bela e sentiu por Deidre o amor que nunca sentira por coisa, visão ou criatura além de si mesmo.
Então Naois colocou Deidre no alto de seus ombros, disse aos irmãos que mantivessem o passo e eles o mantiveram. Naois achou que não seria bom ficarem na Irlanda por causa do modo com que Connachar, o rei de Ulster, filho de seu tio, poderia atacá-lo por ter roubado-lhe a mulher, apesar de não ser casado com ela. Então voltou à Escócia. Alcançou as margens do lago Ness e montou sua casa ali. Podia pescar o salmão do rio junto à sua porta e caçar os veados de garganta sombria bem abaixo da sua janela. Naois, Deidre, Allen e Arden passaram a morar numa torre e foram felizes pelo tempo que estiveram ali.
Mas chegava ao fim o prazo que Deidre pedira a Connachar, para se casar com ele. Connachar resolveu retomar Deidre pela espada, estivesse ela casada ou não com Naois. Então ele preparou uma grande e esplendorosa festa. Enviou mensagens para todos os cantos da Irlanda, para que toda sua parentela viesse à festa. Connachar pensou consigo mesmo que Naois não viria, apesar de tê-lo convidado. E o plano que veio à sua mente foi mandar chamar o irmão de seu pai, Ferchar Mac Ro e pedir-lhe que fosse falar com Naois. E foi o que ele fez.
Connachar disse a Ferchar: - Diga a Naois  que realizarei uma grande e esplendorosa festa para meus amigos e meus parentes de todo o vasto país da Irlanda e que não descansarei, nem de dia nem de noite, se ele, Allen e Arden não participarem da festa.
Ferchar Mac Ro e seus três filhos se puseram a caminho e chegaram à torre em que Naois morava, ao lado do lago. Os filhos de Uisnech deram gentis boas-vindas e pediram-lhe notícias da Irlanda.
- A melhor notícia que tenho para vocês – disse o intrépido herói – é que Connachar, rei de Ulster, realizará uma grande e suntuosa festa para seus amigos e parentes de todo o extenso país da Irlanda. E ele jurou pela terra sob os seus pés, pelo céu no alto acima dele e pelo sol que se põe no oeste que não descansará de dia nem dormirá à noite se os filhos de Uisnech não retornarem ao país de seu lar e à sua terra natal e não forem à festa, pois foi para isso que ele nos enviou, para convidá-los.
- Iremos com você – disse Naois. – Nós iremos – disseram seus irmãos.
Mas Deidre não queria ir com Ferchar Mac Ro e tentou de todas as maneiras convencer Naois a não ir com ele. Ela disse:
- Tive uma visão, Naois, interprete-a para mim – disse Deidre. E então cantou:
Oh Naois, filho de Uisnech, ouça
O que me foi mostrado num sonho.
 Três pombas brancas vieram do sul
voando sobre o mar
e tinham gotas de mel em suas bicas.
Mel do favo da abelha.
Oh Naois, filho de Uisnech, ouça
o que me foi mostrado num sonho.
Eu vi três gaviões sinistros vindos do sul
voando sobre o mar
e as gotas vermelhas que eles levavam na boca
eram mais queridas do que a vida para mim.
E Naois disse:
Não é nada além do medo no coração de uma mulher
e um sonho noturno, Deidre.
- O dia em que Connachar nos enviou o convite à sua festa tornar-se-á infeliz para nós se não formos.
- Vocês devem ir – disse Ferchar Mac Ro. – E se Connachar for cordial, vocês devem mostrar cordialidade a ele também; se ele for hostil, vocês também deverão demonstrar hostilidade por ele. Eu e meus três filhos estaremos com vocês. 
- Estaremos sim – disse Pingo de Ousadia.
- Estaremos sim – disse Azevinho Intrépido.
- Estaremos sim – disse Fiallan, o Justo.
- Tenho três filhos e eles são três heróis. No caso de qualquer dano ou perigo que os possa ameaçar, eles estarão com vocês. E eu também estarei junto deles.   
E Ferchar Mac Ro fez seu juramento e deu sua palavra na presença de suas armas, afirmando que em caso de algum dano ou perigo que pudesse surgir no caminho dos filhos de Uisnech, ele e seus três filhos não deixariam cabeças sobre corpos vivos na Irlanda, apesar de todas as espadas e elmos, lanças e escudos, punhais e cotas de malha que, por melhores que fossem, se opusessem a eles.
Deidre não queria deixar a Escócia, mas foi junto com Naois. Chorava torrentes de lágrimas e cantava:
Querido é o país, o país que está logo ali –
Escócia, cheia de bosques e lagos –
Deixá-lo torna amargo meu coração,
Mas vou embora com Naois.
Ferchar Mac Ro não sossegou até conseguir levar os filhos de Uisnech com ele, apesar das suspeitas de Deidre:
O barco foi colocado no mar,
a vela foi içada nele
e na segunda manhã eles chegaram
às praias brancas da Irlanda.
Assim que os filhos de Uisnech aportaram em Erin, Ferchar Mac Ro enviou um recado a Connachar, avisando que os homens que ele convidara já haviam chegado e que ele os recebesse com muita cordialidade.
- Bem – disse Connachar -, eu não esperava que os filhos de Uisnech viessem, apesar de tê-los convidado e não estou preparado para recebê-los. Mas há uma casa lá embaixo onde hospedo os forasteiros. Deixe-os ir para lá hoje e minha casa estará pronta para recebê-los amanhã.
Mas Ferchar, que estava no palácio, sentiu que o rei não cumpriria sua palavra.
- Vá, Gelban Grednach, vá até lá embaixo e traga-me uma informação sobre Deidre, se ela tem sua antiga formosura e se sua pele ainda tem o belo matiz. Se ainda tiver, vou tomá-la com a lâmina e a ponta da minha espada e se não, deixe Naois, filho de Uisnech, ficar com ela – disse Connachar.
Gelban, o Alegre e Encantador, desceu até o local em que estavam Deidre e os filhos de Uisnech. Ele olhou pelo orifício da porta para Deidre que costuma ruborizar quando alguém a olhava. Naois então soube que alguém olhava para ela detrás da porta. Cortou uma lasca de madeira da mesa e enfiou-a pelo orifício, atingindo o olho de Gelban Grednach. A lasca passou até a parte detrás da sua cabeça. Gelban voltou ao palácio do rei Connachar.
- Você era alegre e encantador ao ir até lá, mas está voltando triste e sem encanto. O que aconteceu com você, Gelban? Você a viu e a aparência de Deidre é a mesma de antes? – perguntou Connachar.
- Bem, eu conheci Deidre e também a vi realmente, mas quando a espiava pelo orifício da porta, Naois, atingiu meu olho com uma lasca de madeira em sua mão. Mas, para dizer a verdade, apesar de ele ter arrancado meu olho, eu gostaria de ter permanecido lá olhando para ela com meu outro olho se o senhor não me tivesse pedido que voltasse o mais depressa possível – disse Gelban.
- Isso parece ser verdade – disse Connachar. – Mande trezentos bravos heróis ao abrigo dos forasteiros. Que me tragam Deidre e que matem o resto!
- As perseguições já começaram - disse Deidre.
- Sim, mas eu mesmo vou sair e parar com elas, disse Naois.
- Não é você, somos nós que vamos – disseram Pingo de Ousadia, Azevinho Intrépido e Fiallan, o Justo. - Foi a nós que nosso pai confiou sua proteção contra o dano e o perigo antes de ele voltar para casa.
E os galantes jovens, tão nobres, tão viris, tão belos, com bonitos cachos castanhos, saíram cobertos de armas de batalha, vestidos com roupas apropriadas para combates ferrenhos que eram lustrosas e nas quais havia muitos desenhos de bestas e pássaros e coisas horripilantes. Os jovens heróis derrotaram três terços da companhia do rei.
Connachar saiu furioso, gritando com ódio: - Quem está aí no campo de batalha massacrando meus homens?
- Nós, os três filhos de Ferchar Mac Ro.
- Darei passagem livre na ponte a seu avô, a seu pai e a cada um dos três irmãos, se vocês passarem para o meu lado esta noite – disse o rei.
- Bem, Connachar, não aceitaremos essa sua oferta, nem lhe agradeceremos por ela. Preferimos voltar para a casa de nosso pai e contar-lhe sobre as nossas façanhas heroicas a aceitar qualquer coisa de você nesses termos. Naois, filho de Uisnech e Alles e Arden são tão parentes seus quanto nossos, apesar de você ser tão cruel a ponto de querer derramar seu sangue e o nosso também, Connachar.
E os nobres, viris e formosos jovens, com belos cachos castanhos voltaram para dentro da casa e em seguida foram para a casa do pai contar-lhe que os filhos de Uisnech estavam a salvo. Isso aconteceu no fim do dia, na hora do crepúsculo e Naois disse que deveriam partir, deixar aquela casa e voltar para a Escócia.
Naois, Deidre, Allan e Arden iniciaram a viagem de volta a Escócia. Chegou aos ouvidos do rei que o grupo que ele perseguia tinha ido embora. Então o rei mandou chamar o druida Duanan Gacha, o seu melhor mago e disse o seguinte:
- Gastei muitas riquezas com você, oh druida Duanan Gacha, para que você aprendesse as coisas e obtivesse conhecimentos sobre os mistérios da magia, enquanto essa gente vai embora daqui hoje sem se preocupar, sem consideração ou respeito por mim, sem que eu tivesse oportunidade de alcançá-los ou o poder de pará-los.
- Eu vou pará-los – disse o mago -, até que o grupo que você enviou em sua perseguição retorne.
E o mago colocou uma floresta na frente deles pela qual nenhum homem poderia passar, mas os filhos de Uisnech marcharam através da floresta sem parar nem hesitar e Deidre segurou com força a mão de Naois.
- De que adiantou isso? Não funcionou – disse Connachar. – Eles foram embora sem dar folga aos pés nem interromper seus passos, sem consideração ou respeito por mim e eu estou sem o poder de alcançá-los ou oportunidade de fazê-los voltar esta noite.
- Vou tentar outra tática para pegá-los – disse o druida – e colocou diante deles um mar sinistro no lugar de uma planície verdejante. Os três heróis rasgaram suas roupas e as amarraram atrás de suas cabeças e Naois colocou Deidre dobre seus ombros.
Enfrentaram a correnteza
e o mar e a terra eram o mesmo para eles.
O rude oceano era o mesmo
que a campina verdejante e plana.
- Apesar de ser uma boa tática, oh Duanan, ela não vai fazer os heróis retornarem – disse Connachar. – Eles se foram sem consideração por mim, sem respeito por mim e sem que eu tivesse o poder de persegui-los ou forçá-los a retornar esta noite.
- Devemos tentar outro método, pois nenhum dos que usamos conseguiu pará-los – disse o druida. Então o druida congelou o sinistro mar encrespado, que ficou cheio de blocos rígidos de gelo, com arestas afiadas como aquelas das espadas. Arden gritou dizendo que estava ficando cansado e que queria desistir.
- Venha Arden – sente-se sobre o meu ombro direito – disse Naois.
Arden foi e sentou-se sobre o ombro de Naois. Arden estava nessa posição já havia algum tempo quando morreu, mas apesar de já estar morto, Naois não quis deixá-lo. Então Allen gritou que estava enfraquecendo e quase desistindo. Quando Naois ouviu sua oração expressando o pungente suspiro da morte, pediu-lhe que segurasse bem nele, pois tentaria levá-lo à terra firme. Mas não demorou muito para que uma fraqueza mortal tomasse conta de Allen e ele não conseguisse mais se segurar. Naois olhou em volta e quando viu seus dois irmãos muito queridos mortos, não se importou mais se iria viver ou morrer, exalou o amargo suspiro da morte e seu coração se rompeu.
- Eles se foram – disse o druida Duanan Gacha ao rei. – Eu fiz o que você quis que eu fizesse. Os filhos de Uisnech estão mortos, não vão mais perturbá-lo e você terá sua esposa salva e ilesa para você.
- Seja abençoado por isso Duanan e que os bons resultados apareçam para mim. Afinal não foi perdido o que gastei com o seu aprendizado. Agora desfaça a correnteza e deixe-me ver se posso recuperar Deidre – disse Connachar.
Então o druida Duanan Gacha desfez a correnteza. Os três filhos de Uisnech estavam deitados ali, lado a lado na verdejante planície, mortos, sem nenhum sopro vital e Deidre, inclinada sobre eles, estava mergulhada numa torrente de lágrimas.
Então Deidre soltou seu lamento: - Meu belo, meu amado, flor de beleza, meu querido garboso e forte, meu amado guerreiro nobre e modesto. Meu belo, de olhos azuis, tão amado por sua mulher, tão encantador para mim, no local de nosso encontro chegava sua clara voz através dos bosques da Irlanda. De agora em diante não conseguirei mais comer nem sorrir. Não arrebente ainda meu coração, pois logo me deixarei em meu túmulo. Fortes são as ondas da tristeza, porém mais forte é a própria tristeza, oh Connachar.
As pessoas se reuniram em volta dos corpos dos heróis e perguntaram a Connachar o que deveria ser feito com eles. A ordem que ele deu foi de que deveriam cavar uma sepultura e colocar os três irmãos nela, lado a lado.
Deidre continuou sentada na beira da sepultura, pedindo constantemente aos coveiros que cavassem uma cova bem mais ampla e espaçosa. Quando os corpos dos irmãos foram colocados ali, Deidre disse: -
Venha para este lado, Naois, meu amor,
deixe Arden repousar perto de Allen.
Se os mortos tivessem qualquer sensibilidade,
você teria deixado um lugar para Deidre.
Os homens fizeram o que ela ordenara. Então ela pulou para dentro da cova, se deitou junto de Naois e morreu ao seu lado.
O rei ordenou que o corpo fosse tirado da cova e enterrado na outra margem do lago. Tudo foi feito como o rei pedira e a sepultura foi fechada. A partir daquele dia, um broto de abeto cresceu no túmulo de Deidre e outro no túmulo de Naois e os dois brotos se uniram num nó por cima do lago. O rei mandou cortar os brotos e isso foi feito duas vezes, até que na terceira vez a mulher com que o rei se casara obrigou-o a parar com seus atos malévolos e sua vingança sobre os restos mortais dos que ali jaziam.  
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whimppering · 10 months
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clemência.
Ora ou outra, mas mais ora que outra, sinto-me à parte da vida de todos. O mundo é muito brilhante e saturado para mim, ofusca meu bom senso e os sinais cristalinos escancarados sob o meu nariz. Pareço não enxergar a existência da sina por trás de cada um, respeitá-la. Deixo-me levar pelos devaneios ingênuos de uma criança, sonhando com as possibilidades à sua frente. Sonhando acordada. Extasiada ao conhecer novas sensações, emoções, lugares, texturas, fragrâncias e tudo àquilo que instiga seus neurotransmissores. Essa empolgação me situa numa posição imensamente egoísta. Esqueço que as pessoas, suas vontades e ímpetos não me transladam. Dos seus problemas, traumas, responsabilidades e tudo que freia a impulsividade do hedonismo instintivo. Isso sempre me frustrou. Soterrar intenções e anseios honestos que buscam não mais do que a felicidade própria e de quem se estima. Um julgamento equivocado, mas bem intencionado do que é felicidade para o outro. Tão genuíno. Família, dinheiro, trabalho, estudos. Não consigo entender. Não entra na minha cabeça. Odeio espelhar-me acidentalmente em algo tão ordinário e imaturo quanto Carpe diem. A vida é muito mais que isso, não? Cuidar dos outros e planejar um futuro. Honrar a própria dignidade por meio da razão. O presente entorpece e preenche-me de ânsias, transfiguradas em meras frustrações, quando seres amados tomam meus pés flutuantes e os conduzem novamente ao chão. Um plano tão sólido e frio. Tão áspero e rude. Como despertar com um alarme brutal no decorrer da imaginação franca durante o repouso. Tão sincera. Inconsciente e inteiramente espontânea. Instintiva e incontestavelmente subjetiva. Um baque numa cama cálida e aconchegante. Num refúgio pessoal e sacro.
Ao encontro dessa superfície grosseira, acalento-me de culpa. Sinto a temperatura cair sob os meus pés lesionados com o impacto. Avalio todas as idealizações autocentradas e desafortunadas em milissegundos. Encho-me de amargor e decepção. Preciso crescer. Preciso trocar de lugar com a criança que resiste e esperneia dentro de mim. Porque eu me importo. Porque não quero que achem que não me importo. Ou que apenas que meus fervores irracionais têm valor para mim. Em certos momentos, distraio-me e deixo escorrer a adulta que quero ser pelas mãos. Que dou lugar, intuitivamente, a alguém que tem medo de morrer sufocada pelo ressentimento dentro de mim. Sinto-me numa sala cheia de pessoas rindo, sendo a única a não entender a piada. Não entender a vida e o que é preciso para vivê-la e dignificá-la. Eu ainda sei que o amanhã existe. Perdão.
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meandmypurpleheart · 1 year
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"Eu tinha feito o que todo mundo sempre diz que você precisa fazer como ser humano. Eu tinha dado tudo de mim e percebi, que o que todos dizem que você sempre deve fazer é tão doloroso que nunca mais quis fazer de novo."
— MALCOLM GLADWELL
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myk3-boy · 1 year
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Recentemente estava assistindo o filme Jurassic Park e lendo o livro ao mesmo tempo, estou na página 228. E sinceramente a obra foi tão suavizada no filme, que foi uma surpresa alguns eventos do livro para mim, já sabia que era extremamente diferente e que existia várias cenas pesadas. Porém o que mais me surpreendeu foram as mudanças dos personagens, algumas pequenas como Alan Grand sempre fora uma pessoa que amava crianças, até Ian Malcolm ser bastante babaca. Algumas até interessantes, como Lex ser a mais nova da dupla de irmãos, diferente da do filme que ela é a mais velha, e a mudança de personalidade entre os irmãos. Tim continua sendo um amorzinho, Alex é um pouco irritante mas ela é apenas uma criança pequena e é bastante aceitável. Mas tirando as surpresas do livro, a final estava muito apegado a construção de personagens do filme, até agora eu o adorei. A forma de escrita é bastante suave e nem um pouco demorada, sendo extremamente suave ler e facilmente entender o que está sendo apresentado.
Recomendo para qualquer um que se interesse por dinossauros e seja amante dos filmes.
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ninaelhino · 2 years
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Morgaine 4 - PRIMEIRO DIA DE AULA!
Morgaine adorou conhecer as suas novas colegas e também amou a sensação de acolhimento por parte delas. O sentimento de pertencer àquela equipe era gratificante. Aquele foi primeiro domingo longe de casa e de sua querida família, e o carinho que recebeu amenizou a falta que sentia deles.
Segunda-feira seria seu primeiro dia na Excellence Academy. A Diretora Circe Helios tinha pedido para que Morgaine a encontrasse antes da aulas começarem. Morgaine chegou cedo e ficou esperando na recepção da secretaria.
Circe chegou no horário combinado. “Bom dia, Srta. Magnolia. É um prazer conhecê-la pessoalmente. Espero que goste de estudar aqui conosco, se adapte rápido e consiga acompanhar o restante da classe.”
Morgaine sempre estudou em escolas públicas e sempre foi boa aluna. Não que fosse fácil e sim porque sempre se esforçou para ter as melhores notas, comportamento que aprendeu observando seu irmão mais velho Malcolm III. Ela acreditava que seria capaz de ter um bom desempenho na Excellence também, mas precisaria se esforçar muito mais.
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“Aqui está o seu mapa de salas e horários das aulas do semestre. Te entrego também as listas de leituras e o cronograma de tarefas a serem entregues de todas as matérias que irá cursar.” - comunicou a Diretora.
“Entendido! Obrigada." - respondeu Morgaine pensando em tudo o que teria que fazer assim que for pra casa. “Espero conseguir dar conta…” - pensou.
“Sempre designamos um tutor a todos os alunos que ingressam no meio do ano letivo como você. O seu tutor ainda não foi escolhido, a Srta. Stormi Henry te avisará. Alguma dúvida?”
“Por enquanto não, Sra. Diretora.”
“Ok, então. Estou a disposição para qualquer coisa. Não hesite em me procurar.”
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Stormi entrou na recepção assim que a Diretora terminou de falar. “Bom dia! Desculpe o atraso!” - disse ao se aproximar das duas.
“Tudo bem, srta. Henry, chegou na hora certa. Já terminamos aqui. não é?” E Morgaine balançou a cabeça positivamente.
“Srta Henry, por favor a acompanhe até a sala de aula e mostre onde está tudo.”
“Sim, senhora.” - concordou Stormi e saíram da sala.
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Morgaine e Stormi caminharam pela escola em direção à sala de aula. Com a ajuda do mapa, Stormi dizia onde ficavam todas as salas e laboratórios. Stormi deixou Morgaine na sala dela e foi para a dela. Elas não tinham a mesma aula agora de manhã.
Na hora do almoço, Morgaine e as meninas se reuniram no refeitório. Ela reparou que não tinha muitos alunos lá e achou estranho. “A maioria dos alunos vem de carro e vão pra casa ou pra outro lugar almoçar.” - explicou Stormi.
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Gabi, Samara e Yash conversavam sobre o trabalho de fotografia que teriam que entregar.
Carmen e Stormi tiravam selfies para postar no perfil das líderes de torcida.
“… e é assim que se calcula o 'y' nessa equação…” - explicava Camila para Morgaine.
“Afe, não tem jeito… não consigo entender essas coisas…” - bufou Morgaine. E foi quando reparou nos alunos que estavam na mesa do outro lado do refeitório. “Quem são aqueles três que estão naquela última mesa? - perguntou, intrigada.
“Por que pergunta? Está interessada, né?” - Camila indagou com curiosidade.
“O que está sentado de frente pra mim não para de olhar pra cá… e parece que é pra mim que ele tá olhando…” - disse tentando não soar muito convencida.
"É o meu primo, Hisagi... e ele é um gatinho mesmo! E eu nunca o vi se interessar por ninguém. Às vezes me pergunto se ele é..." - diz Stormi.
Morgaine, Camilla e Carmen começam a rir do que Stormi disse.
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Do outro lado do salão, Hisagi Markhel, True Henry e Cid Al Habib conversavam. Na verdade, só True e Cid falavam. Hisagi, como era de costume, estava sempre calado ou respondia com "hum" só pra fazer de conta que estava interagindo.
True começou a notar que Hisagi olhava fixamente pra uma única direção, como se estivesse hipnotizado. Curiosa, ela se virou para saber o que chamava a atenção dele… “Ei, Hisagi! Por acaso você tá olhando pra ‘branquela’?”
Como se saísse de um transe, Hisagi virou a cabeça na direção de True, assustado. “Eu não! De o-onde… v-ocê tirou essa… i-ideia?” disse gaguejando. Ele sentia que seu rosto estava quente.
"Ei, Hisagi. Não adianta tentar disfarçar... eu também percebi. As meninas sempre sentam na mesma mesa todos os dias e você nunca olhou pra lá..." - reforçou Cid, deixando Hisagi ainda mais envergonhado.
"Por favor né, Hisagi! Você tá interessado justo numa BRANCA? Nem parece que somos da mesma família... já sabe o que a vó e o vô vão dizer se souberem disso..." - disse True, relembrando o primo.
"Mas que coisa! Vocês dois estão doidos! Não tô interessado em ninguém não! E mudem de assunto que esse já deu!" - disse ele com muita raiva.
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Alguns minutos depois, Morgaine recolheu seu material de cima da mesa e se levantou. "Vou passar na biblioteca antes da aula. Vejo vocês mais tarde!"
Ela passou pela mesa deles de cabeça baixa, mas arriscou uma olhadinha de canto de olho pra saber se ele iria olhar. E sim, ele estava olhando...
Hisagi, sem perceber, a acompanhava com os olhos, novamente hipnotizado.
True fechou a cara ao perceber isso, mas não disse mais nada.
Cid só resmungou: "Esse teimoso acha que engana... aí ó, tá caidinho já..." e deu um suspiro.
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Assim que Morgaine saiu do refeitório, Stormi foi até a mesa onde estava seus primos. Cid se levantou logo que ela chegou e a abraçou.
"Sentiu minha falta, jaanu?" - Stormi disse o cumprimentando com um selinho.
"Ah, você aprendeu!" - Cid disse, impressionado. "Você só aprende o que te convém né, mocinha..." - completou. Cid sempre a ajudava a estudar mas ela nunca prestava muita atenção...
Hisagi e True também se levantaram pois já estava quase na hora das aulas da tarde começarem.
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"Quem é a aluna nova?" - perguntou Hisagi a Stormi, sem rodeios e logo se arrependeu...
Stormi se virou para o primo e zombou dele. "Ué? Que curiosidade repentina é essa? Você nunca quis saber de nenhuma das minhas amigas antes... Tá interessado é, priminho? Ah, e antes que eu me esqueça, você foi escolhido para ser o tutor dela."
"Foi o que eu disse a ele, mas é teimoso..." - disse Cid, ajudando a namorada a zoar o amigo.
"Eu não tô acreditando nisso... logo o Hisagi, interessado numa branquela... a tia Braya vai ficar tão contente com isso..." - True parecia inconformada.
"Mas que droga! Não se pode nem se fazer uma pergunta inocente? Eu já disse, não tô interessado! E eu não quero ser o tutor dela! Vou já falar com a Sra. Helios!" - esbravejou Hisagi e saiu do refeitório pisando duro dando as costas para eles.
"Credo! Nunca vi ele assim! Deve ser paixão e daquelas avassaladoras! E eu duvido que ele consiga convencer a Circe..." - disse Stormi rindo muito.
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ReShade preset Dove 2.0 @kindlespice
Poses @quiddity-jones, @sim-plyreality, @temporaryphenomenons, @ratboysims, @sciophobis, @nell-le
Cid Al Habib by @familiakhan True and Stormi Henry / Hisagi Markhel by @baddielels
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booksdasah · 2 years
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The Love Hypothesis - Ali Hazelwood
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Olá pessoal🙋🏻‍♀️, boa quarta feira e pra mais uma resenha
Muito já foi dito sobre este livro, então direi apenas para você lê-lo porque vale a pena!!!
Olive é uma heroína desajeitada que não tem autoconfiança. Ela é simples, adorável, inteligente e humilde em todos os sentidos. Uma aspirante a cientista profissional que persevera para realizar seus sonhos. Eu a adoro muito e o desenvolvimento de seu personagem é incrível. Estou feliz por ela estar cercada de boas pessoas como Anh e Malcolm.
Este homem, chamado Adam Carlsen, é muito elogiado. No começo eu pensei que ele seria como qualquer outro cara inteligentes e misteriosos…. No entanto, eu estava enganado. Ele é tão doce!!!! Eu amo sua personalidade, a maneira como ele se comporta. Ele é o personagem mais saudável que eu já li. Ele não é o típico bad boy, o que eu gostei mais do que deveria. Ele é incrível, doce, engraçado, forte ... Deus, eu poderia falar sem parar sobre este HOMEM.
O ambiente acadêmico era tão interessante! Quase me fez querer estudar ciências. Então me lembrei que sou péssimo em todas as matérias relevantes para a ciência entããão não vai acontecer. 😅
Para mim, este livro absolutamente valeu a pena e é definitivamente um novo romance favorito meu! 💓 então faça um favor a si mesmo e leia !!
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jcmorrigan · 3 years
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How 'bout Rumplestiltskin?
Ooooh, this is a thinky one! Many of these will be off the cuff, so let's begin with our five headcanons...
1. Well, okay, let's go with the classic. I don't like that the Black Fairy is his mother in "canon." I much prefer it if he's the spawn of Malcolm and Mad Madam Mim - you decide if I mean the OG or an OUaT-ified version.
2. He sometimes uses his gift of foresight to play little games with his surroundings. For instance, if he can see that two people are destined to become a couple, he'll loudly drop hints, subtly play matchmaker. If he can see how someone is to die, he'll drop fucking puns about it. For example, if someone dies at sea, then years before it even happens he'll be like "Congratulations, dearie! I imagine you're drowning in joy!"
3. Actually, the foresight is probably how he can own so hard in melee duels. He can sense where your sword is about to go shortly before it goes there.
4. Designed his Dark One suit himself! It's as glamorous as it is because he demanded ALL THE COLORS you can get in leather.
5. The Wraith Medallion is one of his favorite treasures because he's used it on all of his worst enemies. It has a limited use - say, once every few years, and then the Wraith must sleep - so he tries not to overuse it, which is why he uses so many different forms of magic when punishing those he dislikes. But whenever the limit comes around, there's always SOMEONE he needs gone just enough to send the Wraith after them. The people who cut him to the very core. And let me tell you...had he any idea whatsoever that Hook was still alive after all those years, the Wraith would've been branded to him.
5a. Actually, considering all I've written here...Rumple's foresight should've told him that Hook was still alive, even in a vague, piecemeal manner. But you know why he probably didn't know? Because Pan either deliberately blocked it from him, or has Neverland shrouded in a fog that defies seers.
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tanokindlecast · 3 years
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Uma Vida Pequena -  Hanya Yanagihara.
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É importante ressaltar que essa não é uma leitura a ser recomendada sem o repasse de seus gatilhos (pois são explícitos): estupro, pedofilia, prostituição, relacionamento abusivo, distúrbio alimentar, mutilação, agressão física, sequestro, suicídio, abuso sexual, físico e psicológico.
Qual livro vocês amam de paixão (e possivelmente é um favorito), mas que falar dele é uma tarefa difícil? Pra mim, sem dúvidas é 'Uma Vida Pequena'. Essa foi a minha leitura favorita de 2020, li em meados de Julho, e até hoje eu ainda penso sobre a trama. Nessa história, a autora nos conta a vida de quatro amigos pós faculdade. Conhecemos Malcolm, JB, Willem e Jude. O inicio do livro o narrador foca nos três primeiros personagens, temos vislumbre de sua criação, seus medos e suas projeções para um futuro. Embora esse início pareça um pouco arrastado, é importante sabermos um pouco sobre cada um dos três, para então vermos como o mecanismo da amizade e lealdade funcionará, como o nosso de fato, protagonista principal.
É claro, Jude, com seus pais completamente inexistentes (o que era um mistério – conheciam Jude havia quase uma década e ainda não sabiam ao certo quando ou se chegara a ter pais, somente que seu passado era triste e não devia ser comentado).
Jude St. Francis mantem a vibe de mistério não só para o leitor, mas para seus amigos. A narrativa ao redor dele, é a mais pesada e agoniante que já li até agora. O livro passa de uma história sobre 4 amigos tentando vencer na vida para 'a história mais triste do mundo'. Jude St. Francis para a ser o centro gravitacional.  Uma das coisas que mais me tocou, foi a maneira com que Hanya colocou o Jude sendo a pessoa que, vendo de fora "alcançou tudo na vida" que uma pessoa pode querer, mas internamente esse personagem carrega uma quantidade enorme de traumas e feridas, que chega a ser sufocante pra quem tá lendo. Começando literalmente com abandono parental, passando por uma infancia cheia de abusos físicos, psicológicos e sexuais da maneira mais pesada possível. Ela mostra toda uma cadeia de falhas que se perpetuou na vida dele enquanto criança/adolescente e o reflexo disso em um adulto. Um adulto completamente inseguro de si, complexo de inferioridade em uma extensão agonizando ao ponto de aceitar relacionamento abusivo, por acreditar que é isso que ele merece. E por mais que pense ‘ah, é apenas um personagem’, você se da conta do quão real e próxima é da realidade.
Sempre que Harold lhe fazia perguntas pessoais, Jude sentia algo se mover pelo seu corpo, como se estivesse congelando por dentro e seus órgãos e nervos fossem protegidos por uma camada de gelo. Naquele momento, porém, achou que pudesse quebrar, que se dissesse qualquer coisa o gelo racharia e ele se despedaçaria.
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Embora ao longo do livro conhecemos as várias partes soltas de Jude, e em sua maioria elas são feridas incuráveis, ainda há partes bonitas na história, mesmo que minúsculas. Na fase adulta, Jude tem um emaranhado de bons amigos. Os mais leais possíveis. Presenciar esses momentos em que não apenas eles demonstram esse afeto ao Jude, mas ele retribuindo a confiança apesar de tudo que passou, é lindo. Nos faz chegar ao famoso ‘ele tem tudo e ainda assim reclama’, o que acredito eu ter sido um feito intencional da escritora.
Amizade, companheirismo: essas eram coisas que tantas vezes desafiavam a lógica, que tantas vezes passavam longe de quem as merecia, e que tantas vezes agraciavam os esquisitos, os maus, os excêntricos, os perturbados.
Essa não é uma leitura que eu recomendo a todos. É algo pesado de se ler, os gatilhos são explícitos demais. Porém, ainda é uma leitura que faz você refletir sobre os vários Judes presentes, muitas vezes em anônimo, ao longo da nossa jornada.
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pretanerd · 3 years
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E  foi meio assim que eu cresci escrevendo e lendo grandes autores e grandes autoras, sem perceber que tirando os poucos personagens  tudo era tão claro, tão distante de quem eu era. Até que na Universidade eu me deparei por acaso com a Maya Angelou e tudo mudou, eu me vi e me senti em cada palavra, já não mergulhava mais em outros mundos, mas em mim, eu mergulhava na nossa existência. Literalmente, meu mundo literário naquele momento, ganhou cor.
Da Angelou, foi um pulo para Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Audre Lorde, bell hooks, Angela Davis, Toni Morrison, Alice Walker, Lima Barreto, Malcolm X, Ryane Leão, Cidinha da Silva e diversos escritores e escritoras pretas. Ler e estudar intelectualidades negras  foi mais do importante por questões de representatividade, cada leitura foi um  momento de cura.
Ler mulheres e homens negros preencheu meus vazios e me confirmou que a escrever também é “coisa de preto”. Conhecer esse literatura que é marginal nas escolas e na academia relevou uma riqueza ancestral apagada pelo epistemicídio.
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tfatwsbr · 3 years
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ENTREVISTA | Anthony Mackie e Sebastian Stan para a SFX Magazine
ANTHONY MACKIE
SFX: Você admitiu que no começo não tinha certeza sobre a ideia de fazer uma série do MCU. Por quê?
ANTHONY: "Para ser honesto, eu estava receoso no começo. Eu realmente estava com medo da ideia. Depois de trabalhar em tantos projetos da Marvel, vendo o resultado final e o efeito que eles têm nas pessoas, eu estava com medo que a qualidade da produção fosse menor para a televisão. Eu estava com medo que as coisas feitas no cinema não pudessem ser feitas na TV.
Vendo as reações das pessoas a "Guerra Infinita" e "Ultimato" nos cinemas e ouvindo a conexão que a audiência tem com esses personagens, é o sonho de todo ator, afetar uma audiência e os expor a uma maneira diferente de olhar para a cultura e o mundo em torno de nós. Eu estava com medo de não ter a oportunidade de estar nessa parte como outros atores antes de mim puderam estar.
Mas depois de conversarmos, e depois de trazermos Malcolm e Kari, eu soube que seria algo diferente. Kari é uma líder fenomenal e Malcolm é um escritor maravilhoso. E Kevin [Feige] me prometeu que não seria diferente. Ele não vai estragar a marca da Marvel tentando lançar quanto mais conteúdo ele puder. E eu confiei nele. Eles ainda não me decepcionaram, então só segui com a fé no seu trabalho anterior. E eu fiquei surpreso com como tudo acabou se saindo."
SFX: Steve era uma parte integral da vida de Sam e Bucky. Como a série explora a ausência dele?
ANTHONY: Com Sam e Bucky, a ideia de perder Steve paira de um jeito pesado no dia-a-dia. O Capitão América — não só o nome, mas a pessoa — era uma grande influência para os dois. A ideia do nome não é tão importante quanto a pessoa que eles perderam. Todo o seu objetivo e todo o seu foco é honrar Steve, porque ele os deixou com uma grande tarefa para continuar onde ele parou. Só o peso do escudo, sem o Steve, nos leva a acreditar que não possa existir outro Capitão América. Nunca vai existir outro Steve Rogers, então para Sam e Bucky, a ideia do nome do Capitão é mais um fardo do que uma benção. Eles tentam e permitem que isso seja uma influência no legado deixado e tentam deixar ele vivo e o auxiliar — enquanto também sentem falta dele e estão muito tristes por não ter mais ele por perto.
SFX: Nós vamos ver mais da vida normal do Sam?
ANTHONY: Nós vamos ver mais deles em seus arredores; a vida pessoal deles, com pessoas que influenciam seu dia-a-dia: família, amigos, colegas de trabalho. Você teve um pouco disso com Sam, quando Steve foi à terapia em grupo e eles se conheceram. Mas agora você consegue ver voltas e mais voltas e onde ele está em relação à sua rotina "das nove às cinco", ao contrário de estar parado esperando o Cap ligar. Isso foi uma das maiores ideias que Nate e Kevin me deram, que realmente me deixou intrigado e animado em relação à essa história.
SFX: Explorar a grande decisão do Sam em relação a tomar o escudo do Cap engloba muitos problemas do mundo real, como raça. Malcolm foi um parceiro sólido em relação a isso?
ANTHONY: Você sabe, não foi só Malcolm e eu. O interessante foi que Kari e Zoie tinham uma ideia definida de quem esse homem era e o que significaria para a sociedade à qual ele estava sendo apresentado. É engraçado, com a Kari sendo uma canadense branca e Zoie sendo uma americana branca, que elas tinham tantas opiniões fortes e maneiras interessantes de ver esse personagem, que eram mais agressivas do que qualquer coisa que eu poderia ter imaginado. A perspectiva e bravura, de duas mulheres no comando, para mostrar a situação que esse personagem está sendo jogado no mundo que ele vivia, é bastante humilde. Eu sempre senti apoio. Sempre senti que existiam pessoas ao meu redor que estavam prestando atenção no que nós, como uma série, estávamos dizendo.
SEBASTIAN STAN
SFX: Depois de Ultimato, como você se sente em relação a continuar no MCU?
SEBASTIAN: No fim de Endgame, foi meio estranho e emocional. Naquela época, era o aniversário de 10 anos, então tudo parecia ser um fim, por mais que nós soubéssemos que provavelmente teríamos mais coisas.
SFX: Quem na Marvel Studios inicialmente te trouxe a proposta da série?
SEBASTIAN: Inicialmente, eu sentei com Kevin [Feige]. E depois com Nate Moore, com quem eu tinha feito “Guerra Civil” e “O Soldado Invernal” e tive uma experiência inacreditável. Acho que eu estava um pouco nervoso, porque parte de mim estava tipo “Eu nem sei o que mais pode ser explorado com esse personagem”. Mas, na verdade, nós descobrimos muito mais. E eu acho que, agora, ele está vindo de uma forma tão diferente, mais profunda e mais complexa do que nós o vimos antes. Eu pensei que havia explorado Bucky o suficiente, mas na verdade nós estávamos apenas vendo a superfície. O que nós conseguimos fazer com ele na série é simplesmente um nível emocional mais profundo, e nós não tínhamos conseguido fazer isso antes.
SFX: O que foi mais interessante para você sobre fazer a série?
SEBASTIAN: A ideia de explorar o personagem agora, separadamente do Steve Rogers e daquele enredo, colocá-lo no mundo e dar a oportunidade para ele verdadeiramente encarar o que ele é — tudo sobre isso foi animador. E a ideia de trabalhar com o Anthony foi animadora, porque eu sei que nós temos algo especial e que nunca tivemos a chance de explorar isso. 
SFX: Quem são Sam e Bucky para um para o outro, na série?
SEBASTIAN: Os dois se desprezam igualmente! [Ri] Quer dizer, tem alguma verdade nisso. Mas também é a descoberta de que os dois têm muito mais em comum do que pensavam. Eles vêm de origens diferentes, mas, essencialmente, eles são duas pessoas que estão tentando encontrar sua nova identidade, e isso não tem nada a ver com o Steve Rogers. Steve é mais como um catalisador, um evento que detona a bomba que faz com que os dois fiquem, “Ok, isso aconteceu. Agora me deixe lidar com essas coisas”. Eu acho que é sobre eles descobrindo que precisam de um ao outro muito mais do que esperavam.
SFX: Sem o Steve para se apoiar, no que o Bucky acaba focando? 
SEBASTIAN: É um pouco de reeducação que acontece ao mesmo tempo. Ele está aprendendo muito sobre o Sam e também sobre o mundo, porque ele é muito diferente do mundo de quando ele era “James Bucky Barnes” nos anos 40. Ele sempre teve que lidar com a sombra que o segue. Agora é mais uma questão de “como ele pega o que aprendeu e aplica para si mesmo, daqui pra frente?” Como você sai em 2023 e se comporta, sabendo o que ele sabe e pelo o que ele passou? E também, como você faz isso sem a pessoa que era um irmão ao seu lado, que era um sinônimo de força, ou familiaridade? Você tira até mesmo a última zona de conforto — o que ele acaba tendo? Para ele, a série é sobre isso.
SFX: Por que você sente que o Bucky conseguiu ter a simpatia dos fãs durante o seu arco sombrio?
SEBASTIAN: Ele foi muito mais acessível do que outros personagens, talvez devido à parte do arco em que ele tenta lidar com o passado, ou se recuperando do trauma, ou PSPT. E o nível em que ele se reencontra, se redefine; a moral, os valores, quem você é, no que você acredita e os desafios pelos quais você passa — em termos de aceitar o mundo de certa forma — entender que talvez a maneira pela qual você cresceu e aprendeu não vai sempre te ajudar no seu caminho. Você vai ter que ir contra coisas pelas quais você estava acostumado. Essas são coisas sobre esse personagem que são bastante interessantes.
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abaleiatriz · 4 years
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uma vida pequena - hanya yanagihara
(essa resenha contêm gatilhos. o conteúdo do livro e da resenha é sensível. se você se considera sensível à temas como estupro, automutilação, suicídio, tentativas de suicídio, prostituição de menor forçado, prostituição, agressão física, agressão verbal, estupro de deficiente físico, agressão a deficiente físico, não leia esta resenha e não leia este livro. o leitor está devidamente avisado)
“– Jude– falei–, por que faz isso a si mesmo?
Ele ficou quieto por um longo período, e eu também. Fiquei ouvindo o mar. Até que, finalmente, disse:
– Tenho alguns motivos.
– Como o quê?
– Às vezes é porque me sinto tão mal, ou com tanta vergonha, e preciso tornar físico o que estou sentindo – começou, dando uma olhada para mim antes de baixar o olhar novamente. – E às vezes é porque sinto um monte de coisas e preciso não sentir nada. Isso ajuda a fazer tudo ir embora. E às vezes é porque estou feliz e tenho de lembrar a mim mesmo que não deveria me sentir assim.”
dolorosa. essa é a palavra que define a leitura de “uma vida pequena”, de hanya yanagihara. quando iniciei a leitura, procurava por um livro pra chorar, porque estava precisando e porque gosto de ler dramas. acontece que, quando comecei ele (24/05), não imaginava que ele acabaria tanto comigo. hoje, quando terminei a leitura (26/06), vejo que esse livro me acompanhou por uma série de descobertas, tristezas e crises na minha vida pessoal (o que me fez ficar quase duas semanas inteiras sem tocar no livro, e pensei seriamente em abandoná-lo, porque a dor era tamanha que eu sabia que estava muito mais sensível na leitura) e que, apesar de ter me ensinado muito, também me doeu muito.
o modo como me apeguei aos personagens e como foi difícil acompanhá-los crescendo, se encontrando, se machucando, sofrendo, é impossível descrever. há tempos que não me apego tanto a uma jornada e a um livro assim, e quando menos esperava, eu ansiava por mais detalhes, por mais páginas, por mais medos, por mais conflitos, rogando para que tudo ficasse bem e eles ficassem juntos. 
o modo como hanya descreve altos e baixos de um círculo de amigos (jude, willem, jb e malcolm, sendo jude o centro da história) é cativante e angustiante ao mesmo tempo. o livro gira em torno deles, e como a amizade acontece ou deixa de acontecer. as intrigas, o afeto, a inveja, a determinação, a carência, são inúmeras propostas e sentimentos expostos, e a dependência entre eles é estabelecida a partir da evolução dessas situações. hanya se empenha em expor como são amigos, e como se conhecem, mas não sabem nada sobre o passado de jude, que insiste em escondê-lo, e para eles, “tudo bem”, é assim que é jude.
porém, camada após camadas, encontramos um jude interior sofrido e depressivo, severamente ferido pelas atrocidades da vida que parecem tê-lo escolhido para passar uma a uma, de diversas formas agressivas e permanentes. acompanhamos jude e sua dor, tanto física devido à suas pernas (ou devo dizer, à suas costas), quanto psicológica, que parece englobar tantas dores que seria incapaz de sobreviver com todas elas na mente.
mas seguimos, apesar de tudo, e página após página, encontrando um jude tentando apagar seu passado e se reinventar como pode. acompanhamos sua luta, mas que não parece ser pela vida - essa ele despreza, abomina, não só a si próprio, como sua própria existência e espaço que ocupa -, mas pela normalidade e por uma paz que ele jamais se vê obtendo. nos sopra aos ouvidos tortuosamente gatilhos que, para ele, são melodiosos, e para nós, que nos apegamos e queremos ver jude bem, são como socos. apanhei tanto lendo seu ponto de vista, o ponto de vista de seus amigos, de sua família, que a marca parece que irá me acompanhar ainda por muitos anos.
“– Mas, Jude – disse, baixinho–, você está com dor. Temos de buscar ajuda.
– Nada vai ajudar– disse ele, ficando em silêncio por uns momentos.– Só preciso esperar.”
e esperamos. sempre esperamos por uma reviravolta, por uma melhora, por algo que fale pra jude que ele merece tentar, que a corda está ali, estendida pra ele, e basta ele subir por ela que as coisas vão melhorar. mas não temos nunca uma cena dele subindo por ela. hanya deixa bem claro conforma a história passa: não encontraremos uma superação. um personagem que encontra alguma luz, deus, o universo, algo que o faça pensar que pode ser feliz e que merece buscar a felicidade. na verdade, encontramos o contrário: acompanhamos a miséria, não financeira, mas espiritual. psicológica. a infelicidade expressa da forma mais crua e exposta em seu rosto: sou infeliz, e me vejo assim pro resto da minha vida, e mereço essa infelicidade.
me vi ali como jude em diversos pontos da história, principalmente com a crise de depressão e ansiedade que vivencio hoje. olho pra jude e, apesar de passados completamente diferentes, me vejo escrevendo e me expressando como ele em diversas situações, e isso me dói, porque é algo que não desejo para ninguém. é estranho falar isso, por ser um personagem fictício, mas sei que não sou só eu e jude que nos sentimos assim, a maior parte do tempo. como se a infelicidade já fosse tão parte de nós, que tudo o que fazemos é errado, e precisamos pedir desculpas constantemente e de tantas formas que a decepção parece nosso único talento. que, sem a dor, somos nada.
“Será que gostariam menos dele? Mais? Ou será que descobriria– como sempre temera– que o que enxergava como amizade na verdade era algo motivado pela pena que sentiam? Quanto do que ele era seria inextricável do que era incapaz de fazer? Quem ele teria sido, e quem viria a ser, sem as cicatrizes, os cortes, os machucados, as chagas, as fraturas, as infecções, as talas e os vazamentos?”
tive meu coração e alma despedaçados em diversas formas ao longo das curvas que a história fazia. sofria por jude, sofria pelos seus amigos que não sabiam o que fazer para ajudar, ou como acessar camadas que são apresentadas ao leitor, mas não aos mais próximos de jude. sofria por suas vivências, por sua falta de visão para o futuro, pela ocupação do seu tempo com algo para apenas impedi-lo de cortar-se cada vez mais e mais, até não haver mais pele em seus braços para marcar. me trouxe lembranças dolorosas, mas tive que as engolir se quisesse saber o final, este que estava ali apenas esperando para acabar com o leitor.
não há piedade e não há motivo para isso: hanya expõe com uma escrita sensível e incrivelmente bela e tocante de se ler os traumas de jude e daqueles que o acompanham. como o tempo parece passar, mas nunca levar para longe tudo aquilo que assola a mente de jude das mais infames maneiras. é triste de uma forma que nunca li algo assim. triste da pior maneira, aquela que dói na alma e você não sabe o que fazer. é um livro abusadamente triste, infinitamente doloroso.
“Sentia- se cansado, sentia- se tão cansado. Manter as feras afastadas exigia energia demais. Às vezes imaginava como seria se entregar a elas, que o cobririam com suas patas e bicos e garras, e o bicariam e mordiscariam e puxariam até reduzi- lo a nada, e ele não reagiria. (...)
Já havia pensado em se matar antes, é claro; quando estava no orfanato, e na Filadélfia, e depois da morte de Ana. Mas algo sempre o impedira, por mais que agora não lembrasse o quê. Agora, enquanto fugia das hienas, argumentava consigo mesmo: Por que fazia aquilo? Estava exausto; queria tanto parar. Saber que não precisaria ir em frente era um consolo para ele, de certa forma; lembrava- o de que tinha opções, lembrava- o de que, mesmo que seu subconsciente não obedecesse a seu consciente, aquilo não queria dizer que houvesse perdido o controle. (...)
Pensava naquilo todo dia, e pensar deixava as coisas mais claras. Pensar lhe dava fortaleza. (...)
E então, a certa altura, aquilo deixou de ser um experimento. Não conseguia lembrar como chegara à decisão, mas, uma vez tomada, sentiu- se mais leve, mais livre, menos atormentado. As hienas ainda o perseguiam, mas agora podia enxergar, lá longe, a distância, uma casa com a porta aberta, e sabia que, ao chegar àquela casa, estaria a salvo e tudo que o perseguia ficaria para trás. As hienas não gostavam daquilo, é claro– também podiam enxergar a porta, sabiam que ele estava prestes a escapar–, e a cada dia a caçada se tornava pior, o exército de coisas que o perseguiam ficava mais forte, mais barulhento e mais insistente. Seu cérebro vomitava lembranças e elas inundavam todo o resto– pensava em pessoas, sensações e incidentes sobre os quais não pensava havia anos.”
apesar de tudo, hanya também nos mostra como a amizade é importante para o desenvolvimento da nossa vida, além de como a falta dela nos manipula das piores formas. não somente amizade entre colegas, mas entre família, e como um pode ser intrínseco ao outro. como os quatro não conseguiriam nem se quisessem se distanciar a ponto de jamais se verem novamente: estavam escrevendo uma história juntos, acompanhando um ao outro em caminhos impiedosos e desafiadores, compartilhando as lembranças mais belas e preciosas, como as lembranças mais assustadoramente tristes e que abriam feridas incuráveis.
acima de tudo, é um livro lindo. não romantizando toda a dor, porque é impossível, mas é um livro muito bem escrito e muito bem organizado e desenvolvido. é linda a forma como o verdadeiro significado da amizade é discutido, como a influência de uma família é estudada, como a busca pelo ser quem é pode se mostrar desajeitada e por vezes inconclusiva. é lindo, apesar de doloroso, é muito importante e enfaticamente bonito.
é um livro que até mesmo uma adaptação ao cinema me amedronta, por ser tão sensivel e difícil de interpretar. é uma história que não dá para acompanhar em uma única lida rápida, porque demanda tempo, paciência e sobretudo estômago para aguentar tamanho sofrimento. apesar de ter sido facilmente colocado na minha lista de livros favoritados, não sei quando terei espírito e forças para reler, se é que relerei algum dia, ou assistirei a adaptação se esta existir. ele fez uma marca muito grande em mim, e talvez por eu estar tão sensível, fez uma passagem ainda maior na minha vida, e vivenciar tudo isso novamente talvez não seja pra mim.
vim atrás dessa obra buscando apenas exaurir algumas lágrimas. me perdi depois que a li, tanto que chorei, que sofri, que alimentei expectativas por uma melhora do personagem. apesar de lindo, reforço, é uma leitura difícil de se recuperar depois, muito difícil. mas era exatamente o que eu procurava. agora me pergunto se “existe uma vida após ‘uma vida pequena’”, como muitas resenhas enunciam. não sei, e talvez jamais saiba.
“Se quiséssemos filosofar, que é o que estamos fazendo hoje, poderíamos dizer que a própria vida é o axioma do conjunto vazio. Começa em zero e termina em zero. Sabemos que ambos os estados existem, mas não temos consciência de nenhuma das duas experiências: esses estados são partes necessárias da vida, ainda que não possam ser vividos. Podemos pressupor o conceito do nada, mas não o provar. Mas ele tem de existir.“
compartilho o diálogo que mais ficou na minha cabeça, de willem e jude, em uma das crises febris e de alucinações de jude, para exemplificar não só a dor, mas a amizade presentes no livro:
“ – Onde estou? – pergunta, desesperado. E depois: – Quem sou eu? Quem sou eu?
E então ele ouve, tão próximo ao ouvido que parece que a voz tem origem dentro de sua própria cabeça, o feitiço sussurrado de Willem.
– Você é Jude St. Francis. Você é meu amigo mais antigo e amado. É filho de Harold Stein e Julia Altman. É amigo de Malcolm Irvine, de Jean-Baptiste Marion, de Richard Goldfarb, de Andy Contractor, de Lucien Voigt, de Citizen van Straaten, de Rhodes Arrowsmith, de Elijah Kozma, de Phaedra de los Santos, dos Henry Youngs.
‘Você é nova-iorquino. Mora no SoHo. É voluntário numa ONG de artes; é voluntário numa cozinha solidária. É um nadador. Um confeiteiro. Um cozinheiro. Um leitor. Tem uma bela voz, embora não cante ultimamente. É um excelente pianista. É um colecionador de arte. Escreve lindas mensagens para mim quando viajo. É paciente. É generoso. É o melhor ouvinte que conheço. É a pessoa mais inteligente que conheço, sob todos os aspectos. É a pessoa mais corajosa que conheço, sob todos os aspectos.’ 
‘É advogado. É o chefe do departamento de litígios da Rosen Pritchard & Klein. Ama seu trabalho; se dedica bastante a ele. É um matemático. É um lógico. Tentou me ensinar, vez após vez. Foi tratado de uma maneira horrível. Mas conseguiu dar a volta por cima. Sempre foi você mesmo.’
Willem fala e fala, enfeitiçando-o de modo a trazê-lo de volta para si, e, durante o dia – às vezes, dias depois –, ele lembra trechos do que Willem falou e os guarda no coração, tanto pelo que ele disse quanto pelo que não disse, pelo jeito como não o definiu. Mas, à noite, fica aterrorizado demais e perdido demais para reconhecer isso. Seu pânico é real demais, desgastante demais.
– E quem é você? – pergunta, olhando para o homem que o abraça, que está descrevendo alguém que ele não reconhece, alguém que parece ter tanto, alguém que parece ser uma pessoa tão invejável e amada. – Quem é você?
O homem também tem uma resposta para essa pergunta.
– Sou Willem Ragnarsson – diz ele. – E nunca vou desistir de você.”
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