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agradece

que as dores continuem ressignificando minha paz.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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ser o que se é

se não voo com as minhas asas, não existe em mim sensação de casa.

se não nado contra a correnteza, não construo nem fortifico minha própria fortaleza.

se abstenho das minhas pequenas particularidades, logo não me tenho, logo me omito, logo sou inverdade.

letícia quirino - [a.e.c.e.]

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olhando pro espelho

nessa incessante e cansativa busca pelo meu eu;

nesse instante que me cativa a reconhecer-me entre os meus;

nesse trajeto tão incerto e curioso que tem minha aparência;

me encontro e desencontro, me vejo cedendo e negando, correndo e ofegando, contradizendo e afirmando minha atribulada essência.

letícia quirino - [a.e.c.e.]

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reality show

por que agem como agem essas pessoas que vêm e vão? como não reagem e superficialmente interagem com esse teatro da obrigação?

são códigos sociais a seguir; comportamentos irracionais a digerir; dogmas banais a aplaudir. por que agem como agem essas pessoas que vêm e vão?

por que ajo como ajo se me vejo marionete, se escuto a claquete, se percebo a contradição?

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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identidade

ainda não sei quem eu sou. me autodenomino poeta mas talvez não passe de uma versão beta, então não estabeleço meta pra atingir minha descoberta.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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fake

no meu baile de máscaras eu queria poder escolher uma melhor.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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só a dois

eu só não me sinto só quando tamo a sós.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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intimidade

é estranho aqui. se tornou, aliás. esse espaço em branco, essa linha vazia. nossa intimidade ficou pra trás.

me intimida, na verdade. hoje me causa um quase-receio. sinto que o tempo passou, sentei tantas vezes nesse mesmo lugar, e a inspiração não veio.

é trágica a morte de poeta. mas um dia a gente renasce, se meus deuses quiserem.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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mudança de planos

lembrar sempre de quem sou de onde vim de quem me formou.

me esforço pra manter esse foco todo santo dia. resistindo à gravidade aos sintomas de ansiedade sobrevivo e floresço em cada agonia.

e se, de novo, o chão acenar pra mim logo penso quem eu sou de onde vim quem me formou.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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refração

te vejo escorrendo e minha mão nem sempre te segura. te vejo se escondendo e sei que não posso sair à procura. por vezes te vejo adoecendo e me dói saber que não tenho a cura.

mas eu te vejo, e sempre te vejo, da forma mais pura.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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eles não sabem

só eu sei como respiro à noite pelas ruas quando passo rápido feito tiro e transpiro as mãos. duvidando de cada sombra questionando cada rosto em cada cara que me tromba eu encaro um monstro. - e não adianta. não é medo, é pavor. tremo de temor porque nesse filme de terror a protagonista é aquela mesma velha injusta hereditária dor.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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muito sã e salva pro meu gosto

só na sombra que assombra quem sofre com a sanidade.

- letícia quirino

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faro

pisou em falso: achou que nóis era da casa mas tamo mais pro asfalto descendo do salto, tomando de assalto, dominando seu palco.

quiseram viver uma mentira então aguenta o fato: as ratoeiras já tavam aí. hoje nóis conhece os rato.

- letícia quirino

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orgulho

tem que ter peito pra impor respeito porque não tem outro jeito de faze-los aceitar.

e tem que ter paciência se cê pede sapiência porque desde a nascença nos impõem um só jeito de pensar.

mas reveja seu comentário se for duvidar de não binário porque ninguém é dicionário pra te alfabetizar.

tem que respeitar minha liberdade se eu pedir privacidade porque minha sexualidade não é estudo pra mesa de bar.

e é melhor ter noção, baixar o tom da voz e a mão porque da minha condição só eu posso falar.

e tem que zelar pela própria vida, limpar a própria ferida porque a normatividade tá diluída até no jeito de andar.

e é sempre cansativo porque nem cos "alternativo" existe um espaço inclusivo pra nóis desencanar.

que a luta de hoje mude o amanhã e torne a sociedade sã pra que quem se reconheça pan tenha orgulho em se afirmar.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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vício

cola aqui, cola em mim, me gasta. vem sentir meu sim. cê faz falta.

- letícia quirino [a.e.c.e.]

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infinito e além

uma eternidade é a medida de distância da saudade.

- letícia quirino

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em cima do muro

entre manter minha sanidade e me afogar num oceano de verdades, sigo em cima do muro. ao menos, daqui enxergo tudo. daqui te vejo, mundo.

- letícia quirino

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