Tumgik
amndstuff · 2 years
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carta-poesia n° 1
quando menos te esperei, chegou, como se fosse anjo, como se fosse inferno. e caí do céu ao avesso: me encontrava em um mundo descalço, derrubado, perdido. assim como perdida eu estava. e quando menos te sonhei, apareceste para destruir o pesadelo de uma existência repetitiva, fadada aos mesmos erros. e quando menos te implorei, mais tu quiseste ficar. disposto a sentir – junto à mim – aquilo que eu jamais poderia entender. e do fundo me ergui, cautelosa, por mim, mas por ti. e me curo das malícias e malezas do céu invertido em que vivi grande parte da minha vida: e procuro no teu inferno a salvação da minha alma. e eu a achei. e te achei, como promessa feita, como dívida paga.
31 de agosto de 2022.
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amndstuff · 2 years
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carta-poesia n° 0
ah se tu soubesse o quanto eu te amo, tu
renasceria
todos os dias as flores deste teu jardim.
um belo dia, então, entenderias que eu
reviveria todo os dias, apenas para te viver
foram tantas loucuras do coração
e desperdícios de um tempo que nunca voltarei a ver
longínqua sempre foste tal realidade
lancinante fora a dor, meu amor, para te encontrar em carne, em vida
imaginei-me vivendo o mal,
peripécias alcançáveis com fins improváveis, mas sem saber te
esperei.
gestos disfarçados em conversas tão sinceras
recebi teu calor no meio de um inverno infinito que
assemelhava-se a um inferno, nunca antes revelado
suas mãos tocaram meu corpo e, pela primeira vez -
irresistível -
acordei de um mundo de trevas que me sugava
nuvens negras que pairavam sobre mim, oh amor, meu amor,
incrível como só tu foste capaz de me iluminar de volta a mim.
8 de julho de 2022.
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amndstuff · 2 years
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poesia-carta nº 2
tu já se foste a muito tempo; perdi a conta, dos dias, dos meses, dos anos, que já não me lembro mais se te conheci ontem ou em outra vida. quando foste, levou mais de mim do que imaginei um dia ter ao menos tido. só que o hoje já faz tempo e o ontem; me parece como se tivesse sido ontem... e eu não consigo mais viver assim: quando foste, levou embora quando voltaste, pega de volta não posso mais viver assim. e o ontem não fará mais parte do meu dia. te quero, mas quero mais a mim; o eu- lírico há, mas e o eu-eu, onde se vai? - por favor, pare de me esconder e me deixe me achar. 23 de maio de 2022.
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amndstuff · 2 years
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poesia-carta nº 1
e eu busco te encontrar em todo rosto
em todo toque, sinto a necessidade de pensar e se fosse tu?
de novo longe, de novo distante, desejo nunca mais te ver
ainda assim, te vejo nos menores dos barulhos e nos mais ensurdecedores dos silêncios
e não tento te escutar onde tua voz não tem alcance
quando não te escuto dentro de mim, és porque te tenho aqui
por um acaso não sentes também a linha tênue, a linha tangenciada pela tesoura, o corte inevitável, a ruptura que grita, não os sentes?
é esta linha que me puxa, e me puxa, e me revira
é esta linha que me prende a uma imagem irreal
de tudo que tu poderia ser, poderia ter
de tudo que não és. e não seria.
22 de abril de 2022.
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amndstuff · 2 years
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alerta vermelho nº 2
e tu sabes quando sentes demais quando te pedem para sentir menos. mas depois de tantos pedidos, tantas alegrias tornando-se desalegrias, tantos sorrisos transformando-se em incertezas. talvez assim, eu passe a perceber que se me pedem menos, é porque não preciso estar ali. nem quero. do meu caminho, prefiro ressignificar. dos lugares que chorei, volto e sorrio. não me peça de menos, quando teria dado tudo. não me peça tarde demais, pois se volto, é por outros motivos.
16 de fevereiro de 2022.
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amndstuff · 2 years
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alerta vermelho nº 1
um alerta de tsunami.
uma sirene ao fundo, da minha cabeça, grita, escandalosamente: é hora de ir.
mas já fui inundada de tudo, de todos, de todas, do mundo. carrego o peso de tudo, só não do mundo, pois nele não estou, não sozinha. carrego o peso de viver, de existir, carrego o peso de morrer. de pensar em morrer, de pensar em viver.
o que eu tenho hoje e quem eu sou hoje com você?
o que eu tenho hoje e quem eu sou hoje sem você?
um alerta de tsunami me avisa: me prepara para a inundação de sentimentos incorrigíveis, beirando o impossível. será possível parar de pensar?
é difícil pensar. assim como é difícil de perder, de te perder. mas é difícil de sentir se te tenho. pois então, não sei viver sem ti, não sei viver contigo.
te ter ou não ter, eis a questão. shakespeare não pode me responder. eu não sei viver sem você. eu não sei viver com você. no fim, eu só sei morrer.
e o alerta deixa de ser alerta: as ondas me levaram. para longe. para não mais viver, para não mais morrer. apenas desbotar.
7 de fevereiro de 2022.
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amndstuff · 2 years
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carta nº 30
você nunca vai saber o que é amar alguém e não ser amado de volta. porque você é incapaz de amar de verdade.
17 de janeiro de 2022.
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amndstuff · 2 years
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carta nº 28
eu tenho medo: medo de ter usado todo o meu amor em ti. não é que eu me arrependa, não me arrependo de nada. eu sei o quanto eu te amei e também sei como eu te amei. o quão forte eu te amei. meu amor por ti foi o maior amor do mundo. ninguém nunca amou ninguém como eu amei tuas manhãs, tuas tardes e tuas noites. tuas clarezas e também escuridões.
te amei mais que tudo, te amei mais do que pude. te amei mais do que possível. ninguém nunca amou ninguém antes como eu te amei. mas me assusta todo esse amor. porque acabou. como podem coisas tão grandiosas assim acabarem? como pode meu amor por ti ter tido um fim? não é que eu não te ame mais, mas… eu não te amo mais como um dia eu te amei como ninguém nunca amou alguém em todo o universo.
me assusta que finalmente tenha passado. então me pergunto: tu sentiu meu amor? sentiu? porque eu nunca vou amar ninguém de novo, da maneira que eu te amei. como eu te amei. ninguém nunca vai te amar como eu amei. meu amor foi o maior do mundo. e acabou. como que acabou?
26 de dezembro de 2021.
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amndstuff · 2 years
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carta n° 27
a catarse (κάθαρση) de reconhecer-te nesses teus olhos que um dia foram meus. que um dia me tinham. e, como antes, não consigo te tirar do meu sistema. esse mau hábito que pensar em ti é, volta como se fosse bom, como foi um dia.
o ethos (ήθος) de ouvir meu nome em teus lábios. eu te amo. eu te amo. eu te amo. meu anjo, tu és meu anjo. neste inferno, és meu anjo.
e o deus ex machina (ἀπὸ μηχανῆς θεός) que, mais uma vez, em um piscar de olhos, te leva pra longe de mim. tu és meu próprio deus ex machina; minha solução fácil mais difícil de todas.
7 de dezembro de 2021.
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amndstuff · 2 years
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carta alternativa n° 1
por favor, eu pedi tanto: me fala o que aconteceu. me conte, onde eu errei? o problema, no final, sou eu mesmo? de novo? de novo.
eu pedi tanto para me dizer, qualquer incômodo, qualquer insatisfação. escolhestes o caminho árduo; sumiste como se nunca nem tivesse estado aqui.
mas estou cansada - destruída, destruindo - de me perguntar: o que eu fiz de errado? a tua ida, definitiva, me dá as respostas, mas que ainda fecho os olhos para não enxergá-las: quem foi, foi tu. eu fiquei. quem está errada - no fundo, eu sei - não sou eu: és tu.
29 de novembro de 2021.
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amndstuff · 2 years
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carta n° 25
quando vais embora? eu já pedi tantas e tantas para me deixares de novo. já me abandonaste uma, duas, três… pois então porque me abandonas se sempre acaba por voltar transformando em confusão os pequenos passos que dei em busca de mim?
me descartará de novo, como se fosse nada? pode entrar; parece que nunca é suficiente e eu sempre quero mais: mais de pequenos pedaços soltos e desconexos de ti.
procuro um lugar para sentar e tudo que acho é o nada sem encosto; não há apoio no que tu diz, no que tu faz. e eu ainda insisto em te procurar em todo canto escuro – e claro!: ainda insisto em ti. talvez porque me usas e gosto que me tenhas nem que seja para usar-me. como um utensílio descartável. como um nada. com indiferença.
31 de outubro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta n° 24
o cheiro que a tempestade deixa é um pequeno lembrete de que passou, acabou. mas que nada se vai sem deixar marcas, sem deixar rastros. e, por mais que um alívio chegue, depois de uma chuva sem guarda-chuva e apenas sandálias, o vento gelado, o aroma da mudança, da reviravolta, da inconstância…. continua. tu és minha chuva torrencial numa tarde de quinta-feira em um cenário caótico, em um trânsito infernal, em poças de lamas, em pulos até a calçada. e eu me pergunto, pela milésima vez, por que sai de casa?
mas assim como devo sair, também a chuva precisa cair. mesmo que inesperada. mesmo que eu não queira, tu voltas e reviravoltas minha tarde, minha noite, meu sono. acordo e é madrugada de sexta-feira e tu continuas batendo em minha janela, insistente: a chuva precisa cair. a tempestade precisa começar.
mas ela também precisa parar. e nós - tu e eu, que um dia existiu, talvez - precisamos parar. há razões para acreditar que a chuva é necessária. no entanto, não há razões para nós, mas insistimos. fazemos a dança da chuva, como crianças ingênuas a acreditar na esperança. mas…
na próxima manhã, lembrarei do meu guarda-chuva, que mesmo quebrado, serve de proteção, ínfimo, do caos da sua inconstante tempestade.
15 de outubro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta nº 23
tu fostes meu futuro. por um lado, ainda é. e eu nunca fui teu hoje, quem dirá teu amanhã. então, se não me queres, por que continua me segurando? eu me pergunto e não encontro nada, nada, nada. pois não há e foi quando eu entendi: me ter aqui é confortável para ti, é cômodo. continuar aqui me machuca, me destrói. mas a balança tende a pender para um lado. e de novo me pergunto: por que eu deixo ela pender para o teu?
04 de outubro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta n° 22
e de braços abertos tu recebes a ti mesmo de volta. consequentemente, eu também. recebo tudo. me pergunto por que teve que ser desse jeito? não sabes. nem eu. não sei.
peço, por fim, certezas. recebo tudo ao contrário: recebo nadas. ressoo na minha mente frases de reconhecimento e percepção: “eu entendo meu passado”, eu entendo porque demos tão certo e, de repente, tão errado; “eu vivo meu presente”, vivo e respiro mesmo sem ti, acordo sem teu corpo ao meu lado e vivo, consigo; “eu planejo meu futuro”, mas a pergunta que me - te - faço… eu planejo meu futuro sem ou com tua materialidade? com ou sem você?
me escreva, ou me encontre. sabes onde moro.
28 de setembro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta n° 21
minha cabeça se perde em pensamentos, meu coração se afunda em lembranças. sonhar é doído, te encontro lá quando não te encontro em nenhum outro lugar. te fostes. e, então, voltas. e me sinto presa em infinitos espirais que circulam e se envolvem sem fim. me diga, imploro: isso vai acabar?
quanta confusão aqui dentro, tanta confusão aí dentro. ainda me enxergas nitidamente? sinto que começo a perder a visão e me faltam palavras para enxergar a ti, tão longe. me faltam sons para descrever a tua ausência. não sinto o cheiro da tua falta, nem da tua presença.
quando voltará? se é que voltará. questionamentos in—sólitos.
22 de setembro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta n° 20
parece tão fácil ir embora. parece tão fácil deixar uma vida de lado, como se nunca nem houvesse. para ti, parece tão fácil viver a vida mesmo sabendo que quebraste o coração de quem esteve por ti, quando mais ninguém esteve.
não quero manifestações, nem baralhos, nem esperanças. não quero nada de ti. ao menos, quero acreditar que não quero nada de ti. talvez um dia eu acredite. e talvez um dia tudo isso não passe de apenas uma lembrança de uma vida que nunca foi e nunca poderia ter sido. não há presente contigo e, portanto, nunca haverá futuro.
19 de setembro de 2021.
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amndstuff · 3 years
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carta n° 19
o amargo da boca. o calor quente que sobe e permanece no meu corpo, como se sua morada fosse onde eu estivesse. e eu me perco cada segundo mais, caio no abismo de vazios que estar perto de ti cria. vazios esses que dizem sobre ti, e não sobre mim. tuas inseguranças se refletem em atitudes mesquinhas, e eu quase acredito que tudo não passou de mais uma mentira. mais um abandono. e quando penso de novo, embrulha o estômago. tenho vontade de vomitar todas as lembranças tuas. tenho vontade de arrancar tuas entranhas de mim. porque viveste como se tua morada fosse eu. mas não sou abrigo de nada, nem ninguém. retiro meu convite, retiro minha hospitalidade.
então, eu rezo. na vã e piamente ridícula esperança de que alguém me escute: apague tudo. leve tudo. não quero lembrar. leve ele. me leve. por favor, se existe, não quero acordar amanhã. mas, então, percebo: a vergonha do erro não é minha. não posso carregar uma culpa de atos voluntários de outrem.
então, eu acordo. e levanto mais um dia com a certeza de que é mais um dia, e menos um dia na contagem quase infinita dos dias que faltam para te apagar todo de mim.
12 de setembro de 2021.
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